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BIBLIOLOGIA AULA 1 Prof. Roberto Rohregger 2 CONVERSA INICIAL Estudaremos nesta aula como a Bíblia foi chamada na Antiguidade e como ela está dividida, isto é, a sua estrutura no Antigo e Novo Testamento. Esses tópicos são importantes para a fundamentação introdutória do estudo aprofundado da Bíblia. TEMA 1 – CONCEITUALIZAÇÃO Bibliologia é um tema que abarca um grande campo de estudos sobre as Sagradas Escrituras. Esse assunto diligente proporcionará uma compreensão maior da Palavra de Deus. A palavra bibliologia é formada pela junção de duas palavras que têm origem no grego: biblion, que significa “livro”, e logos, que significa “palavra”, “raciocínio” ou “estudo”. Podemos afirmar dessa forma que bibliologia é o estudo do livro, isto é, sua formação e, assim, tem como objetivo o estudo da Bíblia, sua história e formação. Segundo Geisler e Nix (1997, p. 5): A Bíblia é um livro singular trata-se de um dos livros mais antigos do muno e, no entretanto, ainda é o best-seller mundial por excelência. É produto do mundo oriental antigo; moldou, porém, o mundo ocidental moderno. Tiranos houve que já queimaram a Bíblia, e os crentes a reverenciaram. É o livro mais traduzido, mais citado, mais publicado e que mais influência tem exercido em toda a história da humanidade. Podemos perceber a importância que a Bíblia exerce na história da humanidade, principalmente em decorrência de esta apresentar a revelação de Deus para o ser humano. A bibliologia, dessa forma, se debruça sobre esse livro com duas concepções formadas: primeiro, da importância desse livro para a história humana; segundo, da sua singularidade por conter a revelação Divina relatada em suas páginas. Mesmo antes de a imprensa ter feito o seu aparecimento no Ocidente no século xv, a difusão da Bíblia ultrapassava já de muito longe a de qualquer outra obra. O povo hebraico, do qual a Bíblia é originária, sempre manifestou um tal apego pelas suas tradições escritas que mereceu, de fato, ser chamado o Povo do Livro. (Rogerson, 1996, p. 14) O estudo da Bíblia parte da compreensão da inspiração do texto para desenvolver seus estudos com base na história, nos antigos manuscritos e no próprio desenvolvimento da ciência, que possibilitou o desenvolvimento da escrita e dos meios de preservação dos textos antigos até a modernidade com 3 seus amplos aspectos de registros. A importância do estudo do desenvolvimento da Bíblia, de sua formação e de sua história se dá pela sua própria razão de ser: A Bíblia é antiga, todavia é sempre nova. É o livro mais moderno do mundo atual. Há uma idéia errônea de que um livro antigo como a Bíblia não pode falar às necessidades do homem moderno. Os homens de algum modo, pensam que numa era de realizações científicas, na qual o conhecimento cresceu mais nos últimos 25 anos do que em todos os séculos anteriores, este livro se tornou antiquado. Mas para todos que lêem e amam a Bíblia, ela se aplica a nossa geração. É nas Escrituras Sagradas que achamos as respostas às perguntas fundamentais da vida: De onde vim? Por que estou aqui? Qual o propósito da minha existência? (Mears,1982, p. 5) Assim sendo, compreendendo a importância da Bíblia, a bibliologia pretende estudar história da formação da Bíblia, da sua inspiração, canonicidade, seus principais manuscritos e como a Bíblia é dividida, além da forma de revelação e a inspiração do Antigo Testamento e do Novo Testamento. TEMA 2 – OUTROS NOMES DA BÍBLIA O termo Bíblia não era conhecido como uma reunião de escritos sagrados na época em que esta foi escrita e tampouco por seus leitores posteriores. O termo Bíblia como referência ao conjunto dos escritos sagrados começa a ser usado mais comumente