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1 José Ronaldo de Castro Souza Júnior Diretor da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) ronaldo.souza@ipea.gov.br Paulo Mansur Levy Técnico de Planejamento e Pesquisa da Dimac paulo.levy@ipea.gov.br Marco Antônio F. de H. Cavalcanti Diretor adjuto da Dimac marco.cavalcanti@ipea.gov.br SEÇÃO X Visão Geral da Conjuntura NÚMERO 36 — 3 ˚ TRIMESTRE DE 2017 Sumário Após a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2017 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no início de setembro – que apontou um crescimento de 0,2% na comparação dessa- zonalizada com o trimestre anterior e de 0,3% ante o segundo trimestre de 2016, a primeira variação interanual positiva depois de 12 trimestres – teve lugar um processo de revisão ampla das projeções de crescimento para este ano e o próximo. Na véspera da divulgação, as medianas das projeções de mercado (captadas pelo Boletim Focus do Banco Central do Brasil – BCB) indicavam crescimento de 0,4% em 2017 e 2,0% em 2018. Passadas três se- manas, essas projeções passaram a 0,68% e 2,3%, respectivamente, refletin- do tanto o próprio resultado divulgado quanto a mudança de percepção em relação às possíveis consequências do aumento recente da incerteza política, que vem se mostrando menos deletério, do ponto de vista econômico, do que as avaliações iniciais indicavam. O Grupo de Conjuntura do Ipea tam- bém reviu suas projeções condicionais a um cenário de relativa estabilidade macroeconômica, a ser detalhado nesta seção da Carta de Conjuntura. Para 2017, o Grupo projeta um crescimento de 0,7%, em linha com as previsões de mercado; para 2018, espera-se que o crescimento aumente para 2,6%, mais que a mediana das projeções do mercado. Inicialmente, esta seção apresenta uma resenha da conjuntura econômica brasileira, que serviu de base para a elaboração do cenário para o período de 2017/2018; em seguida, são discutidas as projeções macroeconômicas. 1 Reversão Cíclica O resultado do PIB do segundo trimestre veio melhor que as expectativas do mercado às vésperas da divulgação do IBGE; no final de julho, a expectativa mediana na Focus era de queda, com uma variação dessazonalizada de 0,2% negativo. Em particular, as maiores surpresas positivas foram o desempenho da indústria e dos serviços, por um lado, e o significativo crescimento do consumo das famílias, por outro. Confirma-se assim a percepção delineada na Carta de Conjuntura do primeiro trimestre, de que o país deixou para trás a recessão, como se pode depreender também dos últimos indicadores de produção industrial (o Indicador Ipea da produção industrial de agosto TEXTO ELABORADO COM INFORMAÇÕES DISPONÍVEIS ATÉ O DIA 27/09/2017 2 C arta d e C o n ju n tu ra | 36 | 3˚ trim estre de 2017 aponta para uma nova alta mensal, de 0,2%, após aumento de 0,8% em ju- lho) e vendas no varejo (alta de 2,6% em agosto projetada pelo Indicador Ipea do Comércio, após elevação de 0,2% em julho no conceito ampliado). O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de julho teve variação de 0,4% ante junho, e de 1,4% ante julho do ano passado. O Indi- cador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) em julho aumentou 1,1% em relação a junho, resultado que poderia ter sido ainda maior (de 1,4%) não fosse a exportação ficta de uma plataforma de petróleo que redu- ziu o consumo aparente de bens de capital no mês, provocando uma queda de 3,6% dessa variável, compensada pelo aumento de 1,4% da construção civil, a segunda consecutiva.1 1 Exportação ficta é utilizada no regime aduaneiro especial de exportação e de importação de bens destinados às atividades de pesquisa e de lavra das jazidas de petróleo e de gás natural (Repetro), “sem que tenha ocorrido a saída do bem do território aduaneiro e posterior aplicação do regime aduaneiro especial de admissão temporária, no caso de bens de fabricação nacional, vendidos a pessoa jurídica domiciliada no exterior”, de acordo com a Receita Federal. GRÁFICO 