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TREINAMENTO DESPORTIVO Beatriz Paulo Biedrzycki Planos de treinamento e de planilhas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever os conceitos básicos referentes aos ciclos de treinamento. Reconhecer a importância do controle, da avaliação e da prescrição das cargas de treinamento. Examinar a montagem de planos de treinamento e de planilhas se- manais, mensais e anuais. Introdução A periodização é um mecanismo importante quando observamos o trei- namento físico e desportivo, uma vez que permite organizar as atividades do atleta e acompanhar as mais diferentes variáveis do treinamento. Nessa organização, a periodização é dividida em ciclos com características próprias: macrociclo, mesociclo, microciclo e sessão de treinamento. Geralmente, o trei- namento desportivo estrutura esses ciclos em formato de planilhas, permitindo sua visualização e planejamento a curto e longo prazos de forma mais efetiva. Neste capítulo, você vai identificar os conceitos básicos que englobam os ciclos de treinamento, bem como a importância do controle e avalia- ção para a prescrição de cargas no cenário do treinamento desportivo. A partir daí, estudará ferramentas para organizar um treinamento em formato de planilhas. 1 Ciclos de treinamento O treinamento desportivo constitui um componente central da preparação de atletas. Dessa forma, é um processo pedagogicamente organizado e formado por exercícios físicos que visam o aperfeiçoamento máximo das potencialidades do organismo do atleta, respeitando as especifi cidades de cada modalidade desportiva. Em poucas palavras, pode-se dizer que o treinamento desportivo é um processo permanente de adaptação à carga de trabalho (MARQUES, 2007). A estruturação e periodização do treinamento de atletas de alto rendimento é um assunto extremamente atual devido à crescente profissionalização e co- mercialização do desporto de uma forma geral. Aliado a isso, segundo Gomes (2009), o crescimento constante do calendário de competições e o aumento das premiações em muitas modalidades ajudaram a alavancar o progresso técnico e tecnológico em torno da preparação esportiva. Consequentemente, isso levou a uma evolução nos enfoques teórico-metodológicos e a novas soluções tecnológicas com o objetivo de maximizar o aperfeiçoamento desportivo. Sendo assim, ao observar a estrutura de preparação do atleta, Gomes (2009) destaca sete níveis de organização em que preparação do atleta busca objetivos específicos (Figura 1). Quanto mais elevado o nível ao longo da pirâmide, tanto mais significativo será o objetivo e menos generalizadas as tarefas. Figura 1. Nível organizacional das estruturas de treinamento Fonte: Gomes (2009, p. 151). Planos de treinamento e de planilhas2 A esse respeito, Gomes (2009, p. 151) comenta que: [...] os objetivos e as tarefas dos níveis mais baixos têm papel auxiliar em relação ao objetivo geral. No processo de preparação do atleta, um dos pro- blemas mais complicados que o técnico deve resolver está relacionado com a segurança do aperfeiçoamento consequente e orientado de diversos aspectos dessa preparação. Sem estar apoiado em uma ideia clara e sem levar em conta todos os seus níveis, não é possível dirigir efetivamente esse processo: o treinamento não é capaz de sempre tomar conta de toda a diversidade de componentes, de fatores e de condições que determinam o aperfeiçoamento eficiente do nível desportivo. Uma curiosidade é que as palavras macrociclo, mesociclo e microciclo, que podem ser encontradas perto do meio da pirâmide, têm suas origens nos idiomas gregos e latim. No idioma grego, mikrós significa pequeno ou curto, mésos significa meio ou centro e makrós significa comprido ou grande. Já a palavra ciclo vem do latim cyclus (por sua vez originada do grego kúklos — redondo, bola), e se refere à sequência de um fenômeno que se sucede regularmente, usada em nosso contexto no sentido de repetição para atingir o objetivo principal do treinamento desportivo (MARQUES, 2007). Macrociclo A estruturação da preparação do atleta ou equipe durante o ano é uma tarefa difícil de ser resolvida pelo treinador, exigindo a seleção do conteúdo de treinamento, bem como o controle da infl uência dos diversos tipos de cargas sobre o organismo de cada atleta. Por isso, ao estruturarmos um ciclo de preparação a longo prazo (muitos anos), devemos fundamentalmente dirigir o processo para o desenvolvimento físico, para as condições de saúde, para a técnica e para o sistema funcional, criando