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MEDICINA DE MAMÍFEROS SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 3 2. MEDICINA DE MAMÍFEROS ................................................................................ 5 2.1 Modernidade ....................................................................................................................... 7 2.2 Farmacopeia Zoológica ................................................................................................... 8 REFERENCIAS ......................................................................................................... 22 1. INTRODUÇÃO A medicina veterinária (do latim mederi, "saber o melhor caminho, curar, tratar"; e veterinarius, " sendo “veterinário” de origem no latim. Na antiga Roma, os animais usados no exército que ficavam muito velhos eram recolhidos para um local onde pudessem aproveitar e descansar. As pessoas que cuidavam destes animais eram chamadas de Veterinarii, que era um derivado da palavra vetus, “velho, idoso”. Por conta disso a profissão de cuidar de animais passou a ser chamada deste jeito. É uma das muitas áreas do conhecimento ligada à manutenção e restauração da saúde. Ela trabalha, num sentido amplo, com a prevenção e cura das doenças das demais espécies (domésticas e silvestres) e dos humanos num contexto médico. Sendo a área de atuação do profissional de saúde animal/pública formado em uma Faculdade de Medicina Veterinária.A medicina veterinária é a ciência médica que se dedicaà prevenção, controle, erradicação e tratamento das doenças, traumatismos ou qualquer outro agravo à saúde dos animais. Além do controle da sanidade dos produtos e subprodutos de origem animal para o consumo humano. Busca também assegurar a qualidade, quantidade e a segurança dos estoques de alimentos de origem animal através do controle da saúde dos animais e dos processos que visam obter seus produtos. O veterinário, também chamado popularmente de doutor, é um médico especialista em medicina veterinária e em cirurgia dos animais autorizado pelo Estado para praticar a Medicina Veterinária, o veterinário exerce uma profissão protegida por um diploma, o diploma Estadual de doutor veterinário. Ocupando-se da saúde animal, prevenindo, diagnosticando e curando as doenças, o que requer conhecimento detalhado de disciplinas acadêmicas (como anatomia e fisiologia) por detrás das doenças e do tratamento - a ciência da medicina - e também competência na sua prática aplicada - a arte da medicina. Tanto o papel do médico e o significado da palavra variam significativamente ao redor do mundo, mas como compreensão geral, a ética médica requer que médicos demonstrem consideração, compaixão e benevolência perante os seus pacientes animais. https://pt.wikipedia.org/wiki/Latim https://pt.wikipedia.org/wiki/Sa%C3%BAde https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia https://pt.wikipedia.org/wiki/Preven%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Controle https://pt.wikipedia.org/wiki/Erradica%C3%A7%C3%A3o_de_doen%C3%A7as_infecciosas https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratamento https://pt.wikipedia.org/wiki/Doen%C3%A7a https://pt.wikipedia.org/wiki/Traumatismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Sa%C3%BAde https://pt.wikipedia.org/wiki/Animalia https://pt.wikipedia.org/wiki/Sanidade https://pt.wikipedia.org/wiki/Estoque https://pt.wikipedia.org/wiki/Doutor https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9dico https://pt.wikipedia.org/wiki/Cirurgia https://pt.wikipedia.org/wiki/Animais https://pt.wikipedia.org/wiki/Doutor https://pt.wikipedia.org/wiki/Diagn%C3%B3stico https://pt.wikipedia.org/wiki/Anatomia https://pt.wikipedia.org/wiki/Fisiologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica_m%C3%A9dica https://pt.wikipedia.org/wiki/Benevol%C3%AAncia Figura 1 Figura 2 2. MEDICINA DE MAMÍFEROS A medicina de mamíferos é a "arte da cura