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1- Artigo - A mediação e o mediador

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A mediação e o mediador: formação profissional e exercício da função
1. Introdução
Sabe-se que o conflito sempre esteve presente na sociedade, uma vez que a causa dele está ligada a vários fatores. Um conflito pode ser originado por uma existência de interesses distintos, resistência em aceitar mudanças ou posições alheias, insatisfação pessoal, desrespeito à coletividade, entre outros motivos. 
Por esta razão, é possível analisar que a sociedade brasileira está cada vez mais intolerante e, consequentemente, os sujeitos acabam contraindo, com maior facilidade, conflitos uns com os outros. 
Com o conflito firmado e a escusa de dialogar para obterem um consenso mútuo, eles recorrem ao poder judiciário em busca de respaldo ao problema. Deste modo, o judiciário é sobrecarregado com as diversas demandas, causando morosidade na prestação jurisdicional.
	Diante o exposto, foi necessário a criação dos meios extrajudiciais de solução de conflitos, ou seja, mecanismos que proporcionam aos indivíduos alternativas para resolverem questões controvérsias sem ter que recorrer ao poder judiciário.
2. Meios extrajudiciais de solução de conflitos 
Esses meios alternativos de solução de conflitos foram classificados em heterocomposição e autocomposição. No primeiro caso tem-se a jurisdição estatal e privada, este é um terceiro imparcial denominado árbitro, enquanto aquele trata-se do Estado-Juiz, ambos com a função de decidir acerca do litígio das partes que lhe foi apresentado.	
Acerca da heterocomposição, Junior[footnoteRef:1] explica: [1: JUNIOR, Luiz, Manual de Arbitragem, Mediação e Conciliação, 8ª Ed., Rio de Janeiro: Forense, 2018, pg. 24, pdf.] 
A heterocomposição é a solução do conflito pela atuação de um terceiro dotado de poder para impor, por sentença, a norma aplicável ao caso que lhe é apresentado.
A solução através do Poder Judiciário (jurisdição estatal) decorre da atribuição sistemática do Estado, que deve dizer o direito e, principalmente, impor a solução do conflito.
[...]
Igualmente a arbitragem, que, [...] é um meio privado e alternativo à solução judicial de conflitos, desde que esses conflitos sejam decorrentes de direitos patrimoniais e disponíveis, solução esta atribuída por intermédio da sentença arbitral, obrigatória para as partes nos termos da Lei 9.307/1996.
Já a autocomposição consiste na conciliação e mediação, em que o conciliador e mediador têm a função de orientar as partes e sugerir, não impor ou decidir por si, alguma alternativa para a solução do conflito.
A respeito da autocomposição, Junior[footnoteRef:2] continua: [2: JUNIOR, Luiz, Manual de Arbitragem, Mediação e Conciliação, 8ª Ed., Rio de Janeiro: Forense, 2018, pg. 24, pdf.] 
Diferente da jurisdição arbitral e da jurisdição estatal, na conciliação, o conciliador, embora sugira a solução, não pode impor sua sugestão compulsoriamente, como se permite ao árbitro ou ao juiz togado.
[...]
Na mediação, de maneira diversa, o mediador, neutro e imparcial, apenas auxilia as partes a solucionar o conflito sem sugerir ou impor a solução ou, mesmo, interferir nos termos do acordo.
Assim, os principais meios extrajudiciais de solução de conflitos são: arbitragem, conciliação e mediação. 
2.1 Arbitragem
	A arbitragem é um instituto que tem sua previsão na Lei nº 9.307. Apesar de ser uma lei de 1996, a arbitragem já estava prevista no Código Civil de 1916, mas não era muito utilizada, uma vez que o Código de Processo Civil de 1973 exigia que a sentença arbitral fosse homologada pelo juiz. Com isso, para Junior[footnoteRef:3], “o Poder Judiciário se transformava em “segundo grau de jurisdição” da arbitragem. ” [3: JUNIOR, Luiz, Manual de Arbitragem, Mediação e Conciliação, 8ª Ed., Rio de Janeiro: Forense, 2018, pg. 18, pdf.] 
	Então, com a Lei de Arbitragem[footnoteRef:4], foi possível que a sentença arbitral se equiparasse com a sentença judicial, descartando a necessidade de homologação. Dispõe o art. 18 da lei: “O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário. ” [4: BRASIL. Lei de Arbitragem. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9307.htm> Acesso em: 27 jun. 2019.] 
	Esse aspecto fortaleceu mais este instituo fazendo com que um maior número de pessoas se utilize dele para resolver seus conflitos. O Código de Processo Civil de 2015 também ajudou a fortalecer esse mecanismo, ao estipular que o juiz deverá extinguir o processo se for alegado em preliminar de contestação a existência de convenção de arbitragem entre as partes. 
	Para Junior[footnoteRef:5], a “arbitragem é um dos mais antigos meios de composição de conflitos pela heterocomposição, ou seja, a solução do conflito por um terceiro imparcial. ” E ainda, conceitua: [5: JUNIOR, Luiz, Manual de Arbitragem, Mediação e Conciliação, 8ª Ed., Rio de Janeiro: Forense, 2018, pg. 18-19, pdf.] 
A arbitragem pode ser definida, assim, como o meio privado, jurisdicional e alternativo de solução de conflitos decorrentes de direitos patrimoniais e disponíveis por sentença arbitral, definida como título executivo judicial e prolatada pelo árbitro, juiz de fato e de direito, normalmente especialista na matéria controvertida.
	Assim, uma vez que as partes convencionarem a arbitragem como meio de solução de conflito futuro, o Estado-Juiz não poderá interferir. Entretanto, se a sentença arbitral não for cumprida, o árbitro não poderá promover a execução forçada, tendo a parte para isto, recorrer ao poder judiciário. Por este motivo, muitos acreditam que o árbitro não tem jurisdição, mas Junior[footnoteRef:6] alerta: [6: JUNIOR, Luiz, Manual de Arbitragem, Mediação e Conciliação, 8ª Ed., Rio de Janeiro: Forense, 2018, pg. 20, pdf.] 
O fato de o árbitro não reunir poderes de executar as decisões que toma, inclusive as tutelas provisórias, de urgência, cautelares ou antecipatórias de tutela, ou de evidência, não retira o caráter jurisdicional daquilo que decide.
	
	Portanto, o arbitro é sim detentor de jurisdição, isso porque, Junior[footnoteRef:7] expõe: [7: JUNIOR, Luiz, Manual de Arbitragem, Mediação e Conciliação, 8ª Ed., Rio de Janeiro: Forense, 2018, pg. 20, pdf.] 
Jurisdição significa “dizer o direito”, ou seja, é o poder conferido a alguém, imparcial, para aplicar a norma e solucionar o conflito por meio do processo, prolatando sentença capaz de produzir coisa julgada material e, nessa medida, pode ser imposta aos litigantes. 
Dessa maneira, não há o que se falar de falta de jurisdição, pois mesmo não possuindo poderes de execução, ele tem o poder de dizer o direito para cada caso concreto.
Então é possível observa que a arbitragem está cada vez mais sendo utilizada e respeitada, lê-se essa decisão do Superior Tribunal de Justiça[footnoteRef:8]: [8: STJ. Recurso Especial n. 1.694.826, Relatora: Minª Nancy Andrighi. dj: 07/11/2017. JusBrasil, 2019. Disponível em: <https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/521968357/recurso-especial-resp-1694826-go-2017-0143186-0/inteiro-teor-521968366?ref=juris-tabs> Acesso em: 27 jun. 2019.
