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FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que estão inseridos. Missão da Faculdade Católica Paulista Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO SUMÁRIO AULA 01 AULA 02 AULA 03 AULA 04 AULA 05 AULA 06 AULA 07 AULA 08 AULA 09 AULA 10 AULA 11 AULA 12 AULA 13 AULA 14 AULA 15 AULA 16 INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DO SOLO COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO TIPOS DE FUNDAÇÕES: RASAS E PROFUNDAS CAPACIDADE DE CARGA EM FUNDAÇÃO RASA DIMENSIONAMENTO DE FUNDAÇÃO RASA RECALQUE EM FUNDAÇÃO RASA PROVA DE CARGA EM PLACA CAPACIDADE DE CARGA EM FUNDAÇÃO PROFUNDA DIMENSIONAMENTO DE ESTACA RECALQUE EM FUNDAÇÃO POR ESTACA PROVA DE CARGA EM ESTACA DIMENSIONAMENTO DE TUBULÃO ESCOLHA DO TIPO DE FUNDAÇÃO PATOLOGIA DE FUNDAÇÃO REFORÇO DE FUNDAÇÃO 05 13 20 26 45 52 57 64 67 72 78 83 88 92 97 103 FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 4 INTRODUÇÃO Obras de fundação são vistas a todo momento. Com o aumento na quantidade de empreendimentos lançados, projetos adequados a essa expansão são cada vez mais necessários. Nessa contextualização, as fundações são consideradas a base fundamental para o sucesso de um empreendimento e seu projeto deve ser realizado de modo a garantir a segurança da estrutura. Nesse livro, portanto, os conceitos e práticas voltadas à execução adequada de fundações rasas e profundas serão abordados, com destaque para sapatas, estacas e tubulões. Da mesma forma, a caracterização do solo que receberá os elementos de fundação será executada se configura em uma etapa fundamental para o dimensionamento correto, sendo indispensável a determinação de parâmetros de resistência do mesmo por meio de ensaios de campo e da determinação da capacidade de suporte. Espera-se que o leitor faça uso da literatura básica indicada de modo a complementar os assuntos aqui abordados. Uma boa leitura a todos!! FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 AULA 1 INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA Os procedimentos mais comuns para investigar o solo para finalidade de fundações e obras geotécnicas são a abertura de poços de inspeção e a realização de ensaios de campo, como o SPT e o CPT, com suas variações. Cada ensaio apresenta características próprias de execução e resultados particulares que podem, e são empregados em projeto. 1.1 Poço de Inspeção Esse ensaio é definido pela NBR 9604/2016: Abertura de poço e trincheira de inspeção em solo, com retirada de amostras deformadas e indeformadas - Procedimento. O ensaio permite identificar as camadas de solo que se encontram acima do nível de água e retirar amostras deformadas e indeformadas com a finalidade de ensaios laboratoriais. 1.1.1 Retirada de Amostras Deformadas e Indeformadas De acordo com Almeida (2013), o procedimento para retirada de amostras deformadas e indeformadas ocorre segundo algumas etapas, importantes para se manter as características originais do solo, que são: • Limpeza do terreno e segurança do trabalho (atendendo-se os requisitos estabelecidos pela NR 18 do Ministério do Trabalho), por meio de sinalização visual e/ou sonora. • Execução de sulcos de drenagem. • Realização de escoramento quando a profundidade do furo ultrapassar 2,0 m. • Todo o solo retirado deve ser disposto ao redor do poço, de forma escalonada. • Na coleta de amostras deve-se identificar a profundidade de coleta das mesmas. • Ao se atingir o nível de água deve-se aguardar sua estabilização para aferição da profundidade do mesmo. • Em qualquer momento em que haja a necessidade de interrupção do ensaio, o poço deve ser coberto com lona e sinalizado e ao final dos trabalhos, o mesmo deve ser preenchido com solo. FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 Para a retirada de amostras deformadas, Almeida (2013) recomenda que toda amostra coletada deve ser armazenada em recipiente hermeticamente fechado de modo a preservar suas características originais. No caso das amostras indeformadas, os blocos de solo devem ser parafinados e cuidadosamente movimentados até seu local de destino, de modo que se preserve suas características e estrutura originais, fundamentais para o devido conhecimento de seus parâmetros de resistência de campo. Na imagem a seguir observa-se um exemplo de abertura de poço com retirada de amostra indeformada. Figura 01: Exemplo de abertura de poço de inspeção e coleta de amostra indeformada.Fonte: https://contech.eng.br/ 1.2 SPT O ensaio SPT, Sondagem à Percussão ou Sondagem de Simples Reconhecimento – SPT (Standard Penetration Test) é definido pela Norma NBR 6484/2020: Solo - Sondagem de simples reconhecimento com SPT - Método de ensaio. Essa sondagem é realizada em três etapas: https://contech.eng.br/ FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 I. perfuração. II. ensaio penetrométrico (penetração dinâmica). III. amostragem. As etapas I e II são alternadas enquanto a II e III são executadas simultaneamente, em cada metro da sondagem. A perfuração é feita com trado até encontrar o nível de água (N.A.) e com sistema de circulação de água abaixo do N.A., feito então a cravação com um equipamento chamado trépano. A amostragem é obtida com a cravação de um amostrador padronizado, bipartido, em 45 cm de cada metro. No ensaio penetrométrico conta-se o número de golpes para cravar cada 15 cm do amostrador, por meio de um peso de 65 kg, caindo de uma altura de 75 cm. Para cada metro de sondagem obtém-se uma amostra (deformada) e três “leituras” no ensaio penetrométrico (N1, N2 e N3). Com esses valores, define-se o índice de resistência à penetração como sendo a soma do número de golpes dos últimos 30 cm de penetração (despreza-se a primeira “leitura” que foi afetada pela etapa de perfuração, no caso, N1). Um aperfeiçoamento desse ensaio é o SPT-T, ensaio que inclui medidas de torque do amostrador a certa profundidade, definida em projeto. O equipamento empregado para realização do ensaio SPT e o esquema de ensaio podem ser visualizados nas Figuras 02, 03 e 04. Este ensaio foi realizado com retirada de amostra deformada por meio do amostrador padrão e a forma de contagem no valor de NSPT. Figura 02: Amostrador SPT bipartido com amostra deformada coletada. Fonte: http://www.dicionariogeotecnico.com.br/album/geotecnia/ensaios/spt/pages/image/imagepage17. html http://www.dicionariogeotecnico.com.br/album/geotecnia/ensaios/spt/pages/image/imagepage17.html http://www.dicionariogeotecnico.com.br/album/geotecnia/ensaios/spt/pages/image/imagepage17.html FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 Figura 03: Esquema do ensaio SPT. Fonte: Schnaid et al. (2006) Figura 04: Esquema de Contagem no NSPT. Fonte: Rodrigues (2012) FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 Isto está na rede “O ensaio SPT-T trouxe a possibilidade de obtenção de um parâmetro importante para o cálculo de fundações de maneira simples e barata. Desde então, vários pesquisadores vêm incentivando sua utilização na prática da engenharia de fundações.” Leia a tese “ESTUDO DO ENSAIO SPT-T E SUA APLICAÇÃONA PRÁTICA DE ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES” e aprofunde seus conhecimentos da prática na engenharia de fundação. A tese pode ser acessada no seguinte link: http://repositorio.unicamp.br/bitstream/ REPOSIP/257654/1/Peixoto_AnnaSilviaPalcheco_D.pdf 1.3 CPT O Ensaio de Penetração Estática ou Ensaio de Cone – CPT (Cone Penetration Test) era definido pela NBR 12069 – Ensaio de penetração de cone in situ (CPT), que atualmente encontra-se cancelada. Este ensaio ainda é definido pelas Normas ASTM D-5778-95: “Standard Test Method for Performing Eletronic Friction Cone and Piezocone Testing of Soils”, ASTM D-3441- 95: “Standard Test Method for Deep, Quasi-Static, Cone and Friction-Cone Penetration Tests of Soils” e EN ISO-22476-1: Electrical cone and piezocone penetration tests. O ensaio consiste na penetração estática por meio de prensagem de uma ponteira cônica, com a obtenção das parcelas de resistência de ponta (qc) e por atrito lateral (fc). A cada 20 cm de profundidade, primeiramente o dispositivo faz penetrar apenas o cone, em 4 cm, registrando o valor da força (F1), que dividida pela área da ponta (10 cm²) resulta em qc. Depois, por outros 4 cm, faz a penetração do cone mais a luva, registrando-se a força total (F2), que subtraída de F1 e dividida pela área da superfície lateral da luva (150 cm²), resulta em fc, o atrito lateral local. Por último, o conjunto todo é prensado por mais 12 cm, completando-se o ciclo e obtendo a força total (F3), que inclui a resistência de ponta e o atrito lateral total de todo o trecho enterrado. Esses procedimentos são repetidos, com a inclusão de novas hastes de 1,0 m de comprimento, até a cota final de ensaio, obtendo-se uma medida das duas parcelas de resistência, a cada 20 cm de profundidade. A razão entre os valores de fc e qc, em cada profundidade, denominada relação de atrito (Rf) é utilizada para determinar o tipo de solo por meio de correlações empíricas. Um aperfeiçoamento desse ensaio é o piezocone, ou CPT-u, que inclui o monitoramento das pressões neutras atuantes no processo de penetração. http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/257654/1/Peixoto_AnnaSilviaPalcheco_D.pdf http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/257654/1/Peixoto_AnnaSilviaPalcheco_D.pdf FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 O equipamento para realização do ensaio CPT pode ser visualizado nas Figuras 05 e 06. Figura 05: Equipamento para realização do ensaio CPT e