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mantém-se na linha do ensinamento de S. Paulo, mas a partir daí vai introduzir um elemento totalmente novo. O Aquinatense vai, na verdade, ensinar que o poder, de origem divina, é transmitido directamente ao povo, e do povo é que vai, se ele assim o determinar, para os governantes. Esta doutrina – doutrina da ordem popular do poder ou, como se dirá mais tarde, doutrina da soberania popular – conjugada com o ensinamento pauliano da origem divina do poder, pode condensar-se na fórmula “todo o poder vem de Deus através do povo”. Daqui resulta que Deus concede o poder ao povo, e portanto o povo é que é o verdadeiro titular do poder político. O povo pode, pois, exercer directamenteo poder, ou delegar o seu exercício em governantes: estes serão meros delegados do povo, actuando no lugar em vez do povo. Era a negação do que se chamaria da doutrina do direito divino dos reis – isto é, da ideia de que o poder vem directamente de Deus para os reis, sem qualquer mediação popular. 1.10.9. Regimes políticos Assim, S. Tomás de Aquino, repete que há 3 formas justas de governo: a monarquia, a aristocracia e a república; e 3 formas desviadas ou injustas: a tirania, a oligarquia e a democracia. Reconhece que qualquer das 3 primeiras formas é legítima, porque em todas elas os governos actuam justamente, e condena as outras 3, porque nelas os governos actuam injustamente – tudo sempre em relação ao bem comum. Quanto ao regime ideal, S. Tomás de Aquino distingue entre o regime melhor “em teória” e “na prática”: teoricamente, o regime ideal é para ele a Monarquia; praticamente, porém, as suas preferências vão para um regime misto. S. Tomás de Aquino prefere a monarquia por 4 ordens de razões: Do ponto de vista teológico, a monarquia é o regime que mais se aproximado governo do mundo por Deus, que é também o governo de um só, e da forma de governo que Cristo pretendeu para a sua Igreja- Do ponto de vista filosófico, a arte de governar, como todas as artes, deve imitar a natureza: a sociedade política deve seguir o modelo da natureza. Orana natureza tudo vem da unidade e tudo regressa à unidade, o que é também um argumento no sentido da monarquia.- Do ponto de vista prático, o governo de vários ou de muitos nunca se torna eficaz senão quando, após as necessárias deliberações, todos se põem de acordo e atingem a unidade. Portanto, é melhor o governo de um só do que ode muitos, que primeiro têm de procurar entre si alcançar um consenso. Do ponto de vista histórico, enfim, o passado mostra que os países sem rei sempre viveram na discórdia e sempre andaram à deriva, como designadamente na história de Roma. Pelo contrário, as cidades e países governados por um rei gozam de paz, florescem em justiça e vivem felizes na abundância das riquezas. Mas, por razões práticas, acrescenta que o regime ideal não deve ser uma monarquia pura. Para ele, é necessário associar à responsabilidade do governo não só as elites, capazes de, pela sua inteligência, pelos seus conhecimentos, pelos seus méritos, assegurar uma boa gestão dos negócios públicos, mas também, no tocante às decisões fundamentais sobre a vida colectiva, toda a população, todo o povo. Assim, o regime misto preconizado por S. Tomás de Aquino é uma monarquia temperada por elementos de aristocracia e por elementos de república, seguindo aqui bastante o pensamento de Aristóteles e de Cícero. Assim, as monarquias garantirá a unidade e a eficácia do poder; a aristocracia permitirá contribuir com a superioridade do mérito para a boa administração; e a república assegurará a participação dos cidadãos no governo do país. 1.10.10. O pior regime: a tirania Para S. Tomás de Aquino tal como o governo por um rei é o melhor regime, assim também o governo por um tirano é a pior forma de governo: Primeiro, um poder que seja unido é mais eficiente do que outro que seja dividido. Assim, da mesma forma que é melhor um poder produtor de bem ser unido, é mais nocivo que um poder produtor de mal seja unido do que dividido. Por isso, a tirania é pior do que a oligarquia, e esta é pior do que a democracia. Segundo, o que torna um regime injusto é o facto de serem prosseguidos os interesses pessoais do governante em detrimento do bem-estar da comunidade. Ora, servindo a tirania para satisfazer apenas os interesses de um homem só, é aí que se fica mais longe (mais longe ainda do que naoligarquia) da satisfação dos interesses de todos. Terceiro, é bom que um bom governo seja unido e forte, mas é mau que um mau governo seja forte e unido. Por consequência, de todas as formas injustas de governo, a democracia é a mais tolerável, e a tirania é a pior.