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Psicologia e criminologia

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Estruturação e formação 
da personalidade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Definir personalidade e sua estruturação.
 � Descrever diferentes traços de personalidade.
 � Identificar as contribuições de Gordon Allport, Hans Eysenck e 
 Raymond Cattell para a teoria dos traços de personalidade.
Introdução
O homem, com suas percepções, emoções e pensamentos sobre o 
mundo e sobre os seres humanos, é um tema que ocupa a humanidade 
pelo menos desde os grandes filósofos gregos. Quando o homem não 
aceita mais as explicações míticas e passa a questionar a origem da vida, 
o pensamento mítico dá lugar ao pensamento racional. É por meio da 
racionalidade, portanto, que o homem busca explicar a personalidade 
atualmente. Contudo, como você deve imaginar, a tarefa de apresentar 
uma definição única para a personalidade é praticamente inviável e 
inadequada, tendo em vista a abrangência, o foco de estudos e os 
métodos de pesquisa utilizados. Assim, você deve notar que a defini-
ção da personalidade dependerá totalmente dos referenciais teóricos 
considerados.
Neste capítulo, você vai estudar as abordagens que consideram 
que a personalidade é motivada por forças e conflitos internos pouco 
conscientes e controláveis, que são as teorias psicodinâmicas. O pio-
neiro dessa corrente foi Sigmund Freud, posteriormente seguido por 
Carl Jung, Karen Horney e Alfred Adler. Você também vai conhecer 
a teoria dos cinco fatores e as contribuições de Gordon Allport, Hans 
Eysenck e Raymond Cattell para o entendimento da teoria dos traços 
de personalidade.
Definição de personalidade e sua estruturação
Para estudar a personalidade, você deve conhecer as diversas correntes psicoló-
gicas que se dedicaram a ela. Você vai ver que não existe uma definição única e 
consolidada, considerando que os métodos de pesquisas e teorias desenvolvidas 
são distintos. Até o século XIX, todas as ciências humanas ficaram vinculadas ao 
destino da filosofia e da antropologia filosófica. Com o surgimento da psicologia 
científica, apareceram duas correntes significativas: a clínica e a experimental 
(ambas de extrema influência no estudo da personalidade humana). 
A personalidade é amplamente estudada na ciência da psicologia. Aqui, 
você vai iniciar o seu estudo pela abordagem psicodinâmica, que considera que 
a personalidade é motivada por forças e conflitos internos pouco conscientes e 
controláveis. O pioneiro dessa abordagem foi Sigmund Freud e, posteriormente, 
se destacaram estudiosos como Carl Jung, Karen Horney e Alfred Adler.
Para Hall, Lindzey e Campbell (2000), embora a diversidade no uso co-
mum da palavra personalidade possa parecer considerável, ela é superada 
pela variedade de significados atribuídos ao termo pelos psicólogos. Em 
1937, Allport extraiu quase 50 definições diferentes sobre a personalidade, 
classificando-as em amplas categorias. Hall, Lindzey e Campbell (2000) 
consideram uma difícil tarefa apresentar uma definição única, geral, tendo 
em vista a abrangência, o foco de estudos e os métodos de pesquisa utilizados. 
Assim, de modo geral, algumas definições da personalidade são focadas em 
sua função integrativa e organizadora. Nesse sentido, ela atua como uma força 
ativa dentro do indivíduo e consiste nos esforços de ajustamento variados e 
específicos para cada pessoa. Ainda, a personalidade pode ser relacionada 
aos aspectos individuais do comportamento. De outro modo, há teóricos 
que entendem que a personalidade se refere àquela parte do indivíduo mais 
representativa, ou seja, a que mostra como ele realmente é. Ou seja, qualquer 
que seja a definição de personalidade escolhida, estará embasada em um 
referencial teórico (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2000).
