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Psicopatologia ULA

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1 
 
UNIVERSIDADE LUSIADA DE ANGOLA 
CURSO DE PSICOLOGIA 
PSICOPATOLOGIA 
PROF.: ANTÓNIO SARAIVA E ANA SEBASTIÃO 
 
ALTERAÇÕES DA SENSO-PERCEPÇÃO 
 
DISTÚRBIOS DA SENSO-PERCEPÇÃO 
1. ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS: 
- HIPERESTASIA 
- HIPOESTASIA 
- ANESTESIA 
- ANALGESIA 
- DIVERSAS FORMAS DE AGNOSIAS 
2. ALTERAÇÕES QUALITATIVASPOR REPRESENTAÇÕES: 
- ILUSÃO 
- ALUCINAÇÕES 
. VISUAIS 
. AUTOSCÓPICAS 
. EXTRACAMPINAS 
. OLFATIVAS 
2 
 
. GUSTATIVAS 
. TÁTEIS 
. CINESTÉSICAS 
. CENESTÉSICAS 
- ALUCINOSE 
- PSEUDOALUCINOSES 
 
Senso percepçãoO que percebemos? 
Na realidade, perguntas distintas podem ser feitas sobre essa questão: o que percebemos 
e o que sentimos. Para percebermos o mundo ao redor teremos de nos valer dos nossos 
sistemas sensoriais. Cada sistema é nomeado de acordo com o tipo da informação: visão, 
audição, tacto, paladar, olfacto e gravidade. Esta última ligada à sensação de equilíbrio. 
Portanto, vamos falar antes da Sensação e depois da Percepção. 
Sensação: 
 
Em seu significado preciso, a sensação é um fenómeno psíquico elementar que resulta da 
acção de estímulos sobre os nossos órgãos dos sentidos. Entre o estado psicológico actual 
e o estímulo exterior há um factor causal e determinante ao qual designamos sensação, 
portanto, deve haver uma concordância entre as sensações e os estímulos que as 
produzem. 
As sensações podem ser classificadas em três grupos principais: externas, internas e 
especiais. 
a) As sensações externas são aquelas que reflectem as propriedades e aspectos de tudo, 
humanamente perceptível, que se encontra no mundo exterior. Para tal nos valemos dos 
órgãos dos sentidos; sensações visuais, auditivas, gustativas, olfactivas e tácteis. A 
resposta específica (sensação) de cada órgão dos sentidos aos estímulos que agem sobre 
eles é consequência da adaptação desse órgão a esse tipo determinado de estímulo. 
3 
 
b) As sensações internasreflectem os movimentos de partes isoladas do nosso corpo e o 
estado dos órgãos internos. Ao conjunto dessas sensações se denomina sensibilidade 
geral. Os receptores dessas sensações se acham localizados nos músculos, nos tendões e 
na superfície dos diferentes órgãos internos. Portanto, esse grupo engloba três tipos de 
sensações: motoras, de equilíbrio e orgânicas. 
As sensações motoras nos orientam sobre os movimentos dos membros e do nosso corpo. 
As sensações de equilíbrio provêm da parte interna do ouvido e indicam a posição do 
corpo e da cabeça. 
As sensações orgânicas se originam nos órgãos internos: estômago, intestinos, pulmões 
etc. Seus receptores estão localizados na superficie desses órgãos. Outros sensores sutis 
são capazes de captar informações mais refinadas, tais como temperatura, excitação 
sexual e volume sanguíneo. 
c) A sensação especial se manifesta sob a forma de sensibilidade para a fome, sede, 
fadiga, de mal-estar ou bem-estar. Essas sensações internas nos dão a sensibilidade de 
bem-estar, mal-estar, etc., 
Percepção 
Ainda que dois seres humanos dividam a mesma arquitectura biológica e genética, talvez 
aquilo que um deles percebe como uma cor ou cheiro, não seja exactamente igual à cor e 
cheiro que o outro percebe. Nós damos o mesmo nome a esta percepção mas, com certeza, 
não sabemos se elas relacionam à realidade do mundo externo exactamente da mesma 
maneira que a realidade percebida por nosso semelhante. Talvez nunca saberemos. 
O termo percepção designa o ato pelo qual tomamos conhecimento de um objecto do 
meio exterior. A maior parte de nossas percepções conscientes provém do meio externo, 
pois as sensações dos órgãos internos não são conscientes na maioria das vezes e 
desempenham papel limitado na elaboração do conhecimento do mundo. 
A percepção, ao contrário da sensação, não é uma fotografia dos objectos do mundo 
determinada exclusivamente pelas qualidades objectivas do estímulo. Na percepção, 
acrescentamos aos estímulos elementos da memória, do raciocínio, do juízo e do afecto, 
4 
 
portanto, acoplamos às qualidades objectivas dos sentidos outros elementos subjectivos 
e próprios de cada indivíduo. 
Alterações da Senso percepção 
A capacidade da pessoa perceber a realidade à sua volta e que se faz através dos cinco 
sentido, pode sofrer alterações sob duas bases distintas; uma base estritamente orgânica, 
referente à integridade do sistema sensorial e cujas vias pertencem à neurofisiologia e; 
uma base psíquica compreendida pelos elementos emocionais envolvidos na consciência 
da realidade. 
Alterações na Intensidade das Sensações 
As alterações na intensidade das sensações referem-se ao aumento e à diminuição do 
número e da intensidade dos estímulos procedentes dos diversos campos da sensibilidade. 
Hiperestesia 
Hiperestesia sensorial é o aumento da intensidade das sensações. Maior excitabilidade da 
sensibilidade fisiológica e aceleração do ritmo dos processos psíquicos. Nos estados de 
grande ansiedade, de fadiga ou esgotamento, por exemplo, onde a capacidade adaptativa 
está comprometida, a audição e o tacto podem estar aumentados. A hiperestesia sensorial 
é freqüente nos pacientes afectivos, nos neuróticos, nos estados de excitação maníaca, no 
tétano, na raiva (hidrofobia), nos acessos de enxaqueca e, ocasionalmente, em alguns 
casos de epilepsia. 
Hipoestesia 
Hipoestesia sensorial é a diminuição da sensibilidade. Na maioria dos estados de 
depressão pode ser observada diminuição da sensibilidade aos estímulos sensoriais, 
diminuição da sensibilidade fisiológica e lentidão dos processos psíquicos. 
Pode haver diminuição da sensibilidade sensorial em função de factores emocionais, 
como no caso citado acima das depressões, também em situações neurológicas, como o 
estupor, nas síndromes que se acompanham de obnubilação da consciência, nos estados 
infecciosos e pós-infecciosas e em períodos pós-trauma. 
Anestesia 
5 
 
A Anestesia diz respeito à abolição de todas as formas de sensibilidade. Observa-se 
anestesia, geralmente, em afecçõesneurológicas focais e em seccionamentos de nervos 
periféricos aferentes. Na psiquiatria observamos anestesias regionais em pacientes 
conversivos. Nesses casos, as alterações da sensibilidade, tomando por base sua 
topografia e qualidade das alterações não obedecem os dermátomos neurofisiológicos 
nem as vias normais da sensibilidade. 
Alterações na síntese perceptiva – AGNOSIAS 
A síntese das sensações de forma a constituir percepções conscientes dá-se nas zonas 
corticais do SNC. A anestesia, surdez ou cegueira podem resultar da lesão de um órgão 
sensorial periférico, do nervo aferente ou da zona cortical do SNC onde se projectam 
essas sensações determinando o desaparecimento delas. 
Agnosia Visual 
As agnosias visuais podem ser de objectos, de formas, de cor e de espaço. Nos dois 
primeiros casos, o paciente se mostra incapacitado para identificar o objecto ou a forma 
deste. A sensação óptica nesses casos se constitui muito mais em contornos, superfícies 
e cores, luzes e sombras. 
Agnosia Táctil 
Agnosia Táctil se refere à incapacidade para reconhecer objectos mediante o sentido do 
tacto, apesar da sensibilidade se encontrar conservada no fundamental. O transtorno recai 
sobre as qualidades dos objectos. O enfermo perde a possibilidade de discriminar as 
diferenças de intensidade e extensão das sensações tácteis. 
Agnosia Auditiva 
Agnosia Auditiva é quando o paciente ouve sons e ruídos, porém não consegue identificá-
los, não os compreende. 
Alterações por Representação 
Os dois principais Distúrbios da Sensopercepção tratados aqui serão as Ilusões e as 
Alucinações Em relação às Ilusões parece haver um consenso acerca de seu estudo 
pertencer ao campo da sensopercepção, entretanto, quanto às Alucinações, alguns autores 
6 
 
preferem vê-las como Distúrbios da Representação. Por razões didácticas aceitamos 
ambas como transtornos da sensopercepção.ILUSÕES 
Segundo Bleuler, as ilusões são percepções reais falsificadas e estudadas sob o título 
engano dos sentidos. Trata-se, na realidade, da interpretação distorcida de um objecto 
real, uma falsificação da percepção de um objecto que, de fato, existe. É uma percepção 
enganosa de um objecto real. 
Nesta caricatura do processo de percepção nossos sentidos são simplesmente enganados 
por alguma variável circunstancial (iluminação, distância, efeitos ópticos, etc.) ou 
deixam-se superar por alguma emoção. É o caso, por exemplo, de um ruído qualquer, 
parecer-nos passos misteriosos, das manchas num papel serem percebidas como símbolos 
religiosos, de um barulho indefinido soar-nos como alguém nos chamando e assim por 
diante. Sem dúvida, tais acontecimentos estão impregnados pelo medo, pela necessidade 
religiosa, pela saudade ou por qualquer outro tipo de emoção. 
Por si só a ilusão não constitui um estado mórbido, mas pode denotar um estado 
emocional mais ou menos intenso; desde pequenas oscilações do normal até situações 
patológicas. Os enganos da ilusão podem afectar os cinco sentidos. 
Organicamente a desfiguração de objectos pode surgir como um incómodo sintoma de 
certas epilepsias de lobo temporal. Nestes casos as pessoas, por exemplo, podem adquirir 
a configuração de monstros, demónios, caveiras, etc. As Ilusões podem acontecer em 
qualquer doença mental, entretanto, elas são mais frequentes nas alterações da tonalidade 
afectiva. Podem estar presentes na Psicose Maníaco Depressiva, em determinadas 
neuroses ou ainda, em ocorrências fortuitas do cotidiano emocional de quem atravessa 
momentos de forte tensão. Tudo isso deve sugerir que o contacto com a realidade, a 
impressão que elaboramos do mundo à nossa volta é sempre decorrente da integridade do 
aparelho psíquico, mais do que uma simples consequência da normalidade fisiológica. 
ALUCINAÇÕES 
Alucinação é a percepção real de um objecto inexistente, ou seja, são percepções sem um 
estímulo externo. Dizemos que a percepção é real, tendo em vista a convicção inabalável 
7 
 
