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cap 1- estudos morfossintaticos

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15/11/2022 19:16 Estudos Morfossintáticos
https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=OiIyJPhpZU7qnttdRKrSmg%3d%3d&l=bHvCdRJkRzPj4mAv42Ii2g%3d%3d&cd=OvWuDrSa… 1/32
ESTUDOS MORFOSSINTÁTICOS
CAPÍTULO 1 - COMO A
MORFOSSINTAXE PODE AUXILIAR A
COMPREENDER O FUNCIONAMENTO
DAS VARIADAS LÍNGUAS?
Luiz Fernando Hilleshein
INICIAR 
Introdução
Ao estudarmos a morfossintaxe, é imprescindível nos lembrarmos de que há
palavras que, por pertencerem a uma classe definida, não podem ser colocadas em
qualquer lugar em uma frase. É o caso do artigo, por exemplo, que sempre ocupa o
lugar de anterioridade ao substantivo. Reconhecer particularidades desse tipo é o
primeiro sinal de que as palavras não são independentes, ou seja, não se realizam
sozinhas no discurso. Elas trazem em seu bojo a necessidade de funcionarem
satisfatoriamente, e isso deve ser um padrão a ser aceito e executado por toda uma
comunidade que fale um idioma específico (seja português, inglês, espanhol,
francês etc.). Caso contrário, como nós, falantes da língua portuguesa, poderíamos
nos comunicar com o mínimo de interferências possível?
É a partir dessa abordagem que estudaremos a morfossintaxe, isto é, a relação de
interdependência entre as palavras ou vocábulos, bem como seu efeito
comunicativo no enunciado. Mas o que é a morfossintaxe? Qual seu campo de
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atuação? Quais são seus limites? Será que podemos dizer que as palavras existem
isoladamente? Esses estudos tratam a palavra sem pensar em qualquer relação que
elas possam exercer sobre o enunciado que materializam? E quanto a sua
classificação em categorias: será que sabermos que um termo é um verbo, um
advérbio ou um adjetivo é suficiente para garantirmos uma boa relação dialógica? É
suficiente para termos controle sobre nossas produções orais e escritas?
Certamente, saber classificar as palavras em categorias é um requisito importante,
mas insuficiente para garantir a interlocução com o sucesso ou êxito pretendido por
seus interlocutores. Sendo assim, para introduzir nossas leituras sobre a
morfossintaxe, precisaremos, antes, rever alguns pontos da morfologia. Desde já,
esclarecemos que, em nossa perspectiva de abordagem sobre o assunto,
consideraremos que a forma vocabular pode ser estudada a partir de seus
constituintes, e que essa forma, para agir significativamente sobre o universo
comunicativo, constitui-se como um elo encadeador junto a outros vocábulos, a fim
de formalizar o enunciado e a eficiência da compreensão discursiva.
Vamos aos estudos!
1.1 O que é morfossintaxe
Em uma perspectiva atualizada, entende-se a morfologia como um ramo da
linguística que, assim como a fonologia, a sintaxe e a semântica, possui suas
próprias regras (ROCHA, 2008). Em uma perspectiva mais estruturalista, pode-se
definir a morfologia como o estudo das formas gramaticais dos vocábulos. Se
considerarmos, do ponto de vista mais filosófico, também podemos dizer que a
morfologia se ocupa em classificar os vocábulos a partir de critérios semânticos e
mórficos. Ou seja, há que se considerar que o sentido de uma palavra tem estreita
relação com a forma (CÂMARA JÚNIOR, 2001).
Ainda é possível entender, por morfologia, o estudo da estrutura dos morfemas, ou
seja, dos constituintes das palavras (CASTILHO, 2010). A gramática tradicional trata a
morfologia como o estudo das palavras quanto à sua estrutura e formação, quanto à
suas flexões e quanto à sua classificação (ALMEIDA, 2009).
Rosa (2000) comenta que, por séculos, a gramática tradicional considerou a palavra
como a unidade central no que tange ao estudo à descrição das línguas. Tampouco
se questionavam os critérios necessários para sua definição, identificação e
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delimitação. Cabe dizer, então, que a morfologia estruturalista da primeira metade
do século XX não somente retratou a “[...] centralidade da palavra na descrição
linguística, mas inclusive a própria relevância linguística desta unidade” (ROSA,
2000, p. 44). Ainda de acordo com a autora, nessa abordagem, passou-se a
considerar um foco mais direcionado as unidades, como o morfema ou a forma,
largamente discutidas e teorizadas no quadro da linguística estruturalista.
Sendo assim, você deve se lembrar que, em outros momentos das nossas vidas
acadêmicas, estudamos as flexões de número, gêneros e verbos, o fenômeno da
regência e a concordância verbal e nominal, certo? Mas será que essas variações
acontecem sem que uma palavra concorra, condicione ou force a variação de outra?
A palavra pode ser qualificada de forma isolada, avaliando apenas sua classe
gramatical. De outra forma, poderia ser analisada mediante as funções
estabelecidas no contexto da oração. Se a matéria em estudo é a palavra, pode-se
desenvolver a análise morfológica. Porém, se o contexto é a sua função no período,
caberá à análise sintática. 
Figura 1 - As palavras não existem isoladamente, sendo necessário um contexto. Fonte: rangizzz,
Shutterstock, 2018.
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Mesmo que a língua portuguesa não se caracterize como um estudo exato, em se
tratando da morfossintaxe, é admissível pensar de maneira mais objetiva, visto que
as funções sintáticas são acentuadas previamente. Por exemplo, se o adjetivo é visto
como um “caracterizador”, logo, ora estará relacionado a ele, mesmo que o seu
posicionamento não seja exatamente na sequência. 
1.1.1 Breves considerações sobre o campo de atuação da
morfossintaxe
Para atender às exigências da gramática normativa, da chamada língua culta,
precisamos obedecer a orientações específicas. Assim, quando queremos nos referir
a um número de elementos diferente de 1, saímos da situação de singular para
plural. Para comprovar essa mudança, teremos de fazer uso de certos
procedimentos, entre eles o de colocar um “s” ao final das palavras que serão
modificadas. Por exemplo: um carro > dois carros. Vemos, nesse caso, que a força
que alterou a palavra “carro” está no numeral dois; se não houvesse essa
transformação, o enunciado seria visto como problemático, desviado da norma
culta padrão. É assim que se estabelece um dos requisitos da concordância/flexão
de número. A partir daí, já vemos que aquela relação de interdependência de que
falamos anteriormente está presente entre termos que ainda não constituem uma
frase formalmente construída. 