] 
[...] 2. O propósito recursal é definir se a presente ação de obrigação de fazer pode ser processada e julgada perante a justiça estatal, a despeito de cláusula compromissória arbitral firmada contratualmente entre as partes. 3. A pactuação válida de cláusula compromissória possui forma vinculante, obrigando as partes da relação contratual a respeitar, para a resolução dos conflitos daí decorrentes, a competência atribuída ao árbitro. 4. Como regra, diz-se, então, que a celebração de cláusula compromissória implica a derrogação da jurisdição estatal, impondo ao árbitro o poder-dever de decidir as questões decorrentes do contrato, e, inclusive, decidir acerca da própria existência, validade e eficácia da cláusula compromissória (princípio da Kompetenz-Kompetenz). 5. O juízo arbitral prevalece até mesmo para análise de medidas cautelares ou urgentes, sendo instalado o Judiciário apenas em situações excepcionais que possam representar o próprio esvaimentodo direito ou mesmo prejuízo às partes, a exemplo da ausência de instauração do juízo arbitral, que se sabe não ser procedimento imediato. 6. Ainda que se admita o ajuizamento – frisa-se, excepcional – de medida cautelar de sustação de protesto na Justiça Comum, os recorrentes não poderiam ter promovido o ajuizamento da presente ação de obrigação de fazer nesta sede, em desobediência à cláusula compromissória firmada contratualmente entre as partes. 7. Pela cláusula compromissória entabulada, as partes expressamente elegeram Juízo Arbitral para dirimir qualquer pendência decorrente do instrumento contratual, motivo pela qual inviável que o presente processo prossiga sob a jurisdição estatal. 8. Recurso especial conhecido e não provido.
	Além de tudo já exposto, a arbitragem é considerada também um meio rápido de solução de conflitos comparado com o judiciário, uma vez que se trata de uma jurisdição privada. A Comissão de Mediação e Arbitragem da OAB[footnoteRef:9], elencou as principais vantagens de se valer deste instituto: [9: CMA. Cartilha de Arbitragem. OAB-MG, 2009, pg. 13. Disponível em <http://www.precisao.eng.br/download/cart_arb/Arbitragem.pdf> Acesso em: 27 jun. 2019.] 
[...]
Informalidade – A arbitragem emprega técnica ágil e dinâmica, mais adequada a uma sociedade moderna, onde a busca de soluções amigáveis e rápidas é o mais importante. 
Sigilo – Na arbitragem, ao contrário do que acontece no Poder Judiciário, o sigilo é a regra geral. Assim, é possível evitar a divulgação de informações e documentos estratégicos para os negócios das partes envolvidas na disputa. 
Especialização - Os árbitros são profissionais especializados, normalmente afeitos à matéria objeto da controvérsia, podendo, assim, decidir com absoluto conhecimento de causa e chegar à conclusão com objetividade e precisão, garantindo uma melhor qualidade da decisão. 
Prestígio da autonomia da vontade - Na jurisdição estatal, o poder de decisão cabe sempre ao Estado, representado por um juiz. Na arbitragem, as partes têm maior autonomia, pois são elas que elegem o(s) árbitro(s) que decidirá(ão) a demanda e a entidade que ficará encarregada da administração do procedimento arbitral. As partes também podem escolher as regras de direito material e processual a serem aplicadas. 
Exeqüibilidade - Por ser considerada título executivo judicial, a sentença arbitral pode ser imediatamente executada em caso de descumprimento, não estando sujeita a recursos ou a homologação prévia pelo Judiciário. A sentença arbitral tem natureza idêntica à da sentença judicial e dispõe dos mesmos efeitos da decisão proferida pelo juiz estatal. 
Melhor relação custo-benefício - Em virtude da rapidez na resolução do conflito, os custos indiretos decorrentes da demora e da insegurança do processo judicial são minimizados na arbitragem, onde não existe a multiplicidade de recursos permitidos na via judiciária, que oneram em demasia o custo processual. 
Menor resistência ao cumprimento da decisão - Existe maior adesão das partes à sentença arbitral, já que proferida por um árbitro de confiança delas e de acordo com um procedimento por elas escolhido. 
Vantagens para os advogados - Na arbitragem, as partes podem e devem se fazer acompanhar de seus advogados, indispensáveis para a solução rápida e justa do conflito. A arbitragem, na verdade, representa para os advogados uma nova oportunidade de trabalho, já que, além de patrocinar o interesse de seus clientes em procedimentos arbitrais, os advogados podem atuar também como árbitros. 
Vantagens para a sociedade - A arbitragem constitui mecanismo ágil e eficaz para solução de litígios, que desafoga o Judiciário e que lhe permite, assim, criar condições para melhorar, assim, condições de melhorar o seu padrão de eficiência em benefício da sociedade.
	Portanto, valer-se da arbitragem está sendo a melhor opção de uma heterocomposição, tanto para as partes envolvidas no conflito quanto para a sociedade em geral. 
2.2 Conciliação
	A conciliação é uma técnica utilizada, por um terceiro imparcial e profissional, com o objetivo de escutar e entender o problema das partes a fim de proporciona-las alternativas para a solução da controvérsia, abordando as vantagens e desvantagens e consequentemente, possibilitando que elas mesmas cheguem a um consenso. 
	Dispõe o § 2º do art. 165 do Código de Processo Civil[footnoteRef:10]: [10: BRASIL. Código de Processo Civil. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art334> Acesso em: 27 jun. 2019.] 
O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem.
	A respeito do conciliador, Takahashi[footnoteRef:11] diz: [11: TAKAHASHI, Bruno, Manual de Mediação e Conciliação da Justiça Federal, Brasília: Conselho da Justiça Federal, 2019, pg. 61, pdf.] 
Associa-se ao conciliador uma postura mais propositiva direcionada para disputas de cunho objetivo em que não haja, preferencialmente, um vínculo anterior entre as partes. O foco do conciliador, portanto, é a resolução amigável dessa disputa, contemplando-se os interesses das partes e as possibilidades concretas de acordo. 
	Pode ocorrer a conciliação antes do início do processo ou no decorrer dele. O Código de Processo Civil de 2015 tornou obrigatória a audiência de conciliação antes de iniciar as fases subsequentes do processo, podendo ser dispensada apenas se não for admita a autocomposição para o caso concreto ou se ambas as partes expressarem desinteresse expressamente, nos termos do art. 334. 	
	Este instituto foi considerado pela nova legislação[footnoteRef:12] tão importante e primordial que, de acordo com o § 8º do art. 334, o não comparecimento das partes na audiência de conciliação sem justificativa é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e “será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado. ” [12: BRASIL. Código de Processo Civil. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art334> Acesso em: 27 jun. 2019] 
	Parte da decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais[footnoteRef:13] aplica o disposto acima: [13: TJ-MG. Apelação n. 10000181380569001, Relatora: Desª Evangelina Castilho Duarte. dj: 12/02/2019. JusBrasil, 2019. Disponível em: <https://tj-mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/676510874/apelacao-civel-ac-10000181380569001-mg/inteiro-teor-676510924?ref=juris-tabs> Acesso em: 27 jun. 2019.] 
[...] No caso, embora devidamente intimado, o Apelado não compareceu à audiência de conciliação, conforme ata constante do doc. 35, sendo cabível a aplicação da multa prevista no art. 334, § 8º, NCPC. 
Assim, deve ser reformada em parte a sentença apenas para condenar o Apelado a pagar a multa de 2% sobre o valor atualizado da causa, em favor do Estado, na forma do art. 334, § 8º, NCPC.
[...] 
	Para a audiência de mediação, é importante que as partes estejam acompanhadas de seus advogados e se a autocomposição obtiver sucesso, será homologada pelo juiz. 
	Isto posto, a conciliação é um importante instrumento de resolução de conflitos, tanto na fase pré processual quanto na processual. Pelo fato de ter se tornado obrigatória antes da audiência de instrução e julgamento, percebe-se o reforço dado à ideia de que é preciso tentar resolver o máximo de controvérsias em busca de evitar o excesso de processos no sistema brasileiro.
3. A mediação
	A mediação é um meio de solução de controvérsias prevista a partir de 2015 com o advento da Lei nº 13.140. Para melhor entendimento deste instituto, Tartuce[footnoteRef:14] o conceitua: [14: TARTUCE, Fernanda. Mediação nos Conflitos Civis, 4ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018, pg. 203, pdf.] 
A mediação consiste no meio consensual de abordagem de controvérsias em que alguém imparcial atua para facilitara comunicação entre os envolvidos e propiciar que eles possam, a partir da percepção ampliada dos meandros da situação controvertida, protagonizar saídas produtivas para os impasses que os envolvem.
