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CYAN VS Gráfica VS Gráfica MAG VS Gráfica YEL VS Gráfica BLACK \\Lislucas\D\Producao\Grupo A\42008_Farmacologia_Ilustrada\Abertos\42995_Farmacologia_Ilustrada.cdr quarta-feira, 28 de novembro de 2012 11:22:56 Perfil de cores: OFFSET - CALIBRADO Composição 175 lpi a 45 graus Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 F233 Farmacologia ilustrada [recurso eletrônico] / Michelle A. Clark ... [et al.] ; tradução e revisão técnica: Augusto Langeloh. – 5.ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2013. Editado tabém como livro impresso em 2013. ISBN 978-85-65852-69-2 1. Farmacologia ilustrada. I. Clark, Michelle A. CDU 615-028.22 Nota A medicina é uma ciência em constante evolução. À medida que novas pesquisas e a experiência clínica ampliam o nosso conhe cimento, são necessárias modificações no tratamento e na farmacoterapia. Os organizadores desta obra consultaram as fontes conside radas confiáveis, em um esforço para oferecer informações completas e, geral- mente, de acordo com os padrões aceitos à época da publicação. Entretanto, tendo em vista a possibilidade de falha humana ou de alterações nas ciências médicas, os leitores devem confirmar estas informações com outras fontes. Por exemplo, e em particular, os leitores são aconselhados a conferir a bula de qualquer medicamento que preten- dam administrar, para se certificar de que a informação contida neste livro está correta e de que não houve alteração na dose recomendada nem nas contraindicações para o seu uso. Esta recomendação é particularmente importante em relação a medicamentos novos ou raramente usados. 6 Clark, Finkel, Rey & Whalen III. ABSORÇÃO DE FÁRMACOS Absorção é a transferência de um fármaco do seu local de administração para a corrente sanguínea por meio de um dos vários mecanismos. A velocidade e a eficiência da absorção dependem de dois fatores: do ambiente onde o fármaco é absorvido e das características, tanto química e como via de admi- nistração (o que influencia sua biodisponibilidade). Para a via IV, a absorção é completa, ou seja, toda a dose do fármaco alcança a circulação sistêmica (100%). A administração do fármaco por outras vias pode resultar em absor- ção parcial e, consequentemente, em menor biodisponibilidade. A. Mecanismos de absorção de fármacos a partir do TGI Dependendo das propriedades químicas, os fármacos podem ser absor- vidos do TGI por difusão passiva, difusão facilitada, transporte ativo ou por endocitose. 1. Difusão passiva. A força motriz da absorção passiva de um fárma- co é o gradiente de concentração através da membrana que separa os compartimentos do organismo; isto é, o fármaco se move da re- gião com concentração elevada para a que tem baixa concentra- ção. A difusão passiva não envolve transportador, não é saturável e apresenta baixa especificidade estrutural. A grande maioria dos fármacos tem acesso ao organismo por esse mecanismo. Fárma- cos hidrossolúveis atravessam as membranas celulares através de canais ou poros aquosos, e os lipossolúveis movem-se facilmente através da maioria das membranas biológicas devido à sua solubili- dade na bicamada lipídica (Figura 1.6A). 2. Difusão facilitada. Outros fármacos podem entrar na célula por meio de proteínas transportadoras transmembrana especializadas que facilitam a passagem de grandes moléculas. Essas proteínas transportadoras sofrem alterações conformacionais, permitindo a passagem de fármacos ou moléculas endógenas para o interior da célula, movendo-os de áreas de alta concentração para área de bai- xa concentração. Esse processo é denominado difusão facilitada. Ele não requer energia, pode ser saturado e inibido por compostos que competem pelo transportador (Figura 1.6B). 3. Transporte ativo. Essa forma de entrada de fármacos também en- volve transportadores proteicos específicos que atravessam a mem- brana. Poucos fármacos cujas estruturas se assemelham às de meta- bólitos de ocorrência natural são transportados através da membrana celular usando esses transportadores proteicos específicos. O trans- porte ativo dependente de energia é movido pela hidrólise de trifosfa- to de adenosina (Figura 1.6C). Ele é capaz de mover fármacos contra um gradiente de concentração – ou seja, de uma região com baixa concentração de fármaco para uma com concentração mais elevada. O processo tem cinética de saturação para o transportador que mui- to se assemelha à apresentada pela reação enzima-substrato, que mostra velocidade máxima em níveis elevados de substrato quando todos os locais ativos estão ligados com substrato.1 Os sistemas de transporte ativo são seletivos e podem ser inibidos competitivamente por outras substâncias cotransportadas. 4. Endocitose e exocitose. Esses tipos de movimentação de fárma- cos transportam fármacos excepcionalmente grandes através da 1Ver Bioquímica Ilustrada, 4a edição, Artmed Editora, para uma discussão sobre cinética enzimática. INFO LINK F F F F FF F D F F A B Transporte ativoC EndocitoseD Citosol Espaço extracelular Membrana celular Difusão passiva de fármaco hidros- solúvel através de um canal ou poro aquoso Difusão passiva de um fármaco lipossolúvel dissolvido na membrana Difusão passiva Difusão facilitada F F F ATP ADP F FF F F Transportador de fármaco Fármaco grande Transportador de fármaco Fármaco Fármaco Fármaco F F F F F F F F Figura 1.6 Representação esquemática de fárma- cos atravessando a membrana celular. ATP = trifosfato de adenosina; ADP = difosfato de adenosina. Clark-5ed_01.indd 6Clark-5ed_01.indd 6 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 Farmacologia Ilustrada 7 membrana celular. Na endocitose, as moléculas do fármaco são engolfadas pela membrana e transportadas para o interior da cé- lula pela compressão da vesícula cheia de fármaco (Figura 1.6D). A exocitose é o inverso da endocitose e é usada pelas células para secretar várias substâncias por um processo similar ao da formação de vesículas. A vitamina B12 é transportada através da parede in- testinal por endocitose enquanto certos neurotransmissores (p. ex., norepinefrina) são