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Fundamentos Metodológicos do Ensino da Arte e Música Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Bruno Pinheiro Ribeiro Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin A Arte e a Educação A Arte e a Educação • Estudar a história do ensino da Arte no Brasil, com alguns apontamentos que mostram as diferentes formas de se ensinar Arte; • Refletir metodologicamente sobre o ensino da Arte com base em alguns autores, destacando os trabalhos de pesquisa de Ana Mae Barbosa e Miriam Celeste Martins; • Observar a importância do estudo do ensino de Arte na formação de pedagogos para que mais mudanças sejam realizadas, a fim de oferecer, nas escolas, um ensino artístico de quali- dade e coerente com o nosso tempo. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução; • Poética; • As Transformações Históricas do Ensino de Arte no Brasil; • Por Que a Arte é Importante na Escola? UNIDADE A Arte e a Educação Contextualização Para o momento de contextualização, sugerimos a leitura de duas entrevistas da professora e pesquisadora Ana Mae Barbosa, que é uma das principais referências, no Brasil, para o ensino da Arte nas Escolas. Nas duas reportagens, Barbosa expõe sua opinião sobre a importância do ensino da Arte nas Escolas e sobre os problemas de implantar suas ideias. Nos textos, podemos perceber uma insatisfação com as Políticas Públicas para o ensino de Arte e com o problema da formação de educadores. É importante que você fique atento às argumentações sobre dois pontos centrais nesta Unidade: a relevância do ensino de Arte na Escola e a formação do professor para a qualidade do ensino das Linguagens Artísticas. Leia o texto “Ensino de Artes nas Escolas ainda é Inadequado”, por Karina Costa. Disponível em: https://bit.ly/2AaZTgE Veja o vídeo “Arte & Educação – Entrevista com Ana Mae Barbosa”, por Carlos Gustavo Yoda e Eduardo Carvalho. Disponível em: https://youtu.be/PSaZT9CqqbE 8 9 Introdução Nesta primeira Unidade de nossa Disciplina, estudaremos as transformações histó- ricas do ensino de Arte, com destaque especial para o contexto brasileiro. Antes de entrar no conteúdo propriamente dito, é preciso esclarecer que esse trabalho parte do pressuposto de que a Arte se caracteriza pela multiplicidade de práticas e conceituações. Assim, não se pretende uma definição imutável, eterna e a-histórica das ideias de Arte, nem um encerramento de suas manifestações. Ao contrário, o ensino da Arte está em diálogo constante e renovado com as modificações da Arte e da própria Educação ao longo da história, em particular, da história brasileira: As práticas educativas, assim como as outras áreas de conhecimento, surgem de mobilizações políticas, sociais, pedagógicas, filosóficas, e, no caso de Arte, também de teorias e proposições artísticas e estéticas. Quando aprofundamos nossos conhecimentos sobre essas articulações, em cada momento histórico, certamente aprendemos a compreender melhor a questão do processo educacional e sua relação com a vida. (FERRAZ; FUSARI, 2009, p. 37) Como salientado por Ferraz e Fusari, as práticas educativas, assim como as Artes e as demais áreas do conhecimento, são resultado de processos sociopolíticos ao longo do tempo. Mas além dessa perspectiva histórica da construção desses saberes e práticas, é importante ressaltar que suas dinâmicas não são isoladas em si mesmas, isto é, essas experiências se relacionam umas às outras, integrando-se no processo de percepção e produção da vida. Dessa forma, a Educação em Artes implica a reflexão constante dos significados da Arte, da Educação, de sua conexão e de sua relação inescapável com a Sociedade. Estética: Toda a estética de matriz europeia e continental, como o corrobora o texto de Welsch, tem a ver com esta história da modernidade. De resto, não deve ser por outros motivos que a língua da estética é o valorês. Rapidamente, a exemplaridade dessa história, balizada por nomes de estudiosos da estética ou de disciplinas afins. O belo foi um dom objectivo do criado que a nossa razão apreende: proporção, regularidade, consenso, unum multum, pondus, mensura […] (MORPURGO-TAGLIABUE, 19932:14); passaria depois para o domínio do subjectivo com Kant (1992). Mais tarde, Adorno reivindicaria o Belo natural kantiano para a Arte, (1982) e assistir-se-ia, por fim, à recuperação do sublime kantiano e burkiano, por assim dizer como alegoria formal da oposição ao social. Esta, a título de traço fundamental da Arte moderna, acha-se hoje em dia extremamente difundida entre o público (LYOTARD, 1989). 