1 Produção da Indústria geral - PIM-PF (Em %) GRÁFICO 3 Produção de bens de capital - PIM-PF ( Em %) Fonte: IBGE e Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura / Dimac / Ipea Fonte: IBGE, BCB e Ipea . Elaboração: Grupo de Conjuntura/Dimac/Ipea GRÁFICO 2 Vendas no varejo (ampliado) - PMC (Em %) GRÁFICO 4 Produção de bens de consumo duráveis - PIM-PF (Em %) Fonte: IBGE e Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura / Dimac / Ipea Fonte: IBGE. Elaboração: Grupo de Conjuntura / Dimac / Ipea -5,2 7,8 0,4 8,8 2,2 4,1 1,5 1,9 abr/17 mai/17 jun/17 jul/17 variação contra o mesmo período do ano anterior Variação contra o período anterior 0,6 20,9 5,3 8,1 2,6 6,4 -5,6 2,7 abr/17 mai/17 jun/17 jul/17 variação contra o mesmo período do ano anterior Variação contra o período anterior -0,6 4,9 4,3 5,8 13,1 1,4 -0,2 2,3 0,2 2,6 abr/17 mai/17 jun/17 jul/17 ago/17 variação contra o mesmo período do ano anterior Variação contra o período anterior Previsão -4,3 4,1 0,6 2,5 5,3 1,2 1,2 0,2 0,8 0,2 abr/17 mai/17 jun/17 jul/17 ago/17 variação contra o mesmo período do ano anterior Variação contra o período anterior Previsão https://idg.receita.fazenda.gov.br/orientacao/aduaneira/manuais/repetro/topicos/2-disposicoes-gerais/aspectos-tributarios 3 C arta d e C o n ju n tu ra | 36 | 3˚ trim estre de 2017 A recuperação da atividade econômica, após quase três anos de recessão, decorre de diversos fatores. Em primeiro lugar, ao final de um ciclo de ajuste de estoques, ao longo do qual a produção num primeiro momento cai mais que a demanda, o volume de produção volta a crescer posteriormente, mes- mo que a demanda ainda não tenha recuperado seu nível inicial. Embora os dados de variação de estoques das contas trimestrais do IBGE sejam muito influenciados pelo comportamento dos produtos agrícolas, nota-se que a variação de estoques teve influência positiva sobre o PIB recentemente, con- tribuindo com 1,2, 2,7 e 0,6 pontos percentuais para variações interanuais do PIB de -2,5%, -0,4% e 0,3% no último trimestre de 2016 e dois primeiros trimestres de 2017, respectivamente. Os indicadores de estoques da Funda- ção Getúlio Vargas (FGV) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI), obtidos a partir de sondagens empresariais na indústria, mostram, ainda que de maneira menos evidente, uma redução do percentual de empresários que consideram excessivos os estoques. Essa redução teria ocorrido principal- mente ao longo da segunda metade de 2015 e em 2016. Em 2017, a percep- ção em relação ao nível de estoques indica certa estabilidade em patamar ainda correspondente a estoques excessivos no caso da FGV e pequeno crescimento, também passando ao nível em que os estoques efetivos são superiores ao planejado, no caso da CNI. Um segundo fator que contribuiu para impulsionar a atividade econômica ao longo dos últimos meses, e que, da mesma forma que os estoques, deve ter efeito direto transitório sobre o crescimento, foi a liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Foram liberados cerca de R$ 42 bilhões entre março e julho de 2017, o que equivale a cerca de 4% do valor do consumo das famílias num trimestre. Mesmo considerando que boa parte desse valor não tenha sido direcionado para o consumo – pesqui- sa realizada pela FGV em maio indicava uma maior intenção das famílias em utilizar os recursos para pagar dívidas em atraso e para poupar – seu impacto pode ter sido importante, principalmente quando se observa que as vendas no varejo tiveram comportamento bastante favorável no período, tendo crescido em média 0,7% ao mês no conceito restrito e 1,2% ao mês no conceito ampliado. Vale destacar ainda que a utilização de parte desses recursos para o pagamento de dívidas gera um efeito secundário de caráter mais duradouro sobre o consumo, pois libera uma parte do orçamento fami- liar anteriormente comprometida com os serviços da dívida. A forte queda da inflação e a redução dataxa de juros também vêm con- tribuindo para a retomada da atividade