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Autor: Prof. Fábio Pozati Colaboradora: Profa. Angélica Carlini Segmentação de Roteiros Turísticos Professor conteudista: Fábio Pozati Doutor em Geografia pela Universidade de Campinas (Unicamp), mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em Turismo pela USP. Professor de ensino superior há mais de vinte anos em diversas instituições renomadas, como Universidade Paulista (UNIP), Universidade de Franca (Unifran), Centro Universitário Campo Limpo Paulista (Unifaccamp) e Serviço Nacional do Comércio (Senac), em diversas disciplinas ligadas ao curso de Turismo e Administração, com destaque para a área de marketing, tecnologia, planejamento, qualidade, serviços, agenciamento e transportes. Participou da elaboração de planos de desenvolvimento turístico e marketing de diversas localidades no interior do estado de São Paulo. É atualmente sócio-proprietário de uma empresa de consultoria turística e coordenador do curso de Turismo da UNIP de Campinas (presencial) e do curso superior técnico em Gestão de Turismo (EaD) da UNIP. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P893s Pozati, Fábio. Segmentação de Roteiros Turísticos / Fábio Pozati. – São Paulo: Editora Sol, 2020. 152 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Segmentação. 2. Turismo. 3. Modelos de comportamento. I. Título. CDU 380.8 U505.81 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Lucas Ricardi Aline Ricciardi Sumário Segmentação de Roteiros Turísticos APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 RAZÕES PARA AS PESSOAS VIAJAREM .................................................................................................. 11 1.1 Mercado e mercado turístico .......................................................................................................... 16 2 A SEGMENTAÇÃO DE MERCADO ............................................................................................................. 18 2.1 Os critérios de segmentação ............................................................................................................ 19 2.2 As estratégias de segmentação ...................................................................................................... 30 2.3 Os desafios da segmentação de mercado .................................................................................. 32 Unidade II 3 OS PRINCIPAIS SEGMENTOS TURÍSTICOS ............................................................................................ 36 3.1 Turismo social ........................................................................................................................................ 36 3.1.1 Diretrizes básicas técnico-operacionais de turismo social .................................................... 37 3.1.2 Política de RH para turismo social ................................................................................................... 37 3.2 Ecoturismo .............................................................................................................................................. 39 3.3 Turismo cultural ................................................................................................................................... 40 3.4 Turismo religioso ................................................................................................................................. 41 3.5 Turismo de estudos e intercâmbio ............................................................................................... 43 3.6 Turismo esportivo ................................................................................................................................ 44 3.7 Turismo de pesca .................................................................................................................................. 45 3.8 Turismo náutico ................................................................................................................................... 45 3.9 Turismo de aventura .......................................................................................................................... 46 3.10 Turismo de sol e praia ..................................................................................................................... 50 3.11 Turismo de negócios e eventos ................................................................................................... 51 3.11.1 Diferenciais das empresas para turismo de negócios ............................................................ 52 3.12 Turismo rural ...................................................................................................................................... 53 3.13 Turismo de saúde .............................................................................................................................. 54 3.14 Turismo de eventos ........................................................................................................................... 55 4 OS NOVOS SEGMENTOS TURÍSTICOS ...................................................................................................... 55 4.1 Turismo étnico ...................................................................................................................................... 55 4.2 Turismo paisagístico ............................................................................................................................ 56 4.3 Turismo cívico ....................................................................................................................................... 56 4.4 Turismo arqueológico ........................................................................................................................ 57 4.5 Turismo sertanejo ................................................................................................................................. 57 4.6 Turismo comunitário ......................................................................................................................... 58 4.7 Turismo LGBTQI+ .................................................................................................................................. 59 4.8 Turismo gastronômico ........................................................................................................................ 59 4.9 Enoturismo ............................................................................................................................................ 60 4.10 Hotel design ........................................................................................................................................61 4.11 Turismo em parques temáticos ................................................................................................... 