Teoria psicanalítica de Sigmund Freud 
Para Freud (1856–1939), grande parte do comportamento humano é influenciado 
pelo inconsciente (pulsões, desejos, demandas, necessidades), com uma parte 
consciente e outra subconsciente. Na sua segunda teoria do aparelho psíquico, 
Freud introduziu os conceitos de id, ego e superego para referir-se à estrutura 
da personalidade. É uma estrutura dinâmica que possui interação interna e 
externa, com forças e instintos que motivam o comportamento. 
Estruturação e formação da personalidade2
O id é a instância inconsciente, sendo o reservatório das energias psíqui-
cas, em que se localizam as pulsões, os instintos, os desejos. São impulsos 
com uma torrente de energia ilimitada que exerce pressão contínua sobre a 
personalidade. Seu objetivo é a satisfação imediata para reduzir a tensão, 
pois é regido pelo princípio do prazer. Nesse sentido, a realidade impede essa 
descarga. O id está presente desde o nascimento. 
A realidade é representada pelo ego. Ele tenta equilibrar as demandas do id 
com as exigências da realidade do mundo externo e as ordens do superego. É a 
instância que busca manter a segurança do indivíduo e ajuda na integração com 
a sociedade. O ego é regido pelo princípio da realidade, sendo um regulador 
com as funções básicas de percepção, memória, sentimento e pensamento. O 
ego representa a personalidade, é o “eu” do indivíduo, que toma decisões e 
controla ações considerando as condições objetivas da realidade (sociedade). 
Ele também se desenvolve desde o nascimento. 
Durante o desenvolvimento da infância, outra instância da personalidade se 
forma: o superego. Ele surge com a internalização das proibições, dos limites 
e da autoridade imposta pelos pais e professores — em conformidade com 
a realidade. Quando essas exigências sociais e culturais são internalizadas, 
ninguém mais necessita “dizer não”; a proibição já está dentro do indivíduo, 
o que gera muitos conflitos internos (FELDMAN, 2015).
Para Bock, Furtado e Teixeira (2001, p. 101): 
[...] o ego e, posteriormente, o superego são diferenciações do id, o que 
demonstra uma interdependência entre estes três sistemas, retirando 
a ideia de sistemas separados. O id refere-se ao inconsciente, mas o 
ego e o superego têm, também, aspectos ou ‘partes’ inconscientes. 
Essas instâncias comportam as experiências pessoais de cada um e expressam 
o estágio de desenvolvimento atual. Em decorrência disso, o psicólogo investiga a 
história pessoal em relação à história dos familiares e dos demais grupos sociais, que 
também se inscrevem nos valores e crenças da sociedade.
Para Freud, a personalidade se desenvolve por meio de cinco estágios: oral, 
anal, fálico, latência e genital. Durante esses estágios, as crianças enfrentam 
3Estruturação e formação da personalidade
conflitos originados pelas demandas da sociedade e os próprios impulsos 
sexuais (nessas fases, a sexualidade é relacionada com a experiência do prazer; 
e não do prazer das relações sexuais da fase genital). Esses conflitos, quando 
não solucionados em determinada fase, implicam uma fixação no estágio, que 
persiste até a vida adulta. O entendimento e o conhecimento dessa estrutura, 
com as experiências e dificuldades desses estágios, pode indicar características 
específicas na personalidade adulta. 
A dinâmica que ocorre no desenvolvimento da personalidade e os conflitos 
enfrentados geram ansiedade. Para dar conta desse desconforto e desprazer, 
Freud atribuiu esse processo aos mecanismos de defesa operados pelo ego, 
que exclui da consciência os conteúdos indesejáveis, protegendo o aparelho 
psíquico. O ego movimenta esses recursos para suprimir ou dissimular a per-
cepção de perigo interno, com estratégias de defesa inconscientes para reduzir 
a ansiedade. Dessa forma, altera a percepção da realidade e encobre a fonte 
de ansiedade do próprio indivíduo. Os mecanismos utilizados são: repressão, 
regressão, deslocamento, racionalização, negação, projeção, sublimação e 
formação reativa, que podem ser utilizados de forma ampla e variada para 
a defesa da ansiedade. As pessoas utilizam esses mecanismos de defesa em 
algum grau e, quando eles se tornam excessivos, para esconder e recanalizar 
os impulsosinconcebíveis, podem gerar transtorno mental produzido pela 
ansiedade — Freud denominou isso de neurose (FELDMAN, 2015).