- Quarto, a tirania não há apenas satisfação de interesses pessoais do tirano em prejuízo dos interesses do povo e do país: há também opressão dos súbditos. E tudo isso acontece porque “não há lei” e portanto nada é seguro, tudo é incerto. Quinto, o tirano semeia a discórdia entre os seus súbditos. Como vive permanentemente no receio de uma revolta, o tirano divide para reinar. Sexto, a tirania gera o medo dos cidadãos perante o poder. Ninguém se sente livre ou seguro. Sétimo, e em consequência de tudo isto, o tirano não consegue normalmente assegurar uns países forte perante os inimigos exteriores. Em regra, o tirano é forte perante os seus súbditos, mas fraco perante os seus inimigos. S. Tomás de Aquino conclui que o tirano, dominado cegamente pelas paixões e incapaz de actuar segundo a razão, não difere em modo nenhum de uma besta; nem é diferente ser sujeito a um tirano ou ser sujeito a um animal selvagem. 1.10.1. Remédios contra a tirania S. Tomás de Aquino não aconselha o tiranicídio, isto é, o assassinato do tirano. Na verdade, pondera ele, seria perigoso que os induzidos a tomar a iniciativa particular de atentar contra a vida dos governantes, mesmo tiranos. Por isso o remédio contra os males da tirania deve assentar mais nas mãos da autoridade pública do que no juízo privado dos indivíduos. S. Tomás de Aquino distingue duas hipóteses: a de a comunidade ter o direito de escolher o seu rei, e a de esse direito pertencer a uma autoridade superior. No primeiro caso, S. Tomás conclui que a comunidade que tem o direito de eleger o rei tem também o direito de o depor. No segundo caso, que é por exemplo o de uma colónia dependente de um poder alheio, o remédio contra a tirania consiste em apelar para o poder superior a fim de que este corrija ou deponha o tirano. Esta concepção apregoa, basicamente, a resignação perante a tirania, em vez do direito à desobediência e à insurreição. Trata-se, como se ê, de uma posição bastante tímida, em que prevalece a defesa conservadora da autoridade, da ordem e da estabilidade sobre a visão mais liberal da garantia dos direitos individuais. S. Tomás admite o direito de desobediência do povo cristão em relação ao seu rei – é o de este ser declarado pela Igreja como herético, cismático ou excomungado. 1.10.2. Os deveres do príncipe cristão Como deve comportar-se um verdadeiro príncipe cristão? Tomás de Aquino estabelece o paralelo entre o rei e Deus “pois o rei faz no seu reino o que Deus faz no universo”.“ Governar é guiar aquilo que é governado para o seu fim”: ora o fim das sociedades humanas é proporcionar uma “vida virtuosa” a todos os indivíduos segundo a lei de Deus. Este é pois o principal dever dos príncipes cristãos. Mas o bem-estar da comunidade política não é apenas espiritual, tem de ser também material. Neste campo, os deveres do príncipe cristão são múltiplos:-garantir a paz e a unidade do país;- prevenir os crimes, reprimir a violência e fazer justiça;- defender o reino contra os seus inimigos;- prover os lugares públicos;- proporcionar aos mais necessitados meios de subsistência, ou “suficiência de bens corporais ”Deve o príncipe obediência às suas próprias leis? S. Tomás distingue então, na lei humana, dois aspectos – a sua “força directiva” e a sua “força coactiva”. E explica que, se o soberano não está sujeito à lei humana no segundo aspecto, o da coacção – pois é o próprio soberano que dispõe da força pública e esta não pode ser usada contra ele -, no entanto o soberano está sujeito às leis no seu primeiro aspecto, ou seja, à sua força directiva, aos seus comandos. S. Tomás de Aquino considerava a função governativa tão difícil e pesada que nenhuma recompensa terrena – nem a riqueza, nem a honra, nem a glória, poderia ser retribuição suficiente para os príncipes deles incumbidos: só a vida eterna os poderá recompensar. 1.10.3. Estado e Igreja Em meados estava-se no auge da supremacia do papado, segundo a doutrina do sacerdotalismo e do “agostinianismo”: o poder espiritual predominavas obre o poder temporal, pois os titulares deste, como cristãos, tinham de sesubmeter à Igreja. Ora, S. Tomás vem dizer que tanto o poder espiritual como o poder temporal são legítimos – e têm ambos origem divina. Segundo ele, a vida sobrenatural é sem dúvida superior à vida terrena, e por isso S. Tomás de Aquino reconhece, na esteira da tradição medieval, a primazia do poder espiritual sobre o poder temporal. Mas acrescenta: essa primazia só se verifica naquilo que se refira à salvação das almas. Ou seja, S. Tomás de Aquino procura fechar a porta por onde tinham passado todos os abusos da doutrina da supremacia do poder espiritual sobre o poder temporal. E acrescenta que o poder secular só está subordinado ao espiritual enquanto tal subordinação for requerida por Deus, que é como quem diz, enquanto for necessária para a salvação da alma, baseando-se no Evangelho de S. Mateus“ dai a César o que é de César”. 