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MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM Maytê Ribeiro Tamura Meleto Barboza Lei nº. 13.140, de 26 de junho de 2015 Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar os princípios seguidos pela mediação. Descrever o procedimento da mediação: judicial e extrajudicial. Analisar a autocomposição de conflitos no âmbito da Administração Pública. Introdução A mediação é uma forma alternativa da qual as partes podem se valer para solucionar os seus conflitos. Caracteriza-se pela autonomia da vontade das partes, uma vez que o conflito é solucionado pelo consenso entre ambas e não é imposto pelo mediador. A mediação pode ser judicial ou extrajudicial, sendo que ambas as espécies estão dispostas na Lei nº. 13.140, de 26 de junho de 2015, que também trata sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da Administração Pública. Neste capítulo, você vai ler sobre a mediação, disposta na Lei nº. 13.140/2015, os princípios que norteiam a mediação e o procedimento da mediação judicial e extrajudicial. Também vai analisar a autocomposição de conflitos no âmbito da Administração Pública. Princípios da mediação A mediação é uma forma alternativa para solução de litígios. De acordo com Neves (2017, p. 64), “[...] a mediação é forma alternativa de solução de confl itos fundada no exercício da vontade das partes, o que é o sufi ciente para ser considerada espécie de forma consensual de confl ito, mas não deve ser confundida com a autocomposição”. Primeiro, analisaremos os princípios norteadores da mediação, dispostos no art. 2º da Lei nº. 13.140/2015: Art. 2º A mediação será orientada pelos seguintes princípios: I — imparcialidade do mediador; II — isonomia entre as partes; III — oralidade; IV — informalidade; V — autonomia da vontade das partes; VI — busca do consenso; VII — confidencialidade; VIII — boa-fé (BRASIL, 2015a, documento on-line). Citamos uma explicação sobre cada um dos princípios, de acordo com Neves (2017): Imparcialidade do mediador — o mediador deve atuar de forma imparcial, sem a intenção de beneficiar qualquer parte em especial, assim, não pode atuar deliberadamente no sentido de favorecer qualquer uma delas. O profissional deve agir de forma ética, utilizando-se das técnicas de mediação sem perder a imparcialidade. Isonomia entre as partes — esse é um princípio exclusivo da mediação, diferentemente dos demais aqui tratados, que podem ser aplicados às demais formas consensuais de solução de conflitos. O autor diz que esse princípio pode ser interpretado de duas formas, quais sejam: material e procedimental. A isonomia material se refere às situações em que não há qualquer espécie de vulnerabilidade entre as partes. A isonomia procedimental, o que em sua opinião é a forma mais acertada de se interpretar, significa que as partes devem ser tratadas de forma igualitária em relação ao procedimento, tendo as mesmas chances de se manifestar, participando ativamente da mesma forma. Oralidade — isso significa que as tratativas entre as partes e o me- diador serão orais. O principal objetivo desse princípio é conferir a celeridade ao procedimento, o incentivo à informalidade e o respeito à confidencialidade, uma vez que se deve escrever o mínimo possível. Informalidade — a informalidade torna o procedimento mais leve, mais descontraído, sem tantos rituais que podem gerar ainda mais tensão entre os envolvidos. As partes devem sentir-se relaxadas, tranquilas e não pressionadas. Do contrário, o mediador estaria engessado, o que diminuiria sua atuação e tornaria o procedimento mais demorado. Com Lei nº. 13.140, de 26 de junho de 20152 tudo acontecendo de forma mais simples possível, o procedimento é mais flexível, e a solução pode surgir de maneira natural, sem tantas formalidades desnecessárias. Autonomia da vontade das partes — a mediação objetiva um con- senso entre as partes. Esse consenso deve surgir a partir da vontade das partes. Do contrário, isto é, se a solução não se originar de um acordo decorrente da vontade de ambas as partes, o conteúdo da solução consensual pode ser nulo. Busca do consenso — o mediador deve cooperar com as partes para que estas cheguem a uma solução consensual, o que significa que de- vem ser utilizadas técnicas de negociação para que tal finalidade seja alcançada. A solução do conflito deve nascer de um consenso entre as partes, assim, ambas devem estar de acordo com o que foi decidido. Confidencialidade — visa impedir que as partes fiquem constrangidas em conceder informações que possam prejudicá-las futuramente em outro processo ou mesmo fatos que se relacionem à sua vida privada. A confidencialidade abrange todas as informações produzidas no decorrer do procedimento, e todos os envolvidos na mediação deverão respeitá-la. Boa-fé — esse princípio refere-se ao fato de que a mediação deve ser pautada na ética e na boa vontade de solucionar o conflito da melhor forma possível. É não apenas agir com boa-fé, mas acreditar que a parte contrária também está agindo dessa maneira. As partes devem ser leais e agir com honestidade para alcançar um resultado que seja fruto do consenso entre ambas. Mediação judicial e extrajudicial A mediação pode ser judicial ou extrajudicial. Como o próprio nome sugere, a primeira é feita no âmbito judicial, e a segunda é feita fora dele, mas existem outras diferenças em relação ao procedimento de ambas as espécies de mediação. As etapas comuns tanto ao procedimento da mediação judicial quanto ao procedi- mento da mediação extrajudicial estão previstas nos arts. 14 a 20 da Lei nº. 13.140/2015. Basicamente, o mediador alerta sobre a confidencialidade do procedimento, devendo fazer isso não apenas no início da primeira audiência, mas sempre que julgar necessário. 