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LOMBALGIA - ESTUDO DIRIGIDO (QUESTÕES COMENTADAS) 1. Analise as seguintes situações clínicas: Paciente A: Homem de 63 anos com dor lombar de intensidade moderada, contínua, há 10 dias. Não há alívio com analgésicos simples nem com repouso, e ele já acorda com dor. Não há febre, perda de peso nem histórico de neoplasias. Exame clínico, incluindo coluna lombar, sem achados significativos. Paciente B: mulher de 29 anos, sedentária, com dor lombar intensa há 3 dias, após realizar mudança de casa, em que carregou objetos pesados. A dor é pior no fim do dia, tem alívio pequeno com paracetamol e melhora quando ela se deita. Não há histórico de trauma local, febre ou perda de peso. Exame clínico, incluindo coluna lombar, sem achados significativos. É correto afirmar que a. ambos os pacientes podem ser abordados inicialmente, com segurança, sem investigação adicional. b. ambos os pacientes requerem investigação adicional. c. o paciente A pode ser abordado inicialmente sem investigação adicional, enquanto a paciente B requer investigação adicional. d. a paciente B pode ser abordada inicialmente, com segurança, sem investigação adicional, enquanto o paciente B requer investigação adicional. Feedback O paciente A apresenta sinais de alerta para lombalgia específica: idade, que aumenta os riscos de neoplasia primária ou metastática, e a dor contínua, que não melhora com repouso. Logo, sua abordagem requer investigação adicional (que inclui um estudo radiológico da coluna e um hemograma). Já a paciente B tem dor aguda sem sinais de alerta. Para ela, a abordagem empírica, sem testes adicionais, é, portanto, segura. AINEs podem ajudá-la. Observação: não devemos comparar a intensidade das dores de pessoas diferentes: o que é moderado para um pode ser percebido como intenso para outros. Essa classificação só tem sentido se for usada para a mesma pessoa: se a paciente B, por exemplo, retornar dizendo que a dor que antes era intensa agora é leve, ou ainda se o paciente A voltar queixando que a dor, que ele antes classificava como sendo de intensidade 6 numa escala de 0 a 10, agora é percebida como 9. A resposta correta é: a paciente B pode ser abordada inicialmente, com segurança, sem investigação adicional, enquanto o paciente B requer investigação adicional. 2. Uma mulher com dor em região lombar irradiando para a perna direita, até o pé, com sensação de anestesia na panturrilha direita, com redução do reflexo aquileu direito e dificuldade para andar nas pontas dos pés tem provável comprometimento de: a. S1 b. L4 c. L3 d. L5 A localização de uma radiculopatia nos ajuda a pensar hipóteses diagnósticas (a ciatalgia é a mais frequente) e também direciona exame de imagem quando este for necessário: precisamos definir, por exemplo, quais segmentos serão registrados em uma tomografia, podendo haver limitações por pedido (ex, três segmentos: L3-L4, L4-L5, L5-S1). Logo, lesões em L4 acarretam dor que irradia pela região anterior da perna, pode haver perda de força do quadríceps (que pode ser percebida pela dificuldade de agachar e levantar), dormência na coxa/joelho e redução do reflexo patelar. Lesões em L5 cursam com dor que irradia para a lateral da perna e face dorsiflexora do pé, podendo haver dormência na face lateral da perna, dificuldade para caminhar sobre os calcanhares e para realizar a dorsiflexão do pé/hálux. Lesões em S1 cursam com dor na face mais posterior da perna e região lateral do pé, podendo haver dificuldade para caminhar sobre as pontas dos pés e redução do reflexo aquileu. Lembre-se de comparar os reflexos (a assimetria é melhor indicativo do que a redução bilateral) e de que, nos idosos, os reflexos podem estar diminuindos sem que haja lesão do seu arco reflexo (neste caso, diminuído bilateralmente). A propósito, você se lembra da classificação de força? Aí vai: 0: nenhum movimento 1: movimenta músculo mas não articulação 2: move a articulação mas não vence gravidade 3: vence a gravidade mas não vence a resistência 4: vence a resistência mas com redução força (4 + redução discreta; 4 - redução significativa) 5: normal A resposta correta é: S1 