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Thais Alves Fagundes HIPERPLASIA PROSTÁTICA BENIGNA E CÂNCER DE PRÓSTATA TERMOS SEMIOLÓGICOS Oligúria: volume urinário inferior a 400 mℓ/dia ou de 20 mℓ/hora. Ocorre na redução do fluxo sanguíneo renal (desidratação, hemorragia, insuficiência cardíaca) e nas lesões renais (glomerulonefrite aguda, necrose tubular aguda). Anúria: volume urinário inferior a 100 mℓ/24 horas. Ocorre na obstrução bilateral das artérias renais ou dos ureteres, na necrose cortical bilateral e na insuficiência renal aguda grave. Poliúria: volume urinário superior a 2.500 mℓ/dia. Mecanismos básicos: diurese osmótica, decorrente da excreção de um volume aumentado de solutos, determinando maior excreção de água (diabetes melito descompensado) e incapacidade de concentração urinária (diabetes insípido, hipopotassemia). Ocorre na insuficiência renal crônica, quando o comprometimento renal ainda é moderado, por diurese osmótica (devida à uremia) e por incapacidade de concentração urinária, quando as lesões comprometem a medula renal, como ocorre na pielonefrite crônica. Disúria: micção associada à sensação de dor, queimor ou desconforto. Ocorre em cistite, prostatite, uretrite. Urgência: necessidade súbita e imperiosa de urinar. Polaciúria: aumento da frequência miccional, intervalo entre as micções inferior a 2 horas, sem aumento do volume urinário. Traduz irritação vesical, provocada por redução da capacidade da bexiga, comprometimento da uretra posterior ou dor à distensão vesical. Decorre de infecção, cálculo, obstrução, alterações neurológicas, frio e ansiedade. Hesitação: intervalo maior para que apareça o jato urinário, necessitando de esforço maior para urinar. Ocorre na obstrução do trato de saída da bexiga. Nictúria ou noctúria: ritmo de diurese alterado com necessidade de urinar durante a noite. Normalmente o indivíduo não acorda à noite para urinar ou acorda apenas uma vez – ritmo de formação de urina decresce no período noturno. ANATOMIA DA PRÓSTATA • Localiza-se na pelve. • Circundada pelo reto, pela bexiga e pelos complexos venosos periprostático e dorsal. o Por feixes neurovasculares que são responsáveis pela função erétil. o Pelo esfíncter urinário, que é responsável pelo controle passivo da micção. • Composta de glândulas tubuloalveolares ramificadas, dispostas em lóbulo e circundadas por estroma fibromuscular. • Cada unidade acinar compreende: o Compartimento epitelial: células epiteliais, basais e neuroendócrinas ▪ Célula epitelial produz antígeno prostático específico (PSA) e fosfatase ácida prostática (PAP). o Separado por uma membrana basal. o Compartimento estromal: fibroblastos e células musculares lisas. ▪ Células epiteliais e células do estroma da próstata expressam receptores de androgênio (ARs) • Dependem dos androgênios para seu crescimento. • Testosterona é o principal androgênio circulante, convertida na glândula em di- hidrotestosterona pela enzima 5α-redutase. • Parte periuretral da glândula aumenta de tamanho na puberdade e depois dos 55 anos, devido ao crescimento de células não malignas na zona de transição da próstata que circunda a uretra. • Maioria dos cânceres desenvolve-se na zona periférica, podendo ser palpado no exame de toque retal (TR). Thais Alves Fagundes HIPERPLASIA PROSTÁTICA BENIGNA (HPB) Proliferação de elementos estromais, principalmente células musculares lisas e de células epiteliais glandulares da região periuretral e da zona de transição. Aumento da glândula pode gerar sintomas do trato urinário inferior (STUI). EPIDEMIOLOGIA • Uma das doenças mais frequentes no homem, considerada condição natural do envelhecimento masculino. • Prevalência da