armazenados em vesículas intracelulares ligadas à membrana no terminal nervoso e liberados por exocitose. B. Fatores que influenciam a absorção 1. Efeito do pH na absorção de fármacos. A maioria dos fármacos é ácido fraco ou base fraca. Fármacos ácidos (HA) liberam um próton (H+) causando a formação de um ânion (A–)2: HA H+ + A– As bases fracas (BH+) também podem liberar um H+. Contudo, a forma protonada dos fármacos básicos, em geral, é carregada, e a perda do próton produz a base (B) não ionizada: BH+ B + H+ Um fármaco atravessa a membrana mais facilmente se ele estiver não ionizado (Figura 1.7). Assim, para os ácidos fracos, a forma HA não io- nizada consegue permear através das membranas, mas o A– não con- segue. Para a base fraca, a forma não ionizada, B, consegue penetrar através das membranas celulares, contudo o BH+ protonado não con- segue. Por isso, a concentração efetiva da forma permeável de cada fármaco no seu local de absorção é determinada pelas concentrações relativas entre as formas ionizada e não ionizada. A relação entre as duas formas é, por sua vez, determinada pelo pH no local de absorção e pela força do ácido ou base fracos, que é representada pela cons- tante de ionização, o pKa (Figura 1.8). (Nota: o pKa é uma medida da força da interação de um composto com um próton. Quanto menor o pKa de um fármaco, mais ácido ele é; quanto maior o pKa, mais bá- sico é o fármaco.) O equilíbrio de distribuição é alcançado quando a 2Ver Bioquímica Ilustrada, 4a edição, Artmed Editora, para uma discussão sobre equilíbrio ácido-base. INFO LINK pKa 32 4 5 6 7 8 9 10 11 Quando o pH é menor do que o pKa, as formas protonadas HA e BH� predominam Quando o pH é maior do que o pKa, as formas desprotonadas A� e B predominam pH � pKa pH � pKa Quando pH � pKa, [HA] � [A�] e [BH�] � [B] pH Figura 1.8A distribuição de um fármaco entre sua forma ionizada e não ionizada depende do pH do ambiente e do pKa do fármaco. Para exemplificar, o fármaco nesta figura foi imaginado com um pKa de 6,5. A HA � Membrana lipídica Compartimento corporal Compartimento corporal H� A HA � H� BH B Membrana lipídica Compartimento corporal Compartimento corporal H� � BH B H� � Ácido fraco Base fraca A B Figura 1.7 A. Difusão da forma não ionizada de um ácido fraco através da membrana lipídi- ca. B. Difusão da forma não ionizada de uma base fraca através da membrana lipídica. Clark-5ed_01.indd 7Clark-5ed_01.indd 7 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 8 Clark, Finkel, Rey & Whalen forma permeável de um fármaco alcança uma concentração igual em todos os espaços aquosos do organismo. (Nota: fármacos altamente lipossolúveis atravessam de modo rápido a membrana celular e, em geral, entram nos tecidos com uma velocidade determinada pelo fluxo sanguíneo.) 2. Fluxo de sangue no local de absorção. Como o fluxo de sangue para o intestino é muito maior do que o fluxo para o estômago, a ab- sorção no intestino é maior do que a que ocorre no estômago. (Nota: o choque reduz drasticamente o fluxo sanguíneo aos tecidos cutâ- neos, minimizando a absorção de administrações subcutâneas.) 3. Área ou superfície disponível para absorção. Com uma superfície rica em bordas de escova contendo microvilosidades, o intestino tem uma superfície cerca de 1.000 vezes maior do que a do estômago, tornando a absorção de fármacos pelo intestino mais eficiente. 4. Tempo de contato com a superfície de absorção. Se um fármaco se desloca muito rápido ao longo do TGI, como pode ocorrer em uma diarreia intensa, ele não é bem absorvido. Contudo, qualquer retardo no transporte do fármaco do estômago para o intestino re- duz a sua velocidade de absorção. (Nota: o tônus parassimpático acelera o esvaziamento gástrico, e o tônus simpático [p. ex., cau- sado pelo exercício ou por emoções estressantes] e os anticolinér- gicos [p. ex., diciclomina] o retarda. Assim, a presença de alimento no estômago dilui o fármaco e retarda o esvaziamento gástrico. Por- tanto, quando um fármaco é ingerido com o alimento, em geral, será absorvido mais lentamente.) 5. Expressão da glicoproteína-P. A glicoproteína P é uma proteína transportadora transmembrana para vários fármacos, sendo res- ponsável pelo transporte de várias moléculas, incluindo fármacos, através da membrana celular (Figura 1.9). É expressa por todo o organismo e suas funções incluem: • No fígado: transportar fármacos para a bile visando à sua eliminação • Nos rins: bombear fármacos para a urina visando à excreção • Na placenta: transportar fármacos de volta para o sangue mater- no, reduzindo, assim, a exposição do feto aos fármacos • No intestino: transportar fármacos para o lúmen intestinal e redu- zir a absorção • Nos capilares do cérebro: bombear os fármacos de volta ao san- gue, limitando seu acesso ao cérebro Assim, nas áreas de expressão elevada, a glicoproteína-P diminui a absorção de fármacos. Além de transportar vários fármacos para fora das células, ela também está associada com a resistência a vários fármacos (ver p. 485). C. Biodisponibilidade Biodisponibilidade é a fração do fármaco administrado que alcança a circulação sistêmica. Por exemplo, se 100 mg de um fármaco forem ad- ministrados por via oral e 70 mg desse fármaco forem absorvidos inal- terados, a biodisponibilidade será 0,7 ou 70%. Determinar a biodisponi- bilidade é importante para calcular a dosagem de fármaco para vias de administração não IV. A via de administração do fármaco, bem como as suas propriedades físicas e químicas afetam sua biodisponibilidade. 