3. Um homem de 39 anos tem dor lombar moderada-intensa irradiando para a face anterior da perna esquerda, até o pé, há 7 dias. Não há histórico recente de trauma local, e ele só se lembra de ter tido um pouco de dor de garganta há cerca de 3 semanas. Ele tem feito uso de AINE com alívio parcial do sintoma que, no entanto, o incomoda quase todo o tempo. Não percebe um momento do dia ou da noite em que a dor seja mais leve. Ele é hígido e nega uso de medicamentos ou drogas. Ao exame está abatido, corado, anictérico, TAX= 37,9oC, sem lesões aparentes em tronco. Anda sem dificuldade. A manobra de Lassegue reproduz a dor do paciente num ângulo de cerca de 45 graus. Há uma leve redução da força quando ele levanta a perna esquerda contra resistência, assim como o reflexo patelar esquerdo está diminuído quando comparado ao reflexo direito. Uma abordagem inicial adequada para este paciente é a. referenciá-lo para unidade de pronto-atendimento para investigação adicional. b. manter apenas o AINE, solicitar estudo radiológico simples de coluna lombossacra, indicar repouso por três dias e reavaliá-lo a seguir. c. associar um opioide ao AINE e reavaliá-lo se não houver melhora em até 4 semanas. d. substituir o AINE por um opioide e reavaliá-lo em 10 dias. Feedback O paciente tem indícios de radiculopatia acometendo L4 (dor que irradia para a face anterior da perna, abaixo do joelho, com redução de força do quadrícepes e do reflexo patelar). A causa mais frequente é herniação de disco intervetebral que, na maioria dos casos, é revertida espontaneamente. No entanto, há outras possibilidades, como tumores e abscessos. O paciente tem dor contínua, que não melhora com repouso, refratária ao uso de AINE. Além disso está febril e relata infecção de vias aéreas superiores nas semanas que antecederam a dor lombar (e que pode dar origem a bacteremia, assim como lesões de pele). Logo, investigar infecção é muito importante. Na UPA ele poderá realizar exames como hemograma e hemoculturas e a ter acesso a ressonância, que é o estudo radiológico mais indicado para visualização de partes moles. A resposta correta é: referenciá-lo para unidade de pronto-atendimento para investigação adicional. 4. Homem de 53 anos com dor lombar aguda intensa que não melhora com repouso realiza estudo radiológico da coluna lombar cuja imagem na incidência oblíqua está representada a seguir. A imagem mostra a. fratura em ístmo de L5 b. implante metastático em S1 c. radiologia normal d. osteófitos marginais Feedback Tente identificar o cachorro escocês nas vértebras. Observe que, na segunda de cima para baixo o "pescoço" do cachorro não está íntegro. Compare com a imagem da vértebra anterior; resposta correta é: fratura em ístmo de L5 5. Analise os casos clínicos a seguir: 1) Homem de 53 anos com dor lombar baixa há 2 semanas, leve-moderada, com alívio parcial com paracetamol. Na anamnese espacial queixa disúria e ejaculação dolorosa, sintomas que vão e voltam desde que ele descobriu que tem a próstata aumentada há alguns meses. Não lembra se, das outras vezes em que teve sintomas urinários, teve dor lombar também. Está afebril, em bom estado geral e não tem dor à palpação ou mobilização da coluna. 2) Mulher de 55 anos com dor lombar há 10 dias, depois de cair sentada ao escorregar na cozinha. A dor a tem incomodado mesmo ao repouso e não melhorou com o uso de AINE, que ela vem tomando diariamente desde o início da dor. Ela tem DPOC e nos últimos tempos teve várias descompensações para as quais fez uso de corticoide oral. Ao exame tem deambula com certa dificuldade e tem dor à palpação da coluna, em topografia compatível com transição da coluna lombar para sacral.O exame complementar prioritário na investigação da dor lombar dos pacientes 1 e 2 é Escolha uma opção: a. estudo radiológico da coluna lombossacra para ambos os pacientes. b. estudo radiológico da coluna lombossacra para o paciente 1 e densitometria óssea para a paciente 2. c. urina rotina para o paciente 1 e estudo radiológico da coluna lombossacra para a paciente Feedback Dor lombar pode ter origem fora da coluna e suas estruturas de sustentação. Podem causar o sintoma: •ITU, incluindo