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A documentação e a gestão da informação APRESENTAÇÃO A documentação realizada pelos assistentes sociais na intervenção profissional não diz respeito à organização de roteiro de papéis a serem preenchidos, mas sim à relação e à interpretação de d iversos fatos e dados; trata-se de se relacionar com o conhecimento, refletir e agir orientado por uma intencionalidade. Documentar em serviço social tem como finalidade oferecer subsídios para análise e intervenção na realidade. A utilização dos documentos como instrumental possibilita superar o senso comum e a imediaticidade presentes no dia a dia dos profissionais, tornando-se fundamental na sistemati zação das atividades realizadas pelos profissionais no desenvolvimento da relação teórico-prátic a nos espaços socioinstitucionais. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai ver a responsabilidade ética do profissional no registr o e na documentação, assim como a dimensão investigativa e interventiva no exercício profissio nal para a leitura da realidade cotidiana. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a responsabilidade e a ética profissional no registro e na documentação.• Identificar a dimensão investigativa e a importância do registro quantitativo e qualitativo n o exercício profissional para a leitura da realidade. • Reconhecer a dimensão interventiva e propositiva do serviço social a partir da gestão da in formação. • DESAFIO A sistematização da prática é um desafio ao Serviço Social. Na discussão sobre o tema, existem lacunas teóricas a serem superadas e que precisam ser aperfeiçoadas por meio de investigações c apazes de expor exemplos interventivos. Nesse sentido, um elemento fundamental no processo de sistematização são os documentos prof issionais. Os registros produzidos a partir das competências e atribuições do assistente social, co nstituindo laudos, relatórios e pareceres. Tais documentos têm um papel singular na cultura do S erviço Social, pois sistematizam impressões, análises e descrições das situações de trabalho que darão subsídios a decisões acerca dos usuários. Compreendendo a documentação no cotidiano profissional como elemento fundamental à prátic a, imagine a seguinte situação: Você é assistente social e trabalha em um projeto social na área de educação que desenvolve ofi cinas de incentivo à leitura e à aprendizagem. Com base na situação fictícia citada, desenvolva um relatório de atendimento com dados que co nsidera relevantes na intervenção, de modo a produzir registros e avaliação das atividades sobre os encaminhamentos realizados na intervenção profissional. O relatório será enviado em caráter de denúncia ao Conselho Tutelar para intervenção e deve conter informações da pessoa atendid a, situação trazida por ela e elementos sobre os encaminhamentos dados na intervenção profissio nal. INFOGRÁFICO A documentação não é um conjunto de mecanismos, ações e atos isolados dos locais que se proc essam. Documentar em Serviço Social é um ato dotado de intencionalidade que demanda organi zação do processo teórico-metodológico e escolha de instrumentais técnicos que registram a inte rvenção profissional e contribuem para iluminar a leitura da realidade e imprimir rumos à ação. No Infográfico a seguir, você vai ver as três dimensões presentes no processo de sistematização teórico-metodológico e técnico-instrumental da ação profissional em Serviço Social que imprim em intencionalidade à prática. CONTEÚDO DO LIVRO A documentação realizada pelos assistentes sociais no exercício profissional oferece subsídios p ara a análise e a intervenção do Serviço social na realidade. Caracteriza-se como um importante instrumento na sistematização das atividades realizadas pelos profissionais no desenvolvimento da relação teórico-prática nos espaços socioinstitucionais. Documentar reflete as habilidades e competências teóricas e possibilita o estudo e a avaliação da atuação do assistente social no cotidiano. Por meio dos registros e da gestão de informações, é p ossível realizar uma intervenção propositiva, de forma ordenada, crítica, problematizada e que p ossibilita uma reflexão da experiência vivida. Na obra Estratégias e técnicas em Serviço Social II, leia o capítulo A documentação e a gestão d a informação, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, no qual você vai aprender sobre a re sponsabilidade ética no registro e na documentação, identificar a dimensão investigativa e a imp ortância dos registros quantitativos e qualitativos e ver a dimensão interventiva a partir da gestão da informação. Boa leitura. ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS EM SERVIÇO SOCIAL II Géssika Mayara dos Santos A documentação e a gestão da informação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a responsabilidade e a ética profissional no registro e na documentação. Identificar a dimensão investigativa e a importância dos registros quan- titativo e qualitativo no exercício profissional para a leitura da realidade. Reconhecer a dimensão interventiva e propositiva do Serviço Social a partir da gestão da informação. Introdução A documentação no Serviço Social tem um caráter dinâmico e flexível. Sua finalidade enquanto base para a investigação e o direcionamento do exercício profissional possibilita a intervenção da realidade, sendo fundamental no processo de obtenção e análise de dados. No cotidiano da prática profissional, documentar está longe de se construir como mera burocracia no cumprimento de preenchimento de roteiros de papéis que cumprem funções institucionais, pois a documentação, na intervenção, está vinculada aos objetivos do profissional e exige planejamento, organização e compreensão do documento enquanto instrumental que possibilita superar o senso comum e a imediaticidade presentes no dia a dia. Neste capítulo, você aprenderá sobre a responsabilidade ética no registro e na documentação, sua utilização vinculada às dimensões in- vestigativa e interventiva da profissão e ao arcabouço teórico e ético político profissional. Ética no registro e documentação no cotidiano da intervenção do assistente social A documentação como instrumento no Serviço Social deve ser utilizada para o desenvolvimento de uma prática que leve em consideração a sistematização de informações e o registro do processo interventivo. Sistematizar é um momento de extrema importância para a prática do Serviço Social, pois possibilita uma interação entre o sujeito e o objeto. Sendo assim, o profissional deve analisar esta relação em seus diversos aspectos, político, ético, institucional e social (ALMEIDA, 1997, p. 3). É por meio da sistematização que o profissional desenvolve as organiza- ções teórico-metodológica e técnica — instrumentais investigativos sobre a realidade — e registra aspectos relevantes da intervenção. Esses registros se materializam por meio documentos que possibilitam uma mediação entre teoria e prática profissional do Serviço Social. Como instrumento fundamental na materialização das ações profissionais, a documentação pode ser expressa na forma de fichas, prontuários, diário de campo, relatórios, laudos e pareceres utilizados na comprovação da intervenção realizada no trabalho socioinstitucional. No entanto, a utilização desses documentos na prática profissional não deve somente cumprir um papel de controle dos espaços socio-ocupacionais e funções administrativas, pois há a burocratização da prática. Documentar em Serviço Social tem como finalidade oferecer subsídios para análise e intervenção da realidade. Os registros realizados por meio da documentação refletem habilidades e competências teóricas, permitindo o estudo e a avaliação da atuação do assis- tente social no cotidiano. A utilização dos documentos enquanto instrumental possibilita superar o senso comum e a imediaticidade presentesno dia a dia dos profissionais, definindo ações vinculadas com os pressupostos do projeto ético-político da profissão. Dentro dessa perspectiva, documentar não é organizar um roteiro de papéis a serem preenchidos, mas sim relacionar e interpretar diversos fatos e dados, é relacionar-se com a realidade, é refletir e agir orientado por uma finalidade. É na definição do tipo de documento a ser utilizado na intervenção que o profissional dialoga com as dimensões ética e investigativa da profissão. É nesse momento que é definida a estratégia profissional adequada, tendo o documento como interpretação teórico-crítica para o fundamento da análise A documentação e a gestão da informação2 interventiva. Nesse processo, o registro documental