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MARC Carolina Ferreira -São uma causa muito frequente de queixa no posto de saúde e de difícil diagnóstico, pois são inespecíficas. -Dores associadas ao trauma: Fácil localização e diagnóstico Entender mecanismo de trauma: negligência?violência? -Dores sem associações à traumas: Inespecífica Difícil diagnostico Anamnese e exame físico completos e detalhados -Em situações de trauma, o diagnóstico é + simples, mas sempre perguntar o mecanismo da lesão, comparar c/ a lesão, validar se é correspondente, e se é por negligencia familiar ou violência. -Já as que ñ tem associação c/ traumas, a queixa é inespecífica, a criança ñ consegue definir a localização da dor e por isso, é de difícil diagnóstico. Assim, é muito importante a realização da anamnese e exame físico completo e detalhado, principalmente na pediatria, pois o paciente ñ relata os sinais e sintomas adequadamente. -P/ raciocinar os diagnósticos diferenciais deve diferenciar a localização da dor e a faixa etária p/ guiar o raciocínio p/ hipóteses principais. A localização: no quadril/região inguinal, no joelho ou no pé. Faixa etária: pré-escolar, escolar ou adolescente -A idade é essencial na avaliação de dores nas pernas. Em casos de bebês que ainda ñ caminham e ñ falam, a história clínica é fornecida pelos cuidadores e deve ser consistente, detalhada e complementada por exame físico acurado. Crianças maiores podem fornecer informações, que são complementadas pelas dos adultos -Iremos revisar sobre as dores nos MMIIs de causa ñ traumática, apresentadas segundo as causas + frequentes na prática clínica, em uma ordem de acordo c/ a idade e o segmento da perna afetado: articulações do quadril, joelho, tornozelo, pés ou diáfises. Isso ñ significa que determinada afecção não possa ocorrer em outra idade -Lactentes têm uma vulnerabilidade muito grande do organismo, principalmente às infecções; cada bacteremia proveniente de um foco a distância, como as vias aéreas superiores, expõe as articulações a um risco de formação de êmbolos sépticos Articulações que têm a metáfise óssea incluída no ambiente capsular, como as regiões proximais do fêmur e do úmero, podem disseminar um foco infeccioso inicialmente intraósseo, caracterizando a osteoartrite O abscesso pode estar mascarado por um hematoma, + viscoso ou serossanguinolento, c/ grumos; se houver pus, é preciso drená-lo, além de administrar antibioticoterapia apropriada -Crianças maiores apontam a localização dos processos infecciosos articulares ou ósseos e passam a claudicar e a “defender” a região da dor -O diagnóstico diferencial da dor no quadril pode ser difícil quando ñ houver febre ou manifestação de comprometimento sistêmico; principalmente nas crianças acima da idade pré-escolar, deve-se incluir a sinovite transitória e a doença de Legg-Calvé-Perthes. DORES NO QUADRIL -As doenças relacionadas às alterações orgânicas no quadril podem levar a dor na região inguinal, no próprio quadril e dor referida na face medial da coxa e joelho -As doenças do quadril podem levar a dor a mobilização do quadril e dor no joelho. Então dor no joelho deve pensar no joelho e no quadril. ATENÇÃO!!!!!! Dores no joelho ñ são exclusivamente de lesões nessa topografia lembrar das doenças dos quadris -Os 3 principais diagnósticos diferenciais de dor no quadril que pode estender p/ coxa ou joelho são: MARC Carolina Ferreira Sinovite transitória do quadril: -É uma condição inflamatória autolimitada e ñ específica -Epidemiologia: é a causa + frequente de dor no quadril nas crianças c/ menos de 10 anos, acometendo + os meninos que as meninas (3:1) e afetando + o lado direito -Etiologia: é frequentemente precedida por IVAS nos últimos 30 dias, mas ñ há comprovação de infecção nos dados laboratoriais ou mesmo no líquido sinovial aspirado. -Manifestações clínicas: a dor costuma aparecer subitamente, após atividade física + intensa. O ↑do volume articular e a distensão capsular desencadeiam a dor, que pode irradiar-se p/ a face medial da coxa e do joelho, fazendo a criança claudicar. Pode haver um quadro pré-febril, mas a criança ñ fica prostrada e apenas a dor limita a sua atividade. A rotação interna do quadril e a adução