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Hiperplasia prostática benigna (HPB) – prof Tarso Nascimbem 1 Hiperplasia prostática benigna A hiperplasia prostática benigna é o crescimento benigno da próstata (adenoma) que ocorre com a idade, sendo mais frequente a partir da sexta década de vida e a neoplasia benigna mais comum no homem. É uma condição que acomete cerca de 50% dos homens aos 60 anos e 90% aos 85 anos. A HPB histológica é muito mais prevalente que a clínica, em que nem todos os pacientes apresentam sintomas. A próstata se localiza abaixo da bexiga e contornando a uretra, de modo que o crescimento prostático pode influenciar diretamente no funcionamento desses órgãos. A irrigação da próstata é feito pelos ramos prostáticos e capsulares da artéria vesical inferior, tendo ramos direitos e esquerdos que devem ser ligados durante a prostatectomia. A próstata possui proximidade com os nervos da ereção e com o esfíncter uretral, podendo promover incontinência urinária e impotência com a cirurgia de retirada. A fáscia de Denonvilliers é a estrutura que separa a próstata do reto, facilitando a avaliação pelo toque retal. Fisiopatologia: sua etiologia não é totalmente conhecida, mas pode ser multifatorial e estar sob controle endócrino. O envelhecimento é o principal fator de risco, em que ocorre o processo de remodelação prostática especialmente na zona de transição. Isso ocorre pelo desequilíbrio entre os níveis de proliferação e morte celular, fato que permite um acúmulo de células, além de inibirem a apoptose. Nota-se que duas proteínas (TGF- e Bcl-2) são envolvidas na apoptose prostática e estão aumentadas na HPB. A proliferação também é mediada pela ação intraglandular da di-hidrotestosterona (DHT), já que aumenta a expansão clonal. Também aumenta neoangiogênese com vasos tortuosos e facilmente friáveis que podem sangrar. A associação entre a síndrome metabólica e HPB também pode ser considerada, em que os casos dessa patologia podem estar relacionados com pressão arterial diastólica elevada, IMC acima de 30 e relação negativa com os níveis de HDL. A inflamação crônica também pode contribuir para patogênese, em que poderia induzir o crescimento fibromuscular prostático, além da inflamação promover menores taxas de oxigênio que promovem neovascularização e aumento de fatores de crescimento endoteliais. A HPB começa como uma proliferação do estroma fibromuscular do epitélio glandular na zona de transição, em que relação estroma epitélio se torna 4:1 (normalmente seria 2:1), resultando em alguns componentes que podem promover sintomas. Componente mecânico: o aumento volumétrico da próstata provoca redução do calibre e aumento da resistência uretral, promovendo dificuldade de esvaziamento vesical; Componente dinâmico: o aumento de receptores a-adrenérgicos promovem elevação da resistência uretral por aumentar a atividade da musculatura lisa, dificultando o relaxamento; Componente vesical: decorre de alterações secundárias à obstrução infravesical na HPB, em que o detrusor está hiperativo e sofre hipertrofia (bexiga de esforço) como resposta ao esforço contínuo de esvaziamento, podendo ter falência detrusora nas fases mais avançadas da doença. Esse também pode ser causado por doenças neurológicas da bexiga, diabetes, trauma raquimedular, entre outros. Quadro clínico: é caracterizado pela progressão dos sintomas do trato urinário inferior, em que 50% dos pacientes apresentarão alterações macroscópicas da próstata – volume normal é 20 cm3 e cerca de 20g. O tempo de evolução é variável, não tendo correlação entre o tamanho da próstata e os sintomas apresentados pelo paciente. De modo geral, as manifestações podem ser divididas em sintomas de armazenamento ou de esvaziamento, tendo impacto negativo na qualidade de vida. Hiperplasia prostática benigna (HPB) – prof Tarso Nascimbem 2 Os sintomas de armazenamento estão relacionados com a hiperatividade detrusora, como aumento da frequência urinária (polaciúria com > 8 micções ao dia com intervalo < 3h) pela contração vesical, urgência ou urgeincontinência por contrações involuntárias da bexiga em resposta à obstrução, nictúria, dor vesical e/ou uretral por espasmo muscular e também por correlação com