61 4.12 Turismo linguístico ........................................................................................................................... 62 4.13 Turismo de excentricidades .......................................................................................................... 62 4.14 Turismo hedonista ............................................................................................................................ 63 4.15 Turismo futebolístico ........................................................................................................................ 63 4.16 Turismo acessível .............................................................................................................................. 64 4.17 Turismo ferroviário ............................................................................................................................ 64 4.18 Turismo literário ................................................................................................................................. 69 Unidade III 5 OS MODELOS DE COMPORTAMENTO DOS CONSUMIDORES ........................................................ 77 5.1 Modelo AIO (Atividades, Interesses e Opiniões) ....................................................................... 78 5.2 Modelo Vals (Valores e Estilos de Vida) ....................................................................................... 79 5.3 Modelo Vals 2 ........................................................................................................................................ 79 5.4 Modelo RVS (Rokeach Value Survey) ........................................................................................... 80 5.5 Modelo LOV (Lista de Valores) ......................................................................................................... 80 6 PERFIL PSICOGRÁFICO DO TURISTA ......................................................................................................... 80 6.1 Modelo psicográfico de Stanley Plog ........................................................................................... 81 6.2 Modelo psicográfico de E. Cohen .................................................................................................. 84 6.3 Modelo psicográfico de Valene Smith ......................................................................................... 86 6.4 Modelo psicográfico de John Urry ................................................................................................ 88 6.5 Modelo psicográfico de Robert W. McIntosh ........................................................................... 90 6.6 Estratégias para vender o produto chamado turismo ......................................................... 91 6.7 O programa de segmentação de mercado e roteiros do Ministério do Turismo ........ 98 Unidade IV 7 A SEGMENTAÇÃO DE ROTEIROS TURÍSTICOS.....................................................................................107 8 TENDÊNCIA DOS PRODUTOS TURÍSTICOS ..........................................................................................116 8.1 Espeleoturismo ...................................................................................................................................118 8.2 Tatanoturismo ....................................................................................................................................119 8.3 Caça de tornados e tufões ............................................................................................................120 8.4 Turismo enogastronômico .............................................................................................................120 8.5 Turismo espacial ..................................................................................................................................121 8.6 Turismo de luxo ...................................................................................................................................121 8.7 Turismo de experiências .................................................................................................................122 8.8 Turismo biográfico .............................................................................................................................125 8.9 Afroturismo ou turismo étnico afro ...........................................................................................125 8.10 Os observatórios do turismo .......................................................................................................126 8.10.1 Observatórios do turismo estaduais .......................................................................................... 127 8.10.2 Observatórios do turismo municipais ....................................................................................... 128 8.10.3 Observatórios do turismo acadêmicos ..................................................................................... 128 9 APRESENTAÇÃO Este livro-texto busca oferecer o melhor entendimento sobre a segmentação do mercado turístico, por meio da abordagem de seus conceitos, tipos, suas aplicações e importância para a qualificação dos produtos turísticos e integração entre diferentes destinos, atrativos ou regiões. A segmentação de mercado, nos dias atuais, exerce um papel fundamental nas pesquisas e no desenvolvimento de um produto e/ou serviço. Observamos que um produto, para chegar a um mercado consumidor, necessita possuir uma estrutura de logística e distribuição eficientes para seu escoamento, além de observar os seus concorrentes diretos e indiretos, estratégias de divulgação para a garantia da penetrabilidade de seu produto e, consequentemente, a confiança depositada pelo mercado nos atributos físicos e emocionais desse produto. Ao compreender que o mercado é composto por consumidores, que eles se comportam de diferentes maneiras, com diversas atitudes e desejos diferentes entre si, percebemos que esses fatores podem influenciar nas variáveis geográficas, demográficas, psicológicas e comportamentais. Contudo, Kotler e Armstrong (2003) afirmam que as variáveis sociodemográficas são úteis no desenvolvimento das estratégias de segmentação, mas não nos proporcionam uma visão de todo o cenário ou conjunto. Entretanto, Middleton (2002, p. 115) afirma que a segmentação do mercado turístico deve estar atrelada à natureza do negócio, isto é, “alguns segmentos são amplamente ditados pela localidade em que opera o negócio; outros segmentos podem ser atraídos por produtos criados e comercializados especificamente para eles”. Dessa forma, a segmentação do mercado turístico está intimamente atrelada às técnicas de segmentação