econômica, com efeitos que ainda devem se manifestar nos trimestres à frente. O impacto da redução do preço 4 C arta d e C o n ju n tu ra | 36 | 3˚ trim estre de 2017 de alimentos – queda acumulada de 2% nos últimos doze meses até agosto, ante variação acumulada de 14% nos doze meses até agosto de 2016 – certa- mente deve ter contribuído para permitir uma ampliação do consumo, espe- cialmente nas famílias de baixa renda para as quais o componente Alimenta- ção tem um peso relativamente elevado. O efeito da recessão sobre o setor serviços – cuja inflação em 12 meses caiu de 7,4% em agosto de 2016 para 4,8% em igual mês de 2017 – e o aumento da credibilidade do Banco Central quanto ao compromisso de perseguir a meta de inflação também foram fa- tores importantes, ao lado da queda da inflação dos alimentos, para permitir uma redução agressiva da taxa básica de juros, de 14,25% ao ano em agosto do ano passado para 8,25% ao ano, conforme a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no início de setembro. É importante destacar que essa redução agressiva foi possível devido à recuperação da credibilida- de do Banco Central e à ancoragem das expectativas, que convergiram para as metas de inflação a partir do início deste ano – como mostra o gráfico 5. O Brasil alcança assim taxas de juros reais inéditas em sua história num con- texto de inflação sob controle: a expectativa de juros reais para os próximos 12 meses encontra-se em 3,2% ao ano e, para o horizonte de cinco anos, menor que 5% ao ano – de acordo com estrutura a termo da taxa de juros (ETTJ) mostrada no gráfico 6. Como pano de fundo desse processo está uma situação econômica internacional favorável ao combinar retomada do crescimento dos países industrializados e da China com relativa estabilidade financeira que tem garantido fluxos de capital significativos para os países emergentes, o Brasil entre eles. O comportamento do mercado de trabalho nos últimos meses, apesar da taxa de desemprego ainda elevada, passou a reforçar a retomada da atividade econômica à medida que o processo de recuperação foi ficando mais nítido, conjugando redução da taxa de desocupação com expansão dos rendimen- GRÁFICO 5 Expectativas de mercado para IPCA - Mediana (Em %) Fonte: Sistema de Expectativa de Mercado do BCB. Elaboração: Grupo de Conjuntura / Dimac / Ipea GRÁFICO 6 Estrutura a termo da taxa de juros ( ETTJ) - Juros reais acima do IPCA (Em %) Fonte: Anbima. Elaboração: Grupo de Conjuntura / Dimac / Ipea 3,42 3,40 3,67 3,98 4,23 4,43 4,58 4,69 4,78 4,85 4,90 4,95 4,99 5,02 5,05 5,08 5,10 5,12 3,18 3,16 3,41 3,70 3,95 4,16 4,32 4,44 4,54 4,62 4,68 4,73 4,77 4,81 4,84 4,87 4,89 4,91 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 11 ,5 22 ,5 33 ,5 44 ,5 55 ,5 66 ,5 77 ,588 ,5 99 ,5 % Anos 25/08/2017 22/09/2017 3,42 3,40 3,67 3,98 4,23 4,43 4,58 4,69 4,78 4,85 4,90 4,95 4,99 5,02 5,05 5,08 5,10 5,12 3,18 3,16 3,41 3,70 3,95 4,16 4,32 4,44 4,54 4,62 4,68 4,73 4,77 4,81 4,84 4,87 4,89 4,91 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 1 1, 5 2 2, 5 3 3, 5 4 4, 5 5 5, 5 6 6, 5 7 7, 5 8 8, 5 9 9, 5 Anos 25/08/2017 22/09/2017 2,97 4,08 4,25 4,00 2,8 3,3 3,8 4,3 4,8 5,3 5,8 6,3 18 /1 2/ 20 15 19 /0 1/ 20 16 18 /0 2/ 20 16 17 /0 3/ 20 16 15 /0 4/ 20 16 16 /0 5/ 20 16 14 /0 6/ 20 16 12 /0 7/ 20 16 09 /0 8/ 20 16 06 /0 9/ 20 16 05 /1 0/ 20 16 04 /1 1/ 20 16 05 /1 2/ 20 16 02 /0 1/ 20 17 30 /0 1/ 20 17 01 /0 3/ 20 17 29 /0 3/ 20 17 28 /0 4/ 20 17 29 /0 5/ 20 17 27 /0 6/ 20 17 25 /0 7/ 20 17 22 /0 8/ 20 17 20 /0 9/ 20 17 2017 2018 2019 2020 5 C arta d e C o n ju n tu ra | 36 | 3˚ trim estre de 2017 tos reais. Esta queda do desemprego, mesmo em um cenário de elevação da taxa de participação, foi possibilitada pelo aumento da população ocupada, que registrou a primeira variação interanual positiva desde o trimestre móvel encerrado em agosto de 2015. O aumento da taxa de participação, por seu turno, estaria refletindo a redução do desalento: o percentual de pessoas em idade ativa que se encontravam