1. Determinação de biodisponibilidade. A biodisponibilidade é de- terminada pela comparação dos níveis plasmáticos do fármaco de- Fármaco (intracelular) Fármaco (extracelular) ATP ADP � Pi Figura 1.9 As seis alças transmembrana da gli- coproteína-P formam um canal central para o bombeamento de fármacos de- pendente de ATP para fora da célula. Clark-5ed_01.indd 8Clark-5ed_01.indd 8 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 Farmacologia Ilustrada 9 pois de uma via particular de administração (p. ex., administração oral) com os níveis plasmáticos do fármaco obtidos por injeção IV, na qual todo o fármaco entra na circulação rapidamente. Quando o fármaco é administrado por via oral, somente parte da dose aparece no plasma. Lançando a concentração plasmática do fármaco contra o tempo, pode-se mensurar a área sob a curva (ASC). Essa curva reflete a extensão da absorção do fármaco. (Nota: por definição, isso é 100% do fármaco injetado por via IV.) A biodisponibilidade de um fármaco administrado por via oral é a relação da área calculada para a administração oral comparada com a área calculada para a injeção IV quando as dosagens são equivalentes (Figura 1.10). 2. Fatores que influenciam a biodisponibilidade. Em contraste com a administração IV, que confere 100% de biodisponibilidade, a admi- nistração oral de um fármaco envolve frequentemente metabolismo de primeira passagem. Esta biotransformação, além das caracte- rísticas físicas e químicas do fármaco, determina a quantidade de fármaco que alcança a circulação e a que velocidade. a. Biotransformação hepática de primeira passagem. Quando um fármaco é absorvido a partir do TGI, primeiro ele entra na cir- culação portal antes de entrar na circulação sistêmica (ver Figura 1.11). Se o fármaco é rapidamente biotransformado no fígado ou na parede intestinal durante esta passagem inicial, a quantidade de fármaco inalterado que tem acesso à circulação sistêmica diminui. (Nota: a biotransformação na primeira passagem pelo intestino ou fígado limita a eficácia de vários fármacos quando usados por via oral. Por exemplo, mais de 90% da nitroglicerina é depurada em uma única passagem através do fígado, o que é a principal razão por que este fármaco é administrado por via sublingual.) Fármacos que sofrem biotransformação de primeira passagem elevada de- vem ser administrados em quantidade suficiente para assegurar que fármaco ativo suficiente alcance a concentração desejada. b. Solubilidade do fármaco. Fármacos muito hidrofílicos são pou- co absorvidos devido à sua inabilidade em atravessar as mem- branas celulares ricas em lipídeos. Fármacos extremamente hi- drofóbicos são também pouco absorvidos, pois são totalmente insolúveis nos líquidos aquosos do organismo e, portanto, não têm acesso à superfície das células. Para que um fármaco seja bem absorvido, ele deve ser basicamente hidrofóbico, mas ter al- guma solubilidade em soluções aquosas. Essa é uma das razões pelas quais vários fármacos são ácidos fracos ou bases fracas. c. Instabilidade química. Alguns fármacos, como a benzilpenici- lina, são instáveis no pH gástrico. Outros, como a insulina, são destruídos no TGI pelas enzimas. d. Natureza da formulação do fármaco. A absorção do fármaco pode ser alterada por fatores não relacionados com a sua estru- tura química. Por exemplo, o tamanho da partícula, o tipo de sal, o polimorfismo cristalino, o revestimento entérico e a presença de excipientes (como os agentes aglutinantes e dispersantes) podem influenciar a facilidade da dissolução e, por isso, alterar a velocidade de absorção. D. Bioequivalência Duas preparações de fármacos relacionados são bioequivalentes se eles apresentam biodisponibilidades comparáveis e tempos similares para al- cançar o pico de concentração plasmática. Tempo C o n ce n tr aç ão p la sm át ic a d o f ár m ac o Biodisponibilidade � ASC oral ASC injetada � 100 Fármaco injetado Fármaco administrado por via oral Fármaco administrado ASC (injetada) ASC (oral) Figura 1.10 Determinação da biodisponibilidade de um fármaco. Liver Oral Restante do organismo Os fármacos administrados por IV entram diretamente na circulação sistêmica e têm acesso direto às demais partes do organismo.Circulação portal IV Os fármacos administrados por via oral são primeiro expostos ao fígado e podem ser extensa- mente biotransformados antes de alcançar as demais regiões do organismo. Figura 1.11 A biotransformação de primeira passa- gem pode ocorrer com fármacos admi- nistrados por via oral. IV = intravenosa. Clark-5ed_01.indd 9Clark-5ed_01.indd 9 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 10 Clark, Finkel, Rey & Whalen E. Equivalência terapêutica Dois medicamentos são terapeuticamente iguais se eles são farmaceu- ticamente equivalentes com perfis clínicos e de segurança similares. (Nota: a eficácia clínica com frequência depende da concentração sérica máxima e do tempo necessário [após a administração] para alcançar o pico de concentração. Portanto, dois fármacos que são bioequivalentes podem não ser equivalentes terapeuticamente.) IV. DISTRIBUIÇÃO DE FÁRMACOS Distribuição de fármacos é o processo pelo qual um fármaco reversivelmente abandona o leito vascular e entra no interstício (líquido extracelular) e, então, nas células dos tecidos. Para o fármaco administrado por via IV, quando não existe a absorção, a fase inicial (isto é, desde imediatamente após a adminis- tração até a rápida queda na concentração) representa a fase de distribuição, na qual o fármaco rapidamente desaparece da circulação e entra nos tecidos (Figura 1.12). Isto é seguido da fase de eliminação (ver p. 13), quando o fár- maco no plasma está em equilíbrio com o fármaco nos tecidos. A passagem do fármaco do plasma ao interstício depende principalmente do débito car- díaco e do fluxo sanguíneo regional, da permeabilidade capilar, do volume do tecido, do grau de ligação do fármaco às proteínas plasmáticas e tissulares e da hidrofobicidade relativa do fármaco. A. Fluxo sanguíneo A velocidade do fluxo sanguíneo nos tecidos capilares varia bastante como resultado de uma distribuição desigual do débito cardíaco aos vários ór- gãos. O fluxo sanguíneo para o cérebro, para o fígado e para os rins é maior do que para os músculos esqueléticos. O tecido adiposo, a pele e as vísceras têm fluxo sanguíneo ainda menor. A variação no fluxo de san- gue explica parcialmente a curta duração da hipnose produzida por um bolus de injeção IV de propofol (ver p. 144). O elevado fluxo sanguíneo, junto com a elevada lipossolubilidade do propofol, permite-lhe mover-se de modo rápido para o SNC e produzir anestesia. A subsequente e lenta distribuição aos músculos esqueléticos