A teoria de Freud foi refutada por psicólogos da época (1900) e ainda hoje 
sofre críticas por não ter sido comprovada cientificamente. Segundo Feldman 
(2015, p. 391), “[...] a ênfase de Freud no inconsciente foi parcialmente apoiada 
pela pesquisa atual sobre os sonhos e a memória implícita [...], sendo os avanços 
na neurociência compatíveis com alguns de seus argumentos”. Além disso, 
“[...] os psicólogos cognitivistas e sociais encontraram evidências crescentes 
de que os processos inconscientes nos ajudam a pensar sobre e avaliar nosso 
mundo, definir objetivos e escolher uma rota de ação” (FELDMAN, 2015, 
p. 391).
Teoria analítica de Carl Jung
Carl Jung (1875–1961), psiquiatra suíço, foi discípulo de Freud de 1907 a 1913. 
Ele foi um dos principais integrantes do movimento psicanalítico na sua fase 
inicial, momento em que foi o primeiro presidente da Associação Psicanalítica 
Internacional (International Psychoanalytical Association — IPA). Jung era 
especialista em “psicoses” e encantado pelo orientalismo. Em função da 
sua especialidade, iniciou com Freud e Bleurer um profundo estudo sobre a 
Estruturação e formação da personalidade4
esquizofrenia e sobre a questão do autoerotismo e do autismo. Jung encontrou 
na obra de Freud a confirmação de seus estudos sobre o subconsciente, as 
associações verbais e os complexos. 
Em 1912, publicou Metamorfoses da Alma e seus Símbolos, marcando um 
rompimento definitivo com Freud. O motivo do rompimento foi a controvérsia 
a respeito da teoria da libido. Jung tentou persuadir Freud para “dessexualizar” 
sua doutrina (nem que fosse para ser melhor acolhida). A partir de 1914, Jung 
e os junguianos se desligaram oficialmente da associação psicanalítica para 
se dedicar ao próprio movimento, que nunca teria a amplitude da psicanálise 
freudiana. Do movimento junguiano, surgiu a psicologia analítica, na qual 
se baseia o método de psicoterapia. Em 1919, Jung apresentou a noção de 
imago para definir uma forma preexistente do inconsciente que determina o 
psiquismo e fomenta um símbolo que surge nos sonhos, na arte e na religião. 
O estudioso apresentou, então, a definição dos três principais arquétipos: o 
animus (imagem do masculino), a anima (imagem do feminino) e o selbst 
(si mesmo) como o verdadeiro centro da personalidade (ROUDINESCO; 
PLON, 1998).
Segundo Feldman (2015), o inconsciente coletivo jungiano pode ser com-
preendido como um conjunto de ideias, imagens e símbolos comuns que as 
pessoas herdam de seus parentes e de toda a raça humana e seus ancestrais. 
Ele é compartilhado por todos e expresso no comportamento, igual em todas 
as culturas. Conforme Roudinesco e Plon (1998, p. 423):
[...] os arquétipos constituem o inconsciente coletivo, base da psique, estrutura 
imutável, espécie de patrimônio simbólico próprio de toda a humanidade. Essa 
representação da psique é complementada por “tipos psicológicos”, isto é, 
características individuais articuladas em torno da alternância introversão/
extroversão, e por um processo de individuação, que conduz o ser humano 
à unidade de sua personalidade através de uma série de metamorfoses (os 
estádios freudianos). A criança emerge, assim, do inconsciente coletivo para 
ir até a individuação, assumindo a anima e o animus.