de animais". No entanto este ramo da medicina encontra-se em constante dinamismo, tanto em termos de investigação e avanço científico como em termos de controle e erradicação de doenças. O conceito de medicina tradicional refere-se a práticas, abordagens e conhecimentos, --- incorporando conceitos materiais e espirituais ---, técnicas manuais e exercícios, aplicados individualmente ou combinados, a indivíduos ou a coletividades, de maneira a tratar, diagnosticar e prevenir doenças, ou visando a manter o bem-estar. A atual prática da medicina utiliza em seu favor conhecimentos obtidos por diversas ciências, por exemplo, biologia, química, física, microbiologia, epidemiologia, anatomia, fisiologia etc. Trata-se, na verdade, de várias ligações das ciências relacionadas à saúde. Em um conceito restrito, a Medicina Veterinária busca a saúde animal pública e humana por meio de estudos, diagnósticos e tratamentos, e no conceito mais amplo, aliviar o sofrimento e manter o bem-estar global. De modo geral, a Medicina Veterinária engloba os campos de Clínica Médico-Veterinária, Cirurgia, Ginecologia e obstetrícia e Saúde pública. Com a chegada da família real ao Brasil, em 1808, a cultura científica e literária brasileira recebeu novo alento, pois até então não havia bibliotecas, imprensa e ensino superior no Brasil Colônia. São fundadas, inicialmente, as Faculdades de Medicina (1815), Direito (1827) e a de Engenharia Politécnica (1874). Quanto ao ensino das Ciências Agrárias, seu interesse só foi despertado quando o Imperador D. Pedro II, ao viajar para França, em 1875, visitou a Escola de Medicina Veterinária de Alfort, impressionou-se com uma Conferência ministrada pelo Médico Veterinário e Fisiologista Dr. Collin. Ao regressar ao Brasil, tentou propiciar condições para a criação de entidade semelhante no País. Entretanto, somente no início do século XX, já sob regime republicano, autoridades brasileiras decretaram a criação das duas primeiras instituições de ensino de Medicina Veterinária no Brasil, a Escola de Medicina Veterinária do Exército, pelo Dec. nº 2.232, de 6 de janeiro de 1910 (aberta em 17 de julho de 1914), e a Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, através do Dec. nº 8.919 de 20 de https://pt.wikipedia.org/wiki/Biologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Qu%C3%ADmica https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%ADsica https://pt.wikipedia.org/wiki/Microbiologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Epidemiologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Anatomia https://pt.wikipedia.org/wiki/Fisiologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Cirurgia https://pt.wikipedia.org/wiki/Ginecologia_e_obstetr%C3%ADcia https://pt.wikipedia.org/wiki/Ginecologia_e_obstetr%C3%ADcia https://pt.wikipedia.org/wiki/Sa%C3%BAde_p%C3%BAblica https://pt.wikipedia.org/wiki/Fam%C3%ADlia_real https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil_Col%C3%B4nia https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Faculdades_de_Medicina_do_Brasil&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Faculdades_de_Medicina_do_Brasil&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito https://pt.wikipedia.org/wiki/Engenharia https://pt.wikipedia.org/wiki/Polit%C3%A9cnico https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncias_agr%C3%A1rias https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_II_do_Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_II_do_Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7a https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfortville https://pt.wikipedia.org/wiki/Fisiologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_Federal_Rural_do_Rio_de_Janeiro https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_Federal_Rural_do_Rio_de_Janeiro outubro de 1910 (aberta em 4 de setembro de 1913), ambas na cidade do Rio de Janeiro. Em 1911, em Olinda, Pernambuco, a