desenvolvidas pelo marketing e, portanto, vai se tornar imprescindível para os produtores turísticos conhecer em detalhes as características do mercado do consumidor/turista, bem como seu comportamento e seu perfil no ato de compra e consumo. Assim, no decorrer do livro-texto, serão apresentadas ferramentas que auxiliarão o estudante a melhor conhecer a forma de operacionalização, organização e importância dos segmentos turísticos, bem como sua aplicação e importância para a elaboração e operacionalização de roteiros, a partir do estudo de seus diferentes tipos e estudos de caso de sucesso, o que lhe permitirá melhor dominar e utilizar as ferramentas para a composição de roteiros segmentados interessantes, bem estruturados e competitivos tanto no mercado doméstico como no internacional. INTRODUÇÃO A estratégia de segmentação foi idealizada inicialmente como estratégia de marketing de grandes empresas, a partir do aumento da competitividade de seus mercados. Por consequência, clientes mais exigentes e ecléticos passaram a exigir produtos e serviços que atendessem às suasnecessidades específicas. Ela pode ser entendida como a oferta de produtos e serviços específicos para públicos específicos com características em comum. Portanto, surgiu para atender a esses anseios e permitir 10 que as empresas correspondam de forma mais precisa às expectativas de seus clientes, aumentando assim sua satisfação e fidelização. Não demorou muito para que empresas e profissionais de diversas áreas de atuação adotassem essa mesma estratégia e passassem a segmentar seus respectivos mercados. No caso do turismo, a opção pela segmentação foi motivada pelo aumento do número de opções, maior número de concorrentes, aliados a um público cada vez maior, diferenciado e ávido por novas possibilidades. Esses fatores foram essenciais para que a segmentação se consolidasse como uma real possibilidade de as novas empresas e destinos se diferenciarem das empresas tradicionais e poderem conquistar seu devido público sem terem que enfrentar diretamente os grandes concorrentes, seja em destinos turísticos, hotéis, empresas aéreas, agências ou operadoras de viagens consolidadas há muito tempo no mercado, mas que oferecem produtos massificados com baixa capacidade de diferenciação e personalização. Este livro-texto se apropria dessa perspectiva para abordar, inicialmente, as causas e consequências do crescimento e diversificação do mercado de turismo no Brasil e no mundo para então apresentar os diferentes conceitos e ideias sobre segmentação de uma forma geral e segmentação associada especificamente ao mercado de turismo. A seguir, explicaremos os diferentes segmentos existentes no mercado de turismo, entre os quais se destacam tanto aqueles considerados tradicionais, como turismo social, ecoturismo, turismo cultural, religioso, intercâmbio, esportes, pesca, náutico, aventura, sol e praia, negócios, eventos e rural; quanto os segmentos recém-descobertos, como o turismo cívico, étnico, paisagístico, arqueológico, comunitário, LGBTQI+ (antigo GLS), enoturismo, futebolístico, ferroviário, hedonista, cinematográfico e literário. Tanto nos segmentos turísticos tradicionais como nos novos segmentos, serão abordadas suas características, potencialidade e seus desafios, para que tenhamos um completo entendimento de cada um dos segmentos. Discorreremos também a respeito do perfil dos viajantes, entendendo como se comportam, quais são seus hábitos e preferências e como esses elementos evoluíram ao longo dos últimos anos. Esse entendimento permitirá observar como o aumento em quantidade e diversidade dos tipos de turistas interferiu e contribuiu para a formação e a ampliação do conceito de segmentação de mercado tal qual é encontrado atualmente. Por fim, abordaremos os segmentos emergentes, ou seja, aqueles segmentos que ainda não possuem uma expressiva procura no Brasil e no mundo e tampouco possuem um considerável número de empresas dedicadas a atendê-los por meio de produtos e serviços direcionados a seus anseios e a suas necessidades, mas que apresentam um grande potencial de crescimento para os últimos anos e que por isso merecem uma atenção especial, principalmente quando consideramos o cenário atual e futuro atrelado e influenciado por nossa cultura, tecnologia, entretenimento, meio ambiente e sociedade. 11 SEGMENTAÇÃO DE ROTEIROS TURÍSTICOS Unidade I 1 RAZÕES PARA AS PESSOAS VIAJAREM O turismo pode ser considerado atualmente um dos setores mais importantes da economia brasileira. Segundo dados do Plano Nacional do Turismo (BRASIL, 2018b), elaborado pelo Ministério do Turismo, estima-se que no Brasil a participação direta do turismo na economia foi de US$ 56,8 bilhões em 2016, o equivalente a 3,2% do PIB nacional. Já a contribuição total do setor foi de US$ 152,2 bilhões, 8,5% do PIB. A World Travel Tourism and Council (WTTC) prevê um crescimento de 3,3% até 2027, chegando à contribuição total do setor na economia em 9,1% do PIB, o equivalente a US$ 212,1 bilhões. Essa movimentação tem um impacto muito positivo na economia brasileira, gerando emprego e renda, o que mostra que o mercado necessita cada vez mais de mão de obra qualificada na cadeia produtiva, tal como atendentes de aeroporto especializados em públicos diferenciados ou ainda profissionais especialistas em eventos que abordam temas específicos, como diversidade de gênero ou tecnologia de ponta. Figura 1 – Movimentação em aeroporto internacional Figura 2 – Evento realizado em grande auditório 12 Unidade I O turismo é um importante setor na economia nacional, e esse dinamismo do setor vem impactando a chegada de turistas estrangeiros de forma gradual nos últimos anos. O Ministério do Turismo (BRASIL, 2019a), de forma pontual, vem apresentando estudos e pesquisas significativas sobre o perfil do turista que visita o Brasil, e isso contribui com o setor para novos investimentos. No Brasil, saltamos de pouco mais de 5.800.000 em 2013 para mais de 6.500.000 turistas em 2017 (BRASIL, 2019a). Isso gerou uma crescente necessidade de o mercado e os governos estaduais e municipais se adaptarem às demandas crescentes do turismo, que se mostra cada vez mais diferenciado e segmentado. Saiba mais Para obter mais informações sobre a demanda turística brasileira, consulte o Anuário Estatístico publicado pelo Ministério do Turismo: BRASIL. Ministério do Turismo. Anuário Estatístico de Turismo 2019. Brasília, 2019a. Disponível em: http://www.dadosefatos.turismo.gov. br/2016-02-04-11-53-05.html. Acesso em: 3 fev. 2020. Tabela 1 – Evolução do número de turistas estrangeiros no Brasil Países de residência permanente Total Via de acesso Chegadas (%) (%) acumulado Aéreo Terrestre Outros Argentina 2.622.327 39,8 39,8 1.148.044 1.381.992 92.291 Estados Unidos 475.232 7,2 47 450.412 17.237 7.583 Chile 