fora da população economicamente ativa (PEA) por não acreditarem que conseguiriam ocupação caiu 2,5 pontos per- centuais no segundo trimestre em relação ao primeiro, de 47,2% para 44,7% – a primeira redução desde o primeiro trimestre de 2015, quando esse índice era igual a 25% da população em idade ativa (PIA). Ao contrário da ocupação, que só recentemente começou a apresentar sinais de recuperação, os rendimentos do trabalho já mostram, há pelo menos três trimestres, uma dinâmica favorável. No trimestre móvel encerrado em julho, o rendimento médio real registrou crescimento de 3% em relação a igual período de 2016. Dois fatores ajudam a explicar esse comportamento: a forte queda da inflação em um contexto de correções salariais pela inflação passada e um efeito composição, que reflete o fato de que, numa situação de recessão, os primeiros a serem demitidos são os trabalhadores de mais baixa qualificação e, portanto, com salários mais baixos. Dessa forma, o rendimen- to médio real tende a crescer mesmo na ausência de reajustes. O aumento da massa real de rendimentos do trabalho, a queda da taxa real de juros, a retomada da confiança dos consumidores e a perspectiva de uma inflação abaixo da meta apontam para uma retomada mais vigorosa do con- sumo. No segundo trimestre, o consumo das famílias contribuiu com 0,5 ponto percentual para a variação interanual do PIB, tendo crescido 1,4% ante o primeiro trimestre na comparação dessazonalizada. Os investimentos, por outro lado, embora tenham apresentado novo resul- tado negativo no dado trimestral do IBGE (a décima quinta redução conse- cutiva), têm mostrado moderada recuperação na margem de acordo com o Indicador Ipea Mensal de FBCF – Tabela 1. TABELA 1 Taxas de crescimento do Indicador Ipea de FBCF - exclusive “exportação ficta” (Em %) * Sazonalmente ajustado pelo Ipea (método X-13). ** Trimestre terminado no mês de referência da divulgação. Fonte: Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura Dimac/Ipea. Contra Período Anterior Dessazonalizado* Contra Igual Período do Ano Anterior Acumulado Mai17 Jun17 Jul17 TRIM** Mai17 Jun17 Jul17 TRIM No Ano Em 12 Meses Formação Bruta de Capital Fixo -0,1 0,7 1,3 -0,1 -2,3 -10,2 -1,6 -4,8 -4,6 -5,4 Máquinas e Equipamentos 2,6 1,2 -1,2 2,9 9,9 -16,2 2,3 -2,4 -1,3 -2,7 Construção Civil -1,4 2,4 1,4 -0,7 -8,4 -6,2 -3,7 -6,1 -6,4 -6,7 6 C arta d e C o n ju n tu ra | 36 | 3˚ trim estre de 2017 Os baixos níveis de utilização da capacidade instalada – em agosto, segundo o Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da FGV, esse índice na indústria foi de 74,1%, para uma média histórica de 80,7% –, no entanto, podem dificultar uma reação mais forte dos investimentos a curto prazo apesar da recuperação dos índices de confiança empresarial nos três últimos meses após a queda registrada em junho. Além disso, mesmo após essa recuperação da confiança empresarial, que já dura dois anos, seu nível ainda não ultra- passou a marca de 100 pontos além da qual a visão das condições atuais e as expectativas quanto ao futuro pode ser caracterizada como otimista. Sim- plesmente parece haver muitas incertezas quanto ao futuro – principalmente as de natureza política – para que a recuperação da confiança se traduza em aumento dos investimentos. Por outro lado, o recente aumento observado no consumo aparente de bens de capital, após a exclusão de fatores atípicos, pode estar indicando um esforço por parte das empresas visando a redução de custos e aumento da eficiência. 