e ao tecido adiposo diminui a con- centração plasmática de modo suficiente, de forma que a concentração elevada no SNC se reduz e assim se recupera a consciência. B. Permeabilidade capilar A permeabilidade capilar é determinada pela estrutura capilar e pela na- tureza química do fármaco. A estrutura capilar varia bastante em termos de fração da membrana basal, que é exposta pelas junções com frestas entre as células endoteliais. No fígado e no baço, grande parte da mem- brana basal é exposta a capilares descontínuos e grandes, através dos quais podem passar grandes proteínas plasmáticas (Figura 1.13A). Isso contrasta com o cérebro, onde a estrutura capilar é contínua e não exis- tem fendas (Figura 1.13B). Para entrar no cérebro, o fármaco precisa pas- sar através das células endoteliais dos capilares do SNC ou ser transpor- tado ativamente. Por exemplo, o transportador específico de aminoácidos neutros transporta levodopa para o interior do cérebro. Em contraste, fár- macos lipossolúveis entram facilmente no SNC, pois podem se dissolver na membrana das células endoteliais. Fármacos ionizados ou polares em geral fracassam em entrar no cérebro, pois são incapazes de atravessar as células endoteliais do SNC, que não apresentam junção com fendas. Essas células firmemente justapostas formam junções estreitadas que constituem a barreira hematencefática. 1 0,75 0,5 0,25 0 1 3 42 Tempo C o n ce n tr aç ão s ér ic a Injeção rápida do fármaco 1,5 1,25 Fase de distribuição Fase de eliminação Figura 1.12 Concentrações do fármaco no soro após uma injeção única do fármaco. Admite- se que o fármaco se distribui e subse- quentemente é eliminado. Clark-5ed_01.indd 10Clark-5ed_01.indd 10 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 Farmacologia Ilustrada 11 C. Ligação de fármacos a proteínas plasmáticas e tecidos 1. Ligação a proteínas plasmáticas. A ligação reversível às proteínas plasmáticas sequestra os fármacos de forma não difusível e retarda sua transferência para fora do compartimento vascular. A ligação é relativamente não seletiva com a estrutura química e acontece em locais da proteína onde em geral se ligam a compostos endógenos como a bilirrubina. A albumina plasmática é a principal proteína liga- dora e pode atuar como uma reserva de fármaco; isto é, à medida que a concentração do fármaco livre diminui, devido à eliminação por biotransformação ou excreção, o fármaco ligado se dissocia da proteína. Isso mantém a concentração de fármaco livre como uma fração constante do fármaco total no plasma. 2. Ligação a proteínas dos tecidos. Numerosos fármacos acumulam nos tecidos levando a concentrações mais elevadas do fármaco no tecido do que nos líquidos extracelulares e sangue. Os fármacos po- dem acumular como resultado da ligação a lipídeos, proteínas ou ácidos nucleicos. Os fármacos também podem ser transportados ati- vamente aos tecidos. Estes reservatórios tissulares podem servir de fonte principal de fármaco e prolongar sua ação ou, por outro lado, podem causar toxicidade local ao fármaco. (Por exemplo, a acro- leína, o metabólito da ciclofosfamida, é tóxica para os rins, pois se acumula nas células renais.) 3. Hidrofobicidade. A natureza química do fármaco influencia forte- mente a capacidade do fármaco de atravessar membranas celula- res. Os fármacos hidrofóbicos se movem mais facilmente através das membranas biológicas. Esses fármacos podem se dissolver nas membranas lipídicas e, por isso, permeiam toda a superfície celular. O principal fator que influencia a distriguição hidrofóbica de um fár- maco é o fluxo de sangue para aquela área. Em contraste, os fárma- cos hidrofílicos não penetram facilmente as membranas celulares e devem passar através de junções com fendas. D. Volume de distribuição O volume de distribuição aparente, Vd, é o volume de líquido necessário para conter todo o fármaco do organismo na mesma concentração mensurada no plasma. Ele é calculado dividindo a dose que alcança a circulação sistêmica pela concentração no plasma no tempo zero (C0). Embora o Vd não tenha base física ou fisiológica, pode ser útil para comparar a distribuição de um fármaco com os volumes dos compartimentos de água no organismo (Figura 1.14). 1. Distribuição no compartimento aquoso do organismo. Logo que o fármaco entra no organismo, a partir de qualquer via de adminis- tração, ele tem o potencial de distribuir-se em qualquer um dos três compartimentos funcionalmente distintos de água, ou ser seques- trado em um local celular. a. Compartimento plasmático. Se um fármaco apresenta massa molecular muito elevada ou se liga extensamente às proteínas plasmáticas, ele é muito grande para se mover para fora através das fendas endoteliais dos capilares e, assim, é efetivamente aprisionado dentro do compartimento plasmático (vascular). Estrutura de um capilar cerebral Fármaco ionizado Fármacos lipossolúveis Passagem mediada por transportador Processo podal do astrócito Célula endotelial cerebral Membrana basal Permeabilidade de um capilar cerebral B Estrutura das células endoteliais no fígado A C Grandes fendas permitem ampla passagem do fármaco entre o sangue e o interstício hepático. Nas junções estreitadas, duas células vizinhas se unem fisicamente formando uma parede contínua que impede a entrada de vários fármacos no cérebro. Fármaco Junção com fenda Membrana basal Junção estreitada Figura 1.13 Corte transversal de capilares hepáti- cos e cerebrais. Clark-5ed_01.indd 11Clark-5ed_01.indd11 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 12 Clark, Finkel, Rey & Whalen Como consequência, o fármaco se distribui em um volume (o plasma) que é cerca de 6% da massa corporal ou, em uma pes- soa com 70 kg, cerca de 4 L de líquido. A heparina (ver p. 251) mostra esse tipo de distribuição. b. Líquido extracelular. Se um fármaco apresenta baixa massa molecular, mas é hidrofílico, ele pode se mover através das fen- das endoteliais dos capilares para o líquido intersticial. Contudo, fármacos hidrofílicos não se movem através das membranas celulares lipídicas para entrar na fase aquosa do interior da cé- lula. Por isso, esses fármacos se distribuem em um volume que é a soma da água plasmática e da água intersticial, as quais, juntas, constituem o líquido extracelular. Isso corresponde a cer- ca de 20% da massa corporal ou cerca de 14 L em uma pessoa com 70 kg. Os antibióticos aminoglicosídeos (ver p. 399) mos- tram esse tipo de distribuição. c. Água corporal total. Se um fármaco apresenta baixa massa mo- lecular e é hidrofóbico, ele não só pode se movimentar para o interstício através das fendas, como também deslocar-se para o líquido intracelular através das membranas celulares. Neste caso, o fármaco se distribui em um volume de cerca de 60% da massa corporal ou cerca de 42 L em uma pessoa com 70 kg. O etanol apresenta esse volume de distribuição aparente (ver a seguir). 