HPB histológica aumenta linearmente com a idade (8% em homens com 31-40 anos, de 50% entre 51-60 anos e 80% na nona década de vida). • Prevalência da HPB histológica é superior à prevalência da HPB clínica (nem todos os homens com HPB histológica apresentam sintomas clínicos). • HPB avaliada pelo exame digital da próstata: somente 20% dos homens com 60 anos e 43% dos homens na faixa dos 80 anos de idade apresentaram evidências de próstata aumentada. • Incidência dos sintomas do trato urinário inferior aumentam com idade entre 45 a 79 anos (sintomas moderados presentes em 26% dos homens na 5ª década de vida/60 anos e em 46% dos homens após 80 anos). • Doença de grande prevalência e moderada morbidade, mortalidade é muito rara. FATORES ASSOCIADOS Obesidade, síndrome metabólica - obesidade visceral, resistência aumentada à insulina, dislipidemia, hiperuricemia e hipertensão - e atividade física: forte correlação positiva entre peso, IMC e circunferência abdominal com aumento prostático e risco de desenvolvimento de sintomas do trato urinário (STUI). Mecanismos fisiopatológicos relacionados à hiperatividade autonômica, componente da SM, com aumento do tônus simpático e desregulação do parassimpático, inflamação crônica sistêmica e estresse oxidativo. Fatores familiares e genéticos: componente de susceptibilidade hereditária, com transmissão de modo autossômico dominante - parentes de 1º grau que desenvolvem a HPB antes dos 65 anos. Ingesta de álcool e cirrose hepática: relação inversa entre HPB e ingesta alcoólica, demonstrando efeito protetor do álcool na patogenia da HPB (presença de níveis mais baixos de testosterona e di-hidrotestosterona/DHT em cirróticos). PATOGENIA • Testosterona: penetra na célula epitelial da próstata, pela ação da enzima 5-alfa-redutase e é transformada em diidrotestosterona (DHT). Envelhecimento: o Diminuição da testosterona, com aumento relativo de estrogênio circulante. o Maior expressão de receptores androgênicos, tornando as células mais sensíveis. o Ligação de DHT a esses receptores promove: ▪ Alteração no equilíbrio entre a proliferação e apoptose celular prostática. ▪ Secreção de fatores de crescimento pelo estroma prostático que, através do mecanismo parácrino, modulam a proliferação das células glandulares • Proliferação das células prostáticas e crescimento da glândula, com proliferação de nódulos epiteliais glandulares e estromais, na zona de transição e na região periuretral. o Nódulos epiteliais estromais (formados por estroma): ▪ Periuretrais, internamente ao esfíncter pré-prostático ▪ Compostos por estroma, colágeno, miofibroblastos e poucas glândulas pequenas. ▪ Mais comum em jovens, com próstatas não volumosas e mais fibrosas ao toque. o Nódulos epiteliais glandulares (formados por tecido glandular): ▪ Zona de transição, área adjacente ao esfíncter pré-prostático. ▪ Compostos por grande proliferação glandular e pouco estroma. ▪ Mais comum em idosos, com próstatas de grande volume com consistência elástica e macia. Thais Alves Fagundes FISIOPATOLOGIA Resulta de dois fenômenos: • Obstrução uretral propriamente dita. • Resposta do músculo detrusor na presença da obstrução. Obstrução uretral: • Desenvolvimento da HPB gera obstrução ao fluxo urinário por dois componentes, que atuam conjuntamente: o Componente mecânico/estático: ▪ Causada pelo aumento volumétrico da próstata. ▪ Agindo como efeito massa sobre a uretra prostática e o colo vesical. ▪ Redução do calibre uretral, elevando a resistência ao fluxo urinário. o Componente funcional/dinâmico: ▪ Causada pela presença de grande quantidade de receptores alfa-1-adrenérgicos, na superfície das células musculares lisas do colo vesical, cápsula