Teoria de Karen Horney
Karen Horney (1885–1952) orientou-se para o culturalismo, procurando fun-
damentar a psicologia da mulher sobre uma identidade própria. Segundo 
Feldman (2015), ela é referida como a primeira psicóloga feminista. Com 
seus estudos, sugeriu “[...] que a personalidade se desenvolve no contexto das 
relações sociais e depende particularmente da relação entre os pais e o filho 
e do quanto as necessidades da criança são atendidas” (FELDMAN, 2015).
5Estruturação e formação da personalidade
Horney entendia que as influências maiores na personalidade se dão por 
meio de ocorrências sociais na infância. Assim, a mente consciente tem um 
papel na personalidade humana, apresentando uma visão holística e humanista 
da psique individual, colocando ênfase nas diferenças culturais e sociais ao 
redor do mundo. Horney atribui o sentimento de inferioridade experimentado 
por algumas mulheres a fatores sociais. Essa autora: 
[...] é geralmente vista como pertencendo ao grupo dos chamados neo-
freudianos, também referidos como escola cultural, pois foi uma das pri-
meiras a enfatizar a importância dos fatores culturais na determinação da 
personalidade. Por exemplo, ela propôs que os rígidos papéis de gênero 
da sociedade para as mulheres levaram-nas a experimentar ambivalência 
quanto ao sucesso porque temem fazer inimigos se tiverem muito sucesso 
(FELDMAN, 2015, p. 392).
Teoria de Alfred Adler
Alfred Adler (1870–1937) também foi discípulo de Freud, de quem se distanciou 
por discordar da superestimação do fator sexual. Foi fundador da psicologia 
do desenvolvimento individual. Para ele, o ambiente social e a obsessão inces-
sante do indivíduo em atingir metas preestabelecidas são os determinantes do 
comportamento humano, envolvendo a sede pelo poder e pela fama. Segundo 
Dainez e Smolka (2014, p. 1098):
[...] na psicologia individual de Adler, cada pessoa é concebida como uma 
totalidade integrada dentro de um sistema social. A personalidade, então, 
corresponde a uma unidade e o seu estudo se orienta para a luta que ela re-
aliza para se desenvolver e exprimir [...] os mais importantes determinantes 
da estrutura da vida da personalidade se originam nos primeiros tempos da 
infância [...] sendo que o propósito específico e o efeito particular da vida 
psíquica não se fundem sobre uma realidade objetiva, mas sobre a impressão 
subjetiva que o indivíduo teve dos acontecimentos da vida. Cada indivíduo se 
organiza em função de sua percepção subjetiva do mundo social.
Como você viu, a personalidade e o comportamento são expressões do 
psiquismo humano que estão interligadas e são estudadas por diferentes 
perspectivas. Do ponto de vista teórico, o behaviorismo foi uma das primeiras 
escolas a estudar o comportamento como uma interação entre a ação do sujeito 
e o ambiente onde a sua ação acontece. Por conta do método e de coerência 
Estruturação e formação da personalidade6
doutrinária, a psicologia behaviorista desconsiderou o papel do imaginário na 
vida dos indivíduos, reduzindo o pensamento somente aos fenômenos sensório-
-motrizes passíveis de observação — expurgando da psicologia científica o 
recurso à observação interna dos fatos da consciência. 
No entanto, a psicologia não podia prescindir do estudo da imaginação, 
do afeto, das emoções e dos sentimentos: eis a psicanálise. Hoje, existem 
outras perspectivas, como a cognitivista, que demonstra evidências crescen-
tes de que os processos inconscientes ajudam os indivíduos a pensar sobre 
o mundo e avaliá-lo, definir objetivos e escolher uma rota de ação. Além 
disso, como você viu, os estudos da neurociência têm apoiado a existência 
do inconsciente pela pesquisa atual sobre os sonhos e a memória implícita 
(FELDMAN, 2015).