premissas para o aperfeiçoamento efetivo na sequência dos trabalhos a serem realizados, principalmente na etapa de desenvolvimento e na realização das capacidades máximas do indivíduo (GOMES, 2009). A Figura 1 aponta a preparação a longo prazo como a base de todos os níveis de organização. Mais para cima, podemos encontrar o macrociclo. Vale lembrar que a forma desportiva é adquirida ao longo de um processo de preparação com duração relativamente prolongada. Na sua base, estão as leis de adaptação do organismo humano. O processo de construção de treinamento 3Planos de treinamento e de planilhas para atingir um pico de performance é chamado de macrociclo, ressaltando que o planejamento anual pode ter mais de um macrociclo, dependendo dos objetivos e do calendário de competição. De acordo com Gomes (2009), o macrociclo pode se dividido em três períodos distintos: período preparatório: desenvolve as capacidades funcionais do atleta e prevê a solução das tarefas de aperfeiçoamento de vários aspectos específicos do estado de preparação. período competitivo: cria condições para o aperfeiçoamento de diversos fatores da preparação desportiva em uma sequência lógica de conteúdo. período de transição: contribui para a recuperação completa do poten- cial de adaptação do organismo do desportista, lingando os macrociclos de preparação. O ciclo anual é composto por um ou mais macrociclos. Mas como determinar quantos macrociclos utilizar? Essa resposta está diretamente associada com o calendário de competições. Se o ano incluir uma única competição importante, é recomendado a utilização de um macrociclo. Caso o calendário conte com duas competições impor- tantes, pode-se utilizar dois macrociclos competitivos. Além disso, quando o treinador opta por utilizar vários macrociclos, é preciso ficar atento aos períodos preparatórios e competitivos (GOMES, 2009). Mesociclo Um mesociclo, também conhecido como ciclo intermediário, confi gura-se pela soma de todos os microciclos envolvidos para alcançar um determinado objetivo de treinamento. Sendo assim, é correto afi rmar que o mesociclo cor- responde ao tempo necessário para atingir um alto nível de desenvolvimento de determinada capacidade física, como forca, velocidade, resistência, etc. (MARQUES, 2007). Essa etapa abrange uma estrutura de carga que varia de 3 a 6 semanas, representando o elemento estrutural de preparação do atleta orientado para a solução das tarefas de determinado macrociclo de preparação. De acordo com Gomes (2009), o mesociclo pode ser subdividido em cinco fases. Planos de treinamento e de planilhas4 Inicial: consiste em assegurar a passagem lenta e gradual do organismo de um estado biológico de repouso para o nível competitivo, até atingir altos parâmetros que frequentemente estão próximos das cargas máxi- mas de treinamento. Essa fase tem como característica a intensidade relativamente baixa com aumento gradual do volume geral de exercícios. Básico: envolve treinamento de aperfeiçoamento de diversos aspectos da preparação do atleta. Pode ser dividido em mesociclo de desenvol- vimento e mesociclo estabilizador. O mesociclo de desenvolvimento caracteriza-se por cargas altas (próximas da carga máxima), enquanto o mesociclo estabilizador caracteriza-se por uma estabilização das cargas alcançadas anteriormente. Recuperativo: acontece no períodotransitório de preparação, buscando a recuperação da musculatura do atleta após um período prolongado de cargas máximas de treinamento e de competição. Isso permite prevenir profundo esgotamento e fracasso de adaptação. Esse mesociclo caracte- riza-se pela redução do volume e da intensidade das cargas (geralmente 20 a 30% menores que no mesociclo básico de desenvolvimento). Pré-competitivo: consiste na preparação imediata para a competição (estruturada no processo do macrociclo). Durante esta fase, busca-se a manutenção e eventual elevação do nível atingido, a eliminação de pequenos defeitos da preparação, o fortalecimento do estado psíquico do atleta e a adaptação às condições das competições principais. Competitivo: é a base do período de preparação do atleta, cuja estrutura e conteúdo são determinados pela especificidade de cada modalidade desportiva. Microciclo Cada microciclo engloba um conjunto de várias sessões semanais. Segundo Gomes (2009, p. 179): “Na prática, utilizam-se os microciclos curtos e os longos, cuja razão de ser é a alternância entre esforço–recuperação, de forma que o atleta evite estar permanentemente em estado de cansaço crônico”. A duração de um microciclo vai de 3 a 14 dias nos esportes individuais e costuma ser de 7 dias nos esportes coletivos. De acordo com Gomes (2009), os microciclos podem ser classificados em sete diferentes tipos. Microciclo de preparação: busca criar mudanças de adaptação a longo prazo no organismo do atleta, as quais estão na base do aperfeiçoamento de diversos aspectos de sua preparação. 