342.143 5,2 52,2 324.098 17.600 445 Paraguai 336.646 5,1 57,3 60.690 271.933 4.023 Uruguai 328.098 5 62,3 132.727 194.564 807 França 254.153 3,9 66,2 205.813 34.298 14.042 Alemanha 203.045 3,1 69,2 173.788 23.914 5.343 Reino Unido 185.858 2,8 72,1 154.848 23.429 7.581 Itália 171.654 2,6 74,7 156.074 13.366 2.214 Portugal 144.095 2,2 76,8 141.309 2.049 737 Colômbia 140.363 2,1 79 123.791 16.354 218 Espanha 137.202 2,1 81,1 115.658 20.405 1.139 Bolívia 126.781 1,9 83 59.307 67.407 67 13 SEGMENTAÇÃO DE ROTEIROS TURÍSTICOS Países de residência permanente Total Via de acesso Chegadas (%) (%) acumulado Aéreo Terrestre Outros Peru 115.320 1,8 84,7 85.427 29.577 316 México 81.778 1,2 86 72.355 8.825 598 Suíça 69.484 1,1 87 59.520 8.499 1.465 China 61.250 0,9 88 58.466 2.490 294 Japão 60.342 0,9 88,9 55.052 4.342 948 Holanda 59.272 0,9 89,8 52.726 5.747 799 Outros países 673.727 10,2 100 557.400 107.561 8.766 Total 6.588.770 100 1484,9 4.187.505 2.251.589 149.676 Fonte: Brasil (2018a, p. 7). Os dez países que mais enviam turistas para o Brasil, de acordo com o Ministério do Turismo (BRASIL, 2019a), são: 1º – Argentina: 2.294.900 2º – Estados Unidos: 570.350 3º – Paraguai: 316.714 4º – Chile: 311.813 5º – Uruguai: 284.113 6º – França: 263.774 7º – Alemanha: 221.513 8º – Reino Unido: 202.671 9º – Itália: 181.493 10º – Portugal: 149.968 Os motivos que levam as pessoas a viajar são os mais variados e diversos possíveis, mas o Ministério do Turismo (BRASIL, 2018a) identificou que as pessoas viajam motivados por lazer; negócios, eventos e convenções; visitar amigos e parentes; religião ou peregrinação; estudos ou cursos e saúde; entre outros. 14 Unidade I 1º – Viagens de lazer: Figura 3 – Viagem de lazer 2º – Negócios, eventos e convenções: Figura 4 – Turista de negócios 3º – Visitar parentes e amigos: Figura 5 – Visita a parentes e amigos 15 SEGMENTAÇÃO DE ROTEIROS TURÍSTICOS Existem técnicas de pesquisa para identificar os motivos das viagens, que tipo de viagens as pessoas preferem, o comportamento do consumidor e quais as motivações que levam as pessoas a saírem de suas casas e se aventurarem num mundo de descobertas e experiências.Saiba mais Para obter mais informações sobre as principais motivações de viagens dos turistas brasileiros, consulte o site do Ministério do Turismo: http://www.turismo.gov.br 4º – Religião e peregrinações: Figura 6 – Turismo religioso 5º – Estudos e cursos: Figura 7 – Viagens para estudos e cursos 16 Unidade I 6º – Saúde: Figura 8 – Viagens por motivo de saúde Mas o que nos motiva a viajar? As razões são as mais variadas possíveis, como veremos no decorrer deste livro-texto. Temos a necessidade de “recarregar as baterias”, fugir do cotidiano estressante e conhecer novos paraísos e lugares inexplorados. Para Ansarah (1999), estão surgindo novas modalidades de turismo. Elas devem originar novas estratégias de divulgação a serem desenvolvidas, a fim de incrementar o mercado turístico caracterizado por interesses amplamente diversificados, como turismo espacial (viagens orbitais) e turismo de golfe. São áreas que apresentam significativa expansão no Brasil, o que, de forma surpreendente, deve inserir o país no cenário internacional. Mas antes de estudarmos o comportamento do consumidor e as técnicas que identificam o perfil de cada tipo, é necessário entender em que consiste o mercado. 1.1 Mercado e mercado turístico Para Kotler e Keller (2018), o mercado é o lugar onde pessoas trocam produtos e serviços com outras, considerando sempre a disponibilidade da oferta existente e a procura pelo bem ou serviço oferecido. O processo de troca e a existência do mercado estão associados às variáveis. Podemos compreender o comportamento do consumidor se antes analisarmos o mercado de turismo, o qual é composto por inúmeras variáveis, entre elas, o que entendemos por produto, oferta e demanda: • Produto turístico: é o conjunto de bens e serviços que são utilizados para o consumido turístico por determinados grupos de usuários. • Oferta turística: conjunto de produtos turísticos e serviços postos à disposição do turista num determinado destino para seu desfrute e consumo. 17 SEGMENTAÇÃO DE ROTEIROS TURÍSTICOS Figura 9 – Praia de Nga Bay, província de Pucket, Tailândia • Demanda turística: formada pelo conjunto de consumidores ou potenciais consumidores de bens e serviços, entendidos como turistas. Figura 10 – Turistas em parque nacional Dessa maneira, conseguimos identificar e mapear seu comportamento de compra e, para ampliar nossa base de oferta/demanda, dividimos o mercado em fatias ou nichos. O comportamento do consumidor de turismo vem mudando e, com isso, surgem novas motivações de viagens e expectativas que precisam ser atendidas. Em um mundo globalizado, onde se diferenciar adquire importância a cada dia, os turistas exigem, cada vez mais, roteiros turísticos que se adaptem às suas necessidades, à situação pessoal, aos desejos e às preferências. A segmentação pode então ser entendida como uma forma de organizar o turismo para fins de planejamento, gestão e mercado. Os segmentos turísticos podem ser estabelecidos a partir dos elementos de identidade da oferta e também das características e variáveis da demanda. 18 Unidade I Para aprofundar no conceito e aplicação das técnicas de segmentação turística, é preciso antes entender o que significa segmento. O segmento, do ponto de vista da demanda, é um grupo de clientes atuais e potenciais que compartilham as mesmas características, necessidades, comportamentos de compra ou padrões de consumo. Pode ser entendido ainda como um agrupamento de pessoas com demandas similares, às quais se pode oferecer uma resposta especializada, igual para todos. A segmentação é uma técnica utilizada para agrupar consumidores com comportamento de compra e características similares. Trata-se de uma tendência atual cada vez mais utilizada por todos os tipos de empresas, pois traz uma série de benefícios, entre os quais, podemos destacar: • facilita a identificação dos públicos mais rentáveis; • possibilita perceber mais facilmente quem são os concorrentes e quais são suas fragilidades; • atende mais facilmente às necessidades do público-alvo; • facilita a adaptação aos novos hábitos e preferências do segmento-alvo; • reduz o desperdício de investimentos com ações promocionais e de divulgação; • melhora a comunicação com produto e destino – linguagem de acordo com as características de valores do público selecionado. É importante entendermos que quanto mais globais somos, mais individuais e específicos nos revelamos em nossos comportamentos de compra. É por isso que as empresas partem em busca de segmentação/customização. A seguir, veremos com mais amplitude o significado, as causas, as consequências e os benefícios relacionados à estratégia de segmentação de mercado. 