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Beatriz Machado de Almeida Internato – 10º semestre 1 INTRODUÇÃO • A Hiperplasia Prostática Benigna (HPB) é uma entidade definida pela proliferação (hiperplasia) de células do epitélio e do estroma prostático, formando tecido nodular adenomatoso. • Isso geralmente provoca aumento do volume da glândula, associado a história clínica de sinais e sintomas obstrutivos/irritativos. • Mais comum entre homens acima de 45 anos. ANATOMIA • A próstata normal de um homem adulto pesa cerca de 20g e está localizada inferiormente à bexiga, atravessada pela primeira porção da uretra e limitada anteriormente pela sínfise púbica e posteriormente pelo reto. • É um órgão constituído de tecido glandular (30%) e um componente de estroma fibromuscular (60%), contendo músculo liso e tecido conjuntivo. • Sua secreção representa 20% do volume ejaculado. Dividida em regiões anatômicas: zona periférica (70%), zona central (25%), zona de transição (4%) e estroma anterior (1%). Este último, é formado apenas por músculo liso e tecido conjuntivo, não contendo tecido glandular. • A zona periférica é o local mais frequente de aparecimento do câncer, enquanto a zona de transição é o sítio exclusivo de origem da hiperplasia benigna. ETIOPATOGENIA O aumento da idade e a presença dos testículos representam as determinantes mais importantes para o desenvolvimento da HPB. Acredita-se que o desenvolvimento do quadro resulte da ação de vários mecanismos interativos, em que se destacam a testosterona, a diidrotestosterona (DHT) e alguns fatores de crescimento teciduais. Nos casos de HPB, ocorre aumento de ambos os componentes da próstata, com predomínio do crescimento do estroma fibromuscular, que passa a representar mais de 70% do peso da glândula. FISIOPATOLOGIA O processo de hiperplasia prostática condiciona o aparecimento de sintomas miccionais, que podem resultar de 3 fenômenos fisiopatológicos: • Um componente estático (efeito mecânico), no qual o aumento do volume provoca diminuição do calibre e aumento da resistência uretral, com consequente dificuldade de esvaziamento vesical. • Um componente dinâmico (efeito funcional), representado pela musculatura lisa presente na cápsula, na glândula prostática e no colo vesical, em que o aumento da atividade alfa-adrenérgica nas fibras musculares hipertrofiadas provoca a elevação da resistência uretral. • Um componente vesical, decorrente de alterações secundárias à obstrução produzida pela HPB, traduz-se em hiperatividade, como resposta ao esforço contínuo na tentativa de esvaziamento, ou em hipoatividade, como resultante da falência muscular nas fases mais avançadas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS SINAIS E SINTOMAS CLÁSSICOS DE ESVAZIAMENTO OU OBSTRUTIVOS: • Hesitação para iniciar a micção; • Diminuição da força e do calibre do jato; • Sensação de esvaziamento incompleto da bexiga; • Jato intermitente; • Gotejamento pós-miccional; • Retenção urinária aguda. HIPERPLASIA PROSTÁTICA BENIGNA - HPB Beatriz Machado de Almeida Internato – 10º semestre 2 DE ENCHIMENTO, ARMAZENAMENTO OU HIPERATIVIDADE: • Polaciúria; • Noctúria; • Urgência miccional. • Incontinência de urgência. • Pequenos volumes de micção; • Dor suprapúbica. COMPLICAÇÕES RETENÇÃO URINÁRIA AGUDA • Acontece em 2,6% dos pacientes, podendo acometer mesmo aqueles que apresentem pouca sintomatologia e estando relacionada ao componente dinâmico da obstrução. • Fatores que podem desencadear: uso de simpaticomiméticos ou anticolinérgicos, distensão aguda da bexiga (diurese forçada), prostatite aguda, cálculo vesical ou infarto prostático. INFECÇÃO URINÁRIA E PROSTATITE • Surgem em torno de 1% por ano, exacerbando os sintomas urinários e, por vezes, desencadeando retenção urinária. • Resultam da colonização prostática ou da presença de urina residual. • Podem provocar quadros de bacteremia. LITÍASE VESICAL • Pode surgir (1 a 3%) por estase local ou impossibilidade de eliminar cálculos migrados dos rins. • Os pacientes podem apresentar bloqueio abrupto do jato urinário e, às vezes, hematúria