5Planos de treinamento e de planilhas Microciclo estabilizador: busca assegurar a estabilidade da perfor- mance do atleta. Pode ser planejado no período de aclimatação aguda da fase inicial de treinamento na altitude, assim como para a solução de outras tarefas semelhantes. Quanto à carga, varia de 40 a 60% em relação à máxima, garantindo condições mais favoráveis para os processos de recuperação do organismo do atleta. Microciclo de manutenção: busca garantir a recuperação do atleta, mantendo o nível de certos aspectos de sua preparação e de sua condição integral. Assim, ajuda a prevenir perdas de preparação do atleta. Tal microciclo é utilizado nos períodos de preparação, quando é necessário reduzir substancialmente as cargas sem botar a perder o estado de treinamento já alcançado pelo atleta. Microciclo recuperativo: caracteriza-se pela utilização de cargas baixas (cerca de 10 a 20% em relação às máximas), assegurando a recuperação mais completa e eficiente do atleta. Microciclo de controle: busca verificar o nível de preparação do atleta e a eficiência do trabalho na etapa precedente. Inclui participação em competições de controle e execução de exames médicos e testes físicos. Microciclo pré-competitivo: imediatamente anterior às competições pré-determinadas. O objetivo é assegurar a melhor performance possível para o atleta no momento das competições, graças à mobilização de todas suas capacidades potenciais acumuladas nos processos anteriores. Microciclo competitivo: assegura a manifestação do estado de prepara- ção alcançado pelo atleta. A estrutura e a duração desse microciclo são determinadas em conformidade com o regulamento das competições e com a especificidade da modalidade desportiva. No caso da preparação para competições de extrema importância (como os Jogos Olímpicos), procura-se reproduzir as condições de horários e fatores climáticos, as particularidades técnico-táticas dos principais adversários, as pe- culiaridades dos locais das competições e outros fatores significativos. Sessão de treinamento Segundo Gomes (2009, p. 171): “A sessão de treinamento é o elemento integral inicial da estrutura de preparação do atleta, representando um sistema de exercícios relativamente isolado no tempo que visa à solução de tarefas de dado microciclo da preparação do desportista”. Assim, uma sessão de treinamento pode ser tratada como uma unidade de tempo didático independente, com objetivos e tarefas operacionais específi cas e bem defi nidas. Planos de treinamento e de planilhas6 Tais sessões podem ocorrer uma ou até duas vezes ao dia. Se a intenção é realizar um trabalho eficaz, cada sessão de treinamento deve estar consti- tuída como um todo funcional formado por partes coerentes, com métodos e conteúdos programados de maneira interligada com o objetivo de resolver a deficiência apresentada pelo atleta ou pela equipe (GOMES, 2009). 2 Controle e a avaliação de cargas Segundo Nakamura, Moreira e Aoki (2010, p. 1), o treinamento desportivo se caracteriza por ser uma atividade sistemática que busca proporcionar alte- rações morfológicas, metabólicas e funcionais, possibilitando o consequente incremento dos resultados competitivos, complementando que: [...] o objetivo principal do treinador esportivo é maximizar o desempenho atlético. A fim de atingir este objetivo, o treinador deve prescrever cargas de treinamento adequadas, com períodos de recuperação apropriados, visando atingir o maior nível de adaptação possível antes da competição. Neste con- texto, o monitoramento das cargas de treinamento será extremamente útil, uma vez que o treinador poderá utilizar as informações obtidas para avaliar a magnitude das cargas implementadas e a partir disto ajustar sistematicamente a periodização das cargas futuras. Atualmente, existe um grande interesse no desenvolvimento de métodos válidos e confiáveis para o monitoramento das cargas de treinamento. A relação entre a condição do atleta, a carga e a intensidade do treinamento requer atenção por parte dos especialistas, responsáveis por uma investigação científica permanente. A carga de treinamento é o resultado da relação entre o volume