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Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 DOS EFEITOS DA POSSE TUTELA DA POSSE A posse pode sofrer as seguintes moléstias: ESBULHO Ocorre quando alguém retira a posse do legítimo possuidor, impedindo-o de exercer os poderes do domínio. TURBAÇÃO Ocorre quando alguém impede o legítimo possuidor de exercer plenamente os poderes do domínio. AMEAÇA Ocorre quando há o risco consistente e iminente de ocorrer o esbulho ou a turbação. Há a perda da tranquilidade de exercício da posse. A tutela da posse se trata da proteção possessória. Esta pode ocorrer de duas diferentes formas: autotutela ou heterotutela. DA AUTOTUTELA A autotutela é quando o próprio possuidor depreende esforços para que sua posse seja protegida. O próprio possuidor mantém ou reestabelece a situação de fato pelos seus próprios recursos. Tratam-se de formar de autodefesa, independentes de ação judicial, cabíveis ao possuidor direto ou indireto contra agressões de terceiros (TARTUCE, 2022). Art. 1.210, CC: O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. §1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de esforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. §2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 Dentre as formas previstas de autotutela, temos a legítima defesa da posse e o desforço imediato, → LEGÍTIMA DEFESA DA POSSE: Quando o possuidor se acha presente e é turbado ou esbulhado no exercício de sua posse, poderá reagir. A reação deve ocorrer, portanto, no momento em que está sendo incidente a moléstia. → DESFORÇO IMEDIATO: Quando, assim que ocorrido o esbulho ou a turbação, o possuidor age para proteger sua posse. É praticado diante do atentado já consumado, mas ainda no calor dos acontecimentos29. A autotutela pode ser exercida pelo guardião da coisa, em benefício do possuidor. A reação deve ocorrer logo após a moléstia ou enquanto esta estiver acontecendo. A reação deve-se limitar ao indispensável à retomada da posse30. DA HETEROTUTELA A heterotutela ocorre quando o Estado passa a intervir na posse, de modo a protegê-la, por meio das ações possessórias. Isso decorre do direito do possuidor de invocar os interditos possessórios quando for ameaçado, molestado ou esbulhado em sua posse. Além das ações possessórias, outra forma de heterotutela é a ação das autoridades policiais, as quais poderão agir quando ainda for possível a autotutela. DA DEFESA DA POSSE A defesa da posse, quando por heterotutela, é realizada pelo Poder Judiciário, por meio das ações possessórias. O ordenamento jurídico prevê uma série de ações possessórias, as quais são aplicadas ao caso concreto a depender da moléstia que está sendo praticada. 29 ENUNCIADO N. 495, NA V JORNADA DE DIREITO CIVIL (2011): No desforço possessório, a expressão ‘contanto que o faça logo’ deve ser entendida restritivamente, apenas como a reação imediata ao fato do esbulho ou da turbação, cabendo ao possuidor recorrer à via jurisdicional nas demais hipóteses. 30 Os meios empregados, portanto, devem ser proporcionais à agressão. O excesso na defesa pode acarretar a indenização de danos eventualmente causados. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 MOLÉSTIA AÇÃO POSSESSÓRIA Esbulho Reintegração de posse Turbação Manutenção de posse Ameaça Interdito proibitório A respeito da reintegração e da manutenção, destaca-se que possuem requisitos parecidos e, por isso, são tratados em uma única seção no estatuto processual civil. Art. 560, CPC: O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho. Art. 1.210, CC: O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência eminente, se tiver justo receio de ser molestado. AÇÃO DE FORÇA NOVA X AÇÃO DE FORÇA VELHA PROCEDIMENTO O procedimento possessório é regido por normas especiais, dada a natureza da pretensão autoral. DOS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS LEGITIMIDADE ATIVA -> Terá legitimidade ativa para o ajuizamento de ação possessória a pessoa que teve sua posse molestada. O efetivo possuidor daquela área. Quem nunca teve a posse não pode valer-se dos interditos. Moléstia recente Menos de um ano e dia Moléstia velha Mais de um ano e dia Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 Art. 560, CPC: O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho. Segundo aponta Gonçalves (2022), a primeira verificação a fazer, sempre que se proponha uma ação possessória, é se há prova da posse do autor e se o direito violado é suscetível de posse. Não o sendo, o interdito deve ser indeferido liminarmente – improcedência