prostática e do estroma da zona transicional da próstata. ▪ Estimulados pelo sistema nervoso autônomo simpático, geram contração da glândula. ▪ Redução do calibre uretral, elevando a resistência ao fluxo urinário. OBS.: presença da cápsula prostática colabora no desenvolvimento dos sintomas de esvaziamento prostático. Resposta do músculo detrusor na presença da obstrução: • Obstrução infravesical pela HPB determina alterações morfológicas e funcionais na musculatura detrusorada bexiga, causando sintomas urinários do trato inferior. • Fase inicial da obstrução infravesical: o Hipertrofia detrusora compensatória com manutenção do fluxo urinário por pressão vesical elevada. ▪ Diminuição da complacência vesical. ▪ Diminuição da capacidade vesical. o Sintomas (miccionais irritativos / de armazenamento): urgência miccional e frequência. • Persistência da obstrução infravesical: o Instalação de fibrose progressiva. ▪ Bexiga inelástica, com redução da força contrátil do detrusor. ▪ Dilatação da bexiga e aumento do volume de urina residual / pós-miccional. ▪ Falência detrusora. o Sintomas: retenção urinária, incontinência por transbordamento e lesão do trato urinário superior. QUADRO CLÍNICO Sintomas do trato urinário inferior (STUI): queixas relacionadas à obstrução infravesical por hiperplasia prostática. Sintomas desencadeados pela HPB são causados por aumento do componente glandular (estático) e por aumento da atividade do componente dinâmico, associado ao tônus da musculatura lisa do colo vesical e do estroma prostático mediado por receptores alfa-adrenérgicos. • Sintomas de esvaziamento: aumento da resistência uretral decorrente do crescimento prostático Jato fraco; Jato interrompido; Gotejamento terminal; Esforço para urinar; Sensação de esvaziamento incompleto; Hesitância • Sintomas de armazenamento: reação do detrusor à obstrução infravesical Urgência; Incontinência de urgência; Polaciúria; Noctúria Thais Alves Fagundes DIAGNÓSTICO ANAMNESE Sintomas não são específicos de obstrução infravesical pela HPB, e outras doenças devem ser excluídas como estenose de uretra, câncer de próstata, infecção urinária, câncer de bexiga e bexiga neurogênica. Além de insuficiência cardíaca congestiva, diabetes mellitus (poliúria e aumento da frequência miccional) • Jato urinário fraco • Esforço para urinar • Polaciúria • Urgência urinária • Incontinência urinária • Noctúria • Disúria • Hematúria • Uso de medicamentos que causam STUI: o Anticolinérgicos: diminuição da contração do detrusor. o Alfa agonistas: aumento da resistência uretral. Escore Internacional de Sintomas Prostáticos (I-PSS - Associação Americana de Urologia): • Graduar sintomas e correlacioná-los com impacto na qualidade de vida. • Acompanhar a evolução. • Avaliar resultados após instituição de tratamento clínico ou cirúrgico. o Não permite diferenciar sintomas derivados da OIV por HPB de outras causas de disfunção miccional. ▪ Sete perguntas sobre sintomas de armazenamento e esvaziamento. • Graduação de zero a cinco para cada questão. • Escore total varia entre 0 e 35. ▪ Oitava pergunta sobre qualidade de vida frente aos sintomas – de 0 (feliz) até 6 (terrível). • Classificação da intensidade dos sintomas de acordo com a pontuação do escore: o Sintomas leves: até 7 o Sintomas moderados: 8 a 19 o Sintomas intensos: 20 a 35 Diário miccional: composto por horário e volume de cada micção, volume de líquido ingerido e registro de episódios de urgência e incontinência. Período de preenchimento varia de dois a sete dias, mas na prática clínica um diário de 24 horas é suficiente. Anotações noturnas são permitem diferenciar polaciúria (aumento da frequência urinária diurna e