Diferentes traços de personalidade
O entendimento da personalidade por traços é tarefa dos psicólogos que a 
estudam com o objetivo de estabelecer um consenso na avaliação psicológica 
da personalidade. Segundo Feist, Feist e Roberts (2015, p. 253), “[...] um traço 
torna as pessoas únicas e contribui para a coerência de como elas se comportam 
em diferentes situações ao longo do tempo”. A partir da década de 1980, com as 
pesquisas e a teoria de Robert McCrae e Paul Costa, foram consensadas cinco 
dimensões principais da personalidade, que são: extroversão, amabilidade, 
conscienciosidade, neuroticismo e abertura à experiência (FEIST; FEIST; 
ROBERTS, 2015). 
Segundo Silva e Nakano (2011, p. 51), 
[...] a pesquisa da personalidade ganhou novo ímpeto e direção a partir do 
estabelecimento de um consenso acerca da sua estrutura, por meio do modelofatorial da personalidade baseado em cinco fatores. A importância desse 
modelo se embasa principalmente no fato de ter sido aplicado em diversas 
culturas e por meio de numerosas fontes de informação (incluindo autoa-
valiação, avaliação por pares e avaliações clínicas), tendo demonstrado sua 
adequação nos diferentes usos.
7Estruturação e formação da personalidade
A teoria dos cinco fatores é um dos modelos mais utilizados para descrever a perso-
nalidade dentro da teoria dos traços, principalmente a personalidade adulta do ponto 
de vista psicométrico. Esse ponto de vista é adotado pelos principais questionários 
e inventários de avaliação de personalidade utilizados: o 16PF, o MMPI, a escala de 
necessidades de Murray, o Califórnia Q-Set, as escalas de Comrey, entre outros. 
Os traços podem ser utilizados para sintetizar, prognosticar e elucidar a conduta de 
uma pessoa, indicando algum tipo de processo interno que origine o comportamento. 
Os traços de personalidade representam características psicológicas das pessoas na 
sua forma de pensar, sentir e atuar. Eles podem ser alterados em função das interações 
das pessoas com seu meio social, como também pela motivação, pelo afeto e pelos 
aspectos comportamentais e atitudinais. 
No Brasil, os cinco fatores básicos têm sido chamados de extroversão, 
neuroticismo, socialização, realização e abertura à experiência. O traço de 
extroversão é definido como a quantidade e a intensidade das interações 
interpessoais favoritas, o nível de atividade, a necessidade de estimulação e a 
capacidade de alegrar-se. Por socialização, entende-se a perspectiva interpes-
soal no que diz respeito aos tipos de interações que uma pessoa demonstra. A 
realização é um traço que retrata o grau de organização, perseverança, controle 
e motivação para atingir suas metas. O neuroticismo e a abertura à experiência 
referem-se ao nível permanente de ajustamento emocional e instabilidade e ao 
reconhecimento da relevância de ter novas experiências (SILVA; NAKANO, 
2011). Você pode ver os fatores no Quadro 1, a seguir.
Extroversão Escores altos Escores baixos
Afetivo Reservado
Agregador Solitário
Falante Quieto
Adora diversão Sóbrio
Ativo Passivo
Apaixonado Insensível
Quadro 1. Modelo da personalidade dos cinco fatores de Costa e McCrae.
(Continua)
Estruturação e formação da personalidade8
Fonte: adaptado de FESIT, J. et al. (2015).
Neuroticismo Ansioso Calmo
Temperamental Equilibrado
Autoindulgente Satisfeito consigo
Inseguro Tranquilo
Emocional Não emocional 
Vulnerável Resistente
Abertura à 
experiência
Imaginativo Prático
Criativo Não criativo
Original Convencional
Prefere variedade Prefere rotina
Curioso Não curioso
Liberal Conservador
Amabilidade Gentil Insensível
Confiante Desconfiado
Generoso Mesquinho
Aquiescente Antagonista
Flexível Crítico
Bondoso Irritável
Conscienciosidade Consciencioso Negligente
Trabalhador Preguiçoso
Organizado Desorganizado
Pontual Atrasado
Ambiocioso Sem objetivo
Perseverante Pouco persistente
Quadro 1. Modelo da personalidade dos cinco fatores de Costa e McCrae.
