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3 1. INTRODUÇÃO: A Organização Mundial de Saúde – OMS (2006), considera o suicídio como um problema de saúde pública, e o define como uma agressão deliberada e executada pela própria pessoa, tendo como finalidade a sua morte, de forma intencional e consciente, através do uso de meios letais. Em 2012, ocorreram 800 mil suicídios no mundo, tornando-se a segunda principal causa de morte e responsável por 1,4% de mortes a nível mundial, e, devido as subnotificações, estima-se que o número de tentativas de suicídio seja de 10 a 20 vezes maior. No Brasil, estudos epidemiológicos demonstram que as taxas de suicídio vêm aumentando, com predomínio significativo do sexo masculino na faixa etária entre 15 a 34 anos. O Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (Brasil, 2019) computou, no período de 2011 a 2015, 55.649 óbitos por suicídio no Brasil, correspondendo a uma taxa geral de 5,5 para cada 100 mil habitantes. Para iniciarmos nosso assunto sobre Suicídio na perspectiva fenomenológica, vamos abordar as contribuições do artigo O Suicídio Na Perspectiva Das Psicologias Humanista, Fenomenológica E Existencial: Revisão Sistemática E Metassíntese, publicado na revista Contextos Clínicos. Frente a necessidade de entendimento e conhecimento sobre Suicídio, a Psicologia vem demonstrando fases de estudos e enfoques direcionados a certos aspectos, como: - compreensiva: caracterização de populações de risco ou na descrição das dinâmicas psíquicas envolvidas; - social: busca identificar fatores de risco externos e possíveis aspectos para a formulação de políticas públicas. - integração do atendimento ao comportamento suicida com a percepção dos profissionais que prestam o atendimento, bem como o manejo dos casos. Porém, o artigo aqui abordado, teve como objetivo analisar produções científicas acerca do Suicídio nas psicologias humanista, fenomenológica e existencial. Foi possível distinguir os seguintes enfoques: as relações entre psicopatologia e suicídio; os motivos e explicações sobre o suicídio; o pensamento fenomenológico-existencial acerca do suicídio e as práticas e intervenções humanista, fenomenológica e existencial no tratamento, conjuntamente, verificou-se que tais abordagens propõem abordar o pensamento e o manejo do suicídio mediante um repensar com base em lentes clínicas mais subjetivas e compreensivas. O Suicídio e a Fenomenologia, existencialismo e humanismo 4 Como proposta para a compreensão desse complexo fenômeno, propõe-se, fenomenologicamente entendê-lo como originário de um processo humano e universal, não devendo ser reduzido a um acontecimento específico, porém, para sua compreensão, devemos considerar a trajetória de vida, a subjetividade, o contexto histórico, econômico e cultural. Sob a ótica das psicologias humanista, fenomenológica e existencial, "o suicídio pode ser, também, entendido como um fenômeno humano dado que o horizonte da morte, torna o ser consciente de sua finitude existencial, possibilitando-lhe um modo de se lançar no mundo, inclusive para fora deste.”(pg. 225; 2020). 2. O SUICÍDIO SOB A ÓTICA FENOMENOLÓGICA HERMENÊUTICA Sabemos que os motivos que levam alguém ao suicídio formam-se ao longo da sua história e se revelam nos sentidos e modos de ser que constituem a sua existência. Portanto, esse fenômeno não escolhe idade, classe social, gênero ou nacionalidade. Em nosso entendimento, o suicídio significa, antes de tudo, sofrimento e desespero. Não é estanho se constatar a busca incessante do ser humano pela explicação do seu viver, e do morrer também. De onde viemos e para onde vamos? Essa é a interrogação que atravessa a existência. Por isso, a finitude é uma das questões mais significativas e presentes nas correntes existencialistas. Assim sendo, talvez seja esta a razão da busca dos motivos e a explicação para o desejo de não mais viver, observado de maneira tão clara nas narrativas dos adolescentes sobre as suas experiências ao tentar o suicídio. Dessa maneira, entende-se que a angústia que ao ser desvelada, e diante da dor que provoca, faz surgir a necessidade de nomeá-la, de fazê-la compreensível, a fim de aliviar o desespero de não se saber. 3. UMA ESCOLHA EXISTENCIAL FRENTE AO DESESPERO HUMANO Sendo o suicídio uma questão de Saúde Pública, geram diversas dúvidas, como se falar sobre o suicídio seria uma forma de propagá-lo. Muitos autores defendem o contrário dessa ideia e que ao falar do suicídio em debates, trocas de informações e em ofertas de ajuda, é uma forma de diminui-lo (QUENTAL, 2014). Essa teoria se constitui pelo fato do suicídio ser um fenômeno comumente de ocorrer diariamente, logo falar sobre ele é apenas uma forma de informar sobre suas causas e formas de apoio e ajuda. 5 A fenomenologia traz o suicídio como um desespero existencial que o indivíduo pode se encontrar, sendo ele na forma de solidão, onde a pessoa se enxerga sozinho em uma forma aguda em que a pessoa não sabe como lidar com a situação, ou em tédio, em que a pessoa sofre a dor de ver o tempo passar e não estar colocando em prática as possibilidades que aparecem para ela, ou na forma de angústia, que acontece a partir da sensação da morte ser a única coisa inalterável, e que nela não existe superioridade, julgamento e injustiças (ANGERAMI-CAMON, 1997). Com isso, o suicídio é lidado como uma possibilidade para a existência do indivíduo, sendo essa a última forma de Dasein, porém dentro da sociedade é visto como uma pessoa que fracassou na vida e que fez escolhas existenciais impróprias e incompatíveis com seu verdadeiro ser. Todos esses fatores levam a pessoa a se enxergar de uma forma inferior aos demais, prejudicando dessa forma sua autoestima e criando pensamentos