demanda do(a) profissional clareza na comunicação, finalidade, análise dos dados e conhecimento das fontes de informações dos conteúdos e objetivos. Para a elaboração da documentação, alguns elementos devem ser observados (MAR- CONSIN, 2011): Terminologia: deve ser de acordo com o receptor, os profissionais, as instituições, os movimentos sociais, a população usuária. Ordenamento de dados: organizar os dados esquematicamente levando em conta a realidade e os objetivos do registro. Categorização dos dados obtidos: Nivelação: diz respeito à valorização dos detalhes, colocando-os no mesmo nível. Acentuação: ao mesmo tempo em que nivelamos os detalhes, destacamos os dados considerados mais relevantes, sempre de acordo com a realidade e com os objetivos da documentação. Sentido: explicar as informações colhidas sem as deformar. Na intervenção, a definição do tipo de documentação a ser utilizada deve estar submetida a uma interpretação teórico-crítica que perpasse o contexto institucional, sua estrutura, suas relações internas e externas, econômicas, políticas e socioculturais em que se situa a instituição. Como exemplos de documentos dos tipos de documentação na sistematização da prática, podemos citar os seguintes, usando como referência Marconsin (2011, p. 72–73): Os relatórios, que procuram trazer ao trabalho desenvolvido dados, informações, encaminhamentos realizados na intervenção e ativida- des desenvolvidas. Eles podem ser caracterizados como relatórios de acompanhamento, de visitas, de monitoramento de projetos com periodicidade estabelecida, de assembleias ou de outros relatos ne- cessários ao trabalho. Laudos e pareceres, documentos fundamentados na área do Serviço Social decorrente de perícia, com caráter de finalidade conclusiva e indicativa no processo de decisão na área judicial ou de competência da profissão. São atas de reunião em que são registrados objetivos, pautas, posições definidas, tarefas assumidas e outras questões que forem consideradas relevantes. 3A documentação e a gestão da informação Os prontuários sociais, utilizados como registro no acompanhamento das intervenções em que são descritas ações individuais ou coletivas que digam respeito ao atendimento à população usuária. Esse prontuário é individualizado, tanto por pessoa como por grupo ou por comunidade, organização ou categoria trabalhada pelo(a) assistente social. Na utilização de qualquer documento, a compreensão da documentação como instrumental teórico-metodológico que demanda responsabilidade ética é fundamental no processo de sistematização da prática. A ética no âmbito do Serviço Social, levando-se em consideração os seus aspectos ontológicos, políticos e sociais, conduz o profissional a refletir criticamente a vida cotidiana e agir com responsabilidade ética na intervenção. No Serviço Social, a conduta ética está presente no Código de Ética Pro- fissional (CFESS, 2011), que prescreve princípios, direitos e deveres que competem à categoria. No que se refere à responsabilidade ética no guardar as informações obtidas em razão do exercício profissional, o atual Código de Ética Profissional (1993), no seu capítulo V, determina que constitui direito do/a assistente social manter o sigilo profissional. O Art. 16 do mesmo capítulo descreve que “[...] o sigilo protegerá o/a usuário/a em tudo aquilo de que o/a assistente social tome conhecimento, como decorrência do exercício da atividade profissional”, e o Art. 18 pontua que “A quebra do sigilo só é admissível quando se tratarem de situações cuja gravidade possa, envolvendo ou não fato delituoso, trazer prejuízo aos interesses do/a usuário/a, de terceiros/as e coletividade” (CFESS, 2011, documento on-line). Nesse sentido, no registro de documentações, as informações tratadas pre- cisam ser consideradas de modo a levar em consideração a opinião do usuário, se a informação tratada é ou não confidencial, seu objetivo profissional, para que serve o compartilhamento de tal informação e com quem compartilhá-la; e, ainda, o que é melhor para garantir e assegurar o sigilo sem comprometer a objetividade dos documentos. A dimensão investigativa no exercício profissional Pensar acerca do lugar da dimensão investigativa no exercício profi ssional nos conduz à análise das “[...] dimensões investigativas e