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Rochagem: Como essa prática pode beneficiar sua lavoura EVELISE MARTINS DA SILVA - 23 DE MAIO DE 2019 GESTÃO AGRÍCOLA Rochagem: Veja como ela ajuda na fertilidade do solo e pode reduzir os custos da safra, além do passo a passo de como realizá-la. Você já escutou falar de rochagem ou remineralização de solos? Essa é uma das alternativas complementares às adubações químicas e sintéticas para a sua lavoura. A rochagem melhora a qualidade física e química do solo, podendo substituir parte dos fertilizantes. Lembrando que cerca de 80% dos adubos são importados e cotados em dólar, encarecendo o custo da produção. Por isso, a rochagem pode ser uma boa saída de redução de custos. Neste artigo, irei compartilhar com você a lógica do uso de rochas complementando a adubação e os benefícios para sua lavoura. Saiba tudo a seguir! Índice do Conteúdo 1 O que é rochagem? 2 A forma de atuação da rochagem ou remineralização no solo 2.1 Impactos para o solo 2.2 Benefícios para o solo 3 E como testar a rochagem em minha lavoura? 4 Conclusão O que é rochagem? https://blog.aegro.com.br/author/evelise/ https://blog.aegro.com.br/categoria/gestao-agricola/ https://blog.aegro.com.br/planejamento-agricola-fertilizantes/ Também conhecida como remineralização, a rochagem utiliza as rochas em suas formas naturais, em granulometrias únicas ou mescladas. Elas podem ser combinadas com outras práticas, como o uso de microrganismos. Grande parte dos fertilizantes utilizados hoje nas lavouras tem como base rochas processadas com ataques químicos, que servem para promover a concentração e a solubilidade dos elementos em questão, tornando os fertilizantes solúveis. Por isso, embora o uso de rochas já seja bastante comum, seu uso em formas naturais (que é a rochagem) não é tão utilizado. O primeiro livro sobre rochagem foi “Pães de pedra”, escrito por Julio Hansel, em 1870. No Brasil, a prática é utilizada há muitos anos, com os trabalhos de Solón Barreto e Sebastião Pinheiro. E ela tem se consolidado nos últimos anos, com experiências em grandes lavouras em conjunto com a agricultura convencional. A fazenda onde trabalhei, em São José do Xingu, Mato Grosso, é um exemplo. Faz parte do Grupo de Agricultura Sustentável (GAS), que organiza agricultores que buscam alternativas de produção para redução de custos e melhoria de suas produções. Esse grupo estima que aproximadamente 1 milhão de hectares, em diversos Estados, utilizam a rochagem como técnica para a melhoria do solo, seja de forma experimental ou permanente. Separei aqui um vídeo da pesquisadora da Universidade Federal de Brasília, Claudia Gorgen. Assim, você pode entender melhor a prática e os experimentos realizados em lavouras de soja. http://www.grupoagrisustentavel.com.br/gallery/antonio-biz%C3%A3o.pdf https://blog.aegro.com.br/o-que-torna-o-solo-fertil/ https://blog.aegro.com.br/cultura-da-soja/ A forma de atuação da rochagem ou remineralização no solo O remineralizador (ou pó de rocha, como é conhecido) é um insumo estratégico para repor e reciclar elementos extraídos do solo pela erosão e colheitas. Os remineralizadores estão regulados desde março de 2016, incluídos entre as catego rias de insumos agrícolas, pela IN 5 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Desde então, as rochas utilizadas nesta prática passam por um processo de avaliação, baseada na composição geoquímicas, mineralógica e no desempenho agronômico. São considerados parâmetros como: Percentuais mínimos da soma de bases (óxidos de cálcio, de magnésio e de potássio) Percentuais máximos de elementos potencialmente tóxicos e de sílica livre Indicação do pH, de abrasão e granulometria Esse tipo de análise tem sido realizada em conjunto com Embrapa e instituições como a Universidade Federal de Brasília. https://blog.aegro.com.br/por-que-o-plantio-direto-contribui-para-a-fertilidade-do-solo/ https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/mapa-regulamenta-producao-registro-e-comercio-do-po-de-rocha-na-agricultura https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/939641/1/doc143.pdf Pó de rocha é mais barato e pode ser usado em diversas culturas (Fonte: Embrapa) Impactos para o solo Os remineralizadores, ou a prática da rochagem, atuam como condicionadores do solo. Ou seja, promovem melhorias físico-químicas e da atividade biológica do solo. A solubilidade é um fator relevante dos fertilizantes químicos. Mas, na rochagem, a lógica é um pouco diferente. A contribuição na disponibilidade terá relação com interações de natureza química, como acidez de chuva, com a biomassa vegetal e os exsudatos de raiz, e com a vida microbiana existente no solo, além da granulometria do produto utilizado. Ou seja, a presença de matéria orgânica faz diferença na reação do remineralizador no solo. Assim, ocorre a criação de um efeito sinérgico entre o fator biológico e a mineralogia para as plantas cultivadas. Alguns estudos têm até considerado o acúmulo de carbono no solo pelo uso de rochagem. Além disso, o uso das rochas como adubo contribui como estímulo para as plantas, que investem em raiz. Isso promove aumento da produção de