cones utilizados para o ensaio. Fonte: http://www.ecdambiental.com.br/ Figura 06: Ponteira cônica usada no ensaio CPT. Fonte: www.damascopenna.com.br 1.4 Ensaio de Palheta O Vane Test, ou Ensaio de Palheta é realizada para se determinar a resistência ao cisalhamento em argilas moles saturadas sob carregamentos não drenados (Su). http://www.ecdambiental.com.br/ http://www.damascopenna.com.br FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 Este teste é normatizado pela ABNT NBR 10905/1989 (Solo - Ensaios de palheta in situ - Método de ensaio) e ASTM D2573, e é caracterizado pela cravação estática de uma palheta em formato de cruz, inserida até a posição desejada para a execução do ensaio. Após posicionar a ponteira, um torque deve ser aplicado por meio da unidade de medição com velocidade angular igual a 6 graus/minuto. A obtenção do máximo valor de torque permite caracterizar a resistência não drenada do solo quando em condições de solo natural indeformado (DAMASCO PENNA, 2021). Na sequência, deve-se girar a palheta rapidamente por 10 vezes consecutivas, isto é realizado para que a resistência não-drenada seja obtida em solos na condição de “amolgado” e permitindo avaliar a sensibilidade da estrutura de formação natural do depósito argiloso (DAMASCO PENNA, 2021). Um esquema da execução do Vane Test é mostrado na Figura 07. Figura 07: Esquema do Ensaio de Palheta. Fonte: Budhu (2017) 1.5 Ensaio Pressiométrico O equipamento para realização do ensaio pressiométrico foi desenvolvido pelo engenheiro Louis Ménard na França, durante a década de 50, e é conhecido como pressiômetro do tipo FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 Ménard (PMT), consistindo em um dispositivo com membrana expansível para medição da resistência, rigidez e tensões “in situ” do solo (DAMASCO PENNA, 2021). O ensaio é padronizado pelas normas ISO 22476-4/2012 (Geotechnical investigation and testing - Field testing - Part 4: Ménard pressuremeter test) e ASTM D4719-07 e é realizado com a inserção da sonda pressiométrica em pré-furo com diâmetro ligeiramente maior do que o da sonda. A pressão aplicada e a expansão de volume da sonda do equipamento (sonda essa que é flexível) são medidas e registradas em um sistema de coleta de dados, obtendo-se desse modo a relação tensão-deformação da camada prospectada (DAMASCO PENNA, 2021). Um esquema do equipamento para execução do ensaio pressiométrico é demonstrado na Figura 08. Figura 08: Ensaio pressiométrico tipo Ménard. Fonte: Massad (2010) FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 AULA 2 RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DO SOLO Um carregamento externo aplicado na superfície ou a própria geometria da superfície da massa de solo e suas características relacionadas aos índices físicos contribui para o desenvolvimento de tensões tangenciais ou de cisalhamento, que podem chegar a valores limítrofes de tensão cisalhante (FSP, 2013). A ruptura de um solo ocorre por cisalhamento ao longo de uma superfície conhecida. Essa linha de ruptura ocorre, preferencialmente, em regiões com alterações bruscas das características do solo. O cisalhamento relaciona, ao longo da superfície, a tensão normal ou tensão de compressão (σ) e a tensão tangencial, também conhecida como tensão de cisalhamento (τ). Qualquer problema de ruptura em Mecânica dos Solos envolve, portanto, uma superfície de ruptura, a qual poderá ser definida a priori como aquela onde, em todos os seus pontos, a tensão de cisalhamento atinge o valor limite da resistência ao cisalhamento do solo (FSP, 2013, p.16). Um esquema da zona de cisalhamento em um solo é visualizado na Figura 09. Figura 09: Zona fraca, zona cisalhada e superfície de cisalhamento. Fonte: Leroueil (2001) FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 A teoria envolvendo a resistência do solo baseia-se em condições de ruptura generalizada iminente, ou seja, considera-se, no instante da ruptura, que não ocorrem deformações, isto é, o solo rompe bruscamente. O fator de segurança (F ou FS) contra a ruptura é calculado como a razão entre as forças resistentes e as forças atuantes. As forças resistentes dependem dos parâmetros de resistência do solo (coesão e ângulo de atrito interno do solo). 2.1 Ângulo de Atrito Interno do Solo O ângulo de atrito interno do solo é obtido a partir da interação entre partículas sólidas por meio de uma área de contato. “A parcela da resistência devido ao atrito pode ser simplificadamente demonstrada pela analogia com o problema de deslizamento de um corpo sobre uma superfície plana horizontal” (FSP, 2013, p.170). A resistência ao deslizamento do solo (τ) é proporcional à força normal aplicada (N): τ = N.f Em que “f” é o coeficiente de atrito entre os dois materiais. Para partículas de solo, essa relação é expressa por: τ = σ .tg.Φ Em que “φ” é o ângulo de atrito interno do solo, “σ” é a tensão normal e “τ” a tensão de cisalhamento. “Nos materiais granulares (areias), constituídas de grãos isolados e independentes, o atrito é um misto de escorregamento (deslizamento) e de rolamento, afetado fundamentalmente pela entrosagem ou embricamento dos grãos” (BARATA, 1984). 2.2 Coesão A resistência ao cisalhamento do solo ocorre essencialmente devido ao atrito interno entre as partículas sólidas. Entretanto, a atração química entre partículas, particularmente em estruturasfloculadas e a cimentação dessas partículas (principalmente em argilominerais) podem provocar a existência de uma coesão real. FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 De acordo com Vargas (1977), a coesão pode ser entendida como a resistência que a fração argilosa cede ao solo como um todo e pela qual ele se torna coeso em forma de torrões ou blocos. A coesão é observada em solos muito finos (siltes e argilas). 2.3 Círculo de Mohr O estado de tensões do solo pode ser representado graficamente por um sistema de coordenadas O gráfico é realizado em função das tensões normais (σ) e das tensões de cisalhamento (τ). A partir dos valores de σ1 e σ3 (tensão principal e tensão de confinamento ou secundária) traça-se o círculo de Mohr. “Qualquer linha reta traçada através do polo ou origem dos planos (ponto P) interseccionará o círculo em um ponto que representa as tensões sobre um plano inclinado de mesma direção desta linha” (FSP, 2013, p.167). A representação do estado de tensões para um elemento de solo em um determinado plano é mostrada na Figura 10. Figura 10: Representação do estado de tensões por meio do círculo de Mohr. Fonte: http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17430/material/GEO_ II_09_Estados%20de%20Tensao%20e%20Criterios%20de%20ruptura.pdf 2.4 Ensaios de Resistência Para determinação dos parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo, os principais ensaios são: ensaio de cisalhamento direto, ensaio de compressão triaxial e ensaio de compressão simples. http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17430/material/GEO_II_09_Estados%20de%20Tensao%20e%20Criterios%20de%20ruptura.pdf http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17430/material/GEO_II_09_Estados%20de%20Tensao%20e%20Criterios%20de%20ruptura.pdf FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 2.4.1 Ensaio de Cisalhamento Direto O ensaio de cisalhamento direto é executado em uma caixa metálica bipartida na qual a metade superior do corpo de prova desliza sobre a parte inferior. O corpo de prova é inicialmente comprimido por uma força normal “N”, seguida da aplicação de uma força cisalhante “T”. Para cada valor de tensão normal aplicada (força N, resultando na tensão σ = N/A), obtém- se um valor de tensão de cisalhamento (força T, resultando na tensão τ = Tcis/A). O ensaio de cisalhamento direto é sempre drenado, devendo ser executado lentamente para impedir o estabelecimento de pressões neutras nos poros da amostra, particularmente quando se trata de solos que possuam partículas finas. A condição drenada implica a total dissipação de pressão neutra durante o cisalhamento do corpo de prova. Nas areias, por exemplo, devido à alta permeabilidade, isto ocorre de forma imediata. Em solos argilosos, entretanto, é necessário reduzir a velocidade de deformação para aumentar o tempo de ensaio e permitir a dissipação de pressão neutra (FSP, 2013). O principal problema do ensaio em si é a imposição de uma superfície de ruptura, horizontal. O solo rompe ao longo do plano horizontal já estabelecido pela caixa bipartida e não sob o plano mais frágil. As principais vantagens do ensaio são a simplicidade de operação, facilidade de moldagem das amostras e o baixo custo de execução. Na imagem é apresentado um esquema do ensaio e do corpo de prova na caixa bipartida. Figura 11: Esquema do ensaio de Cisalhamento Direto. Fonte: https://engcivil20142.files.wordpress.com/2017/02/notas-de-aulas-parte-9-mec-solos-ii.pdf https://engcivil20142.files.wordpress.com/2017/02/notas-de-aulas-parte-9-mec-solos-ii.pdf FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 2.4.2 Ensaio de Compressão Triaxial O ensaio de compressão triaxial é o mais completo para a determinação da resistência ao cisalhamento do solo. O equipamento consiste de uma câmara cilíndrica transparente posicionada sobre uma base de alumínio, onde é colocado um corpo de prova cilíndrico revestido por uma membrana de borracha impermeável sob um pedestal, através do qual há uma ligação com a base da célula. Entre o pedestal e a amostra utiliza-se uma pedra porosa para facilitar a drenagem. A câmara, durante a realização do ensaio, é, então, preenchida com água, cuja finalidade é transmitir