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TCC: Teoria e Pratica C3 – Conceituação Cognitiva O que é conceituação cognitiva? É o fundamento principal da TCC: atribuição de conceitos da TCC à demanda do paciente. É essencial para o diagnóstico e também para planejar o tratamento, deve ser feita desde o primeiro encontro. É algo dinâmico. OBSERVAÇÃO TCC não é uma abordagem para psicólogo vaidoso!!! Diferentemente de outras linhas teóricas – como a psicanálise – onde o terapeuta levanta uma hipótese e vai tentando fazer o paciente se adequar a ela, na TCC o indivíduo é quem sabe mais sobre si próprio. Um comentário feito por ele pode ser capaz de mudar toda uma conceituação e, consequentemente, o plano de tratamento. Os pensamentos automáticos Os pensamentos automáticos ajudam a construir a conceitualização cognitiva. Mas o que é pensamento automático? A percepção dos acontecimentos é a interpretação que o nosso cérebro faz diante das coisas que acontecem. Assim, os pensamentos automáticos são interpretações voluntárias de determinada situação. Portanto, o que importa NÃO É SITUAÇÃO e sim a INTERPRETAÇÃO! A situação não determina como uma pessoa vai se sentir ou agir, pois uma mesma situação pode gerar em distintos indivíduos diferentes interpretações. Logo, a forma como as pessoas se sentem, se comportam e pensam estão associadas a como elas interpretam uma situação. Exemplo: Leitura de um livro didático Leitor A – esse livro é uma porcaria, desperdicei meu dinheiro! Leitor B – meu Deus, esse livro é incrível, eu preciso aprender tudo! Mas é muita coisa, e se eu não conseguir entender? Leitor C – isso é muito difícil, eu sou muito burro! Eu nunca vou conseguir aprender. Crenças nucleares O que são crenças? Da forma mais simplificada possível, as crenças são ideias que desenvolvemos sobre nós mesmos, sobre as pessoas, sobre o mundo, etc. @sofia.vicctoria As nossas crenças mais profundas (nuclear) muitas vezes não são articuladas – inconscientes. São absolutas e rígidas. Contras as crenças nucleares não adianta a racionalidade. Para modifica-las não basta apenas reconhece-las é preciso de experiências que possam, de certa forma, refuta-las. CRENÇAS ADAPTATIVAS São ideias sobre o eu, sobre o mundo e sobre as pessoas que permitem a nossa adaptação ao meio. As crenças adaptativas são flexíveis, úteis e baseadas na realidade. Importante frisar que uma crença adaptativa não necessariamente é funcional. Tem 3 categorias: EFICIÊNCIA – Crenças sobre fazer e realizar coisas como: “Sou razoavelmente competente; estou no controle; sou útil; sou capaz de me proteger e cuidar de mim; tenho relativa liberdade; estou à altura das outras pessoas, etc.” AMABILIDADE – Crenças principalmente sobre seu relacionamento com as pessoas como: “Sou razoavelmente amável, atraente, interessante; minhas diferenças não prejudicam minhas relações; é improvável que eu seja abandonada, rejeitada ou termine sozinha, etc.” VALOR – São crenças principalmente sobre essência moral, caráter, sobre ser bom, como: “Sou digno, generoso, adequado, etc.” Ex: Pessoas perfeccionistas. Trabalham muito, prezam pela excelência e não descasam. Essa atitude pode ser funcional para suas conquistas e para os lugares por onde elas passam, mas uma hora ou outra, essas pessoas vão adoecer e se não se cuidarem podem morrer – isso é desadaptativo. CRENÇAS DESADAPTATIVAS São crenças sobre o eu, sobre o mundo e sobre as pessoas que impedem nossa adaptação ao meio. Pessoas com histórico psicológico menos sadio e pessoas em algum tipo de situação de vulnerabilidade tendem a desenvolver essas crenças, que se encaixam em 3 categorias: DESAMPARO – É o contrário da crença de eficiência, é o pensamento sobre a incapacidade de realizar coisas, de se auto proteger como: “Não consigo fazer as coisas, sou incompetente, incapaz, inútil; não sou capaz de me proteger, provavelmente vou me machucar; não sou boa (qualificação) o suficiente, nunca estarei à altura das pessoas, etc”. DESAMOR – É o contrário da crença de amabilidade, diz muito sobre a incapacidade de se sentir amado e aceito, como: “Sou impossível de ser amada; sou desagradável, indesejável, chata, sem importância, dispensável; serei rejeitado, abandonado, ficarei sozinho, etc”. DESVALOR – É o contrário da crença de valor, é o pensamento sobre ser ruim moralmente, perigoso, mal caráter, como: “Sou tóxico, louco, faço mal as pessoas, não mereço viver, sou imoral, etc”. Crenças intermediárias As crenças intermediárias estariam em um “nível” entre os pensamentos automáticos e as crenças nucleares. São atitudes, regras e pressupostos (os quais na maioria das vezes não são expressos e estão relacionados com as crenças nucleares). Ex: Pensamento automático: “Errar é horrível”. Regra: “Devo desistir se aparecer um desafio muito grande”. Aqui perguntamos o ‘porquê’: (Sou incapaz – remete à crença nuclear). Pressuposto: “Se eu fizer essa tarefa vou fracassar, se eu evitar faze-la, vai ficar tudo bem”. Aqui completamos com ‘então’: (Se eu falhar então eu não sou bom o suficiente, eu sou um fracasso – remete à crença nuclear). OBSERVAÇÃO A diferença entre crença nuclear e intermediária está na condição. A crença nuclear é INCONDICIONAL. Toda a situação pode estar apontando para descrédito da crença. Por exemplo – “mesmo que as pessoas me elogiem o tempo todo, eu NÃO ME SINTO/EU NÃO SOU BONITA. Já a crença intermediária é CONDICIONAL. A situação é quem dita as regras. “SE as pessoas não me elogiam é por que eu não sou bonita”. A boa notícia é: neuroplasticidade. Nós podemos ativar/desativar redes neurais. Ou seja, nós podemos aprender a “desativar” crenças desadaptativas e “estimular” as adaptativas. Esquemas O esquema é uma estrutura psíquica hipotética que organiza as informações, é a maneira como o cérebro interpreta as informações, fazendo correlações com as crenças. Importante ressaltar que esses esquemas podem ser formados antes mesmo da verbalização, estão em um nível inconsciente muito profundo. Está relacionado à epigenética. EXEMPLO Crença – “Sou incompetente”. Situação – Apresentei dificuldade ao ler um livro. Essa situação reforça a crença de incompetência, portanto ela “adere” ao esquema. Importante frisar que informações as quais não “combinem” com o esquema não são inseridas, antes há uma distorção para que elas possam se aderir. Outra situação – Pessoas elogiam um trabalho que você fez. Essa informação não é compatível com a crença de desamparo “sou incompetente”, logo ela será distorcida: “pode estar bom, mas eu demorei muito tempo para fazer. A pessoa X fez muito mais rápido”. Pronto, a informação agora é compatível, reforçando a ideia de incompetência e se aderirá ao esquema.