9 UNIDADE A Arte e a Educação Poética A partir do século XIX, (...) poética significará também determinado en- tendimento de poesia — ou de literatura em geral — característico de certo autor, época ou gênero literário, depreensível das obras por meio de análise, donde expressões como “poética de Gonçalves Dias”, “poética do modernismo”, “poética do romance”. Finalmente, em âmbito ainda mais particularizante, a palavra designa poemas em que um poeta ex- põe, em tom de manifesto, seu modo específico de conceber e praticar a poesia, podendo tais poemas receber títulos variados ou a denominação explícita de “poética” ou “Arte poética” (entre inúmeros exemplos, cite- mos: “Antífona”, de Cruz e Sousa; “Poética”, de Manuel Bandeira; “L’art poétique”, de Verlaine). Fonte: Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia | https://bit.ly/3eeiGGM As Transformações Históricas do Ensino de Arte no Brasil Ao estudarmos a história do ensino da Arte no Brasil percebemos que, na traje- tória histórica e política da Educação, constata-se a existência de várias concepções de ensino de Arte. Sem diminuir a complexidade dessa diversidade de concepções, Silva e Araújo (2007) organizam o ensino de Arte no Brasil em três grandes tendências conceituais e históricas denominadas: ensino de Arte Pré-Modernista, ensino de Arte Moder- nista e ensino de Arte Pós-Modernista. Como se percebe, o conceito Modernista aparece como fundamental, e é conso- lidado a partir de um conjunto de práticas sociais, políticas, históricas, artísticas, filosóficas etc. Essas experiências significam um processo de ruptura fundamental para a produ- ção da vida e sua consequente reflexão e, no Brasil, tem como marco a Semana de Arte Moderna de 1922. Inserida nas festividades em comemoração do centenário da independência do Brasil, em 1922, a Semana de Arte Moderna apresenta-se como a primeira manifestação coletiva pú- blica na história cultural brasileira a favor de um espírito novo e moderno em oposição à cultura e à Arte de teor conservador, predominantes no país desde o século XIX. Entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922, realiza-se no Theatro Municipal de São Paulo um festival com uma exposição com cerca de 100 obras e três sessões lítero-musicais noturnas. Leia mais sobre a Semana de Arte Moderna, disponível em: https://bit.ly/2LYHiXT 10 11 Figura 1 – Capa do Prorama da Semana de Arte Moderna de 22, autoria de Di Cavalcanti Fonte: enciclopedia.itaucultural.org O Período Pré-Modernista Embora haja experiências que podem ser entendidas como práticas educacionais de ensino da Arte no Brasil, costuma-se atribui-la à chegada da família real portu- guesa, com a chamada Missão francesa, que contava com muitos intelectuais e artistas, com destaque para Joaquim Lebreton (1760–1819), Nicolas Antonie Taunay (1755–1830), Auguste Marie Tauany (1768–1824), Charles Pradier (1786–1848) e Jean-Baptiste Debret (1768–1848). A Missão francesa é considerada por alguns autores a primeira ação de sistemati- zação do ensino de Arte no Brasil. É nesse período que o Museu Nacional, a Biblioteca Real, a Escola Real de Artes e o Observatório Astronômico são criados. Esse processo de implementação encontrou uma série de barreiras e algumas contradições fundamentais em seu interior. A formação cultural, social e política dos missionários tinha a Revolução Francesa como base assentada, norteando, assim, suascondutas, pensamentos e práticas, a partir das perspectivas burguesas. Por outro lado, a corte portuguesa e a realidade brasileira tinham como pilares de sustentação os ideários coloniais escravocratas e aristocráticos. 