pressão à amostra a partir da pressão neutra, originando o valor conhecido como σ3 ou tensão de confinamento (FSP, 2013). O ensaio de compressão triaxial é executado em duas etapas, iniciando com a aplicação da tensão de confinamento (σc) e finalizando com a tensão desviadora (σd). A princípio, o corpo de prova é submetido a uma tensão confinante (σc), dada por uma solicitação isotrópica de tensão devido à pressão neutra aplicada. A seguir, aplica-se um incremento de tensão desviadora (Δσd) até a ruptura da amostra. Na figura a seguir é apresentado o esquema do ensaio de Compressão Triaxial. Figura 12: Esquema do ensaio de Compressão Triaxial. Fonte: https://engcivil20142.files.wordpress.com/2017/02/notas-de-aulas-parte-9-mec-solos-ii.pdf Existem três formas clássicas de se realizar o ensaio triaxial, conforme as condições de drenagem permitidas em cada etapa do ensaio. https://engcivil20142.files.wordpress.com/2017/02/notas-de-aulas-parte-9-mec-solos-ii.pdf FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 Ensaio adensado drenado (CD) - consolidated drained, ou ensaio S (Slow – lento): Neste ensaio ocorre a drenagem do corpo de prova ao longo de todo o processo. Desta forma, a pressão neutra durante o carregamento é zero e as tensões medidas são dadas em termos de tensões efetivas. É o ensaio mais empregado para determinação de resistência ao cisalhamento em areias. Ensaio adensado não drenado (CU) - consolidated undrained, ou ensaio R (rapid - rápido - pré-adensado): Nesse ensaio, a drenagem ocorre somente durante a aplicação da tensão confinante. Durante o carregamento, ou aplicação da tensão desviadora, fecham-se os registros de drenagem até a ruptura do corpo de prova. São medidas as tensões totais (σ) e as tensões efetivas pela equação: σ’ = σ – u. Ensaio não adensado não drenado (UU) - unconsolidated undrained, ou ensaio Q (quick - rápido): Neste ensaio aplicam-se a tensão confinante e o carregamento axial até a ruptura do corpo de prova sem permitir a drenagem em qualquer etapa. 2.4.3 Ensaio de Compressão Simples O ensaio de Compressão simples é um caso particular do ensaio de compressão triaxial de ruptura não drenada, semelhante ao que ocorre nos ensaios de compressão triaxial não drenados ou rápidos. A tensão confinante é a pressão atmosférica, ou seja, σ3 = 0. O valor da tensão principal na ruptura, σ1, recebe o nome de resistência à compressão simples ou Rc. Na figura a seguir é apresentada superfície de ruptura do corpo de prova de um ensaio de Compressão Simples. FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 Figura 13: Exemplo de ruptura de corpo de prova após realização do ensaio de Compressão Simples. Fonte: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/12459/12459_9.PDF https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/12459/12459_9.PDF FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 AULA 3 COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO Entende-se por recalque as deformações volumétricas que ocorrem no solo em decorrência da expulsão de ar e água dos poros. O recalque, de modo geral, pode ser diferenciado em recalque primário e recalque por compressão secundária. Recalque primário: alteração volumétrica de solos saturados e não saturados pela aplicação de carregamento com consequente expulsão de ar e água dos vazios do solo. É expresso pela seguinte equação: Em que: ΔH: recalque da camada analisada. Δe: variação do índice de vazios. e0: índice de vazios inicial do solo. H: altura inicial da camada analisada. Recalque por compressão secundária:observado em solos argilosos saturados como resultado do ajuste de deformações plásticas ou residuais do solo. É uma forma adicional de compressão que ocorre sob tensão efetiva constante. Comum em solo argiloso saturado, ocorrendo devido à expulsão da água dos poros. 3.1 Compressibilidade As deformações que ocorrem no solo não dependem somente da carga aplicada, mas também da compressibilidade do solo e de fatores relacionados aos índices físicos do mesmo. Dessa forma, pode-se classificar as deformações em: FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 Elásticas: quando estas são proporcionais ao estado de tensão e atendem à Lei de Hooke para deformações (σ = E.ԑ, em que E = módulo de Elasticidade ou módulo de Young é constante e característico do material). Plásticas: associadas a variações volumétricas permanentes. Essas deformações são também conhecidas como deformações permanentes. Viscosas: também chamadas de fluência, são aquelas que evoluem com o tempo sob um estado de tensão constante, isto é, o solo se deforma continuamente. Considerando-se o solo um sistema trifásico, composto de partículas sólidas (minerais), ar (incluído o vapor de água) e água (livre, adsorvida e absorvida) nos seus vazios, as deformações que ocorrem no solo como um todo podem estar associadas à: • Deformação dos grãos. • Compressão da água presente nos vazios (no caso de solo saturado). • Variação do volume de vazios, devido ao deslocamento das partículas. A magnitude dos carregamentos aplicados às camadas de solo não é suficiente para promover deformações das partículas sólidas. A água, por sua vez, sendo incompressível, se movimenta sob a aplicação de carga, variando o volume de vazios do solo, e consequentemente, seu índice de vazios. Dessa forma, as deformações do solo ocorrerão, majoritariamente, pela variação de volume de vazios. Somente para casos em que os níveis de tensão são muito elevados, a deformação total do solo pode ser acrescida da variação de volume dos grãos. É indispensável em qualquer obra de engenharia que se conheça o solo em que a obra será executada, de modo que a partir de suas características de compressibilidade seja possível prever as deformações que ocorrerão e decidir sobre a fundação adequada a ser adotada. Conhecida as características do solo, torna-se necessário conhecer a distribuição de tensões que ocorre no mesmo e determinar os parâmetros de resistência por meio dos ensaios de laboratório. FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 3.1.1 Fatores que Influenciam a Compressibilidade Diversos são os fatores que afetam diretamente as características de compressibilidade dos solos. Tipo de Solo A forma de interação entre as partículas finas é diferente da que ocorre com partículas granulares. Tratando-se de solos granulares (areias, por exemplo), os esforços são transmitidos por contato entre os grãos. Já para solos finos (argilas e siltes plásticos), além do contato entre as partículas, existe uma ligação elétrica característica dos argilominerais, decorrente da camada dupla do mineral. Por essa razão, a “compressibilidade dos solos argilosos é superior à dos solos arenosos, pois a camada dupla lubrifica o contato e, portanto, facilita o deslocamento relativo entre partículas” (UNIP, 2021). Estrutura dos Solos Quanto à estrutura do solo, sua compacidade ou consistência também afeta diretamente o comportamento de compressibilidade. Isso significa que quanto maior o índice de vazios, maior será a compressibilidade do solo. Para realização dos ensaios de laboratório com a finalidade de determinação de parâmetros de compressibilidade, para estruturas floculadas (argilas e siltes), devido ao arranjo dessas partículas, usualmente utilizam-se amostras indeformadas. Já para solos granulares, é comum a adoção de corpos de prova moldados com amostras deformadas compactadas até se atingir o índice de vazios de campo (UNIP, 2021). Grau de Saturação No caso de solos saturados, a variação de volume ocorre por uma variação de volume de água contida nos vazios. Quanto maior o tamanho do grão, mais facilmente essa água será expulsa dos vazios. Dessa forma, no momento da aplicação de carga no solo, a tensão é transferida para a água, que sendo incompressível, se movimenta pelos poros até ser expulsa dos vazios. Para solos finos, essa expulsão ocorre de forma mais lenta. FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 No caso de solos não saturados, em que o Grau de Saturação encontra-se na faixa entre 0 a 100%, o comportamento se altera. Como o ar, presente nos vazios, é compressível, antes de ser expulso, ele será comprimido, não ocasionando deformações consideráveis à princípio (UNIP, 2021). 3.1.2 Curva de Compressibilidade A curva de compressibilidade ou curva edométrica é realizada com dados obtidos pelo ensaio conhecido como edométrico ou oedométrico. Esse ensaio consiste na aplicação de carga em corpo de prova cilíndrico saturado com medição das deformações axiais. Existe, ainda, a possibilidade de realização do ensaio com o corpo de prova não saturado, por meio de imposição de pressão de ar em câmara fechada. A curva de compressão confinada (compressão edométrica) abrange um extenso intervalo de tensões, que são definidos considerando-se as tensões previstas aplicadas em campo. Por isso, a curva retrata várias situações de carregamento em apenas um único ensaio. Desta curva obtém-se inclinações da curva e-log’, denominadas Cc (índice de compressão), Cr (índice de recompressão) e Ce (índice de expansão) e também a σ’ad (tensão de pré- adensamento ou tensão de sobreadensamento). Os índices de compressão, recompressão e expansão são utilizados diretamente nas equações de deformação. A tensão de pré-adensamento está relacionada ao histórico de tensões do solo e corresponde ao valor de tensão a partir do qual o solo principia a comprimir-se ao longo da reta virgem, causando deformações permanentes (ou deformações plásticas). 