em torno do século II, como salienta Champlim (2001, p. 527): A palavra portuguesa Bíblia vem do grego, bíblia, que é o plural de bíblion, “livro”. Portanto significa “livros”. [...] A palavra Bíblia, mediante um desenvolvimento histórico divinamente dirigido, segundo cremos, veio a designar o Livro dos livros, as Escrituras Sagradas, compostas do Antigo e do Novo Testamentos, a principal fonte de ensinamentos religiosos e éticos de nossa civilização. Por volta do século II D. C., os cristãos gregos já chamavam suas Escrituras Sagradas de ta Bíblia, ou seja, “os livros”. Quando esse título foi então transferido para a versão latina, foi utilizado no singular dando entender que “o Livro” é a Bíblia. Dessa forma, percebemos que um dos termos com que a Bíblia foi chamada foi de O livro. 2.1 O Livro O termo O Livro consta nos próprios escritos, conforme podemos constatar nos escritos de Moisés: “Escreve isso para memória no livro.” (Ex, 17.14), em Deuteronômio 29:20: “O Senhor jamais se disporá a perdoá-lo; a sua ira e o seu zelo se acenderão contra tal pessoa. Todas as maldições escritas 4 neste livro cairão sobre ela, e o Senhor apagará o seu nome de debaixo do céu.” 1Conferir também Ex 24.7; Dt 26.8; Dt 29.21; comparar com Js 1.8: “Não se aparte da tua boca o livro desta lei, antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem-sucedido”. Também em 2 Rs 22.8: “Então disse o sumo sacerdote Hilquias ao escrivão Safã: ‘Achei o livro da lei na casa do Senhor’. E Hilquias deu o livro a Safã, e ele o leu”. Ainda em Is 29.18: “E naquele dia os surdos ouvirão as palavras do livro, e dentre a escuridão e dentre as trevas os olhos dos cegos as verão” e em Daniel 9.2. 2.2 Palavra do Senhor Podemos perceber em vários livros a referência à Bíblia como A Palavra do Senhor, ou Palavra de Deus (Dt 9.10; 1 Sm 3.1 e 2 Sm 3.21). 2.3 As Escrituras Diretamente denominada como “As escrituras ou o que está escrito”. Podemos ver este termo em Êx 32.16: “E aquelas tábuas eram obra de Deus; também a escritura era a mesma escritura de Deus, esculpida nas tábuas”. Daniel 10:21: “Mas eu te declararei o que está registrado na escritura da verdade; e ninguém há que me anime contra aqueles, senão Miguel, vosso príncipe”. 2.4 Lei ou Lei do Senhor Lei ou Lei do Senhor: essa forma de denominação representava no Antigo Testamento a Lei Mosaica, não se restringindo aos escritos de Moisés, isto é, o Pentateuco, mas constantemente referindo-se a todos os livros do Antigo Testamento da época. Por exemplo: Js 1.7-8 – menção direta da lei escrita dada a Josué como regra normativa a Israel. 2 Rs – A recomendação de Davi a Salomão, referente à leitura das Escrituras e Oseias 8:12: “Escrevi-lhe as grandezas da minha lei, porém essas são estimadas como coisa estranha”. Seria interessante consultar também: 2 Cr 34.14. Ne 8.3, 4, 18. Is 5.7; 8.20; Jr 8.7-9; Ez 7.26; 18.29; Lc 2.9 e Mc 2.5-8. 1 Todas as citações bíblicas são da Nova Versão Internacional (NVI), a não ser quando expecificado outra versão no texto. 5 2.5 Como a Bíblia se intitula no Novo Testamento 2.5.1 Sagradas letras Trata-se de uma referência que indica que a Bíblia no seu formato escrito é considerada sagrado. 2.5.2 Escritura ou As escrituras Essa forma como é denominada a Bíblia aparece 51 vezes no Novo Testamento, normalmente quando o autor estava se referindo aos livros do Antigo Testamento. Observe em: Mt 21.42, citando Is 28.16; Marcos 15:28: “E cumprindo-se a escritura que diz: E com os malfeitores foi contado” citando Isaías 53:12: “Por isso lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores.”; João 5:39: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam”; e At 8.32: “Eo lugar da Escritura que lia era este: Foi levado como a ovelha para o matadouro; e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, Assim não abriu a sua boca.” citando Is 53.7, veja também At 17.11; 18.24; Rm 1.2; 15.4; 1 Co 15.3-4; Tg 2.23; 1 Pe 2:6; 2 Pe 1.20 e 3.16. 