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97 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 LUTAS: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS Unidade II 5 LUTAS NO ESPORTE PARTICIPATIVO O Esporte Participativo engloba uma variedade prazerosa de atuação no campo das atividades físicas e tem o objetivo de instigar a população a tomar parte e persistir na prática esportiva como cultura corporal. Tubino (2010) apresentou o Esporte Participativo direcionado às expressões físicas e motoras oriundas das modalidades esportivas que se relacionem com intenções de se buscar divertimento e interação social, associando e contribuindo aos propósitos de desenvolvimento pessoal. Um fator que desperta estima é que o Esporte Participativo visa alcançar uma variedade bastante ampla de militantes, não impondo condições de idade e social, sujeitos com necessidades especiais, gênero etc. Os equipamentos nos quais se realizam o Esporte Participativo também são muito flexíveis. Observa- se que parques, praças, academias, clubes, praias, terrenos, escolas e instituições de nível superior (atividades de extensão comunitária em espaços ociosos e fins de semana) etc. são lugares que devem ser amplamente usados para possibilitar o desempenho do Esporte Participativo. O envolvimento pessoal em grupos com objetivos comuns, o convívio, a experimentação, a troca de conhecimentos, a sociabilidade e os saberes interativos são características importantíssimas que se destacam. É muito corriqueiro verificar-se colegas de trabalho, familiares, comunidades de idosos, de policiais, de regiões com carência social, estudantes e demais grupos sócio-interativos que se juntam e se envolvem em muitas atividades esportivas realizadas aos fins de semana, após o término das suas atividades profissionais e estudantis, para efetivação do lazer e recreação. Por meio do Esporte Participativo, busca-se o comportamento social que provoque influências mútuas, desperte conscientização e aceitação social, dissemine a cidadania e explique as condições de se atingir melhores condições de comunicação humana e presença em sociedade, debata as responsabilidades familiares, contemplativas, políticas, educacionais, deveres e direitos iguais. As particularidades intrínsecas das Lutas auxiliam no desenvolvimento integral do ser pela contínua troca de desafios por meio de influência mútua; exige-se que a prática seja desempenhada com seus colegas, ao lado de seus companheiros e através das críticas construtivas de todos os participantes. Os intercâmbios corporal, mental e psicossocial são permanentemente exigidos. 98 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 Unidade II As Lutas envolvem o contato corpóreo humano, as condições de trocas anatômicas são muito próximas, e necessita-se do uso de estratégias de atuação, pensamento hipotético, aceitação das próprias limitações, emprego das potencialidades físicas, da racionalidade e do domínio afetivo-emocional. Daí certifica-se a grande utilidade das Lutas no Esporte Participativo, auxiliando na construção de indivíduos mais influentes, centrados, os quais possuem ainda maior autocontrole emocional no universo da cidadania. Percebe-se que a disciplina de Lutas é muito atraente para ser usada como ferramenta de efeito no Esporte Participativo. 5.1 Segurança pessoal no uso cotidiano Vários historiógrafos descreveram a necessidade que os monges tinham de se defenderem dos ataques de saqueadores de seus templos. Os escritos mais conhecidos expõem o monge budista indiano, Bodhidharma, 527 d.C., como precursor da criação de métodos de Defesa Pessoal que permitiram aos religiosos protegerem seus bens. Os procedimentos mais especializados dessas realizações corporais foram criados por meio de técnicas baseadas em movimentos de ataques e defesas que eram feitos por vários animais (ASHRAFIAN, 2014). Os samurais foram outra classe de guerreiros e estudiosos que aprofundaram o treinamento de técnicas de Lutas, em especial com uso de espadas e outros implementos, além da utilização de golpes e técnicas que pudessem submeter seus adversários apenas com o emprego das mãos, contra atacantes equipados com armas de corte. A casta dos samurais entendeu a importância da prática dos exercícios conjuntos de Defesa Pessoal para instigar os seus praticantes a refletirem a respeito da necessidade de estabelecer relações com seus adversários e respeitá-los. Essa prática conjunta marca notadamente a obrigação de perceber que os seus oponentes é que vão propiciar condições de apontar suas debilidades, permitirão que se descubram alternativas de tomada de decisão diante dos desafios impostos e possibilitarão aprofundar o conhecimento sobre a própria melhora em todos os níveis de atuação do ser. É notável que em épocas remotas várias Artes Marciais e Lutas se difundiram mais como atividades de Defesa Pessoal. É imprescindível atentar que tempos contemporâneos, infelizmente, ainda propiciam grande incidência de acometimentos, assaltos e violência urbana, os quais afetam diretamente a população em geral. Desse modo, muitas pessoas procuraram academias e clubes especializados nessas Lutas para poderem exercer seus direitos de defesa em caso de ataques e brutalidades cotidianas. Obviamente, o papel do professor no treinamento foi e sempre será fundamental para a construção de equilíbrio emocional daqueles que desejam se utilizar de meios de autodefesa. Portanto, chama-se a atenção para o fato de que essas atividades de Artes Marciais e Lutas, praticadas sem intuito competitivo, propiciam ampla sociabilidade e permitem reunir muitas pessoas com interesses comuns na prática desportiva voltada para a segurança pessoal. O esporte, aperfeiçoado em combates corpóreos, volta-se para engrandecer o ser humano na busca de ideais de participação na convivência sadia, que elevem sua autoestima e que tragam autoconhecimento e melhores relações interpessoais. 99 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 LUTAS: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS Lembrete As Artes Marciais na Antiguidade significavam excelência para a guerra, atualmente querem dizer prática de atividade física com objetivo de autoconhecimento, interatividade e equilíbrio pessoal. Quando descrevemos Esporte de Participação, no caso específico da prática das Lutas norteadas para a segurança individual, é primordial que o uso dessas técnicas de Defesa Pessoal seja feito somente em condições que lhes possam ser totalmente favoráveis. O seu uso é extremamente restrito e rigoroso e deve ser dirigido somente para legítima defesa, com precisão absoluta e culminante capacidade de ação que não permita ao agressor reagir. O Esporte Participativo aponta para a prática e o exercício que permita treinar e adquirir condições de cumprir somente controle, domínio e autoridade sobre os seus agressores e jamais se valer de suas propriedades de exterminação ou para causar danos físicos e morais irreparáveis. Como exemplo, vê-se a prática de esporte de Defesa Pessoal dirigida para a construção da autoconfiança e do estabelecimento de atitudes conduzidas para o bem-estar de todos. Modalidades como Aikido, Hapkido, Judô, Karatê e Wushu destacam-se nas procuras para esses conhecimentos. Por terem ultrapassado tantos séculos de costumes políticos e sociais, e partindo do princípio de resguarda de seus valores de fundamentação filosófica, as Artes Marciais constituem uma prática de excelência para a autopreservação. A constante solicitação cognitivo-emocional que exige de seu praticante, apoiada em preceitos tais que formam a disciplina física, a incitação à tomada de decisão instantânea e prevenida, com extremaexatidão e respeito ao seu contendor, imbui seus participantes a compreenderem os aspectos primordiais de planejamento de ações. Portanto, antecipação, prontidão emocional, física e motora e alerta dos sentidos são características que afloram no assíduo praticante de Lutas. A estruturação da Defesa Pessoal, por meio da prática das Artes Marciais, sustenta seu participante a possuir amplo preparo emocional, contenção, inteligência emocional, autoconfiança e preservação da vida. Obviamente, a prática e o emprego dessas Lutas, ao longo do tempo, também passaram por deturpações de indivíduos despreparados, talvez em maior ou menor escala em distintos períodos. Várias pessoas obtiveram o conhecimento das técnicas de confronto corporal, sem terem sido estruturadas cognitiva e emocionalmente para conviverem com os princípios de sua utilização em sociedade. Assim, percebem-se diversas ocasiões nas quais sujeitos intimidam seus pares, abusam de atitudes descabidas que se baseiam na violência, sujeitos que pertencem a clubes e academias sem registro nas devidas instituições e sem fiscalização do poder público, treinados por supostos professores de Artes Marciais, os quais estão totalmente desvirtuados dos preceitos filosóficos das Lutas. Esses indivíduos criam uma visão totalmente equivocada dos valores sócio-afetivos a serem edificados pelo aprendizado das Lutas e das respectivas técnicas de autodefesa. Preparam-se para se sobressair fisicamente e atemorizarem outras pessoas por intermédio de atitudes que podem ser consideradas de pouquíssima capacidade de inteligência em relação à sua participação na coletividade. Foram corriqueiras as notícias vinculadas na mídia, na década dos anos 1980, sobre rapazes que se imbuíam do espírito de valentões, vestidos com uniformes de soldados, detentores de cães 100 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 