Congregação Beneditina Brasileira do Mosteiro de São Bento,através do Abade D. Pedro Roeser, sugere a criação de uma instituição destinada ao ensino das ciências agrárias, ou seja, Agronomia e Veterinária. As escolas teriam como padrão de ensino as clássicas escolas agrícolas da Alemanha, as "LandwirschafHochschule". No dia 1º de julho de 1914, eram inaugurados os curso de Agronomia e Medicina Veterinária nesta instituição. Todavia, por ocasião da realização da terceira sessão da Congregação, em 15 de dezembro de 1913, ou seja antes da abertura oficial do curso de Medicina Veterinária, um Farmacêutico formado pela Faculdade de Medicina e Farmácia da Bahia solicitava matrícula no curso de Medicina Veterinária, na condição de "portador de outro diploma do curso superior". A Congregação, acatando a solicitação do postulante, além de aceitar dispensa das matérias já cursadas indica um professor particular, para lhe transmitir os conhecimentos necessários para a obtenção do diploma antes dos (quatro) anos regimentares. Assim, no dia 13 de novembro de 1915, durante a 24ª sessão da congregação, recebia o grau de Médico Veterinário o senhor Dr. DionysioMeilli, primeiro Médico Veterinário formado e diplomado no Brasil. Desde o início de suas atividades até o ano de 1925, foram diplomados 24 médicos veterinários. Em 29 de janeiro, após treze anos de funcionamento, a Escola foi fechada por ordem do Abade D. Pedro Roeser. https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Janeiro_(cidade) https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Janeiro_(cidade) https://pt.wikipedia.org/wiki/Olinda,_Pernambuco https://pt.wikipedia.org/wiki/Agronomia https://pt.wikipedia.org/wiki/Medicina_Veterin%C3%A1ria https://pt.wikipedia.org/wiki/Alemanha https://pt.wikipedia.org/wiki/Faculdade https://pt.wikipedia.org/wiki/Medicina https://pt.wikipedia.org/wiki/Farm%C3%A1cia https://pt.wikipedia.org/wiki/Bahia https://pt.wikipedia.org/wiki/Diploma Figura 3 No Brasil, os primeiros trabalhos científicos abrangendo a patologia comparada (animal e humana) foram realizados pelo Capitão-Médico João Moniz Barreto de Aragão (fundador da Escola de Medicina Veterinária do Exército), em 1917, no Rio de Janeiro, e cognominado Patrono da Medicina Veterinária Militar Brasileira, cuja comemoração se dá no dia 17 de junho, data oficial de inauguração da Escola de Medicina Veterinária do Exército (17 de junho de 1914). Figura 4 2.1 Modernidade Recentemente a aplicação da medicina veterinária tem se expandido por causa da disponibilidade de técnicas avançadas de diagnóstico e de terapia para a maioria https://pt.wikipedia.org/wiki/Animalia https://pt.wikipedia.org/wiki/Humana https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Janeiro_(estado) https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Janeiro_(estado) https://pt.wikipedia.org/wiki/Cognominado das espécies animais, bem como pelos avanços científicos em outras áreas, como a genética, a biotecnologia, a fisiologia, que proporcionam melhoramentos nos sistemas de produção animal. Em 1946, a Organização Mundial de Saúde (OMS), reconhecendo a necessidade de se conciliar, definitivamente, os inseparáveis preceitos da saúde humana com a saúde dos animais, recomendou que se criasse a uma seção de saúde veterinária, que foi estabelecida no ano de 1949; assim define a OMS, em 1951, a Saúde Pública Veterinária: 2.2 Farmacopeia Zoológica Luís Gomes Ferreira, cirurgião aprovado, como tantos outros reinóis, veio para o Brasil na fase do rush do ouro de Minas. Seguindo a mesma tipicidade da itinerância dos primeiros colonizadores, habitou primeiro na Bahia, onde aportou em 1707. No ano de 1711 decide se estabelecer em Sabará. Até 1932, ano de seu retorno para Portugal, residiu em Ribeirão Abaixo (distrito de São Caetano), Vila de Nossa Senhora do Carmo, arraial do Padre Faria, situado na então promissora Vila Rica. Voltou mais rico do que chegara em virtude de sua