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Milena Marques 145 DIP – Tétano Introdução: O tétano (do grego contrair e esticar) é uma doença infecciosa, sistêmica, não contagiosa, com elevada letalidade para jovens e idosos. Agente etiológico: transmitido por uma bactéria chamada de Clostridium tetani (C. tetani) → é uma gram positiva (+) anaeróbica. A bactéria tem afinidade por regiões sem oxigenação, como regiões necróticas, então o tétano era muito comum após cirurgias, onde a pessoa deixava tecido necrótico ou por contaminação por equipamentos. Atualmente, ela acomete mais idosos com neuropatias que não sinta ferimentos perfurantes ou entre em contato com ferrugem. Um pouco de história: • O primeiro registro de ocorrência de tétano é de autoria de Hipócrates • A sua etiologia (causa) foi descoberta somente em 1884, por Carle e Rattone • A primeira imunização passiva contra a doença foi implementada durante a primeira guerra mundial • Durante muitos anos o antidoto era feito por injeção de toxina em cavalos e o seu soro rico em anticorpos antitoxina era administrado aos doentes Contudo esse processo gerava reações imunitárias contra os antígenos do cavalo, um problema denominado de doença do soro. → soros heterólogos • Por essa razão, cada pessoa só podia receber antidoto uma vez na vida, pois a reação do seu sistema imunitário contra o anticorpo de cavalo era quase sempre fatal a segunda aplicação do soro. Etiopatogenia: • Ocorre pela introdução de esporos da bactéria em ferimentos externos geralmente perfurantes, contaminados com terra, poeira, fezes de animais ou humanos. o Esses esporos podem permanecer por muito tempo no ambiente. • A infecção se dá pela entrada de esporos por qualquer tipo de ferimento na pele contaminada por areia ou terra. Ferimentos com objetos contaminados normalmente representam um risco grande de desenvolvimento de tétano, se a pessoa não tiver sido vacinada • Popularmente associada com objetos enferrujados, mas o esporo do bacilo tetânico está em todo lugar e pode ser encontrado na terra, plantas, vidro, madeira, e em outros objetos entrando no organismo por perfuração ou corte. Obs.: Em animais - ➔ Nos equinos o acesso a infecção se da com maior frequência em lesões de casco, cordão umbilical e aparelho genital ➔ Nos bovinos pode-se instalar através de feridas resultantes de colocação de argola no focinho, da amputação de chifres, da castração ou do traumatismo no parto ➔ Em ovinos e caprinos pode ocorrer ao tosquiar, ao marcar, ao cortar a cauda, durante parto ou castração Existem duas denominações para o tétano: Tétano acidental = É o tétano adquirido através da contaminação de ferimentos (mesmo pequenos) com esporos do Clostridium tetani, que são encontrados no ambiente (solo, poeira, esterco, superfície de objetos – principalmente quando metálicos ou enferrujados) O clostridium tetani, quando contamina ferimentos, sob condições favoráveis (presença de tecidos mortos, corpos estranhos e sujeira), torna-se capaz de multiplicar-se e produzir Tenospasmina que atua em terminais nervosos, induzindo a contraturas intensas Flahs card: Tenospasmina produz contraturas intensas. Milena Marques 145 Tétano neonatal = as gestantes que nunca foram vacinadas, além de estarem desprotegidas não passam anticorpos protetores para o filho, o que acarreta no risco de tétano neonatal para o RN. O tétano neonatal (também chamado de tétano umbilical ou mal dos sete dias) é adquirido quando ocorre contaminação do cordão umbilical com esporos do Clostridium tetani. O quadro clínico é presença de contraturas (opisostono) e dificuldade de sucção do leite. A contaminação pode ocorrer durante a secção do cordão com instrumentos não esterilizados ou pela utilização subsequente de substancias para realização do curativo no coto umbilical (fumo, pó de café, esterco, teia de aranha...) Contaminação: • Contaminação de feridas com esporos leva ao desenvolvimento e multiplicação local de bacilos. Os bacilos não são invasivos e não invadem outros órgãos, permanecendo junto à ferida. Aí formam suas toxinas, que são responsáveis pela doença e por todos os sintomas. O esporo presente no ambiente assume sua forma filamentosa em condições ideais (anaeróbico/escuro) e se ao entrar em contato com o ferimento leva ao desenvolvimento de bacilos que são não invasivos permanecendo junto a ferida liberando duas toxinas (dai a necessidade de desbridar) PROVA: • Tetanolisina – promove hemólise • Tetanopasmina – promove os espasmos musculares. Período de incubação = desde o contágio até os primeiros sintomas • Pode variar de 3 a 21 dias (média de 8 dias) • Em RN o período de incubação é de 7-14 dias, sendo o 7 mais comum • Na maioria dos casos, quanto mais afastada do sistema nervoso estiver a ferida, mais longo é o período de incubação • O período de incubação e a probabilidade de morte são inversamente proporcionais -> quanto menor o período de incubação, maior o risco de morte. Depois que penetram no organismo, as bactérias e seus esporos elaboram duas potentes toxinas que entram na corrente sanguínea e vão agir nos grandes centros nervosos e produzir espasmos tônico-clônicos. Período de regressão = desde os primeiros sintomas até os primeiros espasmos. Diagnóstico O Diagnóstico é puramente clínico e epidemiológico. (análise do histórico e sintomas durante a consulta). • Pode ser confirmado através de diagnostico laboratorial coletando material do ferimento ou do baço e pesquisando a neurotoxina ou fazendo cultura anaeróbica com material coletado. → não é feito de rotina. Lembrar... • A