11 UNIDADE A Arte e a Educação Figura 2 – DEBRET “Casamento de D. Pedro e D. Amélia” Fonte: Wikimedia Commons Essas diferenças desencadearam inúmeros choques e contradições, gerando, por ve- zes, situações peculiares e específicas para a formação cultural e educacional brasileira. Nesse sentido, por exemplo, no século XIX, consolidou-se um ensino de Arte elitizado: O ensino de Arte no Reinado e no Império como da Educação Brasileira em geral, tem como prioridade o grau superior, ou seja, a formação de uma elite que defendesse a Colônia dos invasores e que movimentasse culturalmente a Corte, sendo considerado como a base para o desenvol- vimento do ensino primário e o secundário. (BARBOSA, 2008, p. 16) Esse processo formativo elitista tinha como princípios práticos de ensino artístico a observação de retratos, estampas, paisagens etc. e sua consequente reprodução. Formulava-se, então, um conceito pedagógico artístico baseado na cópia do modelo, legando, assim, ao aluno, apenas a capacidade de repetição do já construído, restrin- gindo-lhe, portanto, a imaginação, a criatividade e a possibilidade de investigação dos materiais e elementos da Linguagem. Os processos de Abolição da Escravatura (1888) e da Proclamação da República (1889) aglutinaram várias mudanças significativas no interior da Sociedade brasileira, dentre as quais o avanço do ideário liberal e positivista, que tinha a Educação como área estratégica para a difusão e o enraizamento de suas ideias e a consolidação de suas práticas sociais. Nesse horizonte, Rui Barbosa, uma das mais importantes figuras, foi responsável por reformas educacionais, dentre as quais incluía o ensino de Desenho no currículo escolar. Foi nesse período, também, que a influência das ideias liberais de vínculo da Edu- cação como preparação para a produção capitalista ganhou força. 12 13 Nesse sentido, a Educação de Arte tinha como um dos objetivos fundamentais a preparação de uma mão de obra especializada, organizando, assim, seus conteúdos a partir de princípios técnicos. A Arte se caracterizava, portanto, a partir de sua utilidade para a Sociedade do trabalho, e seu ensino se pautava pela formação de indivíduos aptos a serem futuros trabalhadores. O Período Modernista O início do século XX abre suas fileiras com a inclusão obrigatória do ensino das Artes, para além do desenho nas Escolas Primárias e Secundárias, sendo, assim, um passo importante para a ampliação do acesso aos conteúdos e práticas artísticas, mas ainda restritos às parcelas que tinham condições de acessar o Ensino Regular. É nesse período que surge o movimento de Arte-Educação influenciado pelas ideias do e ducador e pesquisador norte-americano John Dewey (1859–1952). Os primeiros escritos de Dewey foram disseminados na Educação brasileira e tinha como premissa a estimulação natural dos impulsos das crianças na atividade do desenho, caracterizando, assim, uma perspectiva naturalista de caráter esponta- neísta para o ensino da Arte: S eu método (Dewey) consistia em deixar a criança se expressar livre- mente, desenhando de memória e depois fazê-la analisar visualmente o objeto desenhado para, em seguida, executar um segundo desenho inte- grando, neste último, elementos observados do objeto real. (BARBOSA, 2002, p. 78-9) N o contexto político de tentativa de ampliação dos direitos democráticos dos anos de 1920, o papel social da Educação ganhou mais força. E é nesse momento que surge o movimento “Escola Nova”, que c oloca a Escola Primária e a Secundária como fundamentais e que a Arte na Escola deveria ser para todos, integrada, assim, de forma definitiva no currículo. A nísio Teixeira, ex-aluno de Dewey, foi uma figura importante do movimento “Escola Nova”. A Arte na Escola passou a ser valorizada e defendida a partir de sua capacidade de desenvolver a imaginação e a inteligência, de auxiliar a fixação de diversos conteúdos, levando em conta sua dimensão de experiência de Linguagem. 