2. Volume de distribuição aparente. Um fármaco raramente se associa de forma exclusiva a um único compartimento de água corporal. Ao contrário, a grande maioria dos fármacos se distribui em vários com- partimentos, com frequência ligando-se avidamente a componentes celulares – como lipídeos (abundantes em adipócitos e membranas celulares), proteínas (abundantes no plasma e no interior das célu- las) e ácidos nucleicos (abundantes no núcleo das células). Por essa razão, o volume no qual o fármaco se distribui é denominado volume de distribuição aparente ou Vd. O Vd é uma variável farmacocinética útil para calcular a dose de carga de um fármaco. 3. Determinação do Vd. Como a depuração do fármaco geralmente é um processo de primeira ordem, pode-se calcular o Vd. Primeira ordem considera que uma fração constante do fármaco é eliminada na unidade de tempo. Este processo pode ser analisado de modo mais fácil lançando-se em um gráfico o log da concentração do fár- maco no plasma (Cp) contra o tempo (Figura 1.15). A concentração do fármaco no plasma pode ser extrapolada para o tempo zero (o momento da injeção) no eixo Y, para determinar C0, que é a con- centração que teria sido alcançada se a fase de distribuição tivesse ocorrido instantaneamente. Isso permite o cálculo do Vd como: Por exemplo, se 10 mg de um fármaco são injetados em um paciente, e a concentração plasmática é extrapolada para o tempo zero, a con- centração é C0 = 1 mg/L (Figura 1.15), então Vd = 10 mg/ 1 mg/L = 10 L. 4. Efeito de Vd na meia-vida (t1/2) do fármaco. Um Vd elevado tem influência importante na meia-vida do fármaco, pois a sua elimina- ção depende da quantidade de fármaco ofertada ao fígado ou aos rins (ou outro órgão onde ocorre a biotransformação) por unidade de tempo. A oferta de fármaco aos órgãos de eliminação depende não só do fluxo sanguíneo, como também da fração de fármaco no Volume intracelular Volume intracelular Volume extracelular Volume intersticial Volume intersticial Volume plasmático Plasma 10 litros 4 litros 42 litros 28 litros 14 litros Água corporal total Figura 1.14 Tamanho relativo dos vários volumes de distribuição de um indivíduo com 70 kg. Clark-5ed_01.indd 12Clark-5ed_01.indd 12 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 Farmacologia Ilustrada 13 plasma. Se o Vd é elevado, a maior parte do fármaco está no espaço extraplasmático e indisponível para os órgãos excretores. Portanto, qualquer fator que aumente o Vd pode levar a um aumento na meia- -vida e prolongar a duração de ação do fármaco. (Nota: um valor de Vd excepcionalmente elevado indica considerável sequestro do fármaco em algum órgão ou compartimento do organismo.) V. DEPURAÇÃO DE FÁRMACOS POR MEIO DA BIOTRANSFORMAÇÃO Logo que o fármaco entra no organismo inicia-se o processo de eliminação, que envolve três vias principais:1) a biotransformação hepática; 2) a elimina- ção na bile; e 3) a eliminação na urina. Juntos, estes processos de elimina- ção fazem cair exponencialmente a concentração do fármaco no plasma. Ou seja, a cada unidade de tempo, uma fração constante de fármaco presente é eliminada na unidade de tempo (Figura 1.15A). A maioria dos fármacos é eli- minada de acordo com uma cinética de primeira ordem, embora alguns, como o ácido acetilsalicílico em altas doses, seja eliminado de acordo com cinética de ordem zero ou não linear. A biotransformação gera produtos com maior polaridade que facilita a eliminação. A depuração (clearance – CL) estima a quantia de fármaco depurada do organismo por unidade de tempo. A CL total é uma estimativa que reflete todos os mecanismos de eliminação do fármaco e é calculada por: CL = 0,693 � Vd/t1/2 onde t½ é a meia-vida de eliminação do fármaco, Vd é o volume de distribuição aparente, e 0,693 é a constante log natural. A meia-vida do fármaco é usada com frequência para mensurar a CL do fármaco porque, para vários fárma- cos, Vd é uma constante. A. Cinética da biotransformação 1. Cinética de primeira ordem. A transformação metabólica dos fár- macos é catalisada por enzimas, e a maioria das reações obedece à cinética de Michaelis-Menten.3 v = velocidade de biotransformação do fármaco = Na maioria das situações clínicas, a concentração do fármaco, [C], é muito menor do que a constante de Michaelis, Km, e a equação se reduz para: v = velocidade de biotransformação do fármaco = 3Ver Bioquímica Ilustrada, 4a edição, Artmed Editora, para uma discussão sobre cinética Michaelis-Menten. INFO LINK 4 3 2 1 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 t1/2 0 1 3 42 Extrapolação até o tempo “0” fornece o C0, o valor hipotético de concentração do fárma- co previsto se a distri- buição fosse alcançada instantaneamente. Tempo C o n ce n tr aç ão n o p la sm a Injeção rápida do fármaco C0 � 4 2 1 1 0 0 1 3 42 Tempo C o n ce n tr aç ão n o p la sm a (C p ) Injeção rápida do fármaco Fase de distribuição Fase de eliminação A maioria dos fármacos apresenta diminuição exponencial na concen- tração em função do tempo, durante a fase de eliminação. A B A meia-vida (tempo necessário para reduzir à metade a concentração do fármaco no plasma) é igual a 0,69 Vd/CL. Figura 1.15 Concentrações do fármaco no plasma após uma injeção única de um fár- maco no tempo = 0. A. Os dados de concentração foram lançados em uma escala linear. B. Os dados de concen- tração foram lançados em uma escala logarítmica. Clark-5ed_01.indd 13Clark-5ed_01.indd 13 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 14 Clark, Finkel, Rey & Whalen Isto é, a velocidade de biotransformação do fármaco é diretamente proporcional à concentração do fármaco livre, e é observada uma cinética de primeira ordem (Figura 1.16). Isso indica que uma fra- ção constante do fármaco é biotransformada por unidade de tem- po (isto é, a cada meia-vida, a concentração se reduz em 50%). A cinética de primeira ordem algumas vezes é referida clinicamente como cinética linear. 