causam ↑súbito da dor e, portanto, esses movimentos ficam limitados. A atitude antálgica mantém o quadril em um grau variável de flexão (Figura 1). -Na investigação complementar, o hemograma e a velocidade de hemossedimentação (VHS) são normais ou discretamente alterados. A radiografia pode exibir distensão da cápsula articular, mas o exame + apropriado é a US, ñ havendo necessidade de exames + sofisticados e onerosos (Figura 2) -Limitação da sinovite ocorre por conta da dilatação da cápsula articular. Se tiver leucocitose, desvio a esquerda, febre, caraterística purulenta do líquido sinovial = Quadro infeccioso na articulação = artrite séptica. A sinovite é pós-infecciosa, então os exames laboratoriais estão todos normais. -Diagnóstico: USG de quadril + laboratório normal(pós infecciosa)+ RX c/ distensão da cápsula articular. -Tratamento: analgesia e repouso -A reavaliação na fase ativa do processo é obrigatória, mesmo desaparecendo os sintomas, e também 8 a 10 semanas após o quadro agudo, p/ descartar afecção reumática e necrose avascular. Doença de Legg Calve Perthes: -É definida como uma necrose avascular do núcleo secundário de ossificação da epífise proximal do fêmur durante o desenvolvimento da criança -Epidemiologia: pode ocorrer dos 2 aos 16 anos, mas é + comum entre 4 e 9 anos, sendo + comum nos meninos (4:1) e na raça branca. O início dos sintomas ocorre em + de 80% das vezes entre 4 e 9 anos, c/ pico de acometimento em torno dos 6 anos de idade. O lado esquerdo é + acometido; a bilateralidade ocorre em 10 a 20% dos casos. -Trata-se de uma doença autolimitada de causa desconhecida, na qual automaticamente se instala o processo de reparação, c/ vasos e tecidos neoformados, que gradativamente substituem o osso morto por osso imaturo e ñ mineralizado -Durante esse processo, o que se observa na evolução radiográfica é a substituição gradativa da massa óssea densa (fase de necrose), que vai sendo interpenetrada por um tecido de radiotransparência↑, acinzentada e + escura, como que tornando a cabeça femoral MARC Carolina Ferreira “pulverizada”, “floculada” e, muitas vezes, c/ aparência de haver espaços “vazios e sem osso”, que caracterizam o tecido cartilaginoso na fase de reossificação (Figura 3). -Manifestações clínicas: o quadro clínico inicial pode ser de dor e claudicação relacionadas c/ atividade física, às vezes confundidas c/ alguma espécie de trauma. São localizadas na região inguinal ou irradiadas no território sensitivo do nervo obturatório p/ a face medial da coxa e do joelho. Ao exame clínico articular, há > ou < restrição dos movimentos de rotação interna, abdução e flexão. A contratura intensa dos adutores ao movimento de abdução do quadril indica pior prognóstico, assim como a restrição global da mobilidade articular -Prognóstico: quanto < a idade, > a possibilidade de remodelação e adaptação Obs: sexo feminino e obesidade = fatores de pior prognóstico. Artrites de origem reumatológica, principalmente as pauciarticulares, podem ter seu início confundido com a doença de Legg- Calvé-Perthes. O diagnóstico diferencial é feito com exames de laboratório e de imagem -Diagnóstico diferencial: o principal é a artrite infecciosa, cujo sintoma é a dor intensa, acompanhada de febre e grande incapacidade funcional, em razão da posiçãoantálgica -Diagnóstico: é comum haver sinais de comprometimento geral e alterações laboratoriais, como ↑da VHS, da proteína C reativa (PCR) e leucocitose c/ desvio à esquerda, RX cabeça do fêmur floculada(substituição do osso por osso imaturo). -Quadro clínico: ocorre necrose do núcleo de ossificação (reparação por osso imaturo e pouco mineralizado); dor na região inguinal pode irradiar p/ face medial da coxa e joelho(insidioso) e apresenta a limitação da rotação interna e abdução. O quadro clínico de Doença de LCP é insidioso, por exemplo, uma criança de 6 anos, que tem um mês que sente dor intermitente no quadril e manca (claudicação). Normalmente inicia/piora no início do exercício ou melhora/cessa no descanso. Quadro + insidioso, piorando c/ atividade física e melhorando c/ repouso. Há contratura dos músculos isquiotibiais levando a piora da limitação de movimento e piora do prognostico. -Tratamento: