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O modelo da aprendizagem e Psicologia Escolar: Compreensões sobre um Campo SST Coelho, Orlando O modelo da aprendizagem e Psicologia Escolar: Compreensões sobre um Campo / Orlando Coelho nº de p. : 12 Copyright © 2019. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. O modelo da aprendizagem e Psicologia Escolar: Compreensões sobre um Campo 3 Apresentação Nesta unidade abordaremos temas relevantes para a compreensão do papel do psicólogo dentro da área educacional, suas funções, normas e diretrizes, além de ajudar a entender como os processos de aprendizagem e de desenvolvimento humano ocorrem e, principalmente, como isso pode ser aplicado nas diversas realidades educacionais. Tendo isso em vista, o licenciado poderá utilizar métodos de ensino aliados aos conceitos e teorias da área de Psicologia da Aprendizagem, o que permitirá que ele identifique quais são mais eficazes. Para tanto, é necessária certa sensibilidade com as diferentes capacidades dos indivíduos da turma e de suas peculiaridades, trazendo benefícios para todos os sistemas que fazem parte do contexto educacional. A aprendizagem e suas características A Psicologia, no Brasil, desenvolveu-se lado a lado com a educação. A Psicologia da Educação é derivada dos estudos da Psicologia e, desde o início do século XX, esse tema se tornou fundamental para a Educação, tornando-se parte integrante nos cursos de Pedagogia. A Psicologia e a Educação emergem dentro de um contexto sócio-histórico e político que prioriza a abordagem científica. Segundo Goulart (2010), uma das principais contribuições da Psicologia da Educação se relaciona ao campo da pesquisa que ela delimitou. Foi essa disciplina que começou a tratar de temas como o papel do professor, incluindo a avaliação de seu desempenho para satisfazer estatísticas escolares. Problemáticas como essa passaram a caracterizar a área enquanto campo que dirige o olhar para problemas específicos relacionados à Educação. 4 A Psicologia da Educação compreende abordagens oriundas de diversas áreas que abrangem o ser educativo. É um campo em constante evolução que tem contribuído para o melhor entendimento dos assuntos educacionais relacionados à mente humana e à aprendizagem. Saiba mais As teorias psicológicas têm constituído, ao longo dos últimos anos, o fundamento científico da Psicologia Educacional. Algumas delas, devido à sua maior relação com o campo da Educação, foram mais facilmente assimiladas e passaram a constituir formas de abordagem dos problemas psicológicos ligados à educação. Segundo Goulart (2010), as principais posições teóricas que norteiam a Psicologia da Aprendizagem são: Psicologia Experimental e Psicometria, Behaviorismo, Psicanálise, Construcionismo e Histórico-Cultural. Confira, a seguir, as teorias apresentadas pela autora. A emergência histórica da Psicologia Escolar: conceitos e definições Com o advento da globalização, a sociedade vive tempos de incertezas e de profundas mudanças. A tecnologia alterou o acesso à informação, de forma que os conteúdos são distribuídos em um volume muito grande, o que dificulta a sua assimilação. A qualidade do ensino precisa ser reavaliada em função das demandas da sociedade de hoje e está enraizada nas concepções de aprendizagem adotadas em cada escola. Embora as diretrizes educacionais sejam oriundas de políticas públicas, deve-se pensar que a aprendizagem ocorre num contexto educacional e, portanto, é necessário conceituá-la a partir dele: as concepções de aprendizagem são definidas como representações sobre o fenômeno da aprendizagem na consciência em sua interface com o ambiente. Os alunos, acima de tudo, precisam aprender a aprender, e a compreensão desses aspectos, em paralelo com a criatividade, deve ser estimulada para que o conhecimento seja transferido para as questões práticas do dia a dia. 5 Os métodos tradicionais de ensino ainda estão alinhados a esse novo contexto social e a nova demanda dos alunos? Qual a sua opinião sobre isso? Reflita Desenvolvimento e aprendizagem Fonte: Plataforma Deduca (2021) #PraCegoVer: Imagem de uma sala de aula mostrando 5 crianças de 6 anos aproximadamente, com a professora explicando individualmente a um deles. A seguir, vamos estudar algumas concepções de aprendizagem que usualmente norteiam a educação no Brasil. Concepção de aprendizagem por Jean Piaget Jean William Fritz Piaget foi um epistemólogo e biólogo suíço, considerado o pai da epistemologia genética, reconhecido por suas contribuições