3Lei nº. 13.140, de 26 de junho de 2015 Pode ser que o mesmo conflito seja objeto de um processo judicial ou mesmo de arbitragem. Nesse caso, as partes deverão requerer (ao juiz ou ao árbitro) a sua suspensão por um prazo suficiente para que o litígio possa se resolver por meio da mediação. Tal decisão, requerida em comum acordo entre as partes, é irrecorrível, embora o juiz ou o árbitro possam conceder medidas de urgência, conforme o caso. A mediação é considerada instituída na data em que for marcada a primeira reunião de mediação, e as demais audiências podem ser marcadas apenas com a anuência das partes. O mediador poderá, no desempenho da sua função, reunir-se com as partes, em conjunto ou separadamente, e também solicitar- -lhes informações que considere necessárias. O procedimento termina com a lavratura do termo final, que constitui um título executivo extrajudicial e, quando homologado judicialmente, um título executivo judicial. Igualmente, é finalizado o procedimento caso não sejam justificados novos esforços para a obtenção de um consenso. Essa declaração pode se originar do próprio mediador ou por manifestação de qualquer uma das partes. Entretanto, no que concerne especificamente ao procedimento de mediação judicial, o art. 24 da Lei nº. 13.140/2015 estabelece que “Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação, pré-processuais e processuais, e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição” (BRASIL, 2015a, documento on-line). Didier Junior (2015, p. 278) afirma que “[...] a criação destes centros e as suas linhas gerais estão previstas no art. 165, caput, CPC e nos arts. 8º a 11 da Resolução 125/2010 do CNJ. É importante observar que a criação destes centros é obrigatória”. Ademais, de acordo com o art. 25 da Lei nº. 13.140/2015, os mediadores não estarão sujeitos à prévia aceitação das partes. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiênciade mediação, que, por sua vez, deverá ser concluída em até 60 dias, contados da primeira sessão, porém, é facultado às partes, em comum acordo, requerer sua prorrogação (BRASIL, 2015a). Caso as partes cheguem a um acordo, os autos serão encaminhados ao juiz, que determinará o arquivamento do processo. Além disso, se for da vontade das partes, o juiz irá homologar o acordo, por sentença, e o termo final da mediação e determinará o arquivamento do processo. Por fim, o art. 29 aduz que “Solucionado o conflito pela mediação antes da citação do réu, não serão devidas custas judiciais finais” (BRASIL, 2015a, documento on-line). Lei nº. 13.140, de 26 de junho de 20154 Quanto à mediação extrajudicial, o art. 21 da Lei nº. 13.140/2015 dispõe que o convite para iniciar o procedimento em questão poderá ser feito por qualquer meio de comunicação, devendo conter o que se espera da negociação, além da data e do local em que será realizada a primeira reunião (BRASIL, 2015a). Se o convite formulado por uma parte à outra não for respondido em até 30 dias da data de seu recebimento, será considerado rejeitado. A legislação afirma que a previsão contratual de mediação deverá conter, no mínimo: prazo mínimo e máximo para a realização da primeira reunião de mediação, contado a partir da data de recebimento do convite; local da primeira reunião de mediação; critérios de escolha do mediador ou equipe de mediação; penalidade em caso de não comparecimento da parte convidada à pri- meira reunião de mediação. O § 2º do art. 22 da Lei nº. 13.140/2015 menciona que, caso não haja previsão contratual completa, deverão ser observados os seguintes critérios para a realização da primeira reunião de mediação: Art. 22 [...] § 2º [...] I — prazo mínimo de dez dias úteis e prazo máximo de três meses, contados a partir do recebimento do convite; II — local adequado a uma reunião que possa envolver informações confi- denciais; III — lista de cinco nomes, informações de contato e referências profissionais de mediadores capacitados; a parte convidada poderá escolher, expressamente, qualquer um dos cinco mediadores e, caso a parte convidada não se manifeste, considerar-se-á aceito o primeiro nome da lista; IV — o não comparecimento da parte convidada à primeira reunião de me- diação acarretará a assunção por parte desta de cinquenta por cento das custas e honorários sucumbenciais caso venha a ser vencedora em procedimento arbitral ou judicial posterior, que envolva o escopo da mediação para a qual foi convidada (BRASIL, 2015a, documento on-line). 