tripla atividade econômica: lavra aurífera, roça e ofício de cirurgião. A eterna e inglória batalha da vida contra a morte acompanhou sua trajetória ao longo dos anos que residiu nestas paragens. Sofreu em seu próprio corpo doenças "A Saúde Pública Veterinária compreende todos os esforços da comunidade que influenciam e são influenciados pela arte e ciência médico-veterinária, aplicados à prevenção da doença, proteção da vida e promoção do bem-estar e eficiência do ser humano" (Organização Mundial da Saúde, 1951). Em 1955, foram estabelecidas as seguintes atividades para esta área: o controle e erradicação de zoonoses; a higiene dos alimentos; os trabalhos de laboratório; os trabalhos em biologia e as atividades experimentais. https://pt.wikipedia.org/wiki/Gen%C3%A9tica https://pt.wikipedia.org/wiki/Biotecnologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Fisiologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_Mundial_de_Sa%C3%BAde https://pt.wikipedia.org/wiki/OMS https://pt.wikipedia.org/wiki/Sa%C3%BAde_p%C3%BAblica que combateu em outrem (surdez, erisipela, corrupção- do-bicho, oftalmia, sarna, calo e chaga na garganta) das quais se curou experimentando em si remédios que inventou e passou adiante. Ferreira encontrou muito mais que ouro em Minas Gerais. Deparou-se com uma realidade "aonde não chegam médicos, nem ainda cirurgiões que professam a cirurgia, por cuja causa padecem os povos grandes necessidades". Em outras palavras, uma região ainda inóspita, violenta, insalubre, isolada do litoral, com crescente densidade populacional, carente de médicos e cirurgiões autorizados, onde o tratamento e cura das enfermidades dependiam do conhecimento das propriedades mágico-terapêuticas dos elementos extraídos da fauna, flora, minerais, do corpo humano e de alguns elementos químicos já conhecidos. Figura 5 Saber que cada vez mais se amalgamava com as tradições indígena, africana, européia e árabe; popular e erudita. Ferreira é claro acerca deste trânsito entre saberes medicinais: "Este modo de cura inventaram os carijós do mato, e deles passou aos paulistas e destes a nós”, formando o que se conceitua como "circularidade dos níveis culturais". Saber onde os limites entre magia, religião, sexualidade, medicina e cirurgia eram quase imperceptíveis. Tudo isso, num ambiente cultural marcado pela sincera crença na influência de poderes sobrenaturais - malignos e benignos - sobre o bem-estar individual e coletivo. Júnia Furtado considera Ferreira o fundador de uma "Medicina tropical". Afirmativa válida, pois se preocupou em combater as doenças típicas dos trópicos recorrendo a elementos desta mesma região do globo, além de sistematizar este saber em sua obra, orientado pela experiência, espírito crítico e a tentativa de se afastar do curandeirismo. É certamente por estas características, que o Erário adquiriu relativa popularidade na América portuguesa setecentista. Preocupado adaptar seus conhecimentos à nova realidade ecológica com a qual se deparou, Ferreira enfatizou a ineficácia dos elementos e receitas válidas para a Europa que perdiam muito de suas propriedades terapêuticas no longo trajeto atlântico e no tempo de anos que ficavam acondicionadas nas boticas do litoral ou mesmo do interior. Além disso, mostra-se muito preocupado com os pobres que punham a perder seus poucos cabedais com receitas caras, médicos, cirurgiões e barbeiros inexperientes. Neste novo clima e ambiente, segundo ele, era indispensável empregar os próprios recursos que a natureza oferecia ali, fresco, ao alcance das mãos, com maior força, vigor e, principalmente, mais baratos e de fácil manipulação. Exemplifiquemos com os casos das originais receitas onde emprega o Bugio e a Abelha Jataí, deixando explícita a preocupação do autor em não pairar dúvidas acerca dos animais a serem usados: Nestas Minas há uns macacos a que chamam barbados,outros lhe chamam bugios, e são uns que tem papo e são preto pelo corpo, e