1.10.4. Erasmo de Roterdão À maneira dos autores medievais, Erasmo constrói idealmente um corpo cristão cujo centro é Cristo. À volta dele estendem-se concentricamente três círculos, dois pequenos e um grande. A primeira é ocupada pelos príncipes da Igreja e pelos sacerdotes: é a zona interna. A zona externa contém a grande massa de simples leigos, com os pés pesadamente presos à gleba e pertencentes ao corpo da Igreja. Entre as duas zonas (interna ou eclesiástica e externa ou laica), há uma zona intermédia constituída pelos príncipes temporais. Quando estes governam com justiça e proporcionam repouso aos seus povos, participam à sua maneira da dignidade sacerdotal, situando-se assim muito acima dos que constituem a zona externa do laicado. No entanto, seria errado inferir neste esquema que Erasmo confere aos príncipes uma situação privilegiada. Para ele não há dois cristianismos, um para os príncipes e outro para o comum das pessoas. A religião de todos deve ser conforme ao ideal evangélico. O príncipe, por estar situado mais acima, deve superar os outros pelas suas virtudes, prudência e integridade. A lei do sacrifício impõe-se-lhe como a todos os cristãos. Se tenciona seguir Cristo, deve carregar a sua cruz. Não pode escapar à lei comum. Estamos assim longe de Maquiavel que constrói uma moral especial para o príncipe e o coloca acima da moral universal; e igualmente longe dos absolutistas, que fazem com que a conduta dos poderosos escape a qualquer espécie de controlo terrestre. Erasmo, embora reconheça direitos ao príncipe, limita-os fortemente. Apoiados na primeira doutrina da Igreja nascente, os reis tendem a considerar que se lhes deve obediência sem discussão, de acordo com o princípio estabelecido pelos apóstolos. Mas esta fórmula de submissão referia-se aos imperadores romanos. Assim, Erasmo quer que o príncipe seja escolhido em atenção aos seus méritos autênticos. O primeiro, a seu ver, consiste em ser pacífico. Ao passo que Maquiavel, e muitos dos seus seguidores, glorificam o príncipe quando este se apodera de novas terras para reinar sobre elas. Erasmo condena as conquistas em vários dos seus adágios característicos. O evangelho é um evangelho de paz; por isso o primeiro dever do príncipe é não fazer a guerra. Dirigida a Carlos V ou a Francisco I, esta linguagem parece muito ingénua. No entanto, aos olhos de Erasmo, é sábia, pois aumentar as possessões não constitui vantagem para um príncipe. Mais lhe valeria restringi- las, pois ser-lhe-ia mais fácil fazer reinar a justiça e a paz num território menos vasto. Proporcionaria ao seu povo maior prosperidade. Sumário Santo Agostinho tinha ideias claras sobre a matéria: os poderes eclesiásticos e civil são distintos e independentes. Cada um move-se na sua esfera própria de jurisdição e actua por sua conta, só sendo responsável perante Deus. Toda e qualquer ingerência de um nos domínios reservados do outro é inconveniente e perigosa. Santo Agostinho manteve-se na posição tradicional do Cristianismo primitivo. E especificava mesmo que a Igreja, por amor da concórdia civil, deve aceitar o Estado tal como ele é, com os erros e insuficiências que inevitavelmente o caracterizam, oferecendo-lhe, na pessoa dos seus fiéis, cidadãos bons e virtuosos. Para S. Tomás de Aquino, só o Estado é a sociedade perfeita. Perfeita, não no sentido de que disponha de uma perfeição absoluta igual à de Deus, mas no sentido de que se basta a si própria, de que contém em si todas as virtualidades para satisfazer as necessidades fundamentais do homem. O fim do Estado, segundo S. Tomás de Aquino é o bem comum. Para S. Tomás de Aquino de uma forma muito clara, o fim do Estado não é apenas a obtenção do bem comum no sentido colectivo da expressão: porque o bem comum tem também uma dimensão e uma incidência individual. O bem comum pressupõe e exige que todos e cada um dos homens possam não apenas viver, mas viver bem. A ideia de felicidade individual, ou de bem-estar individual tem origem em Aristóteles e é uma ideia fundamental no conceito de bem comum de S. Tomás de Aquino. TEMA II: A IDADE MODERNA Ideais Política Moderna: O Absolutismo 2. Positivismo Introdução A sociocracia de origem comtiana, permitiu estabelecer as bases para a coesão social, garantindo a participação do indivíduo na decisão do grupo ou individual; no concernente ao positivismo lei dos três estados que a humanidade percorre sucessivamente. Ainda dá o seu contributo positivo no campo político. Objectivos Conhecer a Sociocracia de Comte; Analisar o positivismo de Comte; Descrever a influência do positivismo de Comte na arena Política; Compreender a essência do pensamento de Maquiavel. 2.1. O espírito do Renascimento e a política A partir de meados do século XV, entra-se numa nova fase da história da Europa – a fase do Renascimento, que dá início á chamada Idade Moderna. Conhece-se os seus aspectos fundamentais. Por um lado, dá-se uma atenuação muito forte do espírito religioso global e envolvente que marcou a Idade Média, e uma clara acentuação do humanismo e dos valores profanos, com um certo resvalar para o paganismo, num quadro geral de restauração da cultura greco-romana e dos traços característicos da Antiguidade Clássica, e da ruptura com a Idade Média. Tudo o que é humano passa a ser mais importante do que o divino. Por outro lado, assiste-se á afirmação da supremacia do poder civil sobre as autoridades religiosas,e ao fortalecimento do poder real. É, no plano político e administrativo, o fim do feudalismo: acaba a pulverização dos poderes senhoriais, corporativos, eclesiásticos e municipais, dá-se a centralização do poder real e a afirmação do Estado