infecções ou inflamação. Como sintomas de esvaziamento causados pela obstrução mecânica tem-se hesitância com intervalo aumentado entre o desejo miccional e a ocorrência do fluxo urinário, esforço miccional que pode até culminar em uma hérnia inguinal, fluxo fraco e intermitente por redução do lúmen uretral, gotejamento ao final da micção por perder pressão detrusora e sensação de esvaziamento incompleto. Como efeitos secundários à obstrução do fluxo pode-se ter retenção urinária aguda ou crônica por não conseguir reter a pressão imposta pela próstata – tendo formação de bexigoma e até mesmo dilatação das vias urinárias superiores. A estase e retenção de urina também pode predispor à infecção urinária ou litíase, além de insuficiência renal em casos mais graves quando o rim trabalha cronicamente contra uma pressão aumentada no sistema pielocalicial. Pode-se ter hipertrofia da parede muscular com predomínio do estroma prostático ao redor da uretra, fato que auxilia na redução do lúmen uretral – podendo ser corrigido com fármacos que promovam o relaxamento da musculatura. Em outro caso, os ácinos podem estar hiperplásicos promovendo compressão da uretra. Diagnóstico: a avaliação inicial é realizada com o escore I-PPS que analisa os sintomas relacionados ao trato urinário inferior. Ele possui sete questões e as respostas são quantificadas de 0 a 5 de acordo com a queixa do paciente – leves (0 a 7), moderados (8 a 19) e severos (20 a 35). Também se faz uma pergunta sobre qualidade de vida respondida separadamente variando de 0 (ótimo) a 6 (péssimo). A anamnese também deve contar com avaliação de comorbidades, histórico familiar e pessoal, hábitos, entre outros. O exame físico deve ser completo e contar com exame neurológico para afastar patologias como uma bexiga neurogênica, além de incluir o toque retal para avaliação de tamanho, consistência e presença de alterações na glândula – podendo ser associado à dosagem de PSA. Além disso, o toque retal é importante para examinar períneo e ânus, avaliar força contrátil do ânus, presença de dor ao toque prostático, limites, mobilidade e superfície da próstata. Os exames de urina tipo I e urocultura devem ser realizados para descartar infecção urinária ou hematúria, pedindo também creatinina para avaliação da função renal. A ultrassonografia é um exame recomendado para avaliar o volume residual e verificar o tamanho da próstata, esse que pode ser para o interior da bexiga e imperceptível ao toque – mostra um crescimento da próstata com ocupação do espaço vesical que deveria ser apenas hipoecoico e preenchido por líquido. Além disso, pode-se realizar uma fluxometria realizada ao longo da micção e que mede a velocidade em que a urina é expelida em ml/s – podendo avaliar uma redução do fluxo uretral se fluxo lento. Um estudo urodinâmico pode ser feito para aferir a pressão dentro da bexiga e, simultaneamente, a intrabdominal por uma sonda retal. Assim, com base no enchimento da bexiga do paciente pede-se para que ele urine, avaliando a pressão que ele realiza para urinar e quanto de fluxo esse esforço gera. É Predomínio do estroma prostático Predomínio de glândulas Hiperplasia prostática benigna (HPB) – prof Tarso Nascimbem 3 importante para descartar casos de neuropatia em que tem-se uma hipocontratilidade da bexiga, não tendo etiologia de sintomas urinários com base no crescimento da próstata. A urografia excretora é feita sob suspeita de divertículo ou refluxo, realizando um raio X prévio, seguido por injeção de um contraste iodado endovenoso rapidamente eliminado e repetição do exame de imagem. A tomografia com contrastepode ser pedida sempre que o paciente tiver hematúria, a fim de descartar câncer de bexiga ou doença associada. A uretrocistografia é um exame radiológico que estuda o formato e o funcionamento da bexiga e da uretra, combinando os raio X com contraste iodado direto na bexiga para obtenção de imagens em repouso e durante a micção. Assim, pode-se avaliar a formação de divertículos, hidronefrose por obstrução uretral e hiperativação detrusora, entre outros. Toque Hiperplasia prostática benigna Câncer de próstata Prostatite Tamanho Aumentado Aumentado/normal Aumentado Sulco mediano Apagado Apagado/normal