2 Importância da Questão Fiscal De forma geral, os dados recentes mostram uma recuperação paulatina da atividade econômica, taxas de inflação em níveis consideravelmente baixos para os padrões brasileiros e uma situação bastante confortável em relação às contas externas. Além disso, o bom desempenho da economiamundial aliado à grande liquidez internacional continuam a contribuir positivamente para a economia brasileira. Nesse contexto de melhora geral dos indicadores macroeconômicos, o de- sajuste fiscal estrutural, que coloca em risco a sustentabilidade da dívida GRÁFICO 7 Indicadores de confiança (mai./2009 - set./2017). (Índice dessazonalizado). * Índice de serviços com dados até Agosto de 2017. Fonte: IBRE/FGV. Elaboração: Grupo de Conjuntura / Dimac / Ipea GRÁFICO 8 Indicadores de confiança ( jan./2016 - set./2017) (Variação acumulada, em %) * Índice de serviços com dados até Agosto de 2017. Fonte: IBRE/FGV. Elaboração: Grupo de Conjuntura / Dimac / Ipea 60 70 80 90 100 110 120 m ai /0 9 ou t/ 09 m ar /1 0 ag o/ 10 ja n/ 11 ju n/ 11 no v/ 11 ab r/ 12 se t/ 12 fe v/ 13 ju l/1 3 de z/ 13 m ai /1 4 ou t/ 14 m ar /1 5 ag o/ 15 ja n/ 16 ju n/ 16 no v/ 16 ab r/ 17 se t/ 17 Indústria Comércio Construção Serviços OTIMISTA PESSIMISTA 19,5 34,2 18,8 -2,8 21,0 36 21,5 10,9 22,2 35,7 23,3 23,5 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Indústria Comércio Serviços Construção Civil Situação Atual Indice de Confiança Expecta�vas 60 70 80 90 100 110 120 m ai /0 9 ou t/ 09 m ar /1 0 ag o/ 10 ja n/ 11 ju n/ 11 no v/ 11 ab r/ 12 se t/ 12 fe v/ 13 ju l/1 3 de z/ 13 m ai /1 4 ou t/ 14 m ar /1 5 ag o/ 15 ja n/ 16 ju n/ 16 no v/ 16 ab r/ 17 se t/ 17 Indústria Comércio Construção Serviços OTIMISTA PESSIMISTA 7 C arta d e C o n ju n tu ra | 36 | 3˚ trim estre de 2017 pública, emerge como questão fundamental para a consolidação do atual cenário de recuperação. A revisão das metas de déficit primário de 2017 a 2020 revelou as difíceis escolhas com as quais o governo se depara diante da rigidez do gasto e da tendência de crescimento de algumas despesas a partir de variáveis fora de seu controle, como a dinâmica demográfica ou regras fixadas no passado para a correção do salário mínimo – ambas impactando diretamente as despesas com benefícios previdenciários e assistenciais. Além disso, a arrecadação tributária vem exibindo comportamento frustrante em relação ao desempenho da economia, indicando que não apenas a reces- são, mas também fatores estruturais podem estar afetando seu desempenho. Entre os fatores que podem ter alterado a elasticidade da arrecadação em relação ao PIB destacam-se as mudanças na composição setorial da atividade econômica, como o crescimento do peso dos serviços no PIB, onde a carga tributária é menor, e os sucessivos programas de regularização tributária. Como o ajuste fiscal proposto, por meio do teto dos gastos, é uma solução que só poderá ter resultados em termos de redução da dívida bruta em me- ados dos anos 2020, a perspectiva do crescimento de longo prazo tornou-se uma questão relevante para se avaliar a situação do curto prazo. A este res- peito, ressalta-se a nova postura quanto a privatizações e aos investimentos em infraestrutura por meio de concessões. Por apresentarem externalidades em relação aos vários setores da economia, os investimentos em infraestru- tura são um importante fator para o aumento da produtividade agregada, ao mesmo tempo em que, por meio das concessões e privatizações, aumentam as receitas do governo e/ou permitem uma redução da dívida pública. No entanto, é importante notar que as receitas derivadas dessas privatizações e concessões não eliminam a necessidade de avançar com as reformas estrutu- rais que permitirão reduzir a rigidez do orçamento e o ritmo de crescimento dos gastos obrigatórios, essenciais para viabilizar o cumprimento do teto dos gastos a partir do início dos anos 2020. Na verdade, a dependência do orça- mento em relação a receitas extraordinárias tem crescido nos últimos anos, o que torna o ajuste estrutural fundamental para que o país volte a exibir superavits primários de modo a estabilizar a relação dívida/PIB. A principal reforma para atingir esse objetivo é a reforma da Previdência Social, cujo peso no orçamento, juntamente com benefícios assistenciais, tem crescido e tende a continuar em trajetória fortemente ascendente, comprometendo o funcionamento do governo e reduzindo significativamente o espaço para investimentos públicos. Uma questão que, apesar de sua grande relevância, tem sido pouco debatida no país são os impactos do problema previdenciário sobre as finanças dos governos subnacionais – como tem sido destacado numa série de notas téc- 8 C arta d e C o n ju n tu ra | 36 | 3˚ trim estre de 2017 nicas publicadas recentemente na Carta de Conjuntura. 