macroscópica. INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA OU CRÔNICA • 3% dos pacientes com HPB têm lesão renal causada pela própria obstrução prostática (nefropatia obstrutiva crônica), e, em metade dos casos, o quadro de hidronefrose se instala de maneira insidiosa, frequentemente sem manifestações urinárias importantes. HEMATÚRIA • A hematúria macroscópica surge em poucos pacientes com HPB e se deve à ruptura de vasos submucosos locais. DIAGNÓSTICO HISTÓRIA CLÍNICA • Avaliar os sintomas prostáticos característicos da HPB descritos nas manifestações clínicas. EXAME FÍSICO • Exame físico geral + exame urológico completo. • Observar a micção, avaliando seu jato urinário. • Realizar a palpação do hipogástrio, para detectar massas ou globo vesical. • Realizar o toque retal: avaliar se a próstata está aumentada de volume e detectar possíveis nodulações. • Exame digital da próstata: devem ser avaliadas a contração e a sensibilidade do esfíncter anal, o reflexo bulbocavernoso, as características prostáticas (volume, consistência, regularidade, limites, sensibilidade e mobilidade), as vesículas seminais e a parede retal. • A medida do resíduo urinário pode ser obtida com a passagem de uma sonda vesical após a micção ou por meio de USG transabdominal. EXAMES LABORATORIAIS OBRIGATÓRIOS • Exames de urina: investigar a presença de piúria e nitrito (infecção) e hematúria. • Ureia e creatinina: avaliar nefropatia obstrutiva (complicação importante). • PSA (antígeno prostático específico): pode estar elevada em qualquer doença prostática inflamatória ou neoplásica. O valor normal é abaixo de 2,5ng/mL para homens <60 anos, e até 4ng/mL para os demais. Beatriz Machado de Almeida Internato – 10º semestre 3 OUTROS EXAMES NÃO OBRIGATÓRIOS • USG: avalia a morfologia do trato urinário, o volume da próstata e o resíduo pós- miccinal. Idealmente a via preferida é a transretal. • Urofluxometria: método urodinâmico recomendável, que registra em gráfico, a curva do fluxo urinário. • Uretrocistoscopia: avalia a presença ou não de estenose de uretra, a extensão da uretra prostática, o aspecto da parede vesical (trabeculações e divertículos) e observam-se doenças associadas (cálculos ou tumores vesicais). • Urodinâmica: indicada nos casos de sintomas do trato urinário inferior em pacientes com menos de 50 anos e mais de 80 anos; volume urinário <150ml; resíduo pós-miccional >300 ml; pacientes sintomáticos com fluxometria normal; pacientes com doenças neurológicas; ou falha após procedimento invasivo prévio. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Os sintomas do trato urinário inferior são inespecíficos e ocorrem em uma grande variedade de doenças, o que torna necessário lançar mão de exames complementares para esclarecimento de tais doenças, que mimetizam os sintomas da HPB, como pode ser visto a seguir: • Doenças envolvidas no diagnóstico diferencial: ❖ Uretrais: estenose da uretra, uretrite, litíase. ❖ Prostáticas: prostatites, CA de próstata. ❖ Vesicais: disfunção do colo vesical, cistites, litíase vesical, tumores vesicais, hiperatividade. TRATAMENTO A indicação do tratamento deve ter base no escore de sintomas e na avaliação clínica, que poderão ser reforçados, sempre que possível, com parâmetros específicos, como USG e urofluxometria. Há situações em que o tratamento cirúrgico da HPB é absoluto: retenção urinária, infecção urinária recorrente, cálculo vesical, hidronefrose ou insuficiência renal, hematúria macroscópica refratária e sintomas urinários acentuados persistentes após o tratamento clínico. Por outro lado, há outro extremo, em que as queixas são discretas e as avaliações clínica e porimagem não revelam alterações funcionais. Nesses casos, não se indica tratamento algum, e o paciente é orientado para realizar avaliações periódicas. As opções disponíveis para o tratamento da HPB são: observação e acompanhamento, tratamento farmacológico e cirúrgico. OBSERVAÇÃO E ACOMPANHAMENTO Devem ser anuais e estão indicados a todos aqueles com sintomas leves e sem complicações, associados a MEV, como: diminuição da ingesta hídrica à