Unidade II considerados agressivos, treinados e desvirtuados de sua natureza doméstica, em particular os da raça pit-bull, para atuarem como verdadeiros delinquentes e desordeiros. Os jornalistas até apelidaram esses delinquentes de pit boys. Eram esses baderneiros, e ainda se encontram alguns de seus delituosos seguidores, praticantes de Lutas e Artes Marciais, de musculação e dispostos a incitarem brigas e confusões, com intuito único de causarem confusão, pânico, perturbação e fazerem valer seus atributos físicos. Felizmente, a própria sociedade os descaracterizou, e não acatou esses grupos distorcidos de valores e que afetavam a convivência pacífica, pois esse não é o sentido da prática participativa nas Lutas, tampouco dos adeptos da Defesa Pessoal. Assim sendo, nota-se que a incidência desses sujeitos e de instrutores de Lutas de categoria duvidosa tem se reduzido consideravelmente na sociedade. Além disso, esses fomentadores irresponsáveis da violência vêm perdendo terreno para profissionais de gabarito. Cada vez mais profissionais de Educação Física se capacitam no universo das Lutas e da Defesa Pessoal e antigos instrutores dessas modalidades têm se dirigido aos cursos de Educação Física para fundamentação e ampliação de seus conhecimentos. Observação Defesa pessoal tem por objetivo sempre evitar o confronto. Profissionais de Educação Física têm se pautado pela constituição de atitudes condizentes com a civilidade ao empregarem a prática de Lutas para a Defesa Pessoal que visa à formação do ser. Estes profissionais dirigem o aprendizado das técnicas de Lutas, nas mais diversas instituições, com objetivo de lazer, recreação e construção de valores sociais em harmonia com os bons costumes. Nitidamente, esses indivíduos seguem todas as determinações acadêmico-científicas e se pautam firmemente pela ética, oferecendo a prática dos elementos corporais de combate para cultivar raízes que gerem indivíduos compromissados com os mais nobres valores de convivência social, tais como: solidariedade, empatia, voluntariedade, disciplina, hierarquia, contenção, cortesia, polidez e respeitabilidade. 5.2 Segurança pública e a prática participativa nas Lutas As corporações militares sempre procuraram a Educação Física como ferramenta auxiliar para preparação de seus membros, ainda mais na prática de modalidades de combate, inerentes à condição de confrontos permanentemente usuais em sua profissão. Primeiramente, no âmbito militar, as Lutas tinham função de preparar corporalmente as tropas, com intuito de proporcionarem boa disposição física, competência para suportar longos deslocamentos, falta de conforto e capacidade de enfrentamento corporal por meio da força e com o uso das armas de combate frente a frente com o inimigo. Apesar de efetivos militares das cidades brasileiras terem sido criados desde 1830, ainda no Império, somente no início do século XX o esporte para treinamento combativo por meio de força pública foi introduzido na polícia militar brasileira. Anteriormente, os treinamentos físicos eram feitos por 101 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 LUTAS: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS intermédio de ordens unidas militares como marchas, carregamento de armas e treinamento de tiros. A partir de 1910, com a chegada do francês Delphin Balancier para coordenar a instrução de Esgrima e Ginástica para os soldados de São Paulo, foi introduzida a sistematização e aplicação esportiva da Educação Física dos soldados paulistas. Além dos combates realizados com bastões e Esgrima à baioneta, outra modalidade que se distinguiu no treinamento militar de combate corporal foi o Boxe savate – mistura do Boxe, por meio de socos associado com o Savate, técnicas de chutes e pontapés, que tem origem francesa (POLICIA MILITAR DE SÃO PAULO, [s.d.]). O Esporte Participativo nos grupos das polícias militares, sobretudo no adestramento com Lutas, Artes Marciais e Defesa Pessoal, está difundido de modo bastante abrangente no território brasileiro. Cada vez mais se certifica a participação de agentes militares em práticas específicas de Lutas com intuito exclusivo de servir bem profissionalmente, em particular nos parâmetros da segurança pública. A segurança pública é responsabilidade de todos e sua finalidade é proporcionar proteção à vida, ao patrimônio, à ordem, prevenindo criminalidade, efetiva ou potencial, distúrbios e vandalismos que coloquem em risco quaisquer cidadãos. As polícias militares foram criadas com essa intenção específica, e especialmente a favor da população. Seus integrantes nada mais são que seres humanos iguais a todos os habitantes da nação, com os mesmos deveres e direitos e, por essa razão, o seu preparo deve ser muito profundo e de excelência para atender as demandas de ordem social, preservando os direitos constitucionais. Esses profissionais têm de lidar com exacerbações de grupos políticos, associações de classes e coligações sociais, as quais muitas vezes invadem o direito dos outros e agem de maneira a ultrapassar os limites do posicionamento pacífico e ordeiro em suas manifestações. Também enfrentam interesses de criminosos, bandidos, traficantes e combatem a criminalidade, colocando em risco suas vidas e a segurança de suas famílias. No âmbito da força pública, o treinamento das tropas militares urbanas e rurais tem mostrado movimentos inteligentes por meio da prática desportiva de Lutas, com a finalidade de capacitar seus representantes para melhor atuação profissional. Não se mira somente a preparação física, mas principalmente a habilitação cognitiva e emocional de enfrentamento contra criminalidade, vandalismo, desordens, destruição efetiva e potencial de patrimônio público e particular, atentados e ações que coloquem a vida cidadã em risco. Os agentes públicos de segurança sereúnem para receber treinamento que os elevem na condição do trato comunitário e pessoal, aprendem e reforçam técnicas decisivas em abordagens e ações de proteção, vigilância e prevenção. Há muito tempo a Defesa Pessoal se difundiu nos ambientes militares e policiais como modo de treinamento específico para confrontos nos quais se necessitem de estratagemas a fim de conter manifestações de ordem aparelhadas ou caóticas. Como já apresentado, as Artes Marciais disseminam oportunidades de conscientização corporal, contenção emocional e atuação racional imediata com domínio da situação. Desse modo, os componentes das forças públicas, ao praticarem comumente as Artes Marciais, parecem apresentar melhores condições para salvaguardar e proteger a vida de todos os envolvidos em atos exacerbados e que não respeitem os direitos de outrem. 102 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 Unidade II Portanto, com a prática das Artes Marciais, os grupos que atuam nas forças públicas reúnem condições de melhor envolvimento profissional e social, expandem seu conhecimento para a sociedade e prestam benfeitorias à cidadania. 5.3 Lutas e a promoção da saúde Na história humana encontram-se manifestações corporais que mostram a prática de atividades físicas e esportivas para o patrocínio e a difusão de métodos essenciais que produzam promoção da saúde, construção estética relacionada à beleza interior e exterior, desenvolvimento de força, despertar da vivacidade e conquista de bem-estar. Na Antiguidade, termas, circos romanos (pistas e campos em geral circulares, ovais ou retangulares), anfiteatros, estádios, coliseus, piscinas, rios, salas imperiais, templos e monastérios, dentre vários locais, abrigavam treinagens, lazer e disputas esportivas voltadas às populações, aos imperadores, políticos renomados, reis e faraós. Esses treinamentos buscavam atingir os objetivos mais diversos, mas entende- se que sempre havia preocupação em se causar transformações físicas importantes para a construção de indivíduos que se prestassem às atividades guerreiras, servir à pátria, divulgar o belo, debater a ética e apresentar melhores condições de vida. Dentre essas práticas, as Lutas foram importantes exercícios que possuíam grande receptividade para a construção de físicos avantajados, estruturas corporais bem definidas, formosura estética e demonstração da associação diligente de coragem e inteligência. Esses conceitos eram muito apregoados, independentemente de as Lutas terem sido usadas para, em várias oportunidades, gerarem ideias e posicionamentos relativos à violência e às atitudes bárbaras e cruéis, como nos Jogos de Combate protagonizados pelos gladiadores romanos. Atualmente, ainda trazendo alguma condição midiática de exercício que pode gerar a violência, mas graças ao papel essencial da expansão da Educação Física, as Lutas têm se estabelecido como excelentes experiências para promover a intervenção e as mudanças que levaram os gregos e orientais a apreciarem suas qualidades relacionadas à promoção física, à estética e ao vasto desenvolvimento humano. A aceitação e expansão das Lutas fomentaram o aparecimento das academias especializadas, isto é, individualizadas, sendo de linhagem segmentada e propondo a continuidade de uma modalidade de Luta única. Também surgiram as academias de ginástica generalizada. Daí, oferecendo atividades de ginástica localizada e de ritmos, musculação, corridas, natação, hidroginástica etc., ou seja, práticas mais diversificadas. A partir de agora, serão chamadas, respectivamente, de academias específicas e academias convencionais. As academias específicas, como já foram mencionadas, concentram-se em uma modalidade de Luta singular. Elas ordinariamente oferecem a prática de Modalidades de Esporte de Combate ou Arte Marcial. Como exemplos, podem-se encontrar academias específicas nas seguintes modalidades: Boxe, Judô, Karatê, Muai Thay, Tae kwon do, Wushu, Yoga e Jiu-Jitsu. 