prostatite •Pneumonia (especialmente de base) •Colecistite •Pancreatite •Endometriose •Aneurisma aorta abdominal Como o paciente se queixa de disúria, o exame de urina tem prioridade para avaliar a possibilidade de ITU. A paciente 2 tem trauma de baixo impacto, mas como tem feito uso de corticoides, o que é fator de risco para osteopenia e, portanto, para fraturas, e não teve alívio com AINE, a radiologia faz-se necessária. Densitometria pode ser relevante no seguimento da paciente, mas não para diagnóstico da sua dor aguda. A resposta correta é: urina rotina para o paciente 1 e estudo radiológico da coluna lombossacra para a paciente 2. 6. Homem de 62 anos tem dor lombar há 30 dias, que vem piorando em intensidade desde que começou. A dor atualmente é moderada e ele encontra algum alívio com uso de paracetamol, mas não total. Não tem febre, hiporexia e não notou perda de peso. Ao exame está afebril e tem dor à palpação da região lombar. Percebe-se pequena dificuldade para deambular e perda de força de MMII (4-). Está usando uma sonda vesical de demora inserida depois que teve, nos últimos 15 dias, dois episódios de retenção urinária para a qual aguarda avaliação urológica. Uma abordagem adequada para o paciente é a. substituir o paracetamol por um AINE e reavaliá-lo em 3 dias. b. associar opioide fraco ao paracetamol e reavaliá-lo em 7 dias. c. referenciá-lo à ortopedia com prioridade habitual. d. encaminhá-lo para unidade de pronto-atendimento. Feedback O paciente tem um importante sinal de alerta: retenção urinária, que pode ser causada por alterações urológicas, mas não apenas: pode ser secundária a alteração medular. E a dor lombar precede em poucos dias a retenção, então é necessário que se avalie e a relação entre os sintomas. Pode ser um quadro infeccioso ou neoplásico neoplásico com danos que podem ser permanentes se não for tratado a tempo. É portanto uma urgência, e o paciente deve ser referenciado para UPA. A resposta correta é: encaminhá-lo para unidade de pronto-atendimento. 7. Maria Antônia, 46 anos, faxineira, queixa dor nas costas há seis meses, iniciada após ter dado “mau jeito” ao levantar um balde com roupa. Não está em uso de nenhuma medicação atualmente e atribui, em escala visual numérica de 0-10, nota 6 para a dor no momento da consulta, localizando-a na região lombar baixa. Refere períodos de exacerbação quando faz esforço físico em casa ou no trabalho, e quando está mais ansiosa. Procurou o PA nesse período, onde lhe foi administrada injeção, cujo nome não sabe referir, e prescrito diclofenaco sódico para tomar em casa durante sete dias, com melhora parcial e temporária do sintoma. Precisou faltar ao trabalho em virtude da dor por duas vezes no último mês e sente que a relação com seu chefe está comprometida em função disso, pois acha que, na empresa, não acreditam na dor que vem sentindo. Está bastante preocupada, pois tem uma vizinha que teve quadro semelhante e não conseguiu mais trabalhar, tendo ficado praticamente acamada. Está ansiosa e pergunta várias vezes durante a consulta se deve se afastar do trabalho para realizar tratamento e também para saber se pode fazer seus afazeres domésticos. Está obesa (IMC=31) e apresenta discreta lordose ao exame físico, sem, no entanto, alterações no exame neurológico. A causa específica da dor desta paciente provavelmente - Escolha uma opção: a. é radiculopatia com comprometimento do nervo ciático. b. não poderá ser identificada. c. é espasmo da musculatura paravertebral. d. é artrose da coluna lombar. A dor inespecífica é também chamada de dor mecânica, ou mecano-postural. Pressupõe alterações inflamatórias e/ou degenerativas, como artrose, espasmo muscular, desidratação e inflamação de disco intervetebral, entre outros, mas é muito difícil identificar qual ou quais componentes são responsáveis pela dor de um paciente específico, mesmo se lançarmos mão de exames radiológicos: da radiografia simples à ressonância, essess achados estão presentes em pacientes com e sem dor. Por isso o estudo radiológico nos pacientes com dor lombar inespecífica tem papel coadjuvante: só se justifica para descartar outras condições. Esta paciente tem dor de característica inespecífica, logo não é possível ter clareza de qual ou quais processos são responsáveis pelo sintoma. A resposta correta é: não poderá ser identificada. 