que a pessoa manifesta em relação ao objecto alucinado, portanto, será real para a pessoa 
que está alucinando. 
Sendo a percepção da alucinação de origem interna, emancipada de todas variáveis que 
podem acompanhar os estímulos ambientais (iluminação, acuidade sensorial, etc.), um 
objecto alucinado muitas vezes é percebido mais nitidamente que os objectos reais de 
fato. 
As alucinações podem manifestar-se também através de qualquer um dos cinco sentidos, 
sendo as mais frequentes as auditivas e visuais. O fenómeno alucinatório tem conotação 
muito mais mórbida que a Ilusão, sendo normalmente associado à estados psicóticos que 
ultrapassam a simplicidade de um engano dos sentidos. Na Alucinação o envolvimento 
psíquico é muito mais contundente que nos estados necessários à Ilusão. 
Alucinações Auditivas 
Como as mais frequentes, podem aparecer sob forma de Alucinações Auditivas 
Elementares, quando a percepção diz respeito a sons inespecíficos, tais como chinados, 
zumbidos, ruídos de sinos, roncos, assobios, etc. Em se tratando de patologia mais séria, 
aparecem como Alucinações Auditivas Complexas, onde se percebem vozes bem 
definidas. Essas vozes podem ter as mais variadas características: diálogos entre mais de 
um interlocutor, comentários sobre actos do paciente, críticas sobre a pessoa que alucina, 
podem ainda, por outro lado, proferir injúrias e difamações, comunicar informações 
fantásticas, sonorizar o pensamento do próprio paciente ou de terceiros. Tais vozes 
ouvidas podem ser provenientes, na ideia do doente, do além, do sobrenatural, dos 
demónios ou de Deus. 
O fenómeno de perceber uma voz que não existe (percepção de objecto inexistente) é a 
Alucinação propriamente dita e, interpretá-la como sendo a voz do demónio, de Deus, 
dos espíritos mortos ou uma audição telepática já faz parte do delírio. Este, 
frequentemente, acompanha o fenómeno alucinatório. Ouvir vozes faz parte da 
sensopercepção e atribuir a elas algum significado faz parte do pensamento, cujos 
distúrbios veremos adiante. 
Algumas vezes as vozes alucinadas podem determinar ordens ao paciente, o qual as 
obedece mesmo contra sua vontade. Diante desta situação, de obediência compulsório às 
8 
 
ordens ditadas por vozes alucinadas, chamamos de AUTOMATISMO MENTAL. Esta 
situação oferece alguma periculosidade, já que, quase sempre, as ordens proferidas são 
eticamente condenáveis ou socialmente desaconselháveis. 
Normalmente, a Alucinação Auditiva é recebida pelo paciente com muita ansiedade e 
contrariedade pois, na maioria das vezes, o conteúdo de tais vozes é desabonador, 
acusatório, infame e caluniador. Quando elas ditam antecipadamente as atitudes do 
paciente falamos em SONORIZAÇÃO DO PENSAMENTO, como se ele pensasse em 
voz alta ou como se alguma voz estivesse permanentemente comentando todos seus atos: 
" lá vai ele lavar as mãos", "lá vai ele ligar a televisão" e assim por diante. 
Alucinações Visuais 
São percepções visuais, como vimos, de objectos que não existem, tão claras e intensas 
que dificilmente são removíveis pela argumentação lógica. Mesmo o paciente referindo 
ter visto apenas vultos, tais vultos são muito fielmente percebidos, portanto são reais para 
a pessoa que os percebe. Tal qual nas Alucinações Auditivas, aqui também elas podem 
ser consideradas Elementares, quando o objecto alucinado não tem uma forma específica: 
clarões, chamas, raios, vultos, sombras, etc. Serão Complexas quando as formas se 
definem em figuras nítidas: pessoas, monstros, demónios, animais, santos, anjos, bruxas. 
Há determinadas ocasiões onde o transtorno Visual alucinatório adquire a consistência de 
uma cena, uma situação como, por exemplo, ver uma carruagem passando pela paciente 
e dela descer um príncipe. Neste caso falamos em ALUCINAÇÕES ONIRÓIDES 
(cénicas), como se transcorresse num sonhar acordado. No DeliriumTremens do 
alcoolista, por exemplo, as Alucinações Visuais tem uma temática predominantemente 
de bichos e animais peçonhentos (cobras, aranhas, percevejos, jacarés, lagartos) e, neste 
caso, damos o sugestivo nome de ZOOPSIAS, promovedoras de grande ansiedade e 
apreensão. 
Nas situações onde o paciente se vê fora de seu próprio corpo falamos em 
ALUCINAÇÕES AUTOSCÓPICAS e, quando ele consegue ver cenas e objectos fora de 
seu campo sensorial, como ver do lado de fora da parede, teremos as ALUCINAÇÕES 
EXTRA-CAMPINAS. 
9 
 
O conteúdo das alucinações é extremamente variável, porém, guarda sempre uma íntima 
relação com a bagagem cultural do paciente que alucina. Não é possível alucinar com 
alguma coisa que não faça parte do mundo psíquico do paciente. Um físico nuclear pode 
alucinar com um certo brilho atômico a revestir seus inimigos, enquanto um cidadão 
menos diferenciado, com um espírito do morto a rondar sua casa, ambos porém, 
independentemente do nível sócio-cultural têm a mesma probabilidade de alucinar. A 
sofisticação e exuberância do material alucinado dependerá da bagagem cultural de quem 
alucina mas não interfere na valorização semiológica do fenómeno. 
ALUCINAÇÕES TÁTEIS 
A percepção de estímulos tácteis sem que exista o objecto correspondente é observada 
principalmente nas psicoses tóxicas e nas psicoses delirantes crónicas, como veremos 
adiante. Nestes casos, principalmente no DeliriumTremens ou na dependência de cocaína, 
o paciente sente-se picado por pequenos animais, insectos esquisitos, vermes que 
caminham sobre a pele, pancadas, alfinetadas, queimaduras, estranhos carrapatos que 
penetraram em algum orifício fisiológico, etc. Não são raros os casos de alucinação táctil 
que se caracteriza pela sensação de ter-se as pernas puxadas à noite ou estrangulamento, 
sufocação ou opressão antes de conciliar o sono. 
Quando esta percepção falseada diz respeito aos órgãos internos ou ao esquema corporal 
falamos em ALUCINAÇÕES CENESTÉSICAS.Nestes casos os doentes sentem como 
se tivessem seu fígado revirado, esvaziado seu pulmão, seus intestinos arrancados, o 
cérebro apodrecido, o coração rasgado, e assim por diante. As Alucinações Cenestésicas 
devem ser diferenciadas das ALUCINAÇÕES CINESTÉSICAS, que não dizem 
respeito à sensação tátil, mas sim aos movimentos (cine-movimento). Nas cinestesias os 
pacientes percebem as paredes movendo-se ou eles próprios movendo-se no espaço. 
Um paciente delirante crônico sentia que seu cérebro estava infestado de germes, os quais, 
esporadicamente, escorriam-lhe pelo nariz. Neste caso uma Alucinação Tátil Cenestésica. 
Outro queixava-se de inúmeros percevejos que furavam-lhe a pele o tempo todo. Era um 
portador de DeliriumTremens, e, inclusive, mostrava os insetos que conseguia apanhar 
para o médico (o qual, evidentemente, não os via). Trata-se de Alucinações Táteis puras. 
Outro, já idoso, que sabia ter seus pulmões corroídos por vermes provenientes de carne 
10 
 
suína, tossia seguidamente e vivia submetendo-se a freqüentes exames de raios X. Neste 
último caso, uma Alucinação Cenestésica pura. 
ALUCINAÇÕES GUSTATIVAS E OLFATIVAS 
Normalmente, as Alucinações Olfativas e Gustativas estão associadas e são raras. Estados 
delirantes cujo tema diz respeito à putrefação, o gosto e os odores podem ser muito 
desagradáveis e são percebidos, como é típico de todas alucinações, sem que exista o 
objeto correspondente ao gosto e ao cheiro. 
Algumas auras epilépticas determinam o aparecimento de Alucinações Gustativas e/ou 
Olfativas. Em geral os gostos alucinados aparentam ser de sangue, terra, catarro ou 
qualquer outra coisa desagradável; os odores podem ser desde perfumes exóticos até de 
fezes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
ALTERAÇÕES DA ATENÇÃO 
Uma maneira importante pela qual a percepção se torna consciente é através da Atenção 
que, em essência, é a focalização consciente e específica sobre alguns aspectos ou 
algumas partes da realidade. Assim sendo, nossa consciência pode, voluntariamente ou 
espontaneamente, privilegiar um determinado conteúdo e determinar a inibição de outros 
conteúdos vividos simultaneamente. Portanto, reconhece-se a Atenção como um 
fenómeno de tensão, de esforço, de concentração, de interesse e de focalização da 
consciência. 
Vários estados emocionais podem alterar a capacidade de Atenção, ora alterando sua 
intensidade, ora alterando sua tenacidade ou sua vigilância. Sob a influência de 
determinados alimentos, de bebidas alcoólicas e de substâncias farmacológicas, a 
Atenção também pode experimentar alterações em seu rendimento e em sua eficiência. 
A Atenção pode ser entendida como uma atitude psicológica através da qual 
concentramos a nossa actividade psíquica sobre um estímulo específico, seja este 
estímulo uma sensação, uma percepção, representação, afecto ou desejo, a fim de elaborar 
os conceitos e o raciocínio. Portanto, de modo geral a Atenção parece criar a própria 
consciência. 
Alguns autores consideram a Memória em si, um processo puramente fisiológico, 
enquanto a fixação e a evocação mnêmicas das lembranças seriam actos psíquicos e 
vividos pelo indivíduo. 
Para que uma lembrança seja eficaz é indispensável a compreensão do objecto sobre o 
qual se polariza a Atenção, condição essa que depende da afectividade e do interesse. 
Kraepelin já afirmava a lembrança poderia persistir por mais tempo quanto mais 
claramente (mais compreensivamente) se percebia o estímulo original e quanto mais 
numerosas e intensas fossem suas ligações com o resto do conteúdo da consciência. 
Portanto, as lembranças perduram por mais tempo quanto mais são reforçadas pela 
repetição. 
Foco de Atenção 
O aspecto para o qual se dirige a Atenção é chamado de alvo (perceptual e motor), por 
isso e apropriadamente, podemos fazer uma analogia didáctica do focalizar da 
12 
 