103 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 LUTAS: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS Essas academias específicas têm objetivos bem dirigidos, querem atingir o máximo de aperfeiçoamento na modalidade. As preocupações de alguns dos frequentadores aliam-se a propósitos que disponibilizam prática assídua para manutenção e realização de atividades físicas, tirarem tensões físicas e psíquicas, buscando bem-estar e autoconhecimento, enquanto outros se focam no aperfeiçoamento técnico máximo, pois desejam participar de competições de alto nível ou tornarem-se professores da modalidade. Nesses locais a preocupação é oferecer adestramento característico e por isso se percebem treinos intensos, contendo combates e enfrentamentos corporais, com maior rigor técnico. Não existe, de modo generalizado, direcionamento voltado à condição de alcançar parâmetros estéticos corporais. Existe disciplina, ritualização e movimentos atribuídos a condições filosóficas e fundamentos espirituais, próprios dessas Artes Marciais e que compactuam com pensamentos e experiências dos instrutores e mestres. Essas academias têm uma grande presença no Esporte Participativo, pois congregam muitos adeptos e acomodam momentos de interação social, construção de interesses comuns, desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial. Saiba mais Para mais informações, leia o estudo a seguir que se relaciona com a matéria: SCHWARTZ, J. Aptidão física relacionada à saúde e qualidade de vida de praticantes de lutas, artes marciais e modalidades de combate da cidade de São Paulo. 2011. Dissertação (Mestrado em Biodinâmica do Movimento Humano). Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/ teses/disponiveis/39/39132/tde-17022012-085028/pt-br.php>. Acesso em: 21 mar. 2018. Por sua vez, devido à ampla oferta de tecnologia e ao sedentarismo, provocado por hábitos de vida ligados ao conforto, urbanização, uso de automóvel em vez de caminhadas e consequente redução das mobilidades corporais, grupos de pessoas preocupadas com a saúde passaram a procurar academias de ginástica convencionais. Também se constataram que medidas de segurança nas cidades, restringindo espaços públicos de lazer, recreação, desocupação direcionada à realidade virtual e falta de atividade física, aliadas à oferta enorme de alimentação rica em calorias cada vez mais notória, arremataram muitas pessoas a buscarem a compensação pela falta de movimentação e de gasto calórico com participação efetiva nessas academias convencionais. As mais variadas atividades de ginástica, aquáticas e de musculação vêm sendo oferecidas nessas instituições que divulgam a venda da saúde e a estética corporal. As aulas apresentadas são dinâmicas, com agitações físicas intensas e concentradas em períodos de aproximadamente 60 a 90 minutos de movimentação. Os públicos mais participativos são jovens e adultos em idade universitária e economicamente ativos. 104 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 Unidade II As Lutas, a princípio, não eram oferecidas nesses espaços socioesportivos. O aprendizado de Lutas relacionadas ao Esporte Participativo era raramente encontrado, apenas dentre alguns pioneiros se ofereciam modalidades específicas de Artes Marciais. Muita gente mantinha a ideia de que as Lutas poderiam causar danos e lesões decorrentes dos contatos corporais e falavam em evitar esse acostamento corpo a corpo, exigido nas Lutas tradicionais. Contudo, os interesses desse conjunto de pessoas têm mudado constantemente, pois parecem procurar variabilidade. Elas se focalizam nas informaçõesda mídia e nas divulgações referentes aos programas de perdas calóricas, além de associações relativas à moda corporal, beleza estática e posicionamento social. A vasta divulgação de que se podem alcançar perdas calóricas importantes por intermédio das execuções de gestos técnicos de Artes Marciais e Modalidades de Esporte de Combate têm incentivado a procura de aulas respectivas nas academias convencionais. Professores de ginástica e instituições voltadas para aulas nessas academias de vanguarda programaram atividades que se aproveitam dos fundamentos técnicos das Lutas, imitando-os e mesclaram com movimentos dinâmicos. Esses arranjos motores são formatados de modo coreográfico, assim se parecendo ou lembrando, em alguns casos, com as rotinas de formatos simétricos e estruturados das Artes Marciais chamados de kata, no Judô e no Karatê, poomse, no Tae kwon do, e kati, no Wushu. As repetições são exaustivas e calculam-se perdas calóricas da ordem de 700 a 800 kcal/h (2.900 KJ a 3.350 KJ). Esses números são elevados e trazem euforia aos frequentadores, pois auxilia na aquisição de cumprimento aos padrões estéticos e de comportamento social, em geral baseados em ingestão de alimentos com quantidade calórica bem acima do necessário para a sobrevivência e tentativa de eliminação contínua dos excessos absorvidos. Empresas especializadas criaram lições de Lutas acompanhadas de exercícios aeróbios, com extraordinária perda calórica. O fator adicional que tem atraído muitos participantes foi o de haver condição suplementar de que não há absolutamente qualquer contato corporal. As práticas são feitas em grupos de características bem semelhantes e a participação de mulheres é abundantemente percebida. Nas academias convencionais, o ensino de Lutas destaca modalidades como o aeroboxe; que alia vários tipos de socos, esquivas e deslocamentos corporais típicos das Lutas de Boxe, e o Muay Thai aeróbio com joelhadas, cotoveladas e chutes efetuados no ar, tais como os realizados na própria Luta como se tivessem enfrentando um adversário imaginário. Bodycombat e Bodyattack, as quais são marcas registradas da body systems – Les Mills (Nova Zelândia) –, apresentam misturas de gestos técnicos das Lutas, como: chutes elevados, esquivas e murros. Também há o Kickboxing, outra modalidade muito utilizada nas academias convencionais, sendo a combinação ágil de cuteladas, socos e pontapés, enfim, uma mistura de Karatê com Boxe. Igualmente, um novo estilo vem se destacando: as aulas de Luta funcional. Algumas modalidades foram criadas a partir de movimentos relacionados com operacionalidade cotidiana e movimentos de Lutas, aparecendo com o nome de Muay Thai funcional e Boxe funcional, compondo circuitos aeróbios com elásticos, bastões, levantamento de pesos e movimentos clássicos dessas Modalidades de Esporte de Combate. É inegável que perdas calóricas tão proeminentes, obtidas pelas aulas de Lutas nessas academias convencionais, satisfazem vários quesitos relacionados à saúde, atingindo parâmetros médicos 105 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 LUTAS: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS importantes, como: combate ao sedentarismo, emagrecimento, auxílio no controle de regulação de pressão arterial, redução glicêmica, bem-estar e redução de tensões e estresse profissional. Essas aulas de Lutas em academias convencionais são tão intensas que promovem grandes modificações corporais, tais como: tonificação dos músculos e aumento da autonomia motora. Além disso, decorrem resultados estéticos fartamente esperados, pois além do emagrecimento e da redução de massa gordurosa, a ativação sanguínea é bastante intensa e tão bem generalizada que parece adicionalmente trazer maior elasticidade ao tecido tegumentar. Como promotora de aspectos importantes na obtenção de bem-estar e aquisição de elementos que favorecem manutenção ou melhoria da saúde, as Lutas conquistam presença cada vez mais abrangente no Esporte Participativo, e ultimamente sua atuação têm amparado de modo inclusivo pessoas mais idosas a fim de recuperar autonomia e funcionalidade. Adiante vamos explorar essas características aplicadas no universo dos seniores. 5.4 Idosos e as Lutas As consequências do avanço cronológico constituem uma verdade absoluta para todos os seres humanos. A população idosa vem aumentando e carece de cuidados atentos relativos ao processo de envelhecimento. Sabe-se que tal etapa traz a necessidade de adaptação frente às condições que vão se estabelecendo, em acordo com as etapas de perdas biológicas e comprometimento físico, motor, psicológico e, mais tarde, igualmente, cognitivo. As principais perdas biológicas em direção ao envelhecimento são relacionadas aos danos fisiológicos, à maior lentidão nas regulações metabólicas e à redução nas atividades do sistema imunológico. Prejuízos ao sistema ósseo, com redução no processo de captação de minerais essenciais para a boa composição óssea, ocorrem e são comuns, principalmente em indivíduos que não praticam atividade física de impacto muscular adequado e têm ingestão insuficiente de nutrientes eficazes. Os avanços etários, associados à falta de atividade física, provocam, por conseguinte, perda de conteúdo contrátil muscular e prejudicam os ajustes das articulações. Assim, acontece redução na formação de glicoproteínas necessárias para o apropriado funcionamento das articulações sinoviais, regiões importantíssimas à mobilidade, aos deslocamentos e à autonomia motriz. Essas articulações são localizadas especialmente nos tornozelos, nos joelhos, nos punhos, nos acetábulos da região pélvica e na cintura escapular. Elas vão perdendo sua principal característica: a flexibilidade. Por sua vez, os músculos vão perdendo a capacidade de mover, resistir e potencializar forças cotidianas, inclusive a própria tonicidade para manutenção funcional anatômica e autonomia motriz generalizada. A musculatura vai ficando com menos elasticidade e reduzindo a capacidade para mobilizar as fibras necessárias à contração muscular solicitada. Essas perdas se agregam às reduções na transmissão de impulsos nervosos às unidades motoras. Consequentemente, há considerável diminuição nas capacidades de cumprimento de significantes tarefas motoras. 