2 A SEGMENTAÇÃO DE MERCADO Vários autores estudam o comportamento do mercado consumidor, sejam eles pesquisadores da área da administração, da propaganda ou do marketing. Diante dessa imensa produção e pesquisa, teremos como “guias” os “gurus do marketing” Philip Kotler e Gary Armstrong, que são unanimidades entre os pesquisadores. De acordo com esses autores, “Mercados são compostos por compradores, e os compradores diferem de várias maneiras. Eles podem diferir em seus desejos, recursos, localizações, atitudes de compras e práticas de compra” (2003, p. 150). Compreendemos que segmentação do mercado é uma fatia, nicho ou segmento que estabelece como prioridade um determinado mercado. Para que ela seja efetiva, todos os esforços de propaganda e marketing serão direcionados ao público específico. A segmentação turística, por sua vez, é entendida como uma das estratégias de posicionamento do mercado e do produto que reconhece que a segmentação de mercado está no cerne da estratégia de 19 SEGMENTAÇÃO DE ROTEIROS TURÍSTICOS marketing. A segmentação de mercado orienta a estratégia ao lado do posicionamento e da definição do público-alvo e começa não com a distinção de possibilidades de produto, mas com a distinção de interesses ou de necessidades de clientes. Observação Posicionamento refere-se à posição relativa que marcas, produtos e serviços ocupam nas mentes dos seus respectivos consumidores. Basicamente, é o quanto lembramos e como lembramos dos produtos e serviços que consumimos. Entre as principais causas para o avanço da estratégia de segmentação, podemos destacar: • concorrência maior, mais complexa ou mais difícil; • turista mais exigente; • mais valor aos produtos customizados; • necessidade de diferenciação de mercado; • diversificação dos gostos e necessidades; • opção pela fidelização de clientes. Para Ansarah (1999), as causas que levam as empresas a buscarem novos nichos de mercado estão diretamente relacionadas à mudança de postura de vida dos consumidores, que desejam serviços mais específicos e menos generalizados, como o turismo de massa. A estratégia de segmentar o mercado turístico também é uma forma de atender aos desejos desse turista de forma mais eficiente, e o emprego de várias estratégias de comunicação visa à potencialização da atividade turística em sua totalidade. E como dividimos o mercado? Dividimos em bases, variáveis ou segmentos. 2.1 Os critérios de segmentação A segmentação de mercado necessita de apoio de pesquisa de marketing para determinar quais os segmentos/mercado em potencial, o perfil do consumidor do segmento escolhido e a viabilidade do segmento escolhido. Para que essa pesquisa seja dinâmica e traga resultados efetivos, é necessário, antes de mais nada, determinar qual critério de segmentação será adotado pela empresa ou pelo profissional. O quadro a seguir descreve os principais critérios de segmentação utilizados atualmente pelo mercado de turismo: 20 Unidade I Quadro 1 Geográfica Demográfica e socioeconômica Psicográfica (de ordem psicológica) Padrões de comportamento Padrões de consumo Fronteiras políticas Fronteiras populacionais Gênero Idade Estado civil Composição Familiar Ciclo de vida Ocupação Educação Renda Estilo devida Características de personalidade Preferências Momento das compras Preferências por marcas Número de unidades compradas Frequência de compras Hábitos em relação à mídia Frequência de uso Ocasião Fidelidade à marca Propriedade de outros produtos Conhecimento do produto Benefícios buscados Adaptado de: Goeldner, Ritchie e McIntosh (2002). Essas bases ou critérios de segmentação serão melhor explicados a seguir. Segmentação geográfica Define que a base seja por regiões geográficas, países, estados, municípios, bairros etc. Figura 11 – A geografia utilizada como base de segmentação Ao se utilizar a localização como base para segmentação, entende-se que o padrão de consumo, hábitos e preferências podem variar de uma cidade a outra, entre estados, continentes ou países. O que se observa muitas vezes é que produtos que são largamente consumidos em determinadas regiões não apresentam demanda em outras. A razão muitas vezes é explicada pela cultura, pelo clima, pela tradição, por crenças e insumos disponíveis para a população instalada, que pode variar de uma região para outra. A gastronomia é um dos maiores exemplos nesse sentido, pois enquanto a região Sul apresenta um alto consumo de chimarrão (especialmente o estado do Rio Grande do Sul), a região Nordeste se destaca pelo alto consumo de peixes, tapioca e por uma alimentação mais condimentada. 21 SEGMENTAÇÃO DE ROTEIROS TURÍSTICOS Segmentação demográfica As bases são idade, gênero, renda, ocupação, nível de escolaridade, etnia, classe social ou religião. Figura 12 – Faixa etária: segmentação a partir da base demográfica A segmentação demográfica, por reunir uma imensa base, possui algumas características que devemos levar em consideração. Uma delas é o ciclo de vida, isto é, ao longo de nossa existência, vamos mudando nossos interesses e objetivos de consumo. O mercado observa que a cada ciclo de vida os consumidores necessitam de produtos e serviços adequados ao seu ciclo. O ciclo de vida é um fator que tem se mostrado importante no processo de segmentação da demanda. Percebe-se que as pessoas estão casando e tendo filhos mais tarde. Com isso, alguns produtos que eram direcionados para determinadas faixas etárias podem ter sua segmentação alongada em função das modificações sociais que estão acontecendo. Um exemplo disso pode ser a diferença na oferta de pacotes turísticos para casais com filhos (que deve agregar soluções para crianças, como parques, piscinas e recreações diversas) e para casais sem filhos (com oferta de produtos que contemplem a vida noturna, bares e boates). Observação Pacote de viagem é um tipo de produto criado e comercializado pelas operadoras de viagem. Um pacote de viagem é normalmente composto por transporte, hospedagem (geralmente com café da manhã), city tour e traslado. ○ 22 Unidade I Figura 13 – Ciclo de vida familiar Os fatores importantes para os dois grupos de pessoas terão diferenças não apenas pela idade (pois os dois casais podem ter a mesma faixa etária), mas de acordo com os ciclos de vida. Observa-se ainda, segundo dados do IBGE (s.d.), o aumento da expectativa de vida para homens (72 anos) e mulheres (79 anos). 