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Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos. COMENTÁRIOS: O infanticídio depende de algumas condições: próprio filho, influenciada pelo estado puerperal, durante o parto ou logo após. Esse crime é próprio, pois só a mãe pode praticar. Sujeito passivo é o filho nascente daquele parto. A mãe deve estar sob a influência do estado puerperal. Estado puerperal é uma alteração fisiopsíquica que a mulher sofre em razão do parto. O legislador trabalha com a influência do estado puerperal, mas delimitou ser durante o parto ou logo após. Estado puerperal é a alteração fisicopsíquica que a mulher sofre em razão do parto. A doutrina da medicina legal faz distinção entre estado puerperal, depressão puerperal e psicose puerperal. Mulher mata o filho: Se ela não estava influenciada pelo estado puerperal, pratica o crime de homicídio. Se o estado puerperal a influenciar, pratica o crime de infanticídio. Se gerar na mulher a inimputabilidade, recebe tratamento conferido ao penalmente inimputável, pelo critério biopsicológico, aplicando o art. 26, caput. Se o estado puerperal gerar semi-imputabilidade, o tratamento será o equivalente ao art. 26, p.ú, do CP. O legislador trouxe um momento: durante o parto ou logo após. O parto tem início com o rompimento do saco amniótico ou incisão abdominal. O parto termina com a retirada da placenta. A doutrina vincula o elemento “logo após” o parto à duração da influência do estado puerperal. Enquanto durar a influência do estado puerperal, será logo após. Essa é a posição de Nelson Hungria, Cezar Bitencourt, Magalhães Noronha, Jose Frederico Marques. Obs.: Mãe que, sob a influência do estado puerperal, durante o parto ou logo após, mata o próprio filho de forma culposa, violando o dever objetivo de cuidado. Qual crime praticado? Não existe crime de infanticídio culposo, pois não está expresso no CP. O princípio que rege o crime culposo é o da excepcionalidade, positivado no art. 18, p.ú, do CP, assim, em regra, todo crime é doloso, e só será culposo se a lei fizer previsão expressa. Em doutrina, duas correntes disputam o tema. A primeira corrente entende que estamos diante de um homicídio culposo. Como não existe infanticídio culposo, responde por homicídio culposo, pelo princípio da excepcionalidade. Posição INFANTICÍDIO majoritária, defendida por Nelson Hungria, Magalhães Noronha, Heleno Fragoso, Aníbal Bruno, Bitencourt, Luiz Régis Prado, Mirabete e Rogério Greco. A segunda corrente sustenta que estamos diante de um fato atípico, pois o legislador quis privilegiar a mulher que mata o próprio filho nessas condições. É um contrassenso aplicar a ela um homicídio culposo, já que seria violar a intenção do legislador em privilegiar a mulher. Posição de Damásio de Jesus. Concurso de pessoas no infanticídio: Mãe e um terceiro matam o filho. Era o filho nascente daquele parto, foi logo após ou durante o parto. Ela estava influenciada pelo estado puerperal. A mãe responde pelo crime de infanticídio. A controvérsia cinge-se à tipificação do terceiro. Em doutrina, duas correntes disputam o tema. A mãe responde pelo infanticídio e o terceiro responde por homicídio, pois o crime é próprio e só mãe pode cometer. Posição da doutrina mais tradicional de Heleno Fragoso, Aníbal Bruno, Alvaro Mayrink da Costa, Nelson Hungria. A segunda corrente entende que a mãe e o terceiro respondem por infanticídio, pois a condição de mãe influenciada pelo estado puerperal é uma circunstância pessoal e elemento do tipo, com isso, comunica-se ao terceiro, na forma do art. 30 do CP. Posição defendida por Magalhães Noronha, Roberto Lira, Jose Frederico Marques, Antônio Bento de Faria, Cezar Bitencourt, Luiz Régis Prado, Nucci, Celso Delmanto, Rogerio Greco, Damásio de Jesus, Mirabete, Euclides Custódio da Silveira. É posição majoritária. E se o terceiro mata o filho, com a participação da mãe? Quem executa é o terceiro e a mãe participa. São quatro correntes: A primeira corrente entende que a mãe responde por infanticídio e o terceiro responde por homicídio. Posição de Nelson Hungria. A segunda corrente entende que mãe e terceiro respondem por infanticídio. A presença da mãe na sujeição ativa do crime, ainda que como partícipe, conduz à tipificação por infanticídio, na forma do art. 30 do CP. Posição e Damásio, Rogério Greco e Nucci. Posição majoritária. A terceira entende que, em princípio, ambos responderiam por homicídio, pois o fato principal é homicídio, e a conduta da mãe é acessória de partícipe. Contudo, a mãe agiu sob o instituto do art. 29, § 2o, do CP, chamado desvio subjetivo de conduta ou cooperação dolosamente distinta. Com isso, responde pelo crime menos grave de infanticídio. Diante disso, o terceiro responde por homicídio e a mãe responde por infanticídio. Posição de Cezar Bitencourt. A quarta corrente entende que, em princípio, ambos responderiam por homicídio. Entretanto, se a participação da mãe for de menor importância, deverá receber a pena mínima do homicídio com a redução do art. 29, § 1o. Posição de Luiz Regis Prado.
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