	A respeito, Neto[footnoteRef:15] também define: [15: NETO, Adolfo Braga. Mediação: uma experiência brasileira, 2ª Ed. São Paulo: CLA, 2019, pg. 89.] 
A mediação de conflitos pode ser definida como um processo em que um terceiro imparcial e independente ajuda, em reuniões separadas ou conjuntas com as pessoas envolvidas em conflitos, sejam elas físicas ou jurídicas, a promover um diálogo diferente daquele decorrente da interação existente por força do conflito.
Para se valer deste meio é necessário que as partes tenham algum vínculo anterior, requisito este disposto no § 3º do art. 165 do Código de Processo Civil[footnoteRef:16]: [16: BRASIL. Código de Processo Civil. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm> Acesso em: 19 jun. 2019.] 
O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos. 
Neto[footnoteRef:17] explica: [17: NETO, Adolfo Braga. Mediação: uma experiência brasileira, 2ª Ed. São Paulo: CLA, 2019, pg. 93.] 
O conflito traz sempre o “desrespeitar mútuo”, que pode ser identificado tanto com a falta de reconhecimento sobre aspectos pessoais quanto com a imposição da vontade de um sobre o outro. A mediação se propõe a ajudar os participantes a se reconhecerem mutuamente, oferecendo instrumentos que espelhem claramente o momento que estão vivenciando e a forma como gostariam que o outro mudasse ou não.
Desta maneira, a mediação é um instrumento importante para que os conflitantes reestabeleçam o diálogo entre si a fim de resolver a controvérsia, pois, nos dizeres de Neto[footnoteRef:18]: [18: NETO, Adolfo Braga. Mediação: uma experiência brasileira, 2ª Ed. São Paulo: CLA, 2019, pg. 91-97.] 
A mediação se baseia na premissa de que o conflito ocorrido faz parte do passado. Não há como modifica-lo, mas ele pode ser enfrentado e transformado. [...] A medição, neste sentido, busca ajudar os participantes a administrar os conflitos a partir de seus próprios saberes e recursos. [...] Nesse método, busca-se propiciar momentos de criatividade para que os próprios envolvidos possam refletir melhor sobre as opções que desejam diante da interação existente. Por isso, eventual acordo poderá ocorrer ou não, pois as pessoas são soberanas nas suas decisões. 
	
Este meio de solução de conflitos pode ser utilizado em diversas áreas, pois de acordo com Neto[footnoteRef:19]: [19: Ibid. pg. 111.] 
[...] a mediação não se limita à resolução de conflitos envolvendo “direitos disponíveis ou indisponíveis que admitam transação”, pois poderá ser utilizada em diversos contextos, desde que seus participantes sejam, no sentido legal, potenciais titulares de direitos. Em outras palavras, a mediação pode ser utilizada quando seus participantes possuírem a capacidade civil e se encontrarem em pleno gozo de suas faculdades físicas e mentais. 
O próprio autor elenca alguns exemplos de questões em que se pode recorrer à mediação, como o divórcio, revisão de pensão, guarda de filhos, adoção, conflito entre amigos, relações dentro de empresas ou entre empresas, locação, relações condominiais, inventário, partilhas, dissolução de sociedades, títulos de crédito, seguros, relações trabalhistas, problemas de vizinhança, entre outros. 
A respeito, a decisão do Tribunal de Justiça de Goiás[footnoteRef:20] garante a validade dos assuntos acordados em sessão de mediação: [20: TJ-GO. Apelação n. 0228404-85.2016.8.09.0072, 1ª Câmara Cível. Relator: Desº Luiz Eduardo de Souza. dj: 02/05/2019. JusBrasil, 2019. Disponível em: <https://tj-go.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/713015913/apelacao-cpc-2284048520168090072?ref=serp> Acesso em: 27 jun. 2019.] 
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DE FAMÍLIA. PENSÃO ALIMENTÍCIA. FILHO MENOR. ACORDO EXTRAJUDICIAL CELEBRANDO NO CENTRO JUDICIÁRIO DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS E CIDADANIA (CEJUSC). MEDIAÇÃO PRÉ-PROCESSUAL. ASSISTÊNCIA DE ADVOGADO DESNECESSÁRIA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. NULIDADE AFASTADA. RECURSO INTERPOSTO PELO MINITÉRIO PÚBLICO. SENTENÇA MANTIDA. I- De acordo com o enunciado nº 25 do Fórum Nacional da Mediação e Conciliação (FONAMEC) e com os artigos 8º, § 8º e 9º da Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário, os acordos obtidos na fase pré-processual serão homologados pelo Juiz Coordenador do CEJUSC.II- Os CEJUSCs tratam de reclamações pré-processuais e de processos judiciais, cabendo a mediação e a conciliação, visando a solução de conflitos de forma simplificada e célere, sendo as sessões realizadas por mediadores, os quais devem utilizar de técnicas adequadas, sem, contudo, afastar dos princípios norteadores dos métodos mediativos, dispostos no Código de Ética da Resolução nº 125/2010. III- Tratando-se o caso em análise de mediação extrajudicial, aplicável o artigo 10 da Lei nº 13.140/2015, que estabelece a intervenção do advogado como uma faculdade e, não, como uma obrigação das partes, sendo referido dispositivo confirmado pelos enunciados nº s 21 e 24 do Fórum Nacional da Mediação e Conciliação (FONAMEC), que reputam desnecessária a participação de causídico em casos de família onde haja menor ou incapaz, em virtude do caráter consensual do procedimento. IV- Os acordos obtidos na fase pré-processual serão homologados pelo Juiz Coordenador do CEJUSC. V- Restando resguardado pelo acordo celebrado entre as partes, o interesse do menor, que receberá o auxílio de ambos os genitores, não há falar em prejuízo das partes envolvidas ou em nulidade de atos processuais. Apesar da ausência do Ministério Público na mediação extrajudicial referente a fixação de alimentos de menor, a sua intervenção antes da homologação do acordou sanou qualquer irregularidade. APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E DESPROVIDA.
Portanto, considera-se que este método foi introduzido na sociedade não só com o objetivo de desobstruir o judiciário, mas também de fornecer mecanismos para que as pessoas possam exercer suas autonomias e resolver seus próprios conflitos, gerando assim, maior satisfação.
Neto[footnoteRef:21] acredita que existe alguns motivos específicos para justificar o crescimento da mediação na sociedade brasileira, destacando o estimulo dado para os cidadãos para resolverem seus próprios conflitos, proporcionando assim habilidade para que possam lidar com as diferenças com o seu próximo. Destaca também o aumento da eficiência do Judiciário por ter diminuído algumas demandas e a redução do tempo dos cidadãos para resolverem suas controvérsias. [21: NETO, Adolfo Braga. Mediação: uma experiência brasileira, 2ª Ed. São Paulo: CLA, 2019, pg. 71-72.] 
	Como a mediação não tem como escopo definir um vencedor, mas sim, reestabelecer o diálogo entre as partes para que cheguem ao um consenso, foi criada, ao longo do tempo, alguns modelos de mediação para melhor utilizar em cada caso concreto. São eles: mediação facilitadora, avaliativa, narrativa, transformativa e warattiana.
3.1 Mediação facilitadora
	A mediação facilitadora é a mais tradicional, em que o mediador raramente emite sua opinião, apenas aplica suas técnicas para fazer com que as partes dialoguem em busca da realização de um acordo benéfico e justo. 
	Esta mediação é conhecida também por utilizar o modelo negocial de Harvard, composto de quatro principais princípios trazidos por Takahashi[footnoteRef:22] em seu livro: “(i) separar as pessoas do problema; (ii) focar nos interesses dos envolvidos e não nas suas posições; (iii) criar opções de ganho mútuo e (iv) mapear critérios objetivos para legitimar a escolhadas opções.” [22: TAKAHASHI, Bruno, Manual de Mediação e Conciliação da Justiça Federal, Brasília: Conselho da Justiça Federal, 2019, pg. 56, pdf.] 
	Seguindo estes princípios, acredita-se que as partes irão identificar seus problemas e construírem uma solução de acordo com seus interesses. Este modelo é o mais comum e utilizado na sociedade brasileira. 