ao estudo da infância e por sua teoria construtivista do desenvolvimento da inteligência, baseada em uma proposta evolutiva de interação entre sujeito e objeto. A epistemologia genética, como método de investigação baseado em suas observações, trata tanto da formação quanto do significado do conhecimento, ou seja, explicando como se estabelece a transição de um nível inferior de 6 conhecimento para um nível considerado superior. Tenta, ainda, explicar o conhecimento científico sobre a base de sua história, sua sociogênese e principalmente das origens psicológicas das noções e operações nas quais se baseia. Em seus estudos, Piaget mostrou como é possível a criança construir um aprendizado único e pessoal, sendo pioneiro no campo da inteligência infantil. Suas teorias são revolucionárias e podemos dizer que ele foi o autor mais influente no campo da Educação durante a segunda metade do século XX. Curiosidade Havia um conceito, até o início do século XX, de que as crianças pensavam e raciocinavam como os adultos, e que a diferença entre o processo cognitivo do adulto e da criança se dava fisicamente, sendo os adultos maiores e superiores. Com as observações de Piaget, essa concepção foi derrubada. O autor dividiu em etapas o processo de desenvolvimento cognitivo e a criança passou a ser compreendida como um ser dinâmico que está em constante interação com a sociedade e cujo processo de desenvolvimento é influenciado por fatores como maturação, exercitação, costumes e padrões culturais. Durante suas pesquisas, Piaget percebeu que evoluímos gradualmente e que os avanços ocorrem em estágios. Vale lembrar que Piaget, como autor sociointeracionista, defende que o sujeito é ativo no processo de ensino- aprendizagem e no meio em que vive. Sobre isso, ele diz: “Educar é adaptar o indivíduo ao meio social ambiente” (PIAGET, 2008, p. 154). 7 Processo de desenvolvimento segundo Piaget A experiência A transmissão social A equilibraçãoAbstração reflexionante A maturação Fonte: Adaptado de Piaget (2008). #PraCegoVer: Diagrama de fluxo de etapas do desenvolvimento segundo Piaget, incluindo maturação, exercitação, aprendizagem e equilibração. Veja a seguir os estágios do desenvolvimento propostos por Piaget. Estágio sensório-motor (0 a 2 anos) – nesse estágio são utilizados reflexos neurológicos básicos. A assimilação mental do meio e as noções de espaço e tempo são construídas pelas intervenções concretas no ambiente, e não por esquemas cognitivos abstratos. Estágio pré-operatório (2 a 7 anos) chamado também de inteligência simbólica. Nesse estágio, a criança se apropria e interioriza os esquemas de ação construídos no estágio sensório- motor. 8 Estágio operatório concreto (7 a 11 anos) nessa fase, a criança já consegue relacionar noções de tempo e espaço, mas se limita ao mundo concreto: ela ainda não consegue reverter situações. Estágio operatório-formal (12 anos em diante) a criança, nessa fase, já consegue representar com abstração completa. Ela não se limita mais aos modelos que lhe são ensinados e cria suas próprias hipóteses lógicas, buscando a solução dos problemas utilizando a observação e o raciocínio. Desenvolvimento humano segundo Vygotsky Lev Smenovitch Vygotsky, psicólogo soviético, nasceu em 1896 na antiga União Soviética. As inquietações de Vygotsky sobre o desenvolvimento da aprendizagem e a construção do conhecimento perpassavama produção da cultura como resultado das relações humanas. Por esse motivo, ele procurou entender o desenvolvimento intelectual a partir das relações histórico-sociais. Em outras palavras, buscou demonstrar que o conhecimento é socialmente construído pelas relações humanas. O desenvolvimento humano, o aprendizado e as relações entre desenvolvimento e aprendizado são temas centrais nos trabalhos de Vygotsky, que buscava compreender a origem do desenvolvimento dos processos psicológicos ao longo da história individual. Esse tipo de abordagem, que enfatiza o desenvolvimento, é chamado de abordagem genética e é comum a outras teorias psicológicas (VYGOSTKY, 2003). Este autor introduz os conceitos de sentido e de situação social do desenvolvimento que apontam para os aspectos subjetivos do psiquismo humano, procurando distanciar-se da relação direta entre o mundo e as funções psíquicas. Saiba mais 9 Vygotsky se preocupou pelo desenvolvimento de um modelo geral da psique, congruente com formas metodológicas novas e com uma representação diferente da prática do psicólogo em diferentes áreas, especialmente no trabalho com crianças que