13 UNIDADE A Arte e a Educação Figura 3 – AMARAL, T. “Abaporu” Fonte: Wikimedia Commons Outro desdobramento do ideário modernista foi a criação das Escolinhas de Arte, que propunham o ensino da Arte desvinculado da Escola oficial. Iniciado por Noemia Varela, entre outros, esse Movimento atuou fortemente na formação do professor de Arte e trouxe maior significado à experiência de aprender Arte e se expressar por meio dela e à Educação em Arte como experiência estética e de encontros significativos. No começo dos anos de 1950, existiam 32 Escolinhas de Arte espalhadas pelo país e, além dos Cursos para crianças, as Escolinhas eram responsáveis por Cursos de Formação Continuada para professores. Pautada pelo desenvolvimento da capacidade criadora, com um trabalho de sensi- bilização e valorização do ensino artístico, as Escolinhas foram importantes para o processo de difusão da Arte-Educação. Contudo, na Escola de Ensino Oficial, predominava a visão de que a Arte é algo manufaturado, artesanal, utilitário, sem preocupação com a construção poética do objeto ou da linguagem e, ainda, de que o processo de construção da Arte se satis- fazia em procedimentos técnicos, sem construção poética. Apesar dos avanços modernistas, a diversidade de concepções de ensino da Arte no Brasil, de que resultaram práticas contraditórias entre si, agravou-se com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 5692/71, quando se implantou a área de Educação Artística como Atividade, e não como Disciplina. A área ficou solta no currículo da Escola, além de ser vista como conteúdo secun- dário na formação de crianças e jovens. 14 15 N a época, embora tenha havido ampliação do Mercado de Trabalho para o pro- fessor de Arte, não havia Cursos de Formação de professores em Arte disponíveis. Os Cursos de Licenciatura em Educação Artística começaram a existir a partir de 1973, dois anos depois da implantação da área na Escola. N esse período de falta de professores especializados em Arte, abriu-se precedente para a contratação, em caráter excepcional, de profissionais de outras áreas: publi- citários, arquitetos, desenhistas projetistas, pedagogos e professores com formação em outras áreas. Assumir aulas de Educação Artística era uma forma de completar a jornada de trabalho e a renda. C omo cada professor ensina a partir do seu repertório didático e cultural, fizeram parte do currículo da Escola, na área de Arte, atividades, como: confeccionar embala- gens, realizar plantas baixas de casas, desenhos geométricos, aulas de história da Arte sem apreciação de imagens, apenas com textos escritos, pintar desenhos prontos, fazer decoração de festas, Artesanato e lembrancinhas em datas comemorativas. Outro problema diz respeito à formação polivalente, por meio de um currículo que pretendia preparar professores em todas as Linguagens Artísticas, um equívoco conceitual que persiste até hoje. Olhando para a história do ensino de Arte, percebe-se a ressonância dos anos de assimilação da Disciplina na Escola, que levou à construção de um currículo oculto, disperso e incoerente, com as concepções de ensino e aprendizagem distantes da própria natureza da Arte, sem a construção e a compreensão da Linguagem Artística. O Período Pós-Modernista A tendência que, atualmente, tem mais força conceitual, começou a se desenvolver a partir dos anos 1980, com o processo de redemocratização do país, com a eclosão de associações de Arte\Educadores e a criação de Cursos de Pós-graduação. Esse movimento reconfigurou inúmeras questões do ensino de Arte e passou a ter como premissa fundamental a pergunta: “Como se aprende Arte”, em lugar de “Como se ensina Arte”, estabelecendo, assim, o chamado paradigma da cognição: O movimentode mudança epistemológica na forma de conceber, filosó- fica e metodologicamente, o ensino de Arte na contemporaneidade, que não ocorria desde o modernismo, não é fruto do poder legislativo, através da implantação de leis e decretos, que determinaram a obrigatoriedade do ensino de Arte na educação Escolar; antes, foi fruto da luta política e conceitual dos Arte/educadores brasileiros, que buscaram justificar a presença da Arte na educação a partir do paradigma da cognição (SILVA; ARAÚJO, 2007, p. 12) 15 UNIDADE A Arte e a Educação Um dos grandes nomes dessa geração é Ana Mae Barbosa, que se destacou por uma produção teórica e prática consistente. Barbosa, dentre tantas coisas, desenvolveu a abordagem triangular do ensino de Arte. Sem uma ordem definida, ela indica que o aprendiz de Arte deve: ler, fazer e contextualizar a Arte. Ler Obras de Arte É estimular a percepção e o conhecimento a respeito da crítica e da estética. É am- pliar repertório cultural e nutrir o olhar dos alunos sobre os aspectos