pelo fio do lombo tem o seu cabelo a modo de ruivo e são conhecidos pelo nome de barbados, e pelo papo, de muita gente. Para suprir esta carência de seguras e experimentadas formas de tratamento das mais diversas doenças e adversidades foi que Luís Gomes Ferreira escreveu o Erário Mineral. Sua obra obteve relativo sucesso em Minas, onde era revendida pelo livreiro Jerônimo Roiz Airão. Manuel Ribeiro dos Santos - o exigente livreiro de Vila Rica, na carta de 4 de julho de 1750 endereçada a Luís Salgado dos Santos em Lisboa, assim pede: "2 tom. De Medicina Irario Mineral autor Luiz Gomes Ferr.a q'. morou nesta v.a e curou o Nevez". Em outra carta dirigida a Manuel Carvalho Silva, solicita "1 Tom. De Medicina Irario Mineral, autor Luiz Gomes Fer.a q'. morou nestas Minnas e curou por Sirurgianellas". Em sua pesquisa, Araújo o encontrou em diversos inventários de moradores de Sabará e também no inventário do baiano Antônio da Costa em1748. Na polêmica pública travada com outro cirurgião em Sabará no ano de 1711, sobre a melhor forma de tratar a fratura de fêmur do escravo de Manuel Gonçalves Loures, assim afirmou: "disse eu que éramos obrigados a curar as doenças conforme a região e o clima, aonde nos achássemos, a razão nos ditasse e a experiência nos ensinasse; porque os autores, quando escreveram, estavam em outras terras mui remotas, e de diferente clima, e não tinham notícia deste". O clima, assim como os humores produzidos "por razão dos mantimentos e habitação em que assistem e se exercitam, assim os pretos como os brancos" são os responsáveis pelos males. Ou seja, o clima de Minas, por ser "totalmente diferente de todos os mais", exigia a revisão de receitas e postulados tradicionais, assim como a inclusão de elementos da fauna e flora locais. Antidogmático por excelência, mas sem preterir do devido apoio das autoridades como Hipócrates, Galeno, Para celso e Curvo Semedo e outros, Ferreira preconizou a inclusão de "ervas, raízes, coisas minerais e de animais que há pelas partes do Brasil e seus sertões, que não deixariam de agradar aos leitores e servirem de muito préstimo à saúde pública". Nova região, novo clima, novas condições de vida e trabalho e novas doenças necessitam, portanto, de novos remédios, muitos dos quais ele mesmo inventou. Para muitos, como veremos a seguir, os animais eram componentes essenciais. Ao longo de sua obra, Ferreira apresentou grande diversidade de receitas nas quais, partes ou animais silvestres inteiros encontrados em Minas Gerias, entram como ingredientes principais ou exercem papéis complementares. É preciso frisar listamos todos as enfermidades para as quais o autor fez uso dos animais e/ou seus órgãos, tecidos e produtos e não todas as receitas, pois em algumas variam apenas os elementos complementares. A referência genérica de Ferreira ao lobo, veado, cágado, aves do monte, jacaré, não impediu sua inclusão na Tabela haja vista sua ocorrência em Minas. Acreditamos que cágado seja uma alusão à tartaruga; lobo pode tratar-se do lobo- guará (Crysocionbrachyurus), o veado de manchas brancas, o veado catingueiro (Mazamagouazoubira) e assim por diante. Esta inferência é legítima devido à sua explícita preocupação em recorrer à realidade que o cercava, permanecendo assim, fiéis a nosso corte espacial e às intenções do cirurgião. Para melhor organização do texto, os animais utilizados, a indicação e o receituário serão apresentados na Tabela 1. A Tabela 2 e Gráfico 1 sintetizam e quantificam os percentuais por classes dos 27 animais empregados em sua farmacopeia zoológica. A Tabela 3 sintetiza a relação doença/animais. Figura 6 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752008000100013#t01 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752008000100013#t02 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752008000100013#g01 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752008000100013#t03 Dentre os animais empregados no Erário