interventivas como prin- cípio formativo e condição central da formação profi ssional e da relação teoria e realidade” (ABEPSS, 1996, p. 61). De acordo com a Associação Brasileira A documentação e a gestão da informação4 de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) (1996, p. 67): “A postura investigativa é um suposto para a sistematização teórica e prática do exercício profi ssional, assim como para a defi nição de estratégias e o instrumental téc- nico que potencializam as formas de enfrentamento da desigualdade social”. Nesse sentido, a investigação é inerente às competências profissionais do assistente social, que, ao identificar as demandas presentes na sociedade, deve realizar pesquisas que subsidiem a ação profissional na relação teoria e prática, realizar visitas, perícias técnicas, laudos, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social que se aplica sobre uma investigação. O ato de investigar é o elemento constitutivo da própria intervenção pro- fissional quando, no cotidiano, extraímos informações, e, na instituição, no território, na família e nas políticas informacionais estamos exercitando a dimensão investigativa. A atitude investigativa consiste em uma postura inquieta e curiosa na leitura da realidade em suas múltiplas expressões. Battini (1994) destaca que a atitude investigativa é a permanente busca do novo pela reconstrução de categorias teórico-metodológicas de leitura e intervenção na realidade social, pois: Pensar os fatos, os acontecimentos, as relações exigem questionar, investigar a realidade, criticá-la, tornando-a evidente pela contínua recolocação de questões, fazendo-a emergir de forma cada vez mais rica e viva, recriando-a num contínuo percurso entre a aparência e a essência, entre a parte e o todo, entre o universal e o particular, numa visão dialética (BATTINI, 1994, p. 144). A atitude investigativa é uma visão dialética que torna possível a superação da ação centrada na imediaticidade dos fatos, orientada por atitudes repetidas, rotineiras e esvaziadas de sentido e que privilegia as sequências empíricas, as análises de seus estudos e as pesquisas realizadas a partir de situações concretas da realidade cotidiana, construindo sua intervenção a partir do movimento teórico-prático de informações e análises consistentes orientadas por uma postura investigativa. Dessa forma, é uma postura que imprime uma direção á sua ação pro- fissional na construção de estratégias para o enfrentamento das diferentes manifestações de desigualdade e injustiças, a qual pressupõe pesquisar da- dos de realidade quantitativos e investigar informações qualitativas sobre a realidade. Nesse sentido, os registros quantitativos e qualitativos realizados durante o exercício profissional são fundamentais para intervenções críticas e propositivas. Para Minayo (2011, documento on-line), a pesquisa é: 5Adocumentação e a gestão da informação [...] atividade básica da Ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pen- samento e ação. As pesquisas quantitativas possibilitam analisar a realidade por dados brutos e seus resultados podem ser quantificados. As pesquisas qualitativas aproximam o pesquisador da realidade por ser caracterizada por sua subjetividade, pois trabalha com a compreensão do real a partir das crenças, valores, e desejos do indivíduo. No que se refere a dimensão investigativa a pesquisa quanti e quali quando articuladas com finalidade enriquecem a intervenção profissional. A pesquisa é parte integral e intrínseca do exercício da profissão. Por meio da investigação propiciada pela pesquisa, são identificados ricos subsídios que possibilitam ao profissional de Serviço Social a apreensão profunda da realidade social em sua complexidade, articulando teoria e prática no campo da atuação profissional. De acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), os assistentes sociais: Prestam serviços sociais orientando indivíduos, famílias, comunidade e instituições sobre direitos e deveres (normas, códigos e legislação), serviços e recursos sociais e programas de educação; planejam, coordenam e avaliam planos, programas e projetos sociais em diferentes áreas de atuação profissional (seguridade, educação, trabalho, jurídica, habitação e outras), atuando nas esferas pública e privada; orientam e