o objetivo principal é obter e manter a centralização do quadril durante o período ativo da doença, por meio de procedimentos cirúrgicos ou conservadores, estes representados por todo o aparelho que “deixe a criança andar” (aparelhos de descarga), imobilização em aparelhos gessados ou plásticos, ou ainda repouso no leito, c/ deslocamento em cadeiras de rodas ou c/ o uso de muletas. Epifisiólise: -É o escorregamento da epífise (cartilagem de crescimento) proximal do fêmur, caracterizado pelo deslocamento posterior da epífise em relação ao colo do fêmur desde leve a grave -Epidemiologia:+ prevalente em meninos de 10 a 16 anos e nas meninas ocorre dos 8 a 15 anos; acomete + meninos (2:1); é + comum do lado esquerdo(2:1). -Quadro clínico: escorregamento leve a grave, sem história de trauma, dor na região inguinal pode irradiar p/ face medial da coxa e joelho(insidioso ou agudo) e apresenta a limitação da rotação interna. A epifisiólise pode ser insidioso ou agudo. Se o escorregamento for leve, a dor ñ vai ser frequente e normalmente desencadeada num processo de > exigência da articulação, como atividade física. Já quando o escorregamento é muito importante, vai ser um quadro agudo, de dor intensa, em que a criança ñ vai conseguir apoiar o membro sobre o quadril. Pode ser leve ñ MARC Carolina Ferreira apresentando dor constante. Pode ser grave ao ponto de incapacitar apoio do membro. O quadro clínico de LCP e epifisiolise são muito parecidos, o que vai diferenciar é a idade. -Manifestações clínicas: o início da dor pode ser agudo ou insidioso, e ela pode ser localizada no quadril, na região inguinal ou irradiar-se p/ a face interna da coxa e do joelho. O paciente pode deambular claudicando c/ ou sem dor ou estar incapacitado p/ o apoio e a marcha. Pode haver ainda atitude em flexão e rotação externa do quadril e ↓da rotação interna. -Diagnóstico: no exame radiográfico, pode-se constatar a presença e/ou a gravidade da doença de acordo c/ o grau de escorregamento da epífise. Na incidência radiográfica de frente da bacia, no pré-deslizamento, observa-se um alargamento da altura da fise e porose, c/ o borramento da metáfise do colo; no deslizamento leve, nota-se uma ↓ da altura no dômus central da fise, quando comparada c/ a altura do lado normal (Figura 5). Na incidência de perfil do quadril, observa-se o escorregamento posterior da cabeça femoral que, no desliza- mento leve, é < que 1/3 do diâmetro do colo; no deslizamento moderado, é < que a metade do colo; e no deslizamento grave, ultrapassa a metade da largura do colo. -Tratamento: caracteriza uma emergência ortopédica, em razão do risco de progressão da doença, sendo necessária a intervenção precoce. O tratamento de eleição é cirúrgico e varia conforme o grau do deslizamento. Na maioria dos casos, pode ser feita a fixação in situ, c/ um parafuso canulado percutaneamente que promove a epifisiodese da cabeça c/ o colo do fêmur (Figura 6). P/ os casos graves, reservam-se as osteotomias, que são procedimentos + complexos. As complicações + temidas são a necrose da cabeça femoral e a condrólise, que podem ser espontâneas ou decorrentes do tratamento. -Posição de conforto na sinovite de quadril e epifisiólise: a cápsula articular vai estar dilatada com edema, assim, quando mantem o quadril em abdução e rotação externa e apoiada, consegue deixar a cápsula com menos tensão e menos dor. -DIAGNÓSTICO: No círculo azul, LCP, observa-se a destruição óssea. E formação de osso ñ mineralizado no meio da cabeça do fêmur = radiotransparentes. Processo inicial. No círculo verde, LCP, necrose importante e redução da cabeça do fêmur. Quadro + grave. MARC Carolina Ferreira No círculo vermelho, epifisiolise, o colo está em cima e a cabeça do fêmur abaixo, deslizamento grave. -DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: Artrite infecciosa: dor + intensa associada a febre alta e queda do estado geral. Alteração laboratorial (leucocitose, desvio a esquerda) e liquido sinovial purulento. Artrites reumatológicas: radiograficamente as lesões são + periarticulares e ñ ósseas. Tumores ósseos Artrite tuberculosa: PPD positivo ou > envolvimento cartilaginoso do que ósseo Displasia epifisária: doença genética c/ história família positiva. Sempre deve ser descartada em casos de bilateralidade. Associada a hipotireoidismo ou anemia hemolítica. -TRATAMENTO: no LCP, imobiliza o quadril p/ centralizar a cabeça do fêmur dentro do acetábulo de maneira correta, para que o processo de regeneração da cabeça do fêmur seja realizado. Pode ser cirúrgico, mas é muito difícil. Normalmente usa a órtese mesmo. A epifisiolise é emergência ortopédica, e realiza-se a fixação da cabeça do fêmur por parafuso, realizado percutânea. DORES NO JOELHO ANTERIOR -A prática esportiva sem avaliação médica e orientação técnica especializada pode ser prejudicial, pois muitas vezes ultrapassa o limite do sistema musculoesquelético, c/ risco de lesões por esforços repetitivos. A mídia acaba por estimular o cuidado excessivo c/ o corpo, e muitas academias despreparadas têm gerado condicionamentos físicos inadequados e adversos que podem desencadear problemas na vida adulta do adolescente -É aconselhável que o jovem seja bem avaliado individualmente e orientado p/ uma atividade física pertinente, a fim de ñ se submeter a profissionais ou equipamentos inadequados aos objetivos de saúde física e mental -Obs: ñ são recomendáveis, por exemplo, exercícios de musculação às meninas antes dos 14 anos e aos meni- nos antes dos 16 anos. -A dor ou desconforto na região anterior do joelho do adolescente é uma sintomatologia quase sempre inespecífica e deve fazer parte do diagnóstico de algumas afecções que se localizam no quadril, pois pode ser uma dor referida. -Os pacientes devem ser submetidos a uma anamnese completa e examinados deitados, deve- se avaliar coluna, quadris e todo o membro inferior. Além do inventário sobre atividades, vícios posturais, antecedentes pessoais e familiares, devem-se considerar predisponentes anatômicos locais, como instabilidade capsuloligamentar, instabilidade patelar, plica sinovial, osteocondrite dissecante, nevralgia traumática do nervo safeno, doença de Osgood-Schlatter e tendinite do polo inferior da patela (doença de Sinding-Larsen-Johanson) - Muitos adolescentes ñ conseguem apontar o local de dor, indicando toda a região anterior do joelho. Essa dor ou o desconforto mal localizado, relacionados ou ñ c/ a atividade física, obrigam a investigação da musculatura e, frequentemente, o que se encontra é uma enorme retração dos músculos isquiotibiais. -Em grande parte do seu tempo o adolescente é sedentário, permanecendo sentado – e mal sentado – na escola, no carro ou diante do computador,mantendo uma atitude de flexão dos joelhos. -Quando excluída uma causa orgânica estrutural mediante o exame físico – eventualmente, complementado por uma Rx simples –, tem-se uma disfunção, cuja reabilitação se baseia em exercícios fisioterápicos para o reequilíbrio e a readaptação musculoesquelética. Entre as causas orgânicas + comuns de dor na região anterior do joelho está aquela localizada na tuberosidade anterior da tíbia, onde se insere o ligamento patelar conhecida como doença de Osgood-Schlatter. MARC Carolina Ferreira -CAUSAS: uma causa muito comum de dor no joelho é a retração dos músculos isquiotibiais. Normalmente causada por Desequilíbrio entre exercícios de hipertrofia e alongamento Crescimento ósseo acelerado Sedentarismo, e vai pontualmente fazer o exercício de hipertrofia, mas o restante do tempo é sedentário. Má postura -DIAGNÓSTICO: é realizado por anamnese e teste de flexão do quadril. Realiza a flexão do quadril com joelho estendido e apoiado, e se for positivo o paciente tem dor cavo poplíteo, pois é sinal de que o músculo isquiotibial está contraído e c/ movimentação limitada. RX é importante para descartar tumor ósseo.Quando o paciente consegue apontar a dor, sempre tem que pensar em tumor ósseo. -TRATAMENTO: é fisioterapia fornece relaxamento dos músculos, ajudar no equilíbrio hipertrofia e alongamento e fortalecer a musculatura de maneira adequada. Doença de Osgood-Schlatter: -É definida originalmente como traumatismo com avulsão parcial do tubérculo tibial, é tida hoje como epifisite (inflamação da epífise de tração), resultado de um processo contínuo de microtraumas por tração ou esforços constantes. Exercícios frequentes c/ tração importante leva a trauma