Mineral, destacaram-se os mamíferos (25%); são eles: veado, lebre, rato, macaco, morcego, lobo e lontra. Não estaríamos muito distanciados da verdade se afirmássemos que esta preferência pode ser explicada pela existência de "algumas", características fisiológicas mais próximas às do homem, também mamífero, quando comparado às outras classes de animais: lactação e pêlos, por exemplo. No caso do macaco, esta semelhança é ainda mais evidente. É também aos mamíferos que se recorreu para o combate ao maior número de doenças (cf. Tabela 3). Embora tenha havido esta preponderância, não observamos nenhuma especialização, pois as doenças por eles combatidas se repetem nas outras classes de animais. A própria obra de Luís Gomes Ferreira, que não é apenas um apanhado de receituários, mas um relato de sua vasta experiência demonstra, através de casos concretos, o efetivo emprego destes elementos de origem animal no cotidiano cuidado da saúde dos habitantes na Minas setecentista. Seria grave equívoco supor que o recurso a elementos hoje considerados "bizarros" seja fruto de barbárie e ignorância. Para o homem do século XVIII não havia nada de "exótico" nestes medicamentos, além de serem os únicos recursos possíveis à maioria da gente pobre. Ademais, Ferreira assegura que "inimigos fortes não se vencem com armas fracas". Antropologicamente, o sentimento que explica seu emprego para manter ou recobrar da saúde é fruto do desejo humano de adiar a morte. No século XVIII, saber médico e religião caminhavam juntos para amenizar o sofrimento e fornecer a esperança de cura/graça. O uso de medicamentos era acompanhado de orações, promessas, simpatias e feitiços. Alcançada a cura/graça, o fiel materializava seu agradecimento nos ex-votos. Não obstante, no embate pela definição de campos de competência, Igreja e medicina formavam um único exército na cruzada contra feiticeiros, curandeiros e parteiras - combate nem sempre glorioso. Somente na segunda metade do século XVIII, com a reforma da Universidade de Coimbra em 1772, que a arte médica portuguesa passou por mudanças mais Ao se levar em conta as características da arte médica do período que ora analisamos, Carneiro lembrou com pertinência que "(...) os metais, as plantas, os animais e as pedras foram criados para satisfazer as necessidades do homem (...). Entre os serviços prestados pela natureza ao homem está o de fornecer as substâncias que combatem os venenos, a podridão e a pestilência". Ou seja, além de outras finalidades, Deus formou-os também para uso medicinal. https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752008000100013#t03 profundas. A partir de então, "Recomendações de exorcismos passam a não ser mais encontradas nos livros de medicina". O mesmo ocorreu, paulatinamente, com os produtos de origem animal e humana. Quanto à crença no maravilhoso, esta sofreu muitas metamorfoses, mas permanece renitente no imaginário social com diferentes intensidades. Sua posição erétil associada ao uso da razão, à ilimitada capacidade de criar e aperfeiçoar instrumentos e ao domínio do fogo (que o próprio Ferreira ensina a fazer à maneira dos indígenas) determinaram a eficácia de sua ação, sobrevivência e domínio do meio. Para isso, derrubou e queimou a mata, caçou os animais dos quais se alimentou e vestiu, domesticou alguns, eliminou aqueles que o ameaçavam e lhe causavam prejuízos na plantação e rebanho e produziu remédios feitos a partir destes mesmos animais que caçou. Figura 7 O avanço do desmatamento da floresta nativa colocava o homem em contato com a fauna silvestre ao adentrar seu habitat, e com isso,a expulsão e extinção de diversos espécimes por diferentes motivos como acabamos de demonstrar. Doente - seja branco, negro, índio ou mestiço; escravo, forro ou livre; rico ou pobre; clérigo ou leigo; homem, mulher e criança - para manter e recobrar a saúde, o homem recorreu tanto ao poder do maravilhoso quanto à força preventiva e curativa de