106 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 Unidade II A perda de força é um dos motivos para causar problemas de quedas, que são desastrosas aos idosos, pois provocam fraturas facilmente e demandam certa imobilidade para a sua recuperação. Idosos – mais ainda – precisam de movimento para estimular suas funções metabólicas, capacidades fisiológicas e imunológicas. As tarefas motoras mais prejudicadas no processo de envelhecimento são as perdas no equilíbrio, o detrimento da posição postural, a alteração no padrão de caminhada e o mais marcante, que é o aumento do tempo de reação. As quedas, as limitações de mobilidade e de reações musculares apropriadas, a redução da produtividade física e mental, o sedentarismo e os problemas de saúde são consequências eminentes desses detrimentos. O tempo de reação comprometido fica afetado acentuadamente nas demandas na recuperação do equilíbrio, nas respostas motoras que auxiliam as realizações corporais mais críticas, como os desvios corporais e na utilização de implementos, ferramentas, objetos de uso cotidiano e outros dispositivos móveis. O tempo de reação mais elevado provoca dificuldades de movimentação no padrão de caminhada, pois retarda a coordenação dos membros inferiores e a colocação encaixada dos pés no solo. Woollacott e Shumway-Cook (1990) assinalam que múltiplos fatores neurais e biomecânicos funcionam conjuntamente para se atingir a formalização deuma tarefa motora, conseguindo participação importante, consistindo em sinergias das respostas musculares, isto é, o controle postural e a atuação coordenada dos sistemas visual, vestibular e somatossensorial, produzindo o controle espacial. Esses autores ainda complementam mencionando a importância dos sistemas de adaptação da ação motora, a sustentação da tônica muscular (posição), a magnitude articular, ou seja, suas restrições e a capacidade máxima de atuação (flexibilidade) e, por fim, a morfologia do indivíduo, como seu peso, altura, massa muscular, formação e individualidades herdadas para alcançar trabalhos motrizes eficientes. Como se tem percebido, idosos sofrem para manter e recuperar esses atributos tão significativos para sua saúde e autonomia. As características mais abrangentes das Lutas implicam o processo de produção de controle tônico e o desenvolvimento das capacidades coordenativas, fortalecem o sistema muscular, provocam o uso complexo do sistema articular, desafiam a quebra do equilíbrio e a sua busca constante, invocam a obrigação nas reações de escolha e a necessidade de reagir rapidamente contra um desafio motor. Os exercícios específicos para Lutas, Artes Marciais e Modalidades de Esporte de Combate alcançam todas as benesses protagonizadas pela atividade física responsável, como: aumento da capacidade musculoarticular, cardiorrespiratória, cardiocirculatória, irrigação neural e favorecimento do aumento na velocidade das transmissões nervosas. Nota-se uma procura e participação cada vez mais compreensiva de idosos nas atividades relacionadas com Lutas. Essa população percebe que tal prática vai ao encontro das necessidades de se alcançarem melhores condições para lidar com os processos de envelhecimento, pois ao praticarem Lutas adquirem mais força, recuperam capacidade de evitar a perda de equilíbrio, melhoram o caminhar e sentem mais disposição, com maior liberdade operacional e autonomia. 107 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 LUTAS: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS Desde que a prática das Lutas seja apropriadamente adaptada às limitações características do público com idade bem avançada, muitas de suas peculiaridades afloram e parecem elevar o juízo de que Lutas são essencialmente benéficas e contundentes no processo de manutenção e melhoria da qualidade de vida. Além do fortalecimento muscular e da ativação da circulação sanguínea, elas causam desafios motores específicos para tomada de decisão e recuperação do equilíbrio, exercícios que contribuem para evitar, prevenir e saber realizar quedas. Algumas modalidades das Artes Marciais e de Esporte de Combate têm como gestos técnicos fazer projeções, lançamentos e arremessos corporais ao solo, e por esse motivo associaram outro fundamento técnico importantíssimo para seu aprendizado e bom desenvolvimento da prática: o domínio das quedas, ou, como se prefere chamar, as quedas controladas. Como já vimos, o controle das quedas proporciona a propriedade de resguardar os órgãos vitais. Para que as quedas controladas sejam apropriadas por quem as efetua, devem ser realizadas com comando absoluto sobre o posicionamento das articulações e movimentação, permitindo fluidez aos movimentos fazendo com que seu realizador se mantenha integral. Assim, evitam-se lesões e desconfortos articulares, fraturas ósseas, estiramentos musculares, luxações etc. A queda controlada é tão repetidamente treinada e aprimorada nessas Lutas que acaba por fazer parte do cotidiano do praticante, que a incorpora como ações de tempo de reação imediato e preciso. Em caso de perda total de equilíbrio, em vez de se contrapor às forças do movimento e ação da gravidade que o levem a exigir demasiadamente ossos e articulações, o executante deixa o corpo interatuar com o solo, isola o impacto excessivo e recupera seu equilíbrio ou evita contratempos físicos. Modalidades como Judô e Aikido, de maneira explícita, treinam o controle de quedas frequentemente e as ações são efetuadas de modo harmonioso, com resultados que demonstram grande poder de domínio corporal, dando ao executante um grau elevado de confiança motora. Essas práticas preconizam e cobram que se devem realizar quedas corretas. Incute-se a ideia da compreensão da queda, do uso da inteligência corporal para se integrar ao movimento e da necessidade da promoção do autogoverno físico e motor. De modo óbvio, a prática apropriada das quedas promove o fortalecimento muscular e possibilita desenvoltura na capacidade de tempo de reação. Os idosos parecem absorver bem os ensinamentos de movimentação articular necessários nessas modalidades de Artes Marciais e, em geral, nota-se a redução de fraturas em anciãos que as executam. Saiba mais Para mais esclarecimentos a respeito dos subsídios importantes relacionados à matéria recém-abordada, leia a seguinte reportagem: ALVES FILHO, M. Judô e Aikido ajudam a evitar quedas de idosos. Jornal da Unicamp, Campinas, p. 8, 13-19 out. 2014. Disponível em: <http:// www.unicamp.br/unicamp/sites/default/files/jornal/paginas/ju_610_ paginacor_08_web.pdf>. Acesso em: 21 mar. 2018. 108 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 Unidade II Figura 65 – Quedas realizadas por idosos no Aikido A recuperação do equilíbrio dinâmico é também uma das maiores manifestações para se efetuar o controle das quedas, sendo primordial aos idosos. Como já vimos, Judô e Aikido proporcionam o intercâmbio entre as quedas e a sua realização benéfica, segura e eficaz, cujos resultados harmoniosos e suaves apresentam grande fluidez motriz. Obviamente, praticar quedas controladas traz ganhos de força e aumenta a resistência muscular, qualidades tais que possibilitam também se evitarem a perda do equilíbrio e suas consequências. Recobrar o equilíbrio é um fator importante aos idosos, pois a perda de controle corporal e da postura implica posicionamento inadequado e que suscetibiliza ainda mais as quedas. Qualquer atividade física bem adaptada, programada e preparada para idosos traz benefícios, porém destacamos as Lutas, que contribuem diretamente com o bem-estar físico desse público-alvo e, portanto, faz-se necessário apresentar algumas características inerentes ao tema que provem da prática do Karatê e do Tai chi chuan. O Karatê tem sido muito bem-aceito entre os idosos, pois evoca a prática de movimentos que exigem grande concentração e deslocamentos dinâmicos. Os seniores progridem com bastante facilidade na prática dos exercícios de rotinas sem contato direto ou sem a confrontação. Essa prática, chamada de kata, como já descrito, exige memorização de sequências de movimentos, execução precisa e com certa potência motora, exigindo atuação coordenada, rítmica e harmônica. Os deslocamentos são realizados para várias direções e aumentam a percepção espacial. Enfim, o Karatê se demonstra muito apropriado e efetivo ao idoso. Uma modalidade de arte marcial que se destaca também com enorme aceitação no meio dos idosos é o Tai chi chuan. É praticado em parques, praças, quadras, com grande liberdade de espaço, não necessitando quaisquer condições especiais para sua realização. Universidades americanas, como a Harvard Medical School (2009), indicam o Tai chi chuan como uma das melhores modalidades esportivas para a manutenção e recuperação da saúde de idosos. 