Apagado (+/++++) Superfície Lisa Nódulos Lisa Consistência Parenquimatosa Endurecida Amolecida Limites Precisos Precisos/imprecisos Precisos Dor +/- +/- +++ Mobilidade Normal Normal/imóvel Normal Tratamento: como objetivos do tratamento elenca-se aliviar os sintomas, resolver a obstrução urinária, evitar complicações – como hematúria, anemia, infecções e retenção urinária, tratar a disfunção vesical. A observação ativa pode ser utilizada em pacientes com sintomas leves (I-PSS < 8) de modo a acompanhar anualmente o paciente e a evolução dos sintomas, associando a medidas comportamentais como redução de substâncias que estimulam a musculatura detrusora, como café e álcool. Os sintomas moderados e severos (I-PSS > 8) devem ser conduzidos inicialmente com terapia medicamentosa, podendo evoluir para necessidade de intervenções cirúrgicas. O tratamento farmacológico pode ser feito com bloqueadores -adrenérgicos (tansulosina 0,4 mg/dia ou doxazosina 2 a 4 mg/dia), inibidores da 5--redutase (finasterida 5mg/dia ou dutasterida 0,5mg/dia) ou uma terapia combinada com ambas medicações. Eles irão atuar, respectivamente, promovendo o relaxamento da musculatura lisa e inibindo a conversão de DHT para redução do volume prostático. Os bloqueadores -adrenérgicos são contraindicados em casos de insuficiência renal crônica, elevada retenção urinária e antecedente de AVC, podendo causar hipotensão postural e ejaculação retrógrada por relaxamento do esfíncter. Os inibidores da 5--redutase são indicados para próstatas glandulares > 40g, sintomas obstrutivos e hematúria recorrente, tendo disfunção erétil e redução da libido como efeitos colaterais. Eles ainda reduzem o volume de PSA sérico, de modo que os pacientes em uso desses fármacos devem ter o PSA dosado dobrado para acompanhamento de risco de câncer de próstata. Se não houver melhora pode-se tentar realizar procedimentos minimamente invasivos. Os stents uretrais são introduzidos via endoscópica na uretra prostática para promover abertura uretral e redução da obstrução, tendo indicação para pacientes sem condições clínicas para outras intervenções. A termoterapia transuretral por micro-ondas (TUMT) se baseia no aquecimento da próstata por um cateter transuretral, enquanto que a ablação transuretral por agulha (TUNA) gera radiofrequência e libera calor no interior da próstata por penetração de agulhas, ambos promovendo necrose de coagulação no tecido prostático. A ablação prostática por holmium laser (HoLAP) vaporiza a água dos tecidos e pode ser usada como alternativa em pacientes que fazem uso de anticoagulantes. Em pacientes com retenção urinária refratária a tratamento, hematúria macroscópica persistente, litíase vesical, I-PSS > 20, insuficiência renal e infecções urinárias recorrentes tem-se indicação de intervenções cirúrgicas mais invasivas. A ressecção transuretral da próstata (RTUP) é a técnica padrão-ouro no tratamento cirúrgico de HPB deixando apenas a cápsula prostática, podendo ter como complicações Hiperplasia prostática benigna (HPB) – prof Tarso Nascimbem 4 hemorragia, disfunção erétil, estenose uretral, ejaculação retrógrada, entre outros. A síndrome da RTU é uma complicação grave em que ocorre intoxicação hídrica por absorção intravascular de líquido de irrigação hiposmolar, gerando insuficiência renal aguda, hiponatremia, hipercalemia, hemólise, convulsões e coma. A prostatectomia aberta é realizada com incisão infra- umbilical, sendo reservada para próstatas de maiores dimensões (acima de 80g), tendo melhores resultados a longo prazo nos parâmetros clínicos e no fluxo urinário. A adenomiectomia transvesical é feita por uma abertura no colo da bexiga, retirando toda a composição prostática utilizando os dedos, sendo indicada pra próstatas muito grandes – pode ser feita por laparoscopia ou cirurgia robótica. Diagnóstico diferencial: cistites infecciosas, cistite actínica, cálculo vesical, câncer de bexiga, hiperatividade vesical, prostatite, câncer de próstata, cálculo prostático, infarto prostático, estenose uretral, uretrites, divertículo uretral, cálculo uretral, dissinergia esfincteriana, entre outros. Ressecção transuretral da próstata (RTUP)
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