3.2 Adensamento O adensamento é caracterizado pela variação de volume que ocorre em solos argilosos saturados devido à expulsão de água dos vazios. É também conhecido como compressão secundária, devido ao extenso tempo necessário para que ocorra. Tal variação de volume é consequência de mudanças das tensões efetivas atuantes no maciço, que ocorre devido à movimentação da água nos vazios do solo. Um dos exemplos mais clássicos de deformações por adensamento é o que ocorreu nos prédios na cidade de Santos/SP, conforme apresentado na figura a seguir. FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 Figura 14: Exemplo de adensamento do solo que ocorreu em Santos/SP. Fonte: https://www.geosensori.com.br/2019/05/16/um-alerta-para-o-recalque-nas-fundacoes-das- edificacoes/ Na época em que os grandes edifícios da orla foram construídos, década de 50 e 60, as fundações adotadas foram as superficiais, pois acreditava-se que o solo em superfície resistiria às tensões impostas. Observa-se, pela imagem anterior, que existem aproximadamente 12 metros de camada de areia, que se encontrava compactada no momento da obra. O que não se previu, entretanto, era que abaixo dessa camada compactada de areia existia uma extensa camada de argila orgânica, altamente compressível, que viria a se deformar com o acréscimo de tensão gerado pelos edifícios. Dessa forma, no momento em que os edifícios começaram a ser erguidos e devido à interferência nos bulbos de tensão, as deformações relativas começaram a ocorrer, gerando as inclinações conhecidas. A solução adotada para estabilizar os edifícios foi a execução de fundação profunda apoiada em fragmentos de rocha, a aproximadamente 50 metros de profundidade. https://www.geosensori.com.br/2019/05/16/um-alerta-para-o-recalque-nas-fundacoes-das-edificacoes/ https://www.geosensori.com.br/2019/05/16/um-alerta-para-o-recalque-nas-fundacoes-das-edificacoes/FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 Os prédios de Santos não são o único caso de deformações por adensamento. A Cidade do México é outro caso clássico, que é apresentado no artigo a seguir. Isto está na rede Você sabia que a cidade do México afunda de 8 a 12 centímetro por ano?? Leia o artigo e entenda o que acontece: https://www.uol.com.br/tilt/ultimas-noticias/ efe/2018/08/30/cidade-do-mexico-afunda-de-8-a-12-centimetros https://www.uol.com.br/tilt/ultimas-noticias/efe/2018/08/30/cidade-do-mexico-afunda-de-8-a-12-centimetros-por-ano-segundo-universidade.htm https://www.uol.com.br/tilt/ultimas-noticias/efe/2018/08/30/cidade-do-mexico-afunda-de-8-a-12-centimetros-por-ano-segundo-universidade.htm FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 AULA 4 TIPOS DE FUNDAÇÕES: RASAS E PROFUNDAS As fundações podem ser classificadas em rasas e profundas, sendo as fundações rasas ou superficiais aquelas que são assentes diretamente no solo enquanto que as profundas são utilizadas com maior profundidade. De acordo com a NBR 6122/2019, a fundação profunda é o elemento de fundação que transmite a carga ao terreno pela base e pelo fuste e deve ter profundidade superior ao dobro da sua menor dimensão em planta ou, no mínimo, 3 metros de profundidade. Outra forma de caracterização dos tipos de fundação dita sobre o caráter de forma de distribuição de carga no solo: fundação direta e indireta. Trata-se de fundação direta aquela cuja base distribui a maior parte de sua carga, enquanto a fundação indireta aquela cuja carga é distribuída tanto pela base quanto pelo fuste. Sapatas e tubulões podem ser considerados fundações diretas, enquanto que estacas são consideradas fundações indiretas. 4.1 Fundação Rasa Fundações rasas são elementos de fundação em que as cargas são distribuídas no terreno pela base e que possuem profundidade menor que duas vezes sua menor dimensão. As fundações rasas são divididas em sapatas, vigas de fundação ou vigas baldrame, radier e bloco de fundação. 4.1.1 Sapata Sapatas são elemento de fundação superficial de concreto armado, dimensionado de modo que as tensões de tração nele produzidas não sejam resistidas pelo concreto, mas sim pelo emprego da armadura. Sua base pode apresentar as formas quadrada, retangular ou trapezoidal (NBR 6122, 2019). FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 As sapatas podem ser classificadas, ainda, como sapatas isoladas, sapatas associadas, sapatas corridas e sapatas excêntricas. As sapatas de pilares de divisa são conhecidas como excêntricas, o que exige a inclusão de uma viga alavanca vinculada a um pilar central próximo, para se obter o equilíbrio na estrutura. Na figura a seguir é apresentada a execução de uma sapata isolada, já posicionada a armadura. Figura 15: Sapata isolada sendo executada. Fonte: https://www.rrarquiteturaereforma.com.br/single-post/2016/10/10/empresa-fundacao-superficial-sapata-brasilia 4.1.2 Radier Radier é um elemento de fundação superficial que abrange todos os pilares da obra ou carregamentos distribuídos (NBR 6122, 2019). Portanto, quando a soma das cargas da estrutura dividida pela tensão admissível do terreno exceder 70% da área a ser edificada, é aconselhável reunir as sapatas em um único elemento de fundação, chamado de radier. O radier é empregado quando o terreno possui baixa resistência, mas apresenta camada espessa de solo. Na figura a seguir é apresentada a execução da laje armada conhecida como radier. https://www.rrarquiteturaereforma.com.br/single-post/2016/10/10/empresa-fundacao-superficial-sapata-brasilia FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 Figura 16: Fundação do tipo radier sendo executada. Fonte: http://www.acoplano.com.br/blog/o-que-e-fundacao-radier/ 4.1.3 Viga Baldrame Viga de fundação ou viga baldrame é o elemento de fundação superficial que é comum a vários pilares, cujos centros, em planta, estejam situados no mesmo alinhamento (NBR 6122, 2019). Trata-se de fundação corrida sobre terreno superficial resistente. Na figura a seguir é apresentada vigas baldrame de uma edificação já executada. Figura 17: Vigas baldrames já executadas. Fonte: https://jprodriguesengenharia.com.br/vigas-baldrames/ http://www.acoplano.com.br/blog/o-que-e-fundacao-radier/ https://jprodriguesengenharia.com.br/vigas-baldrames/ FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 4.1.4 Bloco de Fundação Bloco de fundação é um elemento de fundação superficial de concreto, dimensionado de modo que as tensões de tração nele produzidas possam ser resistidas pelo concreto, sem necessidade de armadura. Pode ter suas faces verticais, inclinadas ou escalonadas e apresentar normalmente em planta seção quadrada ou retangular (NBR 6122, 2019). É importante não confundir o bloco de fundação com o bloco de transição. O bloco de transição é utilizado para transferir as cargas provindas da superestrutura para a fundação, enquanto que o bloco de fundação por si só é o elemento de fundação. 4.2 Fundação Profunda As fundações profundas são elementos que transmitem as cargas ao terreno pela base e pelo fuste (resistência de ponta e lateral), cuja profundidade de assentamento deve ser superior a duas vezes sua menor dimensão em planta, ou pelo menos 3 metros de profundidade. As fundações profundas podem ser divididas em tubulões, estacas e caixões. Serão apresentados nos tópicos seguintes características de estacas e tubulões que são as fundações profundas mais utilizadas. 4.2.1 Tubulão Tubulão é um elemento de fundação, cilíndrico, em que há a descida de operário. Pode ser executado a céu aberto ou sob ar comprimido e ter ou não sua base alargada. Pode ser executado com ou sem revestimento (NBR 6122, 2019). 4.2.1.1 Tubulão à Céu Aberto O tubulão a céu aberto pode ser escavado manualmente, utilizando um sarilho, ou mecanicamente, com um trado, restando apenas o alargamento da base como operação manual (TSUHA e CINTRA, 2021), que atualmente pode ser feito de forma mecanizada. O tubulão a céu aberto geralmente é escavado sem revestimento, quando o solo apresenta boas características de resistência, como é o caso de solo coesivo. O diâmetro mínimo do fuste é de 0,70 m para escavação manual e até 0,50 m para escavação mecânica. Essas medidas podem ser alteradas para valores superiores, nunca para FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 valores inferiores, conforme exigência da NR 18 do Ministério do Trabalho. A profundidade máxima é limitada pelo nível de água (NA). Pela simplicidade de execução, menor custo e adequabilidade ao perfil do subsolo, a fundação por tubulões a céu aberto é a mais empregada nos edifícios residenciais. Na figura a seguir é apresentado um esquema de execução de tubulão a céu aberto. Figura 18: Esquema de execução de Tubulão à Céu Aberto. Fonte: https://www.escolaengenharia.com.br/tubulao-a-ceu-aberto/ 4.2.1.2 Tubulão Pneumático Com utilização de ar comprimido, a escavação abaixo do NA é feita manualmente e a seco. O fuste, obrigatoriamente, tem revestimento metálico ou de concreto moldado in loco. Na superfície, o fuste é coberto por uma campânula, que abriga o sarilho. A campânula é provida de dois cachimbos: uma para saída do solo escavado e outro para a concretagem. As condições de trabalho sob ar comprimido são difíceis. Quanto maior a pressão, menor o período de trabalho de cada operário (TSUHA; CINTRA, 2021). De acordo com a NBR 6122 (2019), a máxima pressão de serviço deve ser de 0,15 MPa. Pressões superiores só podem ser empregadas em situações muito particulares. Para iniciar um novo período, o operário deve passar por uma pressurização lenta, na campânula, até equilibrar com a pressão do fuste. No término, a despressurização é que deve ser lenta. Descuidos nessas etapaspodem provocar embolia e levar o trabalhador à morte. Na figura a seguir é apresentado o esquema de execução do tubulão pneumático. https://www.escolaengenharia.com.br/tubulao-a-ceu-aberto/ FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 Figura 19: Esquema de execução de Tubulão Pneumático. Fonte: https://www.vwffundacoes.com.br/fundacoes-profundas-tubuloes 4.2.2 Estaca Estaca é o elemento de fundação profunda executado inteiramente por equipamentos ou ferramentas, sem que, em qualquer fase de sua execução, haja descida de operário. Os materiais empregados podem ser: madeira, aço, concreto pré-moldado, concreto moldado in situ ou mistos (NBR 6122, 2019). As estacas geralmente são empregadas em grupo por pilar, exigindo a concretagem de um bloco de capeamento ou bloco de transição, que faz a transferência de carga do pilar para o grupo de estacas. Três grandes famílias de estacas podem ser caracterizadas: as cravadas, as escavadas e as estacas especiais. 