3.2 Mediação avaliativa 
	Este modelo de mediação proporciona ao mediador a possibilidade de avaliar o problema e prever como este se desenvolveria em um tribunal. Entretanto, o mediador só poderá utilizar-se desta postura de “mediador-avaliador” se as partes manifestarem este desejo de forma explícita. 
	A respeito, Azevedo[footnoteRef:23] explica: [23: AZEVEDO, André Gomma, Manual de Mediação Judicial, 6ª Ed. Brasília:CNJ, 2016, pg. 194, pdf.] 
Em regra, o mediadoravaliador é um profissional com ampla experiência em processos autocompositivos e sua sugestão é considerada como legitimada pelas partes em razão destas terem solicitado tal avaliação em razão do histórico profissional do mediador. Na doutrina, se exemplifica que um mediadoravaliador normalmente é um juiz aposentado ou um advogado com anos de experiência.
Assim, as partes não estão demasiadamente preocupadas em seus interesses particulares, mas sim, no resultado que aquela lide teria em um processo judicial. Por este motivo, buscam uma avaliação para efetuarem um possível acordo a fim de evitar prolongar determinado problema. 
3.3 Mediação narrativa 
	A narração dos fatos pelas partes é a grande importância desse modelo de mediação, pois acredita-se que as pessoas vivem através de histórias e que a partir delas é possível desenvolver certos comportamentos. 
	Neste modelo, o mediador escuta a versão das partes a respeito do ocorrido e solicita a contra-história, isto é, que as partes contem a história de como começou e como era o relacionamento delas antes de surgir aquele conflito. Assim, Winslade[footnoteRef:24] elucida: [24: WINSLADE, John, Mediação Narrativa: uma abordagem diferenciada para a resolução de conflitos, pg. 10, pdf. Disponível em <http://www.revistanps.com.br/nps/article/view/99> Acesso em: 26 jun. 2019.] 
A mediação narrativa se apoia na escuta dupla através da prática de conversas de externalização. Após ouvir as partes contarem suas histórias do que aconteceu, o mediador começa a falar sobre o conflito como uma terceira parte, ao invés de identificá-lo intimamente com qualquer uma das partes. Isso envolve o mediador em um modo de falar que coloca o conflito, gramaticalmente, na terceira pessoa.
 	Com esta externalização é possível que haja um distanciamento do problema e assim, as partes conseguem adquirir uma maior clareza a respeito da causa daquele conflito. Após identificada, o mediador conduz a sessão para que percebam o impacto que o conflito está causando em suas vidas e como está impedindo que as partes prossigam. Desta forma, Winslade[footnoteRef:25]: [25: Ibid. pg. 12, pdf.] 
Quando as pessoas conseguem ver mais claramente que parte do sofrimento no conflito é resultado de suas próprias narrativas, elas se tornam muito mais motivadas a considerarem formas alternativas de seguir adiante em relação ao problema.
	Então, o modelo narrativo busca não só um acordo entre as partes, mas que elas fiquem bem interiormente com o que for resolvido, que possam identificar seus erros e acertos durante sua trajetória e que seus comportamentos, sejam agressivos ou dóceis, são frutos de suas próprias histórias.	
3.4 Mediação transformativa 
	A mediação transformativa se assemelha com a facilitadora, pois o mediador visa reestabelecer o diálogo entre as partes com o objetivo de fazer um acordo. Entretanto, o objetivo maior é a transformação, isto é, prioriza o reestabelecimento da relação entre as partes para que depois, mais estruturadas e empoderadas, elas possam chegar a um acordo. Portanto, a mediação transformativa teria um “potencial para além da solução de disputas e negociação de interesses, sendo capaz de efetivamente modificar o relacionamento das partes e as suas interações. ”[footnoteRef:26] [26: TAKAHASHI, Bruno, Manual de Mediação e Conciliação da Justiça Federal, Brasília: Conselho da Justiça Federal, 2019, pg. 62, pdf.] 
	Robert Bush e Joseph Folger[footnoteRef:27] são os fundadores deste modelo e explicam: [27: FOLGER, Joseph P.; BUSH, Robert A.Baruch. The Promise of Mediation. EUA: Revised Edition, 2005, pg. 22-23, pdf.] 
The mediation process contains within it a unique potential for transforming conflict interaction and, as a result, changing the mindset of people who are involved in the process. This transformative potential stems from mediation’s capacity to generate two important dynamic effects: empowerment and recognition. In simplest terms, empowerment means the restoration to individuals of a sense of their value and strength and their own capacity to make decisions and handle life’s problems. Recognition means the evocation in individuals of acknowledgment, understanding, or empathy for the situation and the views of the other. When both of these processes are held central in the practice of mediation, parties are helped to transform their conflict interaction—from destructive to constructive— and to experience the personal effects of such transformation.
	Conclui-se que esse modelo enxerga os conflitos como uma crise de interação nas relações interpessoais e por isso a mediação objetiva restabelecer essas relações, pois só assim poderá haver um acordo satisfatório e duradouro. 
3.5 Mediação warattiana	
	Proposta por Luis Alberto Warat, a mediação warattiana visa o amor, procura fazer com que as partes reconheçam o amor um pelo outro. Rocha[footnoteRef:28] explana: [28: ROCHA, Leonel Severo. A mediação e o amor na obra de Luis Alberto Warat. pg. 120, pdf. Disponível em <https://www.fdsm.edu.br/adm/artigos/5378183e03056a79b0050d0bf187009c.pdf> Acesso em: 26 jun. 2019.] 
A mediação de Warat é mais profunda e se assemelha, de fato, ao processo terapêutico, como ele próprio chama de “reencontro amoroso”. O mediador exercerá uma função de psicoterapeuta do reencontro amoroso, não para aplicar técnicas que facilitem a mera obtenção de um acordo, mas para realizar, por meio de suas experiências e de seu ser mediado (capaz de mostrar o caminho da vulnerabilidade), uma mediação que permita às partes conhecerem e expressarem seus sentimentos, de forma a transformar a própria relação e desintegrar o conflito. Por isso também recusa-se a estipulação de um tempo determinado, uma vez que cada sujeito terá seu próprio tempo de autoconhecimento e, consequentemente, de produção da autonomia e emancipação.
	Então seu objetivo não é meramente alcançar um acordo, mas sim desenvolver o amor e a sensibilidade entre as partes. 
4. Os princípios que norteiam a mediação
	Os princípios, de modo geral, são de grande importância, uma vez que irão fornecer as diretrizes a serem seguidas. Eles orientam e inspiram as normas jurídicas a fim de obter a uma interpretação justa em cada caso concreto. 
A Lei de Mediação em seu art. 2º, o art. 166 do Código de Processo Civil e o art. 1º do Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais, dispõem os principais princípios que irão nortear a mediação e assim, proporcionar maior efetividade e seguridade às partes e ao caso concreto.
	Tais princípios são: imparcialidade e neutralidade, isonomia entre as partes, oralidade, informalidade, autonomia da vontade das partes, busca do consenso, confidencialidade, boa-fé, independência, decisão informada, competência e respeito à ordem pública e às leis vigentes.
4.1 Imparcialidade e neutralidade 
O art. 1º do Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais[footnoteRef:29] explica: [29: CNJ. Resolução nº 125. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/images/atos_normativos/resolucao/resolucao_125_29112010_11032016162839.pdf> Acesso em: 24 jun. 2019.] 
§3º. Imparcialidade – Dever de agir com ausência de favoritismo, preferência ou preconceito, assegurando que valorese conceitos pessoais não interfiram no resultado do trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos no conflito e jamais aceitando qualquer espécie de favor ou presente; 
§4º. Neutralidade – Dever de manter equidistância das partes, respeitando seus pontos de vista, com atribuição de igual valor a cada um deles;
	Assim, o terceiro facilitador, denominado mediador, não poderá ter preferência por uma das partes ou privilegiar algum de seus interesses, pois o objetivo dele é ser imparcial e neutro diante da situação em discussão. Isto porque ele não é um advogado que objetiva defender uma causa ou pessoa, e sim, um intercessor em busca de auxiliar as partes a resolverem seus conflitos de forma equitativa.