Para conhecer mais sobre as possibilidades de análise morfossintática, é importante conhecermos alguns
aspectos históricos da morfologia, inclusive os que tratam da criação de novas palavras. É sobre essas
novas palavras que trata o livro de Maria Carlota Rosa, “Introdução à Morfologia”. Vale a pena conhecer as
ideias da autora!
Dessa forma, podemos perceber que a morfologia e a sintaxe estão imbricadas, uma
à outra, orientando nossa fala e nossa escrita de forma harmoniosa e colaborativa.
Isto é, auxiliando na estrutura e na compreensão dos enunciados, e, como uma
pedra basilar, sustentando os discursos, fortalecendo a produção comunicativa e a
interatividade entre locutores.
VOCÊ QUER LER?
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Para Carone (1986, p. 98), a palavra “articulação” se refere “[...] à propriedade que
têm as formas linguísticas de serem suscetíveis de análise”. Isso significa que as
formas linguísticas podem ser divididas em partes. Nesse raciocínio, passamos a
entender que isso só é possível porque as partes de uma unidade linguística se
estruturam de forma articulada. Pensemos juntos: se aspartes das palavras, das
frases e dos discursos se articulam, todas podem ser analisadas isoladamente, não é
mesmo? E quando isso é feito, significa que buscamos entender o que essas partes
representam em seu todo para a construção linguística ou do discursivo. Assim,
chegamos a outro conceito: a função.
Quando estudamos a sintaxe, por sua vez, geralmente estudamos a função que as
palavras assumem na oração. Para Castilho (2010), a sintaxe se trata do estudo das
estruturas sintagmáticas e sentenciais, em busca de se definir a função de cada
termo dentro dessas estruturas. Já conforme Almeida (2009), a sintaxe é a parte que
estuda a palavra, não em si, mas com relação as outras que com ela se unem para
exprimir o pensamento. Ainda seguindo o mesmo viés, Azeredo (2013) conceitua a
sintaxe como sendo a análise da relação motivada entre forma e sentido das
orações. Sendo assim, ela parte da palavra e termina na oração.
O mais importante, entretanto, é percebermos que a sintaxe trabalha exatamente
como a morfologia e a semântica, no plano do conteúdo, com segmentos
articulados, passíveis de análise. 
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A fonologia, por outro lado, fazendo parte do plano da expressão, embora passível
de análise, concentra-se na articulação dos fonemas, os quais, isoladamente, não
representam nenhuma matéria imagética ou conceitual. Isto é, não formam um
objeto reconhecível em nossa cadeia cultural.
Agora que já sabemos que a articulação e a função são conceitos que nos remetem
aos estudos morfossintáticos, precisamos refletir sobre alguns outros.
Sabemos, inicialmente, que a estrutura é o resultado da combinação entre
componentes, ou seja, é a articulação das partes formando um todo. Podemos usar
como exemplo um bolo, que só será um bolo se as substâncias (os ingredientes) se
unirem, construindo sua estrutura. Unidas as substâncias, tem-se uma substância
formalizada, ou seja, dotada de forma. Trazendo esse raciocínio para o universo
linguístico, consideremos o enunciado “Eu emiti as notas fiscais frias”. Analisemos,
então, dois grupos:
Figura 2 - A sintaxe é a base da linguagem e da expressão do pensamento. Fonte: pathdoc, Shutterstock,
2018.
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a) “[...] notas fiscais frias”: aqui, há um encadeamento lógico e, portanto,
compreensível;
b) “[...] fiscais frias”: já aqui, no contexto em análise, a compreensão não se
estabelece. 
Mas o que isso nos diz? Vejamos:
no grupo a, existe uma estrutura e uma construção válida sintaticamente;
no grupo b, o que ocorre é uma vizinhança, uma aproximação entre
termos, porém sem formar uma construção efetiva, do ponto de vista
sintático;
os termos “[...] notas fiscais frias” se organizam assumindo entre si uma
função de complementariedade, logo, são functivos;
os termos “[...] fiscais frias”, como não conseguem se organizar ao ponto
de manter um encadeamento lógico, não formam uma construção, uma
vez que é um par de palavras sem função, ou seja, as duas palavras não
constituem um par de functivos.
É importante ressaltar que classificar as palavras se constitui uma tarefa bastante
conveniente do ponto de vista descritivo. Afinal, a partir dessa classificação, pode-se
estabelecer generalizações úteis para o estudo das características e propriedades
das palavras. A seguir, estudaremos as relações entre a palavra e a linguagem, sob a
ótica da gramática internalizada.
1.2 A palavra
Com o surgimento da linguagem, as condutas individuais são intensamente
modificadas nos aspectos afetivos e intelectuais. Graças à linguagem, o sujeito em
formação se torna capaz de recuperar suas ações passadas sob forma de narrativas.
Consequentemente, no processo de aquisição da linguagem, a criança, nesse
período, pode antecipar suas ações futuras com a fala. Com isso, despontam três
consequências efetivas para o desenvolvimento mental, a saber: o princípio da
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socialização da ação, a efetivação do pensamento e a percepção do ponto de vista
da afetividade, tendo, assim, uma organização mais constante do que nos primeiros
estágios da vida (PIAGET, 1994).
É importante demonstrar o processo de socialização da linguagem durante sua
aquisição, e evidenciar as etapas linguísticas pelas quais esse processo passa para
se constituir em uma interação verbal. Para embasar nossa análise, contaremos com
a psicolinguística, que se ocupa em estudar as conexões entre linguagem e mente,
analisando os processos que estão relacionados à comunicação humana por meio
da utilização da linguagem, seja ela oral, escrita ou gestual. A psicolinguística
estuda, inclusive, as nuances que afetam a decodificação que ocorre nas estruturas
psicológicas, as quais nos capacitam a entender expressões, palavras, orações e
textos (CUTLER, 2005).