4.2.2.1 Estaca Cravada Estacas cravadas são um tipo de fundação profunda em que a própria estaca é introduzida no terreno por meio de golpes de martelo, podendo ocorrer por gravidade, por explosão, vapor, ar comprimido ou vibratório. Existe, ainda, a possibilidade dessa cravação ser feita por meio de prensagem, com o auxílio de macaco hidráulico. As estacas cravadas podem ser de concreto pré-moldado, perfil metálico ou madeira. https://www.vwffundacoes.com.br/fundacoes-profundas-tubuloes FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 De acordo com Tsuha e Cintra (2021), as estacas cravadas são pré-fabricadas, em diferentes diâmetros e formatos, e transportadas para o canteiro de obras, onde são cravadas por um equipamento denominado bate-estacas. Através de um martelo, caindo de uma altura fixa, aplicam-se golpes na cabeça da estaca para a sua cravação no terreno. O peso do martelo deve ser pelo menos igual ao peso da estaca e a altura de queda tal que não resulte uma energia excessiva, o que causaria a quebra da estaca. A cabeça da estaca é protegida por um capacete, para amortecer o impacto do martelo na estaca e evitar danos à estrutura do elemento. A estaca é cravada até atingir a néga que normalmente é especificada de 10 a 20 mm para 10 golpes ao final da cravação, para uma determinada energia de cravação (altura de queda vezes o peso do martelo). Caso a néga resulte superior ao valor especificado, deve-se prosseguir a cravação. Estacas Pré-moldada de Concreto As estacas de concreto pré-moldada têm seção quadrada ou circular, podendo ser vazada ou cheia. O concreto empregado pode ser vibrado, centrifugado ou protendido. Cada fábrica de estacas pré-moldadas, ou pré-fabricadas, de concreto produz a sua tabela de carga de catálogo, em função dos diâmetros fabricados e resistência do concreto utilizado (TSUHA; CINTRA, 2021). Para posicionar a estaca para cravação no bate-estaca, a estaca pré-moldada de concreto deve ser içada por apoios localizados a 1/3 do seu comprimento, de modo a não quebrar a estaca nesse procedimento. Na figura a seguir é apresentado um exemplo de cravação de estaca com utilização de bate-estaca. Figura 20: Cravação de estacas pré-moldadas de concreto. Fonte: http://www.tecgeo.com.br/servicos/estacas-pr-moldadas-de-concreto-3 http://www.tecgeo.com.br/servicos/estacas-pr-moldadas-de-concreto-3 FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 Estacas de Aço As estacas de aço são, na sua grande maioria, de laminados, tubos metálicos e trilhos. Possuem uma cravação mais fácil, com baixo nível de vibração, devido à reduzida área de seção transversal. As estacas de aço podem ser cravadas em terrenos resistentes, sem o risco de provocar levantamento de estacas vizinhas e sem risco de quebra (TSUHA; CINTRA, 2021). Na figura a seguir é apresentado um exemplo de estacas de aço cravadas. Figura 21: Estacas metálicas cravadas. Fonte: https://www.aegrupo.com.br/single-post/fundacoes-estacas-de-aco Estacas de Madeira De acordo com a NBR 6122 (2019), as estacas de madeira devem ter diâmetros de ponta e topo maiores que 15 cm e 25 cm, respectivamente. No Brasil, o eucalipto é a madeira mais empregada. De modo geral, as estacas de madeira têm duração praticamente ilimitada quando mantida permanentemente submersa. Entretanto, quando submetida à variação de nível d’água, apodrece por ação de fungos que se desenvolvem no ambiente água-ar (TSUHA; CINTRA, 2021). Os topos das estacas devem ser protegidos para não sofrerem danos durante a cravação, mas caso esse dano ocorra, o trecho danificado deve ser cortado (NBR 6122, 2019). https://www.aegrupo.com.br/single-post/fundacoes-estacas-de-aco FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 4.2.2.2 Estaca Escavada Estacas escavadas são um tipo de fundação profunda executada por escavação mecânica, com uso ou não de lama bentonítica, de revestimento total ou parcial, e posterior concretagem (NBR 6122, 2019). Em seu processo de execução não provoca ruído ou vibração. Ao término da perfuração faz-se a introdução da armadura, quando necessária, cobrindo o trecho superior da estaca solicitado à flexão (TSUHA; CINTRA, 2021). Estacas Broca Estacas do tipo broca são estacas escavadas com comprimento e diâmetro pequenos, com baixa carga de catálogo, para o caso de obras de pequeno porte. São executadas com trado manual ou mecanizado e são consideradas as estacas mais comuns e simples de serem executadas. De acordo com a NBR 6122 (2019), recomenda-se para as estacas tipo broca um diâmetro mínimo de 20 cm e máximo de 50 cm. Na figura a seguir é apresentado o processo executivo desse tipo de estaca. Figura 22: Esquema de execução de estaca do tipo broca. Fonte: https://sondarello.com.br/estaca-escavada-mecanicamente-e-estaca-tipo-broca/ https://sondarello.com.br/estaca-escavada-mecanicamente-e-estaca-tipo-broca/ FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 Estaca Strauss No processo de execução da estaca Strauss, utilizam-se tubos de revestimento (camisas) que vão sendo introduzidos à medida que o furo vai avançando. Através de um tripé, introduz- se uma sonda ou piteira, por dentro do revestimento, para se realizar a perfuração e retirada de material. Durante a concretagem, com um guincho, saca-se cada camisa e com o outro apiloa-se o concreto. De acordo com a NBR 6122 (2019), recomenda-se que as estacas Strauss tenham o seu diâmetro limitado a 500 mm. Na figura a seguir é apresentado o esquema de execução da estaca Strauss. Figura 23: Esquema de execução da estaca Strauss. Fonte: https://www.totalconstrucao.com.br/estaca-strauss/ Estacas tipo Hélice Contínua Tipo de fundação profunda constituída por concreto moldado in loco, executada por meio de trado contínuo e injeção de concreto, sob pressão controlada, através da haste central do trado simultaneamente a sua retirada do terreno (NBR 6122, 2019). As fases de execução das estacas tipo hélice contínua são: • Perfuração: cravação da hélice no terreno até a cota determinada no projeto, sem retirada de solo escavado. • Concretagem simultânea à extração da hélice do terreno: bombeamento do concreto pela haste de forma a preencher completamente o espaço deixado pela hélice que é https://www.totalconstrucao.com.br/estaca-strauss/ FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 extraída do terreno sem girar, ou, no caso de terrenos arenosos, girando-se lentamente no sentido da perfuração. • Colocação da armadura: apesar do método de execução da hélice contínua exigir a colocação da armadura após a sua concretagem, se as estacas forem de compressão, esta armadura pode ser dispensada, segundo a NBR 6122. Dentre as principais vantagens deste tipo de estaca destacam-se a elevada produtividade, promovida pela versatilidade de equipamento,que por sua vez leva à economia devido à redução dos cronogramas de obra, pode ser executada na maior parte dos maciços de solo, exceto quando ocorrem matacões e rochas, não produz distúrbios e vibrações típicos dos equipamentos a percussão, controle de qualidade dos serviços executados, além de não causar a descompressão do terreno durante a sua execução (UFC, 2021). As principais desvantagens estão relacionadas ao porte do equipamento, que necessita de áreas planas e de fácil movimentação, pela sua alta produtividade exige uma grande demanda de concreto fresco em obra, e pelo seu custo é necessário um número mínimo de estacas a se executar para compensar o custo com a mobilização do equipamento. Na figura a seguir, é apresentado um esquema de execução da estaca Hélice Contínua. Figura 24: Esquema de execução da estaca Hélice Contínua. Fonte: https://sites.google.com/site/fundacoesunianchieta/com-palavra/introducao-e-tecnica https://sites.google.com/site/fundacoesunianchieta/com-palavra/introducao-e-tecnica FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 Estaca Escavada com Lama Bentonítica (Estacão) É uma estaca de grande diâmetro e alta carga de catálogo. Por isso não é empregada em grupo, apenas uma por pilar (TSUHA; CINTRA, 2021). As estacas escavadas com o uso de lama, sejam circulares ou alongadas (estacas diafragma ou barretes), têm sua carga admissível, em grande parte, dependente do atrito ao longo do fuste, enquanto a resistência de ponta é mobilizada apenas depois de recalques elevados (NBR 6122, 2019). Não há revestimento, mas a lama bentonítica é utilizada para garantir a estabilidade do furo durante a escavação, que pode ultrapassar o NA e atingir grandes profundidades. A bentonita, um tipo de argilomineral, é misturada com água no próprio canteiro e armazenada em reservatórios metálicos. O equipamento