109 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 LUTAS: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS Essa arte marcial chinesa, baseada em preceitos taoistas, convenciona exercícios corporais fundamentados em movimentos de defesas e ataques de animais, usando as articulações humanas comelevada precisão motriz. O Tai chi chuan espera que se produza a bravura interior e a habilidade exterior. Os movimentos do Tai chi chuan seguem linhas circulares e esféricas e são realizados de modo suave, sem choques. A ideia é partir de um ponto específico de abertura motora e corporal e retornar ao mesmo ponto inicial, por meio de agilidade gentil, mas sequencialmente justa e verdadeira, assim se vence a precipitação pelo lento. A modalidade apresenta outra característica muito apreciada: o baixo impacto na recuperação do movimento: toma-se a exercitação da musculatura por meio do próprio peso e se ultrapassam as resistências físicas, isto é, vence-se a dureza pela suavidade, ao mesmo tempo em que se constrói o fortalecimento pela simplicidade. Por fim, os movimentos se encadeiam com a respiração e observa-se a atenção e focalização corporal em relação ao ambiente e ao alcance do corpo. Igualmente se vence a agitação pela quietude, constrói-se firmemente a serenidade e o aumento da concentração. A figura a seguir mostra a prática do Tai chi chuan. Figura 66 – Idosos praticando Tai chi chuan em parque na China Pode-se notar que o idoso tem escolhido as Artes Marciais para a promoção de sua saúde, pois as Lutas trazem condições essenciais e ganhos físicos imprescindíveis para o bem-estar físico, a autonomia motora, a independência funcional e por extensão o próprio conforto cotidiano. O idoso que pratica Lutas se sente mais confiante e produtivo. Além disso, os anciãos são praticantes assíduos e conquistam resultados em períodos bastante efetivos. As práticas de Lutas são basicamente realizadas em grupos, com atuações em equipes, por meio de ensaios coletivos e sensação de responsabilidade na sincronia de movimentos, em simulações e até mesmo competições demonstrativas, como nos casos do Tai chi chuan e do Karatê. Entretanto, também se treinam em duplas, ocasionando grande interatividade afetiva motora, como no Aikido e no Judô, 110 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 Unidade II pois necessitam de experimentação corporal intensa e trocas de ações mútuas protagonizadas de modo similar. Um participante vai aplicar o golpe e o outro recebê-lo, absorvê-lo e resolvê-lo e depois se alternam as ações motoras. Há incitação cognitiva e adaptativa. O idoso vai construindo relação de respeito, desvendando seus potencias e, ainda, percebendo limitações que podem ser superadas. Cada qual auxilia no desempenho do outro e se consolida maior abrangência interativa. Os seniores vão se fazendo importantes um ao outro, retomando e desenvolvendo mais inclinações de tomada de decisão, afirmando-se perante desafios e aumentando sua autoestima. Nos dias de práticas, ampliam-se e se criam círculos de amizades, observa-se satisfação em estar presente e sentir-se parte de uma maior conexão humana. Aumentam-se as ações solidárias e o acréscimo da ativação social. Além disso, estabelece-se percepção de acolhimento coletivo. Outro aspecto curioso e que produz efeitos benéficos aos idosos é a proximidade com praticantes de faixas etárias bem diferentes, pois em várias academias e grupos as aulas são realizadas com variedade de praticantes. Desse modo, disseminam-se conceitos jovens, com ideias executivas e opiniões mais experientes, proporcionando vasta prosperidade nas aceitações e na compreensão das diferenças de pensamento e de preferências sociais. Muitas vezes percebe-se que esse envolvimento traz maior entrosamento de conceitos às constantes mudanças humanas. Por exemplo, enquanto os mais velhos são mais conservadores e desejosos de certa permanência dos acontecimentos, jovens sempre vêm com ideários cada vez mais experimentais e baseados na tecnologia virtual. Essa miscigenação de opostos também faz parte do universo das Lutas. Pergunta-se então: o que é Lutar se não é estar em lados opostos na busca pelos mesmos objetivos? 5.5 As Lutas virtuais O mundo dos jovens tem se pautado pelo incessante contato com a virtualidade, e as Lutas têm adentrado com muita energia na conquista cada vez mais abrangente de adeptos dos jogos chamados de video games. Antes dos video games jogados pelos meios computadorizados, havia os fliperamas, máquinas montadas com dispositivos eletrônicos que disponibilizam apenas um dos chamados telejogos. Eram muito apreciados pelos jovens, especialmente no meio estudantil adolescente e universitário, porque ofereciam atratividade por intermédio de dinamismo manipulativo, sons peculiares e desafios. É de domínio do público, admirador de video games, que em 1976 foi lançado o que é até hoje considerado como o primeiro jogo de Lutas em fliperama, chamado de Heavyweight Champ, o qual exigia do protagonista vestir luvas de Boxe que possuíam controles internos. Os video games de Lutas começam a despontar no fim da década de 1970, ainda com controles e movimentos simples: o Warrior, assim designado o video game no qual dois cavaleiros se enfrentavam em duelos, foi o primeiro representante da classe nesse mundo virtual. O desenvolvimento da arte virtual é impressionante, com emprego de técnicas cada vez mais interativas e impressão inventiva; proporciona encantamento e leva grande quantidade de jovens a jogarem video games. 111 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 LUTAS: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS As principais características dos jogos virtuais de Lutas é possuir disputas ferrenhas, combate muito hostil e regras com bastante liberdade de ação e efetivação dos gestos virtuais que levem à vitória. O uso de implementos e armas consideradas pesadas como foices, machados, clavas, alfanjes, espadas (as mais variadas), cimitarras, cutelos, tacapes etc., que visam causar danos excessivos e essencialmente eliminar seu oponente imaginário, é muito comum em várias das versões de jogos virtuais de Lutas. Os jogos apresentam espantosa violência virtual, com ações explícitas de dilacerações corporais, cortes profundos, deliberados jorros de sangue e clara demonstração de que o objetivo principal é a destruição e supressão definitiva do concorrente, com ações agudas e grandíssima brutalidade. Eles implicam pensamentos únicos de Lutas para o extermínio de seu contrário. O fim procurado é sempre extinguir, acabar ou aniquilar. Quase unanimemente nos jogos virtuais não há regras que permitam a sobrevivência do adversário. Imaginariamente, você mata ou morre. Essa condição particular de arte visual que evoca a violência não é atual, provém desde as publicações das histórias em quadrinhos e fazia muito sucesso. Os quadrinhos regiam batalhas épicas, que arrebatavam crianças em idade infantojuvenil, principalmente na década de 1950. A violência era explícita, o direcionamento estava condicionado em não necessariamente o herói sair vencedor, os vilões muitas das vezes trucidavam os contendores que Lutavam a favor da lei e da ordem. Observação Lutas virtuais são realizadas de maneira a levar o indivíduo a combater por meios unicamente ilusórios, sem absolutamente contato físico. Um psiquiatra alemão, Fredric Wertham (2004), extremamente conservador, lançou um livro nos Estados Unidos chamado Sedução dos Inocentes, editado em 1954, criticando veementemente as histórias em quadrinhos. No livro, ele atribuía a formação e o aumento dos delitos, da delinquência juvenil e dos crimes à violência explícita demonstrada pelas histórias em quadrinhos, o que causou alvoroço tamanho, que fez com que as editoras, por força da opinião pública e recomendação do Senado americano, resolvessem adotar por si próprias, certas censuras. Essas editoras de quadrinhos decidiram que deveria haver algumas restrições na impressão e divulgação de imagens violentase também que as histórias poderiam ter disputas entre criminosos e defensores da lei, desde que os últimos sempre prevalecessem sobre os delinquentes. As descrições de Wertham (2004) foram extensivamente contestadas; muitos outros estudos provaram que as relações entre violência dos quadrinhos e delinquência juvenil não eram absolutas. Ao longo do tempo, criaram-se maiores liberdades de expressão e as Lutas violentas voltaram aos quadrinhos, mas com recomendação e classificação etária correspondente, auditada pelos próprios editores. Muitas histórias, personagens violentos, agressivos, super-heróis, prélios e submundos trazidos dos quadrinhos foram retratados e muitas vezes aproveitados pelo cinema, bem como na produção de filmes para video games. 