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Resenha sobre o texto Makunaima, meu avô em mim! de Jaider Esbell

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Frederico Romanoff do Vale
Resenha sobre o texto “Makunaima, meu avô em mim!” de Jaider Esbell
O presente trabalho visa elaborar um texto em formato de resenha a respeito do
trabalho publicado pelo artista indígena Jaider Esbell na revista “Iluminuras''. É a
partir desse texto que Jaider se coloca como neto de Makunaíma, figura central para
a cultura dos povos Pemom (povos indígenas que vivem na região do monte
Roraima, na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana, chamada de
circum-Roraima) e posteriormente transformado em uma espécie de símbolo
nacional através dos escritos do livro “Macunaíma” de Mário de Andrade.
A escrita de Jaider parece querer extrapolar os limites do texto científico-acadêmico
ao propor uma forma que leve em conta o traço poético de sua narrativa. Através
desse elemento poético, metafórico Jaider busca ultrapassar os limites existentes
em sua identidade indígena Macuxi e os limites entre a forma-pensamento indígena
e as reflexões de inspiração ocidental. Diferente de outros artistas indígenas
contemporâneos mais radicais, Jaider propõe uma espécie de diálogo antropofágico
entre o pensamento indígena e a literatura ocidental. Desse modo, inaugura uma
reflexão que busca devolver o lugar de origem à Makunaíma, sem fazer dele uma
espécie de Santo. Jaider leva em conta as experiências que Makunaíma teve
enquanto Macunaíma sem deixar de denunciar as qualidades negativas que
tentaram imputar a seu avô.
O título do texto em análise é muito importante porque revela toda a orientação que
o argumento de Esbell vai assumir, ao se colocar como neto de Makunaíma ele será
capaz de assumir um local de fala legítimo em seu nome. Para tanto, é importante
observar algumas passagens do texto em que essa relação fica clara: “(...) tanto
meu avô Makunaima quanto eu mesmo, parte direta dele, somos artistas da
transformação (Esbell, 2018, p. 11).” “Ele me disse: - É você mesmo. É você que eu
esperava para me acompanhar” (ibidem, p.16).
Esse local de familiar, de herdeiro de uma tradição em que Esbell se encontra, longe
de ser algo estritamente egocêntrico1, convida o leitor a refletir sobre o lugar de
Macunaíma em nosso imaginário. Ao recolocar Makunaíma como elemento central
dentro do pensamento índigena de sua tradição o autor provoca mais um
questionamento em relação a obra de Mário de Andrade, provocando-a a ponto de
possuir a potência de re-interpretar o lugar desse ser na tradição do pensamento
literário brasileiro e assim interpelar até mesmo as características mais marcadas do
“herói” Marioandradino, que foram irremediavelmente transpostas ao povo brasileiro,
quais sejam, a preguiça e a ausência de caráter.
O autor parece saber lidar muito bem com as ideias de representação e
autorrepresentação, transitando entre as identidades de artista indígena
contemporâneo, geógrafo e indígena pertencente a um povo em específico, Jaider
parece jogar com o campo semântico desses três universos ora se colocando em
um posição determinada, ora se posicionando em outro lugar. O artista-autor
mostra-se assim um grande estrategista como é característico de seu povo.
Além de recolocar a presença de Makunaíma no cenário nacional, parece que
Esbell nos convida a repensar exatamente essas características que de forma
grosseira foram imputadas ao seu avô e que foram, também grosseiramente,
transpostas ao povo brasileiro.
Como “neto” herdeiro da voz e da representação, Esbell
desconstrói a má imagem que a narrativa, sabidamente
ficcional, de Mário, bem como a do antropólogo alemão,
atribuem a seu avó: “É mostrado seco, mau, do tipo perverso,
detentor de péssimas qualidades, mesmo como um reforço à
ideia de machismo e patriarcado”. (Mibielli, Campos & Jobim,
2019, pg. 06)
1 Neste ponto vale consultar as reflexões do artista em relação a se posicionar como indivíduo criador
de obras de arte e os possíveis tensionamentos que essa posição gera em relação ao seu povo de
origem, reflexões disponíveis em sua entrevista na Revista Usina (2018).
Além do seu texto publicado com esse presente tom poético, Jaider também se
utiliza das obras de artes para repensar a representação a respeito de seu avô.
Para tanto ele cria uma série de imagens que representam Makunaíma de
diferentes formas. No texto em questão algumas dessas imagens são apresentadas
e a cada uma delas é imputada uma legenda, que parece querer criar índices de
interpretação para a imagem exposta. A título de apreciação, acreditamos que vale
reproduzir aqui uma dessas imagens e sua legenda:
Makunaima – I. Técnica: acrílica e pincel posca sobre tela. Tamanho 90 x 90 cm. Ano 2017.
A imagem sugere um agregar de elementos dispersos para o
surgimento de uma ideia figurativa para o mito fluido.
É fluido pois vem de um estado de energia e caminha por um
tempo onde em um determinado espaço desse tempo homens
e demais seres também eram mais fluidos.
Fundiam-se?
Vamos anotar essas questões para o momento.
Falamos aqui do tempo em que tudo poderia ser tudo.
Falamos de um tempo em que as coisas mudavam de forma
sob outras circunstâncias.
É desse tempo que vem Makunaima.
Aliás, ele vem de um tempo anterior.
Passar pela necessidade de uma forma humana
ocidentalizada, concreta e masculina já podem ser efeitos
claros da colonização.
Ao mesmo tempo em que a imagem sugere a ação de
integrar, harmonizar, o excesso de elementos fundantes
também pode sugerir um desagregar, um expandir, um
desintegrar. (Esbell, 2018, pg. 20)
Esbell parece então propor uma forma de desintegração para que assim
Makunaíma e Macunaíma possa ser reintegrados em novas bases, para que possa
ser valorizado o seu local de importante divindade indígena e que as más
qualidades atribuídas a ele sejam repensadas através de uma ótica decolonial.
Porque como aponta Esbell “Sem adentrar as portas das cosmovisões dos povos
originários não há como discutir decolonização” (Ibidem, p. 13). Talvez seja esse um
caminho adequado também para repensarmos a influência de Macunaíma para a
identidade nacional, afinal agora sabemos muito mais sobre ele.
Referências bibliográficas:
ESBELL, Jaider. Makunaima, o meu avô em mim! In: Revista Iluminuras, Porto
Alegre, v. 19, n. 46, p. 11-39, jan/jul, 2018.
ESBELL, Jaider. Além da visualidade: entrevista com Jaider Esbell, Revista Usina,
2018. Disponível em:
<https://revistausina.com/entrevista/alem-da-visualidade-entrevista-com-jaider-esbell
/>
MIBIELLI, Roberto; CAMPOS, Sheila Praxedes Pereira; JOBIM, José Luís. JAIDER
ESBELL, MAKUNAIMA/MACUNAÍMA E A ARTE/LITERATURA INDÍGENA. Revista
Brasileira de Literatura Comparada, v. 21, n. 38, p. 33-40, 2019.

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