da ação. Entretanto, será obrigatória a prova da posse, como um requisito essencial para a comprovação da legitimidade ativa. Art. 561, CPC: Incumbe ao autor provar: I – a sua posse; II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III – a data da turbação ou do esbulho; IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração. Alguns casos específicos de legitimidade: ❖ Transmissão por ato inter vivos ou mortis causa: Se alguém recebe a posse, de outrem que a tinha, mesmo que não tenha exercido efetivamente a posse será legitimado passivo. ❖ Casamento: No caso em que os posseiros são casados, deverão os dois ser parte do polo ativo da ação. Isso porque ocorre a composse31. ❖ Venda da posse sem tradição: Se o vendedor transmite a posse e não entrega a coisa, passa a ser esbulhador. Assim, o comprador terá direito aos interditos, mesmo nunca tendo exercendo a detenção física da coisa. ❖ Detenção: O detentor não tem direito à ação possessória. Entretanto, estes podem pleitear a heterotutela chamando a polícia, por exemplo. É o que ocorre com os caseiros. Estes também são legítimos para exercer a autotutela da posse em nome do legítimo possuidor. 31 Art. 73, §2º, CPC: Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticados. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 LEGITIMIDADE PASSIVA -> Em regra, será legitimado passivo aquele que efetivamente molesta a posse do Autor. São as seguintes as regras especiais para análise da legitimidade passiva. ❖ PESSOA QUE RECEBE A COISA ESBULHADA32: Cabe ação possessória contra o terceiro que recebeu a coisa esbulhada de má-fé. ❖ MOLÉSTIA PRATICADA PELO LONGA MANUS DO MOLESTADOR: Neste caso, caberá ação possessória contra o efetivo esbulhador, que será a pessoa que ordenou o esbulho. Nestas hipóteses, destacam-se as figuras dos fâmulos da posse, que protegem a posse mas não a exercem em si, apenas a protegem em nome de uma terceira pessoa (caseiros). Neste caso, se o caseiro esbulha a posse de outrem, a mando de seu patrão, o dono da coisa esbulhada poderá contra o esbulhador (patrão) ajuizar ação possessória. Caso não se saiba quem é o patrão ou se ele exista, poderá o fâmulo da posse figurar no polo passivo da ação possessória. Este, entretanto, terá o direito de chamar ao processo o seu patrão, alegando sua ilegitimidade passiva33. ❖ POSSE DIRETA E INDIRETA: Nos casos em que há posse direta ou indireta, como nos contratos de locação, o possuidor direto é legítimo passivo para figurar em ações possessórias, sendo salvo o seu direito à denunciação à lide34. ❖ ESBULHOS PRATICADOS PELO PODERPÚBLICO: Não caberá ação possessória. O que caberá será ação de desapropriação indireta, caso não tenha havido desapropriação anterior. DA PETIÇÃO INICIAL Exige-se que a petição inicial atenda aos requisitos dispostos nos arts. 555, 561 e 562 do CPC, bem como os requisitos números no art. 319 do CPC. Além dos requisitos formais, é preciso que a inicial seja instruída com elementos suficientes para provar sua posse, a turbação, a data da turbação ou a continuação da turbação. Vejamos: 32 Art. 1.212, CC: O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era. 33 Art. 339, CPC: Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar o autos pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação. 34 Art. 125, II, CPC: É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes, àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 Art. 561, CPC: Incumbe ao autor provar: I – a sua posse; II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III – a data da turbação ou do esbulho; IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração. São algumas informações importantes a respeito da petição inicial: → Não se pode ajuizar ação possessória sem que o objeto da ação seja perfeitamente individualizado e delimitado. → As partes devem ser devidamente qualificadas. OBSERVAÇÃO: Nos casos em que há invasão de grandes áreas por um número indeterminado de pessoas, tem- se admitido a propositura da ação contra os ocupantes do imóvel, que serão citados e identificados pelo oficial de justiça (art. 554, §§1º e 2º, CPC). → À causa deverá ser atribuído um valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediato. Segundo o art. 292, IV, do CPC, o valor da reivindicatória será o valor da avaliação da área ou bem objeto do pedido. PROVA DA POSSE -> Qualquer ato que exteriorize a posse. A falta dessa prova pode acarretar a improcedência da ação. Importante ressaltar que não são suficientes a prova do domínio ou as declarações de terceiros. PROVA DA TURBAÇÃO -> O autor teria que descrever quais os fatos que o estão molestando, cerceando o exercício da posse. PROVA DO ESBULHO -> O autor deve provar que sua posse foi esbulhada. PROVA DATA DA TURBAÇÃO OU DO ESBULHO -> A data da moléstia é importante para que seja definido qual procedimento será utilizado ao longo da ação possessória. É também importante para a verificação de eventual prescrição da ação, que se consuma no lapso de dez anos (art. 205, CC). Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 O procedimento especial, com apreciação do pedido liminar de reintegração de posse, apenas pode ser utilizado nos casos em que o esbulho ou a turbação foi causada em menos de um ano e dia da data de ajuizamento. Trata-se da ação de posse nova. Já nos casos em que o esbulho ou a turbação ocorreram a mais um ano e um dia do ajuizamento da ação, o procedimento a ser adotado é o comum, não se perdendo o caráter possessório. Trata-se da ação de posse velha35. Pode-se concluir, portanto, que a principal diferença entre a ação de posse nova e a ação de posse velha é o cabimento de liminar de reintegração de posse. Art. 558, CPC: Regem o procedimento de manutenção e reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial. Parágrafo Único: Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório. O prazo de ano e dia é, portanto, decadencial – fatal e peremptório. Como é contado o prazo? Em regra, o prazo começa a ser contado a partir do momento da violação da posse ou a partir do momento em que o possuidor tomou conhecimento da prática do ato36. → Esbulho pacífico: O prazo começa a contar a partir da data em que o possuidor direto deveria restituir a coisa ao possuidor indireto. PROVA DA CONTINUAÇÃO OU PERDA DA POSSE -> O autor precisa provar, na ação de manutenção de posse, a sua posse atual. Já na ação de reintegração de posse, deverá provar o esbulho. 35 É cabível a ação possessória mesmo superado o ano e dia, com a única alteração relativa ao descabimento da concessão liminar da manutenção ou reintegração. - RT, 722/168. 36 Nesta hipótese, é necessária a prova de que o possuidor efetivamente desconhecia a aludida violação de sua posse e da data em que dela tomou conhecimento. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 DA LIMINAR INAUDITA ALTERA PARTE Provando-se a posse anterior do autor e a turbação ou o esbulho ocorridos há menos de ano e dia, o juiz determinará a expedição de mandado de manutenção ou de reintegração de posse, antecipando a proteção possessória pleiteada. Art. 562, CC: Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada. Parágrafo Único: Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais. Trata-se de uma cognição sumária, na qual o juiz irá valorar as provas juntadas em exordial, verificar se estão em consonância com ao art. 561 do CPC e deferir a reintegração ou manutenção da posse. → É impossível o deferimento de liminar ao réu. → É incabível a reintegração liminar quando o pedido é cumulado com o de rescisão de compromisso de compra e venda, em razão da necessidade de ser seguido o procedimento comum para a discussão da rescisão. → Descabe medida cautelar em contraposição a liminar concedida na possessória. → Descabe a tutela de urgência nas ações de força nova, mas tão somente nas de força velha. → A decisão que concede ou denega medida liminar é interlocutória e, portanto, agravável (art. 1.015, I, CPC). O magistrado não pode indeferir a liminar antes de feita a justificação prévia nas ações de força nova. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 DA CONTESTAÇÃO Art. 564, CPC: Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos cinco dias subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 dias. Parágrafo Único: Quando for ordenada a justificação prévia, o prazo para contestar será contado da intimação da decisão que deferir ou não a medida liminar. Após a apreciação da liminar, deverá o autor promover a citação do réu. Caso não ocorra essa diligência, a liminar deverá ser revogada, pois não se pode admitir que o autor deixe de praticar os atos necessários à efetivação da citação, depois de obter a liminar, beneficiando-se indefinidamente dessa situação (GONÇALVES, 2022). → O prazo da defesa começa a contar a partir da juntada do mandado de citação cumprido. → Se for realizada a justificação prévia, o prazo começará a contar a partir da intimação da decisão que deferiu ou não a liminar. → Não se admite, como recurso de defesa, exceção de domínio. O que se discute é a posse sobre a área, não a propriedade.
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