que envolvem a produção de uma obra de Arte. Isso se refere a todas as Linguagens Artísticas: Dança, Pintura, Esculturas, Teatro e Música, entre outras. Fazer Arte É explorar a ação criadora na prática artística. É buscar momentos em que os alunos experimentem materialidades, processos e procedimentos no fazer artístico. Contextualizar a Arte É o exercício de pensar a respeito da Arte. A contextualização também explora os saberes estéticos, históricos e culturais. Quando contextualizamos a Arte, devemos fazê-lo relacionando Arte à vida. Na Edu- cação, isso acontece quando podemos entender a Arte de forma interdisciplinar. Alguns métodos de ensino influenciaram a abordagem triangular. A preocupação em torno do conhecer, do apreciar e do fazer Arte, conhecida, no Brasil, como pro- posta triangular, teve influências de métodos norte-americanos. Veja alguns: • Comparativo; • Multipropósito; • DBAE (Discipline-Based Art Education). De forma geral, esses métodos envolvem realizar uma leitura comparada de várias obras de Arte de diversos períodos para que o aluno perceba as diferenças e as similaridades. Há preocupação com a formação do pensamento crítico com processos de ler e pensar a Arte, entre eles: • Descrever; • Analisar; • Interpretar; • Julgar. 16 17 O método Multipropósito propõe momentos em que os aprendizes de Arte expe- rimentem: • Exercício de ver; • Exercício de aprendizagem da Arte; • Extensões da aula; • Produzir artisticamente. Figura 4 – BASQUIAT, M. “Sem título” Fonte: Wikimedia Commons As pesquisas desenvolvidas, nos anos de 1980, contribuíram muito para repensar as práticas e os conceitos a respeito do ensino de Arte. Porém, a frágil formação da maioria dos educadores não deu conta de compreender a complexidade da Arte, reduzindo as propostas de construção de saberes nas linguagens artísticas a meras atividades executáveis em sala de aula, como o caso das releituras vazias, com ênfase na cópia e não na compreensão e na ressignificação da obra de Arte para o aluno. Nesse sentido, a s novas concepções de ensino de Arte, que propunham a aborda- gem triangular (ler, fazer e contextualizar), não foram exploradas de forma adequada, pois o foco dessas práticas ficou preso à bibliografia, à poética, à forma e ao contexto do artista, e pouco se explorou a poética do aluno ou o processo de criação autônomo. E ntre os anos de 1980 e 2000, foram publicados vários Livros e Artigos de Revistas no Brasil com o objetivo de fundamentar melhor a prática dos professores de Arte e, consequentemente, dos(as) pedagogos(as) que trabalhavam com a Arte nas aulas da Educação Infantil ou no Ensino Fundamental I. 17 UNIDADE A Arte e a Educação Entre esses estudos, a proposta da Professora Doutora Ana Mae Barbosa (1998) apresentou três eixos conceituais de aprendizagem no percurso do ensinar e aprender as linguagens artísticas. A formação do educador deveria abranger temas, como os apresentados a seguir. • Fazer/criação/produção: Espaços em que os estudantes de Arte ou peda- gogia pudessem experimentar materiais, elementos de linguagens artísticas e poéticas pessoais; • Ler/percepção/análise: Momentos de apreciação artística em contato com obras de Arte originais em Museus e Espaços Culturais ou por reproduções em que os aprendizes pudessem perceber como os diferentes artistas em diversifica- das épocas produziram suas obras e como essas obras dialogam com universo do apreciador; • Contextualização/reflexão/compreensão: Oportunidades de conhecer, viven- ciar e fruir obras artísticas, para que os aprendizes pudessem ampliar seus re- pertórios culturais além de nutrir sua formação estética. Por Que a Arte é Importante na Escola? Uma resposta possível da professora e pesquisadora de Arte Mirian Celeste Martins seria: “[...] a Arte é importante na Escola, principalmente porque é impor- tante fora dela” (MARTINS, 2010, p. 12). É nessa ideia que estamos embasando nosso diálogo sobre o ensino de Arte, hoje, nas Escolas. Durante muito tempo, a Arte foi colocada em segundo plano no cenário da maioria das Escolas no Brasil. Hoje, esse conceito está mudando, mas há, ainda, muitos equí- vocos a respeito da concepção de ensino de Arte e sua importância na Escola. Hoje, encontramos