2 Diversas políticas pú- blicas essenciais para o funcionamento normal da economia do país são de responsabilidade desses níveis de governo. A segurança pública é um bom exemplo de política que é responsabilidade dos estados e que pode sofrer graves consequências de um colapso das contas públicas. O caso do Rio de Janeiro é emblemático. A severa crise fiscal pela qual o estado está passando teve impactos diretos na disponibilidade de recursos para a segurança públi- ca, o que pode ter influenciado na deterioração dos indicadores de violência urbana. A piora da criminalidade, por sua vez, pode ter consequências nega- tivos para a economia. O aumento do roubo de carga na Região Metropoli- tana do Rio de Janeiro, por exemplo, tem inviabilizado uma série de negócios e pode ser parte da explicação da diferença entre o desempenho do estado em relação ao restante do país no que se refere à geração de empregos. De acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), enquanto o Brasil já tem apresentado saldos positivos na geração de empregos formais há cinco meses, o Rio de Janeiro ainda continua mos- trando saldos negativos. O perfil demográfico dos servidores públicos estaduais de todo o país, não só no Rio de Janeiro, aliado às atuais regras previdenciárias, que permitem aposentadorias especiais aos professores e policiais (cerca de metade dos servidores desse nível de governo), torna esta questão urgente. Algumas uni- dades da federação, que ainda não estão em situação tão crítica, poderão sofrer forte deterioração fiscal por este motivo nos próximos anos. Embora haja incerteza sobre a reforma previdenciária, o risco país medido pelo CDS (em inglês Credit Default Swap) recuperou os níveis baixos atingidos em maio deste ano, antes do aumento da incerteza política. Esse movimento acompanhou o comportamento observado nos demais países emergentes – como mostram os gráficos 9 e 10. Essa dinâmica benigna da percepção de risco por parte dos investidores tem contribuído para a melhora do ambien- te macroeconômico do país. O que parece prevalecer é a expectativa de que as mudanças das regras previdenciárias acontecerão num futuro próximo, mesmo que não nos próximos meses, conforme inicialmente planejado pelo governo. Entretanto, a não realização de tais mudanças nos próximos meses terá duas consequências: aumento do grau de incerteza e elevação do custo do ajuste. Mais especificamente, quanto mais se demorar a fazer a reforma, mais duras terão de ser as regras de transição, pois o que importa não é so- 2 Nota técnica da Carta de Conjuntura nº 35: http://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2017/08/04/a-dinamica-demografica-e-o-peso-das-aposentadorias-especiais-nos-re- gimes-de-previdencia-estaduais-2006-2015/ Nota técnica da Carta de Conjuntura nº 34: http://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2017/03/27/a-dinamica-do-deficit-dos-regimes-proprios-de-previdencia-dos-esta- dos-brasileiros-nos-anos-2006-2015/ http://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2017/08/04/a-dinamica-demografica-e-o-peso-das-ap http://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2017/08/04/a-dinamica-demografica-e-o-peso-das-ap http://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2017/03/27/a-dinamica-do-deficit-dos-regimes-prop http://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2017/03/27/a-dinamica-do-deficit-dos-regimes-prop9 C arta d e C o n ju n tu ra | 36 | 3˚ trim estre de 2017 mente o valor presente das mudanças, mas também o período em que elas começarão a fazer efeito. Um eventual adiamento da aprovação da reforma da Previdência não inviabiliza a recuperação no curto prazo, porém deixa o país mais vulnerável a mudanças na economia internacional e nos humores dos mercados financeiros e de capitais, na medida em que enfraquece os fun- damentos domésticos, especialmente no que se refere à evolução da dívida pública. 