80 anos ou mais 75 a 79 anos 70 a 74 anos 65 a 69 anos 60 a 64 anos 55 a 59 anos 50 a 54 anos 45 a 49 anos 40 a 44 anos 35 a 39 anos 30 a 34 anos 25 a 29 anos 20 a 24 anos 15 a 19 anos 10 a 14 anos 5 a 9 anos 0 a 4 anos 5% 5%4% 4%3% 3%2% 2%1% 1% Homens Mulheres Figura 14 – Distribuição etária da população brasileira Além de uma participação proporcional maior dentro da população brasileira, as pessoas estão chegando à terceira idade muito mais dispostas a viajar, pois se há quatro décadas o sonho de consumo das pessoas era se aposentar e passar o dia dormindo e descansando, agora essa mesma faixa etária quer aproveitar a vida e viajar o máximo de vezes possível. Isso evidencia, mais uma vez, a necessidade de valorizar e ampliar os roteiros voltados à terceira idade, que se destaca pela tendência de grande consumo em período de baixa temporada dos destinos 23 SEGMENTAÇÃO DE ROTEIROS TURÍSTICOS vocacionados aos turistas de lazer, o que permite reduzir a sazonalidade de muitos desses lugares e trazer receitas a agências e operadoras em períodos de menores vendas. O aumento da expectativa de vida, decorrente de progressos significativos na medicina, faz crescer também o contingente de pessoas que atingem os 60 anos com saúde e disposição, e se reúnem em grupo intitulados da terceira idade ou da melhor idade. Especialmente em países desenvolvidos, esses cidadãos recebem uma aposentadoria que lhes proporciona uma vida bastante confortável, permitindo-lhes gastar também com atividades de lazer e com viagens (ASTORINO apud BRAGA, 2008, p. 203). A qualidade de vida de quem está chegando aos 60 anos aumentou tanto que já é possível afirmar que uma pessoa dessa idade atualmente apresenta a mesma disposição de quem chegava aos 50 ou até mesmo aos 40 anos há três décadas. Essa questão é tão evidente que já existem estudos apontando a necessidade de se estabelecer uma nova categoria etária: a quarta idade, que seria composta por aqueles com mais de 80 anos. Figura 15 – Atividade de lazer praticada por turistas de terceira idade Mas mesmo com essa qualidade de vida e disposição, os roteiros elaborados para a terceira idade requerem, a exemplo do que ocorre com as crianças, de cuidados especiais. Entre esses cuidados, é válido ressaltar o cuidado requerido aos próprios destinos que costumam ou pretendem receber esse tipo de público. Esses lugares devem possuir placas de sinalização com letras maiores e estimular os restaurantes a fazerem o mesmo em seus respectivos cardápios. Há ainda a necessidade crescente de um número maior de vagas no estacionamento e rampas de acesso, especialmente em destinos turísticos muito visitados. Esses mesmos destinos, juntamente com os estabelecimentos comerciais, devem pensar na oferta de um número maior de assentos e poltronas que abriguem confortavelmente o público de terceira idade, o que deve ser aliado a um atendimento muito mais cuidadoso e paciente a esse público. Os roteiros voltados à terceira idade devem, por sua vez, ser mais curtos (no sentido de poucos lugares a serem visitados numa mesma programação) e pouco cansativos e ocorrerem por meio de 24 Unidade I estradas ou acessos com asfalto de qualidade (para evitar o desconforto de sobressaltos no veículo por conta de eventuais buracos existentes nas vias). Os ônibus utilizados no decorrer dos roteiros voltados ao público de terceira idade devem ter obrigatoriamente sanitários e ar-condicionado a bordo. Os guias acompanhantes contratados devem checar permanentemente a necessidade de hidratação e eventual utilização de algum tipo de medicamento, informação essa que precisa ser checada desde a inscrição do cliente ao roteiro. Figura 16 – Turistas de terceira idade Observação A contratação de funcionários mais velhos para atender os clientes de idade similar é uma tendência no Brasil que já é realidade em muitos destinos turísticos afamados, como Nova York e Orlando, nos Estados Unidos. Em pesquisa realizada pelo Sebrae (2012), identificou-se que 25,4% dos brasileiros na faixa etária acima de 60 anos pretendem viajar. Desse total, a maioria (59,9%) informou que deverá optar por destinos domésticos. Na hora de fazer turismo, os viajantes com mais de 60 anos têm optado por fazer o passeio acompanhados (84%) e apenas 15% disseram que deverão fazer a próxima viagem sozinhos. Ainda de acordo com o levantamento da Pasta, o avião continua sendo o principal meio de locomoção (76,3%), seguido de automóvel (16,8%) e ônibus (6,2%). Hotéis e pousadas (64,8%) são os meios de hospedagem favoritos, seguidos da casa de parentes e amigos (27%). Em relação ao gênero, observa-se um número crescente de mulheres que viajam a negócio, com sobrinhos e/ou desacompanhadas, o que tem exigido da cadeia produtiva a adequaçãoa esse público. 25 SEGMENTAÇÃO DE ROTEIROS TURÍSTICOS Figura 17 – Mulheres viajantes Outro público que tem crescido consideravelmente nos últimos anos são os casais sem filhos, algo que já ocorre há mais tempo em países economicamente mais desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França e Itália, onde os mais jovens não querem mais ter tantos ou até mesmo não querem filhos, em razão do aumento do custo de vida, o que reflete diretamente no custo para manter uma criança e nas mudanças culturais e sociais significativas resultantes do maior ingresso das mulheres no mercado de trabalho. As mulheres, que antes sonhavam em encontrar um marido ideal para lhe dar segurança financeira, “arregaçaram as mangas” e passaram a buscar essa segurança por conta própria, o que lhes permite conferir um maior orgulho próprio. Para a mulher de hoje, o que impera é a necessidade de estudar e obter uma profissão que lhe dê uma boa remuneração, para a partir de então pensar em casamento e filhos, mas quando isso ocorre, essa mulher já têm mais de 35 anos e não está tão motivada a ter filhos, até porque muitas delas não terão o tempo adequado para cuidar deles. O resultado de todo esse processo são famílias cada vez mais constituídas por um ou nenhum filho. Figura 18 – Casal sem filhos aprecia o pôr-do-sol 26 Unidade I Tendo em vista a diversidade e complexidade da segmentação a partir de base demográfica, apresentamos a seguir um quadro-resumo com exemplos relacionados ao mercado de turismo e os principais tipos de segmentos encontrados a partir dessa base de segmentação: Quadro 2 – Tipos de segmentos de base demográfica Tipos Exemplos/aplicações Idade (cronológica e psicológica) Disney (Estados Unidos/Japão) Europa cultural Gênero São Paulo (compras) – MulheresSão Paulo (eventos) – Homens Renda (real e desejada) Porto Seguro/BA Ilhas Maldivas/Taiti Escolaridade/geração Porto Seguro/BA Estados Unidos/Austrália/Inglaterra/Europa Ocupação Médicos (eventos) Lembrete A segmentação demográfica utiliza como base as características da população, como renda, idade, gênero, nível educacional e tipo de ocupação profissional. Segmentação psicográfica São os consumidores divididos de acordo com a forma de pensar ou agir. Observação O termo psico pode ser relacionado à ideia de mente ou espírito. Etimologicamente, a origem da palavra psico vem do grego psykhé, que numa livre tradução pode ser entendido como alma. Dentro dessa base de segmentação, podemos encontrar