soberano. É neste período, com efeito, que nascem as grandes Monarquias europeias: os Reis Católicos em Espanha, os Tudors em Inglaterra e o absolutismo realem França. Começam a afirmar-se as nacionalidades: passa-se da Cidade – Estado para o Estado – Nação. E assiste-se á ascensão do absolutismo real: o monarca desliga-se cada vez de vínculos de carácter religioso, para se guiar sobretudo por motivações puramente politica, ou seja, pela “razão de Estado“. Em Portugal encarna integralmente o reforço do poder real e o despreendimento de limites morais. Noutro plano, dão-se os Descobrimentos, tarefa de cunho universal e planetário, em que os portugueses desempenham papel primordial. E com os Descobrimentos vem o progresso das técnicas e da mentalidade científica: a cartografia, a ciência náutica, a astronomia, as ciências naturais, tudo vai conhecer um surto enorme, com as maiores consequências do ponto de vista cultural, económico e social. Uma delas será nada mais nada menos que o início do capitalismo moderno. A generalização e abertura do comércio, que deixa de ser puramente local e requer controle e proteção de âmbito nacional, também contribui poderosamente para acentuar a necessidade do reforço de um poder real centralizado. Por último, cumpre chamar a atenção para que é durante esta fase - cerca de um século depois do seu início – que se produz esse grande terramoto da história europeia que é a Reforma protestante, seguida da Contra – reforma católica – acontecimentos que dividem a Europa cristã em países católicos e protestantes, com inevitáveis implicações políticas. 2.2. O poder liberto da moral: MAQUIAVEL Vida e obra de MAQUIAVEL. MAQUIAVEL nasceu em 1469 e morreu em1527, com 58 anos. Era natural de Florença. É importante ter presente que ao tempo não existia a Itália como país unificado: existiam várias cidades independentes, parecidas com as diferentes polis da Grécia antiga. MAQUIAVEL, pertencia á classe média: era filho de um licenciado em Direito. Em 1498 foi nomeado Secretário da segunda chancelaria de Florença, cargo que ocupou até 1512. Mas a dada altura caiu em desgraça, retirando-se da vida pública para uma modesta casa de campo em San Casciano. Foi então que redigiu a sua obra mais conhecida e mais célebre - «OPríncipe», escrita em 1513 – 1514, mas publicada apenas em 1531, quatro anos a pós a sua morte. Este livro foi oferecido a LORENZO DE MEDICIS, ou Lourenço O Magnifico, de quem o autor queria obter o favor de um emprego. A sua obra foi efectivamente bastante contestada, designadamente pela Igreja Católica, em cujo Índex dos livros proibidos esteve colocado «O Príncipe» de 1559 até 1850. 2.3. O pensamento político de MAQUIAVEL. Ideia geral Caído em desgraça, saudoso das proximidades do poder, pretendendo reconquistar um cargo público pela mercê do monarca, o Secretário Florentino dedica-se á redacção de «O Príncipe». E confessa expressamente que o seu objectivo é «obter o favor de um príncipe». Resolve então oferecer a Lourenço de Médicis, o Magnifico, aquilo que julga possuir de mais valioso: nem cavalos, nem armas, nem panos de ouro, nem pedras preciosas, mas antes «o conhecimento das acções dos grandes homens, adquirido numa longo Experiencia das coisas modernas e numa continuado leitura das antigas. O grande objectivo do livro é aconselhar o Príncipe e sobretudo aconselhá-lo sobre o modo de adquirir o poder e sobre o modo de o conservar, quando recentemente adquirido. Este é o único fim político que MAQUIAVEL toma em conta e considera – conquistar e manter o poder. Tudo o resto para ele é secundário. A originalidade de «O Príncipe» de MAQUIAVEL está em que ele quebra completamente com a tradição do pensamento político que o procedeu: quebra com a tradição de PLATÃO, de ARISTÓTELES, e de CÍCERO, e quebra com a tradição medieval cristã. Quebra com a tradição greco-latina clássica, na medida em que não situa o Estado perante o Mundo, nem perante o Cosmos, não se preocupando minimamente com a existência de leis eternas e universais ou com qualquer referência ao direito natural, e também na medida em que opta pelo realismo politico contra o idealismo ético. E quebra com a tradição medieval cristã, na medida em que, além de omitir referencias á lei natural, nunca fala em Deus, ignora as limitações morais dos governantes, aconselha muitas vezes a prática de actos imorais, e se esporadicamente fala na religião não é para lhe subordinar a politica mas, bem ao contrário, para afirmar que a religião é útil ao Estado porque ajuda a convencer os povos a obedecer às leis. MAQUIAVEL é assim um inovador e, á sua maneira, um revolucionário ele é, sem dúvida. «O primeiro analista moderno do poder» «O Príncipe» não é um livro teórico, é um manual com recomendações sobre a arte e governar. O seu valor na História das Ideias Politicas é imenso, pelos caminhos novos que abriu á análise dos mecanismos do poder, e também pela desfaçatez com que ousou revelar na sua crueza a maldade eu os homens usam uns para com os outros na actividade politica. 