8. Relembrando o caso... Maria Antônia (...) refere dor nas costas há seis meses, iniciada após ter dado “mau jeito” ao levantar um balde com roupa (...). Refere períodos de exacerbação quando faz esforço físico em casa ou no trabalho. A dor desta paciente é classificada como Escolha uma opção: a. recorrente. b. intermitente. c. crônica. Feedback As classificações que encontramos na literatura atual sobre dor lombar, no que se refere à cronologia, são: ● aguda: duração inferior a 3 meses; ● crônica: duração superior a 3 meses; ● recorrente: duração menor que 3 meses mas que volta após o paciente ficar um período sem dor que prejudique suas atividades. Ou ainda: ● aguda: até 4 semanas ● subaguda: entre 4-6 semanas e 3 meses. A resposta correta é: crônica. 9. O principal mecanismo de persistência (cronificação) da dor desta paciente, é, provavelmente: a. um ciclo vicioso de lesões mediado por isquemia tecidual. b. uma hipersensibilidade a estímulos sensoriais relacionados a lesão neuronal. c. a liberação contínua de mediadores inflamatórios em estruturas da coluna vertebral. d. uma desregulação das vias opioides endógenas. Feedback Esta é uma pergunta bem difícil! Para entendermos os mecanismos relacionados à cronificação da dor, vamos retomar alguns conceitos de neurotransmissão e regulação. Relembrando: A dor começa num episódio que a paciente chama de “mau jeito” na coluna, após pegar um balde pesado. Nesse momento podemos imaginar que a extensão da coluna em contrapeso ao balde possa ter danificado tecidos da coluna e/ou estruturas paravertebrais. Pode ter havido um espasmo muscular e/ou estiramento de ligamentos, por exemplo. Ou pode ter havido o extravasamento de um disco intervertebral para fora de seus limites anatômicos gerando ou agravando alguma inflamação local ou a compressão de uma raiz nervosa. Enfim, uma injúria tecidual que desencadeou um processo de liberação de mediadores inflamatórios que ativaram, num primeiro momento, as vias rápidas da dor (A delta). A dor aqui é geralmente localizada e mais facilmente descrita quanto à qualidade: aperto, queimação, fincada. A seguir, as vias da dor e as substâncias envolvidas. A maioria dos pacientes com quadro de lombalgia aguda vai apresentar resolução espontânea da dor em até 3 meses, mesmo sem intervenção médica. Esta é a história natural da lombalgia aguda inespecífica. Alguns pacientes, porém, evoluem com cronicidade/recorrência do sintoma (cerca de 30% em um ano), que com maior ou menor frequência acomete o paciente e que tem grande potencial de interferir negativamente em seu bem-estar, relacionamentos interpessoais e capacidade para o trabalho, como é o caso desta paciente. Por que isso acontece com ela? A ativação da via nociceptiva, resultante de um dano tecidual, pode desencadear uma série de modificações complexas na transmissão neural. Destaco a liberação do fator de crescimento neural que, por sua vez, aumenta a liberaçãoda substância P, convertendo neurônios não-nociceptivos em nociceptivos (ou seja, de dor). Ocorre brotamento de fibras nervosas promovendo sinapse de receptores táteis com os neurônios do corno dorsal da medula que, normalmente, recebe apenas estímulos dolorosos. Estas são alterações fenotípicas, portanto duradouras, que contribuem para dois fenômenos importantes: a hiperalgesia, que é a resposta exagerada a um estímulo nocivo, e a alodinia, que é a sensação de dor gerada por um estímulo normalmente inócuo. No caso desta paciente podemos imaginar que uma injúria habitualmente percebida como tolerável (um espasmo muscular passageiro, que estimula as vias nociceptivas habituais) provoque dor percebida como importante (hiperalgesia) e/ou que o esforço habitual da coluna (flexão, extensão, rotação) seja suficiente para provocar dor (alodinia). Ou seja: na dor crônica pode haver dano tecidual pequeno (que pode envolver inflamação e isquemia), ou mesmo não mais haver dano tecidual algum. Ainda assim, a percepção de dor é real e pode, em