2.5.3 Os oráculos de Deus Este modo de se referir às Escrituras consta cinco vezes no Novo Testamento, em Rm 3.2 “Muita, em todo sentido; primeiramente, porque lhe foram confiados os oráculos de Deus.” (Bíblia Almeida Atualizada). Também em Romanos 3:2; Hebreus 5.12; 12.25 e 1 Pe 4.18 A tradução desta palavra do grego significa comunicação ou declaração divina. 2.5.4 A palavra de Deus ou A palavra de Cristo A expressão A palavra de Deus ou A palavra de Cristo também consta no NT, com a forma e o mesmo peso de autoridade, observe: Mt 15.6; Mc 7.9; At 6.7; 12.24; Rm 10.17; Ef 6.17; Cl 3.16 e Hb 11.3. 6 2.5.5 A lei ou A lei e os profetas A expressão A lei ou A lei e os profetas é uma referência ao material do Antigo Testamento: Mt 7.12; 5.17-19 e Lc 23.44. Pode-se verificar claramente que os autores, e a comunidade a quem esses materiais foram destinados consideravam a Bíblia, identificada por vários nomes, como elaborada por escritores inspirados e, portanto, com autoridade divina. Assim claramente entendia-se como material de origem sagrada. TEMA 3 – A ESTRUTURA DA BÍBLIA 3.1 Divisão da Bíblia A Bíblia Católica considera 73 livros que compõem a Bíblia, sendo 46 do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento. Porém a Bíblia Protestante ou a Evangélica consideram 66 livros, sendo Antigo Testamento – 39 livros, e Novo Testamento – 27 livros. Toda essa quantidade de escritos ocorreu em um período de 1500 anos, com cerca de 40 autores, das mais variadas regiões, profissões e atividades, os quais viveram e escreveram em locais distantes uns dos outros, em contextos culturais, históricos e condições diversas, porém percebe-se que seus escritos formam uma harmonia perfeita. Podemos trazer alguns exemplos: Dois dos escritores eram reis (Davi e Salomão); Outros dois eram sacerdotes (Jeremias e Ezequiel); Dois era pastores (Moisés e Amós), Neemias (mordomo). Daniel era político; outro, um soldado, Josué. Esdras era escriba; Lucas era médico, dois eram pescadores (Pedro e João). Paulo era fariseu, Mateus era cobrador de impostos. Essa diversidade de escritores, nos mais diversos contextos, demonstra que havia apenas um que direcionava o registro da revelação divina: Deus TEMA 4 – O ANTIGO TESTAMENTO O material que forma o Antigo Testamento pode ser separado em três blocos ou divisões: 7 4.1 A Lei (Torá) Também chamada de Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Segundo Hoff (1983, p. 15): O nome Pentateuco vem da Versão grega que remonta ao século III antes de Cristo. Significa: “o livro em cinco volumes”. Os judeus lhe chamavam “A lei” ou a “Lei de Moisés”, porque a legislação de Moisés constitui parte importante do Pentateuco. 4.2 Os Profetas Subdivididos em profetas maiores e profetas menores. Essa denominação se justifica pelo volume de seus escritos: 4.2.1 Profetas maiores Isaías; Jeremias e Lamentações; Ezequiel; Daniel. 4.2.2 Profetas menores Oseias; Joel; Amós; Obadias (ou Abdias); Jonas; Miqueias; Naum; Habacuque (ou Habacuc); Sofonias; Ageu; Zacarias; Malaquias. 