consciência com um alvo de tiro. O elemento que, em dado momento, constitui o objecto 
de nossa Atenção, ocupa sempre o ponto central do campo da consciência. O centro desse 
alvo perceptual corresponde ao grau máximo de consciência e é denominado foco da 
Atenção. Aí, tudo o que é focal é percebido com Atenção em seu redor, porém, existem 
outros objectos ou fenómenos psíquicos, os quais, sem ter abandonado o campo da 
consciência, deixam de ser objecto de Atenção. Os círculos concêntricos mais próximos 
exprimem, esquematicamente, a área subconsciente e o círculo mais afastado o 
inconsciente. 
Aspecto Temporal da Atenção 
Geralmente, a duração de um determinado foco de Atenção é breve. Existe constante 
passagem da Atenção de uma parte da realidade para outra e isso se dá por várias razões. 
De um lado, existe na Atenção, como em todos os processos psicológicos, uma forma de 
saciedade. Esta saciedade tende a inibir a continuidade de Atenção em determinada 
direcção, como se a pessoa estivesse continuadamente em busca de novidades 
perceptivas. A Atenção tende a mudar, espontaneamente, depois de um período de 
focalização em uma parte da realidade. 
Tipos de Atenção: 
Nossos 5 sentidos podem ser activados conscientemente para focalizar a Atenção sobre 
um determinado estímulo. Os condicionamentos, muitas vezes inconscientes, podem 
proporcionar uma certa actividade de espera, mais ou menos orientada, no sentido de 
confirmar ou não uma determinada expectativa. 
Atenção Motora 
Na Atenção motora, a consciência está concentrada na execução de uma actividade física 
e muscular pré-programada. Ao olhar para um objecto, por exemplo, a pessoa se inclina 
na direcção desse objecto, e o mecanismo ocular actua de forma que os olhos se dirijam 
ao objecto até que este caía na fóvea; os músculos do cristalino se acomodam de forma 
que a imagem fique no foco mais claro, etc. Ao ouvir um som baixo a pessoa estica o 
pescoço para a frente, coloca sua mão atrás da orelha, e pode fechar os olhos a fim de 
eliminar os estímulos visuais concorrentes na tentativa de seleccionar um determinado 
13 
 
objecto (sonoro) como foco de sua Atenção. Talvez seja por isso que algumas pessoas 
têm que tirar os óculos de sol para prestarem mais Atenção em sons ou imagens. 
Veja-se, por exemplo, a brincadeira de tapa nas mãos. Neste joguete um dos jogadores, 
aquele que dará os tapas, fica com as mãos espalmadas para cima, enquanto o outro coloca 
suas mãos sobre as mãos do primeiro. Repentinamente o primeiro tentará retirar suas 
mãos e estapear as mãos do segundo. Vence o mais rápido. O segundo deve retirar suas 
mãos, tão logo perceba que o primeiro iniciou o movimento de estapeá-lo. 
Atenção Intelectual 
Representa o acto de reflexão e de actividade racional dirigidos na resolução de qualquer 
problema conscientemente definido. Apesar da divisão da Atenção em Atenção Sensorial, 
Atenção Motora e Atenção Intelectual, de certa forma a Atenção implica sempre em 
alguma actividade intelectual, ora orientando os movimentos, ora dando sentido às 
percepções. 
Afecto e Atenção 
Um dos factores individuais de maior influência no processo da Atenção destacam-se as 
condições do estado de ânimo ou de interesse, os quais podem facilitar ou inibir a 
mobilização da Atenção. 
Nossa Atenção sobre algo é tanto mais intensa quanto mais nos interessa esse algo, quanto 
mais desejamos conhecê-lo e compreendê-lo, quanto mais isto nos proporcione prazer ou 
satisfação. É por isso que, durante os episódios depressivos, onde o prazer e o interesse 
estão significativamente comprometidos, a Atenção e a Memória estarão também 
severamente prejudicadas; por falta de interesse e prazer. 
Determinates da Atenção 
Falamos comumente da Atenção como voluntária ou involuntária. A primeira refere-se a 
casos onde o indivíduo parece ter liberdade na determinação do foco de sua Atenção, 
liberdade em escolher intencionalmente aquilo sobre que prestar Atenção. 
A Atenção involuntária ou espontânea refere-se a casos em quea pessoa parece menos o 
agente de escolha da direcção de sua Atenção do que um joguete nas mãos de forças que 
14 
 
a obrigam a atentar para isso ou aquilo. Numa narração folclórica e nativas de um 
contador de casos africanos, é cómica a passagem onde diz, diante da censura de sua 
mulher por ter olhado demais para outra mulher: "- eu não queria olhar, mas os olhos 
queriam...". 
Outros determinantes se ligam a características duradouras dos objectos estimulantes. 
Essas características determinantes podem ser tão solicitantes que acabam atraindo 
tiranicamente a Atenção, apesar parecer que a pessoa atentou voluntariamente. 
Tenacidade e Vigilância 
Para a Atenção, somente uma parte das excitações sensoriais adquire relevo, dando 
origem à uma forma sobre a qual se polariza a Atenção, enquanto as partes restantes 
representam o fundo, menos claro, mais difuso e mais fluido, integrado para alguma 
realização pessoal, e serão "claras" e "nítidas" as percepções contidas no foco da Atenção, 
"vagas" e "difusas" aquelas que se encontram além desse foco. 
O nível da Atenção depende de vários factores. Como vimos acima, o principal desses 
factores é o ânimo ou o interesse (em outras palavras, o afecto). Quando nos encontramos 
diante de uma variedade de objectos, a Atenção está dispersa e os diferentes objectos 
recebem pequenas quantidades de energia e alcançam um grau médio de Atenção. Mas, 
ao concentrarmos a Atenção num único objecto, toda a energia se orienta neste sentido e 
os demais objectos ficam numa zona obscura. No entanto, no objecto em que se 
concentrou a Atenção se descobre uma infinidade de pormenores que haviam passado 
desapercebidos quando este se achava imerso nos demais. Neste caso a Atenção foi 
polarizada no objecto escolhido. 
Cisão da Atenção 
É quando os objectos da Atenção opõem-se um ao outro e, por causa disso, não se pode 
estabelecer uma unidade. Observação das mais significativas para a Psicopatologia 
consiste na noção de "cisão" da Atenção. Este facto pode ocorrer com relativa frequência 
em alguns transtornos psíquicos, criando sérios problemas para a mente que deve atender, 
simultaneamente, a objectivos múltiplos ou extremamente contraditórios. No caso de 
"cisão", Nos casos mais acentuados, em que se manifestam outros sintomas 
concomitantes, a cisão da Atenção pode determinar uma verdadeira desintegração da 
15 
 
mente. Batesonpropos a hipótese do "duplo-vínculo", aplicável às situações insolúveis 
em que se encontram muitos indivíduos no contexto familiar. 
Distração 
Sob o rótulo de distracção existem dois estados diferentes. Por excesso ou por falta de 
tenacidade. Primeiro, diz respeito à dificuldade da Atenção em fixar-se, portanto, falta de 
tenacidade. A dificuldade de tenacidade, por si só, não implica, como vimos, em prejuízo 
obrigatório da vigilância. 
No segundo caso trata-se do contrário, ou seja, de uma concentração ou tenacidade muito 
intensa em determinado estímulo, assunto ou representação, que acaba por impedir a 
apreensão de tudo que não se refere ao motivo principal da Atenção, ou seja, por quase 
abolição da vigilância. É a distracção do preocupado, do sábio ou do estudioso, 
interessados vivamente e exclusivamente por algum pensamento. 
Hiperprosexia 
Apesar do prefixo "hiper", há aqui prejuízo da Atenção. O "hiper" refere-se ao aumento 
quantitativo da Atenção. Como, em termos de Atenção, a quantidade pode ser tida como 
contrária à qualidade, esse tipo de alteração da Atenção se caracteriza por uma extrema 
habilidade da Atenção (voluntária ou tenaz), o que leva o indivíduo a se interessar, 
simultaneamente, às mais variadas solicitações sensoriais, sem se fixar sobre nenhum 
objecto determinado. Refere-se, pois, a uma hiperactividade da Atenção espontânea. 
Esta super-vigilância acompanhada de sub-tenacidade da Atenção é observada em estados 
patológicos acompanhados de excitação psicomotora, como é o caso do Episódio de 
Mania (euforia), nas intoxicações exógenas por estimulantes como a cocaína ou 
anfetaminas, na embriaguez, na esquizofrenia ou mesmo em pessoas normais passando 
por momentos de grande excitação. 
Hipoprosexia 
Consiste no enfraquecimento acentuado da Atenção em todos os seus aspectos, isto é, 
tanto da Atenção voluntária, quanto da Atenção espontânea (tenacidade e vigilância). É 
observada nos estados onde haja obnubilação da consciência, seja por razões neurológicas 
ou psiquiátricas. Também na embriaguez alcoólica aguda ou embriaguez patológica, em 
16 
 
casos de psicoses tóxicas, na amência, nos quadros de demências, na paralisia geral, na 
esquizofrenia e em certas reações vivenciais anormais. Os estados depressivos sempre se 
acompanham de diminuição da capacidade de concentrar a Atenção, particularmente nos 
quadros de depressão ansiosa, que podem chegar, em casos de estupor melancólico, a 
uma diminuição acentuada da capacidade de concentrar a Atenção. 
Em enfermos esquizofrênicos inibidos, a Atenção pode estar polarizada para o mundo 
interno (introspecção), dando ao examinador a impressão de desinteresse completo ao 
mundo exterior. Quando isso acontece falamos em postura autista. Nos deficientes 
mentais também se observa déficit da capacidade de Atenção, tanto mais acentuado 
quanto maior for o grau de deficiência mental, chegando, em alguns casos, à ausência 
completa de Atenção. 
Aprosexia 
Aprosexia é a falta absoluta de Atenção, dependendo esse tipo de transtorno de acentuada 
deficiência intelectual ou de inibição cortical. Esse estado difere da insuficiente 
capacidade de concentração de origem afectiva e das manifestações autistas dos 
esquizofrénicos. Observa-se a aprosexia, no estupor e nos estados de demências. 
ALTERAÇÕES DA MEMÓRIA 
MEMÓRIA DE FIXAÇÃO, MEMÓRIA DE CONSERVAÇÃO E MEMÓRIA DE 
EVOCAÇÃO 
Hiperminésia 
Ocorre Hipermnésia quando lembranças casuais são evocadas com mais vivacidade e 
exatidão que normalmente, ou quando se recordam particularidades que comumente não 
surgem na consciência. A Hipermnésia pode ser observada em alguns estados orgânicos, 
como é o caso das afecções febris toxi-infecciosas. Nesses casos podem aparecer 
lembranças da juventude ou da infância ou de fatos que a pessoa nem sequer tinha mais 
consciência de sua existência. Também pode haver Hipermnésia por estimulação 
hipnótica, onde recordações de particularidades muito complicadas são revividas com 
exactidão. 
 