A partir de agora, vamos entender um pouco mais sobre a linguagem e o que nos
apresenta a psicolinguística.
1.2.1 A linguagem
O ser humano é guiado pelo poder da palavra, isso porque a linguagem comanda
todas as formas de comunicação, como no exército, em que os direcionamentos se
dão por palavras; em bares e restaurantes, ao se fazer o pedido; e, até mesmo, em
lojas, quando se precisa adquirir algum produto ou serviço. Assim, podemos
comparar a linguagem, segundo Buzzi (1990), a nossa mãe, visto que ela nos protege
e cuida de todas as situações de comunicação. Além disso, não podemos nos
esquecer de que, sem o ato da comunicação, não somos seres humanos completos.
Isso pode ser confirmado pelo mesmo autor ao mencionar que “[...] a linguagem nos
abre a realidade. Nela ouvimos, percebemos, conhecemos, esperamos, imaginamos
calculamos, confiamos [...]” (BUZZI, 1990, p. 235).
Temos, então, que a palavra pronunciada emite sentidos através do som da voz —
parte significativa da linguagem —, garantindo a convivência e a sobrevivência do
ser humano. Assim, de acordo com Buzzi (1990, p. 251), “[...] na função de significar,
as palavras são símbolos ou signos porque se referem a realidades distintas delas
mesmas”. Nesse contexto, quando a criança adquire o poder das palavras, está
entrando para o mundo simbólico do ser humano, pois, a partir daí, estará apta a
desenvolver e compreender suas sensações e percepções.
Nós, seres humanos, nascemos programados para falar, pois temos uma gramática
internalizada, e, desde muito cedo, já fazemos uso dela. Dessa forma, as crianças
aprendem a língua natural a partir dessa gramática internalizada. A criança, ao fazer
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uso dessa gramática, de acordo com Lu� (2005, p. 33), está formulando o “[...]
crescimento da linguagem e não como um depósito, em 'tábula rasa' de elementos
exteriores, impingidos à força de regras e sedimentados por servil memorização”.
Vamos entender melhor quanto a gramática internalizada com o item a seguir.
1.2.2 A gramática internalizada
A gramática internalizada faz com que a criança estruture um esquema linguístico
para ter sucesso na comunicação humana. Nessa fase da aquisição da linguagem, há
a utilização de frases feitas e novas, às vezes, nunca percebidas pelo adulto. Nesse
sentido, teorias linguísticas afirmam que a criança realiza um jogo com signos
(palavras), fazendo uso de léxico e da gramática em combinações perfeitas. Além
disso, a criança adquire a linguagem em níveis: “[...] nível cultural e vocabulário,
dependerá naturalmente do meio em que ela vive, dos modelos a que é exposta
para liberar suas próprias capacidades” (LUFT, 2005, p.56). Geralmente, a criança
adquire a linguagem de seu próprio meio.
Já para Chomsky (1981), a criança adquire a linguagem em três etapas e seus
estados mentais: estado inicial, intermediário e estacionário final. No estacionário
final, ela adquire a linguagem com todas as regras fundamentais de seu meio, para
todo ato de comunicação. O autor ainda menciona que a linguagem humana só
existe graças a um mecanismo, denominado “gramática universal”. Essa gramática
estaria inscrita na espécie humana, o que confirma, na perspectiva gerativista, que a
linguagem é considerada uma espécie de instinto, ou seja, uma faculdade disponível
em todos os seres humanos.
Não é difícil perceber que os argumentos apresentados até aqui, sobre o olhar
inatista, não limitam a aquisição a um processo estritamente interno, biológico.
Apesar de se contrapor ao viés behaviorista, que concebe a aquisição como um
resultado do processo estímulo-resposta, Chomsky (1981) não elimina o papel que
os fatores externos ganham na entrada da criança na linguagem. O próprio modelo
dos princípios e parâmetros prevê essa influência, já que é possível deduzir que “[...]
o ambiente determina a direção que a criança vai tomar em relação à língua a qual é
exposta” (QUADROS, 2008, p. 63).
VOCÊ O CONHECE?
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Noam Abraham Chomsky nasceu na Filadélfia, nos Estados Unidos, no ano de 1928, especificamente em
07 de dezembro. Ele é um linguista e filósofo-pensador. Terminou seu doutorado em 1951, passando mais
quatro anos em Harvard, e, finalmente, em 1955, mudou-se para a Universidade da Pensilvânia, onde
estudou para começar um ensino intenso e uma longa carreira no Instituto de Tecnologia de
Massachusetts. Chomsky é um dos principais fundadores da gramática gerativa transformacional. Em
1957, publicou um livro intitulado "Estruturas Sintáticas", o qual foi considerado uma revolução na
disciplina da linguística.
No recém-nascido, as vias mentais se limitam à coordenação sensorial e motora de
caráter hereditário, que representam as disposições instintivas. Esse refinamento
das coordenações psicomotoras é realizado nos dois primeiros anos de vida do
indivíduo. Na visão de Piaget (1994), o percurso de tempo é de extrema relevância
para o desenvolvimento da criança, visto que o período não é composto por
palavras que admitam seguir passo a passo os processos cognitivos e sentimentos,
como será possível fazer na fase de aquisição da linguagem.
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No momento em que surge a linguagem, a criança se depara com dois mundos
novos e solidários: o mundo social e a formação do pensamento. Segundo Piaget
(1994), no momento em que os sons são associados a certas ações, o período da
imitação se amplia, assim como ocorre na aquisição da linguagem (palavras, frases
elementares, depois, substantivos e verbos diferenciados, bem como frases
propriamente ditas). Assim, enquanto a linguagem se constitui sob forma definitiva,
 Figura 3 - Jean Piaget
prestou grande contribuição no campo da cognição e da aquisição da linguagem, sendo reconhecido
mundialmente. Fonte: EQRoy, Shutterstock, 2018.