112 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 Unidade II Desde então se questiona constantemente sobre a influência dos meios de comunicação e da arte escrita, desenhada, talhada, expositiva, pintada, filmada e televisada ao transmitir cenas, histórias, narrações, pinturas, filmes, vídeos, crônicas, novelas etc., os quais contenham conteúdo com exposições de atos violentos, tais como: matanças, agressões e abusos corporais provocados pela demonstração de ações de opressão, batalhas, guerras e combates. Muitos artistas dizem que retratar a agressividade humana e a violência ajuda a expor seus conceitos e amplia o debate sobre esses assuntos. Nesse ponto, chama-se atenção para apresentarmos dois conceitos que parecem se associar comumente, mas possuem distintos significados, que devem ficar claros no universo das Lutas, sejam virtuais, sejam reais: violência e agressividade. O termo violência compactua com o fato de se ultrapassar os limites da ética e dignidade humana. Atos violentos se traduzem por circunstâncias nas quais as decisões de atingir alguém corporalmente é a de agir com intenção deliberada para causar dano profundo, prejuízo e até acarretar a retirada de vida. A violência é uma agressão associada à bestialidade, exercida com ferocidade, aos níveis mais degradantes de crueldade e desumanidade. Violência é barbárie patrocinada pelo emprego de ações irracionais e levada apenas por desejos instintivos e irrefletidos, sem coerência que pondere a preservação da vida e do respeito ao outro, seja em qual situação for. Vê-se que a intolerância religiosa, os extremismos nas relações socioeconômicas, o terror resoluto, o autoritarismo de quaisquer ideologias e as imposições políticas têm gerado episódios nefastos de violência na história humana. Infelizmente grupos representantes dessas atividades dizem estar Lutando pelos seus ideais, mas se esquecem de que a violência empregada transpõe o respeito e direito dos outros, ultraja opiniões e afeta a possibilidade da ética de livre-arbítrio. Várias confrontações foram travadas baseando-se nessas instâncias e resultaram em perdas incomensuráveis. Na violência, a agressão se configura pelo incompreensível. As regras, impostas pelo totalitarismo de dogmas exclusivos, são exercidas para favorecer apenas um dos lados do confronto. Existe o poderoso e o sem direitos, aquele que deve obedecer sem contestações e aceitar impassível a opressão de suas ideais. Existe o receptor de benesses e o espoliado. A Luta não existe nesse caso, pois a truculência supera o debate, a hostilidade faz parte da ação e atrocidades são inventadas com justificativas incongruentes. Então, para diferenciar com nitidez agressividade de violência, vai-se expor o conceito de agressividade nas Lutas de modo bem direto. Ser agressivo no universo das Lutas é ser aguerrido, determinado e combativo, mas não arrogante e tampouco inimigo de seu oponente. Ser agressivo é Lutar dentro das regras pela conquista de seus objetivos. Lutar é persuadir com insistência, resolução e principalmente com respeito aos semelhantes e à natureza. Fica registrado um forte exemplo de Luta com conceito explícito de agressividade protagonizado por Mohandas Gandhi, líder político que representou a Índia, extensa nação então dominada pelo colonialismo britânico, dispersa em uma gama enorme de distintos sectários religiosos, com diferentes culturas e costumes. Esse líder conseguiu unir esforços para conquistar a independência indiana, evitando derramamento de sangue substancialmente. Gandhi empreendeu uma agressividade incomum nas relações políticas, sua Luta mostrava uma determinação inquebrável nas negociações para obtenção da liberdade dessa nação. Seus lemas de atuação eram: persistência e paciência, porém sem deixar de 113 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 LUTAS: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS buscar seus objetivos mais elevados e de consenso; Lutar para ele deveria levar ao ganho mútuo, sempre. No caso específico, Gandhi tinha certeza de que tanto Índia como Grã-Bretanha sairiam bem-sucedidas, cada qual Lutando pelos seus objetivos e encontrando o denominador comum que permitiria a ambas consagrarem a vitória. Gandhi, usando agressivamente os conceitos de propriedade e de pertencimento do território, desmontou argumentos que proviam das injunções naturais dos dominadores ingleses. Também impediu guerras internas entre grupos religiosos usando a mesma estratégia de ser sempre agressivo, Lutando por meio da inteligência. Cada vez que havia levantes e desordem entre essas coligações religiosas, ele usava agressivamente a tática de fazê-los entender que a intolerância religiosa era procedimento mesquinho e que traria a ruína da libertação. Ele era muito respeitado por ser um líder e político atuante e que Lutava com vigor pelos direitos dos indianos há muito tempo e que tinha obtido ganhos consideráveis em seus pleitos. Além disso, colocou-se como condutor da Luta pela independência e pela unidade e paz da Índia. Havia, no entanto, confrontos entre muçulmanos, hindus e cristãos. Gandhi, então, anunciava e cumpria fielmente seu papel com uma ação bem agressiva, mas deveras significativa: jejuava, e dizia que enquanto as partes não se entendessem e cessassem os desacordos e a violência, continuaria com o jejum, o que inevitavelmente o levaria à morte. Essas coligações religiosas compreenderam que ficariam sem unidade representativa e potente frente aos interesses da nação para sua libertação e acabavam com as guerras interiores. Uma atuação possante e agressiva, mostrando que a Luta é resolução baseada na ética essencial humana, e jamais na exterminação. Fica mais fácil de compreender que ser agressivo em Lutas não significa prejudicar, causar agravos, ofensas, exterminar seu oponente, mas, dentro da regra, obter sucesso pelo respeito, proatividade e perseverança, considerando que seu adversário também está lhe proporcionando a possibilidade de desempenhar melhor suas funções corporais, cognitivas e emocionais e o desafiando a aflorar todo o seu potencial de combate. Seu oponente é a força contrária que o impele para o desenvolvimento e sucesso. Ser agressivo é buscar a vitória, dar valor e perceber que para isso teve de ser melhor que o adversário. Ao fim, é satisfatório atestar que seu opositor, por sua vez, vai poder continuar proporcionando sempre mais desafios e oportunidades. Desafios e oportunidades são qualidades constantes obtidas pelas práticas das Lutas e nos video games podem e devem ser também aproveitadas. Como se tem salientado até aqui, a maioria dos jogos de Lutas possui evidentes cenas de violência explícita. Assim como no cinema e em outras artes, eles são regulamentados por faixas etárias para oferecer conteúdo adequado à compreensão psíquica infantojuvenil e adulta. Lembrete Agressividade é ação intensa na busca por objetivos, por meio do uso estrito das regras e de acordocom o respeito à ética essencial humana. Jogos virtuais de Lutas violentas, como: The Bilestoad, Karate Champ, Street Fighter, Mortal Kombat, Virtua Fighter e Tekken são bastante populares. Os problemas no mundo infantojuvenil em relação aos video games de combate parecem se apresentar pelo descaso dos pais em apropriar as aquisições dos 114 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 Unidade II jogos à faixa etária recomendada, à falta de controle sobre acesso dos filhos pela internet e ao uso dos jogos virtuais de Lutas por tempos exagerados. Jogos virtuais de ação, em que se protagonizam atitudes criminosas, inconsequentes e descabidas, como GTA e outros de guerras como League of Legends e World of Warcraft, não estão sendo aqui discutidos, pois não são objetos de estudo relacionados com nossas considerações sobre Lutas, Artes Marciais atuais e Modalidades de Esportes de Combate. Antes de tudo, deixa-se claro que se deve orientar para a consideração acerca da faixa etária recomendada, os pais deveriam estar bem atentos e não permitir que crianças abaixo da faixa etária indicada pudessem ter acesso a esses jogos virtuais de Lutas. As crianças não têm ainda formação psicológica para associar corretamente os acontecimentos dos video games de Lutas, nos quais ocorrem barbaridades que promovem o aniquilamento virtual para compreender essas ações. Crianças, em fase pré-operacional, aprendem pelo faz de conta e pela imaginação e essas Lutas trazem personagens que se utilizam de técnicas violentas, elas não conseguirão se apropriar de elementos formativos positivos, possibilitando que façam gestos e tenham caracteres iguais aos dos personagens contra irmãos e amigos, sem saber o que podem estar realizando com danos irreparáveis a outrem. A criança em fase especializada, a partir dos 7 anos aproximadamente, aprende por imitação e reproduz tudo o que lhes é demonstrado. Existem casos de indivíduos nessa faixa etária investindo violentamente por meios de gestos observados nos video games contra colegas na escola e até mesmo contra os pais. Ela corre o risco de dessensibilização, isto é, não consegue discernir sobre a aflição de outrem. Pode haver um envolvimento tão natural com o espetáculo da violência e sua excitabilidade que a criança fica acostumada a proporcionar sofrimento ao seu opoente, transpondo essa condição para sua vida real. Pode haver o risco de que ela tenha empatia, mas não sinta problemas em fazer alguém sofrer. O acesso aos jogos de Lutas virtuais pela internet é relativamente fácil. Pais que não se preocupam em limitar esse ingresso acabam por permitir que seus filhos recebam dados e informações perigosas e muitas vezes criminosas. Também podem acessar jogos virtuais de Lutas com conteúdo não apropriado ao seu entendimento cognitivo e psicossocial. Por fim, o uso exagerado dos jogos eletrônicos virtuais de Lutas, mesmo que dentro da faixa etária estabelecida, pode acarretar na absorção do usuário e provocar isolamento social. Estudos efetuados em 2011 pela University School of Medicine, em Washington, nos Estados Unidos, mostram que adultos jovens que permaneceram jogando video games de Lutas violentas por um período de uma semana, todos os dias, tiveram alterações negativas no córtex frontal do cérebro. Eles apresentaram mais reações de hostilidade diante de contrariedades e, em confronto com situações que exigiam serem francos e corretos, tendiam para enganação, falsidades e mentiras. Os jogos virtuais de Lutas são capazes de trazer a sensação de potencialidade, de imponência, de ser invencível, que se pode fazer o que se quiser, pois não impetram sensações corporais como nas Lutas reais. Em caso de ter sido derrotado no jogo, simplesmente se despreza o momento e o jogo reinicia. Na verdade, não se tem a total noção de confronto, o embate é unicamente virtual. 