alguns perfis diferentes de turistas. Um deles é o turista alocêntrico, que se destaca por apresentar as seguintes características psicográficas: • são aventureiros; • são curiosos e buscam sempre novos lugares para conhecer; • tomam as decisões com maior impulso; 27 SEGMENTAÇÃO DE ROTEIROS TURÍSTICOS • estão dispostos a gastar um pouco mais; • gostam de atividades variadas; • não se incomodam em estar/viajar sozinhos. Já os turistas mesocêntricos apresentam um perfil psicográfico diferenciado em que se destacam as seguintes características: • perfil dependente de uma estrutura de visitação pronta; • são mais conservadores em relação à escolha do destino; • procuram localidades mais populares como destinos; • controlam mais os gastos; • preferem estar na companhia da família e de amigos. A distribuição da demanda classificada de acordo com o perfil psicográfico pode ser mais bem observada no gráfico da figura a seguir, elaborado por Plog (1987), cujo estudo foi mencionado na obra de Teobald (2006). Nesse gráfico observamos que a maior parte dos turistas é classificada como do tipo mesocêntrico, enquanto os alocêntricos e psicocêntricos são a minoria. Perfis psicológicos de turistas Modelo do PLOG N úm er o de tu ris ta s Alocêntrico Mesocêntrico Semipsicocêntrico PsicocêntricoSemi-alocêntrico Figura 19 – Tipos de turistas: base psicográfica De qualquer forma, a importância dos alocêntricos não deve ser descartada, pois tratam-se dos turistas que normalmente descobrem novos lugares e cujos relatos contagiantes motivam outras pessoas a conhecerem a destinação ou o novo produto relatado. Esses turistas devem ser vistos com muito carinho, pois são excepcionais garotos-propaganda de produtos, destinos ou novos serviços que querem aumentar seu nível de conhecimento e consumo. 28 Unidade I Figura 20 – A segmentação a partir da forma de pensar (psico) Segmentação comportamental São os consumidores divididos com base em seu conhecimento, atitudes ou resposta ao produto. Dentro desse critério, podemos levar em consideração a frequência de compras (light users ou high users), a época de compra (alta e baixa temporada, finais de semana ou feriados), as razões ou objetivos (racionais ou emocionais) ou ainda a forma de compra (à vista ou parcelada). Os administradores de marketing acreditam que as variáveis comportamentais são um dos melhores aspectos para se definir os segmentos de mercado, junto com a segmentação demográfica, dada a facilidade de se estudar, separar e interagir com o segmento proposto a partir da escolha desse critério. Figura 21 – Diferentes padrões de consumo para diferentes estilos de vida 29 SEGMENTAÇÃO DE ROTEIROS TURÍSTICOS Uma variável muito importante a ser observada em todas as bases para a segmentação do mercado é o critério de classe social e renda. O critério de classe social é definido pelo IBGE (2018) como: • Classe A: renda acima de 15 salários mínimos. • Classe B: renda de 5 a 15 salários mínimos. • Classe C: renda de 3 a 5 salários mínimos. • Classe D: renda de 1 a 3 salários mínimos. • Classe E: renda inferior a 1 salário mínimo. Ao identificar o nicho/segmento, podemos utilizar várias variáveis para estabelecer um determinado grupo de consumidores. Por exemplo: ciclo de vida x renda familiar ou bruta/classe social e nível escolar Então, vários segmentos são consolidados a partir do mapeamento das necessidades e interesses dos mais variados perfis de consumidores do turismo. Um exemplo dessa mistura de critérios no mercado de turismo pode ser encontrado no quadro a seguir, no qual são descritos alguns segmentos do trade turístico e empresas que atuam neles. As características, peculiaridades e desafios inerentes aos segmentos descritos serão detalhadas posteriormente. Quadro 3 – Segmentos do mercado turístico e empresas de atuação Segmento Empresas Ecoturismo Venturas Viagens Turismo de aventuras Pisa Trekking Turismo de alto poder aquisitivo Queensberry Viagens Turismo de massa CVC Turismo de esqui Interpoint Turismo rodoviário Pomptur Destino para formaturas Porto Seguro/BA Turismo de intercâmbio STB Turismo para singles Single Trips Roteiros gastronômicos Terramundi Turismo rural Circuito das Frutas/SP 30 Unidade I Lembrete A segmentação constitui na divisão de um mercado, ou seja, na formação de grupos de acordo com os seus interesses comuns. Segmentação significa dividir algo – objeto, coisa ou assunto – em segmento. 2.2 As estratégias de segmentação Para que a estratégia de segmentação tenha sucesso, torna-se imprescindível, ainda, identificar o público-alvo, determinar os objetivos da comunicação e elaborar mensagens cujos conteúdos influenciem o comportamento do receptor – no caso especifico, o consumidor/turista, pois devem, segundo Kotler e Armstrong (2003, p. 290-291), “atrair a atenção, manter o interesse, suscitar o desejo, induzir a ação”. Quando identificamos um nicho ou vários nichos, devemos considerar o comportamento de compra desse mercado-alvo. O mercado-produto deve, então, elencar uma série de questões que serão norteadoras para definir o público-alvo: 1. De onde vêm os turistas que visitam minha região (público atual)? 2. De quais regiões eu desejo atrair turistas (público potencial)? 3. Quais as demais regiões em que teríamos capacidade de atrair turistas? 4. Como atingir esses turistas? 5. Qual o clima da região de origem dos turistas (atual e potencial)?6. O meu público é composto majoritariamente por homens ou mulheres? 7. O meu público é solteiro, casais sem filhos, famílias etc.? 8. Qual a idade média de idade que desejo atrair? 9. Qual o nível de renda média que desejo atrair? 10. Quais as motivações de viagem dos turistas atuais e potenciais (descanso, conhecimento, praia, cultura, preço, interação entre a família)? 11. Esses turistas estão dispostos a conhecer novos produtos? 12. Eles viajam com frequência ou apenas em datas específicas? 31 SEGMENTAÇÃO DE ROTEIROS TURÍSTICOS 13. Qual a região emissora? 14. Em que tipo de experiência (tipos de turismo) esse turista está interessado? Para a segmentação ser realizada de forma correta e com sucesso mercadológico, é necessário que o segmento escolhido possua atributos e características corretas e eficientes. Entre essas características, destacam-se a mensurabilidade, a acessibilidade, a estabilidade e a significância, descritos a seguir: • mensurabilidade: segmento deve ser identificado – medido – definido; • acessibilidade: segmento precisa ser atingido por ações promocionais; • estabilidade: deve haver uma demanda constante para sustentar o negócio; • significância: deve possuir um número mínimo de interessados. Entre as possibilidades de segmentação, há de forma geral, três diferentes caminhos a seguir, que são a concentração em um único segmento, a especialização seletiva ou ainda a especialização por produtos, como será mais bem visto a seguir: • Concentração em único segmento: — menores custos e menor amplitude; — maior vulnerabilidade às variações do mercado. • Especialização seletiva: — empresa atua em diversos segmentos; — política de mercado diferenciada para cada segmento; — permite maior amplitude de mercado e proteção a mudanças de mercado. • Especialização por produtos: — empresas se especializam em produtos que podem ser vendidos em vários segmentos; — apresenta o risco do produto ser copiado ou ficar obsoleto. Entre esses caminhos citados, o mais recomendável é a especialização seletiva, que permite maior amplitude de mercado e menor vulnerabilidade sem deixar de atender de forma adequada ao segmento escolhido. 