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o percurso de interação se atém à imitação dos gestos corporais e exteriores, além
de uma relação afetiva global sem comunicações individualizadas. Os monólogos,
inclusive, perfazem uma grande parcela da linguagem espontânea entre crianças de
três a quatro anos de idade, abrandando até os sete anos. Esses monólogos — que
são diferentes nas crianças pelo fato de serem pronunciados em voz alta — serão
comparados mais adiante com a linguagem interior, sendo que permanecem na vida
adulta ou, ainda, na adolescência (PIAGET, 1994).
Também de acordo com Piaget (1994), a linguagem, na infância, classificada como
espontânea no que tange aos jogos coletivos, demostra que as primeiras condutas
sociais continuam ainda incompletas quanto à verdadeira socialização, em vez de
sair de seu próprio ponto de vista, a fim de coordená-lo com o do outro. Dessa
maneira, o sujeito continua inconscientemente centralizado em si próprio.
A criança, no que se refere à linguagem, parte do egocentrismo inconsciente, que é
um prolongamento do egocentrismo do bebê, com a centralização do pensamento
sobre o ponto de vista próprio, sendo necessários espaços heterogêneos (bucal,
tátil, visual etc.) para aquisição da linguagem. Dessa forma, ela consegue constituir
sua própria percepção do mundo. Já o adulto, por sua vez, utiliza a linguagem para
expressar o seu pensamento. Nesse caso, algumas vezes, suas palavras servem para
constatação, fazem parte de reflexões objetivas, informando e permanecendo
ligadas ao conhecimento; em outras vezes, ao contrário, a linguagem é usada para
despertar sentimentos ou provocar atos.
Se existissem estudos mais aprofundados sobre a relação entre as duas categorias
de comunicação para cada indivíduo, teríamos dados psicológicos muito
interessantes. No entanto, sabemos que não é só isso, pois existe a linguagem
interior, que faz um grande número de pessoas, comuns ou mesmo intelectuais, ter
o hábito de monologar em voz alta. Há nesse ato, talvez, uma preparação para a
socialização da linguagem. O falador solitário se dirige a interlocutores fictícios,
como as crianças aos seres imaginários de suas brincadeiras. 
Agora, em se tratando de crianças, que necessidades elas tendem a satisfazer
quando falam?
Esse problema não é propriamente linguístico, nem propriamente lógico, mas, sim,
da psicologia funcional. Muitos especialistas como Janet, Freud e Spierlrein,
apresentaram diversas teorias sobre a linguagem dos enfermos, dos primitivos e de
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crianças de pouca idade, todas altamente significativas para o pensamento de
crianças de seis anos em diante. Vamos conhecer melhor sobre uma delas na
sequência.
1.3 Teoria X-barra (aula 1)
Diante do aporte teórico proposto por Mioto, Silva e Lopes (2007), a Teoria X-barra é
o módulo gramatical que comporta representar um constituinte. Sua importância
está em apontar a natureza do constituinte, as relações que se estabelecem perante
ele, bem como a maneira como os constituintes se hierarquizam para montarem a
sentença.
Assim como ocorre com todos os módulos gramaticais, a Teoria X-barra se
universalizou, caracterizando-se como um esquema genérico que capta a estrutura
interna dos sintagmas das línguas padrão. Entretanto, precisa atender igualmente
aos fenômenos das variações linguísticas. Essa teoria foi baseada no modelo de
ramificações inspiradas nas regularidades vistas nos modelos arbóreos, sendo
representada pelas “árvores sintáticas”.
Figura 4 - Existe uma forte analogia entre a Teoria X-barra e os entroncamentos de uma árvore, devido ao
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Vamos considerar, então, que um constituinte se origina de um núcleo. A fim de
representá-lo, faremos uso da variável X, que tomará seu valor dependendo da
categoria do núcleo do constituinte. Ou seja, “[...] se a categoria for um nome, o
valor de X será N; se for um verbo, será V; se for preposição será P e assim por
diante” (MIOTO; SILVA; LOPES, 2007, p. 46).
Desse modo, temos que o núcleo X determinará as relações internas ao constituinte,
que são divididas em dois níveis: o nível X' (que se lê "X linha") e o nível XP (“P” é
abreviação doinglês “phrase”). Para entender melhor, vejamos o esquema a seguir,
de Mioto, Silva e Lopes (2007).
Ainda de acordo com os autores, “Chamamos X' ao nível intermediário ou à projeção
intermediária de X; e XP ao nível sintagmático ou à projeção máxima de X” (MIOTO;
SILVA; LOPES, 2007, p. 47). Nesse mesmo raciocínio, na projeção intermediária, o
núcleo estará relacionado com complementos (Compl), sendo que, na projeção
máxima, o núcleo poderá estar relacionado a um especificador (Spec). Desse modo,
composto por um “Compl” e o “Spec”, a esquematização X-barra é representada
através de uma árvore, conforme vemos no esquema a seguir.
 
modelo de ramificações. Fonte: Shutterstock, 2018.
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Percebemos, então, que descrever a realidade dos níveis de projeção “máximo” e
“mínimo” parece ser naturalmente aceitável, visto que o nível mínimo é preenchido
pelo item lexical em si. Já com relação ao nível máximo, trata-se de um constituinte
e, por isso, poderá ser deslocado.
Ressalta-se, ainda, que as propriedades são diretamente observáveis no nível
intermediário. Considerando isso, há a necessidade de representá-lo, uma vez que
temos obrigatoriedade de um módulo que conceba a relação de determinado
núcleo com seu respectivo complemento. Essa relação, inclusive, é diferente
daquela que ele tem com seu especificador (MIOTO; SILVA; LOPES, 2007). À título de
exemplo, temos:
[o pai amar a filha]
Nesse caso, temos um verbo (amar) com seus dois argumentos: o externo (o pai),
que ocupa a posição de especificador do sintagma; e o interno (a filha), que está
situado na posição de complemento. Além disso, a sentença em questão pode ser
classificada como um constituinte, já que há um núcleo (amar), que determina a
relação semântica de amor; e dois argumentos envolvidos (MIOTO; SILVA; LOPES,
2007). Dessa maneira, “o pai amar a filha” pode ser preenchida como no próximo
esquema.