Segundo Feist, Feist e Roberts (2015), as pessoas geralmente apresentam re-
sultados intermediários nas escalas. Veja, a seguir, como escores extremos podem 
ser interpretados nos casos de neuroticismo, extroversão e abertura à mudança.
(Continuação)
9Estruturação e formação da personalidade
 � Neuroticismo: escores altos indicam que a pessoa tende a ser ansiosa 
e temperamental. Ela busca desculpar os próprios erros, é emocional 
e suscetível ao estresse. Já o escore baixo nesses traços significa que a 
pessoas tende, em geral, a ser mais calma, equilibrada e não emocional. 
 � Extroversão: os escores altos indicam que a pessoa é afetuosa, alegre, 
comunicativa e adora diversão. Já os escores baixos indicam pessoa 
contida, solitária, passiva e sem habilidade para expressar emoção. 
 � Abertura à mudança: distingue os indivíduos que buscam experiências 
diversificadas e põem em questão os valores consagrados, são mais 
criativos, curiosos e inovadores (escores altos) dos que não estão abertos 
às experiências, que se apegam muito a algo familiar, são conservadores, 
sem muita curiosidade (escore baixo). 
Na teoria da personalidade dos cinco fatores, o comportamento é anali-
sado com base no entendimento de três elementos: (1) tendências básicas, (2) 
adaptações características e (3) autoconceito. De maneira geral, essa teoria 
possibilita um estudo do comportamento humano com a avaliação psicomé-
trica, não significando uma previsão e uma explicação do comportamento. 
Conforme Feist, Feist e Roberts (2015, p. 265–266), 
[...] as teorias dos traços e fatores são exemplos de uma abordagem estritamente 
empírica de investigação da personalidade. Elas foram construídas por meio 
da coleta de tantos dados quanto fosse possível em um grande número de 
pessoas, inter-relacionando os escores, submetendo matrizes de correlação 
à análise fatorial e aplicando significância psicológica apropriada aos fatores 
resultantes. Uma abordagem psicométrica, em vez do julgamento clínico, é o 
pilar das teorias dos traços e fatores.
Para saber mais sobre os sistemas da personalidade, acompanhe, na Figura 1, 
um esquema ilustrativo com operações da personalidade a partir da teoria 
dos cinco fatores. Atente para as bases biológicas, as tendências básicas, as 
adaptações características, a biografia objetiva, as influências externas e o 
autoconceito — interligados por meio de setas que representam processos 
dinâmicos.
Estruturação e formação da personalidade10
Figura 1. Operação do sistema da personalidade de acordo com a teoria dos cinco fatores. 
Fonte: adaptada de Feist, Feist e Roberts (2015).
Bases
biológicas
Tendências
básicas
Neuroticismo,
extroversão,
abertura à
experiência,
amabilidade,
conscienciosidade
Processos
dinâmicos
Adaptações
características
• Fenômenos
culturalmente
condicionados
• Esforços pessoais,
atitudes
Autoconceito
Esquemas pessoais,
mitos pessoais
Biogra�a
objetiva
Reações 
emocionais,
mudanças de 
carreira:
comportamento
In�uências
externas
Normas culturais,
eventos na vida:
situação
Processos
dinâmicos
Processos
dinâmicos
Processosdinâmicos
Processos
dinâmicos
Processos
dinâmicos
Processos
dinâmicos
Contribuições para a teoria dos traços de 
personalidade
Gordon Allport
Allport (1897–1967) buscou estudar a personalidade em seus aspectos mais 
singulares e individuais, fundando a psicologia individual. Para ele, o indi-
víduo está situado mais no presente do que no passado. Assim, Allport não 
acreditava que o positivismo levava o homem a um organismo vazio, rejeitava 
o empirismo e desaprovava os estudos fatoriais analíticos da personalidade. 