3 Projeções Macroeconômicas 2017/2018 Na perspectiva do crescimento de longo prazo, a variável chave é o cresci- mento da produtividade, que estagnou no Brasil desde o início da década atual, mesmo quando se leva em consideração sua natureza pró-cíclica. Di- versas medidas adotadas pelo governo nos últimos meses podem minimizar o problema da má alocação de recursos (misallocation), aumentar a eficiência e, por conseguinte, aumentar o potencial de crescimento da economia no médio e longo prazos. Destacam-se, entre elas, a mudança da taxa à qual são emprestados recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) – determinada administrativamente – pela Taxa de Longo Prazo (TLP) – que seguirá as taxas de mercado –, a reformulação dos marcos legais nos setores de infra- estrutura e a aprovação da reforma trabalhista. Contudo, como destacado na subseção anterior, o debate atual sobre a con- tinuidade da reversão cíclica da economia brasileira depende muito da ques- tão fiscal e da percepção de risco em relação à sustentabilidade das contas públicas, bem como da existência de um ambiente externo benigno no pe- GRÁFICO 9 CDS 5 Anos - Países Selecionados (Em pontos base) Fonte: Anbima Elaboração: Grupo de Conjuntura / Dimac / Ipea GRÁFICO 10 CDS 5 Anos - Países Selecionados (Em pontos base) Nota: média das quatro primeiras sextas-feiras do mês anterior. Fonte: Bloomberg Elaboração: Grupo de Conjuntura / Dimac / Ipea 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 ja n/ 14 m ar /1 4 m ai /1 4 ju l/1 4 se t/ 14 no v/ 14 ja n/ 15 m ar /1 5 m ai /1 5 ju l/1 5 se t/ 15 no v/ 15 ja n/ 16 m ar /1 6 m ai /1 6 ju l/1 6 se t/ 16 no v/ 16 ja n/ 17 m ar /1 7 m ai /1 7 ju l/1 7 se t/ 17 Brasil Chile Colômbia Peru 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 ja n/ 14 m ar /1 4 m ai /1 4 ju l/1 4 se t/ 14 no v/ 14 ja n/ 15 m ar /1 5 m ai /1 5 ju l/1 5 se t/ 15 no v/ 15 ja n/ 16 m ar /1 6 m ai /1 6 ju l/1 6 se t/ 16 no v/ 16 ja n/ 17 m ar /1 7 m ai /1 7 ju l/1 7 se t/ 17 Brasil Indonésia Turquia Malásia Filipinas 10 C arta d e C o n ju n tu ra | 36 | 3˚ trim estre de 2017 ríodo de transição para o novo equilíbrio fiscal. Nosso cenário adota como premissa básica a manutenção da situação de relativa estabilidade observada nos últimos meses em relação a estes pontos; ou seja, supõe-se, de um lado, a prevalência da expectativa de que, ainda que as medidas de ajuste fiscal estrutural não sejam aprovadas a curto prazo, o serão a médio prazo; e, de outro lado, que o ambiente externo continuará provendo liquidez suficiente durante o período de transição. Evidentemente, esta situação poderá ser perturbada por vários tipos de choques ao longo dos próximos trimestres, especialmente se levarmos em consideração as possíveis fontes de instabi- lidade que, no atual contexto de incerteza política, a eleição presidencial do próximo ano poderá produzir. Caso ocorram mudanças significativas neste cenário básico, as projeções a seguir precisarão, evidentemente, ser revistas. Para o terceiro trimestre de 2017, estão disponíveis vários indicadores que permitem estimar com razoável nível de confiança o crescimento dos prin- cipais componentes do PIB. Pela ótica da oferta, todos os componentes devem apresentar taxa de crescimento positiva em relação ao terceiro tri- mestre de 2016: 1,4% para a indústria, 0,5% para os serviços e 11,1% para a agropecuária. Em termos dessazonalizados, a agropecuária cai em relação ao segundo trimestre deste ano, mas a indústria e os serviços crescem. Pela ótica da despesa, o consumo das famílias deve crescer 1,4% em relação ao mesmo período do ano anterior, e as exportações líquidas também devem prover contribuição positiva para o crescimento, com as exportações au- mentando 9,6% e as importações crescendo 4,9%; o consumo do