vivem com uma deficiência. A atuação institucional do psicólogo escolar de acordo com os preceitos legais e éticos A psicologia escolar, por vezes, é considerada uma área simples, não requerendo muita experiência ou especialização. Até mesmo dentro das próprias instituições de ensino, há uma visão distorcida sobre ela devido à falta de regulamentação legal e à importância da prevenção das dificuldades de aprendizagem dentro do contexto escolar, sendo utilizada somente em relação aos cenários de orientação educacional e supervisão escolar, pois estão previstos por lei. Então, o psicólogo escolar acaba tendo inicialmente um papel mais avaliativo e direcionador, porém a necessidade de revisão e mudança desse comportamento se faz presente. De acordo com Reger (1989, p. 14), o psicólogo escolar é um cientista, que usa das mais modernas metodologias e técnicas, em parceria com os outros profissionais da educação, para desenvolver métodos de melhorias dos processos de aprendizagem, além da aplicação de novas formas de diagnósticos, a fim de evitar desvios no desenvolvimento da criança. 10 O Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (2010) divulgou uma nota técnica esclarecendo ao psicólogo que atua em instituições escolares e educacionais deve: • considerar a realidade da escola brasileira, articulando com setores da saúde, do trabalho, dos movimentos sociais, da assistência social e do poder judiciário; • compreender os fatores que produzem e causam sofrimento em educandos e educadores e analisar o campo de relações sociopolítico-pedagógicas para melhoria das condições do processo educacional; • comprometer-se com as funções sociais da escola de acesso aos bens culturais constituídos e a promoção de autonomia dos indivíduos e a qualidade do processo educacional; • elaborar metodologias de trabalhos multidisciplinares, valorizando, compartilhando a prática e o conhecimento desenvolvido pela Psicologia e potencializando a produção de saberes dos diferentes espaços educacionais; Além disso, o psicólogo também deve considerar o disposto nas Resoluções do Conselho Federal de Psicologia e em outros documentos pertinentes, tais como a Resolução 07/03, que institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos. Atenção A Psicologia Escolar tem buscado consolidar o cuidado da saúde psíquica, aprofundando a atenção nos processos sociais, integrando novas visões e ferramentas que cuidem não só das patologias, mas também dos processos emocionais que permeiam a vida de cada aluno, bem como seu dia a dia escolar, sua inclusão, criatividade, entre outros. Essas ações se constituem em desafio de ampliar sua área de atuação além da escola, creches ou ONGs. 11 Fechamento A Psicologia escolar é o ramo da Psicologia responsável por estudar a aprendizagem e o desenvolvimento humano no campo da educação. Sua pesquisa, sempre sob um arcabouço científico, busca otimizar o aprendizado e o desempenho dos alunos. No espaço escolar participam diversos processos psicológicos que definem o estudante como ser social. Os fundamentos psicológicos da psicologia cognitiva, de Piaget, e da Psicologia Histórico-Cultural, de Vygotsky, permitem ao psicólogo escolar entender as realidades singulares de cada um dos alunos e construir alternativas de intervenção que potencializam o desenvolvimento da melhor forma possível. O psicólogo escolar deve partir do fato de que o processo educativo pressupõe transformar os indivíduos e ajudá-los a desenvolver suas capacidades máximas, portanto, a prevenção ativa de seus desequilíbrios, sejam eles sociais, escolares ou afetivos, são elementos essenciais em suas ações dentro da escola. 12 Referências CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO. Fique de olho. 2010. Disponível em: http://www.crpsp.org.br/portal/midia/fiquedeolhover.aspx?id=72. Acesso em: 20 jan. 2018. GOULART, I. B. Psicologia da educação: fundamentos teóricos - aplicações à prática pedagógica. Rio de Janeiro: Vozes, 2010. PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008. REGER, R. Psicólogo escolar: educador ou clínico? In: SOUZA PATTO, (Org.). Introdução à Psicologia Escolar. São Paulo: T. A. Queiroz, 1989. p. 9-16. SMITH, C. Dificuldades de aprendizagem de A - Z: guia completo para educadores e pais. Porto Alegre: Penso, 2012. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ______. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011. http://www.crpsp.org.br/portal/midia/fiquedeolhover.aspx?id=72
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