negativos, o que acaba a levando a escolha da morte (DUTRA, 2011). Consideramos a dificuldade da tarefa de escrever sobre o pôr fim à própria vida conforme visto, o homem é um ser-responsável porque é um “ser-livre” para escolher dentre as diversas possibilidades, não podendo se esquivar dessa necessidade de escolha. O ser humano é exatamente um “ser-aí”, um ser que não está determinado, mas que pode se transformar a cada momento, determinando-se a si mesmo, enfatizando sua liberdade e autonomia através da experiência consciente e das possibilidades encontradas no mundo Percebeu-se que uma possível explicação para o autoextermínio pode ser a falta de sentido na vida ou a busca por um sentido da existência humana. O ser humano está, a todo o momento, buscando encontrar um sentido para sua vida; sentido esse que é único para cada pessoa e em cada momento. A reflexão sobre a dor é maior que a própria dor, a dor é uma condição existencial e, portanto, inescapável. A dor, nesse sentido, é a dor do viver e de ter de ser. o sofrer se torna uma possibilidade com a não aceitação da dor própria da vida. Lamentando-nos pelo que poderia ter sido, ou queixamo-nos com relação às condições de nossas existências, terminamos por nos afastar da experiência da dor que é a vida, experienciando, assim, o sofrimento oferece a possibilidade da motivação o ato de por fim a própria vida. O atendimento psicológico com pessoas que tentaram o suicídio não se restringe apenas a elas, deve envolver também os familiares. Dessa forma, a família pode desempenhar o papel de apoio emocional e de segurança ao paciente. O atendimento psicológico com as famílias tem o objetivo de oferecer apoio emocional e orientações de como 6 lidar com o paciente, tais como necessidades de apoio, vigilância e restrição de acesso a remédio e outras possibilidades letais (FERREIRA; GABARRA, 2013). A família é elemento essencial na questão do suicídio. O ideal é que ela fosse acompanhada em terapia conjunta ou individualmente. Contudo, isso raramente acontece, pois a família tem dificuldade em aceitar o problema,justificando que quem precisa de ajuda é quem quis se matar. Ao considerar que a família exerce grande influência sobre o paciente, deve-se buscar fatores de proteção tanto para o paciente, quanto para aqueles que o rodeiam, uma vez que eles podem colocar o tratamento em xeque. Outra consideração importante é que a família, muitas vezes, se sente culpada pela tentativa de suicídio de um de seus membros, o que aponta, mais uma vez, para a necessidade de trabalho com os familiares (SANTOS, 2008). Conforme apontado anteriormente, casos de tentativa de suicídio tendem a afetar, principalmente, médicos e enfermeiros, gerando sentimentos de impotência, frustração, fragilidade, desprezo etc. O suicídio é um ato que tem como objetivo encontrar uma solução para o intenso sofrimento, pois, ao mesmo tempo em que a pessoa deseja a morte, ela busca uma ajuda, um pedido de socorro que é realizado quando a pessoa não encontra mais sentido para a sua vida, quando o vazio existencial permeia sua alma (TORO et al, 2013).” (PERCHES; CURY, 2013, p. 187). O psicólogo deve “[...] compreender empaticamente o dilema existencial humano, escutando os sentimentos do paciente sobre a vida, sobre a morte, possibilitando que fale sobre suas emoções, sentimentos e sofrimentos e que reflita sobre a sua decisão de morrer ou de viver”. O psicologo deve oferecer-se como alguém capaz de legitimar a angústia do cliente, por meio de atitudes terapêuticas que facilitem a busca pelos significados da experiência, ao atualizá-la para além das contingências que a vida impõe pela vertente da Psicologia Existencial-Humanista, por se considerar essa abordagem a que permite uma compreensão mais autêntica do sofrimento existencial do ser humano. Para Angerami (1997), o suicídio é hoje a expressão radical de uma crise de despersonalização. Esta autoagressão possui matizes incontáveis. Com seu comportamento, o possível suicida manifesta o veredicto que decretou seu fracasso social; não existindo um lugar para ele, por meio da morte redime seu ser da frustração de ser, a procura através de ajuda pode ser por medicalização da vida, as terapias, e até mesmo o suicídio podem configurar tentativas de suprimir a dor ou o sofrimento. No caso do suicídio, a pessoa busca a sua própria morte, ou seja, a morte é percebida como uma escolha perante as questões da vida. Diante desse ato, os familiares e amigos de pessoas que o cometeram podem se sentir culpados por não terem percebido que isso 7 poderia vir a ocorrer, ou por terem ignorado os indícios apresentados pela pessoa, considerando apenas que se tratava de uma forma de “chamar a atenção”. Assim, a elaboração do luto se torna mais complicada, pois família e amigos acreditam que o suicídio poderia ter sido evitado. 8 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: CRUZ, C. A., SALES, D. d. O., SOUZA, L. S. d., & BRANCO, P. C. C. (2020). O Suicídio Na Perspectiva Das Psicologias Humanista, Fenomenológica E Existencial: Revisão Sistemática E Metassíntese. Contextos Clínicos 13.1 (2020). SILVA, Karina de Fátima Aparecida; ALVES, Mariany Aparecida; COUTO, Daniela Paula. Suicídio: Uma escolha existencial frente ao desespero humano. Minas Gerais: Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, 2015. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt- br/assuntos/acolha-a- vida/bibliografia/suicidiovazio.pdf. CRUZ, C. A., SALES, D. d. O., SOUZA, L. S. d., & BRANCO, P. C. C. (2020). O Suicídio Na Perspectiva Das Psicologias Humanista, Fenomenológica E Existencial: Revisão Sistemática e Metassíntese. Contextos Clínicos 13.1 (2020).
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