5Lei nº. 13.140, de 26 de junho de 2015 Nos conflitos originados em contratos comerciais ou societários e que não contenham cláusula de mediação, o mediador extrajudicial somente cobrará por seus serviços caso as partes decidam assinar o termo inicial de mediação e permanecer, voluntariamente, no procedimento de mediação. Do contrário, não haverá cobrança. O art. 23 da Lei nº. 13.140/2015 estabelece que: Art. 23 Se, em previsão contratual de cláusula de mediação, as partes se comprometerem a não iniciar procedimento arbitral ou processo judicial durante certo prazo ou até o implemento de determinada condição, o árbitro ou o juiz suspenderá o curso da arbitragem ou da ação pelo prazo previa- mente acordado ou até o implemento dessa condição (BRASIL, 2015a, documento on-line). O mesmo artigo também acrescenta, em seu parágrafo único, que o disposto no caput não é aplicável às medidas de urgência em que o acesso ao Poder Judiciário seja necessário para evitar o perecimento de direito. Autocomposição de conflitos no âmbito da Administração Pública A autocomposição também pode ser utilizada como forma de resolução dos confl itos que ocorrem no setor público. A Lei nº. 13.140/2015, a partir de seu art. 32, trata a respeito do tema: Art. 32 A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão criar câmaras de prevenção e resolução administrativa de conflitos, no âmbito dos respectivos órgãos da Advocacia Pública, onde houver, com competência para: I — dirimir conflitos entre órgãos e entidades da administração pública; II — avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio de composição, no caso de controvérsia entre particular e pessoa jurídica de direito público; III — promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento de conduta (BRASIL, 2015a, documento on-line). Lei nº. 13.140, de 26 de junho de 20156 Como podemos perceber no art. 32, cada ente federativo pode criar sua própria câmara de prevenção e resolução administrativa de conflitos. O modo de composição e a forma de funcionamento dos referidos órgãos serão estabelecidos em regulamento de cada ente federado, de acordo com o § 1º do art. 32 da Lei nº. 13.140/2015 (BRASIL, 2015a). A submissão do conflito às câmaras de prevenção e resolução administrativa de conflitos é facultativa e será cabível apenas nos casos previstos no regulamento do respectivo ente federado. De acordo com Rezende e Paiva (2017, documento on-line): A lei 13.140/15 e o CPC 2015 afirmam que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão criar câmaras de prevenção e resolução ad- ministrativa de conflitos. Tais câmaras de mediação podem funcionar dentro dos órgãos da Advocacia Pública (AGU, PGE e PGM) e têm competência para dirimir conflitos entre órgãos e entidades da administração pública, avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio de composição, no caso de controvérsia entre particular e pessoa jurídica de direito público e promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento de conduta. Assim, esses instrumentos criados pelo legislador, postos à disposição da Administração Pública para uma célere e efetiva solução de controvérsias podem e devem ser devidamente implantados e seu uso incentivado por todos aqueles que atuam diretamente na seara pública. A legislação em análise também trata dos conflitos envolvendo a Adminis- tração Pública federal direta, suas autarquias e fundações, a partir de seu art. 35, dizendo que as controvérsias envolvidas poderão ser objeto de transação por adesão, com fundamento em (BRASIL, 2015a): autorização do Advogado-Geral da União, com base na jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal ou de Tribunais Superiores; parecer do Advogado-Geral da União, aprovado pelo Presidente da República. 7Lei nº. 13.140, de 26 de junho de 2015 Tais instrumentos servem para que haja maior celeridade na resolução de conflitos que envolvam a Administração Pública, para que as controvérsias existentes possam ser solucionadas de modo efetivo. Porém, por mais que o Código de Processo Civil de 2015 e a Lei nº. 13.140/2015 estimulem a utilização das formas alternativas de resolução de conflitos, não é o que observamos atualmente, visto que ainda há certa relutância em se utilizar esses meios (BRASIL, 2015a; 2015b). Desse modo, “[...] a Administração Pública deve se convencer da importân- cia de se adotar métodos alternativos de solução de controvérsias, diligenciando para implantar uma rotina de autocomposição em suas relações” (REZENDE; PAIVA, 2017, documento on-line). BRASIL. Lei nº. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial da União, 17 mar. 2015b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 16 ago. 2019. BRASIL. Lei nº. 13.140, de 26 de junho de 2015. Dispõe sobre a mediação entre particu- lares como meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública. Diário Oficial da União, 27 jun. 2015a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13140.htm. Acesso em: 16 ago. 2019. DIDIER JÚNIOR, F. Curso de Direito Processual Civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 17. ed. Salvador: Editora JusPODIVM, 2015.v. 1. NEVES, D. A. A. Manual de Direito Processual Civil: volume único. 9. ed. Salvador: Editora JusPODIVM, 2017. REZENDE, L. P.; PAIVA, M. A. A. A autocomposição como forma de resolução de con- flitos no setor público. Migalhas, 2017. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/ dePeso/16,MI262590,91041-A+autocomposicao+como+forma+de+resolucao+de+c onflitos+no+setor+publico. Acesso em: 16 ago. 2019. Lei nº. 13.140, de 26 de junho de 20158
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