4.2 Isonomia entre as partes	
	Este princípio decorre da Constituição Federal, art. 5º em que prescreve que todos os indivíduos são iguais, sem qualquer distinção, garantindo a inviolabilidade à igualdade. Entretanto, Takahashi[footnoteRef:30] esclarece: [30: TAKAHASHI, Bruno, Manual de Mediação e Conciliação da Justiça Federal, Brasília: Conselho da Justiça Federal, 2019, pg. 35, pdf.
] 
Tal como ocorre na interpretação desse dispositivo constitucional, cabe relembrar que o que se busca é a isonomia material e não apenas a isonomia formal. Em casos de visível desequilíbrio de poder entre as partes, não basta o terceiro facilitador dar o mesmo tempo de fala, oferecer um lugar na mesma mesa-redonda e usar os mesmos termos técnicos. É importante que, sem perder a imparcialidade, sejam tomadas medidas para que as partes fiquem minimamente em posições isonômicas, no sentido material da isonomia.
	Portanto, este princípio não assegura apenas a igualdade formal, mas também a substancial, proporcionando a possibilidade de o mediador tratar as partes de forma desigual, quando necessário, em busca de reestabelecer a igualdade entre elas no caso concreto, possibilitando alcançar a equidade.
4.3 Oralidade
	O princípio da oralidade tem como objetivo a realização da sessão de mediação de forma oral, ou seja, as propostas são feitas através do diálogo entre as partes e não de forma escrita, possibilitando assim o contato direto entre elas.
	Este princípio garante a celeridade na resolução do conflito, uma vez que as partes discutem instantaneamente, evitando a morosidade. 
4.4 Informalidade
	Apesar do termo “informalidade” significar, de forma geral, ausência de regras, no caso da mediação, trata-se de uma aplicação delas de forma mais flexível. Acerca deste tema, Takahash[footnoteRef:31] explica: [31: TAKAHASHI, Bruno, Manual de Mediação e Conciliação da Justiça Federal, Brasília: Conselho da Justiça Federal, 2019, pg. 29, pdf.] 
Há uma flexibilidade procedimental, o que permite que os envolvidos se sintam mais livres para buscar uma solução conjunta sem se prender a questões meramente de forma. É nesse sentido que se pode dizer que se valoriza a informalidade.
Em outras palavras, a informalidade que está sendo abordada aqui, trata-se do procedimento usado na sessão de mediação, isto é, da possibilidade de flexibilizar o procedimento, descartando a forma burocrática e rígida vista em um processo comum no judiciário, por exemplo. 
4.5 Autonomia da vontade das partes 
	Nos meios alternativos de solução de conflitos, a mediação preserva muito a autonomia da vontade das partes, uma vez que são elas que irão construir a decisão final da controvérsia. Assim, Tartuce[footnoteRef:32] diz que: [32: TARTUCE, Fernanda. Mediação nos Conflitos Civis, 4ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018, pg. 214, pdf.] 
O reconhecimento da autonomia da vontade implica em que a deliberação expressa por uma pessoa plenamente capaz, com liberdade e observância dos cânones legais, deva ser tida como soberana.
Desta maneira, é possível observar uma maior satisfação no resultado, uma vez que são as próprias partes que participam, do começo ao fim, na elaboração da decisão para o conflito em discussão. 
4.6 Busca do consenso
	O terceiro imparcial, que conduzirá a mediação, tem a obrigação de conduzir às partes de forma que, juntamente, encontrem o consenso para a resolução do conflito. 
Esta conduta está prescrita no § 1º, art. 4º, da Lei de Mediação[footnoteRef:33]: “O mediador conduzirá o procedimento de comunicação entre as partes, buscando o entendimento e o consenso e facilitando a resolução do conflito. ” [33: BRASIL. Lei de Mediação. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13140.htm> Acesso em: 24 jun. 2019.] 
	Desta maneira, Takahash[footnoteRef:34] esclarece: [34: TAKAHASHI, Bruno, Manual de Mediação e Conciliação da Justiça Federal, Brasília: Conselho da Justiça Federal, 2019, pg. 32, pdf.] 
O princípio da busca do consenso é compreendido, então, como a valorização da consensualidade, da procura pelo mediador/conciliador de modos para despolarizar as partes, fazendo com que elas encontrem caminhos que possam satisfazer a ambas.
	Por outro lado, é importante salientar que essa busca pelo consenso não pode ser transformada em imposição, pois o acordo entre as partes deve ocorrer de forma natural, uma vez que não há obrigação de resultado. 
4.7 Confidencialidade
	O princípio da confidencialidade está previsto no Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais no §1º, art. 1º, no art. 166 do Código de Processo Civil e na Seção IV da Lei de Mediação. 
	Takahash[footnoteRef:35], explica: [35: TAKAHASHI, Bruno, Manual de Mediação e Conciliação da Justiça Federal, Brasília: Conselho da Justiça Federal, 2019, pg. 30, pdf.] 
A confidencialidade traz vantagens para as partes, para o terceiro facilitador e para o próprio processo consensual. Para as partes, a confidencialidade ajuda a criar o espaço necessário para uma comunicação franca e livre. Para o terceiro facilitador, o princípio ajuda a preservar sua imparcialidade, na medida em que impede que ele seja testemunha do caso em que tenha atuado e, assim, possa acabar tendo que tomar partido de um dos lados; também faz que ele não fique eternamente vinculado a um caso, à espera que determinada informação obtida durante a sessão seja exigida em outro processo. Em relação ao próprio mecanismo consensual, a confidencialidade traz uma qualidade adicional muitas vezes inexistente em processos judiciais e que pode ser decisiva na escolha: empresários, por exemplo, podem optar por uma mediação para que não sejam obrigados a revelar seus segredos industriais em juízo.
	A confidencialidade não pode ser considerada um princípio absoluto, uma vez que, em algumas situações, haverá a divulgação do que foi tratado na sessão de mediação. Isso é possível pois a própria lei flexibiliza esse princípio, tornando-o relativo. Dispõe o art. 30 da Lei de Mediação: 
Toda e qualquer informação relativa ao procedimento de mediação será confidencial em relação a terceiros, não podendo ser revelada sequer em processo arbitral ou judicial salvo se as partes expressamente decidirem de forma diversa ou quando sua divulgação for exigida por lei ou necessária para cumprimento de acordo obtido pela mediação.
	Desta forma, é importante que o mediador esclareça no início da sessão a flexibilidade deste princípio, a fim de que as partes não sejam surpreendidas com uma futura revelação de algum ponto que achavam que iria ser protegido pela confidencialidade. 
4.8 Boa-fé
	A boa-fé deve estar presente na sociedade em todas as relações interpessoais e na mediação não seria diferente. Espera-se que as partes sejam sinceras umas com as outras e estejam rodeadas de boas intenções na sessão de mediação. Isso porque, Tartuce[footnoteRef:36] esclarece: [36: TARTUCE, Fernanda. Mediação nos Conflitos Civis, 4ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018, pg. 231, pdf.] 
O princípio da boa-fé é de suma relevância na mediação: participar com lealdade e real disposição de conversar são condutas essenciais para que a via consensual possa se desenvolver de forma eficiente. Afinal, se um dos envolvidos deixar de levar a sério a mediação, sua postura gerará lamentável perda de tempo para todos.
	Comisso, observa-se que a boa-fé é essencial para nortear as relações humanas e assim, obter resultados equilibrados. Agindo as partes com boa-fé, será muito difícil ter futuramente algum prejuízo decorrente do acordo firmado na sessão de mediação. 
4.9 Independência
	Este princípio é conceituado pelo próprio Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais em seu §5º:
Dever de atuar com liberdade, sem sofrer qualquer pressão interna ou externa, sendo permitido recusar, suspender ou interromper a sessão se ausentes as condições necessárias para seu bom desenvolvimento, tampouco havendo obrigação de redigir acordo ilegal ou inexequível.
	Apesar do papel do mediador ser de interceder pelas partes, tendo como objetivo fazer elas chegarem ao um consenso mútuo, ele é dotado de independência, não ficando totalmente subordinado pelas partes.