total de trabalho e a intensidade. O conceito de carga compreende, em primeiro lugar, a medida fisiológica do organismo, que é provocado por um trabalho muscular específico e expressa reações funcionais de uma certa intensidade e duração. O resultado do estímulo produzido pela carga sobre o organismo pode ser aferido em valores que variam na condição do atleta. Portanto, torna-se necessário realizar avaliações regulares para identificar as modificações que a carga de treinamento impõe ao organismo. Na abordagem dessa temática de monitoramento do treinamento, muitas vezes aparecem conceitos como carga externa e a carga interna. Segundo Nakamura, Moreira e Aoki (2010), os programas de treinamento são reali- zados e monitorados, em sua maioria, com base na carga externa, como o volume de treinamento. Mas Viru e Viru (2000) apontam que as adaptações 7Planos de treinamento e de planilhas no organismo estão mais associadas com a carga interna, ou seja, com o nível de estresse atribuído ao organismo do que com a carga externa (o volume de treinamento). A modificação das cargas externas e internas é o que controla o treinamento ao longo dos diferentes ciclos, mas é preciso estar atento ao momento de incrementar e acrescentar essas cargas. Esse processo deve acontecer de maneira progressiva, visando proporcionar as adaptações necessárias nos diferentes sistemas orgânicos. Essa alteração gradativa se dá pela prescrição de cargas cada vez mais elevadas, a fim de promover os estímulos necessários para a adaptação e a supercompensação (BUDGETT, 1998; FRY; MORTON; KEAST,1992 apud NAKAMURA; MOREIRA; AOKI, 2010). Vale ressaltar que um programa de treinamento com cargas inadequadas e períodos de recuperação insuficientes resultará em um declínio da performance por overtraining. Tendo em vista as mudanças que o treinamento pode causar no organismo, Kelly e Coutts (2007) reforçam a necessidade de criar e aplicar um sistema de monitoramento de cargas simples, prático e de fácil aplicação, permitindo aos treinadores planejar e monitorar o treinamento de seus atletas, percebendo as mudanças e adaptações que ocorreram (ou não) no treinamento e baseando seu trabalhonos dados obtidos. Esse controle é fundamental para tornar o treinamento extremamente preciso, o que é vital para se alcançar alto rendimento. Além disso, essa pre- cisão ajuda a tornar o treinamento mais seguro, evitando lesões e até mesmo overtrainning (OLIVEIRA, 2010). Em geral, as principais variáveis agudas que interferem no treinamento e suas respectivas abordagens são as seguintes (LOPES, 2020): intensidade — prescrita por % de 1 repetição máxima (RM) ou zonas de RM; volume — número de séries, repetições, exercícios e carga levantada; pausa — entre séries, exercícios e sessões; velocidade de execução ou cadência — rápida ou lenta durante as ações musculares a serem desempenhadas; Planos de treinamento e de planilhas8 ações musculares e amplitude de movimento — concêntricas, excên- tricas ou isométricas; ordem dos exercícios — isolados ou multiarticulares. Diante disso, qualquer intervenção equivocada, não baseada em testes que mostram a condição atual do atleta ou sem base científica pode acabar prejudicando todo o processo de treinamento. Somente o monitoramento das cargas de treinamento proporciona ao treinador o conhecimento sobre o estado atual do atleta, a previsão de resultados e eventuais necessidades de ajuste no programa (ABREU; FERNANDES, 2011). Segundo Nakamura, Moreira e Aoki (2010), uma ferramenta para realizar o monitoramento de carga é a Percepção Subjetiva de Esforço (PSE). Trata- -se da integração de sinais periféricos (músculos e articulações) e centrais (ventilação) que, interpretados pelo córtex sensorial, produzem a percepção geral ou local do empenho para a realização de uma determinada tarefa. Sendo assim, o atleta percebe o estímulo e o interpreta, formando assim um feedback. Esse método possui alguns pontos fracos, uma vez que a percepção é subjetiva, não necessariamente acompanhando a realidade da carga que está sendo aplicada. Quanto à metodologia do PSE, os autores apontam que ela é baseada em um questionamento simples: 30 minutos após o término da sessão de treino, o atleta deve responder a seguinte pergunta: “Como foi sua sessão de treino?”