noturna) de noctúria (aumento da frequência urinária noturna). Thais Alves Fagundes EXAME FÍSICO Exame digital da próstata / toque retal: • Estimar o volume e a consistência da próstata (próstata aumentada, simétrica, consistência fibroelástica com preservação do sulco mediano). • Presença de nódulos endurecidos sugere adenocarcinoma e requer biópsia transretal. Palpação da bexiga: pode estar palpável e dolorosa à palpação, por retenção urinária. EXAMES LABORATORIAIS Dosagem do antígeno prostático específico (PSA): • Sintetizado no epitélio prostático, excretado no fluido seminal, com função de liquefação do fluido seminal. o Baixa concentração no plasma. o Elevada concentração no plasma possui correlação com o volume da glândula. • PSA > 1,6 ng/mL: maior risco de progressão da HPB, evolução dos sintomas, retenção urinária aguda e necessidade de cirurgia. • Valor normal: o PSA < 2,5 para menores de 60 anos o PSA < 4 para maiores de 60 anos ▪ PSA de 4 a 10 ng/mL: zona cinzenta - pode ser HPB ou câncer de próstata. ▪ PSA > 10ng/mL: provável adenocarcinoma (PSA é utilizado apenas para rastreio de câncer de próstata). Creatinina sérica: avalia função renal. Risco de perda de função renal não é significativo em portadores de HPB. Exame de urina (sedimento e elementos anormais): avalia infecção urinária ou outras alterações do trato urinário Citologia urinária: avalia patologias da bexiga e permite realizar diagnósticos diferenciais. Indicada se houver hematúria e em homens com disúria e polaciúria e com hábito de tabagismo, para descartar câncer de bexiga. Ultrassonografia pélvica/transabdominal: • Ferramenta diagnóstica em casos de dúvida, não é necessária para diagnóstico de HPB. • Indicada quando houver elevação de creatinina, suspeita de litíase ou na presença de hematúria. • Avaliação do: o Trato urinário superior (US de rins e vias urinárias) e inferior (US pélvica) o Espessura da parede vesical o Volume da próstata o Resíduo miccional: ▪ Volume na bexiga após micção obtido com acurácia pela ultrassonografia suprapúbica. ▪ Comparar resíduo miccional com volume pré-miccional. ▪ Aumento progressivo do resíduo pode indicar deterioração vesical pela obstrução infravesical. • Ultrassom transretal: maior precisão do volume prostático, mas o caráter invasivo limita utilização rotineira. Urofluxometria (avaliação urodinâmica não invasiva): indicada em pacientes que serão submetidos a cirurgia. Documenta de forma objetiva a queixa referente ao jato urinário. Estudo fluxo/pressão (avaliação urodinâmica invasiva): indicada em pacientes que serão submetidos a cirurgia, quando os dados da urofluxometria forem insuficientes e em pacientes considerados como falha do tratamento clínico. Consiste da fase miccional do estudo urodinâmico, registra a pressão detrusora durante o fluxo urinário. Pressão elevada e o fluxo baixo indicam obstrução infravesical (OIV). Thais Alves Fagundes COMPLICAÇÕES Retenção urinária aguda (RUA): incapacidade abrupta de esvaziamento vesical. Dor progressiva no hipogástrio e globo vesical palpável caracterizam essa condição que é motivo de atendimento de urgência. Infecção do trato urinário (ITU): obstrução infravesical e a estase urinária são fatores que favorecem a ITU. Bactérias inoculadas por via transuretral normalmente seriam eliminadas sem causar danos mas, na presença de obstrução infravesical, desencadeiam cistite, pielonefrite e bacteremia. Litíase vesical: esvaziamento vesical incompleto e a estase urinária predispõem a formação de cálculos na bexiga. Outra origem dos cálculos vesicais é o cálculo migrante, que consiste na dificuldade de eliminação de cálculos provenientes dos rins, sendo assim, o