4.10 Decisão informada
	É obrigação do terceiro imparcial informar às partes acerca de seus direitos, deixa-las cientes de como funciona o procedimento de mediação e as consequências decorrentes da elaboração do acordo, fazendo com que decidam acerca de seu problema conscientemente. 
	Takahashi[footnoteRef:37] diz: [37: TAKAHASHI, Bruno, Manual de Mediação e Conciliação da Justiça Federal, Brasília: Conselho da Justiça Federal, 2019, pg. 35, pdf.] 
A decisão informada está diretamente ligada à autonomia das partes. Assim, as partes possuem liberdade para decidir, desde que tomem essa decisão de modo consciente, ou seja, que tenham sido previamente informadas. O art. 1º, inc. II, do Código de Ética da Resolução n. 125/2010 refere-se ao “dever de manter o jurisdicionado plenamente informado quanto aos seus direitos e ao contexto fático no qual está inserido”.
	
4.11 Competência
	É importante que o terceiro facilitador esteja capacitado para atuar na sessão de mediação. Takahashi[footnoteRef:38] explica: [38: TAKAHASHI, Bruno, Manual de Mediação e Conciliação da Justiça Federal, Brasília: Conselho da Justiça Federal, 2019, pg. 39, pdf.] 
Para isso, o mediador e o conciliador devem ser devidamente capacitados na forma da legislação pertinente. Além do curso inicial, são importantes atualizações periódicas e formação continuada. Ou seja, o aprendizado não se encerra no curso inicial.
A competência do terceiro facilitador também está diretamente associada à qualidade dos meios consensuais. De fato, se o terceiro facilitador não for qualificado, provavelmente não saberá conduzir a sessão de conciliação ou de mediação de modo adequado. Por esse motivo, a avaliação também é de suma relevância.
	Apesar da mediação prezar por um procedimento informal, isso não significa que o mediador não deva ter preparo específico para atuação. Por esta razão, é necessário observar se o facilitador tem competência para agir nas sessões, uma vez que tem todo um curso preparatório a ser observado antes da sua habilitação. 
4.12 Respeito à ordem pública e às leis vigentes
	A mediação, embora siga o princípio da informalidade, autonomia da vontade das partes e independência, as partes não podem firmar acordo que contrariem às leis e aos bons costumes, e caso firmarem, o mediador tem a obrigação de se recusar a redigir o acordo. 	
5. O mediador
O mediador é um terceiro, o qual deve ser imparcial, selecionado para intermediar e facilitar o diálogo entre as partes que estão em desacordo. 
Azevedo[footnoteRef:39] conceitua: [39: AZEVEDO, André Gomma, Manual de Mediação Judicial, 6ª Ed. Brasília:CNJ, 2016, pg. 141, pdf.] 
O mediador é uma pessoa selecionada para exercer o munus público de auxiliar as partes a compor a disputa. No exercício dessa importante função, ele deve agir com imparcialidade e ressaltar às partes que ele não defenderá nenhuma delas em detrimento da outra – pois não está ali para julgálas e sim para auxiliálas a melhor entender suas perspectivas, interesses e necessidades.
	A Ilustre Fernanda Tartuce[footnoteRef:40] traça o perfil de um mediador: [40: TARTUCE, Fernanda. Mediação nos Conflitos Civis, 4ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018, pg. 301-302, pdf.] 
Como já destacado, o mediador precisa ser apto a trabalhar com resistências pessoais e obstáculos decorrentes do antagonismo de posições para restabelecer a comunicação entre os participantes. Seu papel é facilitar o diálogo para que os envolvidos na controvérsia possam protagonizar a condução de seus rumos de forma não competitiva.
Mediar constitui uma tarefa complexa que demanda preparo, sensibilidade e habilidades, sendo interessante delinear o perfil desejável de seu realizador.
[...]
O mediador deve ser treinado para buscar propiciar o restabelecimento da comunicação entre as pessoas. Para tanto, deve ser paciente, sensível, despido de preconceitos e hábil para formular perguntas pertinentes aos envolvidos no conflito de modo a proporcionar espaço para a reflexão sobre seus papéis e a responsabilização quanto à reorganização de condições.
Desta forma, Neto[footnoteRef:41] explica que: [41: NETO, Adolfo Braga. Mediação: uma experiência brasileira, 2ª Ed. São Paulo: CLA, 2019, pg. 106.] 
[...] a função do mediador é auxiliar os mediandos a conduzir o processo de mediação a um resultado que atenda de maneira igualitária e equilibrada a todos. A ele cabe acolher os participantes, acompanhados ou não dos seus advogados; prestar os esclarecimentos relativos ao processo; estimular a participação de todos os envolvidos; assegurar suas livres expressões; buscar a clareza; estar conectado permanentemente à interação entre eles, assim como às mudanças que ocorrem ao longo do processo; evitar direcionamentos para o que considerar necessário e adequado aos participantes; e, enfim, de maneira muito simplista e resumida, facilitar o diálogo. 
De acordo com a Lei 13.140/2015 (Lei de Mediação), a figura do mediador se divide em: mediador judicial e extrajudicial. 
5.1 Mediador Judicial 
	Dispõe o art. 11º da Lei de Mediação[footnoteRef:42]: [42: BRASIL. Lei de Mediação. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13140.htm> Acesso em: 25 jun. 2019.] 
Poderá atuar como mediador judicial a pessoa capaz, graduada há pelo menos dois anos em curso de ensino superior de instituição reconhecida pelo Ministério da Educação e que tenha obtido capacitação em escola ou instituição de formação de mediadores, reconhecida pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados - ENFAM ou pelos tribunais, observados os requisitos mínimos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça.
A Lei não exige que o mediador seja graduado em curso de Direito ou qualquer outro de cunho jurídico, apenas exige o curso de graduação, qualquer que seja ele.
	Além da graduação, é exigido um curso para a capacitação e formação do mediador. As diretrizes deste curso são dadas pelo CNJ juntamente com o Ministério da Justiça e estão presentes no Anexo I da Resolução 125 do CNJ[footnoteRef:43]. No preâmbulo da citada diretriz, explica: [43: CNJ. Resolução nº 125. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/images/atos_normativos/resolucao/resolucao_125_29112010_11032016162839.pdf> Acesso em: 25 jun. 2019.] 
O curso de capacitação básica dos terceiros facilitadores (conciliadores e mediadores) tem por objetivo transmitir informações teóricas gerais sobre a conciliação e a mediação, bem como vivência prática para aquisição do mínimo de conhecimento que torne o corpo discente apto ao exercício da conciliação e da mediação judicial.
	Desta forma, é preciso observar a capacidade do agente, formação acadêmica e conclusão do curso de capacitação para o indivíduo estar apto para exercer o ofício de mediador judicial.
5.2 Mediador Extrajudicial 
Dispõe o art. 9º da Lei de Mediação[footnoteRef:44]: [44: BRASIL. Lei de Mediação. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13140.htm> Acesso em: 25 jun. 2019.] 
Poderá funcionar como mediador extrajudicial qualquer pessoa capaz que tenha a confiança das partes e seja capacitada para fazer mediação, independentementede integrar qualquer tipo de conselho, entidade de classe ou associação, ou nele inscrever-se. 
Diferentemente do mediador judicial, o extrajudicial não precisa de nenhuma formação acadêmica nem inscrição em qualquer entidade, exigindo apenas que as partes tenham confiança no mesmo e que haja capacidade para tal atuação. O mesmo afirma Albuquerque[footnoteRef:45]: [45: ALBUQUERQUE, Dionara, O marco legal da mediação no Brasil e o mediador judicial, sua capacitação e formação continuada, vl. 2, Porto Alegre: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, 2017, pg. 53, pdf.	] 
Diferente da mediação judicial e do mediador judicial, a lei é omissa acerca de critérios de formação e de eventual cadastro de mediadores extrajudiciais, mencionando apenas que devem possuir a confiança das partes e capacitação.
	Portanto, fica visível que para ser um mediador extrajudicial, não precisa submeter-se às mesmas regras e condições estabelecidas para o mediador judicial. A explicação, talvez, esteja no fato do legislador tentar apresentar um meio de resolução de conflito não muito burocrático, fazendo com que um maior número de pessoas possa se candidatar ou ser escolhido para servir como mediador de conflitos e ajudar a sociedade. 