 
Ainda conforme Mioto, Silva e Lopes (2007), se consideramos que o núcleo “amar”
pertence à categoria “verbo” (V), o que determina o valor de X é o fato de que cada
um dos dois argumentos envolvidos constrói um sintagma composto por um nome
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e um determinante, que será chamado de DP (do inglês “determiner phrase” ). É
possível representarmos adequadamente o constituinte “o pai amar a filha” usando,
agora, os rótulos categoriais e refazendo como a árvore a seguir.
 
É válido mencionar, também, que o exemplo anterior representa, segundo Mioto,
Silva e Lopes (2007), as propriedades universais inerentes a um constituinte, que são
os níveis de projeção dos quais pendem tanto o complemento quanto o
especificador. Porém, não abriga o fato de que possa haver variação paramétrica na
ordem dos constituintes. Além disso, essa variação pode ser vista na comparação do
português com o japonês, por exemplo. Segundo Mioto, Silva e Lopes (2007), no
japonês, a ordem entre o V e o DP complemento é invertida, assim como visto no
esquema na sequência.
  
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Os dois últimos esquemas trazem duas ordenações prováveis entre um núcleo e seu
complemento. Conforme Mioto, Silva e Lopes (2007, p. 49),
As línguas tendem a generalizar esta ordem de modo que ela não fica restrita ao verbo
e seu complemento. Assim, por exemplo, no japonês teremos [DP, P] (posposição) em
vez de [P, DP] (preposição) que acontece no português. O que se depreende da
comparação entre (4) e (5) é que a hierarquia é um princípio (portanto universal) e a
ordem é parametrizada (portanto variável de uma língua para outra).
Dito de outra maneira, se juntamos à categoria mínima verbal [V amar] o DP [DP a
filha], o resultado será uma projeção intermediária, mas que somente terá
propriedades categoriais de verbo, ou seja, [V’ [V amar] [DP a filha]]. De modo
paralelo, juntando o DP [DP o pai] à projeção intermediária [V’ [V amar] [DP a filha]],
teremos uma projeção máxima que apenas poderá ser verbal: [VP [DP o pai] [V [V
amar] [DP a filha]]].
É muito importante destacar que, em nenhuma das projeções, as propriedades
verbais, inerentes ao núcleo [V amar] são passíveis de mudanças.
“O Manual de Sintaxe”, de Carlos Mioto, Maria Cristina Figueiredo Silva e Ruth Elisabeth Vasconcellos
Lopes é uma das poucas referências em português sobre a sintaxe gerativa. A obra traz, a partir de uma
linguagem clara, didática e acessível, um amplo esboço dos principais pontos da sintaxe gerativa. Além
disso, podemos encontrar nela sobre os desdobramentos que a representação sintagmática sofreu, bem
como outros tópicos importantes sobre a sintaxe do português brasileiro. 
Em resumo, o esquema da hierarquia X-barra demonstra uma propriedade
importante dos sintagmas: eles são endocêntricos. Isso implica que, em cada
categoria XP, só podemos ter como núcleo uma categoria mínima X. Assim, as
propriedades do núcleo são preservadas em cada projeção.
Ademais, cabe mencionarmos que, além da morfossintaxe, há, também, uma
distinção “semântica” entre os elementos lexicais e funcionais, que remonta a
dicotomia das palavras de conteúdo versus as palavras de função (ou expressão). No
 
VOCÊ QUER LER?
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próximo tópico, trataremos desses aspectos.
1.3.1 O plano da expressão e o plano do conteúdo
A linguagem se estrutura em torno de dois planos: o plano da expressão e o do
conteúdo. O primeiro diz respeito às diferentes formas pelas quais a linguagem
pode se manifestar; contudo, o segundo, por outro lado, refere-se aos sentidos e
significados que são veiculados pela linguagem. Como não há expressão sem
conteúdo, isto é, formas linguísticas destituídas de significação; nem conteúdo sem
expressão, ou seja, sentidos não vinculados a uma forma; só é possível estudar a
linguagem situando a análise da estrutura linguística em um dos dois planos, ou na
inter-relação entre eles.
Você já experimentou pronunciar várias vezes a mesma palavra? Se não, faça isso
agora: escolha uma palavra qualquer e a repita pelo menos umas vinte vezes.
Perceba, então, que após tantas repetições, você chegará à conclusão de que a
palavra que você pronunciou insistentemente perdeu seu valor de significação,
passando a ser apenas um conjunto de articulações sem sentido. Essa impressão
também lhe será perceptível se, em vez de pronunciar a palavra, você pronunciar
suas sílabas separadamente. Isso acontece porque os fonemas e as sílabas não
querem dizer nada.
De acordo com Carone (1986, p. 8), a “[...] sílaba é uma construção de um, dois ou
mais fonemas articulados, mas não ultrapassa os limites do campo a que pertencem
as unidades não-significativas”. Esse é o plano da expressão. Dessa forma, fonemas
e sílabas representam a expressão, que não tem sentido individualizado ou
autônomo.
Para melhor compreensão, observe a palavra “chocolate”. Agora, concentre-se
apenas nas sílabas que a constituem: CHO / CO / LA / TE. Você concorda que essas
sílabas não traduzem nenhuma imagem, ou seja, nenhuma ideia? Isso ocorre
porque as sílabas estão no plano da expressão, isto é, não significam nada por si só.
Assim, de acordo com Carone (1986), a sílaba seria um sintagma no plano da
expressão. Mas, afinal, o que é um sintagma?
Em uma conceituação mais ampla, temos que o sintagma é a menor unidade
significativa de um enunciado. Isto é, qualquer construção, em qualquer nível, que
resulta da articulação de unidades menores. No dicionário de Linguística de Dubois
(2007), vemos outrasconceituações, entre elas, a de Ferdinand de Saussure, que nos
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diz: “[...] sintagma é toda combinação na cadeia da fala”. Já para Martinet (1968),
designa-se pelo termo “sintagma” as combinações de monemas, que, segundo o
autor, é a unidade significativa elementar.
Temos, então, que a sílaba é um sintagma do plano da expressão, ou seja, uma
unidade significativa, embora esteja no plano. Assim, no plano da expressão, as
sílabas, sozinhas, não têm sentido, entretanto, possuem significado. Do contrário,
como poderíamos utilizá-las para formar um morfema e, consequentemente, um
vocábulo?