casos extremos, ser mesmo incapacitante. Esta dor que persiste após a resolução da injúria tecidual aguda é também chamada de dor neuropática. Logo, a dor desta paciente, crônica, está provavelmente relacionada às alterações neuronais e à hipersensibilidade. Observação importante: estes fenômenos estão relacionados, principalmente, às vias de dor lentas (fibras C). A ativação destas vias provoca sensação incômoda, intensa, difusa, “surda”, diferente da dor aguda, portanto. Por isso a dor crônica é mais difícil de localizar e qualificar. Não é o paciente que “informa mal”: é difícil mesmo descrevê-la. A resposta correta é: uma hipersensibilidade a estímulos sensoriais relacionados a lesão neuronal. 10. A paciente relata que em períodos em que se sente ansiosa, sua dor piora. É possível que isso se deva a Escolha uma opção: a. fatores locais da coluna, como espasmo muscular, e de processamento cortical dos estímulos dolorosos. b. fatores locais da coluna, como inflamação, apenas. c. processamento cortical dos estímulos dolorosos, apenas. Feedback A dor é modulada em várias etapas de sua transmissão nos diferentes níveis do sistema nervoso. A dor pode, por exemplo, ser exacerbada por um episódio de ansiedade tanto por promover contração muscular (que estimula os receptores nociceptivos periféricos) quanto por alterar a percepção consciente do sintoma. Há estudos mostrando até mesmo possíveis alterações estruturais corticais e subcorticais, com alteração funcional, associadas à dor crônica! Ao avaliar um paciente com dor crônica será tão importante tentar diferenciar dor nociceptiva de neuropática quanto entender quem é o paciente que a sente e em que momento de vida ele está. A resposta correta é: fatores locais da coluna, como espasmo muscular, e de processamento cortical dos estímulos dolorosos. 11. Assinale todas as alternativas que são fatores de risco para lombalgia crônica incapacitante. Escolha uma ou mais: a. Obesidade. b. Gênero feminino. c. Idade >40 anos. d. Atividade laboral fisicamente exigente. Feedback No caso da dor lombar, entende-se hoje que as consequências da dor, como presistência e prejuízo laboral, envolve outros fatores, como genética e comorbidades. Veja uma relação proposta para compreensão da dor lombar incapacitante4. A dor crônica é mais frequente em mulheres acima dos 40 anos, como esta paciente. Outros fatores que parecem estar associados a dor lombar com prejuízo funcional são a história de episódios prévios, intensidade da dor, presença de dor em MMII, sobrepeso/obesidade, tabagismo, sedentarismo, atividade laboral fisicamente exigente, baixa escolaridade, ganho secundário e insatisfação com o trabalho. Alguns fatores psicológicos também podem estar contribuindo para que a dor desta paciente lhe traga prejuízo funcional relevante: · Estados de depressão e ansiedade. · Percepção irracional de que as coisas são muito piores do que a realidade (“catastrofismo”). · Baixa confiança na própria capacidade de administrar eventos da vida (baixa auto-eficácia). Por exemplo, o medo da paciente de que a dor possa provocar invalidez pode ter pesado nas ausências ao trabalho tanto ou mais que a própria dor. Afinal, faz sentido pensar que o repouso vai melhorar o quadro e evitar o desfecho catastrófico quando acredita-se que as atividades físicas são a causa do problema. Isso alterou a relação da paciente com sua chefia. A redução da capacidade para o trabalho desta paciente já se tornou, portanto, real, e isto tem pouco a ver com os mecanismos fisiopatológicos periféricos da dor. Este é um fenômeno que médicos e pesquisadores têm encontrado em pacientes com dor lombar mundo afora, independentemente das suas condições socioeconômicas. As respostas corretas são: Idade >40 anos., Atividade laboral fisicamente exigente., Obesidade., Gênero feminino. 12. Percebendo que tinha muitos pacientes com quadro clínico semelhante de dor lombar inespecífica, uma médica de família pensa em criar um grupo de trabalho voltado para eles, com encontros semanais para o qual seriam convidados todos os pacientes com lombalgia inespecífica há mais de três meses e também aqueles com dor há menos de três meses mas que tenham fatores de risco para cronificação. Ela pensa em três momentos: 1. o primeiro para que os pacientes troquem experiências sobre sua dor, incluindo o medo que ela desperta, e para explicar, de forma acessível, os mecanismos da dor crônica. 