cálculo na bexiga aumenta seu volume devido à estase urinária e pH elevado. Clínica: jato interrompido, disúria, polaciúria, hematúria, retenção urinária aguda. Hematúria: pacientes com STUI e HPB podem apresentar hematúria macroscópica mesmo sem infecção urinária ou cálculos vesicais, visto que o tecido prostático hiperplásico possui mais microvasos sujeitos a ruptura, atribuídos a uma angiogênese provocada pela produção elevada de fator de crescimento de fibroblasto básico. Descompensação vesical ou falência do detrusor: HPB prolongada com obstrução infravesical, na qual o detrusor sofre hipertrofia, fibrose e dilatação, com redução da força contrátil. Havendo espessamento da parede vesical, trabeculação e surgimento de divertículos. TRATAMENTO • Indicado apenas para os pacientes sintomáticos. • Em assintomáticos é necessário apenas observação e acompanhamento. TRATAMENTOMEDICAMENTOSO Indicações: • Sintomatologia leve/moderada. • Contraindicação cirúrgica. Farmacoterapias de 1ª linha: • Antagonistas α-adrenérgicos (α-bloqueadores) o Promove o relaxamento da musculatura lisa prostática e colo vesical. o Componente dinâmico da obstrução prostática. • Inibidores de 5α-redutase (I5AR) o Reduz o volume prostático. o Componente estático da obstrução prostática. • Antimuscarínicos o Manejo dos sintomas de armazenamento. Combinações: • α-bloqueadores + I5AR o Benéfica em pacientes com maior propensão a progressão. • α-bloqueadores + antimuscarínicos • I5AR + antimuscarínicos Thais Alves Fagundes Antagonistas α-adrenérgicos ou α-bloqueadores (Prazosin, Terazosin, Doxazocin, Tamsulosin): • Atua no componente dinâmico/funcional. • Antagonizam os efeitos do sistema simpático. o Próstata apresenta altos índices de receptores α-adrenérgicos (principalmente α1). o Ativação desses receptores é mecanismo importante na fisiopatologia dos sintomas do STUI-HPB. ▪ Causando o relaxamento da musculatura lisa da uretra prostática e do colo vesical. ▪ Melhora a micção ao reduzir o tônus da musculatura lisa estromal. • Efeitos colaterais: tontura e hipotensão, por vasodilatação. • Classificados de acordo com a sua seletividade ao receptor adrenérgico e a sua meia vida. o α-bloqueador não seletivo: fenoxibenzamida - altas taxas de efeitos colaterais graves. o α-bloqueador seletivo: tamsulosin, doxazosina - minimiza efeitos colaterais. o Curta duração: prazosina, indometacina e alfuzosina o Longa duração: terazosina, doxazosina e alfuzosina de liberação lenta. Inibidores da 5-α-redutase (finasterida – 5aR 2, dutasterida – 5aR 1 e 2): • Atua no componente estático/mecânico. • Inibem a 5-α-redutase, enzima que converte a testosterona em di-hidrotestosterona (DHT). o DHT tem ação no desenvolvimento da HPB, visto que leva a produção de fatores de crescimento. o Ocasionando aumento da proliferação celular prostática e diminuição da morte celular. ▪ Reduz PSA, consequentemente. o 5-α-redutase: dois isotipos ▪ 5aR tipo 1 (encontrada em todo o organismo inclusive na próstata e na pele) ▪ 5aR tipo 2 (predominantemente encontrada na próstata). • Efeitos colaterais: disfunção erétil. Antimuscarínicos (anticolinérgicos): • Indicado para pacientes com queixas de armazenamento/irritativos (urgência, polaciúria). • Induzem o relaxamento da musculatura lisa da bexiga, impedindo a ocorrência de contrações involuntárias. • Não utilizado na existência de resíduo miccional > 200ml, pois pode causar retenção urinária aguda. • Utilizado após a desobstrução da próstata cirúrgica ou com medicamentos. Caso contrário, o medicamento dificultaria a contração muscular do detrusor, que exerce pressão para vencer a resistência imposta pela compressão da uretra, inibindo a micção