Para Hall, Lindzey e Campbell (2000, p. 227–228):
Allport propôs uma posição epistemológica para a pesquisa da personalidade 
[...] aceita a suposição de senso comum de que as pessoas são seres reais, que 
cada um tem uma organização neuropsíquica real, e que o nosso trabalho 
11Estruturação e formação da personalidade
é compreender tal organização tanto quanto possível [...] a personalidade é 
primariamente representada em termos de traço, e ao mesmo tempo, o com-
portamento é motivado ou impulsionado pelos traços. 
Allport também considerava que a personalidade está em constante de-
senvolvimento e transformação, tendo uma organização interna que envolve 
corpo e mente consolidados numa unidade pessoal. No seu modelo de traços, 
estes significam o efeito da combinação ou da integração de dois ou mais 
hábitos. A partir de sua acurada pesquisa dos traços, Allport categorizou 
quase 18 mil expressões.
Para o autor, o importante é o que o indivíduo pretende ou busca em seu 
futuro, suas intenções quanto ao que está tentando fazer, que se traduzirão no 
seu comportamento presente. Nesse sentido, ele propôs que todas as funções 
do self ou do ego fossem denominadas “funções próprias da personalidade”. 
Essas funções são: senso corporal, autoidentidade,autoestima, autoexpressão, 
senso de ser quem é, pensamento racional, autoimagem, anseios próprios, 
estilo cognitivo e função de conhecer. 
Segundo Feist, Feist e Roberts (2015, p. 237),
Allport enfatizou a importância da motivação consciente [...] os adultos têm 
consciência do que estão fazendo e de suas razões para fazê-lo [...] entretanto, 
não ignorou a existência ou mesmo a importância dos processos inconscien-
tes [...] reconheceu o fato de que alguma motivação é incitada por impulsos 
ocultos e impulsos sublimados.
A ênfase no que se passa dentro do organismo é a maior crítica à teoria de Allport, 
pois ele desconsiderou a inter-relação entre o comportamento e o meio social (forças 
externas) (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2000).
Raymond B. Cattell
Cattell (1905–1998) foi muito importante nos primeiros anos da psicometria, 
com sua pesquisa da estrutura psicológica intrapessoal. Nos seus estudos, 
também explorou as dimensões básicas da personalidade e do temperamento, 
a variedade de habilidades cognitivas, as dimensões dinâmicas de motivação 
Estruturação e formação da personalidade12
e emoção, as dimensões clínicas da personalidade anormal, os padrões de 
sintonia de grupo e o comportamento social, entre outros aspectos. 
A teoria da personalidade de Cattell é baseada na análise fatorial (metodo-
logia estatística). Segundo Hall, Lindzey e Campbell (2000, p. 254):
[...] o teórico fatorial começa a estudar o comportamento com um grande nú-
mero de sujeitos. Dados estes índices superficiais, o investigador então aplica 
a técnica de análise fatorial para descobrir quais são os fatores subjacentes 
que determinam ou controlam a variação nas variáveis superficiais. Assim ele 
espera identificar um pequeno número de fatores básicos cuja operação explica 
a maior parte da variação no grande número de medidas que o investigador 
tinha ao começo [...] o teórico fatorial começa com uma grande variedade de 
medidas comportamentais, identifica os fatores subjacentes a essas medidas 
e então tenta criar um meio mais eficiente de avaliar estes fatores. 
A teoria de Cattell é reconhecida como “teoria do traço”, com uma visão 
abrangente da personalidade, buscando esquematizar empiricamente grandes 
extensões do domínio da personalidade, o que resultou num grande número 
de traços dinâmicos. Hall, Lindzey e Campbell (2000, p. 257) afirmam tam-
bém que “[...] muitas das ideias de Cattell, especialmente as relacionadas ao 
desenvolvimento, estão intimamente ligadas às formulações de Freud e às de 
autores psicanalíticos que vieram depois” deste último.
Para Cattell, a personalidade é uma estrutura complexa e distinta de tra-
ços. O traço, para ele, é uma estrutura mental, que foi percebido a partir do 
comportamento observado. Você pode ver os principais fatores do teste de 
personalidade no Quadro 2.