17 
 
Hipomnésia e Amnésia 
A Hipomnésia e a Amnésia podem ser consideradas como graus de hipofunção da 
memória, ou seja, são diminuições do número de lembranças evocáveis. A Amnésia, por 
sua vez, seria a desaparição completa das representações mnêmicas correspondentes a um 
determinado tempo da vida do indivíduo". Bleuler prefere o termo debilidade da memória 
ao invés de hipomnesia. Ele diz ainda que a Amnésia não precisa ser completa, havendo 
várias gradações entre o nada absoluto e a lembrança incompleta. 
Segundo Jaspers, "amnésias são perturbações da memória que se estendem a um período 
de tempo delimitado, do qual nada ou quase nada pode ser evocado (Amnésia parcial), 
ou ainda a acontecimentos menos nitidamente delimitados no tempo". Em seguida, estuda 
quatro variedades de Amnésia : 
Tipos de Amnésia 
Amnésia Anterógrada 
Amnésia Anterógrada se refere ao esquecimento dos factos transcorridos depois da causa 
determinante do distúrbio e o transtorno mais freqüente desse tipo de alteração da 
memória é o de fixação. Costuma ser devido à uma concomitante perturbação da atenção, 
tanto da tenacidade quanto da vigilância. 
Como a maioria dos casos se deve a alterações orgânicas, é como se houvesse uma 
diminuição da receptividade do sistema nervoso aos estímulos. A Amnésia Anterógrada 
pode ser observada em lesões cerebrais agudas ou crônicas, sejam devidas a causas 
traumáticas, circulatórias ou tóxicas. Os doentes com Amnésia Anterógrada não podem 
relembraros fatos recentes, porém, conservando a capacidade para recordar 
acontecimentos passados mais remotamente. 
Nos estados demenciais os graves defeitos da fixação se acompanham freqüentemente de 
fabulações, ou seja, tentativas do paciente preencher as lacunas mnêmicas com 
afirmativas completamente aleatórias. 
 
 
18 
 
Amnésia Retrógrada 
Amnésia Retrógrada é quando ocorre perda da memória para os fatos ocorridos antes do 
evento que a causou. Aqui também o dano cerebral, de qualquer natureza, tem destaque 
principal entre as causas. Esse tipo de Amnésia se estende por dias ou semanas anteriores 
à lesão. Em alguns raros casos, a Amnésia Retrógrada pode compreender todos os 
acontecimentos anteriores da vida do enfermo. 
A Amnésia Retrógrada é bastante observada nos quadros neuro-psicológicos senis, após 
um ictus circulatório cerebral e nos traumatismos cranianos, principalmente quando há 
perda de consciência. Apesar da sintomatologia exuberante, a Amnésia Retrógrada pode 
ser reversível, ocorrendo a regressão a partir dos fatos mais antigos para os mais recentes. 
Além de neurológica a Amnésia Retrógrada pode ser psicogênica, em conseqüência de 
traumas emocionais intensos. Nesses casos a Amnésia pode referir-se apenas a 
determinado período de tempo, limitada a lembranças relacionadas com acontecimentos 
angustiantes. Nesses casos, na realidade, não há um verdadeiro apagamento mnêmico e a 
dificuldade da evocação resulta de um mecanismo de defesa (negação). 
Amnésia Retroanterógrada 
Amnésia Retroanterógrada se refere ao esquecimento dos fatos ocorridos antes e depois 
da causa determinante. Trata-se de uma alteração simultânea da fixação e da evocação. 
Encontra-se nos casos graves de demências orgânicas e de traumatismos crânio-
encefálicos. O antigo termo psicorrexe, pouco em uso atualmente, se refere à amnésia de 
instalação súbita e total, privando o indivíduo da capacidade de compreensão e de 
orientação no tempo e no espaço. 
Amnésia Transitória 
Amnésia Transitória é, como o nome diz, uma síndrome amnésica transitória que se 
caracteriza pela incapacidade de fixar os acontecimentos recentes. É observada com 
relativa frequência na convalescença de enfermidades toxi-infecciosas graves onde, 
apesar dos pacientes conservarem boa capacidade de evocação, manifestam sérios 
transtornos da orientação têmporo-espacial, fabulações e perseveração. 
19 
 
Nestes casos de estados toxi-infecciosos graves verificamos um empobrecimento mental 
global e simplificação do pensamento, amortecimento da vida emocional, indiferença, 
apatia, falta de iniciativa e apragmatismo. Em alguns casos, podem surgir síndromes de 
transição confusional e do tipo paranóide-alucinatória. 
Paramnésias 
Os distúrbios da qualidade da memória de evocação denominam-se, de modo geral, 
paramnesias. Estudam-se neste grupo as seguintes alterações: 
Ilusões mnêmicas; 
Alucinações mnêmicas; 
Fabulações; 
fenômeno do já visto ou já vivido; 
Ilusões Mnêmicas 
Tratam-se, as IlusõsMnêmicas de verdadeiras lembranças fictícias, ou seja, a recordação 
vívida de alguma coisa irreal. Nesses casos haveria um acréscimo de elementos falsos na 
consciência, os quais resultariam em lembranças fantásticas como, por exemplo, ter 
existido antes do universo, ter vivido 10 mil anos, ser mãe de dezenas de filhos, ter 
participado da queda da Bastilha ou da Guerra de Tróia e assim por diante. São algo 
diferente dos delírios devido ao fato da pessoa poder descrever minuciosamente as cenas 
vividas, algo como um acontecimento oniróide. 
As IlusõsMnêmicas são a forma mais freqüente de paramnesia e desempenham 
importante papel na psicopatologia, principalmente na sintomatologia psicótica. Segundo 
Bleuler, as IlusõsMnêmicas constituiriam o principal material para elaboração dos 
delírios. Bleuler inclui nas IlusõsMnêmicas as lembranças imprecisas também observadas 
no alcoolismo agudo e crônico, nos orgânicos e nos epilépticos. 
Entre as IlusõsMnêmicas se incluem os falsos reconhecimentos, observados em 
psicóticos quando, muitas vezes, insistem em identificar o médico ou a enfermeira como 
uma pessoa de sua família, a quem até atribuem algum nome de sua familiaridade. Nesses 
casos não se trata de alteração da percepção e sim de formação da Ilusões Mnêmicas, que 
20 
 
leva o paciente a identificar uma pessoa desconhecida com a lembrança de alguém 
familiar. 
Alucinações Mnêmicas 
Alucinações Mnêmicas são criações imaginativas com aparência de reminiscências e 
lembranças, porém, não correspondem a nenhuma imagem de épocas passadas. Nos 
psicóticos surgem, freqüentemente, lembranças reais de vivências irreais que podem 
atribuir uma história de vida completamente diferente. São lembranças que não 
correspondem a nenhum acontecimento vivido. 
Pacientes pré-demenciais ou demenciais podem apresentar essas Alucinações Mnêmicas 
como cenas acontecidas recentemente. Uma nossa paciente em início de demenciação 
insistia que um antigo namorado vinha quase todas as noites visitá-la de carruagem. 
Descrevia a cena com detalhes minuciosos. 
Não se trata de realização de sonhos nem tampouco de alucinação dos sentidos, pois 
muitos dos acontecimentos são situados no tempo em que o indivíduo normalmente se 
ocupava do seu cotidiano. Em outros casos, as alucinações da memória são menos 
sistematizadas e constam apenas de particularidades isoladas. 
Fabulações 
A Fabulação consiste no relato de temas fantásticos que, na realidade, nunca aconteceram. 
Em grande parte, resultam de uma alteração da fixação e de uma incapacidade para 
reconhecer como falsas as imagens produzidas pela fantasia. O conteúdo das fabulações, 
como bem salientou Lange, procede do curso habitual da vida anterior, acontecendo 
muitas vezes que, achando-se perturbada a capacidade de localizá-las no tempo, 
lembranças isoladas autênticas completam erroneamente as lacunas da memória. Nos 
casos em que existem alterações dos conceitos e desorganização da vida instintiva, pode-
se observar a produção rica de conteúdos fabulatórios absurdos e inverosímeis, que, 
habitualmente, adquirem um aspectooniróide. Em outros casos, certas imagens oníricas 
são rememoradas e actualizadas como lembranças autênticas. 
Enquanto as Fabulações preenchem um vazio da memória e se mostram como que criadas 
para este fim, podendo variar de tema e conteúdo, as Alucinações Mnêmicas não mudam, 
21 
 