Com isso, chegamos a mais uma conceituação de sintagma, também presente no
dicionário de Dubois (2007, 90): “[...] os elementos constitutivos de um sintagma
podem ser morfemas léxicos ou gramaticais”. Para exemplificar essa informação,
valemo-nos da palavra “quadro”. Se a sílaba é o sintagma no plano da expressão, já
deveríamos ter uma “imagem” formada por uma das sílabas da palavra, mas isso
não acontece. Dessa forma, precisamos deslocar alguns segmentos dessas sílabas
para buscar em que parte da palavra está a noção que buscamos. Assim começa
nosso exercício cognitivo para empreendermos algum sentido a forma lexical.
Unimos, então, alguns segmentos: qua + dr. E, possivelmente, chegaremos ao plano
do conteúdo: quadro > quadrado > enquadrar.
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Com essa reflexão, podemos entender que a sílaba é um sintagma do plano da
expressão, não invocando nenhum sentido lógico. Contudo, ainda assim, sem
significado imediato, esse sintagma pode levar a uma imagem, passando para o
plano do conteúdo quando associado a outro segmento que permita a construção
de um sentido, ou seja, se essa junção de sílabas constituir um morfema. Além
disso, se o sintagma se constrói com a ajuda de morfemas léxicos ou gramaticais, ele
pode passar ao plano do conteúdo, ou seja, passa a ter sentido, pois se associa a
uma imagem aceita pelo usuário da língua em ação.
Temos ainda, a conclusão de que morfemas léxicos ou lexicais são aqueles que
servem de base a um lexema (raiz ou radical). Já os morfemas gramaticais são os
que funcionam como base de uma palavra gramatical (seriam os afixos, as
desinências, por exemplo). Na palavra “quadro”, encontramos os morfemas “quadr”
(morfema lexical/ radical) e “o” (morfema gramatical/vogal temática), ambos
eivados de significação, já que permitem seu uso para novas construções ou
imagens aceitáveis, conhecidas por quem utiliza o vocábulo.
Figura 5 - A sintaxe pode ser vista como sustentação das línguas naturais e da linguagem computacional.
Fonte: BEST-BACKGROUNDS, Shutterstock, 2018.
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VOCÊ SABIA?
À exemplo da sintaxe das línguas, os computadores também são sustentados pela mesma
propriedade, visto que a sintaxe, na informática, consiste nas regras que devemos manter para dar
as instruções para um programa ou computador. Em outras palavras, é a forma como devemos
organizar as instruções para transmiti-las a um computador, gerando nele uma resposta adequada.
Conforme nos informa Rosa (2000, p. 68-69), os constituintes infralexicais,
considerando um ponto de vista histórico-etimológico, comportam a possibilidade
de serem vistos como “[...] unidades mínimas dotadas de significação”, como a
sequência “duz”, encontrada em verbos como “conduzir”, “induzir” e “seduzir”.
Na sequência, vamos entender melhor quanto ao léxico.
1.4 Estudos do léxico
Consoante Fiorin (2014), as unidades da linguagem se organizam em níveis
distintos, os quais, de início, são analisados separadamente. Assim, as unidades
fônicas (sonoras) são vistas no nível fonético-fonológico, as unidades lexicais se
relacionam ao nível morfológico, as sintagmáticas ao nível sintático, as semânticas
ao nível semântico e as interacionais ao nível pragmático. Para cada um desses
níveis há uma disciplina linguística a ele especialmente dedicada: a Fonologia
estuda o nível sonoro, a Morfologia estuda o nível lexical, a Sintaxe analisa o nível
sintagmático-frasal, a Semântica trata do nível semântico e a Pragmática do nível
interacional. 
VOCÊ SABIA?
A Morfologia perfaz o segmento da gramática que estuda o significado das palavras, considerando
sua classe gramatical, a exemplo dos verbos, adjetivos, pronomes, artigos, conjunções, preposições,
interjeições, advérbios substantivos e numerais. Já a Sintaxe estuda as funções desempenhadas
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pelas palavras em determinado contexto, seja em uma oração, seja em um período. Cabe ressaltar
que, ao colocarmos o foco na sintaxe, trabalhamos com os conceitos de sujeito, predicado,
complemento nominal, vocativo, adjunto adverbial, aposto, adjunto adnominal etc. 
Uma das primeiras preocupações de cada uma dessas disciplinas linguísticas é a de
explicitar as características e propriedades das unidades básicas de seu respectivo
nível, determinando as funções dentro do nível e suas relações com os demais. Isso
é possível porque, no sistema da linguagem humana, as unidades de um nível
inferior podem se combinar para formar as unidades de um nível superior, por meio
de processo chamado articulação.
As unidades da Fonologia (os fonemas) se combinam para constituir as unidades da
Morfologia (os morfemas), e estes, por sua vez, combinam-se para formar os
sintagmas, que são as unidades da Sintaxe (FIORIN, 2014).
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As unidades do nível morfológico são, de forma geral, os morfemas e as palavras.
Como são muito numerosos, fica difícil estudarmos cada um deles isoladamente.
Pense em um estudo sobre cada morfema e cada palavra isoladamente. Isso seria
muito trabalhoso. Dessa maneira, precisamos buscar modos mais eficientes de se
estudar esses elementos. Uma delas é classificar essas unidades, ou seja, distribui-
las em classes de acordo com suas propriedades comuns. 
Figura 6 - Níveis que sustentam as línguas em geral. Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.
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O livro “Morfossintaxe”, de Flávia de Barros Carone, traz provocações e esclarecimentos sobre a estrutura
da língua portuguesa. Com isso, a autora nos faz repensar conceitos, a partir de questionamentos como:
será o sujeito, realmente, um termo essencial da oração? O que faz com que seja o verbo o centro da
estrutura oracional? O grau será mesmo um fenômeno do campo da flexão? Qual é a diferença básica
entre a subordinação e a coordenação de uma oração e outra? Em que se assemelham e em que se
diferem a morfologia e a sintaxe? Vale a pena a leitura da obra para entendermos melhor quanto a esses
pontos.