dessa tuberosidade, levando a inflamação daquele local, que leva por continuidade inflamação na cartilagem de crescimento. -Epidemiologia: o processo era + comum nos meninos, mas, c/ o incremento das atividades físicas de jovens de ambos os sexos, tem se tornado frequente também nas meninas -Quadro clínico: dor localizada na tuberosidade tibial anterior; dor piora a digitopressão, flexão máxima, extensão abrupta, subir e descer rampas ocorre o ↑ de volume local c/ tumefação do tubérculo tibial anterior, muitas vezes bilateral -Diagnóstico: investigação da mobilidade articular e da elasticidade dos músculos denuncia o encurtamento concomitante e significativo dos flexores dos joelhos (retração dos músculos isquiotibiais). As Rx simples nas projeções frontal e de perfil devem ser realizadas p/ descartar outras causas de dor, como tumor ósseo. A projeção de perfil exibirá uma irregularidade ou até mesmo a presença de um ossículo na inserção do ligamento patelar junto à tuberosidade anterior da tíbia (Figura 7). -Tratamento: os pacientes respondem bem ao tratamento conservador c/ aplicação de gelo (crioterapia) no local, uso de anti-inflamatórios ñ hormonais (AINH) e fisioterapia, que se inicia c/ medidas anti-inflamatórias locais seguidas de MARC Carolina Ferreira cinesioterapia c/ alongamento dos músculos isquiotibiais e quadríceps e, depois, fortalecimento equilibrado de ambos os grupos musculares. Períodos curtos de imobilização podem ser adotados quando a dor é muito intensa e o jovem ñ consegue deslocar-se durante as atividades da vida diária. São muito raras as eventualidades de tratamento cirúrgico c/ enucleação do ossículo heterotópico na tuberosidade tibial. Esse tratamento é reservado p/ casos de dor incontrolável, posto que, quase sempre, a dor cede c/ a chegada da maturidade. Esses ossículos podem ser ressecados quando a dor persiste na vida adulta DOR NAS PERNAS ‘DOR DE CRESCIMENTO’ -A dor de crescimento é um termo que deve ser descontinuado -Exemplo típico: é a história de uma criança c/ idade entre 3 e 6 anos que acorda no início da noite (+ raramente, + tarde) c/ um choro agudo e se queixa de dores nas pernas, ñ há localização exata, podendo ser apontada toda a perna, a coxa ou o cavo poplíteo. A mãe refere que após breve massagem, a criança logo adormece e acorda no dia seguinte sem qualquer manifestação da dor noturna. Raramente é necessário administrar analgésico. A anamnese confirma que ñ há regularidade p/ o aparecimento das dores, mas que frequentemente acontecem após um dia de atividade física recreativa + intensa. É comum que a criança ñ etseja muito disposta a caminhadas e menos interessada por esportes que utilizam a corrida. A mãe frequentemente informa que a criança pede colo quando caminha, acha que a criança tem “marcha pesada” e que já procurou vários médicos, que teriam dito que era “normal, pois era dor de crescimento”. -Quadro clínico típico: Idade entre 3 e 6 anos Dor começa no inicio da noite ou madrugada, acordando a criança Choro agudo com queixa de dor nas pernas Dor inespecífica – perna, coxa, cavo poplíteo Melhora com massagem. Raramente é necessário medicar Normalmente aparecem após um dia intenso de atividades físicas Acorda sem nenhum sinal ou sintoma -Se tiver em algum sintoma que fuja desses critérios, deve pensar em outras causas. -Dado comum: Crianças que ñ são muito ativas Crianças que não gostam de atividades físicas Pedem colo com frequência durante caminhadas -Investigação clínica: inclui a história detalhada, seguida de um rigoroso exame clínico postural e de todo o sistema musculoesquelético quanto a inspeção, palpação e testes de amplitude articular. Frequentemente pouco substrato anatomofuncional é encontrado, restando 2 situações bem identificáveis. Na 1º delas, a criança tem uma espécie de pé plano postural (perda do arco longitudinal do pé ao estar ereta, quando exerce as pressões de carga sobre o pé) e, a persistência da torção externa da tíbia (+ comum à direita) da postura fetal, que, no crescimento, é compensada pela rotação interna de todo o membro inferior -O desenvolvimento e a prática diária vão promovendo fenômenos adaptativos compensatórios de rotação dos membros inferiores e do