tal como uma idéia delirante. No sentido mais particular, a Fabulação é, nos estados em 
que não há delírio, um sintoma de comprometimento orgânico. 
ALTERAÇÕES DO PENSAMENTO 
Trata-se, o pensamento, de uma operação mental que nos permite aproveitar os 
conhecimentos adquiridos na vida social e cultural, combiná-los logicamente e alcançar 
uma outra nova forma de conhecimento. Todo esse processo começa com a sensação e 
termina com o raciocínio dialéctico, onde uma ideia se associa a outra e, desta união de 
ideias nasce uma terceira. 
Quando percebemos uma rosa branca concebemos, ao mesmo tempo, as noções de rosa 
e brancura, daí, conceberemos uma terceira ideia que combina as duas primeiras. 
Evidentemente, para concebermos as duas primeiras ideias há a necessidade de que, 
anteriormente, tenhamos de experimentar a rosa e também o branco para, numa próxima 
operação concebermos a rosa branca. 
Conceito, Juízo e Razão 
Chama-se juízo o processo que conduz ao estabelecimento dessas relações significativas 
entre conceitos e, julgar é, nesse caso, estabelecer uma relação entre conceitos. A função 
que relaciona os juízos, uns com os outros, recebe a denominação de raciocínio. Em seu 
sentido lógico, o raciocínio não é nem verdadeiro nem falso, ele será sim, correcto ou 
incorrecto. Portanto, o raciocínio para ser correcto deve ser lógico e, em Psicologia, o 
termo raciocínio tem o mesmo sentido de pensamento. 
Forma do Pensamento 
Havendo saúde mental os estímulos para que o raciocíniose desenvolva devem provir de 
fontes externas e internas. Mas o pensamento não é guiado apenas por considerações 
estritamente atreladas à realidade, ele também flui motivado por estímulos interiores, 
abstractos e afectivos ou até instintivos. A criação humana, por exemplo, ultrapassa 
muitas vezes a realidade dos factos, reflectindo estados interiores variados e de enorme 
valor para a construção de nosso património cultural. 
Voltar-se para o mundo interno significa que o pensamento se manifesta sob a forma de 
DEVANEIOS - uma espécie de servidão das idéias às nossas necessidades mais íntimas, 
22 
 
aos nossos afectos e paixões. Enquanto há saúde mental, entretanto, nossos devaneios são 
sempre voluntários e reversíveis; eles devem ser nossos servos e não nossos senhores. 
Em estados mais doentios, esses devaneios ou fugas da realidade são emancipados da 
vontade, são impostas ao indivíduo de forma absoluta e tirânica. Parece tratar-se de um 
indivíduo que despreza a realidade e vive uma realidade nova que lhe foi imposta 
involuntariamente, da qual não consegue libertar-se. 
Ao pensamento que se afasta da realidade morbidamente, ou seja, doentiamente, damos 
o nome de Pensamento Derreísta ou Pensamento Autista. Falamos “se afasta 
morbidamente da realidade” porque esse tipo de pensamento não mais depende do 
arbítrio que todos temos em fantasiar e voltar à realidade voluntariamente. Ele devaneia 
obrigatoriamente, sendo negado ao paciente a faculdade de entendimento dos limites de 
nossas fantasias, quando nos imaginamos ganhadores da lotaria ou coisas assim, e da 
realidade, com a consciência plena de nossa situação. 
Para aqueles que acreditam ser normal e até desejável que a pessoa tenha seus 
pensamentos exclusivamente atrelados ao concreto e ao real, lembramos que essa 
limitação imposta ao pensamento, fazendo-o incapaz de afastar-se do absolutamente 
concreto, leva o nome de Concretismo, que também é uma alteração da forma do 
pensamento. 
Pensamento Derreísta 
O Pensamento Derreista é aquele que se desvia da razão, faltando-lhe tenacidade para se 
atrelar à realidade. Sua característica principal e criar, a partir de antigas cognições e 
novas representações, um mundo novo e de acordo com os desejos, anseios e angústias. 
Bleuler deixou explícito que nos casos de esquizofrenia o pensar se encontra 
profundamente alterado. O voltar-se para o mundo interno contribui para que o 
pensamento se manifeste sob a forma de devaneio, quando a pessoa pode deixar suas 
fantasias em total liberdade, de rédeas soltas. Em tais circunstâncias, o pensar não 
obedece às leis da lógica e, nos casos mais acentuados, tudo transcorre como se o 
indivíduo estivesse submerso num verdadeiro estado onírico. Para Bleuler, o Pensamento 
Derreísta obedece às suas próprias leis e utiliza as relações lógicas habituais apenas na 
medida em que são convenientes mas, de qualquer forma, ele não se acha ligado de 
23 
 
nenhuma maneira a essas leis lógicas. O Pensamento Derreísta está dirigido pelas 
necessidades íntimas do paciente, o qual pensa mediante símbolos, analogias, conceitos 
fragmentários e vinculações acidentais. 
Pensamento Realista 
O Pensamento Realista é aquele que consegue compatibilizar com naturalidade, ou seja, 
fisiologicamente, tanto a parte formal do raciocínio, quanto a parte mágica natural à todo 
ser humano, ou seja, tanto o raciocínio orientado pela lógica, quanto os devaneios 
espiritualizados e sublimes do ser humano. Essa harmonia entre a lógica e o mágico, 
desejável no ser humano normal, recomenda o ditado de que "não importa se a aventura 
é louca, desde que o aventureiro seja lúcido". 
Alterações do curso do pensamento 
Inibição do Pensamento 
Pelo curso do pensamento podemos ver, inicialmente, seu ritmo. Quanto à isto, o 
pensamento pode manifestar-se normal, rápido ou lento. Em seu ritmo lento temos a 
Inibição do Pensamento. A inibição do pensamento é um sintoma que se manifesta por 
lentidão de todos os processos psíquicos. Nos enfermos em que existe inibição do 
pensamento, observa-se também grande dificuldade na percepção dos estímulos 
sensoriais, limitação do número de representações e lentidão no processo e evocação das 
lembranças. 
Os pacientes com inibição do pensamento mantêm-se apáticos, não falam 
espontaneamente nem respondem às perguntas com vivacidade, respondem lentamente 
ou com dificuldade. A perturbação é também qualitativa ou seja, atinge a essência do 
pensamento e se acompanha, geralmente, de um sentimento subjectivo de incapacidade. 
Junto com inibição do pensamento pode haver ainda sentimento de pouco interesse, de 
imprecisão a respeito das opiniões, dificuldades para a escrita e lentidão para andar. Esses 
pacientes revelam dificuldade de compreensão, de iniciar uma conversação, de escolher 
palavras, enfim, eles pensam com grande esforço. 
 
 
24 
 
Fuga de Idéias 
A Fuga de Idéias é uma alteração da expressão do pensamento caracterizada por uma 
variação incessante do tema e uma dificuldade importante para se chegar a uma 
conclusão. A progressão do pensamento encontra-se seriamente comprometida por uma 
aceleração associativa, a tal ponto que, a idéia em curso é sempre perturbada por uma 
nova idéia que se forma. Segundo Bleuler, na Fuga de Idéias os doentes geralmente são 
desviados da representação do objectivo através de quaisquer idéias secundárias. Assim, 
no pensamento com Fuga de Idéias, o que há não é uma carência de objectivos mas uma 
mudança constante do objectivo devido a extraordinária velocidade no fluxo das idéias. 
A sucessão de novas idéias, sem que haja conclusão da primeira, torna o discurso pouco 
ou nada inteligível. Há, pois, passagem de um assunto para outro sem que o primeiro 
tenha chegado ao fim: "eu não gosto de batatas, mas acho que em São Paulo o clima é 
melhor. Porque o senhor não compra um carro novo?" 
Bloqueio ou Interceptação do Pensamento 
Nesses casos há uma interrupção brusca da idéia em curso e o fluxo do pensamento fica 
bloqueado, cessando repentinamente. É como se, durante uma exposição discursiva, um 
raio caísse bem próximo da pessoa que fala e, pelo susto, interrompesse imediatamente a 
exposição. Depois do susto normalmente existe a pergunta: " o que estava mesmo 
dizendo?" e, em seguida, pode retomar a idéia inicial. Isso é um bloqueio ou interceptação 
do pensamento. 
Normalmente o bloqueio sugere uma espécie de força interior que supera a intenção de 
concluir o tema por alguns instantes; trata-se de uma motivação interna bloqueadora do 
curso do pensamento. Podemos encontrar bloqueios relacionados a fortes emoções 
mesmo na vida psíquica normal. Nos estados patológicos as forças interiores (complexos, 
delírios, paixões) produzem boas razões para os bloqueios. Nesses casos, havendo uma 
interrupção da idéia em curso haverá, consequentemente, uma interrupção do discurso. 
Na esquizofrenia observa-se com frequência o aparecimento inesperado de interceptação 
das idéias. O doente começa a expor um assunto qualquer e, subitamente, se detém. As 
vezes, depois de alguns instantes, volta a completar o pensamento interrompido, outras 
vezes, inicia um ciclo de pensamento completamente diferente. 
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Perseveração 
É a repetição continuada e anormalmente persistente na exposição de uma idéia. Existe 
uma aderência persistente de um determinado pensamento numa espécie de ruminação 
mental, como se faltasse ao paciente a formação de novas representações na consciência. 
Percebemos que há uma grande dificuldade em desenvolver um raciocínio, seja por 
simples falta de palavras, por escassez de idéias ou dificuldade de coordenação mental. 
Por definição a Perseveração do Pensamento é a repetição automática e frequente de 
representações, predominantemente verbais e motoras, que são evocadas como material 
supérfluo nos casos em que existe um déficit na evocação de novos elementos 
ideológicos.A Perseveração está incluída nos distúrbios do curso do pensamento por sugerir que a 
temática em pauta se encontra limitada a um curso circular, que não tem fim e repete-se 
seguidamente. Havia um paciente epiléptico que dizia: "então a minha mãe corria atrás 
da gente com uma faca, aí eu ia buscar a Genizinha que sabia benzer ela, então chegava 
e benzia e minha mãe corria atrás da gente com uma faca, aí eu ia buscar a Genizinha que 
sabia benzer ela, então chegava e benzia minha mãe que corria atrás da gente..." 
Observamos Perseveração do Pensamento em alguns casos de agudização psicótica, nos 
quais há significativa desestruturação da consciência e um determinado estímulo interno 
passa a se assenhorear de toda personalidade naquele momento. Também observamos em 
determinados Estados Crepusculares, onde, patologicamente há um significativo 
estreitamento da consciência. 
 