Como se vê, há uma relação entre os diversos níveis, o que justifica a existência de
disciplinas voltadas para o estudo dessas relações, como a Morfo-fonologia e a
Morfossintaxe, sobre a qual estamos estudando atualmente. Aliás, a Morfossintaxe,
por conseguinte, concentra-se justamente no estudo de como as unidades da
morfologia se relacionam com a sintaxe, procurando caracterizar que propriedades
significativas e funcionais possuem as unidades morfológicas e como isso se faz
presente no nível sintagmático.
Em suma, a principal dificuldade na questãoda classificação das palavras não está
na análise do problema, mas, sim, no próprio fenômeno. As palavras possuem
propriedades mórficas, funcionais e semânticas simultaneamente, e, em alguns
casos, certos aspectos saltam mais aos olhos (por exemplo, a especificidade mórfica
do verbo em relação às outras classes, o caráter eminentemente sintático dos
adjetivos em relação ao substantivo e o valor semântico dêitico dos pronomes em
oposição ao valor referencial dos nomes). Para adentrarmos um pouco mais nesse
assunto, abordaremos o conceito de classe no próximo item.
1.4.1 O conceito de classe
Uma classe pode ser encarada como um conjunto de elementos linguísticos com
uma propriedade essencial em comum. Nesse sentido, uma classe poderá ser
definida como o conjunto de unidades que têm as mesmas possibilidades de
aparecer em dado ponto do enunciado (CÂMARA JÚNIOR, 1977). Conforme se
percebe, uma ideia comum que percorre essas definições é que os elementos
linguísticos, isto é, as formas linguísticas, podem compartilhar propriedades
comuns. São, então, justamente essas propriedades que tornam possível a
formação de classes pelas quais se podem distribuir as unidades da linguagem. A
questão central das classes é, dessa forma, a determinação das propriedades
VOCÊ QUER LER?
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comuns a serem levadas em conta na classificação. Em outras palavras, trata-se de
especificar quais são os critérios mediante os quais podemos fazer uma
classificação das formas linguísticas.
Para o caso das palavras, quais seriam esses critérios? Ou, ainda, por que se deve
classificá-las? Aliás, vimos que classificar as palavras permite uma maior facilidade
em seu estudo, mas será que somente isso justifica uma classificação? Será que
existem outras razões para isso?
Classificar as palavras se constitui uma tarefa bastante conveniente do ponto de
vista descritivo. Porém, há mais um dado relevante para essa questão: a existência
das classes de palavras é uma realidade intuitivamente sentida pelos falantes de
uma língua. Considere, por exemplo, um falante nativo do português. Esse falante
seria capaz de perceber, ainda que de forma intuitiva, que a sentença “O exército
destruiu a cidade” é uma frase possível em sua língua, ao passo que “O exército
destruição (d)a cidade”, não é. Em termos linguísticos, pode-se dizer que a intuição
do falante é que, apesar de possuírem significados básicos idênticos, as palavras
“destruir” e “destruição” apresentam propriedades funcionais e significativas
diferentes, razão pela qual se distribuem de maneira distinta na estruturação da
frase. Esse fato evidencia uma realidade psicológica das classes de palavras, tendo
propriedades diferentes e, certamente, pertencendo a classes diferentes.
O filme Nell, de Michael Apted, conta a história de uma mulher que é localizada em uma casa na floresta,
na qual morava com sua mãe eremita. Os especialistas, então, averiguaram que ela utilizava um dialeto
peculiar, o que evidenciou que não havia tido contado com outros indivíduos. Intrigado com a descoberta
e, igualmente maravilhado com a inocência e a pureza da jovem, o médico que a ajudou busca integrá-la
socialmente. Vale a pena ver o filme e entender melhor quanto a importância da linguagem.
Podemos dizer que, apesar de ser conveniente, a determinação das classes tem sido
um ponto de bastante controvérsia entre os estudiosos da linguagem. As respostas
para os nossos questionamentos têm suscitado grandes e acalorados debates. E isso
VOCÊ QUER VER?
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há um bom tempo, visto que, desde a Antiguidade Clássica, discute-se como
classificar as palavras de uma língua. Vejamos a seguir um pouco da história sobre o
assunto.
1.4.2 Evolução histórica da classificação das palavras: dos gregos à
gramática tradicional
De acordo Azeredo (2000) e Neves (2002), o início da discussão acerca da
classificação das palavras se deu com o trabalho de alguns filósofos gregos,
passando em seguida para os estudos de gramáticos e filólogos, também de origem
grega. Contudo, a difusão dessas ideias só foi possível a partir das obras de
intelectuais romanos, que tomaram contato com elas e as espalharam por todo o
Império Romano.
O filósofo grego Platão, por exemplo, dividiu o discurso por ele intuído como uma
expressão do pensamento, em duas unidades básicas: ónoma (nome) e rhéma
(verbo). Por sua vez, Aristóteles, também filósofo grego, acrescentou a essa divisão
os syndesmoi (partículas). Gramáticos estoicos ainda introduziram a distinção entre
classes variáveis e classes invariáveis, até que, por volta dos fins do segundo século
a.C., Dionísio Trácio formulou uma teoria das partes do discurso, distribuindo-as em
oito categorias: nome, verbo, pronome, particípio, artigo, advérbio, preposição e
conjunção. Foi um trabalho tão bem feito que a classificação por ele proposta está
presente, com ligeiras modificações, na gramática tradicional até os dias de hoje.
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De Dionísio Trácio, a classificação de palavras passou à descrição da gramática do
latim, em especial a partir do trabalho de outro ilustre estudioso, o romano Varrão
(116-23 a.C.). Após, chegou-se à nossa gramática tradicional.
A classificação de Varrão introduziu os conceitos de classe variável e classe
invariável, também adotada em nossas gramáticas. Sua proposta de classificação
continha as classes: nome, verbo, particípio, advérbio e conjunção.
Combinando-se as propostas de Dionísio e Varrão, e aplicando-as ao português,
chega-se ao quadro de classificação adotado pela gramática tradicional, já incluindo
as classes dos numerais e das interjeições, não previstas pelos gregos, nem pelos
latinos.
Figura 7 - Platão deu a base para a gramática moderna. Fonte: Anastasios71, Shutterstock, 2018.