32 Unidade I Trata-se de uma estratégia utilizada por grandes empresas, como Unilever, Procter & Gamble e Grupo CVC Viagens, que determinam marcas diferentes para públicos diferentes com propostas de venda, preço, propaganda, oferta e atendimento específicos para cada marca. Em alguns casos, isso é tão bem feito que muitos consumidores não fazem ideia de que as diferentes marcas que conhecem ou têm contato sobre determinado mercado pertencem à mesma empresa. Essa estratégia protege as empresas das eventuais oscilações do mercado, pois se um segmento eventualmente diminuir, haverá outros segmentos para serem atendidos, ou seja, a empresa não morre quando um segmento morre. 2.3 Os desafios da segmentação de mercado Apesar de recomendável e desejável, é sempre válido lembrar que a estratégia de segmentação requer – muitas vezes – riscos e desafios, como os altos investimentos em pesquisas complexas, além de uma produção diferenciada e personalizada de material promocional, o que tende a aumentar o custo de produção por unidade produzida. Outra questão que pode incidir nos custos previstos é a necessidade de criar uma estratégia de marketing totalmente nova para atender ao segmento pretendido, que por muitas vezes apresenta características tão específicas e diferenciadas que nenhuma estratégia de marketing anteriormente elaborada, como pontos de venda ou utilização de canais de comunicação previamente contratado, pode ser aproveitada. Observação O marketing pode ser entendido como um conjunto de ações que visam obter lucro através da satisfação dos clientes e envolvem para isso produtos, preço, propaganda e forma de vendas adequados. Mas o maior dos riscos está na vulnerabilidade do mercado, o que pode ser ampliado pela excessiva segmentação/especialização e pode assim comprometer a empresa caso a demanda esperada não ocorra. Além disso, as mudanças econômicas e políticas podem destruir o negócio sem possibilidade de novos negócios e alternativas. Resumo Analisamos os dados apresentados pelo Ministério do Turismo com relação à importância econômica do turismo para o Brasil. Conhecemos quais são os dez países que mais enviam turistas para o Brasil e os principais motivos de viagens, isto é, o interesse desses viajantes em conhecer o Brasil e suas particularidades. 33 SEGMENTAÇÃO DE ROTEIROS TURÍSTICOS Com a descrição dos principais critérios utilizados para a segmentação de mercado, identificamos as principais áreas de atuação dos profissionais de turismo e a importância da cadeia produtiva. Embora a segmentação seja uma estratégia de mercado altamente recomendável para qualquer tipo de empresa, tendo em vista o aumento da competitividade e o aumento e diversificação das exigências e gostos dos clientes, é importante se atentar a cuidados para evitar riscos que comprometam o sucesso de suas ações. Por isso, uma das preocupações foi demonstrar quais são os principais caminhos a serem seguidos dentro da segmentação e quais os principais desafios envolvidos nessa decisão. A partir do mapeamento da oferta, demanda e mercado turístico, temos subsídios para entender melhor os segmentos existentes no mercado de turismo, assim como as técnicas utilizadas para melhor identificar o comportamento do consumidor e observar quais são os segmentos considerados emergentes. Exercícios Questão 1. Segmentação em turismo pode ser definida como: I – Oferta de produtos e serviços específicos. II – Oferta de produtos para públicos específicos. III – Oferta de produtos para pessoas diferentes, de forma a oferecer um pouco de várias opções e agradar segmentos diversos. Assinale a alternativa que apresenta a(s) afirmativa(s) correta(s): A) I, somente. B) II, somente. C) III, somente. D) I e II, somente. E) II e III, somente. Resposta correta: alternativa D. 34 Unidade I Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: a estratégia de segmentação consiste em oferta de produtos e serviços específicos para públicos específicos que possuem características em comum. II – Afirmativa correta. Justificativa: produtos e serviços específicos para públicos específicos são os elementos que definem a segmentação do turismo. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: oferecer produtos para pessoas diferentes de forma que elas tenham diversas opções em um mesmo roteiro turístico é uma prática comum, porém não pode ser definida como segmentação de turismo. Questão 2. Ao ministrar aulas para alunos do curso de Turismo, o professor Viaj Andão afirmou que a segmentação no turismo se destina principalmente à redução de custos, porque é possível colocar muitas pessoas em uma única atividade. Ele foi contestado pelo aluno Travel Ever, o qual afirmou que: I – Maior e mais complexa concorrência, consumidores mais exigentes e necessidade de diferenciação no mercado eram os principais fatores da segmentação. II – Turistas mais exigentes e possibilidade de significativa redução de custos tornaram a segmentação uma opção mais viável para ser praticada nos países de origem do turista. Assinale a alternativa correta: A) A afirmativa I está correta, somente. B) A afirmativa II está correta, somente. C) As afirmativas I e II estão corretas. D) As afirmativas I e II são complementares. E) A afirmativa II está correta e é decorrência de I. Resposta correta: alternativa A. 35 SEGMENTAÇÃO DE ROTEIROS TURÍSTICOS Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: alguns fatores são fundamentais para que a segmentação no turismo seja uma prática comum em nossos dias, entre elas: concorrência maior, mais complexa e mais difícil; turistas mais exigentes; mais valor aos produtos customizados; necessidade de diferenciação de mercado; diversificação de gostos e necessidades;e opção pela fidelização de clientes. O custo final ser mais barato não é um fator elencado como decisivo para o turismo de segmentação. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: as razões que explicam o mercado de segmentação em turismo são várias, mas não se concentram na redução de precificação para o consumidor final.