2. o segundo para, com apoio de um educador físico, praticarem exercícios de reeducação postural e relaxamento. 3. o terceiro, também com apoio de educador físico, para aprenderem a usar com segurança aparelhos públicos de atividade física que ficam na vizinhança. A proposta da médica é a. parcialmente adequada porque exercícios de relaxamento são ineficazes no tratamento da dor crônica. b. inadequada porque apenas três encontros são insuficientes para promover alívio sintomático. c. parcialmente adequada porque pacientes com dor aguda/subaguda não devem realizar atividade física alguma. d. adequada, havendo evidências de que as três estratégias contribuem para a prevenção/controle da dor crônica. Feedback Há evidências (ainda que não sejam de qualidade ótima, o que é mesmo bem difícil de obter quando há muitos fatores envolvidos, como é o caso da dor crônica) que a educação dos pacientes para o sintoma, incluindo a abordagem do medo/catastrofismo, ajudam os pacientes a encontrar alívio, assim como a prática de atividade física, incluindo as de baixo impacto, e a reeducação postural. Como a dor crônica tem processamento cortical e envolve ansiedade, técnicas de relaxamento, quando bem aceitas, podem auxiliar. Como os pacientes que serão convidados tem diagnóstico de lombalgia inespecífica, não há contraindicação a nenhuma atividade proposta, mesmo quando ainda há dor, e pacientes com dor aguda/subaguda com risco de cronificação também podem se beneficiar de intervenções precoces. Três encontros provavelmente serão insuficientes para promover melhora clínica significativa, mas a proposta é, essencialmente, educativa e de instrumentalização dos pacientes para, individualmente, mudarem hábitos de vida. Um problema frequente dessas iniciativas é que elas são, em geral, propostas para horário comercial, quando muitos dos pacientes não podem comparecer por estarem trabalhando. A resposta correta é: adequada, havendo evidências de que as três estratégias contribuem para a prevenção/controle da dor crônica. 13. Mulher de 46 anos, professora do ensino fundamental, queixa dor lombar, em aperto, de intensidade moderada, sem irradiação, há cerca de dois anos. A dor piora ao longo do dia e melhora no repouso, e a paciente se sente melhor nos fins de semana e nas férias. Nãohá relato de trauma local, febre, perda de peso. Não tem histórico de câncer na família e nunca teve doenças graves no passado. O sintoma vinha em crises intercaladas com períodos de melhora e respondia bem a analgésicos como paracetamol e ibuprofeno. Nos últimos três meses, porém, já não tem alívio completo com estas medicações, e passou então a tomar nimesulida. A dor melhora com esta medicação, que ela tem tomado 3-4 vezes/semana. Ao exame está em bom estado geral, corada, IMC=28, exame dos aparelhos cardiovascular e respiratório normais. Sem deformidades na coluna, força, marcha, equilíbrio e sensibilidade de MMII normais. Hemograma normal. Estudo radiológico simples da coluna lombar em três incidências não mostrou alterações específicas. Considerando o diagnóstico mais provável desta paciente, uma abordagem farmacológica adequada para sua dor é: a. uso de um inibidor seletivo de recaptação da serotonina. b. prescrição de opioide fraco em substituição aos analgésicos usados até então. c. referenciar à ortopedia para infiltração local de corticoide. d. prescrever corticoide associado a vitamina B12 intramuscular. Feedback A paciente tem dor lombar inespecífica. Como a dor se tornou mais frequente, e já não respondia às medicações habituais, foi muito importante rever o exame clínico e realizar o estudo radiológico para descartar causas como fraturas ou neoplasias. Isso não significa, porém, que a abordagem seja fácil, como o uso frequente de AINE pela paciente indica. A revista Lancet fez, em 2018, uma extensa revisão das evidências sobre a abordagem da dor lombar. Veja as conclusões