Circunstancialidade ou Prolixidade 
Aqui, o paciente revela uma incapacidade irritante para seleccionar as representações 
essenciais daquelas acessórias, ou seja, o pensamento foge da pauta principal e perde-se 
no detalhamento trivial. Aparece um grande rodeio em torno do tema central, uma riqueza 
aborrecedora de detalhes e circunstâncias sem propósitos práticos e pormenores 
desnecessários, tornando o discurso bem pouco agradável. À esta situação chamamos de 
VISCOSIDADE ou discurso Viscoso ou, quando esta é uma das características constante 
26 
 
da pessoa, pode-se chamá-la de pessoa Viscosa. Um exemplo contundente de viscosidade 
é a conversa ou a atitude de alguns bêbados, muito inconvenientes e dos quais não é fácil 
se livrar. 
Na Circunstancialidade aparece, como é natural, um certo grau de ansiedade por parte do 
interlocutor, provocada pela morosidade na conclusão da idéia. Um paciente, perguntado 
se tinha ido fazer uma tomografia, cuja resposta deveria ser algo como sim ou não, dizia: 
" bem, tive que ir terça feira passada porque o movimento do escritório às terças é menor; 
na segunda feira é que tem mais serviço, porque o pessoal deixa tudo para ser resolvido 
às segundas. Até que foi bom eu ter deixado para a terça, porque, lá no serviço do 
tomógrafo, eles também devem ter mais movimento de segunda, que por sinal é um dia 
terrível. Acho que (brincando) a semana deveria começar pela terça". 
A Prolixidade produz um curso do pensamento muito tortuoso e o tema central fica 
seriamente prejudicado pelas divagações inúteis e pelos comentários paralelos. Em seu 
diálogo o paciente viscoso tem sempre algo a acrescentar e de tal forma que o fim da 
conversa fica desagradavelmente comprometido. No consultório ele é capaz de levantar-
se muitas vezes antes de ir embora e sentar novamente para acrescentar mais alguma 
coisa, absolutamente sem importância. 
Incoerência 
Na Incoerência há uma grande desorganização na estrutura sintática com períodos em 
branco e frases soltas no meio da exposição de uma idéia. Frequentemente a Incoerência 
está associada a transtornos que comprometem o estado da consciência. É como se 
faltasse ao paciente condições homeostáticas para a organização das idéias e para sua 
capacidade de comunicação verbal. O Estado Crepuscular é um bom exemplo de 
Distúrbio da Consciência, onde a capacidade de organização do pensamento encontra-se 
seriamente comprometido. Também na Turvação da Consciência pode haver Incoerência. 
O pensamento incoerente é confuso, contraditório e ilógico. Enquanto na Fuga de Idéias 
percebemos a passagem repentina de uma idéia para outra, na Incoerência o que 
interrompe o curso do pensamento são fragmentos soltos de idéias aleatórias; como se o 
pensamento estivesse pulverizado. 
 
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Alteração do Conteúdo do Pensamento 
Além dos Distúrbios da Forma e dos Distúrbios do Curso do Pensamento, elementos 
valiosíssimos na propedêutica psíquica, devemos verificar também os Distúrbios do 
Conteúdo do Pensamento. Este conjunto sintomático completará esta grande área do 
psiquismo a ser pesquisada, o Pensamento. Para a elaboração do diagnóstico psiquiátrico 
será necessário, além do Pensamento, também a verificação de duas outras grandes áreas; 
a Afectividade e o comportamento. 
O exame do Conteúdo do Pensamento mostra-nos a essência do ser, o elemento mais 
refinado e sublime da pessoa e aquilo que ela tem de mais íntimo dentro de si. A dificílima 
tarefa de avaliação do conteúdo do pensamento remete-nos a um dos campos mais 
polêmicos da arguição do ser humano: a valoração de suas idéias. 
Ideias Supervalorizadas 
Há situações onde ocorre uma predominância dos afectos sobre a reflexão consciente, 
com subsequente alteração do juízo da realidade e com repercussões secundárias no 
comportamento social do indivíduo. As Idéias Supervalorizadas são conhecidas também 
como Idéias Prevalentes ou Idéias Superestimadas. É quando o pensamento se centraliza 
obsessivamente num tópico especialmente definido e carregado de uma enorme carga 
afectiva. 
A imagem literária através da qual se estigmatiza o possuidor das Ideias Supervalorizadas 
é a do indivíduo fanatizado, cuja convicção acerca de sua Ideia Superestimada desafia 
toda argumentação em sentido contrário, inclusive a contra-argumentação embasada em 
elementos lógicos e razoáveis. 
Tendo em vista a grande força sentimental propulsora da convicção prevalente, tal 
pensamento passa a ser dirigido exclusivamente pela emoção, comumente por uma 
emoção doentia e com total descaso para com a lógica ou para com a razão. A necessidade 
íntima convocada por este psiquismo problemático pode encontrar algum conforto na 
adopção de uma crença; seja ela política, religiosa, filosófica ou artística, de tal forma que 
o indivíduo se encontra cego para todas as evidências que não compactuem com sua ideia 
prevalente. 
 
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Ideias Obsessivas 
A intromissão indesejável de um pensamento no campo da consciência de maneira 
insistente e repetitiva, reconhecido pelo indivíduo como um fenômeno incômodo e 
absurdo, é denominado de Pensamento Obsessivo. Portanto, para que seja Obsessão é 
necessário o aspecto involuntário das idéias, bem como, o reconhecimento de sua 
conotação ilógica pelo próprio paciente, ou seja, ele deve ter crítica sobre o aspecto irreal 
e absurdo desta idéia indesejável. 
Por definição, o pensamento obsessivo se constitui de representações que, sem uma 
tonalidade afectiva explicativa, aparecem na consciência com o sentimento de 
persistência obrigatória, impossibilitando seu afastamento por esforços voluntários e, 
consequentemente, dificultando e entorpecendo o curso normal das representações, 
mesmo que o indivíduo se dê conta de sua falta de fundamento, a falsidade de seu 
conteúdo e o caráter francamente patológico do fenômeno. 
Fobias 
Tal qual a Obsessão, a Fobia intromete-se persistentemente no campo da consciência e se 
mantém aí independentemente do reconhecimento de seu carácter absurdo. A 
característica essencial da Fobia consiste num temor patológico que escapa à razão e 
resiste a qualquer espécie de objecção, temor este dirigido a um objecto (ou situação) 
específico . 
A Fobia é um medo específico intenso o qual, na maioria das vezes, é projectado para o 
exterior através de manifestações próprias do organismo. Essas manifestações 
normalmente tocam ao sistema neurovegetativo, tais como: vertigens, pânico, 
palpitações, distúrbios gastrintestinais, sudorese e perda da consciência por lipotímia. As 
manifestações autossômicas externadas pela fobia têm lugar sempre que o paciente se 
depara com o objeto (ou situação) fóbico. 
O pensamento fóbico é tão automático quanto o obsessivo e o paciente tem plena 
consciência do absurdo de seus temores ou, ao menos, sabem-no como completamente 
infundados na intensidade que se manifestam. Resistem, os temores, a qualquer 
argumentação sensata e lógica. Aliás, o medo só será fóbico quando considerado 
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injustificável pelo próprio pacientee, concomitantemente, for capaz de produzir reações 
adversas comandadas pelo sistema nervoso autônomo. 
O medo na Fobia ataca de modo incontrolável diante de objetos e circunstâncias de todo 
naturais e, diante das quais, mesmo o paciente reconhecendo como ridículas, não poderá 
dominar-se. A denominação das Fobias diversas guarda uma relação etimológica com as 
situações desencadeadoras: Agorafobia (espaços abertos ou sair de casa); Claustrofobia 
(lugares fechados); Acrofobia (alturas); Ailérofobia (gatos); Antropofobia (gente); 
Zoofobia (animais); Xenofobia (estranhos); e assim por diante. 
Delírios 
Jaspers define o Delírio com sendo um juízo patologicamente falseado e que apresenta 
três características: 
1. Uma convicção subjectivamente irremovível e uma crença absolutamente inabalável; 
2. Impenetrabilidade e incompreensibilidade psicológica para o indivíduo normal, bem 
como, impossibilidade de sujeitar-se às influências de correcções quaisquer, seja através 
da experiência ou da argumentação lógica e; 
3. Impossibilidade de conteúdo (da realidade). 
Esta tríade proposta por Karl Jaspers é aceita pela psicopatologia clássica, notadamente 
pela tendência organodinâmica. É contestada, principalmente os itens 2 e 3, por autores 
psicodinâmicos, mais por uma questão de nosografia que de fenomenologia. 
Em relação à segunda regra, Jaspers alerta sobre a impossibilidade do Delírio ser 
compreendido por pessoas que mantém vínculo sólido com a realidade. A lógica da 
realidade do delirante não é aplicável à lógica dos indivíduos normais, daí a falta de 
compreensão psicológica do Delírio: carece relação entre a temática delirante e os 
elementos da realidade, notadamente com a conjuntura vivencial do paciente. 
ALTERAÇÕES DA LINGUAGEM 
A linguagem é um processo mental de manifestação do pensamento e de natureza 
essencialmente consciente, significativa e orientada para o contacto inter-pessoal. Apesar 
do processo da linguagem ser essencialmente consciente, entretanto entende-se que o 
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fluxo e a articulação desta provém de camadas mais profundas e não conscientes, tais 
como do subconsciente e inconsciente, segundo o esquema de Willian James. 
No estudo da linguagem, deve-se distinguir a expressão verbal e a expressão gráfica e a 
psicopatologia se interessa tanto pela linguagem falada quanto pela linguagem escrita. 
Ambas expressões são um conjunto de sinais próprios de cada língua com os quais 
manifestamos nosso pensamento e tanto a expressão verbal quanto a expressão gráfica, 
devem constar de dois elementos fundamentais - a sintaxe e a palavra. 
A sintaxe tem por objeto estabelecer as relações entre as palavras e as frases, e 
corresponde à própria organização do pensamento. As representações e os conceitos 
devem ser expostos numa determinada ordem necessária para se formar o raciocínio 
lógico. Esse arranjo racional da linguagem é a sintaxe.... 
Em 1924, Pavlov considerava a palavra como uma espécie de estímulo condicionado, 
comparável aos demais estímulos, mas com um caráter próprio. Dizia que se nossas 
sensações e representações do mundo externo nos dão os primeiros sinais da realidade, 
as palavras constituem os segundos sinais, os sinais dos sinais, representam a abstração 
da realidade e se prestam a generalizações, formando justamente nosso modo de 
pensamento humano e superior.Escutar a fala e falar são os modos mais comuns da 
Comunicação Humana. 
Costuma-se ter por certo que não existem pensamentos que não sejam formulados por 
palavras, ao ponto de poder se afirmar que todo pensamento corresponde a alguma 
determinada expressão verbal. É por isso que não se estabelecem diferenciações entre as 
perturbações do pensamento e as alterações da linguagem. 
Analisando as alterações da linguagem falada de um ponto de vista estritamente prático, 
podem-se dividir essas alterações em dois grupos principais: 
1) alterações da linguagem devidas a causas predominantemente orgânicas; 
2) alterações da linguagem de natureza predominantemente funcionais. 
 