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Apesar de se aplicar facilmente a muitas palavras — e de serem um ótimo ponto de
partida para o estudo da classificação das palavras —, a proposta de Dionísio, assim
como a da gramática tradicional nela baseada, contém muitas falhas. Isso porque,
além de serem pensados exclusivamente para a língua grega, os critérios adotados
são heterogêneos e pouco rigorosos.
Quase sempre o critério é exclusivamente semântico, o que pode anular a diferença
entre classes. Por exemplo, a definição de “verbo” nos diz que ele é a classe que
indica uma ação. Ora, sob esse critério, a palavra “corrida” deveria ser classificada
como um verbo, apesar de a sentença “O atleta corrida uma maratona nas
Olimpíadas” ser completamente agramatical. O mesmo se diz da palavra “beleza”,
que é um substantivo, mas, pela definição proposta por Dionísio (e aceita por
grande parte dos gramáticos tradicionais) deveria ser um adjetivo, já que indica uma
qualidade. Você consegue imaginar uma frase como “A beleza música contagiou a
todos” em vez de “A bela música contagiou a todos”?
Os problemas vão bem além de se usar o critério semântico na classificação. Outras
questões surgem da classificação atualmente usada em nossas escolas. Por
exemplo, como ficam as interjeições? De que forma se pode considerar “ai!”, “ui!” ou
“atchim!” como palavras, se elas não podem figurar em nenhuma posição na frase?
Você consegue imaginar uma frase como “O atchim respingou em todos na sala”? E
quanto a diferença entre numerais, adjetivos e artigos? Por que considerar os
numerais uma classe à parte, quando o comportamento deles é semelhante aos
artigos e aos adjetivos(ambos sempre ligados a um substantivo)? Os advérbios
sempre se ligam a verbos?
Quadro 1 - Classes de palavras variáveis e invariáveis. Fonte: Elaborado pelo atutor, 2018.
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Na verdade, dadas as limitações da teoria gramatical vigente à época de Dionísio e
de Varrão, é possível afirmar que ambos fizeram um belo trabalho. O mesmo se diz
dos gramáticos tradicionais que adaptaram os ensinamentos dos dois estudiosos ao
português, em uma proposta que vigorou por muitos anos. No entanto, a evolução
dos estudos sobre a linguagem mostrou a necessidade de uma classificação que
melhor evidenciasse a estrutura e o funcionamento da linguagem. A partir de então,
várias propostas surgiram, procurando adotar critérios mais precisos sobre a
classificação.
Vejamos um caso prático a seguir para compreendermos quanto ao tema.
CASO
Os alunos do Ensino Médio de uma escola pública de são Paulo se encontravam desmotivados por
não estarem compreendendo o conteúdo das aulas de Morfossintaxe. Ao conversarem com a
coordenação pedagógica sobre esse fato, o coordenador se dirigiu ao professor de Língua
Portuguesa, no intuito de encontrarem uma solução no campo da didática e da metodologia de
ensino para auxiliar na aprendizagem desses estudantes.
Após uma longa conversa, ambos detectaram que a abordagem do professor se limitava às análises
morfossintáticas nos moldes tradicionais, com frases soltas e descontextualizadas, retiradas dos
manuais de gramática. Em conjunto, professor e coordenador perceberam que era necessário buscar
novas alternativas para abordar esse conteúdo.
Em decorrência das análises feitas, avaliou-se, então, que o professor precisava levar em
consideração as diferenças que existem entre as classes de palavras e as funções sintáticas. Logo,
foram feitos os seguintes encaminhamentos para as próximas aulas de Língua Portuguesa:
abordar o conteúdo considerando os distintos fatos linguísticos, entre eles o substantivo, o
adjetivo, o sujeito, o predicado e o adjunto adverbial;
enfocar como esses assuntos se dividem entre as partes da gramática, acerca do que
realmente seja a morfossintaxe. 
Dessa forma, os alunos entenderam, após as novas práticas pedagógicas do professor, que a
morfossintaxe nada mais é do que as análises morfológica e sintática, efetivadas simultaneamente.
Contudo, a fim de que seu entendimento seja realizado de forma possível, é primordial apreender,
primeiramente, que a análise morfológica está baseada nas 10 classes gramaticais, bem como a
análise sintática está ligada às funções desempenhadas por determinadas palavras, considerando
que elas estejam inseridas no contexto da oração ou do período.
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Quando nos dedicamos ao estudo da morfossintaxe, o caráter conceitual desse
ramo da linguística não se esgota no entendimento do que vem a ser a morfologia.
Ao contrário disso, há outros conceitos que se fazem presente, e, mais do que isso,
são de extrema relevância para os estudos morfológicos.
Síntese
Finalizamos nossa primeira aula sobre a morfossintaxe. Aqui, fizemos um rápido
percurso pela morfologia e pela sintaxe, a fim de demonstrar quão interligadas
estão essas ciências. Comecemos pelo conceito de dupla articulação da linguagem,
que norteia e situa a morfologia dentro dos níveis de descrição da língua. Esse
conceito advém da capacidade que a linguagem humana apresenta de ser
duplamente articulada. Na primeira articulação, ficam distribuídos os elementos
que contêm significação, ou seja, o plano do conteúdo. É nessa articulação que está
situada a morfologia, ao lado da sintaxe. Já na segunda articulação, estão os
elementos do plano de expressão, constitutivos dos estudos em fonética e
fonologia. 
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
observar que as palavras não existem por si só, ou seja, cada uma delas é
responsável pela expressividade que se pretende em sua articulação
dentro dos enunciados;
reconhecer alguns conceitos, como “articulação” e “função”;
entender que a articulação é a propriedade que possui os vocábulos, que
se dividirem em partes e, assim, por essa característica, são passíveis de
análise;
compreender sobre a verificação da substância constitutiva da forma, o
que culmina em uma estrutura cuja construção organizada permite o
estudo de suas partes;
perceber que os elementos conceituais se constituem como primeiro
passo para se proceder a uma análise morfossintática dos termos que
constituem os discursos;
analisar que as partes de um vocábulo, bem como reduzir as
frases/orações/enunciados a seus termos constitutivos, não significa
apenas separá-los uns dos outros;
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lembrar que a análise só é válida se sua recomposição se mantiver.
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