8 4.3 Os Escritos Salmos, Jó, Provérbios, Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras-Neemias, Crônicas Totalizam somadas estas três divisões 24 livros, na forma hebraica, uma vez que estes consideram como um único livro aqueles que nas Bíblias cristãs encontram-se separados, isto é, os profetas, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e Crônicas e Esdras – Neemias. TEMA 5 – O NOVO TESTAMENTO É de entendimento geral que no Novo Testamento ficou registrada a palavra final de Deus que se manifestou por meio do Seu Filho, “em que tudo se consumou” (Hebreus 1.1), isto é, no conjunto de livros do Novo Testamento, encerra-se a revelação Divina. O Novo Testamento é composto de 27 Livros, escrito originalmente no idioma grego; não no grego clássico erudito, mas na forma que o povo comum usava, chamado grego Koiné. Seus 27 Livros estão classificados em quatro grupos, conforme o assunto a que pertencem: 5.1 Biográficos Sendo composto pelos 4 Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. No seu conteúdo, encontramos a descrição de Jesus, sua vida terrena e seu Ministério. 5.2 Históricos Composto de um 1 livro: Atos dos Apóstolos, em que encontramos o registro da história da formação da Igreja primitiva, sua forma de estruturar-se de viver, e o início da propagação do Evangelho; 5.3 Epístolas Nesse grupo computam-se 21 Livros – De Romanos a Judas. Neles encontramos a elaboração da doutrina e a formação da teologia da Igreja. Deste grupo, 9 são dirigidas às Igrejas (de Romanos a 2 Tessalonicenses); 4 são dirigidas a indivíduos (de 1 Timóteo a Filemon); 1 é dirigida aos hebreus cristãos; 9 7 são dirigidas a todos os cristãos, indistintamente (de Tiago a Judas), e um Profético, Apocalipse ou Revelação. Abaixo uma divisão mais sistematizada dos livros do Novo Testamento: 5.4 Evangelhos Mateus; Marcos; Lucas; João. 5.5 Histórico Atos dos Apóstolos 5.6 Epístolas Essa categoria divide-se em Epístolas Paulinas, cartas cuja autoria se atribui a Paulo e Epistolas Gerais, por diversos autores, que tinham uma caráter mais pastoral e dirigiam-se a várias igrejas: 5.6.1 Epístolas Paulinas Romanos; 1 Coríntios; 2 Coríntios; Gálatas; Efésios; Filipenses; Colossenses; 1 Tessalonicenses; 2 Tessalonicenses; 1 Timóteo; 2 Timóteo; Tito; Filemom. 10 5.6.2 Epístolas gerais Hebreus; Tiago; 1 Pedro; 2 Pedro; 1 João; 2 João; 3 João; Judas. 5.7 Profético Apocalipse NA PRÁTICA Podemos perceber que várias pessoas são influenciadas por obras literárias e cinematográficas que usam da ficção com relação à formação e ao conteúdo histórico das Escrituras e de especulações para alimentar a trama e o enredo em filmes e livros, e que infelizmente acabam fazendo com que muitas pessoas, inclusive cristãos, tenham um visão incorreta da forma como a Bíblia foi escrita e chegou até nós. Como podemos refutar na prática aqueles que se baseiam nessas obras e outras que afirmam ser a Bíblia um livro simplesmente humano ou que foi manipulado no decorrer da história? Um primeiro e importante passo é demonstrando, de forma clara, como a Bíblia se formou no decorrer da história, pois há inúmeras pesquisas sérias que apontam para a fidelidade dos escritos bíblicos, sendo o mesmo texto do momento em que foi escrito até os dias de hoje. FINALIZANDO Nesta aula pudemos apresentar elementos da Bibliologia, a sua forma e importância para o estudo das Escrituras e sua formação. Pudemos aprender ainda como a Bíblia foi denominada em vários momentos da história e a importância que todos davam para esses escritos. Compreendemos também 11 como as Escrituras se dividem tanto no conjunto de livros do Antigo Testamento quanto no Novo Testamento com suas particularidades. 12 REFERÊNCIAS CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia: teologia e filosofia. 5. ed. São Paulo: Hagnos, 2001. GEISLER, N.; NIX, W. Introdução bíblica – Como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Vida, 1997. HOFF, P. O Pentateuco. São Paulo: Vida, 1983. MEARS, H. C. Estudo panorâmico da Bíblia. São Paulo: Vida, 1982. ROGERSON, J. A Bíblia – terra, história e cultura dos textos sagrados, v. 1. São Paulo: Del Prado, 1996.
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