governo e o investimento agregado, porém, permanecem abaixo dos níveis obser- vados no ano passado. Na margem, em termos dessazonalizados, todos os componentes apresentam crescimento positivo, exceto o consumo público, reforçando a percepção de recuperação econômica. Como resultado final, o PIB deve situar-se 1,2% acima do nível observado no terceiro trimestre de 2016 e crescer 0,4% em relação ao segundo trimestre de 2017, na compara- ção livre de efeitos sazonais. Sob o cenário de relativa estabilidade da percepção de risco em relação à economia brasileira, a recuperação da atividade observada nos últimos me- ses tende a consolidar-se nos próximos trimestres, levando o PIB a atingir crescimento de 0,7% em 2017 e 2,6% em 2018. Em 2017, o crescimento será explicado predominantemente pelo consumo das famílias, exportações líquidas e variação de estoques pelo lado da despesa, e pela agropecuária pelo lado da oferta. Em 2018, todos os componentes da oferta devem con- tribuir significativamente para o aumento do PIB, ao passo que, pelo lado da despesa, o consumo e o investimento agregados explicam o crescimento. 11 C arta d e C o n ju n tu ra | 36 | 3˚ trim estre de 2017 Cabe destacar que o principal impulso ao crescimento deve vir da política monetária. Espera-se que o Banco Central prossiga em seu ciclo de afrou- xamento monetário, reduzindo a taxa SELIC até 7% a.a. no final de 2017 e mantendo-a neste patamar ao longo de 2018. Diante das baixas taxas de inflação a serem observadas nesses dois anos (2,9% e 4,2%), e da capacidade de o BCB ancorar as expectativas de inflação futura, que no final de 2018 deverão estar mirando a meta de inflação do ano seguinte (4,25%), a redução da Selic deve gerar níveis muito baixos de juros reais, propiciando condições favoráveis ao financiamento de despesas de consumo e investimento. TABELA 2 Projeções: taxa de crescimento do PIB e de seus componentes ( Em %) * Primeira divulgação das séries dessazonalizadas. Fonte: IBGE e Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura/Dimac/Ipea Observado Previsto 2015 2016 2017-T1 2017-T2 2017-T3 2017 2018 Em relação ao mesmo período do ano anterior Em relação ao mesmo período do ano anterior Em relação ao mesmo período do ano anterior Em relação ao trimestre anterior (dessazonalizado)* PIB -3,8 -3,6 -0,4 0,3 1,2 0,4 0,7 2,6 PIB - Indústria -6,3 -6,3 -1,1 -2,1 1,4 1,6 0,5 3,4 PIB - Serviços -2,7 -2,7 -1,7 -0,3 0,5 0,4 0,1 2,2 PIB - Agropecuária 3,6 -6,6 15,2 14,9 11,1 -2,4 12,5 3,5 Consumo - Famílias -3,9 -4,2 -1,9 0,7 1,4 0,5 0,8 2,7 Consumo - Governo -1,1 -0,6 -1,3 -2,4 -1,6 -0,2 -1,9 -0,2 FBCF -13,9 -10,2 -3,7 -6,5 -1,5 1,6 -2,5 4,2 Exportação 6,3 1,9 1,9 2,5 9,6 4,8 5,6 4,1 Importação -14,1 -10,3 9,8 -3,3 4,9 5,1 3,6 5,1 TABELA 3 Projeções: variáveis macroeconômicas selecionadas (Em %) Fonte: IBGE/Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura Dimac/Ipea. Observado Previsto 2015 2016 2017 2018 Inflação - IPCA (% no período) 10,7 6,3 2,9 4,2 Taxa de juros SELIC (% a.a. no final do período) 14,25 13,75 7,00 7,00 Taxa de câmbio R$/US$ (no final do período) 3,90 3,26 3,15 3,30 12 C arta d e C o n ju n tu ra | 36 | 3˚ trim estre de 2017 Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) José Ronaldo de Castro Souza Júnior – Diretor Marco Antônio Freitas de Hollanda Cavalcanti – Diretor Adjunto Grupo de Conjuntura Equipe Técnica: Christian Vonbun Estêvão Kopschitz XavierBastos Leonardo Mello de Carvalho Marco Aurélio Alves de Mendonça Marcelo Nonnenberg Maria Andréia Parente Lameiras Mônica Mora Y Araujo de Couto e Silva Pessoa Paulo Mansur Levy Vinicius dos Santos Cerqueira Sandro Sacchet de Carvalho Equipe de Assistentes: Augusto Lopes dos Santos Borges Felipe dos Santos Martins Leonardo Simão Lago Alvite Luciana Pacheco Trindade Lacerda As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ou do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Repro- duções para fins comerciais são proibidas.
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