115 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 LUTAS: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS Reportagem descrita por Toppo (2015) mostra que as influências dos jogos de Lutas violentos são reportadas em diversos estudos e parecem trazer indícios de que eles, se não bem dirigidos e controlados pelos pais, poderiam causar alguns distúrbios, em especial se jogados por períodos exacerbados e sem restrição de tempo. Igualmente esse mesmo autor apresenta dados interessantes de que os jogos de Lutas, quando aproveitados adequadamente, executados dentro da faixa etária respectiva e com limitação em sua prática, tendem a ser positivos ao reforçar a diferença entre a realidade e as condições virtuais. Assim como a televisão, cinema e outras artes, os jogos de Lutas violentos podem acarretar problemas e incentivar práticas antissociais, servindo como instrutores para adolescentes e crianças ainda em formação, como lembram Gentile e Gentile (2008). Deve-se debater e salientar que o jogo pode ser reiniciado, mas a vida humana, quando destruída, não tem substituição. Soluções tão fáceis como as encontradas nos botões de reinício dos controles não são fatos exatos da vida real. As discussões acerca dos referidos jogos vão continuar, e é importante assinalar que também afloram vantagens e benefícios em suas práticas controladas e bem dirigidas. Tais jogos parecem trazer alguns incentivos relacionados à promoção de desenvolvimento de atividades manipulativas de coordenação motora fina, treinamento da lógica virtual e conduta restrita às regras do jogo, maior interação tecnológica e aumento da concentração. A prática de Lutas nos video games pode ser uma ferramenta importante no Esporte Participativo. Deve-se aproveitar do envolvimento e atratividade que as Lutas associadas aos video games exercem nos jovens e salientar que o mundo virtual é um mundo fantasioso, distante das sensações legítimas. O lugar real das Lutas é o ambiente da percepção física, das conexões do corpo com a mente, das decisões cognitivas e da melhor escolha motriz, que priorizam conquistas corporais, mas que, sem sombra de dúvidas, pactuam incontestavelmente com a vida. O profissional de Educação Física pode se aproveitar dessa tecnologia e dos jogos de Lutas para instigar os debates acerca de Lutas, sobre violência no esporte, agressividade e discutir as Lutas virtuais em confronto com a realidade. O Esporte Participativo pela prática de Lutas virtuais pode ser incentivado nas inter-relações humanas. Pergunta-se: ações virtuais podem ser transportadas diretamente às relações humanas? Como se podem estimular o exercício de movimentos de Lutas e compará-los com a manipulação de controles eletrônicos? Quais são as implicações de ser violento e ser agressivo? Pelo Esporte Participativo, as Lutas podem mostrar que no mundo real, por meio de seu exercício efetivo, aceitam-se gestos de toques e agarres corporais vivos e verdadeiros, válidos como objetos de experimentação sadia, como promotores de sensações que provocam caminhos de autorrealização, aceitação do contrário, do entretenimento, da recreação e do lazer. Podem as crianças brincar alegremente de Lutas com sabres de luz ou espadas feitas com papel, e assim estarem imitando os duelos exibidos nos filmes da série Star Wars? Afinal, reafirmando a menção de Oscar Wilde (WILDE, 1891, p. 20) sobre a vida e arte: “A vida imita a arte muito mais que a arte imita a vida”. Até clubes de Lutas de sabres já foram montados com o objetivo de estudarem as coreografias dos filmes, verificarem sua eficácia, aprimorarem as coreografias e fazerem diversão. 116 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 Unidade II Saiba mais Para um aprofundamento maior em relação ao tema jogos eletrônicose virtuais, sugere-se a leitura do artigo: CAVALLI, F. S.; TREVISOL, M. T. C.; VENDRAME, T. Influência dos jogos eletrônicos e virtuais no comportamento social dos adolescentes. Psicologia Argumento, Curitiba, v. 31, n. 72, nov. 2017. Disponível em: <https://periodicos.pucpr.br/index.php/psicologiaargumento/article/ view/20467/19725>. Acesso em: 21 mar. 2018. 6 LUTAS E RECREAÇÃO Divertir está diretamente coligado ao termo entreter e sabe-se que espetáculos competitivos e filmes de Lutas são muito apreciados de maneira bastante generalizada na humanidade. Na história, há vários exemplos de jogos de Lutas: esportivos, celebrações e outras manifestações culturais de cada povo que são direcionadas à recreação. Lembramos dos Jogos de Lutas dos faraós no Egito Antigo, os quais mandavam treinar soldados e escravos para sua apreciação. Os Jogos Píticos, Ístmicos e Nemeus, que precederam os Jogos Olímpicos gregos, tinham as disputas de Lutas com grande presença de público e atraíam muita gente aos anfiteatros. Os Jogos Romanos, em especial os que ocorriam nos circus e coliseus, tinham como ápice as Lutas sangrentas e bárbaras entre gladiadores e também homens e feras, ao mesmo tempo em que se distribuíam pães aos espectadores, o que gerou a notável descrição do artifício dos imperadores em divertir pela política do “pão e circo”. Ainda hoje existem vários países que proporcionam espetáculos de Lutas entre humanos e animais, de apresentação muito discutida e criticada, mas que possuem uma audiência extraordinária, como as touradas. O Boxe tem grande aceitação e participação pública desde muito tempo e continua sendo muito contemplado, em especial nos Estados Unidos e no leste europeu. O MMA tem conquistado um público admirável e se tornou um show profissional de entretenimento, com divulgação pela mídia televisiva e interativa. Os campeonatos mundiais de diversas Modalidades de Esportes de Combate são muito bem organizados e os ingressos costumam terminar rapidamente. Judô e Jiu-Jitsu são modalidades que levam grandes públicos aos ginásios esportivos. Tem-se também organizados campeonatos mundiais de Modalidades de Esporte de Combate e Artes Marciais competitivas com público bastante dilatado. 117 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 LUTAS: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS Os filmes de Lutas são constantemente produzidos e acompanhados por fãs e também por curiosos, trazendo bilheterias bem volumosas aos produtores. Percebe-se que as histórias, as práticas, as competições e os duelos inesquecíveis são retratados com frequência e o público tem seguido e prestigiado fielmente suas aparições. Enfim, são objetos de entretenimento que discutem relacionamentos e formação humana, demonstram contos que expõem preceitos das Lutas, Modalidades de Esporte de Combate e Artes Marciais. Adicionalmente ocasionam divertimento e fazem refletir, pois mostram que as Lutas são componentes inerentes da sociedade e podem trazer benefícios ao reforçarem conceitos de ética, respeitabilidade, esforço e mérito. O Boxe particularmente parece ter uma quantidade de filmes muito extensa, os quais retratam, em geral, biografias de Lutadores famosos, as práticas e os esforços físicos e treinamentos exaustivos pelos quais passavam esses atletas e os associam à vitalidade, à coragem e à superação. Filmes como Rocky – um Lutador, Menina de Ouro, Ali – A Luta pela Esperança, Touro Indomável e Hurricane são recomendáveis para compreender um pouco as características que moldam o cotidiano de Lutadores e suas aspirações. As Artes Marciais também se destacam como excelente ferramenta de entretenimento, que pode ser aproveitada como instrumento de divulgação, comparação e prática. Elas atingiram grande penetração popular com os filmes protagonizados por Bruce Lee, o criador do Jeet Kune Do. Podem- se indicar: Savate – o Lutador Invencível; Wing Chun, uma Luta Milenar; O Grande Dragão Branco, O Guerreiro Sagrado, e até mesmo o infantil Kung Fu Panda, com excelentes tomadas, filosofias e exercícios do Wushu. Saiba mais Como sugestão de filme relacionado à matéria apresentada, recomendados: A GRANDE vitória. Dir. Stefano Capuzzi Lapietra, 2014. 