maioria das mortes ocorre entre criança menores de 5 anos e idosos na área urbana, é mais comum em homens e em países da África à mortalidade pode chegar a 60%. • Com a ampla vacinação na população as taxas de incidência vêm diminuindo • A vacinação é importante pois 46,2% dos casos estavam concentrados nos grupos de 20 a 49 anos de idade, mas crianças e idosos tem uma mortalidade aumentada. • A maioria dos casos de tétano ocorre em recém-nascidos (tétano neonatal) o Ausência de pré-natal, partos caseiros... Sinais e sintomas: O tétano se caracteriza por espasmos musculares. Eles podem ser provocados pelos mais pequenos impulsos nervosos, como barulhos, luzes e encostar no paciente ou podem surgir espontaneamente. Duram de dois a cinco dias. • Trismo (dificuldade de abrir a boca) • Espasmos e paroxismos. • Rigidez do pescoço e costas • Riso sardônico (riso causado pelo espasmo dos músculos em volta da boca) • Dificuldade de deglutição • Rigidez muscular e de abdome • Contração dos músculos dos braços e da perna • Opistótono (espasmo tetânico em que se recurvam para trás a cabeça e os calcanhares, arqueando-se para diante o resto do corpo) Milena Marques 145 • Insuficiência respiratória. • O paciente permanece lúcido e sem febre. • A rigidez e espasmos dos músculos estendem-se de cima para baixo no corpo. • Sinais típicos do período toxemico incluem elevação da temperatura corporal entre 2 a 4 graus, sudorese, aumento da tensão arterial, taquicardia. Os espasmos podem durar semanas e a recuperação completa pode levar meses. → implantação mais profunda do tétano. Complicações da doença: • Espasmos da laringe (cordas vocais) • Espasmos de músculos secundários (como os usados para a respiração e o diafragma) • Fratura de ossos longos por espasmos violentos • Hiperatividade do sistema nervoso autônomo. Tratamento 1 – DESBRIDAMENTO PRECOCE: O desbridamento precoce do foco da ferida 1-6 horas após a administração de imunoglobulina 2 – A ferida deve ser limpa com antisséptico ou oxidante • Uso de vitamina C atua diminuindomortalidade • A penicilina cristalina/ Benzilpenicilina e o metronidazol (atualmente se faz ceftriaxona) para erradicar o C. tétano do foco de inoculação, mas não tem efeito no agente toxico que elas produzem. 3 – Depressores do SNC – Diazepam – atuam reduzindo a ansiedade e a resposta espásmica aos estímulos (relaxante muscular) 4 – A internação deve ser imediata em UTI de alta complexidade/ com isolamento, baixa estimulação sonora, luminosa e tátil enquanto durarem os riscos de espasmos. Medidas auxiliares: • Traqueostomia: o mais precoce possível dentro das 24h após a intubação endotraqueal, em pacientes com tétano moderado e grave, com necessidade de proteção de vias aéreas ou ventilação mecânica. • Uso de bloqueadores neuromusculares – antecedida por adequada analgesia para promover relaxamento muscular e controle dos espasmos em tétano grave submetidos a ventilação mecânica • Monitorização da CPK – estratégia para prevenção de lesão renal aguda. • Controle dos níveis pressóricos • Fisioterapia respiratória • Analgossedação com opioides – propofol, morfina e ventanil. • Sulfato de magnésio – controle dos espasmos musculares. Imunização 1 – Imunização passiva – deve ser feita o mais breve possível após o diagnóstico de tétano • Imunoglobulina antitetânica (IGATH) – homóloga, mais segura e com menos efeitos adversos imediatos ou tardios que o SAT; Dose 500- 5000 UI • Imunoglobulina equina (Soro anti-tetânico – SAT) - heteróloga, mais efeitos colaterais como a doença do soro. 2 – Imunização ativa (Vacinação) – deve ser feita simultaneamente à imunização passiva. → Deve sempre ser feito pois a doença tétano não confere imunidade, a pessoa pode pegar mais de uma vez, mas a vacina confere imunidade. Obs: Não se aplica imunoglobulina anti-tetânica perilesional para bloquear a tetanospasmina no foco da inoculação → prática sem estudos. Prevenção: • Os ferimentos sujos, fraturas expostas, mordidas de animais e queimaduras devem ser bem limpas com substâncias oxidantes ou antissépticas (como álcool) → isso evitará a proliferação e bactérias no organismo, não só do tétano. • O tétano pode ser evitado o Vacinando crianças e animais e reforçando a cada 10 anos o Usando soro antitetânico antes das intervenções cirúrgicas ou depois de ferimentos que possam facilitar a infecção o Evitando o contato das feridas profundas com terra ou qualquer sujeira. Milena Marques 145 o Cuidando da assepsia do instrumento cirúrgico e da antissepsia das feridas o Eliminando objetos pontiagudos que possam causar ferimentos acidentais • Quando alguém se fere profundamente e não faz a higiene necessária, solicitar a aplicação do soro antitetânico para que o tétano não se desenvolva • Esse cuidado é importante pois a toxina tetânica tem afinidade pelo sistema nervoso e pode levar a morte Vacinação • É importante principalmente em menores de 5 anos e maiores de 60 anos • É recomendado que as grávidas (antes de 7 meses) tomem a vacina de reforço caso não tenham tomado nos últimos 10 anos • A Vacina TETRAVALENTE também ajuda na difteria, gripe tipo b e coqueluche + tétano. • SBP – recomenda três doses o Aos 2, 4 e 6 meses e dois reforços aos 15 meses e entre 4-6 anos o Reforço a cada 10 anos. Resumindo o tratamento 1 – para pacientes com tétano • Debridar a ferida + antibiótico + medidas para o tétano + antibiótico • Imunoglobulina (soro) • Vacinação 2 – para pacientes com corte e que podem desenvolver tétano • Limpar bem o local da ferida + vacinação
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