monitoram ações em desenvolvimento relacionados à economia doméstica, nas áreas de habitação, vestuário e têxteis, desenvolvimento humano, economia familiar, educação do consumidor, ali- mentação e saúde; desempenham tarefas administrativas e articulam recursos financeiros disponíveis (BRASIL, 2017, documento on-line). A pesquisa, na qual se faz necessário o “[...] mergulho na realidade social” (IAMAMOTO, 2004, p. 55), visa a investigar, interpretar, desvelar um objeto de intervenção. Nesse processo de investigação, a sistematização e o registro de dados é sem dúvida um passo preliminar e necessário. A sistematiza- ção materializada por meio de registros quantitativos e qualitativos permite identificar e problematizar os fenômenos sociais existentes, identificar suas características, selecioná-los e classifica-los para melhor compreendê-los e sobre eles intervir. Por isso, os registros quantitativos e qualitativos, se bem empregados, podem auxiliar o profissional na sua prática. Quantas visitas domiciliares, quantas entrevistas, quantos estudos sociais, pareceres, laudos, informações que o profissional busca em outras instituições durante a leitura da realidade A documentação e a gestão da informação6 no exercício explícito da investigação, da pesquisa e do estudo podem servir de subsídios para ações reflexivas e propositivas. Sistematizadas essas informações, compõe-se um conjunto de dados primá- rios que estão vinculados diretamente às condições de vida e de reprodução da população, à cultura, ao modo de vida, ao que os sujeitos pensam, à efetividade ou não das políticas públicas, entre tantas outras informações, obtidas por meio não só da atividade do profissional, mas também por sua observação. Essas informações são ricas para muitos estudos, e, se reeditadas dentro do movimento teórico-prático, podem redirecionar a intervenção. Dados primários: são informações obtidas “direto da fonte”. Por exemplo: entrevista com pessoas da comunidade, vizinhos de uma família que se deseja conhecer, conversa com parentes, etc. Seria a informação que se pega em “in loco” (visita domiciliar). Neste sentido, ao compreender que a dimensão investigativa deve ser uma estratégia de conhecimento e de intervenção, torna-se necessário sinalizar que ela é imprescindível na intervenção profissional, pois investigar, sistematizar e produzir dados comprometidos com a realidade e com o projeto ético-político profissional possibilita intervenções críticas, propositivas e competentes. Dimensão interventiva e gestão da informação O Serviço Social se particulariza nas relações sociais de produção e reprodução da vida social como uma profi ssão interventiva no âmbito da Questão Social. O assistente social tem uma ação profi ssional que se tece no dia a dia dos usuários, na particularidade de suas vidas, entre vulnerabilidades e necessidades que demandam ações múltiplas. Sobre o assistente social, Carvalho (2005, p. 52) destaque que ele: [...] não atua sobre uma única necessidade humana (tal qual o dentista, o médico, o pedagogo...) nem tampouco se destina a todos os homens de uma sociedade, sem distinção de renda ou classe. Sua especificidade está no fato de atuar sobre todas as necessidades humanas de uma dada classe social, ou seja, aquela formada pelos grupos subalternos, pauperizados ou excluídos de bens, serviços e riquezas dessa mesma sociedade. 7A documentação e a gestão da informação A dinâmica das relações que moldam a intervenção profissional não se escreve na superfície das respostas imediatas, mas demanda investigação sobre a formação histórica e os processos sociais contemporâneos que conformam a sociedade brasileira, no sentido de apreender as particularidades por meio da leitura teórico-crítica da realidade. Nesse aspecto, o conhecimento da vida cotidiana constitui-se como base necessária à prática profissional. É no cotidiano que o fazer profissional se materializa, que as demandas postas pelos usuários são apresentadas e que os instrumentos técnico-operativos, éticos e políticos presentes no exercício profissional do assistente social são apontados. De acordo com Heller (2000, p. 18): A vida cotidiana é, em grande medida, heterógena, e isso sob vários as- pectos, sobre-tudo no que se refere à significação de atividade. São partes orgânica da