. Para responder, o atleta utiliza então uma tabela pré-estabelecida. Além do método PSE, Bara Filho et al. (2013) destacam também o método TRIMP (acrônimo de Training Impulse), baseado na mensuração da frequência cardíaca, adotando um fator de peso progressivo para cada zona de frequên- cia. O TRIMP é bastante utilizado em esportes coletivos, pois permite que aconteça um monitoramento mais preciso, uma vez que utiliza um fator que não é controlável pelo atleta, mostrando uma realidade mais precisa. Em geral, por meio do processo de avaliação são colhidas diferentes in- formações, dentre elas as aptidões cardiorrespiratórias, neuromusculares, composição corporal e flexibilidade, que serão utilizadas como parâmetros para identificar o estado de saúde e/ou performance do indivíduo. Isso também inclui questionários investigativos sobre a vida do atleta, abrangendo fatores psicológicos, nutricionais e sociais. A seguir, você acompanhará possibilidades de montagem de treinamento em formato de planilhas, acompanhando os ciclos de treinamento estruturados em etapas semanal, mensal e anual. 9Planos de treinamento e de planilhas 3 Planificação do treinamento desportivo Uma forma bastante tradicional de organizar o treinamento é por meio de planilhas. Segundo Lopes (2020), os principais quesitos para a preparação de planilhas são: classifi cação do atleta/cliente e suas necessidades; escolha dos exercícios; divisão semanal de treino; estratégia de montagem do sistema/método de treino. Essas variáveis, combinadas com a manipulação da carga e a periodização, fornecem infi nitas possibilidades, as quais devem ser ponderadas pelo treinador. No caso de iniciantes, é necessário incluir algumas fases (LOPES, 2020): aprendizagem dos movimentos, adaptações teciduais básicas e desenvolvimento da massa muscular. Vale ressaltar que, ainda que separemos o treinamento em fases, todas essas modificações neurofisiológicos e teciduais ocorrem de forma conjunta. Sendo assim, o planejamento e a organização permitem escolher os exercícios, bem como sua ordem, partindo sempre de movimentos em aparelhos mais simples e então avançando para os mais complexos. O Quadro 1 apresenta um exemplo dessa progressão. Fonte: Adaptado de Lopes (2020). Fase Objetivo Montagem Carga de treinamento Exercícios 1 Aprendiza- gem dos movimentos Alternado por segmento De 1 a 2 exercícios por grupo muscular; de 1 a 2 séries; de 12 a 15 repetições com 40 segundos de intervalo. Velo- cidade de execução: lenta Supino com máquina 2 Adaptações teciduais básicas Alternado por segmento De 1 a 2 exercícios por grupo muscular; de 2 a 3 séries; de 12 a15 repetições com 40 segundos de intervalo. Velocidade de execução: controlada Supino com máquina; supino Reto 3 Desenvol- vimento da massa muscular Direcionado por grupo muscular De 3 a 5 exercícios por grupo muscular; de 3 a 4 séries; de 6 a 12 repetições com 1 minuto de intervalo. Velocidade de execução: controlada Supino reto; supino inclinado Quadro 1. Exemplo de planejamento de fases de um atleta iniciante de hipertrofia Planos de treinamento e de planilhas10 Além da necessidade de se observar alguns aspectos práticos durante o planejamento das sessões de treinamento, voltemo-nos novamente à planifi- cação segundo as diferentes abrangências estruturais: macrociclo, mesociclo, microciclo e sessão de treinamento. A seguir, examinaremos algumas possi- bilidades de planificação do treinamento, partindo do ciclo maior (Figura 2) para o ciclo menor. Figura 2. Planificação e organização de um semestre de treinamento. Fonte: Gomes (2009, p. 269). Podemos observar nessa figura a organização de um macrociclo de 6 meses de treinamento, em que são apontadas as competições e seus respectivos graus de importância e envolvimento do atleta. Correspondentemente, podemos ver os níveis de forma física a serem alcançados e qual tipo de microciclo de estará vigente em cada momento. Já a Figura 3 mostra os diferentes itens abordados em uma planilha de acompanhamento da periodização. Perceba que estão destacados a intensidade e o volume de treinamento, exibindo uma característica ondulatória. Perceba que a planilha traz espaços para marcar quantas horas de treinamento aconte- cerão por sessão, quantos dias por semana, etc., fornecendo uma visualização geral do treinamento. 