5.3 Impedimentos dos mediadores
Assim como os juízes, os mediadores judiciais estão sujeitos a impedimentos. Descreve a Lei de Mediação[footnoteRef:46]: [46: BRASIL. Lei de Mediação. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13140.htm> Acesso em: 25 jun. 2019.] 
Art. 5: Aplicam-se ao mediador as mesmas hipóteses legais de impedimento e suspeição do juiz.
Parágrafo único.  A pessoa designada para atuar como mediador tem o dever de revelar às partes, antes da aceitação da função, qualquer fato ou circunstância que possa suscitar dúvida justificada em relação à sua imparcialidade para mediar o conflito, oportunidade em que poderá ser recusado por qualquer delas. 
Aquele que atuou como mediador, não poderá assessorar, representar ou patrocinar qualquer das partes, pelo prazo de um ano a contar da última audiência de mediação. É o que prescreve o art. 6º da Lei de Mediação.
O art. seguinte da referida Lei, esclarece também que, aquele que atuou como mediador, não poderá atuar como árbitro nem testemunha em processos judiciais ou arbitrais referentes ao conflito da atuação.
Consta no §5º, art. 167 do Código de Processo Civil que, se os mediadores judiciais inscritos forem advogados, os mesmos estarão impedidos de exercer a advocacia nos juízos que desempenhem suas funções.
5.4 Equiparação a servidor público 
É facultativo promover concurso público para a admissão de mediadores, entretanto, mesmo o mediador não sendo concursado, este será considerado um servidor público para fins penais. Consta na Lei[footnoteRef:47]: [47: BRASIL. Lei de Mediação. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13140.htm> Acesso em: 25 jun. 2019.] 
Art. 8o O mediador e todos aqueles que o assessoram no procedimento de mediação, quando no exercício de suas funções ou em razão delas, são equiparados a servidor público, para os efeitos da legislação penal. 
Essa previsão legal decorre de a possibilidade do mediador praticar crimes contra a Administração Pública e ser sujeito de crimes em face de funcionários públicos. Exemplifica Junior[footnoteRef:48]: [48: JUNIOR, Luiz, Manual de Arbitragem, Mediação e Conciliação, 8ª Ed., Rio de Janeiro: Forense, 2018, pg. 306, pdf.] 
[...] mediadores, que podem, exemplificativamente, praticar crime de corrupção passiva ou concussão ou serem sujeitos de crimes praticados contra funcionários públicos, como é o caso do desacato.
	Portanto, aquele que atuar como mediador judicial ou extrajudicial será equiparado a servidor público enquanto estiver exercendo suas funções.
5.5 Formação do mediador judicial no Brasil 
Até alteração da Resolução nº 125[footnoteRef:49] do CNJ no ano de 2013, percebia-se que a formação de conciliadores e mediadores era feita de forma diversa. No Anexo I, versava sobre cursos de capacitação e aperfeiçoamento, exigindo dos conciliadores e mediadores o curso do módulo II: “Conciliação e suas técnicas”, enquanto que dos mediadores exigia-se cursar, além do módulo de conciliação, um módulo extra: “Mediação e suas técnicas”. Nesse último módulo eram contempladas etapas próprias, como: planejamento da sessão, apresentação ou abertura, esclarecimentos ou investigação das propostas das partes, criação de opções, escolha da opção, técnicas estas não contempladas no programa de conciliação. [49: CNJ. Resolução nº 125. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/images/stories/docs_cnj/resolucao/arquivo_integral_republicacao_resolucao_n_125.pdf> Acesso em: 25 jun. 2019.
] 
 Após essa alteração, para a formação de um mediador é necessário realizar um curso de capacitação, como já mencionado anteriormente, sendo ele dividido em duas etapas: teórica e prática. 
Dispõe o Anexo I da referida Resolução que na etapa teórica: 
[...] serão desenvolvidos determinados temas (a seguir elencados) pelos professores e indicada a leitura obrigatória de obras de natureza introdutória (livros-texto) ligados às principais linhas técnico-metodológicas para a conciliação e mediação, com a realização de simulações pelos alunos.
Alguns dos temas a serem abordados serão: panorama histórico dos métodos consensuais de solução de conflitos, a política judiciária nacional de tratamento adequado de conflitos, cultura da paz e métodos de solução de conflitos, teoria da comunicação/teoria dos jogos, moderna teoria do conflito, negociação, conciliação, mediação, áreas de utilização da conciliação/mediação, interdisciplinaridade da mediação, o papel do conciliador/mediador e sua relação com os envolvidos (ou agentes) na conciliação e na mediação e a ética de conciliadores e mediadores. 
	A carga horária deve ser de no mínimo 40 horas/aula, devendo ser entregue ao final do módulo relatório para a avaliação do aproveitamento e a frequência do aluno deverá ser de 100%. Preenchido esses requisitos, a declaração de conclusão do módulo teórico será emitida para que o aluno possa iniciar a próxima etapa.
	O estágio supervisionado é a etapa prática do curso de formação do mediador, em que consta no Anexo I que:
[...] o aluno aplicará o aprendizado teórico em casos reais, acompanhado por 1 (um) membro da equipe docente (supervisor), desempenhando, necessariamente, 3 (três) funções: a) observador, b) co-conciliador ou co-mediador, e c) conciliador ou mediador.
	Será necessário elaborar um relatório ao final de cada sessão que participar, sendo a carga horária a ser cumprida de 60 horas, para então estar apto para receber o certificado de conclusão do curso de capacitação. Este certificado será preciso para efetuar o cadastro junto ao tribunal que pretende atuar como mediador. 
5.6 Cadastro e remuneração do mediador judicial 
Após essa capacitação, o mediador poderá requerer sua inscrição no Cadastro Nacional de Mediadores Judiciais e Conciliadores (CCMJ) e no Cadastro de Tribunal de Justiça ou de Tribunal Regional Federal, assim dispõe o §1º do art. 167 do Código de Processo Civil e §1º do art. 12 da Lei de Mediação. Para efetuar tal inscrição, o CNJ explica passo a passo em sua Cartilha de Perguntas e Respostas[footnoteRef:50]: [50: CNJ, Perguntas e Respostas, 2017, pg. 20 e 21, pdf. Disponível em <http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/11/792a36b2facd828e3b0a2cd36adf3907.pdf> Acesso em: 25 jun. 2019] 
O Cadastro Nacional de Mediadores Judiciais e Conciliadores (CCMJ) foi desenvolvido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para atender ao disposto no artigo 167 da Lei n. 13.105/2015 (Código de Processo Civil) e no artigo 6º, IX, da Resolução CNJ n. 125/2010, para garantir a qualidade e a padronização das informações prestadas aos jurisdicionados e para interligar os cadastros de todos os tribunais. O CNJ não executa nenhuma ação administrativa sobre o CCMJ. A administração do CCMJ compete aos tribunais Estaduais eFederais, órgãos responsáveis pela aprovação ou pelo indeferimento dos pedidos de inscrição efetuados diretamente pelos interessados que desejam atuar em sua jurisdição. Para se cadastrar no CCMJ como mediador judicial, conciliador ou câmara privada basta acessar o link http://www.cnj.jus.br/ccmj/ no portal do CNJ ou dos tribunais, preencher todos os campos obrigatórios e anexar os documentos solicitados. Após o preenchimento correto dos dados, o interessado receberá e-mail de confirmação da pré-inscrição. A partir disso, deverá aguardar a resposta do tribunal para o qual foi feito o pedido sobre a aprovação ou não de seu cadastro.
Os tribunais podem admitir os mediadores apenas com a comprovação da capacitação ou ainda, promover concurso público. Sobre esse assunto, Júnior[footnoteRef:51] elucida: [51: JUNIOR, Luiz, Manual de Arbitragem, Mediação e Conciliação, 8ª Ed., Rio de Janeiro: Forense, 2018, pg. 305, pdf.] 
Nada obstante não seja exigência inafastável, faculta-se aos tribunais o provimento da lista oficial de mediadores e conciliadores mediante concurso público.