elementos naturais, dentre eles, os de origem animal. Esta luta pela conservação da saúde e sobrevivência nos três séculos de ocupação de Minas Gerais também pode ser considerada como um dos fatores que colaboraram para a extinção de várias espécies e a ameaça a outras. É importante lembrar que a comarca de Vila Rica possuía, sozinha, em meados de 1720, cerca de 100 mil pessoas "dobro da população da Bahia, sede do Vice-Reinado, triplo da do Rio de Janeiro e quádruplo da de São Paulo". A população total de Minas foi estimada em aproximadamente 320 mil em 1770, chegando a 514.108 em 1812. Muitas vezes a esperança da vida destes milhares e milhares de pessoas esteve condicionada à morte de diversos exemplares da fauna silvestre que empregaram em suas receitas médicas. À medida que o homem se civilizou foi abandonando o hábito e concepção cultural, bíblica inclusive, que o colocava acima e senhor das outras espécies, tendo o direito delas se servir para alimento, vestuário ou remédio e, paulatinamente, se concebendo como apenas mais um ser vivo, não onipotente, preocupado com o desenvolvimento sustentável e a preservação das outras espécies. É inevitável a referência à obra de Norbert Elias, O Processo Civilizador. O autor sustenta que: "as pessoas, no curso do processo civilizatório, procuram suprimir em si mesmas todas as características que julgam animais’”. Uma destas características é, sem dúvida, o ato predatório, não importa qual seja o objetivo. Figura 8 REFERENCIAS ARAÚJO, José de Souza. Perfil do leitor colonial. Salvador: UFBA/Ilhéus: UESC, 1999, p.125. Biografia completa e detalhada de Luís Gomes Ferreira pode ser encontrada nos estudos críticos redigidos por Júnia F. Furtado, Eliane S. Muzzi, Maria Odila L. Silva Dias, Maria Cristina C. Wissembach e Ronaldo S. Coelho, redigidos para a edição patrocinada pelas Fundações João Pinheiro e Fundação Oswaldo Cruz. Ver: FERREIRA, Luís Gomes. Erário Mineral. Organização Junia Ferreira Furtado. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro/Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2002. (Coleção Mineiriana). Cf. BARNES, Robert D. Zoologia dos invertebrados. Trad. Jesus E. de Paula Assis et all. São Paulo: Livraria Roca, 1990. Cf. HOLANDA, Sérgio Buarque de Holanda. Visão do Paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. 2a.ed. São Paulo: Companhia. Editora Nacional/Edusp, 1969. Dressel, Tainá De Sena (2015). A medicina veterinária na história da humanidade: a ciência dos animais na base das civilizações.. Consultado em 5 de novembro de 2020. FERREIRA, Luís Gomes. Erário Mineral, Prólogo, v.1, p.84. FERREIRA, Luís Gomes. Erário Mineral, v. 2, p.657. FURTADO, Júnia Ferreira. Arte e segredo: o licenciado Luís Gomes Ferreira e seu caleidoscópio de imagens. In: FERREIRA, Luís Gomes. Erário Mineral, v.1, p.26. MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: Epu/Edusp, 1974. Mendoza, Blanca Irais Uribe (2015). «La invención de losanimales: una história de laveterinaria mexicana, siglo XIX». História, Ciências, Saúde-Manguinhos (em espanhol). 22 (4): 1391–1409. ISSN 1678-4758. doi:10.1590/S0104- 59702015000400010. Consultado em 26 de março de 2017 ZANZINI, Antônio Carlos da Silva. Fauna silvestre. Lavras: UFLA/FAEPE, 2000, p.1. https://www.publicacoeseventos.unijui.edu.br/index.php/salaoconhecimento/article/view/4904 https://www.publicacoeseventos.unijui.edu.br/index.php/salaoconhecimento/article/view/4904 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702015000401391&lng=es&nrm=iso&tlng=en http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702015000401391&lng=es&nrm=iso&tlng=en https://pt.wikipedia.org/wiki/International_Standard_Serial_Number https://www.worldcat.org/issn/1678-4758 https://pt.wikipedia.org/wiki/Digital_object_identifier https://dx.doi.org/10.1590%2FS0104-59702015000400010 https://dx.doi.org/10.1590%2FS0104-59702015000400010
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