2.4. A noção de Estado MAQUIAVEL é o primeiro autor a utilizar a palavra «Estado» com o sentido que ela assume actualmente. É a época do Renascimento, terminou a Idade Média, extinguiu-se o feudalismo, nasceram os primeiros Estados nacionais, o poder real conseguiu monopolizar o emprego da força pública ao serviço do bem comum: nasceu o Estado moderno. Pois é justamente nesta época que MAQUIAVEL utiliza pela primeira vez a palavra «Estado» no sentido actual de comunidade política soberana na ordem interna e na ordem internacional. Os gregos falavam antes em polis e os romanos em república. Mas, é claro, o Estado no Renascimento é um conceito que ainda se não destacou dos próprios homens que o governam. O Estado é, pois, o Estado monárquico: é o principado, é o poder real, é o «absolutismo principesco». 2.5. Classificação dos regimes políticos. MAQUIAVEL, apresenta pela primeira vez uma classificação bipartida e que, na base do critério que ele adopta, nunca mais será abandonada até aos nossos dias. É classificação em, «Repúblicas» e «Principados» ou, como hoje diríamos, em «República» e «Monarquia»: a monarquia é governada pela vontade de um só indivíduo (soberano singular), a república é dirigida por uma vontade colectiva – seja de poucos, seja de muitos (soberano colectivo). Exemplos de monarquias eram os reinos de Espanha, França ou Inglaterra; exemplos de repúblicas eram as cidades de Florença, Génova ou Veneza. Em «O Príncipe», ele vai tratar sobretudo das monarquias, ou principados, afirmando claramente que o seu objectivo fundamental é determinar qual é a essência dos principados, quantas espécies de principados existem, como se adquirem, como se mantêm e porque se perdem. Um outro aspecto bastante curioso da classificação de MAQUIAVEL é o de que, contrariamente a ARISTÓTELES e a S. TOMÁS DE AQUINO, o Florentino não distingue entre formas de governo boas e más, ou sãs e degeneradas. Para MAQUIAVEL todos os regimes políticos são legítimos, não há formas de governo ilegítimo, o que há é umas mais convenientes do que outras, conforme as circunstâncias. MAQUIAVEL não faz juízos morais. Para ele não tem sentido distinguirentre rei e tirano: o príncipe é bom ou mau, não em função de critérios éticos, mas em função de êxito político. Bom é o príncipe capaz de conquistar o poder e de o manter por muitos anos; é mau aquele que não chega a possuir o poder ou eu o perde em pouco tempo. Para ele, não há políticos juízos éticos: o único critério é o do êxito político. Não importa se os príncipes usam ou não a crueldade: o que conta é se a crueldade foi bem usada e teve êxito, ou foi mal usada e fracassou. 2.6. A melhor forma de governo. Se é certo que MAQUIAVEL não distingue entre formas de governo sãs e degeneradas. Isto não quer dizer, todavia, que ele não afirme as suas preferências. Fá-lo, por critérios de conveniência política e não por critérios morais. Em princípio, e como regra geral, MAQUIAVEL prefere a República. Prefere-apor se tratar de um «governo livre», isto é, do governo que melhor defende a liberdade. E também porque, segundo ele, a Monarquia tem diversos inconvenientes de peso: na verdade, a monarquia depressa se transforma de e lectiva em hereditária e, nesta, surge com frequência o fenómeno dos filhos que degeneram dos seus pais, e que se entregam ao luxo, ao egoísmo e a toda a espécie de prazeres. Assim, os príncipes atraem sobre si o ódio geral. Do ódio nasce o medo. E o medo mais cedo ou mais tarde, conduz sempre á tirania, a qual se caracteriza pela instabilidade. 2.6.1. Montesquieu A vida de Montesquieu transcorreu entre meados do século XVII d.C. e a primeira metade do século XVIII d. C., período que abrange o apogeu do Ancient Regime na França. "A noção de monarquia clássica comanda o devir político dos países franceses entre 1450 e 1789: ela corresponde a um Antigo Regime muito "alongado" que se escoa, e depois se esborra, em paz ou furor, desde o fim das Guerras dos Cem Anos até o declínio do reinado de Luís XVI.” Em termos históricos, o Absolutismo Político se encontra vinculado à implantação de um estado centralizado politicamente com a consequente implantação de uma "racionalização" burocrática do aparelho administrativo dos Estados Nacionais europeus surgidos a partir do século XIV d. C. Tais Estados Nacionais possuem como forma política de governo a Monarquia, usualmente conhecida como Monarquia Absolutista. Ante o exposto, e na esteira do magistério do professor Perry Anderson, a expressão "absolutista" era um qualificativo impróprio para as Monarquias existentes no Estados Nacionais da Época Moderna, eis que "nenhuma monarquia ocidental gozara jamais de poder absoluto sobre seus súbitos, no sentido de um despotismo sem entraves. Todas elas eram limitadas, mesmo no máximo de suas prerrogativas, pelo complexo de concepções denominado direito ‘divino’ ou ‘natural’. A monarquia absoluta no Ocidente foi sempre, na verdade, duplamente limitada: pela persistência, abaixo dela, de corpos políticos tradicionais, e pela presença, sobre ela, de um direito natural abrangente.” Na Monarquia Absolutista europeia da Era Moderna, o sistema