11Planos de treinamento e de planilhas Figura 3. Modelo de planilha organizar um ciclo anual de treinamento. Fonte: Gomes (2009, p. 269). Na Figura 4, podemos ver a organização de um planejamento mensal — que também pode ser entendido como o mesociclo do treinamento. Perceba que essa planilha (que se parece muito com uma agenda) mostra os dias do mês (números à esquerda) e os dias semana, com um espaço para descrever a atividade a ser realizada em cada dia. As descrições de exemplo incluem a intensidade do treinamento, ainda que omitam outras questões mais detalha- das. Além disso, repare que a planilha também separa por turnos cada um dos dias. Essa organização não somente ajuda o treinador a acompanhar o treinamento, mas também o atleta a compreender seus horários e a organizar sua vida pessoal. Planos de treinamento e de planilhas12 Figura 4. Modelo de planilha para organizar um ciclo mensal de treinamento. Fonte: Gomes (2009, p. 268). 13Planos de treinamento e de planilhas A Figura 5 mostra uma certa similaridade com a organização apresentada na figura anterior, assemelhando-se a uma agenda. Mas perceba que existe uma diferença bastante importante: a descrição mais detalhada de cada atividade, permitindo acompanhar a semana de treinamento como um todo, facilitando a percepção do volume de treinamento (que em planilhas de períodos muito extensos pode passar despercebido). Figura 5. Modelo de planilha para organizar umciclo semanal de treinamento. Fonte: Gomes (2009, p. 267). Na Figura 6, é possível visualizar a última etapa da planificação de trei- namento, trazendo a descrição completa de uma sessão. Perceba que, nesse exemplo, em um mesmo dia são apresentadas duas sessões de treinamento (uma pela manhã e outra pela tarde). Na imagem, é apresentado um protocolo de treinamento para corrida. Perceba como são descritas as pausas, o aque- cimento, as distâncias, o término do treinamento, ou seja, todas as ações que a serem cumpridas em cada sessão específica. Planos de treinamento e de planilhas14 Figura 6. Modelo de planilha para organizar uma sessão de treinamento. Fonte: Gomes (2009, p. 267). Enfim, fica claro que existem diferentes possibilidades de organização do treinamento periodizado em planilhas. Cabe ressaltar que as figuras aqui apresentadas são apenas modelos, que podem ser alterados para a realidade de cada atleta e treinador. ABREU, G. S, FERNANDES, V. C. Monitoramento da carga de treinamento em equipe de natação de alto rendimento. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Educação Física) — Faculdade de Educação Física, Centro Universitário Católico Sale- siano Auxilium, Lins, 2011. BARA FILHO, M. G. et al. Comparação de diferentes métodos de controle da carga interna em jogadores de voleibol. Rev. Bras. Med. Esporte, v. 19, nº. 2, p. 143–146, mar./abr. 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbme/v19n2/15.pdf. Acesso em: 13 ago. 2020. GOMES, A, C. Estrutura e periodização. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. KELLY, V. G.; COUTTS, A. J. Planning and monitoring training loads during the compe- tition phase in team sports. National Strength and Conditioning Association, v. 29, nº. 4, p. 32–37, 2007. LOPES, C. R. Planilhas de treinamento: estratégias de montagem de programas. E-book. Sem dada. Piracicaba: Charles Ricardo Lopes, 2020. (E-book). 15Planos de treinamento e de planilhas Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. MARQUES, L. E. Volume de treinamento, percepção subjetiva do esforço e estados de humor durante um macrociclo de treinamento de nadadores. 2007. 98 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) — Faculdade de Educação Física, Universidade São Judas Ta- deu, São Paulo, 2007. Disponível em: https://www.usjt.br/biblioteca/mono_disser/ mono_diss/052.pdf. Acesso em: 13 ago. 2020. NAKAMURA, F. Y.; MOREIRA, A.; AOKI, M. S. Monitoramento da carga de treinamento: a percepção subjetiva do esforço da sessão é um método confiável? Journal of Physical Education, v. 21, nº. 1, p. 1–11, mar. 2010. Disponível em: http://eduemojs.uem.br/ojs/ index.php/RevEducFis/article/view/6713/5702. Acesso em: 13 ago. 2020. OLIVEIRA, S. N. de. Lazer sério e envelhecimento: loucos por corrida. 2010. 102 f. Disserta- ção (Mestrado em Educação) — Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/ handle/10183/23810/000742927.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 13 ago. 2020. VIRU, A.; VIRU, M. Nature of training effects. In: GARRET, W. E.; KIRKENDALL, D. T. (org.). Exercise and sport science. Philadelphia: Lippincott Williams and Wilkins, 2000. p. 67–95. Leitura recomendada SILVA, J. A. da. et al. A importância da avaliação física para a prática e prescrição do exercício físico. Revista Educação Física UNIFAFIBE, v. 6, p. 71–79, set. 2018. Disponível em: http://unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistaeducacaofisica/suma- rio/73/14092018190312.pdf. Acesso em: 13 ago. 2020. Planos de treinamento e de planilhas16