2. Cinética de ordem zero. Com poucos fármacos, como o ácido acetil- salicílico, o etanol e a fenitoína, as doses são muito grandes. Por isso, [C] é muito maior do que Km, e a equação de velocidade se torna: v = velocidade de biotransformação do fármaco = = Vmáx A enzima é saturada pela concentração elevada de fármaco livre, e a velocidade da biotransformação permanece constante no tempo. Isso é denominado cinética de ordem zero (também referida clinicamente como cinética não linear). Uma quantidade constante do fármaco é biotransformada por unidade de tempo e a velocidade de eliminação é constante e não depende da concentraçãodo fármaco. B. Reações da biotransformação de fármaco Os rins não conseguem eliminar os fármacos lipofílicos de modo eficien- te, pois eles facilmente atravessam as membranas celulares e são reab- sorvidos nos túbulos contorcidos distais. Por isso, os fármacos lipossolú- veis primeiro devem ser biotransformados no fígado em substâncias mais polares (hidrofílicas) usando dois grupos gerais de reações, denomina- dos Fase I e Fase II (Figura 1.17). 1. Fase I. As reações de Fase I convertem moléculas lipofílicas em moléculas mais polares, introduzindo ou desmascarando um grupo funcional polar, como –OH ou –NH2. A biotransformação de Fase I pode aumentar, diminuir ou deixar inalterada a atividade farmacoló- gica do fármaco. a. Reações de Fase I utilizando o sistema P450. As reações de Fase I envolvidas com mais frequência na biotransformação de fármacos são catalisadas pelo sistema citocromo P450 (tam- bém denominado oxidases microssomais de função mista): Fármaco + O2 + NADPH + H + Fármacomodificado + H2O + NADP + Após a Fase I, o fármaco pode ser ativado, perma- necer inalterado ou, com mais frequência, inativado. O fármaco conjugado geralmente é inativo. Produtos de conjugação Fármaco Fase II Alguns fármacos entram diretamente na Fase II de biotransformação. Fase I Oxidação, redução, e/ou hidrólise Figura 1.17 Biotransformação dos fármacos. 50 Poucos fármacos, como ácido acetilsali- cílico, etanol e fenitoína, têm dosagens muito elevadas. Por isso, a concentração do fármaco no plasma é muito maior do que o Km, e as suas biotransformações são de ordem zero, isto é, constante e independente da dose do fármaco. Para a maioria dos fármacos, a concen- tração no plasma é muito menor do que o Km e a eliminação é de primeira ordem, isto é, proporcional à dose do fármaco. Dose do fármaco V el o ci d ad e d e b io tr an sf o rm aç ão d o f ár m ac o 0 0 100 Figura 1.16 Efeitos da dose do fármaco na veloci- dade da sua biotransformação. Clark-5ed_01.indd 14Clark-5ed_01.indd 14 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 Farmacologia Ilustrada 15 A oxidação ocorre com a ligação do fármaco à forma oxidada do citocromo P450, e, então, o oxigênio é introduzido em uma etapa redutora, acoplada a NADPH:citocromo P450 oxidorredutase. O sistema P450 é importante para a biotransformação de vários compostos endógenos (como esteroides, lipídeos, etc.) e para a biotransformação de substâncias exógenas (xenobióticos). O ci- tocromo P450, designado como CIP, é uma superfamília de iso- zimas contendo heme que se localizam na maioria das células, mas são encontradas principalmente no fígado e no TGI. 1) Nomenclatura. O nome da família é indicado por CIP acres- cido de um algarismo arábico e seguido de letra maiúscula para a subfamília, por exemplo, CIP3A (Figura 1.18). Outro número é acrescentado para indicar a isozima específica como em CIP3A4. 2) Especificidade. Como há vários genes diferentes que codi- ficam múltiplas enzimas diferentes, há várias isoformas P450 diferentes. Estas enzimas têm a capacidade de modificar um grande número de substratos estruturalmente distintos. Além disso, um fármaco individual pode ser substrato para mais de uma isozima. Quatro isozimas são responsáveis pela gran- de maioria das reações catalisadas pelo P450: CIP3A4/5, CIP2D6, CIP2C8/9 e CIP1A2 (ver Figura 1.18). Quantidades consideráveis de CIP3A4 são encontradas na mucosa intes- tinal, respondendo pela biotransformação de primeira passa- gem de fármacos, como a clorpromazina e o clonazepam. 3) Variabilidade genética. As enzimas P450 exibem consi- derável variabilidade genética entre indivíduos e grupos ra- ciais. Variações na atividade P450 podem alterar a eficácia dos fármacos e o risco de efeitos adversos. O CIP2D6, em particular, revelou polimorfismo genético.4 Mutações no CI- P2D6 resultam em capacidades muito baixas de biotransfor- mar substratos. Algumas pessoas, por exemplo, não obtêm benefício do analgésico opiáceo codeína, porque não têm a enzima que o O-desmetila para ativá-lo. A frequência des- se polimorfismo em parte é determinada racialmente, com a prevalência de 5 a 10% em brancos, europeus, comparada com menos de 2% em asiáticos do sudoeste. Polimorfismos similares foram caracterizados para a subfamília CIP2C. A colocação de uma advertência em tarja preta no clopidogrel pelo U.S. Food and Drug Administration salienta o significado deste polimorfismo. Pacientes que são maus biotransforma- dores CIP2C19 têm maior incidência de eventos cardiovas- culares (p. ex., choque ou infarto do miocárdio) quando usam clopidogrel. Este fármaco é um pró-fármaco, e a ativação pelo CIP2C19 é necessária para convertê-lo no metabólito ativo. Embora o CIP3A4 exiba uma variabilidade entre indiví- duos maior que 10 vezes, nenhum polimorfismo foi identifica- do para essa isozima P450. 