de coerção política e social não estava baseado num sistema de controlo centralizado nas mãos de uma única pessoa, como poderia parecer a primeira vista, mas, conforme o país e a época, era um sistema de coerção sociopolítico com diferentes níveis de coercibilidade e, por via de consequência, com graus diversos de autonomia dos segmentos sociais que integravam a Sociedade frente à pessoa do monarca. Por outro lado, à guisa de conclusão deste tópico, ressalta que a partir de meados do século XVII d. C, "cumprira-se uma mudança de orientação dos espíritos”. O humanismo cristão do século XVII estava preocupado com o homem em si. Via-se agora no Homem o ser social em suas relações não apenas com o sistema da natureza e com Deus, mas igualmente com o seu meio e suas instituições. Transformara-se de tal maneira que só aceitava o que fosse conhecido pela observação e pela experiência. As instituições religiosas, políticas e sociais deveriam ser submetidas à luz da razão. O desenvolvimento da economia de troca, a ascensão da burguesia, a crítica das instituições sociais provoca uma mudança de valores sociais. A sociedade de ordens, praticamente desaparecida das cidades holandesas, encontra-se arruinada na Inglaterra onde só existem alguns vestígios seus. Por sua vez, é posta em discussão na França. No Espírito das Leis Montesquieu se preocupa, essencialmente, em explicar e distinguir, através de uma lógica inteligível, a génese e o desenvolvimento dos sistemas legais in abstracto através das múltiplas diversidades desses sistemas legais e das distintas formas de governo, conforme a época e o lugar, a partir das condições históricas, geográficas, psicológicas, etc. A partir de uma leitura atenta desta sua magnum opus, podemos concluir que Montesquieu foi um dos precursores do método comparativo-indutivo actualmente empregado tanto pela Ciência Política quanto pela História Política. O Espírito das Leis inicia-se com uma teoria geral das leis, a qual constitui a base da filosofia política de Montesquieu. Na sequência, Montesquieu, com o intuito de fazer uma obra de ciência positiva, remodela as classificações tradicionais dos regimes políticos. Distingue três espécies de governo: republicano, monárquico e despótico. Em cada tipo de regime, que observa aqui ou ali pelo mundo, ele estuda sucessivamente a natureza, ou seja, as estruturas constitutivas que nele se podem notar, e o princípio, ou seja, o mecanismo do seu funcionamento. Por fim, procura analisar os meios e factores que, numa perspectiva jurídica-normativista e política, eventualmente conduzem ao "bom governo". A Teoria da Tripartição dos Poderes do Estado não é criação de Montesquieu. John Locke, filósofo liberal inglês, cerca de um século antes de Montesquieu já tinha formulado, ainda que implicitamente, a teoria em questão. Entretanto, cabe a Montesquieu o inegável mérito de colocá-la num quadro mais amplo. A teoria ora em comento "... Foi inspirada pelo sistema político constitucional, conhecido quando de sua viagem à Inglaterra, em 1729. Ali encontrou um regime cujo objectivo principal era a liberdade.” Ressalte-se que Montesquieu não foi um liberal na acepção moderna do termo, ainda que sua Teoria de Separação dos Poderes tenha servido como um dos alicerces para a construção do Estado Democrático Liberal. Realmente, "Montesquieu crê na utilidade social e moral dos corpos intermédios (da Sociedade), designadamente os parlamentos e a nobreza." Nesta mesma esteira de raciocínio Montesquieu "... Opta claramente pelos interesses da nobreza, quando põe a aristocracia a salvo tanto do rei quanto da burguesia. Do rei, quando a teoria da separação dos poderes impede o Executivo de penetrar nas funções judiciárias; dos burgueses quando estabelece que os nobres não podem ser julgados por magistrados populares. Por outro lado, como autêntico aristocrata, desagrada-lhe a ideia de o povo todo possuir poder. Por isso estabeleceu a necessidade de uma Câmara Alta no Legislativo, composta por nobres. A nobreza, além de contrabalançar o poder da burguesia (estamento social em rápida ascensão social e económica na França dos séculos XVII e XVIII), era vista por ele como capacitada, por sua superioridade natural, a ensinar ao povo que as grandezas são respeitáveis e que monarquia moderada é o melhor regime político.” Montesquieu, jurista oriundo da nobreza togada do Ancient Régime, reconhece que,independentemente da espécie de governo ou regime político de um dado país, a ordem social é, em si, heterogénea e sujeita a desigualdades sociais as mais diversas. Se, por um lado, ele aceita, ainda que de forma implícita, uma estrutura política e social pluralista, também é verdade que Montesquieu entende que o povo é de todo incapaz de discernir sobre os reais problemas políticos da Nação e, portanto, não deve e nem pode ser o titular da soberania. Dentro dessa ordem de coisas, o objectivo último da ordem política, para Montesquieu, é assegurar a moderação do poder mediante a "cooperação harmónica" entre os Poderes do Estado funcionalmente constituídos (legislativo, executivo