tronco, tornando a deformidade muito pouco perceptível esteticamente. -Fatores importantes: fora da faixa etária, dor acontece durante o dia, limita atividade, apontar a dor, dor importante com uso de medicação, edema articular, claudicação – pensar em causa orgânica. Exame físico geral Exame postural Exame musculoesquelético – inspeção, palpação, testes de amplitude articulares MARC Carolina Ferreira -Ñ pode encontrar alterações na anamnese e no exame físico, se tiver, pesquisar outras causas. Foi observado que as crianças c/ dor de crescimento possuem 2 alterações que são dentro da normalidade, não são patológicas. São alterações fisiológicas que c/ o amadurecimento do sistema osteomuscular se resolvem. Pé plano postural: é a perda do arco longitudinal do pé + valgo calcâneo, quando exerce as pressões de carga sobre o pé) e, ao exame do retropé, existe um valgo do calcâneo (Figura 8) c/ uma angulação “negativa” do eixo do tendão calcâneo, mas que se torna “positiva” quando se solicita que a criança fique na “ponta dos pés”, refazendo-se o arco longitudinal e exibindo o varismo normal do calcâneo. O valgismo do calcâneo leva a uma dificuldade flagrante p/ a propulsão à marcha e a criança exerce a atividade em um limiar elevado de solicitação muscular. Em repouso, os músculos podem sofrer contrações e retrações adaptativas, que podem causar dor similar à das cãibras. Um teste clínico terapêutico simples constitui-se na adição de uma palmilha no interior do calçado c/elevação da borda interna dos retropés (p/ neutralizar o valgo dos calcâneos) e apoio para o arco longitudinal. Ao usá-la, a criança passa a sentir > conforto e tem melhor desempenho nas atividades físicas habituais. Pode-se dizer que passa a “gostar de usar a palmilha”, cansando-se menos e tornando-se + competitiva. As dores noturnas praticamente desaparecem ou tornam-se muito mais espaçadas e raras. O acompanhamento clínico mostra que a criança, por si só, atingirá a superação dessa “dificuldade mecânica”, neutrali- zando o valgo com o próprio desenvolvimento e dispensando o uso da palmilha, uma vez que ela não é um artefato corretivo, mas um acessório coadjuvante temporário. Persistência da torção externa da tíbia: é + comum à direita que, no crescimento, é compensada pela rotação interna de todo o membro inferior. Por vezes, as crianças são afligidas nos quadris, nos joelhos e até no tronco, mimetizando uma escoliose lombar por rodarem o tronco compensatoriamente sobre o membro inferior, o que poderia ser qualificado como síndrome torcional. As queixas muitas vezes são vagas, mas a criança é tida como desengonçada e portadora de má postura. Eventualmente, crises de dores são deflagradas nos quadris, o que leva a diagnósticos como a sinovite transitória do quadril. Diante desse quadro, é obrigatória a pesquisa do ângulo coxa-pé, que revela quase sempre uma MARC Carolina Ferreira torção interna ou externa da perna em relação ao fêmur (Figura 9). Ñ é necessária a correção, mas exige a compreensão dos pais e a consciência de que a dor ou o desconforto podem surgir nos excessos de solicitação mecânica da atividade da criança. DORES NOS PÉS Coalizão tarsal: -Coalizão tarsal é definida como a união entre 2 ou + ossos do tarso, consequente a uma falha congênita. Essa união pode ser óssea, cartilaginosa ou fibrosa, dependendo do tecido encontrado no local da coalizão. -Ñ raramente, as coalizões são isoladas, mas podem coexistir c/ outras malformações, como a hemimelia fibular, a síndrome de Apert e a síndrome de Nievergelt-Pearlman -As coalizões + comuns são a calcaneonavicular e a talocalcânea, que juntas somam 90% dos casos, mas apenas cerca de metade são sintomáticos. -Epidemiologia: a idade de início da dor na coalizão calcaneonavicular oscila entre 8 e 12 anos, e na talocalcânea é de 12 a 16 anos, o que coincide c/ a metaplasia da cartilagem para osso, ou seja, a ossificação do tecido que era cartilaginoso -Manifestações clínicas: em geral, a dor é insidiosa e pode ter localização no seio do tarso ou ser difusa, piorando c/ a atividade física e melhorando c/ o repouso. Pode-se observar ainda o valgo progressivo do retropé, um aplanamento gradativo do arco longitudinal medial e a ↓ da mobilidade subtalar, c/ dificuldade adaptativa em solos irregulares e p/ a velocidade na corrida -Diagnóstico: o paciente deve ser inteiramente examinado, c/ o objetivo de avaliar malformações associadas. No exame direcionado pela queixa de dor e mau posicionamento do pé, deve-se atentar p/ a inspeção do arco longitudinal medial, que pode estar ausente ou↓, acarretando um pé plano c/ retropé em valgo, 2 testes permitem verificar a mobilidade da subtalar: o teste de Jack, no qual se eleva passivamente o hálux do paciente, devendo-se observar o restabelecimento da forma do arco longitudinal (medial) do pé (Figura 10), que indica mobilidade da subtalar; no outro teste, pede-se que o paciente fique nas pontas dos pés e, se houver mobilidade normal da subtalar, ocorrerá um varo do calcâneo. Em um pé plano MARC Carolina Ferreira flexível, a mobilidade da subtalar é normal; se o pé plano for causado por uma coalizão, a mobilidade da sub- talar está comprometida. A diminuição da mobilidade da subtalar gera uma sobrecarga das articulações adjacentes, e os estudos radiográficos podem mostrar osteófitos marginais às articulações, como esporões de tração sob a forma de “bico” ou o alargamento do processo lateral do tálus. O estudo radiográfico dos pés na posição ortostática de frente e em perfil, incidências oblíquas e axiais, geralmente elucida a suspeita de uma barra óssea que pode ser + bem visualizada na TC axial (Figura 11). No caso de coalizões cartilaginosas sintomáticas, a cintilografia ou a RM são + indicadas no auxílio ao diagnóstico, uma vez que essas coalizões ainda cartilaginosas podem ñ ser detectáveis no estudo radiográfico simples -Tratamento: das coalizões tarsais é feito apenas se houver sintomas e deve ser iniciado de forma conservadora, com o uso de palmilhas ou de imobilizações gessadas. Se ñ ocorrer a remissão do quadro c/ o tratamento conservador, está indicada a intervenção cirúrgica, podendo-se promover ressecção da coalizão e interposição de material inerte como gordura ou cera de osso, correções c/ o emprego associado de osteotomias ou até a artrodese c/ o objetivo de tratar a dor A imagem é calcaneonavicular. Doença de Kohler: é uma osteocondrose desencadeada pela necrose do navicular do tarso. Trata-se de uma afecção benigna que ocorre geralmente entre 4 e 5 anos de idade, sendo + comum nos meninos (3:1), e que pode ser bilateral em 30% dos casos. A causa ñ é esclarecida, mas supõe-se que o dano vascular asséptico seja decorrente de esforços repetitivos no local, que ocluem os plexos vasculares do tecido esponjoso. O quadro clínico é MARC Carolina Ferreira de claudicação, muitas vezes sem dor, c/ edema e fenômenos inflamatórios na inserção do músculo tibial posterior. Ao exame radiográfico, há esclerose e irregularidade na ossificação do navicular (Figura 12). O tratamento é sintomático e, se a dor for intensa, recomenda-se imobilização por 6 semanas, mantendo o pé em equino e varo discretos. Após o episódio agudo, o uso de palmilha p/ o suporte do arco longitudinal ↓ o estresse e a dor no local. O prognóstico é bom. A apofisite de Sever é caracterizada por dor moderada ou intensa na tuberosidade posterior do calcâneo. A faixa etária em que ocorre c/ frequência é entre 9 e 11 anos nos meninos e entre 8 e 10 anos nas meninas. História de hipersensibilidade, frequentemente ligada às atividades esportivas, e dor deflagrada pela palpação da face posteromedial do calcâneo levam à suspeita clínica da apofisite, que deve ser diferenciada de outras afecções no local, como a tendinite do tendão calcâneo. É comum haver limitação da dorsiflexão do pé. O exame radiográfico é de pouca valia, uma vez que as irregularidades observadas na apófise posterior do calcâneo sintomático também podem ser evidenciadas no lado normal (Figura 13). O tratamento é sintomático, c/ aplicação local de gelo e uso de AINH. Mecanicamente, a adoção de calçados c/ pequenos saltos (2 a 2,5 cm) e repouso relativo quanto à atividade física aliviam a dor. Fisioterapia p/ alongamento do tríceps sural é uma boa medida p/ evitar prolongamento da crise ou mesmo recidiva da dor aguda. Apofisite de Sever: dor moderada a intensa na tuberosidade posterior do calcâneo na inserção do tendão de Aquiles que por continuidade atinge a cartilagem de crescimento. 