exsudatos e, consequentemente, incentiva a parte biológica do solo, aumentando o intemperismo na rocha. Esquema generalizado da ciclagem de Carbono, Nitrogênio, Fósforo e Potássio no solo (Fonte: Livro Microbiologia e Bioquímica do solo) O pesquisador da Embrapa Eder Martins afirma que várias rochas silicáticas cumprem requisitos de soma de bases, mas têm baixa eficiência https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/17871838/congresso-de-rochagem-inicia-nesta-terca-feira-em-pelotas-em-busca-de-remineralizadores-de-solo http://prpg.ufla.br/_ppg/solos/wp-content/uploads/2012/09/MoreiraSiqueira2006.pdf agronômica. “Por isso, testes em solos agrícolas e culturas da região de origem do produto são necessários, bem como a publicação científica com os resultados”, explica Martins. Desta forma, nem todas as rochas são agrominerais. Há necessidade de adequação às normativas da lei e avaliações de desempenho agronômico. Já se sabe que o pH do solo influencia na solubilidade dos fertilizantes. De acordo com seu estado, disponibiliza certos elementos, conforme imagem abaixo. Esse fator também contribui na fertilização com as rochas. Relação entre pH e disponibilidade dos elementos no solo (Fonte: Malavolta, 2016) Benefícios para o solo Os tipos de solos brasileiros são altamente intemperizados, com mineralogia da fração argila composta de caulinita e óxidos de ferro e de alumínio. Apresentam baixa capacidade de troca de cátions (CTC) e pouca reserva de bases, na medida em que a maioria dos minerais primários facilmente intemperizáveis já foi destruída. E como dizia meu diretor técnico da fazenda, se não investirmos em matéria orgânica, não teremos aumento de CTC do nosso solo. Por isso, a prática tem que ser acompanhada de investimento nas condições orgânicas e, consequentemente, na fertilidade do solo. O uso de rochas no solo contribui nos seguintes parâmetros: Aumento da atividade biológica do solo; Aumento da CTC do solo; Disponibiliza nutrientes de forma contínua e gradativa; Racionaliza o uso do potássio; https://blog.aegro.com.br/fertilidade-do-solo-e-adubacao/ https://blog.aegro.com.br/fertilidade-do-solo/ https://blog.aegro.com.br/ctc-do-solo/ Neutraliza o alumínio (Al) e libera o fósforo (P); Você pode obter mais informações na página do 3º Congresso Brasileiro de Rochagem realizado pela Embrapa. Agora que já falei sobre os benefícios da prática, vou explicar como colocá- la em prática na sua propriedade! E como testar a rochagem em minha lavoura? Recomendaria realizar testes de rochagem primeiro como uma fertilização complementar. O processo de disponibilidade é diferente, como comentamos, um pouco mais complexo e lento, ou seja, de longo prazo. Você deve encontrar um produto que seja acessível economicamente. A recomendaçãogeral varia de acordo com o produto utilizado, tempo de reposição e granulometria da rocha. É possível começar com 2 ou mais toneladas por hectare. É importante ter análise de solo, mesmo as químicas. Você não verá muita diferença de um momento para o outro, ou seja, logo após a aplicação do produto. Mas isso te servirá de parâmetro para ir acompanhando o solo a longo prazo. Para ser viável economicamente, é necessário a fonte do produto estar num raio de no máximo 300 km de sua propriedade. O ideal é sempre combinar uma atuação de supressão biológica. Ou seja, utilize uma boa quantidade de biomassa vegetal, microrganismos no solo e inoculação nas sementes. Assim, teremos uma ativação microbiológica, ou seja, promovemos um metabolismo de ativação da disponibilidade desses minerais. https://blog.aegro.com.br/analise-de-solo/ Uma ótima opção é buscar conhecer outros produtores que estão realizando experiências em suas propriedades. Opinião e experiência de quem experimentou de fato faz muita diferença. Experimento conduzido em Não-Me-Toque (RS) lavoura de soja safra 2016/2017 (Fonte: Arquivo pessoal) Conclusão A geologia de nossos solos é importante e o estudo da Agrogeologia tem avançado. A rocha em si é o produto final de vários minerais, que se transformaram em solos e alimentam as nossas colheitas. Neste artigo, você viu como a rochagem é uma alternativa para complementar a adubação química e sintética na sua lavoura. Também falamos sobre como ela funciona, todos seus benefícios e como você pode testá-la para reduzir os custos de adubação na sua propriedade. Aproveite o conhecimento e boa rochagem! >> Leia mais: “Solo argiloso: O que muda no seu manejo nesse tipo de solo“ “Estratégias para plantar em solo arenoso“ “Como a agricultura regenerativa pode te dar bons resultados a longo prazo” Você já teve alguma experiência com rochagem? Como faz a correção da fertilidade do seu solo hoje? Deixe seu comentário! Sobre o Autor Evelise Martins da Silva https://blog.aegro.com.br/solo-argiloso/ https://blog.aegro.com.br/solo-arenoso/ https://blog.aegro.com.br/agricultura-regenerativa/ https://blog.aegro.com.br/author/evelise/ Sou Engenheira Agrônoma formada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pós-graduada em Biotecnologia e Bioprocessos pelas Universidade Estadual de Maringá (UEM) e apaixonada pelos desafios de uma agricultura sustentável.