e judiciário) com o escopo de assegurar uma eficácia mínima de governo, bem como conferir uma legitimidade e racionalidade administrativa à tais poderes estatais, eficácia e legitimidade essas que devem e podem resultar num equilíbrio dos poderes sociais. "Desse ponto de vista, Montesquieu é um representante da aristocracia, o qual luta contra o poder monárquico, em nome de sua classe (a nobreza togada), que é uma classe condenada. Vítima do ardil da história, ele se levanta contra o rei, pretendendo agir em favor da nobreza, mas sua polémica só favorecerá de fato a causa do povo. A concepção de equilíbrio social, exposta em “L’Espirit des lois” está associada a uma sociedade aristocrática; e no debate da sua época sobre a Constituição da monarquia francesa, Montesquieu pertence ao partido aristocrático e não ao do rei ou ao do povo.” Ante ao exposto, e por derradeiro, a Teoria da Tripartição dos Poderes explicitada por Montesquieu adquire um cunho nitidamente conservador, segundo os nossos padrões políticos e sociais actuais, mais foi uma teoria nitidamente liberal frente à Sociedade e ao Estado da sua época. A sua adopção por Montesquieu, em consonância com a sua opção clara por um regime aristocrático, visava a realização não de um regime democrático politicamente pluralista mais garantir uma dinâmica governamental mais perfeita cuja principal finalidade é garantir o "bom andamento" - leia-se o funcionamento racionalmente ordenado mediante normas jurídicas "justas" - do próprio Estado. 2.6.2.Sociocracia de Augusto Comte Augusto Comte inventor que definiu a Sociocracia como um sistema de governo que se baseia em decisões tomadas com o consentimento de indivíduos iguais e numa estrutura organizacional que se assemelha a um organismo vivo. É fundamental na sociocracia o princípio de auto organização, assentado nas teorias sistémicas de inteligência colectiva. Comte detestava o laissez- faire do liberalismo, estimulador, segundo ele, do egoísmo e da instabilidade, rejeitava também a anarquia natural dos democratas pelo clima de desordem que provocava. Idealizou para o devir uma sociocracia gerências por um Estado- maior de sábios e tecnocratas, aliados aos industriais, que tratariam à política o espaço das paixões humanas com as frias leis das ciências naturais. Autor mais conhecido por suas elaborações filosóficas na área da ciência, nascido Isidoro Augusto Maria Francisco Xavier Comte, em 1798 – pesquisou extensamente em Sociologia, inclusive no que actualmente denominamos Ciência Política. Comte fora coerente ao repudiar os estadistas. Quem tentasse regredir ao passado, resgatando uma religião ou uma instituição ultrapassada, atrasava a chegada da era científica. A sociologia ocuparia no futuro o lugar mais importante na hierarquia do conhecimento porque tratava do que era Humano. Essa ciência se dedicaria a estudar o comportamento e o relacionamento social, analisando seus factores estáticos e dinâmicos, conceitos que ele extraiu da Mecânica, a fim de que possam ser inteligíveis e antevistos. A sociologia para Comte seria tão precisa aos governantes futuros um alto grau de previsão nas decisões a serem tomadas ou consideradas. Comte viu nesses factores estáticos e dinâmicos uma oposição e uma complementaridade, a estática era o desejo intrínseco de ordem que toda sociedade civilizada deseja, a dinâmica era o progresso, o destino que ela deve cumprir rumo às etapas superiores de organização e produção. Harmonizou-os no lema: ordem e progresso. Uma reorganização colectiva sem Deus e sem Rei, sob a preponderância exclusiva do sentimento social, assistido pela razão positiva e da acção. Se a transformação social deve-se à acção política consciente, o movimento positivista tem como tarefa fundamental esclarecer as mentes ilustradas para com sua obrigação de fazer emergir o mais rápido possível a Era Científica. Daí Comte reservar a cada seu seguidor a função de apóstolo, de divulgador das suas ideias, todos eles dedicados ao sacerdócio da humanidade. Formou-se ao seu redor, a partir de então, uma pequena seita de excêntricos discípulos que passaram a cultuá-lo como uma espécie de messias dos tempos científicos: um Cristo da era da ciência. 2.6.3. Do tradicionalismo ao positivismo O tradicionalismo conduz, no plano político, ao corporativismo, no plano intelectual, leva ao sociologismo. Esta doutrina entende que a moral é o conjunto de regras impostas pela sociedade, em determinada época, e que, portanto, varia no tempo. O que é moralmente válido, para esta doutrina, é o que diz ou o que faz a maioria. Ora, este pensamento afronta a moral cristã porque sabemos que, apesar da sociedade humana sofrer mudanças no decorrer da história, os valores cristãos jamais deixam de ser válidos, verdadeiros para todos os homens, de todos os tempos e de todas as culturas. O estudo de Comte poderia ser a continuação de Saint-Simon, porque apesar de terem cortado relações o pensamento do autor do catecismo dos industriais exerceu considerável influência sobre o do autor do catecismo positivista. Mas no plano