U.I. 16 Ego narcisista versus não assertividade disciplinada, segura
U.I. 17 Inibição/timidez versus confiança
U.I. 18 Esperteza maníaca versus passividade
U.I. 19 Independência versus submissão
U.I. 20 Comention (conformidade gregária) versus objetividade
U.I. 21 Exuberância versus refreamento
U.I. 22 Cortetia (prontidão cortical) versus pathemia
U.I. 23 Mobilização de energia versus regressão
Quadro 2. Principais fatores do teste de personalidade.
(Continua)
13Estruturação e formação da personalidade
Fonte: adaptado de FESIT, J. et al. (2015).
U.I. 24 Ansiedade versus ajustamento
U.I. 25 Realismo versus tensinflexia (tendência psicótica)
U.I. 26 Autossentimento narcisista versus despretensão
U.I. 27 Apatia cética versus envolvimento
U.I. 28 Astenia de superego versus segurança bruta
U.I. 29 Responsividade sincera versus falta de vontade
U.I. 30 Impassibilidade versus dissofrustance
U.I. 31 Prudência versus variabilidade impulsiva
U.I. 32 Exvia (extroversão) versus invia (introversão)
U.I. 33 Desânimo (pessimismo) versus atitude alegre
U.I. 34 Caráter não prático versus caráter prático
U.I. 35 Sonolência versus excitação
U.I. 36 Autossentimento versus autossentimento frágil
Quadro 2. Principais fatores do teste de personalidade.
Hans Eysenck
Eysenck (1916–1997) desenvolveu uma teoria fatorial semelhante à de Mc-
Crae e Costa, fundamentando-a basicamente na análise fatorial e na biologia. 
Estabeleceu, porém, somente três dimensões da personalidade: extroversão/
introversão, neuroticismo/estabilidade e psicoticismo/superego. Para ele, as 
diferenças individuais na personalidade são provenientes de diferenças gené-
ticas, compreendendo estruturas cerebrais, hormônios e neurotransmissores 
que influenciam os três fatores da personalidade. Ele define traços como 
disposições importantes semipermanentes da personalidade, que compõem 
intercorrelações significativas entre diferentes comportamentos habituais 
(FEIST; FEIST; ROBERTS, 2015).
Segundo Feist, Feist e Roberts (2015, p. 276–277):
(Continuação)
Estruturação e formação da personalidade14
[...] os extrovertidos são caracterizados pela sociabilidade e pela impulsivida-
de, mas também por jocosidade, vivacidade, perspicácia, otimismo e outros 
traços indicativos das pessoas que são gratificadas pela associação com os 
outros. Os introvertidos são caracterizados pelos traços opostos aos dos ex-
trovertidos [...] são quietos, passivos, pouco sociáveis, cuidadosos, reservados, 
pensativos [...] as principais diferenças entre extroversão e introversão não 
são comportamentais, mas de natureza biológica e genética.
O neuroticismo/estabilidade é indicado como forte componente hereditá-
rio. Assim, a pessoa com escore alto em neuroticismo apresenta disposição 
para reagir com excesso emocional e dificuldade de retornar a um estado 
normal depois de uma alteração emocional. No entanto, Eysenck afirma que 
o neuroticismo não sugere compulsoriamente uma neurose, porém sobre forte 
estresse pode produzir um transtorno neurótico (FEIST; FEIST; ROBERTS, 
2015). Esses dois fatores, extroversão/introversão e neuroticismo/estabilidade, 
foram a base da teoria da personalidade, que posteriormente reconheceu o 
psicotismo/superego, formando as três dimensões. As características das pes-
soas com escore alto em psicotismo são: egocentrismo, frieza, impulsividade, 
hostilidade, agressividade, desconfiança, psicopatia e antissociabilidade. E as 
pessoas com baixo escore são mais altruístas, com alta socialização e empatia, 
cooperativas e mais convencionais.
BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo 
de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001.
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www.redalyc.org/html/3350/335027285007/>. Acesso em: 18 mar. 2018.
15Estruturação e formação da personalidade
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para 
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual 
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
 
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