relacionadas à eficácia das intervenções não farmacológicas que eles reportaram: A educação do paciente em relação ao sintoma (o que é, o prognóstico, os pilares do tratamento) é uma intervenção que tem mostrados resultados positivos. A manutenção das atividades físicas habituais, incluindo as laborais, também: a imobilidade tem demonstrado piorar o prognóstico de pacientes com dor crônica. Calor local talvez ajude na dor aguda mas não ha evidência de benefício na dor crônica. E quanto ao tratamento farmacológico? A seguir, as conclusões da Lancet. Para uma paciente que tem feito uso frequente de AINE, um inibidor seletivo de recaptação da serotonina (ISRS) pode ser considerado. A seguir algumas características farmacológicas da fluoxetina, ISRS disponível na farmácia básica de BH. Para comparação, vão também as características da nortriptilina, um antidepressivo tricíclico com menos efeitos anticolinérgicos e cardiovasculares. *visão turva, boca seca, constipação, retenção urinária. Lembre-se que os efeitos anticolinérgicos são especialmente problemáticos para idosos, e medicações com estes efeitos estão contraindicadas na hipreplasia prostática benigna e no glaucoma de ângulo estreito. Mas é importante ressaltar que o resgate do bem estar desta paciente depende fundamentalmente de medidas não farmacológicas, entre as quais se destacam a perda de peso e a prática de atividade física. Para a paciente em questão pode-se pensar em iniciar fluexetina, 10mg ao dia, pela manhã, por 4-6 semanas, se bem tolerada, avaliando o resultado após este período. Investir assim que possível em mudanças no estilo de vida, em especial a prática de atividade física regular. Se bem sucedido, o tratamento pode ser mantido por cerca de seis meses, avaliando-se então sua suspensão. Pode-se considerar aumentar a dose se houver falha terapêutica, respeitando os limites de segurança da medicação escolhida. Prescreva com muita cautela opioides para pacientes com dor crônica, apenas nas crises, por poucos dias, quando não houver opção melhor, já que há o risco de dependência. Corticoides intramusculares não têm se mostrado eficazes no tratamento da dor e a infiltração deve ser reservada para casos de falha das medidas conservadoras. A resposta correta é: uso de um inibidor seletivo de recaptação da serotonina. 14. A professora da questão anterior passou a fazer caminhadas e a usar fluoxetina 10mg dia, medicação que tolerou bem. Após cerca de 6 semanas, observou melhora da dor, e os AINEs passaram a ser usados apenas de vez em quando. Quatro meses depois, no entanto, foi demitida do trabalho. Desde então a dor ficou mais frequente e ela tem feito uso de AINEs quase todos os dias. Tem acordado ainda de madrugada, e não consegue retomar o sono. Sente-se triste e sem energia. Parou de fazer as caminhadas ou qualquer outra atividade fora de casa. A melhor opção farmacológica para esta paciente parece ser a. suspender a fluoxetina e iniciar diazepan. b. manter a fluoxetina na dose atual e prescrever tramadol para as crises de dor. c. manter a fluoxetina na dose atual por pelo menos um ano. d. aumentar a dose de fluoxetina para 20mg ao dia. Feedback A perda do emprego parece ter desencadeado um episódio de transtorno depressivo: ela tem tristeza e falta de energia (sintomas maiores) associadas a insônia terminal e retraimento social há dois meses. A piora da dor está provavelmente relacionada ao transtorno do humor, logo a abordagem da depressão se torna central. Apesar de ter tido boa resposta da dor à fluoxetina 10mg, pode necessitar de doses mais altas para a depressão. Ela deve receber apoio para retomar os bons hábitos de vida e reduzir o uso de analgésicos. Trocar AINE por opioide traz o risco de uso abusivo desta medicação. A prescrição de benzodiazepínico em episódio depressivo, quando necessária, deve ser feita em associação a uma medicação antidepressiva e restrita aos primeiros dias/semanas de tratamento. Psicoterapia ou atividades de apoio, individual ou de grupo, se disponíveis, podem ser oferecidas. A resposta correta é: aumentar a dose de fluoxetina para 20mg ao dia.
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