de execução tem uma haste com uma caçamba perfuratriz na sua extremidade inferior, acionada hidraulicamente por uma mesa rotativa. Cheia a caçamba, ela é suspensa e esvaziada, ao redor da máquina. O furo fica cheio de lama bentonítica durante todo o processo de avanço da perfuração. Em consequência, o canteiro de obras fica bastante enlameado. A concretagem deve ser contínua e feita logo após o término da perfuração, sendo tomadas as providências referentes à lama bentonítica e à ferragem (NBR 6122, 2019). Para que não ocorra a mistura da lama com o concreto que é lançado da superfície, coloca-se uma bola plástica no início, a qual é pressionada pelo concreto no interior do tubo, garantido a ausência do contato do concreto com a lama dentro do tubo (TSUHA; CINTRA, 2021). Na figura a seguir é apresentada a execução de estaca com lama bentonítica. Figura 25: Exemplo de execução de estaca escavada com lama bentonítica. Fonte: http://www.prfundacoes.com.br/estacao-com-lama http://www.prfundacoes.com.br/estacao-com-lama FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 Estacas Barretes As estacas barretes são semelhantes aos estacões, mas apresentam seção transversal retangular alongada, de grandes dimensões. Justapostas várias delas, tem-se a parede diafragma, utilizada, sobretudo, em divisas de terreno como muro de contenção e fundação ao mesmo tempo (TSUHA; CINTRA, 2021). Na figura a seguir é apresentado o esquema de execução da estaca barrete. Figura 26: Esquema de execução de estaca barrete. Fonte: http://www.brasfond.com.br/fundacoes/ebarrete.html 4.2.2.3 Estaca Especial Nesse grupo há as estacas que não podem ser consideradas como cravadas nem como escavadas, pois apresentam um processo executivo misto ou diferenciado. Estacas Apiloadas Também chamadas de estacas pilão ou soquetão, o furo é obtido por apiloamento do solo, por meio de um pilão ou soquete, com peso da ordem de 3 kN, caindo em queda livre. Pela NBR 6122 (2019), essa estaca é tratada como estaca do tipo broca. http://www.brasfond.com.br/fundacoes/ebarrete.html FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 O apiloamento do solo provoca a sua densificação, melhorando o seu comportamento, à semelhança das estacas cravadas, mas o elemento estrutural de fundação não é pré- fabricado, e sim moldado in loco (TSUHA; CINTRA, 2021). Na figura a seguir é apresentado o equipamento para apiloamento do solo e execução da estaca apiloada. Figura 27: Exemplo de execução de estaca apiloada. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=RrLaobS4zbw&ab_channel=Dimens%C3%A3oProjetos Estacas Franki As estacas tipo Franki são executadas enchendo-se de concreto perfurações previamente executadas no terreno, através da cravação de tubo de ponta fechada, recuperado e possuindo base alargada (NBR 6122, 2019). Para a execução, utiliza-se um equipamento pesado, com uma torre e um tubo de grande comprimento. No interior do tubo, junto à extremidade inferior, é formada uma “bucha” de areia, pedra e cimento. Um soquete, com peso de 10 a 46 kN, caindo em queda livre por dentro desse tubo apiloa a bucha, arrastando consigo o tubo para baixo, até se atingir a profundidade desejada (TSUHA; CINTRA, 2021). Esse processo constitui um fechamento artificial da ponta do tubo, o que permite a execução desse tipo de estaca abaixo do NA. Atingida a profundidade final, prende-se o tubo à torre para a expulsão da bucha e realização do alargamento da base através do apiloamento de pequenas e sucessivas quantidades de concreto com slump zero (quase seco). https://www.youtube.com/watch?v=RrLaobS4zbw&ab_channel=Dimens%C3%A3oProjetos FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 Terminado o alargamento da base, instala-se a armadura no trecho superior e inicia-se a concretagem do fuste em volumes sucessivos, simultaneamente à retirada do tubo. Ruídos e vibrações são elevados na cravação do tubo, à semelhança das estacas cravadas de concreto pré-moldado, mas que se tornam superiores no momento do alargamento da base. O solo não é retirado e é melhorado pela cravação do tubo, mas o elemento estrutural de fundação é moldado in loco (TSUHA; CINTRA, 2021), por isso é classificada como uma estaca especial. Na figura a seguir é apresentado o esquema de execução de estaca do tipo Franki. Figura 28: Esquema de execução da estaca Franki. Fonte: https://nelsoschneider.com.br/execucao-de-estacas-franki/ Estaca Raiz Estacas Raiz são elementos de fundação esbeltos e armados ao longo de todo o seu comprimento (cargas de catálogo são altas, relativamente aos seus diâmetros nominais). Em vez de se utilizar concreto, é utilizada uma nata de cimento e pedrisco, injetada sob pressão inferior a 0,5 MPa, o que gera uma superfície irregular ao longo do fuste da estaca, aumentando o atrito estaca-solo (TSUHA; CINTRA, 2021). https://nelsoschneider.com.br/execucao-de-estacas-franki/ FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41 A estaca Raiz foi desenvolvida para reforço de fundação e, por isso, o equipamento utilizado para sua execução tem altura de aproximadamente 2,0 m, para operar no interior das edificações. O solo é escavado por meio de uma perfuratriz rotativa e/ou percussiva, com a utilização de tubos de revestimento instalados à medida que a perfuração avança. O tubo inferior tem uma coroa diamantada (ou de vídea) na sua extremidade, o que permite cortar rocha e concreto (TSUHA; CINTRA, 2021). No processo executivo, introduz-se água com grande consumo, a qual retorna à superfície carreando os detritos oriundos da perfuração. Os tubos de revestimento são retirados com a aplicação de “golpes de pressão” de ar comprimido. Na figura a seguir é apresentado o esquema de execução de estaca Raiz. Figura 29: Esquema executivo de estaca raiz. Fonte: https://nelsoschneider.com.br/estacas-raiz/ Estacas Ômega As estacas Ômega possuem equipamento semelhante ao da hélice contínua, efetuando os mesmos tiposde monitoramento, apenas com a ferramenta de corte do solo diferente. https://nelsoschneider.com.br/estacas-raiz/ FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42 A ferramenta de corte é um parafuso tronco-cônico, provido de filetes ou hélices apropriadas para penetrar como um parafuso de ponta cônica e, logo em seguida, empurrar para baixo e para os lados o solo (TSUHA; CINTRA, 2021), o que aumenta consideravelmente a resistência lateral do solo ao redor da estaca. Na figura a seguir é apresentado o esquema de execução da estaca Ômega. Figura 30: Esquema executivo de estaca Ômega. Fonte: https://www.geone.com.br/2010/download/Palestra_GeoNE_2010.pdf Estacas Mega ou Estacas de Reação As estacas de reação ou estacas Mega são muito empregadas como reforço de fundação. São constituídas por elementos pré-moldados de concreto ou de aço, prensados no terreno através de uma reação e um macaco hidráulico (TSUHA; CINTRA, 2021). Sua cravação é realizada através de um macaco hidráulico acionado por bomba elétrica ou manual, que reage frente à carga imposta pela estrutura já existente. Esse tipo de estaca garante que a fundação esteja adequada à carga imposta. Após a finalização da cravação, com a reação à estrutura, é posicionado o cabeçote (ou berço) sobre a estaca para permitir o encunhamento. A carga de cravação deve ser especificada em projeto e deve ser de no mínimo 1,5 vez a carga admissível do solo (NBR 6122, 2019). Nas figuras a seguir são apresentadas imagens reais de execução de estacas Mega. https://www.geone.com.br/2010/download/Palestra_GeoNE_2010.pdf FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43 Figura 31: Exemplo de estaca de reação realizada. Fonte: https://estaca-mega.comunidades.net/ Figura 32: Execução da estaca mega. Fonte: https://sondarello.com.br/estaca-mega/ https://estaca-mega.comunidades.net/ https://sondarello.com.br/estaca-mega/ FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 44 Isto está na rede Você sabia que a estaca do tipo Mega é a mais utilizada para reforço de fundação? Ass ista ao v ídeo a segui r e ve ja como e la é executada : h t tps : // w w w . y o u t u b e . c o m / w a t c h ? v = c G Y H _ w r w 7 a g & t = 5 2 s & a b _ channel=T%C3%A9cnicoemEdifica%C3%A7%C3%B5esdeSinop https://www.youtube.com/watch?v=cGYH_wrw7ag&t=52s&ab_channel=T%C3%A9cnicoemEdifica%C3%A7%C3%B5esdeSinop https://www.youtube.com/watch?v=cGYH_wrw7ag&t=52s&ab_channel=T%C3%A9cnicoemEdifica%C3%A7%C3%B5esdeSinop https://www.youtube.com/watch?v=cGYH_wrw7ag&t=52s&ab_channel=T%C3%A9cnicoemEdifica%C3%A7%C3%B5esdeSinop FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 45 AULA 5 CAPACIDADE DE CARGA EM FUNDAÇÃO RASA Considere uma sapata com largura B, assente à profundidade h em relação à superfície do terreno (figura abaixo). Figura 33: Esquema de análise de carga em sapata. Fonte: Rodrigues, 2012. Ao aumentar progressivamente a carga P aplicada à sapata e, consequentemente, a tensão σ transmitida ao solo, será atingida a tensão de ruptura σr, ou seja, a capacidade de carga do sistema sapata-solo. 5.1 Formulação Teórica de Terzaghi (1943) A Formulação Teórica de Terzaghi parte do pressuposto de dois tipos diferentes de ruptura do maciço de solo (conforme figura a seguir): - Ruptura geral ou global: curva C1. - Ruptura local: curva C2. FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 46 Figura 34: Rupturas local e global. Fonte: Rodrigues (2012) Hipóteses da formulação Pelo Método de Terzaghi algumas hipóteses devem ser atendidas, como: a) A sapata é corrida quando L > B e L/B > 5 a 10 (problema bidimensional). b) Profundidade de assentamento é inferior à largura da sapata (h < B). c) O maciço de solo sob a base da sapata é compacto ou rijo (ruptura geral ou global). Figura 35: Análise de forças sob sapata. Fonte: Rodrigues (2012) FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 47 - Solo sem peso e sapata à superfície: (c ≠ 0, h = 0 e γ = 0): σr = c.Nc - Solo não coesivo e sem peso: (c = 0, h ≠ 0 e γ = 0): σr = q.Nq - Solo não coesivo e sapata à superfície: (c = 0, h = 0 e γ ≠ 0): Superposição de Efeitos (sapata corrida): Pelo efeito da superposição de casos, em que o solo pode ser coesivo, pode haver sobrecarga e a sapata encontra-se em profundidade, considera-se que: Em que, Nc, Nq e Nγ são fatores de capacidade de carga referentes à coesão, à sobrecarga e ao peso do solo, respectivamente, e variam de acordo com o tipo de solo em que a sapata está inserida. Os valores de Nc, Nq e Nγ podem ser obtidos por meio do ábaco a seguir, que relaciona esses valores com o ângulo de atrito do solo. Figura 36: Valores de Nc, Nq e Nγ de Terzaghi. Fonte: Rodrigues (2012) FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 48 Ruptura Local São utilizados valores reduzidos dos parâmetros de resistência ao cisalhamento: Os valores de Nc’, Nq’ e Nγ’ podem ser obtidos diretamente do ângulo de atrito Φ(em vez de Φ’) por meio das curvas tracejadas da figura anterior. Sapatas Quadradas e Circulares Para Sapata circular com diâmetro B em solo compacto ou rijo, considera-se Para Sapata quadrada de lado B em solo compacto ou rijo, considera-se Em que, Sc, Sq e Sγ são fatores de forma da sapata, apresentados na tabela a seguir. Forma da Sapata Fatores de Forma Sc Sq Sγ Corrida 1,0 1,0 1,0 Quadrada 1,3 1,0 0,8 Circular 1,3 1,0 0,6 Retangular 1,1 1,0 0,9 Tabela 01: Fatores de forma de Terzaghi. Fonte: Rodrigues (2012) FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 49 5.2 Proposta de Vesic (1975) Pela proposta de Vesic, definem-se três modos de ruptura do maciço de solo (figura a seguir): Figura 37: Modos de ruptura de maciços. Fonte: Rodrigues (2012) Vesic (1975) sugere que na equação geral de Terzaghi: Sejam utilizados o fator de capacidade de carga Nγ de Caquot-Kérisel (1953) e os fatores de forma de De Beer (1967): Nγ = 2.(Nq+1).tgΦ Portanto, Nc, Nq e Nγ podem ser tabelados em função do ângulo (Φ) de atrito interno do solo. FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 50 Tabela 02: Fatores de capacidade de carga de Vesic. Fonte: Rodrigues (2012) Tabela 03: Fatores de forma de Vesic. Fonte: Rodrigues (2012) 5.3 Método de Skempton (1951) O método de Skempton é empregado para argilas saturadas na condição não-drenada (Φ = Φu = 0). Neste caso particular (Nq = 1 e Nγ = 0), a expressão de capacidade de carga de Terzaghi simplifica-se para: σr = c .Nc .Sc + q FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 51 Em que, c = cu (coesão não-drenada da argila). Para sapatas corridas (Sc = 1), Nc é dado pela figura abaixo (linha cheia) em função de h/B, o embutimento relativo da sapata no solo. Para sapatas retangulares de dimensões B e L, utiliza-se o fator Nc de sapata corrida e calcula-se o fator de forma: As sapatas quadradas ou circulares podem ser tratadas como um caso particular de sapata retangular com B = L, em que Sc = 1,2. Como alternativa, pode-se obter o valor de Nc já corrigido pelo fator de forma diretamente da figura abaixo (linha tracejada). Figura 38: Valores de Nc no Método de Skempton. Fonte: Rodrigues (2012) FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 52 AULA 6 DIMENSIONAMENTO DE FUNDAÇÃO RASA O dimensionamento de sapatas varia de acordo com sua classificação, podendo ser sapata isolada, sapata associada e sapata em pilar de divisa. É baseado na NBR 6122/2019. 6.1 Sapata Isolada Considere a sapata isolada apresentada na figura a seguir: Figura 39: Análise de sapata isolada. Fonte: Rodrigues (2012) Considerando a tensão admissível do solo σa, como sendo: σs = σa A área da sapata pode ser calculada conforme:L = l + 2x FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 53 B = b + 2x L - B = l - b Algumas considerações devem ser adotadas: a) CG da sapata deve coincidir com o CC do pilar. b) B, L ≥ 0,60 m. c) L/B < 2,5. d) Escolher L e B de modo a obter balanços iguais. Para Pilar de seção retangular: L - B = l - b Para Pilar de seção quadrada: Para Pilar com seção especial: Considerar um pilar retangular equivalente. Para isso, determina-se o CG do Pilar. Figura 40: Pilar de seção especial. Fonte: Rodrigues (2012) FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 54 6.2 Sapata Associada Quando os pilares estão próximos e não há espaço suficiente para se construir duas sapatas isoladas e há superposição das sapatas, adota-se o procedimento de cálculo para sapata associada. Figura 41: Pilares em sapata associada. Fonte: Rodrigues (2012) Deve-se considerar que na viga de rigidez: ΣM1=0 P2 .s = (P1+P2) .ycg Faz-se, portanto, coincidir o CC com o CG da sapata: FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 55 6.3 Sapata em Pilar de Divisa Adota-se para a sapata de divisa a relação L = 2B (considerado o fator econômico). R1 = P1+ΔP Como R1 depende de “e” e “d”, e estes são incógnitas, o problema é indeterminado, devendo fazer algumas considerações para a solução. Roteiro de Cálculo 1. Adotar L = 2B e ΔP = 0, ou seja, R1 = P1. Então: 2. Com o valor de B1, fixado, calcula-se: 3. Obtido ΔP, calcula-se R1 e a área A1: 4. Verificação: A1= B1.L1 FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 56 5. Cálculo de R2: 6. Utiliza-se o critério de balanços iguais: 6.4 Verificação da Viabilidade para Uso de Sapatas A viabilidade para uso da sapata depende da área total de sapata determinada em relação à área total do projeto. Viabilidade do Uso da Sapata: Para a utilização de sapata ser viável deve-se atender: Em que: Asapata é a área total das sapatas e Atotal é a área total da edificação. Sendo que: Em que ΣP corresponde à carga total dos pilares. FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 57 AULA 7 RECALQUE EM FUNDAÇÃO RASA Define-se recalque de uma sapata como sendo o deslocamento vertical, para baixo, da base da sapata em relação ao indeformável. Esse deslocamento é resultado da deformação do solo. ρ = ρa + ρi Em que, ρ é o recalque total, ρa é o recalque por adensamento, ρi é o recalque imediato. Podem ser classificados em recalque total ou absoluto (ρ) e recalque diferencial ou relativo (δ) entre duas sapatas, além da distorção angular ou recalque diferencial específico (δ/l), onde l é a distância entre duas sapatas (ARAÚJO, 2021). Em decorrência dos recalques, o edifício pode sofrer movimentos verticais (translação) acompanhados ou não de inclinação (rotação). Figura 42: Recalques total e diferencial. Fonte: Rodrigues (2012) As mesmas definições servem para tubulões. Neste caso, ao recalque da base, deve-se acrescentar a compressão elástica do fuste para obter o recalque da cabeça do tubulão. FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 58 Tolerância a Recalques - Distorção Angular: δ / l = 1:300 – trincas em paredes de edifícios (estado limite de utilização). δ / l = 1:150 – danos estruturais em vigas e colunas de edifícios (estado limite último). - Recalques Totais Limites: Areias: δmax = 25 mm; ρmax = 40 mm (sapatas isoladas) Argilas: δmax = 40 mm; ρmax = 65 mm (sapatas isoladas) 7.1 Recalque Imediato em Argila O recalque em argilas pode ser subdividido em dois métodos: Método da Camada Semi- Infinita e Método da Camada Finita. 7.1.1 Método da Camada Semi-Infinita Considere uma sapata de largura ou diâmetro B apoiada numa camada argilosa semi- infinita, homogênea, com módulo de deformabilidade Es constante com a profundidade (caso típico das argilas sobreadensadas). Se σ é a tensão média na superfície de contato da base da sapata com o topo da camada de argila, o recalque imediato ρi é dado pela seguinte expressão baseada na teoria da elasticidade: Em que, v é o coeficiente de Poisson do solo, Iρ é o fator de influência que depende da forma e rigidez da sapata (ARAÚJO, 2021). Considerando um corpo de prova cilíndrico de material elástico, submetido a um estado de compressão triaxial, o coeficiente de Poisson é definido pela relação entre a deformação radial (εr) de expansão e a deformação vertical (εz) de compressão: FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 59 Tabela 04: Fator de influência para sapata. Fonte: Rodrigues (2012) 7.1.2 Método da Camada Finita Para camadas argilosas compressíveis de espessura finita sobreposta a um material que pode ser considerado rígido ou indeformável (rocha, por exemplo). Os valores de μ0 e μ1 são apresentados na figura a seguir em curvas da relação L/B e em função, respectivamente, de h/B e H/B. Figura 43: Valores de μ0 e μ1 para o método da camada finita. Fonte: Rodrigues (2012) FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 60 7.2 Recalque Imediato em Areia Em areias o módulo de deformabilidade não é constante com a profundidade. Portanto, deve-se subdividir a camada considerando o valor médio de Es para cada subcamada. Para as areias, portanto, será adotado o Método de Schmertmann. 