Alterações Predominantemente Orgânicas 
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DISARTRIA 
Neste grupo, incluem-se todas as perturbações que resultam de uma lesão ao nível de 
qualquer das partes que intervêm na elaboração e na emissão dos sons, de cuja articulação 
resulta a palavra falada. As principais alterações deste grupo são as seguintes: 
Consiste na dificuldade de articular as palavras, normalmente resultante de paresia, 
paralisia ou ataxia dos músculos que intervêm nesta articulação. A perturbação é mais 
acentuada quando se trata de pronunciar as consoantes labiais e linguais, as quais são 
omitidas ao dizer as palavras, ou a pessoa titubeia ao pronunciá-las. A alteração torna-se 
mais evidente quando se utilizam as frases de prova, como por exemplo, pedindo ao 
paciente que pronuncie "sou caricaturista, vou caricaturar-me no caricaturista", ou 
"artilheiro de artilharia", "ministro plenipotenciário" 
Desta feita a Disartria acaba sendo sempre consequência de alteração neurológica e, 
normalmente, as pessoas portadoras de lesões suficientes para produzir Disartria acabam 
por mostrar outras alterações ao exame clínico. A Disartria pode ser encontrada nos 
traumatismos crânio-encefálicos, nas patologias tumorais do cérebro, cerebelo ou tronco 
encefálico, nas lesões vasculares encefálicas, na intoxicação alcoólica, na esclerose em 
placas, na paralisia pseudobulbar, nas paralisias periféricas do grande hipoglosso, 
pneumogástrico e facial. 
Os sintomas iniciais da Doença de Parkinson por exemplo, incluem modificação na 
escrita, por exemplo, assinatura diferente, perda da agilidade muscular para atos que eram 
até então corriqueiros, lentidão da marcha e Disartria. 
Dislalias 
Consiste na má pronúncia das palavras, seja omitindo ou acrescentando fonemas, 
trocando um fonema por outro ou ainda distorcendo-os. A falha na emissão das palavras 
pode ainda ocorrer a nível de fonemas ou de sílabas. Assim sendo, os sintomas da Dislalia 
consistem em omissão, substituição ou deformação os fonemas. 
De modo geral, a palavra do dislálico é fluida, embora possa ser até ininteligível, podendo 
o desenvolvimento da linguagem ser normal ou levemente retardado. Não se observam 
transtornos no movimento dos músculos que intervêm na articulação e emissão da 
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palavra. Em muitos casos, a pronúncia das vogais e dos ditongos costuma ser correta, 
bem como a habilidade para imitar sons. Não há disfonia nem ronqueira. 
As Dislalias constituem um grupo numeroso de perturbações orgânicas ou funcionais da 
palavra. No primeiro caso, resultam da malformações ou de alterações de inervação da 
língua, da abóbada palatina e de qualquer outro órgão da fonação. Encontram-se em casos 
de malformações congênitas, tais como o lábio leporino ou como consequência de 
traumatismos dos órgãos fonadores. Por outro lado, certas Dislalias são devidas a 
enfermidades do sistema nervoso central. 
Quando não se encontra nenhuma alteração orgânica a que possa ser atribuído a Dislalia, 
esta é chamada de Dislalia Funcional. Nesses casos, pensa-se em hereditariedade, 
imitação ou alterações emocionais e, entre essas, nas crianças é comum a Dislalia típica 
dos hipercinéticos ou hiperativos. Também nos deficientes mentais se observa uma 
Dislalia, às vezes grave ao ponto da linguagem ser acessível apenas ao grupo familiar. 
Até os quatro anos, os erros na linguagem são normais, mas depois dessa fase a criança 
pode ter problemas se continuar falando errado. A Dislalia, troca de fonemas (sons das 
letras), pode afetar também a escrita. Na prática o personagem Cebolinha, de Maurício, é 
um exemplo de criança com Dislalia. Ele troca o som da letra R pelo da letra L. 
Alguns fonoaudiólogos consideram que a Dislalia não seja um problema de ordem 
neurológica, mas de ordem funcional. Segundo eles, o som alterado pode se manifestar 
de diversas formas, havendo distorções, sonsmuito próximos mas diferentes do real, 
omissão, ato em que se deixa de pronunciar algum fonema da palavra, transposições na 
ordem de apresentação dos fonemas (dizer mánica em vez de máquina, por exemplo) e, 
por fim, acréscimos de sons. Estas alterações mais comuns caracterizam uma Dislalia. 
Entretanto, do ponto de vista fisiopatológico, a Dislalia numa criança hipercinética, por 
exemplo, terá que ser considerada de natureza orgânica, já que tratando a hipercinesia 
desaparece a Disartria. 
Crianças com perdas auditivas leves e moderadas também costumam ter Dislalia, fazendo 
trocas de alguns fonemas, como por exemplo, "t" por "d", "f" por "v", "p" por "b", "q" 
por "g". Muitas destas crianças, principalmente se estão em fase de alfabetização, 
apresentam também trocas na escrita. Este tipo de aluno costuma ser desatento na escola, 
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porque tem dificuldade de ouvir a professora. A mãe costuma queixar de que a criança 
com perda auditiva não atende quando é chamado e/ou ouve o aparelho de som ou a 
televisão alta demais. 
Dislexia 
Dislexia é um distúrbio específico da linguagem caracterizado pela dificuldade em 
decodificar (compreender) palavras. Segundo a definição elaborada pela Associação 
Brasileira de Dislexia, trata-se de uma insuficiência do processo fonoaudiológico e inclui-
se frequentemente entre os problemas de leitura e aquisição da capacidade de escrever e 
soletrar. Resumidamente podemos entender a Dislexia como uma alteração de leitura. 
Apesar da criança disléxica ter dificuldade em decodificar certas letras, não o faz devido 
a algum problema de déficit cognitivo. Normalmente esses pacientes apresentam um QI 
perfeitamente compatível com a idade. 
A origem da Dislexia, segundo Thereza Cristina dos Santos, está no eixo corporal, na 
base psicomotora, cujo desenvolvimento é anterior à escrita. Para aprender a ler, a criança 
precisa ter consciência de seu eixo corporal, lado direito, lado esquerdo, etc. O disléxico 
não tem essa noção de lateralidade e vai confundir eternamente direita e esquerda. 
O diagnóstico da Dislexia é muito semelhante ao do de outros distúrbios de 
aprendizagem. Por isto, é preciso muito cuidado para não rotular toda e qualquer alteração 
de leitura como Dislexia. A Dislexia tem sempre como causa primária a relação espacial 
alterada, fazendo com que a criança não consiga decifrar satisfatoriamente os códigos da 
escrita. O diagnóstico da Dislexia exige quase sempre uma equipe multidisciplinar, 
formada por neurologista, psicólogo, psiquiatra e psicopedagogo. Esta equipe tem a 
função básica de eliminar outras causas responsáveis pelas trocas de letras e outras 
alterações de linguagem. 
Afasia 
Uma lesão cerebral de extensão limitada interessando o hemisfério esquerdo de uma 
pessoa dextra poderá fazê-la perder a capacidade de utilizar a linguagem como meio de 
comunicação e como meio de representação simbólica: o indivíduo não poderá se 
exprimir oralmente ou por escrito de uma forma inteligível; ele não mais decifra as 
mensagens que recebe sob a forma de linguagem falada ou escrita. 
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Assim sendo, para o diagnóstico da Afasia é importante que ela aconteça sem que haja 
alguma patologia dos aparelhos sensoriais e sem que hajam paralisias capazes de impedir 
a elocução da palavra oral ou sua expressão escrita. A Afasia sempre diz respeito à perda 
dos conhecimentos de linguagem adquiridos, o que normalmente se acompanha de algum 
prejuízo das funções intelectuais. Seria, então, a perda da inteligência específica da 
linguagem, tanto para expressar o pensamento por meio da palavra oral ou gráfica, quanto 
para compreender a palavra falada ou escrita (na Afasia motora pode estar preservada a 
capacidade de compreender). 
O diagnóstico da Afasia, como transtornos que altera a linguagem tanto na compreensão 
como na expressão do pensamento, exige 4 características: 
1. é sempre produzida por lesões focais do córtex ou do centro oval. 
2. é sempre compatível com a integridade das funções motoras, sensitivas e das 
percepções elementares, portanto, não é condicionada por alterações nessas áreas. 
3. geralmente esta acompanhada, em grau variável, de elementos apráxicos ou cognitivos; 
4. está associada a transtornos mais ou menos profundos da atividade intelectual que 
podem ser concomitantes ou simples repercussões dessa alteração da linguagem. 
CAUSAS DA AFASIA 
Na ordem decrescente de importância, as causas da Afasia são as seguintes: 
a) desordens vasculares 
b) traumatismos que atingem o hemisfério esquerdo; 
c) processos inflamatórios; 
d) escleroses disseminadas e encefaloses; 
e) abscessos e gomas; 
f) tumores; 
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g) hematomas. 
Podem-se observar Afasias transitórias no curso da uremia, diabete, intoxicações, na 
epilepsia e na enxaqueca. 
Predominantemente funcional 
Aqui se incluem todas as alterações da linguagem oral resultantes de distúrbios 
emocionais, havendo integridade anatômica dos centros e das vias de condução da 
linguagem. As principais alterações deste tipo são: 
DISFEMIAS 
LOGORRÉIA 
BRADILALIA 
VERBIGERAÇÃO 
MUTISMO 
MUSSITAÇÃO 
ECOLALIA 
 