na uretra comprimida. • Efeitos colaterais: retenção urinária. Inibidor da Fosfodiesterase-5 (viagra - sildenafila, verdenafila, tadalafila): • Relaxamento da musculatura lisa. Utilizados na associação com disfunção erétil. • Possíveis mecanismos de ação: estimulação da atividade do óxido nítrico/GMPc; Inibição da atividade da Rho- quinase; Modulação da hiperatividade do sistema autonômico e de nervos prostáticos e vesicais; Aumento da perfusão sanguínea pélvica e a redução da inflamação. TRATAMENTO CIRÚRGICO • Terapia mais eficiente para alívio dos sintomas e prevenção das complicações. • Indicações: sintomatologia grave e casos de falha da terapia medicamentosa. • Céu aberto: glândulas mais volumosas (prostatectomia transvesical e prostatectomia suprapúbica - Millin) • Técnicas transuretrais: glândulas com aumento de volume leve a moderado (< 80g) o Ressecção transuretral da próstata (RTUp) o Incisão transuretral da próstata (iTUP). Thais Alves Fagundes CÂNCER DE PRÓSTATA (CaP) EPIDEMIOLOGIA • Neoplasia maligna mais frequente no sexo masculino no Brasil, excluindo-se tumores de pele não melanoma. • Estimam-se 60.180 novos casos no ano de 2012, correspondendo a um risco de 62/100 mil homens. • Mais da metade dos casos ocorrem em indivíduos com mais de 65 anos. • Incidência do CaP: o Aumento significativo com a introdução do exame de PSA após a década de 90, levando ao diagnóstico precoce (doença localizada) na maioria dos casos. o Após aumento inicial, houve declínio da incidência e estabilização dos casos diagnosticados. FAT0RES DE RISCO • Idade • Etnia – risco em negros é quase 2x maior que em brancos. • História familiar – quanto mais precoce foi o diagnóstico maior é o risco atribuído aos descendentes. • Gêmeos univitelinos – é observada concordância 4 vezes maior em relação a gêmeos bivitelinos. • Obesidade • Dieta rica em gorduras DETECÇÃO PRECOCE • CaP: o Doença que em suas fases iniciais não causa sintomas nem apresenta sinais. o Sintomas urinários normalmente são relacionados ao crescimento benigno da próstata. o Basear a investigação diagnóstica apenas no aparecimento de sintomas pode levar ao diagnóstico de lesões malignas somente em estágios avançados. • PSA em conjunto com o exame de toque retal: o Possibilidade de diagnosticar lesões malignas enquanto ainda localizadas na próstata. o Permite, na maioria das vezes, tratamento curativo. • Screening e detecção precoce: o Objetivo diminuir a mortalidade por CaP (sobrevida é influenciada pelo diagnóstico precoce). o Detecção precoce: avaliar indivíduos em particular. o Screening ou rastreamento: política de investigação ativa de pacientes sadios. Rastreio individualizado para pacientes que se beneficiam do tratamento, ou seja, possuem risco elevado para progressão da doença e risco reduzido de mortalidade por outras causas, com expectativa de sobrevida > 10 anos. Avaliar antes do tratamento: expectativa de vida, comorbidades, estado de saúde, fatores de risco e características do tumor. ▪ 17% dos homens são diagnosticados com CaP, mas apenas 4% morrem da doença. ▪ Muitos pacientes com CaP podem ser mantidos em observação sem tratamento curativo. • Detecção precoce: PSA + TR o Homens > 50 anos (PSA < 1,0 ng/ml, expectativa de sobrevida > 10 anos): avaliação a cada 2-4 anos o Homens > 45 anos (PSA > 1,0 ng/ml, história familiar, negros): avaliação anual • PSA: quanto maior, maior o risco de câncer de próstata e de doença mais agressiva. Valores baixos não excluem diagnóstico de CaP. o PSA > 4,0 ng/mL: considerar biópsia em homens > 60 anos o PSA > 2,5 ng/mL: considerar biópsia em homens < 60 anos. o PSA > 10 ng/ml: biópsia, se negativa repetir biópsia. • Solicitação