É possível que os tribunais optem por formação de quadro próprio de mediadores e conciliadores, exclusivos ou em concorrência com os mediadores e conciliadores particulares cadastrados admitidos mediante simples comprovação da formação e curso de capacitação ou mediante concurso de provas e títulos, preenchidos os requisitos de formação.
Não só a pessoa física do mediador poderá solicitar a inscrição no CCMJ, mas também as câmaras privadas de mediação e conciliação. Acerca do tema, Junior[footnoteRef:52] conclui: [52: Ibid., pg. 304, pdf.] 
Portanto, além dos conciliadores e mediadores, o CPC prevê a existência de câmaras privadas de mediação e conciliação, exigindo que todos sejam inscritos no cadastro nacional e no cadastro do tribunal que atuarem.
O cadastro de conciliadores, mediadores e câmaras privadas de conciliação permite que os respectivos tribunais divulguem dados estatísticos nos termos dos §§ 3º e 4º do art. 167 do CPC, exigência que deve ser atendida, preferencialmente, por meio da rede mundial de computadores.
Referente a sua remuneração, dispõe Junior[footnoteRef:53]: [53: Ibid., pg. 307, pdf.] 
Se não forem voluntários (CPC, § 1º do art. 169) ou concursados do quadro próprio do tribunal (CPC, § 6º do art. 167), os conciliadores e mediadores particulares serão remunerados pelas partes conforme a tabela fixada pelo tribunal, de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo CNJ, nos termos do art. 169 do Código de Processo Civil e do art. 13 da Lei 13.140/2015
A respeito, o CNJ[footnoteRef:54] também esclarece: [54: CNJ, Perguntas e Respostas, 2017, pg. 22, pdf. Disponível em <http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/11/792a36b2facd828e3b0a2cd36adf3907.pdf> Acesso em: 26 jun. 2019] 
O artigo 169 da Lei n. 13.105/2015 (novo Código de Processo Civil) estabelece que “ressalvada a hipótese do art. 167, § 6º, o conciliador e o mediador receberão pelo seu trabalho remuneração prevista em tabela fixada pelo tribunal, conforme parâmetros estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça”. Independentemente disso, o mesmo diploma legal não traz nenhuma vedação ao exercício voluntário da atividade do mediador e do conciliador. Para obter informações sobre a previsão de remuneração, o mediador ou o conciliador podem consultar diretamente o tribunal onde desejam atuar. Os critérios para fixação de remuneração dependem da regulamentação interna de cada tribunal. Em alguns estados, os terceiros facilitadores são concursados; em outros, há regulamentação sobre a remuneração de conciliadores e mediadores judiciais por lei própria ou tabela fixada pelo tribunal.
	Em resumo, o mediador receberá pelo seu trabalho conforme tabela fixada pelo tribunal e custeada pelas partes. Se o mesmo pertencer ao quadro próprio do tribunal, este receberá seu salário mensal já fixado. Poderá também, exercer a mediação como trabalho voluntário.
5.7 Ética profissional e exclusão dos mediadores 
	Como já visto, os mediadores seguem um Código de Ética em que suas condutas são pautadas. Assim, no começo de seu exercício deverá assinar um termo se comprometendo a submeter-se aos princípios e as regras do referido Código e às orientações do juiz da sua unidade de atuação. 
	Caso haja desrespeito à essas normas, o art. 8º do Código de Ética[footnoteRef:55] prescreve: [55: CNJ. Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais. Disponível em <http://www.tjrj.jus.br/documents/10136/1077812/cod-etica-mediador-conciliador.pdf> Acesso em: 27 jun. 2019.] 
O descumprimento dos princípios e regras estabelecidos neste Código, bem como a condenação definitiva em processo criminal, resultará na exclusão do conciliador/mediador do respectivo cadastro e no impedimento para atuar nesta função em qualquer outro órgão do Poder Judiciário nacional.
Parágrafo único – Qualquer pessoa que venha a ter conhecimento de conduta inadequada por parte do conciliador/mediador poderá representar ao Juiz Coordenador a fim de que sejam adotadas as providências cabíveis.
Desta maneira, o mediador que agir com dolo ou culpa durante o procedimento de mediação ou não respeitar os princípios a ele inerentes, ou ainda, atuar em sessão à qual deveria alegar suspeição ou impedimento, será excluído do cadastro de mediadores. Tal exclusão não afasta a responsabilidade civil e penal, por eventuais danos que tenha ocasionado. Ainda, bem lembra Júnior[footnoteRef:56]: [56: JUNIOR, Luiz, Manual de Arbitragem, Mediação e Conciliação, 8ª Ed., Rio de Janeiro: Forense, 2018, pg. 307, pdf.] 
A exclusão será apurada em processo administrativo nos termos do que regulamentar o tribunal, podendo o juiz do processo ou o juiz coordenador do centro de conciliação e mediação afastar preventivamente, por 180 dias, o conciliador ou o mediador que atuar inadequadamente, por decisão fundamentada, informando o fato imediatamente ao tribunal para instauração do respectivo processo administrativo.
Essas situações estão previstas no art. 173 do Código de Processo Civil e são consideradas sanções para o mediador que desrespeitar os deveres que lhes são inerentes. 	
7. Considerações Finais 
	Considerando a grande demanda de processos no judiciário, percebeu-se a necessidade da criação de meios alternativos para resolução dos conflitos da sociedade brasileira.
	O maior objetivo destes meios, além de desobstruir o judiciário, é proporcionar aos indivíduos alternativas mais céleres para o acesso à justiça. Com isso, criou-se a arbitragem, conciliação e mediação, institutos estes com técnicas diferenciadas, mas com o mesmo intuito, ou seja, resolver o conflito entre as partes fora da jurisdição estatal. 
	Com uma abordagem rápida a respeito desses meios extrajudiciais de solução de controvérsias, mas sempre com ênfase na mediação, percebeu-se que este último segue princípios e regras próprias que se não observados corretamente, influi diretamente na qualidade da prestação. 
	Dessa maneira, apesar de aparentemente se mostrar um procedimento simples, a mediação pode ser considerada complexa, uma vez que há vários modelos que podem ser escolhidos para permear a sessão. Estes podendo ser desde um tipo mais tradicional em que o principal objetivo é conseguir efetuar um acordo entre as partes, até um tipo que objetiva encontrar o exato motivo da aparição daquele problema, a real transformação da relação das partes e a identificação do amor pelo outro. 
	Mesmo existindo modelos distintos a serem seguidos, há sempre os mesmos princípios a serem observados para valer-se da mediação. Havendo desrespeito a eles, toda a qualidade do procedimento poderá ser afetada e os mediadores, dependendo do caso, suportará sanções penais ou administrativas. 
	A lei, para atender as diferentes necessidades da população, trouxe a figura do mediador judicial e extrajudicial, estabelecendo regras distintas para cada um, mas deixando em comum a necessidade de curso de capacitação e formação. Isso porque, para ser um mediador é necessáriotécnicas próprias para conduzir as sessões de mediação, técnicas essas ensinadas de forma teórica e prática. 	 
	Sendo assim, a mediação é prevista no ordenamento jurídico brasileiro a fim de assegurar de forma digna o acesso à justiça, promovendo, consequentemente, o estimulo da autonomia das partes em resolver seus próprios conflitos de forma consensual e a instaurar pacificação social.
A perspectiva é que os meios alternativos de solução de conflitos possam se desenvolver cada vez mais na sociedade brasileira, a fim de transformar as pessoas em indivíduos capazes de dialogar uns com os outros para que aprendam a exercer suas autonomias.
A tendência é que os indivíduos busquem o respaldo do judiciário em questões mais complexas e comecem a utilizar-se mais dos meios extrajudiciais, pois com a diminuição de demandas no judiciário, os magistrados não estarão mais sobrecarregados e poderão prestar um serviço de maior qualidade e debruçar-se às questões com maior complexidade.
Por outro lado, as pessoas que buscarem o respaldo dos meios extrajudiciais, por consequência, terão um resultado muito mais rápido e satisfatório, pois elas mesmas estarão no controle do assunto que irá ser acordado, e assim, cumprirão com maior satisfação o que for determinado.
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