Disfemias 
São perturbações intermitentes na emissão das palavras, sem que existam alterações dos 
órgãos da expressão. Neste grupo de transtornos da linguagem o distúrbio mais 
importante é a gagueira (tartamudez). A Disfemia é uma desordem da comunicação 
humana que vem despertando a curiosidade de fonoaudiólogos, foniatras, psicólogos, 
psiquiatras e outros profissionais afins, além de leigos que lidam com indivíduos 
portadores de gagueira . Caracteriza-se por hesitação, silabação, precedida ou intercalada 
dos fonemas qui, que, ga, gue. A gagueira revela a tendência de aumentar ou diminuir 
sob a influência da emoção. 
Segundo o dicionário, gaguejar é falar com repetições, pronunciar as palavras com 
hesitação e sem clareza de sons mas, na realidade, a gagueira está muito além do simples 
ato de falar com bloqueios e/ou repetições. Ocorrem com os gagos fenômenos que não 
conseguimos observar, como o conflito de falar e não falar, o medo de algumas palavras, 
a ansiedade em certas situações de fala, auto-defesa, entre outros. 
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Segundo um gago famoso (Blodstein) que estudou o assunto a fundo, a gagueira é o 
resultado da reação de luta interior do indivíduo que fala. A definição exata do fenômeno 
sempre trouxe dificuldades porque a única pessoa que sabe o que realmente é a gagueira 
é o próprio gago .vistas a estudos e depoimentos de indivíduos gagos, apesar de existirem 
muitas dúvidas sobre a causa da gagueira e o método ideal de tratamento, costuma passar 
pelo melhor ajustamento social e emocional, não evitar as situações onde se deve falar, 
não evitar de dizer determinadas palavras, acalmar-se e trabalhar o medo e a 
autoconfiança. 
Logorréia 
Diz Antoine Porot que a arte de falar muito e não dizer nada não é atributo apenas de 
alguns tipos de enfermos mentais. Na vida comum encontramos muitos charlatães cuja 
incontinência verbal poderia ser comparada a uma forma menor e de certo modo 
subnormal da logorréia: o palavrório feminino fútil e inconsistente de certas reuniões 
sociais, a facúndia e conversa cínica de certos embusteiros, as explicações discursivas 
intermináveis de propagandistas e vendedores. 
A disposição hipomaníaca pode representar um estado permanente, de forma moderada, 
compatível com a vida social. Assim, um indivíduo de tipo hipomaníaco pode despertar 
a atenção sobre sua pessoa pela maneira incessante como fala, não dando oportunidade 
ao interlocutor para contestá-lo, falando em tom de voz elevado, gesticulando muito e, 
sobretudo, logorreico. Na excitação maníaca verifica-se o fluxo incessante e incoercível 
de palavras, emitidas sem coesão lógica, que se acompanha de aceleração do ritmo 
psíquico e de elevação do estado de ânimo. 
A logorréia é comum em todos os casos de excitação psicomotora, principalmentenos 
estados maníacos e hipomaníacos, na embriaguez alcoólica; em casos de demência senil, 
a logorréia está reduzida, muitas vezes, a um verbigeração incoerente. 
Bradilalia 
Consiste numa diminuição da velocidade de expressão, como resultado da lentidão dos 
processos psíquicos e do curso do pensamento. Observa-se no parkinsonismo pós-
encefalítico, em casos de epilepsia pós-traumática. 
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Verbigeração 
É a repetição incessante durante dias, semanas e até meses, de palavras e frases 
pronunciadas em tom de voz monótono, declamatório ou patético. Ë observada nos 
estados demenciais, em psicoses confusionais e na esquizofrenia, especialmente na forma 
catatônica. 
Mutismo 
Mutismo é a ausência de linguagem oral. O mutismo tem origem e mecanismos os mais 
variados. Nas doenças mentais, é observado nos estados de estupor da confusão mental, 
da melancolia e da catatonia; nos estados demenciais avançados, na paralisia geral e na 
demência senil. Na esquizofrenia, o mutismo adquire uma importante significação. Pode 
decorrer, nesse caso, de interceptação do pensamento, de perda de contato com a 
realidade, de alucinações imperativas ou de idéias delirantes de culpabilidade. Com muita 
frequência, os catatônicos não falam nem respondem ao interrogatório, dando-nos a 
impressão de que se encerram voluntariamente no mais completo mutismo. 
Mussitação 
É a expressão da linguagem em voz muito baixa; o enfermo movimenta os lábios de 
maneira automática, produzindo murmúrio ou som confuso. É um sintoma próprio da 
esquizofrenia. 
Ecolalia 
Ecolalia é a repetição, como um eco, das últimas palavras que chegam ao ouvido do 
paciente. Em condições patológicas, observa-se nos catatônicos. O fenômeno tem muita 
semelhança com a perseveração do pensamento, observada nos epilépticos. Os enfermos 
repetem como um eco não só as palavras que lhes são dirigidas, como partes de uma frase 
que escutam ao acaso. 
Não se pode fazer distinção clara entre a ecolalia manifestada por um esquizofrênico 
crônico e um enfermo portador de um transtorno cerebral orgânico, pois ambos os 
pacientes podem ter em comum uma notável alteração dos processos intelectuais e da 
intencionalidade. 
ALTERAÇÕES DA AFETIVIDADE 
 
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Humor ou estado de ânimo - é o tônus afetivo das pessoas, o estado emocional basal e 
difuso no qual ele se encontra em determinado momento. É a disposição afetiva de fundo 
que penetra toda a experiência psíquica. No estado de ânimo, há a confluência de uma 
vertente somática e de uma vertente psíquica (Paim). 
 
Alterações do humor: 2 pólos básicos: 
- depressivo – hipotímico. 
- maníaco – hipertímico. 
 
Distimia - designa a alteração básica do humor, tanto no sentido da inibição quanto no da 
exaltação. 
 
Humor triste e ideação suicida - com o humor depressivo, ocorrem com frequênciaideais 
relacionadas à morte, ideais suicidas, planos suicidas, atos, tentativas de suicídio. A 
ideação suicida deve ser sempre investigada, cuidadosamente, em pacientes com humor 
triste. 
 
Euforia ou alegria patológica – humor morbidamente exagerado, com alegria intensa e 
desproporcional às circunstâncias. 
 
Puerilidade: humor com aspecto muito infantil, simplório, “regredido”. Choro e riso por 
motivos banais, vida afetiva superficial, sem afetos profundos, consistentes e duradouros. 
Ocorre na esquizofrenia hebefrênica. 
 
Alteração das emoções e sentimentos, afecto: 
1. Apatia - diminuição da excitabilidade emotiva e afetiva. O paciente se torna 
hiporreativo. É um estado afetivo próprio dos quadros depressivos. 
 
2. Hipomodulação do afeto - incapacidade do paciente de modular a resposta afetiva de 
acordo com a situação existencial, revelando rigidez do sujeito em sua relação com o 
mundo. 
 
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3. Pobreza de sentimentos e distanciamento afetivo - perda progressiva e patológica das 
vivências afetivas. Há um empobrecimento relativo à possibilidade de vivenciar 
alternâncias e variações sutis na esfera afetiva. Demências e esquizofrenia. 
 
4. Embotamento afetivo e devastação afetiva - é a perda profunda de todo tipo de vivência 
afetiva. Ao contrário da apatia, que é basicamente subjetiva, o embotamento afetivo pode 
ser observado na mímica, na postura e na atitude do paciente. Esquizofrenia. 
 
5. Ambivalência afetiva -EugenBleuler introduziu este termo para descrever sentimentos 
opostos em relação a um mesmo estímulo ou objeto, e que ocorrem de modo simultâneo: 
amor e ódio, rancor e carinho. Ocorre de modo intenso na experiência afetiva dos 
pacientes esquizofrênicos, indicando um processo de cisão radical do eu. 
 
6. Fobias: são medos determinados psicopatologicamente, desproporcionais e 
incompatíveis com o perigo real oferecido pelos objetos ou situações fobígenas. São 
acompanhados de uma crise de angústia intensa. Tipos: 
- fobia simples – barata, cachorro etc. 
- fobia social – medo de contato e interação social. 
- agorafobia – medo de espaço amplos e aglomerações. 
- claustrofobia – medo de entrar em espaços fechados – elevador, túnel, sala pequena etc. 
Geralmente associada ao medo de ser enterrado vivo. 
 
7. Pânico - reação de medo intenso, de pavor, geralmente relacionada com o perigo 
imaginário de morte iminente, descontrole ou desintegração. São crises agudas e intensas 
de angústia, com medo de morrer ou perder o controle, com descarga somática grande 
(taquicardia, sudorese). 
 
 
 
CONSCIÊNCIA E SUAS ALTERAÇÕES 
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Popularmente, quando questionamos se uma pessoa tem ou não "consciência de seus 
atos", na realidade estamos tentando dizer se ela tem ou não "juízo crítico do que faz", 
uma qualidade ética, estética e moral da personalidade em sua interacção com o sistema 
cultural de que faz parte. 
A consciência em si, diz respeito à excitabilidade do sistema nervoso central aos 
estímulos externos e internos sob o ponto de vista quantitativo e, sob o ponto de vista 
qualitativo, à capacidade de integração harmoniosa destes estímulos internos-externos, 
passados e presentes. Portanto, em psicologia, perguntar se a pessoa está ou não 
consciente tem uma conotação muito diferente da mesma questão tratada 
neurologicamente. Na psicologia o que se quer saber é se o indivíduo tem capacidade de 
integrar dinamicamente e coerentemente suas vivências, na neurologia quer se saber se 
ele está vigíl, desmaiado ou em coma. 
Não trataremos aqui do aspecto psicodinâmico consciência-inconsciente, à despeito de 
sua substancial importância, mas apenas dos elementos psicopatológicos dos estados de 
consciência como parte da globalidade da vida psíquica num determinado momento, 
avaliados segundo o grau de contacto que esta consciência mantém com a realidade. Só 
contamos, entre as alterações da consciência, as perturbações que acontecem de forma 
aguda ou subaguda e de duração limitada. 
Alterações Quantitativas 
Em seu aspecto quantitativo a consciência pode estar diminuída ou aumentada. Entre as 
diminuições da consciência a forma mais suave é denominada de Obnubilação, quando 
então os estímulos devem ser intensificados para conseguir-se um acesso eficiente à 
consciência. 
Vigilância (aspecto quantitativo) 
Poderíamos entender a consciência como o estado em que a pessoa está ciente de suas 
acções físicas e mentais, o que só ocorreria em estado acordado e alerta. Desta forma não 
haveria consciência, ao menos consciência plena quando dormindo, em coma, ou sob 
anestesia geral. 
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Outra questão que envolve alguns conceitos sobre a vigilância da consciência é em 
relação à situação estar muito concentrado num determinado pensamento ou fato e nem 
tanto concentrado em outros. Vimos isso ao estudar Atenção e Memória. Quando uma 
pessoa pensa, ela pode ou não estar ciente dessa ação mental. Isto é, um pensamento pode 
ser consciente ou não e, conforme vimos ao estudar o Foco da Atenção, imediatamente 
periférico ao foco da consciência estaria o

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