noite, evitar bebidas diuréticas como café ou álcool, rever uso de medicações. FARMACOLÓGICO É indicado aos pacientes com sintomatologia moderada, com morbidade mínima e boa aceitação, e não deve interferir na sua qualidade de vida. • Os agentes mais utilizados são: ❖ Bloqueadores alfa-adrenérgicos: alfa 1 (urosseletivos) amenizam os sintomas miccionais. Exemplo: tansulosina. • Inibidores das 5-alfarredutase: redução do volume prostático em percentuais variados. A administração regular de finasterida por tempo prolongado (>6 meses), além da diminuição volumétrica, atua sobre o quadro clínico. Beatriz Machado de Almeida Internato – 10º semestre 4 • Fitoterápicos (não são recomendados). • Inibidores da fosfodiesterase tipo 5: efeitos sobre o relaxamento do músculo liso, proliferação de células endoteliais, melhora do fluxo sanguíneo e da atividade sobre os nervos eferentes prostáticos. Exemplo: tadalafila. • Antimuscarínicos: indicados em pacientes com STUI moderados/graves com predomínio de sintomas de armazenamento. • Agonista beta-3 adrenérgico: promove o relaxamento do detrusor, melhorando os sintomas de armazenamento. Exemplo: Mirabegrona. CIRÚRGICO Deve haver indicação nos casos de: • Retenção urinária. • Infecções recorrentes ou persistentes do TGU. • Distúrbios anatômicos ou funcionais do TGU superior decorrentes de obstrução prostática. • Calculose vesical secundária à obstrução. • Hematúria macroscópica recorrente de origem prostática. • Insucesso ou impossibilidade de tratamento clínico. A escolha da técnica cirúrgica deve ter base na experiência do cirurgião, no estado clínico e no desejo do paciente, no tamanho da próstata, nas doenças associadas e na disponibilidade das técnicas. INCISÃO TRANSURETRAL DA PRÓSTATA: • Opção para pacientes com indicação cirúrgica, porém que têm sintomatologia leve ou moderada e próstata <30mg, sem lobo mediado. • É realiza por meio de 2 incisões posteriores. • Taxas razoáveis de melhora dos sintomas e da obstrução, mas por curto período (cerca de 2a). TRATAMENTO MINIMAMENTE INVASIVO: • Baseia-se no uso de formas variadas de energia para a destruição do tecido prostático. • Stent uretral: aceitável com restrição. • Técnicas com uso transuretral de micro-ondas (TUMT) e ablação por agulha (TUNA): aceitáveis. Além de não possibilitar o estudo anatomopatológico da próstata, nenhuma dessas técnicas ainda alcançou taxas de sucesso comparáveis às das prostatectomias ou da ressecção transuretral (RTU), sendo consideradas tratamento alternativo. RESSECÇÃO TRANSURETRAL DA PRÓSTATA: • Corresponde ao tratamento cirúrgico mais utilizado (mais de 90%), considerado padrão-ouro devido à sua taxa de sucesso e ao fato de preencher requisitos de técnica minimamente invasiva, podendo ser utilizada em pacientes de risco cirúrgico elevado. • Melhora nos sintomas e no fluxo urinário em cerca de 85% dos operados, e a mortalidade se situa em torno de 2%. • Complicação intraoperatória mais temida: síndrome da intoxicação hídrica, que decorre da absorção excessiva, pelo leito prostático cruento, da solução hipotônica empregada para irrigação vesical durante o procedimento. Caracterizada por: hiponatremia, confusão mental, náuseas e vômitos, HAS, bradicardia e distúrbios da visão. • Outras complicações: hemorragia perioperatória, retenção urinária, infecção urinária, ejaculação retrógrada (60%), disfunção erétil. • Cerca de 20% necessitarão de nova ressecção ao longo da vida. PROSTATECTOMIA (ABERTA, LAPARAOSCÓPICA OU ROBÓTICA): • Prostatectomia aberta: é a forma de tratamento com taxas mais elevadas na melhoria dos sintomas e do fluxo urinário, porém com o maior índice de morbimortalidade. É indicada aos casos de próstatas volumosas e aos pacientes com contraindicações à RTUP. • Complicações mais comuns: hemorragia, retenção pós-operatória, fístula urinária, infecção urinária, ejaculação retrógrada, disfunção erétil, esclerose do colo vesical, incontinência urinária. Outros tratamentos: vaporização transuretral da próstata; terapia a laser; evaporação plasma button.
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