vida cotidiana: a organização do trabalho e da vida privada, os lazeres e o descanso, a atividade social sistematizada, o intercambio e purificação. Mas a significação da vida cotidiana tal como seu conteúdo não apenas heterogêneo, mas igualmente hierárquica, hierarquia que por sua vez não é imutável. É nesse espaço marcado por contradições, fragmentação e diversidades de valores e crenças que a atividade profissional do assistente social incide. Ele é o locus do exercício profissional enquanto esfera singular vinculada à totalidade histórica. Por isso, o trato analítico na construção da intervenção profissional na realidade cotidiana dos assistentes sociais é fundamental. É no cotidiano que as múltiplas expressões da Questão Social se expressam, e, para se entender a realidade concreta, torná-la pensada e compartilhada, o profissional precisa gerir as informações de forma dialética, a fim de cons- truir intervenções propositivas de estratégias. De acordo com Queiroz (2008, documento on-line): A gestão da informação consiste no processo de busca, identificação de infor- mações em documentos físicos ou digitas. Gerir informações é um trabalho no âmbito do registrado, não importando o tipo de suporte. Os sistemas de informação são ferramentas de racionalização do trabalho destinadas a elimi- nar as incertezas [...] sendo uma ferramenta pensada a partir das necessidades do capital, ou melhor, são ferramentas de gerenciamento. A documentação e a gestão da informação8 Ainda, Tapajós (2006, p. 185) complementa que “A gestão da informação organiza e dispõe da informação relevante e útil no tempo (da necessidade) da tomada de decisão e da difusão de providências, pela área de gestão, além de assegurar o compartilhamento com transparência nos atos”. Ao realizar um levantamento sobre o sistema de informações durante o processo de sistematização da intervenção profissional, o assistente social visa a identificar as necessidades, mapear fluxos, analisar a nível organizacional, social e na vida do usuário particularidadesque subsidiem o desenvolvimento das atividades cotidianas e a uma intervenção propositiva. Sobre as informa- ções, Pinto (2003, p. 53) destaca que: Entende que o conhecimento passou a ser mola propulsora da sociedade moderna, a informação deixa de ser limitada somente a professores e alunos, estando disponível, em variadas formas e lugares, e é a partir das informações que se constroem novos conhecimentos. A partir da gestão da informação na intervenção profissional, é possível fazer uma crítica ontológica ao cotidiano. Pela via do conhecimento teórico, da busca de informações relevantes, da escolha consciente, da direção política que atribui à sua prática, bem como de uma postura investigativa, que trans- cende a mera cotidianidade, o assistente social consegue alcançar o patamar do exercício crítico. Segundo Iamamoto (2004, p. 20): Um dos maiores desafios que o assistente social vive no presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criati- vas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional prepositivo e não só executivo. Nesse sentido, a gestão da informação enquanto estratégia de intervenção profissional articulada à sólida formação ética e à capacidade crítico-reflexiva no conhecimento da realidade possibilita uma intervenção carregada de inten- cionalidade na construção de alternativas para renovar a prática profissional, rompendo com tarefas repetitivas dos espaços socioistitucionais. 9A documentação e a gestão da informação ABEPSS. Proposta básica para o projeto de formação pro�ssional. O serviço social no século XXI. Serviço Social & Sociedade, v. 17, nº. 50, p. 143–171, abr. 1996. ALMEIDA, N. L. T. Considerações para o exame do processo de trabalho do serviço social. Serviço Social & Sociedade, v. 17, nº. 52, p. 24–47, 1996. BATTINI, O. Atitude investigativa e formação pro�ssional: a falsa dicotomia. Serviço Social & Sociedade, v. 15, nº. 45, p. 142–146, ago. 1994. BRASIL. Ministério do Trabalho. Classificação brasileira de ocupações: assistente social. Brasília: MTO, 2017. Disponível em: http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/ BuscaPorTituloResultado.jsf. Acesso em: 3 abr. 2019. CARVALHO, M. C. B. O conhecimento da vida cotidiana: base necessária à prática social. In: NETTO, J. P.; CARVALHO, M. C. Brant. Cotidiano: conhecimento e crítica. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2005. CFESS. Código de ética do/a assistente social: Lei 8.662/93 de regulamentação da pro- fissão. 9. ed. Brasília: CFESS, 2011. Disponível em: http://www.cfess.org.br/arquivos/ CEP2011_CFESS.pdf. Acesso em: 3 abr. 2019. HELLER, A. O cotidiano e a história. São Paulo: Paz e Terra, 2000. IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profis- sional. São Paulo: Editora: Cortez, 2004. MARCONSIN, C. Documentação em serviço social: debatendo a concepção burocrática e rotineira. In: FORTI, V; GUERRA, Y. Serviço social: temas, textos e contextos, coletânea nova de serviço social. Rio de janeiro, Lúmen Júris, 2011. MINAYO, M. C. S. Análise qualitativa: teoria, passos e fidedignidade. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, nº. 3, p. 621–626, 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?pid=S1413-81232012000300007&script=sci_abstract. Acesso em: 3 abr. 2019. PINTO, Á. V. O conceito de tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. v. 1. QUEIROZ, M. G. A incorporação das tecnologias de informação no âmbito do serviço social. ETIC, v. 4, nº. 14, 2018. Disponível em: http://intertemas.toledoprudente.edu.br/ index.php/ETIC/article/view/1829. Acesso em: 3 abr. 2019. TAPAJÓS, L. Gestão da Informação no SUAS. Serviço Social e Sociedade, v. 27, n. 87, set. 2006. Leitura recomendada LEONE, A. O que é Gestão da Informação? In: GESTÃO da informação. [S.l.: s.n.], 2009. Disponível em: http://informacaoparasuagestao.blogspot.com/2009/10/o-que-e- -gestao-da-informacao.html. Acesso em: 3 abr. 2019. A documentação e a gestão da informação10 DICA DO PROFESSOR Muitos profissionais dos serviços, assistentes sociais ou não, não compreendem sobre a importâ ncia do sigilo dos registros e da documentação das intervenções do assistente social. Acessar cot idianamente a vida dos usuários, obtêm-se informações privilegiadas que, por vezes, podem ger ar riscos quando equivocadamente divulgadas, tanto aos usuários diretos quanto à suas famílias. Nessa dica do professor você verá quais são as implicações éticas e profissionais com a docume ntação elaborada ou acessada pelo profissional e quais as adequadas formas de gestão dessas inf ormações. Verá também como a dimensão investigativa da profissão, tanto de dados qualitativos quanto quantitativos contribuem para a leitura de realidade e para o planejamento dos serviços. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. NA PRÁTICA O Serviço Social é uma profissão cuja marca interventiva o particulariza dentre as demais profis sões inscritas na divisão sociotécnica do trabalho. A intervenção pressupõe que o profissional co nsiga planejar suas ações fundamentadas em referenciais que são constitutivos do exercício profi ssional e produzir registros das atividades realizadas durante o processo de trabalho. Por meio de documentação que se expressa na forma de fichas, prontuários, diário de campo e re latórios de atendimentos individuais, o profissional direciona com clareza e finalidade a sua inte rvenção. Veja nesse Na Prática, como é feita a documentação no cotidiano profissional. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA + https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/97f681cc8611db471a9936367f723b02 Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professo r: A dimensão interventiva e a formação profissional do assistente social: considerações sobr e os fundamentos profissionais Leia no artigo a seguir uma reflexão acerca da dimensão interventiva da profissão de assistente s ocial e a apropriação de diferentes saberes pelos profissionais. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. A documentação no cotidiano da intervenção dos assistentes sociais: algumas consideraçõe s acerca do diário de campo No link você verá um estudo sobre a importância da documentação no cotidiano da intervenção profissional, com destaque para o registro em diário de campo das ações profissionais. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. https://seminarioservicosocial2017.ufsc.br/files/2017/05/Eixo_2_72_2.pdf https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/view/1048/3234
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