4) Indutores. As enzimas dependentes de CIP450 são um alvo importante de interações farmacocinéticas de fármacos. Uma dessas interações é a indução de algumas isozimas CIP. Xe- nobióticos (substâncias químicas que normalmente não são 4Ver Bioquímica Ilustrada, 4a edição, Artmed Editora, para uma discussão sobre polimorfismo genético. INFO LINK CIP2D6 19% CIP2C8/9 16% CIP1A2 11% CIP2C19 8% CIP2E1 4% CIP2B6 3% CIP2A6 3%CIP3A4/5 36% Figura 1.18 Contribuição relativa das isoformas de citocromos P450 (CIP) na biotransfor- mação de fármacos. Clark-5ed_01.indd 15Clark-5ed_01.indd 15 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 16 Clark, Finkel, Rey & Whalen produzidas nem estão presentes no organismo) podem in- duzir a atividade destas enzimas, induzindo a expressão de genes que codificam a enzima ou provocando sua estabiliza- ção. Certos fármacos (p. ex., fenobarbital, rifampicina e car- bamazepina) são capazes de aumentar a síntese de uma ou mais isozimas CIP. Isso resulta no aumento da velocidade de biotransformação de fármacos e pode levar a reduções sig- nificativas nas concentrações plasmáticas dos fármacos bio- transformados por essas isoenzimas CIP, como mensurado pela ASC (uma medida de exposição a fármacos), concomi- tante com a redução do efeito farmacológico. Por exemplo, a rifampicina, um fármaco antituberculose (ver p. 424), diminui de modo significativo a concentração plasmática dos inibido- res de HIV protease,5 diminuindo, assim, sua capacidade de suprimir a maturação do vírus HIV. A Figura 1.19 lista alguns dos mais importantes indutores para isozimas CIP represen- tativas. As consequências do aumento da biotransformação de fármacos incluem: 1) menor concentração do fármaco no plasma; 2) menor atividade do fármaco, se o metabólito é ina- tivo; 3) aumento da atividade, se o metabólito é ativo; e 4) redução do efeito terapêutico do fármaco. 5) Inibidores. A inibição da atividade das isozimas CIP é uma fonte importante de interações de fármacos que leva a efeitos adversos graves. A forma mais comum de inibição é pela competição pela mesma isozima. Alguns fármacos, contudo, são capazes de inibir reações para as quais nem são substratos (p. ex., cetoconazol) provocando também in- terações. Numerosos fármacos são capazes de inibir uma ou mais vias de biotransformação CIP-dependente da varfa- rina. Por exemplo, o omeprazol é um inibidor importante de três das isozimas CIP responsáveis pela biotransformação da varfarina. Se os dois fármacos são tomados juntos, a concentração plasmática de varfarina aumenta, o que au- menta a inibição da coagulação, o risco de hemorragias e outros sangramentos graves. (Nota: os inibidores CIP mais importantes são eritromicina, cetoconazol e ritonavir, pois eles inibem várias isozimas CIP.) A cimetidina bloqueia a biotransformação da teofilina, clozapina e vafarina. Subs- tâncias naturais também podem inibir a biotransformação de fármacos inibindo a CIP3A4. Por exemplo, como o toran- ja (grapefruit) e seu suco inibem a CIP3A4, fármacos como nifedipina, claritromicina e sinvastatina, que são biotransfor- mados poresse sistema, permanecem em maior concentra- ção na circulação sistêmica com potencial de aumentar seu efeito terapêutico e/ou tóxico. b. Reações de Fase I que não envolvem o sistema P450. Essas reações incluem a oxidação de aminas (p. ex., oxidação de ca- tecolaminas ou histamina), a desidrogenação do álcool (p. ex., oxidação do etanol), as esterases (p. ex., biotransformação da pravastatina no fígado) e a hidrólise (p. ex., procaína). 2. Fase II. Essa fase consiste em reações de conjugação. Se o me- tabólito resultante da Fase I é suficientemente polar, ele pode ser excretado pelos rins. Contudo, vários metabólitos de Fase I são 5Ver Bioquímica Ilustrada, 4a edição, Artmed Editora, para uma discussão sobre inibidores de protease HIV. INFO LINK Isozima CIP2C9/10 Isozima CIP2D6 Isozima CIP3A4/5 SUBSTRATOS COMUNS INDUTORES SUBSTRATOS COMUNS INDUTORES SUBSTRATOS COMUNS INDUTORES Varfarina Fenitoína Ibuprofeno Tolbutamida Fenobarbital Rifampicina Desipramina Imipramina Haloperidol Propanolol Nenhum* Carbamazepina Ciclosporina Eritromicina Nifedipino Verapamil Carbamazepina Dexametasona Fenobarbital Fenitoína Rifampicina Figura 1.19 Algumas isozimas citocromo P450 re- presentativas. CIP = citocromo P. * Diferentemente da maioria das outras enzimas CIP450, a CIP2D6 não é mui- to suscetível à indução enzimática. Clark-5ed_01.indd 16Clark-5ed_01.indd 16 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 Farmacologia Ilustrada 17 muito lipofílicos para serem retidos pelos túbulos renais. Uma rea- ção subsequente de conjugação com um substrato endógeno – como ácido glicurônico, ácido sulfúrico, ácido acético ou amino- ácido – produz um composto polar em geral mais hidrossolúvel e terapeuticamente inativo. Uma exceção notável é o glicuronídeo-6- -morfina, que é mais potente do que a morfina. A glicuronidação é a reação de conjugação mais comum e mais importante. Os neo- natos são deficientes nesse sistema de conjugação, tornando-os particularmente vulneráveis a fármacos como o cloranfenicol, inati- vado pelo acréscimo de ácido glicurônico, resultando na síndrome do bebê cinzento (ver p. 405). (Nota: os fármacos que possuem um grupo –OH, –NH2 ou –COOH podem entrar diretamente na Fase II e ser conjugados sem uma reação de Fase I prévia.) Os fármacos conjugados altamente polares podem então ser excretados pelos rins ou com a bile. 3. Reversão da ordem das fases. Nem todos os fármacos sofrem reações de Fase I e II nessa ordem. Por exemplo, a isoniazida é acetilada inicialmente (reação de Fase II) e, então, hidrolisada a áci- do nicotínico (reação de Fase I). VI. DEPURAÇÃO DE FÁRMACOS PELOS RINS A eliminação de fármacos do organismo requer que a substância seja sufi- cientemente polar para que a excreção seja eficiente. A remoção do fármaco ocorre por meio de numerosas vias, sendo a mais importante por meio dos rins na urina. Um paciente com insuficiência renal pode sofrer diálise extra- corpórea, a qual remove pequenas moléculas, como fármacos. A. Eliminação renal dos fármacos A eliminação de fármacos pelos rins na urina envolve três processos: filtração glomerular, secreção tubular ativa e reabsorção tubular passiva. 