88 minutos. As Lutas têm se expandido em ramos cada vez mais variados e com grande aceitação popular. Existem modalidades específicas de Lutas inventadas por aficionados que são bastante peculiares e parecem despertar curiosidades e entusiasmar um público ávido por novidades e desafios. Essas modalidades atraem momentaneamente praticantes das mais variadas faixas etárias, e servem como ações que incentivam as práticas de Lutas. A seguir citamos algumas delas e apresentamos suas respectivas figuras: 118 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 Unidade II , Figura 67 – Sumô com roupas infladas disputado pelos fuzileiros navais americanos A competição de braço de ferro na areia ou também chamada de queda de braço na praia está se tornando bem mais visível e tem especial atrativo entre crianças e adolescentes em férias. Trata-se de uma atividade divertida, que provoca um intercâmbio corpóreo e aproxima bastante o público jovem. Além disso, desperta-se a interação corporal e se convida ao Esporte Participativo, desse modo levando a trocas de experiências motoras, medição de desempenhos, provocação de reflexões sobre condição de força, resistência e posicionamento anatômico e de como se portar na presença dos desafiantes. As alegorias dessas disputas se traduzem pelo entusiasmo e pela curiosidade participadora. Essa Luta possui regras muito simples e contenda muito desafiadora, promovendo aproximações sociais e trazendo adeptos para as práticas saudáveis. Figura 68 – Luta de queda de braço na areia 119 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 LUTAS: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS Talvez a Capoeira recreativa seja uma das Lutas mais divulgadas de modo participativo ao redor de praças, parques, praias, mercados, corredores de pedestres, gramados etc. Seus simpatizantes e admiradores compartilham alegremente de exercícios, e mesmo iniciantes, cuja curiosidade supera a timidez, tomam parte descontraidamente nas rodas formadas. Observa-se que grupos de adeptos também se reúnem informalmente nesses lugares públicos e praticam saltos, pinotes, rodopios e piruetas ao longo de parques e praças públicas. Figura 69 – Capoeira recreativa Nos mais diversos lugares do mundo se apresentam várias atividades de Lutas recreativas. Lutas coreografadas com espadas de madeira e demonstrativas de Wushu, como representadas nas figuras a seguir: Figura 70 – Luta de espadas coreografadas – Parque Yoyogi, Tóquio 120 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 Unidade II Figura 71 – Tai chi chuan recreativo em parques europeus Outra modalidade que tem atraído jovens para as práticas participativas de Lutas e desenvolvimento de qualidades mentais, corporais e psicossociais chama-se Boxadrez ou Boxe-xadrez. O confronto ocorre pela disputa combinada da Luta de Boxe agregada com partidas do jogo de xadrez. O esporte, enfim, mescla disputas totalizando cinco rounds de Boxe, intercalados com seis rodadas de partidas de xadrez: um desafio duplo que tem levado muita gente a assistir e participar dessa modalidade. Na realidade, já existe até seu campeonato mundial. Toda rodada de xadrez tem duração de 1,5 minuto para cada combatente – o total soma 6 tempos, cuja integralidade não pode ultrapassar a marca de 9 minutos por participante, totalizando 18 minutosde partida de xadrez. Por sua vez, cada rodada de Boxe tem 3 minutos, totalizando 15 minutos. Inicia-se com a partida de xadrez e, ao término de 3 minutos de jogo, os Lutadores se dirigem ao ringue anexo da mesa de xadrez; após colocarem as luvas, iniciam o combate do primeiro round, e assim sucessivamente. Ganha o Lutador que conseguir primeiramente o xeque- mate no xadrez ou o nocaute no Boxe. Caso não ocorra nenhum deles, aquele que na última rodada de xadrez perder o tempo total reservado para seus movimentos será o perdedor. 121 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 LUTAS: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS Figura 72 – Boxadrez As praias são locais com grande atratividade para as participações livres. Além disso, nas Lutas de agarre, a areia funciona como um bom amortecedor para as quedas. O Wrestling e o Sumô de praia são bastante divulgados e praticados. Lutadores de Sumô são de compleição avantajada e chamam muito a atenção, por isso têm participado de demonstrações da Luta em praias e tomado a curiosidade dos litorâneos e turistas; a participação é grande e o entretenimento interativo também. 122 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 Unidade II Figura 73 – Wrestling na areia 6.1 Lutas na recuperação de dependentes químicos Constata-se na atualidade dos noticiários da mídia em geral a oferta fácil e abundante de drogas no meio social. Por esse motivo, a experimentação, o consumo e a dependência química são frequentemente anunciados como participantes ininterruptos na vida social, ao mesmo tempo em que se verificam muitos dissabores para um grande número de pessoas. A relação: drogas x coletividade x governo tem sido bastante difícil e cheia de contratempos, experimentos e equívocos, ambiguidades e interesses políticos, religiosos e econômicos dos mais diversos. No entanto, sem se conseguir consenso e resultados efetivos. A disseminação das drogas é muito ampla e atinge as mais diversas camadas sociais e etárias. Efeitos nefastos têm ocorrido sistematicamente. A sociedade tem Lutado para determinar qual o melhor caminho que se pode trilhar para se antecipar e preparar seus jovens para evitar tragédias causadas pelo uso de drogas e a consequente dependência química. Os debates são contraditórios e as argumentações têm encontrado defensores a favor e contra o uso e a liberação. Entretanto, o que se sabe com certeza é que de modo impreterível vão ocasionar vício e dependência, com resultados, indubitavelmente, perturbadores. A dependência química tem se traduzido em um fator diretamente ameaçador à vida, têm desmantelado famílias, destruído sonhos, causado efeitos devastadores na saúde de jovens e, inevitavelmente, reduzido perspectivas de existência. Por sua vez, pesquisas científicas têm mostrado que determinadas drogas, e algumas de suas substâncias consideradas viciantes, ministradas sob controle médico absoluto em pacientes com doenças graves e ou enfermidades terminais, têm colaborado para dar suporte contra dores profundas e consequente melhor qualidade de vida. Discorreremos agora de modo conciso sobre os perigos oferecidos pela falta de prevenção e de preparativos contra a perpetração das drogas e confrontaremos com a participação em treinamentos e práticas de Esportes de Combate. Será que Artes Marciais e Modalidades de Esporte de Combate 123 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 LUTAS: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS podem servir como alicerces para preparar os jovens a enfrentarem as ofertas de prazeres relativos proporcionados pelas drogas e dar perspectivas de sucesso à passagem e ao alcance do mundo adulto? Dentre todos os indivíduos suscetíveis ao uso de drogas químicas, o intuito agora é se concentrar mais prontamente nas condições relativas aos pré-púberes e adolescentes por serem faixas etárias bastante suscetíveis às experimentações e serem públicos mais inconsequentes, também predispostos às aventuras desmedidas, à paixão pelo perigo e aos excessos impulsivos. Sentem-se imbatíveis, inatingíveis e propensos a buscarem aceitação e segurança em grupos de amigos, que podem ser fator de incitamento para procedimentos imprudentes. Esse público jovem recebe ainda influências da mídia fantasiosa, cujas aparições propagandistas se baseiam em sonhos e irrealidades muitas vezes distantes. A juventude nesse processo entre a passagem da infância para a vida adulta questiona e se defronta com as restrições de novos comportamentos e o aumento de responsabilidades sociais. Diversas vezes na infância não foram bem direcionados, pois tinham e podiam fazer de tudo, devido à permissividade, distanciamento e ausência de responsabilidade dos pais. Essa confrontação com novas realidades leva à depressão e a dificuldades em aceitar condutas coletivas, o que pode ser agente de favorecimento às tentações de felicidade fácil e imediata, além de fuga da realidade. A carência de orientação familiar, isolamento, imposição de grupos de amigos e mesmo familiares próximos, como irmãos mais velhos e primos é conjunto que provoca maior suscetibilidade ao encantamento das oferendas de substâncias prodigiosas que possam ser fáceis precursores de alegria instantânea. Observação Dependência química é a sujeição compulsiva de um indivíduo por substâncias naturais ou sintéticas que aprisionam pelo seu uso e pela necessidade de angariar seus efeitos correspondentes que levem à fuga da realidade. Um dos problemas mais graves que podem levar os jovens às drogas, segundo a psicóloga Dra. Marisa Graziela Morais, do setor de psiquiatria química da Escola Paulista de Medicina, em seu relato à revista Anônimos, volume 9, publicado em abril de 2009, é a constatação de que muitos pais são distantes devido a jornadas duplas de trabalho e por isso dedicam pouca atenção familiar, acabam querendo dar o melhor a seus filhos por meio da permissividade excessiva, presentes de consumo imediato e fútil, tornando-os adolescentes com todos os direitos e nenhuma responsabilidade e, consequentemente frágeis diante do sofrimento e aos limites impostos pela sociedade. Assim, começam a surgir mais conflitos internos e a insegurança natural da passagem da vida infantil para a adulta toma proporções catastróficas, com indivíduos arredios a regras de boa convivência, e com maiores dificuldades para enfrentar seu futuro e tomar decisões escolares e profissionais. Continua ainda a psicóloga Dra. Marisa no mesmo relato a reforçar que esse comportamento dos pais transforma os infantojuvenis em seres negligentes, folgados e apáticos e facilmente distantes da realidade do convívio social, da produtividade e de serem capazes de assumir seus encargos. 124 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 04 /1 8 Unidade II Não se pode desenhar um campo de guerra entre pais e adolescentes. Os jovens precisam ser mais escutados e os pais devem se prevenir, acompanhando principalmente o andamento da vida escolar e social dos filhos; devem ser abertos ao diálogo, proporcionando e oferecendo boas práticas sociais, por meio de exemplos e atitudes positivas. Ademais, os adolescentes devem ser cobrados a participar de responsabilidades executivas na casa, nos afazeres familiares, cuidar de mais velhos ou mais novos, acompanhar as despesas da casa, entender os processos de responsabilidade diante das cobranças sociais, ajudarem nas economias, por exemplo, evitando desperdícios, cuidando dos bons usos do patrimônio e ajudando a reciclar materiais. Os jovens necessitam ser acostumados a responder primeiro
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