de biópsia transretal da próstata: valor de PSA, alterações nodulares de endurecimento no exame de toque retal ou alterações em ambos. Thais Alves Fagundes PSA (Harrison) • PSA total: não é um exame específico do câncer. o Quanto maior o seu valor, maior o risco de CaP, assim como de doença mais agressiva. o Valores baixos não excluem diagnóstico de CaP. • PSA livre / PSA total: o PSA livre diminuído no CaP, pois as células prostáticas malignas permitem que maior quantidade de PSA se ligue a proteínas plasmáticas, diminuindo a fração livre. o Quanto menor a relação PSA livre/PSA total maior a chance de câncer de próstata. o Diferenciação de crescimento benigno da próstata com CaP. • Valores e condutas: o PSA < 4 ng/ml: avaliar a velocidade de aumento do PSA ▪ Se < 0,75 ng/ml/ano = manter acompanhamento anual ▪ Se > 0,75 ng/ml/ano = biópsia o PSA de 4 a 10 ng/ml: zona cinzenta ▪ Biópsia direto ou ▪ Avaliar relação PSA livre/PSA total: • Relação < 25%: biópsia. Caso biópsia negativa, dosar relação após 6-12 meses. • Relação < 10%: gravidade do CaP. o PSA > 10 ng/ml: alta possibilidade de CaP. ▪ Biópsia. ▪ Caso biópsia negativa, repetir biópsia. • Não se deve levar em consideração o valor da relação PSA livre/PSA total, visto que oPSA total pode diluir o valor do PSA livre. TOQUE RETAL • Positivo: nódulos endurecidos, assimetria de lobos, perda dos limites laterais, apagamento do sulco (biópsia). • Se positivo, realizar biópsia, independente dos valores de PSA. • Detecta as lesões mais periféricas, nas faces lateral e posterior da glândula. Ca próstata pode estar localizado em outras topografias, não sendo percebido pelo TR. DIAGNÓSTICO Biópsia transretal da próstata guiada por ultrassonografia: • Método diagnóstico. • Permite a obtenção de pelo menos 12 fragmentos submetidos a exame anatomopatológico. • Indicada sempre que houver alteração no toque ou PSA. • Complicações sépticas. Thais Alves Fagundes CLASSIFICAÇÃO DE RISCO Classificação de risco: valor do PSA, toque retal e escore de Gleason • Estadiamento realizado em pacientes de risco intermediário e alto ESTADIAMENTO CLÍNICO Baseado no: • Exame físico (toque retal) • Exames de imagem: cintilografia óssea e ressonância magnética ou tomografia (menor acurácia para avaliar estadiamento do CaP, não sendo usados isoladamente na decisão terapêutica). Classificação TNM: T (tumor primário), N (linfonodos), M (metástases) • Avaliação de acometimento linfonodal: o Linfadenectomia pélvica permanece como “padrão ouro” para estadiamento. o Em homens com alto de risco de metástase (doença clinicamente palpável, PSA > 20 ng/mL, ou grau 4 a 5 de Gleason na biópsia prostática). • Metástases: o Cintilografia óssea. Se alta probabilidade de lesão secundária óssea: ▪ Tomografia computadorizada ▪ Ressonância magnética o Em homens com alto de risco de metástase (doença clinicamente palpável, PSA > 20 ng/mL, ou grau 4 a 5 de Gleason na biópsia prostática). Sistema de graduação de Gleason: • Avaliação da arquitetura da neoplasia, classificada em 5 padrões. o Gleason 1: mais bem diferenciado – nódulo bem delimitado, glândulas arredondadas, uniformes e mínima infiltração do parênquima adjacente. o Gleason 2: lesão nodular com mínima infiltração da periferia, glândulas menos uniformes e espaçadas. o Gleason 3: glândulas pequenas e bem formadas, que infiltram o estroma. o Gleason 4: fusão glandular, glândulas mal formadas e em padrão cribriforme. o Gleason 5: menos diferenciado, não apresenta diferenciação glandular. Formado por células tumorais isoladas infiltrativas, podendo formar cordões ou blocos sólidos. • Escore de Gleason: o Soma dos padrões primário (o mais prevalente) e secundário (segundo mais prevalente). o Soma dos padrões dominante e mais indiferenciado, se este ultrapassar 5% da neoplasia. ▪ Quando apenas um padrão é encontrado, deve-se duplicar seu grau para chegar ao Gleason, Thais Alves Fagundes TRATAMENTO Conduta expectante (tratamento conservador): • Expectativa de vida < 10 anos, devido a idade mais avançada e/ou presença de comorbidades. • Fatores de bom prognóstico em relação ao tumor (PSA, Gleason 2 a 4 e lesão de pequeno volume). • Acompanhamento regular com exame clínico (incluindo TR) e dosagem de PSA (a cada seis meses). Considerar repetição da biópsia se houver indícios de progressão da doença. ESTADIAMENTO TRATAMENTO Tumor localizado: T1 e T2 Prostatectomia radical Radioterapia Vigilância ativa (em tumores de baixo risco) Tumor localmente avançado: T3 (estende além da cápsula prostática) Terapia combinada: Radioterapia + prostatectomia Tumor avançado sobre estruturas adjacentes: T4 Hormonioterapia (orquiectomia, antiandrogênicos) - Castração química ou cirúrgica Quimioterapia, se resistência à hormonioterapia OBS.: na vigência de metástases, a cura pela cirurgia prostatectomia e pela radioterapia não é mais possível Metástase: M1 a M1c Prostatectomia radical: remoção completa da próstata e das vesículas seminais. Qualquer aumento novo de PSA indica doença reativada. Radioterapia: pacientes de alto risco cirúrgico. Feita por duas modalidades isoladas ou combinadas: radioterapia com feixes externos; braquiterapia - implante de sementes radioativas no interstício prostático pela via transperineal. Deprivação androgênica: eliminação dos hormônios androgênios, visto que células tumorais prostáticas são dependentes do estímulo desses hormônios para sobreviver e se proliferar. • Castração cirúrgica: orquiectomia bilateral (testículo) é o método padrão-ouro, mas não é bem aceito. • Castração química: o Agentes que reduzem a produção de androgênios (inibidores do eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal). o Agentes que bloqueadores do receptor de androgênio. Quimioterapia: • Instituição de quimioterapia com drogas citotóxicas. • Resposta à terapia de deprivação androgênica: o Num primeiro momento, a maioria dos pacientes evolui de forma satisfatória, atingindo uma fase de estabilidade (ausência de progressão clínica ou laboratorial da doença). o Após períodos variáveis, se o paciente sobrevive tempo o suficiente (não morrendo por outras causas), o câncer de próstata progride (progressão clínica e/ ou laboratorial) para a fase “castração-resistente”. Thais Alves Fagundes COMPLICAÇÕES DO TRATAMENTO • Prostatectomia radical: disfunção erétil e incontinência urinária. • Radioterapia: disfunção erétil, incontinência urinária, infertilidade, cistite ou proctite actínica. • Hormonioterapia: perda da libido, impotência sexual, osteopenia/osteoporose, ganho de peso, perda de massa muscular, ginecomastia. • Quimioterapia: queda de cabelo, astenia, náuseas e vômitos. PREVENÇÃO • Válida a aplicação da prevenção do CaP, devido as consequências do tratamento curativo do CaP, apesar da história natural do câncer de próstata ser lenta e da possível detecção precoce a partir do PSA. • Indicada para indivíduos de risco. Considerar idade, PSA, etnia, história familiar, dieta e exposição ambiental. • Expectativa de vida de cerca de 15 anos é o ideal para se pensar em prevenção. • Estratégias de prevenção do CaP: o Químicas (medicamentos): inibidores da 5-alfa-redutase (finasterida e dutasterida), estatinas, anti- inflamatórios e moduladores de receptores seletivos de estrógenos. o Dietética: uso de vitaminas e redução da ingestão de gordura.
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