7.2.1 Método de Schmertmann (1970) Dado um carregamento uniforme σ, atuando na superfície de um semi-espaço elástico, isotrópico e homogêneo, com módulo de elasticidade Es, a deformação vertical εz à profundidade z, sob o centro do carregamento pode ser expressa por: Em que Iz é o fator de influência na deformação vertical (figura a seguir). Figura 44: Fator de influência na deformação vertical. Fonte: Rodrigues (2012) a) Embutimento da sapata FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 61 Em que, q é a tensão vertical efetiva à cota de apoio da fundação (sobrecarga); σ* é a tensão líquida aplicada pela sapata (σ* = σ – q). b) Efeito do tempo Em que, t = tempo (em anos). c) Formulação O recalque de sapatas em areia é dado pela integração das deformações: ρi = ∫∞z=0 εz.dz ρi = σ* . ∫0 2B .dz Substituindo a integral por um somatório de recalques de n camadas consideradas homogêneas, na profundidade de 0 a 2B e incluindo os efeitos do embutimento e do tempo, tem-se: Em que, Iz é o fator de influência na deformação à meia altura da i-ésima camada; Es é o módulo de deformabilidade da i-ésima camada; Δz é a espessura da i-ésima camada (ARAÚJO, 2021). d) Módulo de Deformabilidade Es = 2.qc Em que, qc é a resistência de ponta do ensaio de cone. FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 62 Em função do tipo de solo, propõe-se valores de K apresentados na tabela a seguir. Tabela 05: Valores de K para diferentes tipos de solo. Fonte: Rodrigues (2012) e) Roteiro de Cálculo (ARAÚJO, 2021): 1. Calcular os valores de q, σ*, C1 e C2. 2. A partir da base da sapata, desenhar o triângulo para o fator de influência. 3. No intervalo de 0 a 2B abaixo da sapata, dividir o perfil qc (ou NSPT) num número conveniente de camadas, cada uma com Es constante (uma divisão que passe por B/2 é recomendável). 4. Preparar uma tabela com seis colunas: (1) número da camada, (2) Δz, (3) Iz, (4) qc (ou NSPT), (5) Es e (6) Iz.Δz/Es. 5. Encontrar o somatório dos valores da última coluna e multiplicá-lo por C1, C2 e σ* (aconselha-se o uso das unidades em MPa para q, σ* e Es e em mm para Δz, resultando o recalque final em mm). 7.2.2 Método de Schmertmann (1978) Em 1978 Schmertmann aperfeiçoou o método incluindo os casos de sapata corrida (deformação plana) e de sapata quadrada (simetria). Por isso, dois novos diagramas para a distribuição do fator de influência na deformação são propostos (ARAÚJO, 2021). O valormáximo de Iz ocorre em profundidades diferentes (z = B/2 para sapata quadrada e z = B para sapata corrida) e deixa de ser constante e igual a 0,6, passando a ser calculado por: FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 63 Em que σv é a tensão vertical efetiva na profundidade correspondente a Izmax. Portanto, o valor de Izmax aumenta com a tensão líquida aplicada pela sapata. Para a relação σ*/σv aumentando de 1 para 10, por exemplo, o valor de Izmax passa de 0,60 para 0,82. Também se observa que o diagrama vai até 4B para sapata corrida (L/B > 10) e que na profundidade z = 0, correspondente à base da sapata, o valor de Iz não é nulo, mas igual a 0,1 para sapata quadrada e 0,2 para sapata corrida. Assim o diagrama deixa de ser triangular (ARAÚJO, 2021). Figura 45: Fator de influência na deformação vertical. Fonte: Rodrigues (2012) Em relação ao Módulo de Deformabilidade são sugeridas novas correlações, baseado no formato da sapata: Para sapatas quadradas ou circulares: Es = 2,5 .qc Para sapatas corridas: Es = 3,5 .qc FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 64 AULA 8 PROVA DE CARGA EM PLACA Definida pela NBR 6489/2019, consiste na instalação de uma placa rígida de aço, com diâmetro de 0,80 m, na mesma cota de projeto das sapatas, e aplicação de carga, em estágios, até o dobro da provável tensão admissível, com medida simultânea de recalques. Figura 46: Ensaio de prova de carga em placa Aplicável para solos uniformes em profundidade. Fonte: http://www.geoaxengenharia.com.br/ensaio-de-placa/ 8.1 Argila Obtido o recalque ρp numa placa circular de diâmetro Bp, o recalque imediato ρs de uma sapata de diâmetro Bs numa determinada tensão, será: Para sapatas retangulares ou de formas irregulares, pode-se considerar a sapata circular de área equivalente. http://www.geoaxengenharia.com.br/ensaio-de-placa/ FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 65 8.2 Areia Exemplo de equação da literatura: com B em metros. 8.3 Módulo de Deformabilidade É possível estimar o módulo de deformabilidade por meio da prova de carga sobre placa. Coeficiente de reação do solo: Aplicando-se à fórmula da Teoria da Elasticidade: Com B = 0,80 m (diâmetro da placa), Iρ = 0,79 (placa circular rígida) e v = 0,35 (valor médio para qualquer solo), resulta: Es = 0,55.ks (MPa) O fator 0,55 (em metros) pode ser modificado para cada caso, em função do coeficiente de Poisson do solo. 8.4 Realização do Ensaio De acordo com a NBR 6489/2019, o ensaio de prova de carga em placa consiste no carregamento de uma placa rígida com área superior a 0,5 m² na mesma cota das fundações rasas de projeto. São aplicadas cargas verticais no centro da placa e medidas as deformações durante os estágios de carregamento. FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 66 É de fundamental importância destacar que o tamanho da placa depende do tipo de solo, tendo em vista que o ensaio é empregado em qualquer tipo de solo. As medidas de carga e deformação são aplicadas em um gráfico e interpretadas por meio de duas metodologias: - Critério de Recalque: nesse caso a tensão admissível deve ser menor ou igual à tensão admissível definida em projeto por meio de um método teórico. - Critério de Ruptura: nesse caso a tensão admissível deve ser inferior ou igual a tensão definida no ensaio, aplicando-se o fator de segurança correspondente. No ensaio, é utilizado equipamentos de reação (macaco hidráulico), de transmissão de carga e medidores de deformação (relógio comparador). Após a instalação do sistema, a carga aplicada, que deve ser aplicada em estágios sucessivos, deve ter no máximo 20% da carga provável definida por meio de métodos teóricos a cada estágio de carregamento. Atingida a carga do estágio, são feitas leituras de deformações em intervalos de tempo dobrados (1, 2, 4, 8, 16 minutos), até se atingir a estabilidade. Caso se alcance a carga máxima no ensaio, e o sistema não rompa, essa carga deve ser mantida por no mínimo 12 horas. No descarregamento também há a necessidade de estágios sucessivos e leitura das deformações. O resultado do ensaio possibilita a obtenção, de forma direta, de características de resistência e deformação na profundidade de projeto. FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 67 AULA 9 CAPACIDADE DE CARGA EM FUNDAÇÃO PROFUNDA Considera-se que a capacidade de carga em fundação profunda é dada por: R = Rp + Rl Em que: R: capacidade de carga (resistência total). Rl: resistência lateral por atrito ou adesão ao longo do fuste. Rp: resistência de ponta. Figura 47: Capacidade de carga em estaca. Fonte: Rodrigues (2012) A capacidade de carga para fundações profundas pode ser definida por métodos semi- empíricos como os de Aoki-Velloso e Décourt-Quaresma. 9.1 Método de Aoki-Velloso (1975) É considerado o método mais preciso para cálculo de capacidade de carga. FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 68 É determinado por: Rp = rp.Ap Rl = U .∑n1 (rl.Δl) Em que: Rp: resistência de ponta. rp: capacidade de carga do solo na cota de apoio do elemento estrutural de fundação. Ap: área da seção transversal da ponta. Rl: resistência lateral ou de fuste. rl: tensão média de adesão ou de atrito lateral na camada de espessura Δl. U: perímetro da seção transversal do fuste. Δl: espessura da camada analisada. Em que: K: parâmetro que varia de acordo com o tipo de solo. α: parâmetro que varia de acordo com o tipo de solo. Np: NSPT na cota de apoio da fundação. Nl: NSPT médio na camada de solo de espessura Δl. F1: parâmetro que varia de acordo com o tipo de estaca. F2: parâmetro que varia de acordo com o tipo de estaca. Capacidade de Carga: R = Rp + Rl R = rp.Ap + U.∑n1(rl.Δl) FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 69 Carga Admissível: Para carga admissível assume-se um fator de segurança igual a 2,0 (dois), portanto: Tabela 06: Fator F1 e F2 para método de Aoki-Velloso. Fonte: Rodrigues (2012) Tabela 07: Fatores K e α para método de Aoki-Velloso. Fonte: Rodrigues (2012) FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 70 9.2 Método de Décourt-Quaresma (1978) É determinado por: Rp = rp.Ap Rl = rl.Sl Em que: Rp: resistência de ponta. rp: capacidade de carga do solo na cota de apoio do elemento estrutural de fundação. Ap: área da seção transversal da ponta. rl: tensão média de adesão ou de atrito lateral na camada de espessura Δl. Sl: perímetro da seção transversal do fuste x Δl. rp = C.Np rl = 10.(Nl/3+1) Em que: C: parâmetro que varia de acordo com o tipo de solo. Np: NSPT médio na cota de apoio da fundação. Nl: NSPT médio ao longo de todo o fuste. Capacidade de Carga: R = Rp + Rl R = rp.Ap + rl.Sl R = C.Np.Ap + 10. .Sl FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 71 Carga Admissível: Para carga admissível assume-se um fator de segurança igual a 2,0 (dois), portanto: Tabela 08: Fator C para método de Décourt-Quaresma. Fonte: Rodrigues (2012) FUNDAÇÕES PROF. ANA PATRÍCIA ARANHA DE CASTRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 72 AULA 10 DIMENSIONAMENTO DE ESTACA Para o dimensionamento de fundação profunda com estacas pode-se seguir metodologias diferenciadas, que levam em consideração a capacidade de carga do solo e a carga provinda da superestrutura, transmitida ao solo por meio dos pilares. 10.1 Metodologias de Projeto 1ª Metodologia Fixa-se a carga admissível e com os dados de sondagem, calculam-se os comprimentos das estacas de modo que, para cada furo de sondagem se tenha a capacidade de carga dada por: P.Cs = R Em que: P: carga admissível. Cs: coeficiente de segurança. R: capacidade de carga. Como as sondagens retratam
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