muitos caminhos para pensar uma proposta de ensino de Arte. Quando pensamos em uma obra de Arte, uma Pintura, por exemplo, ou uma Peça de Teatro, uma Música, podemos refletir sobre em que momento essa obra foi produzida, que assuntos levaram o artista a criar imagens com formas e temáticas, como articulou linhas, elementos, expressões, cores e outros perceptíveis elementos visíveis em suas obras visuais ou, ainda, na Linguagem Cênica e Musical? Nós nos perguntamos que materiais ele usou para compor sua pintura, cenário, figurino, qual foi o processo de criação que o levou a fazer uma imagem ou uma representação cênica ou uma música tão impressionante capaz de fazer com que nós, apreciadores, nos emocionemos diante da obra artística? São muitos os momentos, processos e procedimentos que fazem parte da história de uma obra de Arte. 18 19 Com as crianças na produção da sua Arte também não é diferente: quanto mais o professor explorar as potencialidades dos assuntos, materiais e processos de criação, melhor será a experiência na construção da Linguagem Artística. Assim, é importante criar situações de aprendizagem que proponham a contextualização, a reflexão, a experimentação, o pensamento imaginativo e os construídos. A concepção de ensino de Arte, hoje, prima pelas ideias de que a Arte é conhe- cimento, uma linguagem complexa e expressiva que desenvolve percepção sensível de mundo e mentes criadoras. O ensino artístico tem a preocupação com a Educação estética e a acessibilidade aos bens culturais para formar cidadãos conscientes de seus papéis culturais. O estudo do ensino de Arte na formação de pedagogos é fundamental para que mais mudanças sejam realizadas, a fim de oferecer, nas Escolas, um ensino artístico de qualidade e coerente com o nosso tempo. O pedagogo, além de atuar no ensino de Arte em séries iniciais, também pode ocupar cargos de coordenação e orientação pedagógica. Nesse sentido, conhecer os conceitos e as novas propostas didáticas para o ensi- no de Arte é fundamental nesse processo de valorização da Arte na Escola. Figura 5 – BANKSY Fonte: dzjezz.org 19 UNIDADE A Arte e a Educação Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites E-Dicionário de Termos Literários LYOTARD. Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia, 1989. https://bit.ly/3eHC2o7 Vídeos História do Ensino da Arte no Brasil https://youtu.be/KyjPjAM784o Ana Mae Barbosa: Arte não se Ensina; Contamina-se pela Arte https://youtu.be/ROz0EPOdkc0 Entrevista com Ana Mae Barbosa https://youtu.be/lcSg2xdLzuI Leitura Arte-Educação no Brasil: Realidade Hoje e Expectativas Futuras Relatoencomendado pela UNESCO à INSEA. https://bit.ly/3d1dCW7 A Importância do Ensino das Artes na Escola https://glo.bo/2XnUkDI 20 21 Referências BARBOSA, A. M. A imagem no ensino de Arte. 7.ed. São Paulo: Perspectiva. 2009. _______; CUNHA, T. P. (org.). Abordagem triangular no ensino das Artes e cul- turas visuais. São Paulo: Cortez, 2010. _______. Inquietações e mudanças no ensino da Arte. São Paulo: Cortez, 2008. _______. John Dewey e o ensino de Arte no Brasil. São Paulo: Cortez, 2002. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil: Conhecimento de Mundo. Brasília: Mec/Sef, 1998. _______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Brasília: MEC/SEF, 1997. FUSARI, M. F. R; FERRAZ, M. H. C. T. Metodologia do ensino da Arte. 2.ed. São Paulo: Cortez, 1999. (Coleção Magistério. Série Formação do Professor). MARTINS, M. C.; PICOSQUE, G.; GUERRA, M. T. Teoria e prática do ensino de Arte: a língua do mundo. São Paulo: FTD, 2010. SILVA, E. M; ARAÚJO, C. M. Tendências e concepções do ensino de Arte na Educação Escolar brasileira: um estudo a partir da trajetória histórica e sócio epis- temológica da Arte/Educação. In: Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), 30, 2007, Caxambu, 2007. SOARES, C. A. O ensino de Arte na Escola brasileira: fundamentos e tendências. 2016. 100 p. Universidade de Uberaba, Uberaba, 2016. Sites Visitados LYOTARD. Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia, 1989. Disponível em: <https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/estetica/>. Acesso em: 22 mai 2020. 21
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