1. Filtração glomerular. Os fármacos chegam aos rins pelas artérias renais, que se dividem para formar o plexo capilar glomerular. Os fármacos livres (não ligados à albumina) difundem-se através das fendas capilares para o espaço de Bowman como parte do filtrado glomerular (Figura 1.20). A velocidade de filtração glomerular (125 mL/min) é cerca de 20% do fluxo plasmático renal (600 mL/min). A lipossolubilidade e o pH não influenciam a passagem dos fármacos para o filtrado glomerular. Entretanto, variações na velocidade de filtração glomerular e ligação do fármaco às proteínas plasmáticas podem afetar este processo. 2. Secreção tubular proximal. Os fármacos que não foram transfe- ridos para o filtrado glomerular saem dos glomérulos através das arteríolas eferentes, que se dividem formando um plexo capilar ao redor do lúmen no túbulo proximal. A secreção ocorre primariamen- te nos túbulos proximais por dois mecanismos de transporte ativo (requerem transportador) que exigem energia, um para ânions (p. ex., formas desprotonadas de ácidos fracos) e outro para cátions (p. ex., formas protonadas de bases fracas). Cada um desses sis- temas de transporte apresenta baixa especificidade e pode trans- portar inúmeros compostos. Assim pode ocorrer competição entre fármacos pelos transportadores em cada um dos sistemas (p. ex., ver probenecida, p. 547). (Nota: prematuros e recém-nascidos têm esse mecanismo secretor tubular incompletamente desenvolvido e, assim, podem reter certos fármacos.) Túbulo proximal Cápsula de Bowman Alça de Henle Túbulo distal Túbulo coletor O fármaco livre entra no filtrado glomerular1 Secreção ativa2 Reabsorção passiva de fármacos não ionizados e lipossolúveis, que foram concentrados no interior do lúmen em concentração maior do que a do espaço perivascular. 3 Na urina: fármaco ionizado insolúvel em lipídeos Figura 1.20 Eliminação de fármacos pelos rins. Clark-5ed_01.indd 17Clark-5ed_01.indd 17 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 18 Clark, Finkel, Rey & Whalen 3. Reabsorção tubular distal. Enquanto o fármaco se desloca em direção ao túbulo contorcido distal, sua concentração aumenta e excede à do espaço perivascular. O fármaco, se neutro, pode di- fundir-se para fora do lúmen, retornando à circulação sistêmica. A manipulação do pH da urina, para aumentar a forma ionizada do fár- maco no lúmen, pode ser feita para minimizar a extensão da retrodi- fusão e, assim, aumentar a depuração de um fármaco indesejável. Como regra geral, ácidos fracos podem ser eliminados alcalinizan- do a urina, enquanto a eliminação de bases fracas pode ser aumen- tada por acidificação da urina. Esse processo é denominado “prisão iônica”. Por exemplo, um paciente apresentando dose excessiva de fenobarbital (um ácido fraco) pode receber bicarbonato, que alca- liniza a urina e mantém o fármaco ionizado, diminuindo, assim, a reabsorção. Se a dosagem excessiva é com uma base fraca, como a anfetamina, a acidificação da urina com NH4Cl leva à protonação do fármaco (i.e, se torna ionizado) e aumenta a sua excreção renal. 4. Papel da biotransformação de fármacos. A maioria dos fárma- cos é lipossolúvel e, sem modificação química, se difundiria para fora do lúmen tubular renal quando a sua concentração no filtrado se torna maior do que a do espaço perivascular. Para minimizar essa reabsorção, os fármacos são modificados em metabólitos mais polares, principalmente, pelo fígado, usando dois tipos de reações: as de Fase I (ver p. 14) – que envolvem o acréscimo de grupos hidroxila ou a remoção de grupos bloqueadores das hidro- xilas, carboxilas, ou grupo amino – e as de Fase II (ver p. 16) – que usam conjugação com sulfato, glicina ou ácido glicurônico para aumentar a polaridade do fármaco. Os conjugados são ionizados, e as moléculas carregadas não conseguem difundir para fora do lúmen renal (Figura 1.21). VII. DEPURAÇÃO POR OUTRAS VIAS As outras vias de depuração de fármacos incluem o intestino, a bile, os pul- mões e o leite das lactantes, entre outras. As fezes estão envolvidas primaria- mente com a eliminação dos fármacos ingeridos por via oral e não absorvidos ou fármacos que foram secretados diretamente no intestino ou na bile. No trato intestinal, a maioria dos compostos não é reabsorvida e é eliminada com as fezes. Os pulmões estão envolvidos primariamente na eliminação dos gases anestésicos (p. ex., halotano e isoflurano). A eliminação de fármacos no leite materno é clinicamente relevante como fonte potencial de efeitos in- desejados no lactente. Um bebê em amamentação será exposto em alguma extensão aos medicamentos e/ou seus metabólitos ingeridos pela sua mãe. A excreção da maioria dos fármacos no suor, saliva, lágrimas, pelos e pele ocorre em pequena extensão. Contudo, o depósito de fármacos nos pelos(cabelo) e na pele tem sido usado como ferramenta forense em vários casos criminais. A depuração corporal total, somando todos os métodos de depu- ração, e a meia-vida do fármaco são medidas importantes de depuração de fármacos, visando a prevenir a toxicidade. A. Depuração corporal total A depuração corporal total (sistêmica), CLtotal ou CLt, é a soma das de- purações dos vários órgãos biotransformadores e eliminadores. Os rins são, com frequência, os principais órgãos de excreção; contudo, o fígado também contribui para a perda de fármaco por meio da biotransformação e/ou da excreção com a bile. Um paciente com insuficiência renal pode, algumas vezes, ser beneficiado pelo fármaco que é excretado por essa via, indo para o intestino e saindo com as fezes, em vez da via renal. Al- Túbulo proximal Alça de Henle Túbulo distal Fármaco Metabólito ionizado ou polar Biotransformação de Fase I e II Fármaco Fármaco Reabsorção passiva de fármaco não ioni- zado, lipossolúvel Figura 1.21 Efeito da biotransformação de fárma- cos na reabsorção no túbulo distal. Clark-5ed_01.indd 18Clark-5ed_01.indd 18 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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