8-11 anos de idade. Há uma hipersensibilidade no calcâneo posterior associada a atividade física. Dor pode ser desencadeada pela palpação. Pode haver limitação da dorsiflexão do pé. MARC Carolina Ferreira Osteocondrose de Freiberg: caracterizada pela necrose da cabeça do segundo metatarso (Figura 14) ou + raramentedo3º , pode ocorrer entre 10 e 18 anos de idade em indivíduos previamente normais, c/ atividade física intensa. É + comum nas meninas e pode ser bilateral. A causa é desconhecida, mas os quadros clínico e laboratorial são típicos de um processo inflamatório. Clinicamente, há dor insidiosa que se exacerba c/ a atividade física, o que força a propulsão dos pés. Pode também haver edema e limitação da mobilidade da articulação metatarsofalângica. O tratamento é a abstenção da atividade física, o controle da sintomatologia e medidas locais para diminuir a pressão na cabeça do metatarso. Navicular acessório: crianças portadoras dessa anormalidade têm aparente perda do arco longitudinal, mas que se corrige quando ficam na ponta dos pés, por solicitação máxima da ação do músculo tibial posterior. Costuma ser assintomática, mas pode tornar-se dolorosa no estirão do crescimento. A dor à palpação pode ser intensa quando há fenômenos inflamatórios locais. Na radiografia, pode ser observado um ossículo acessório, do tipo sesamoide, no trajeto do tendão do tibial posterior (Figura 15), ou um alongamento do navicular (“cornuto”), como se houvesse uma fusão com o acessório ou a presença de uma borra fibrocartilaginosa. É questionável a associação do navicular acessório c/ a perda do arco longitudinal nos pés planos flexíveis. Assim, quando estiver indicado o tratamento cirúrgico por dor incoercível, ñ é necessário o avanço do tibial posterior, reimplantando-o + distalmente. Na > parte desses casos, a dor resolve-se depois de certo período, mediante o uso de anti-inflamatórios e suporte do arco longitudinal c/ calçados que evitam o atrito local, além do afastamento das atividades físicas. CASO CLÍNICO MARC-NOITES TRAIÇÕEIRAS Cenário: Posto de Saúde Narrador: mãe, senhora Júlia Sujeito: Williamas, 5 anos Condições socioeconômicas: classe social D Eu estou muito angustiada, toda vez que vou colocar o Williams para dormir, ele fica dizendo que está c/ dor nas pernas. Durante o dia brinca normal, joga bola, corre e ñ reclama de nada, mas quando vai dormir, diz que está cansado e c/ dor. No começo pensei que era história dele p/ ñ dormir só!Geralmente eu faço massagens nas pernas dele e ele termina dormindo. Antes de ontem ele chorou de dor, precisei dar uma dipirona! Amanheceu bem, mas agora à noite já está reclamando de novo ! Já estou achando os lábios dele muito brancos. Ele sempre foi ruim p/ comer! Além disso, vive cheio de manchas roxas pelo corpo. O filho da minha vizinha Mariza, começou c/ dor nas pernas e manchas roxas e morreu na semana passada. Será que o Willians pegou a doença dele? Eles costumavam brincar juntos! Vou marcar uma consulta no postinho p/ ele, ñ estou conseguindo dormir direito. Já até comecei a MARC Carolina Ferreira dar biotômico Fontoura c/ umas raízes que minha mãe me ensinou a fazer, mas ñ estou vendo melhora. Hoje levei o Williams no postinho. Dr. Marcos me atendeu e me fez um monte de perguntas. Queria saber se o menino tinha levado alguma queda, se tinha sangrado no nariz ou se sangrava a boca quando escovava os dentes. Perguntou também se ele apresentava íngua ou se alguma junta tinha inchado ou ficado quente ou vermelha. Eu falei que ñ ; perguntou se ele tinha febre. Eu lembrei que estava c/ 15 dias que ele gripou e deu febre 2 dias, mas eu dei dipirona xarope e ele melhorou da febre. Dr.Marcos foi atencioso, examinou o Williams, olhou os olhos dele, mexeu nas pernas e apalpou a barriga, falou que ele estava um pouco anêmico, que a altura estava boa, mas que o peso estava um pouco baixo. Me disse também que as pernas pareciam normais, mas que pediria uns exames. Então eu pedi p/ ele passar uma vitamina de cálcio p/ os ossos. O doutor orientou que esperasse os exames ficarem prontos.
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