político, seria negligenciar o essencial da concepção positivista, pois as duas escolas se desenvolveram historicamente fora da universidade e em oposição ao partido liberal, como também adoptam, quanto ao problema de fundo, idêntica atitude de negação. São contra revolucionário no sentido filosófico e rejeitando na ordem civil, económica e política. Comte funda todo o seu sistema sobre a lei dos três estados que a humanidade percorre sucessivamente. Ao estado teológico e guerreiro segue-se o estado metafísico e jurídico, e depois o estado positivo e científico. A primeira é o ponto de partida necessário da inteligência humana; a terceira, seu estado fixo e definitivo; a segunda, unicamente destinada a servir de transição. No estado teológico, o espírito humano, dirigindo essencialmente suas investigações para a natureza íntima dos seres, as causas primeiras e finais de todos os efeitos que o tocam, numa palavra, para os conhecimentos absolutos, apresenta os fenómenos corno produzidos pela acção directa e contínua de agentes sobrenaturais mais ou menos numerosos, cuja intervenção arbitrária explica todas as anomalias aparentes do universo. No estado, metafísico, que no fundo nada mais é do que si modo geral do primeiro, os agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstractos, verdadeiras entidades (‘abstracções personificadas) inerentes aos diversos seres do mundo, e concebidas como capazes de engendrar por elas próprias todos os fenómenos observados, cuja explicação consiste, então, em determinar para cada um numa entidade correspondente.Enfim, no estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do universo, a conhecer as causas íntimas dos fenómenos, para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis efectivas, a saber, as relações invariáveis de sucessão e de similitude. A explicação dos fatos, reduzidas então a seus lermos reais, se resume de agora em diante na ligação estabelecida entre os diversos fenómenos particulares e alguns factos gerais, cujo número o progresso da ciência tende cada vez mais a diminuir. O sistema teológico chegou à mais alta perfeição de que é susceptível quando substituiu, pela acção providencial de um ser único, o jogo variado de numerosas divindades independentes, que primitivamente tinham sido imaginadas. Do mesmo modo, o último termo do sistema metafísico consiste em conceber, em lugar de diferentes entidades particulares, uma única grande entidade geral, a natureza, considerada como fonte exclusiva de todos os fenómenos. Essas estruturas são consideradas definitivas e básicas em qualquer estágio do desenvolvimento social, só ocorrendo, na passagem de um momento a outro, aperfeiçoamentos em cada uma delas. Assim, mais uma vez, Comte subordina a dinâmica a uma estática, subordina o progresso à ordem; o progresso é um mero deslocamento, um mero aperfeiçoamento de estruturas que são perenes e imutáveis. O século XIX já atingiu este estádio e Comte não é bastantes para essa doutrina retrógrada que, na proposta ver altamente ridícula, preconiza hoje, como solução possível para anarquia intelectual, a quimérica reinstalação social dos mesmos são princípios cuja inevitável de cretude levou a esta anarquia”. O espírito positivo que em dois séculos cresce mais do que ao longo de todo o seu percurso anterior, já não permite outra unidade mental além da que resultaria do seu ascendente universal. 2.6.4. Espírito positivo O espírito positivo cuja aplicação sistemática e constante dá origem à doutrina denominada positivismo que tem um sentido duplo: primeiro sentido, na ordem lógica e cronológica, é também o mais simples, o positivismo opõe-se ao negativo e traduz-se assim a reacção contra o espírito destrutivo do século XVIII. Assinala a predilecção de Comte pela acção construtiva. É nesta acepção que deve-se entender a expressão política construtiva; segundo sentido o positivismo opõe-se ao conjectural e o hipotético, conceder-se-á positivo o que se baseia em factos verificados e nas suas relações reconhecidas como constantes. As duas acepções encontram-se e aliam-se na afirmação fundamental do positivismo, que é a da soberania da sociedade, considerada na sua unidade humana. Comte não se detém nos elementos parciais que constituem o povo e a nação. Vai até a humanidade na qual não vê apenas uma simples nação, mas a realidade concreta por excelência. A humanidade torna-se génio supremo, o vivo em si, o grande ser, pois o homem explica-se pela humanidade e não a humanidade pelo homem. Comte faz, também, uma distinção entre o indivíduo e o colectivo. Caracteriza o homem como ser inteligente e dotado de sociabilidade (o que o diferencia dos animais) e reivindica para o colectivo, para o grupo social, uma superioridade perante o indivíduo. E dessa concepção que decorre sua noção de que os homens, enquanto indivíduos numa sociedade, existem como substitutos efémeros de outros indivíduos e que, como tal, têm importância, apenas, como perpetuadores da espécie. Esta hipótese da sociedade humana origina em Comte uma ciência da sociedade, a sociologia, uma teoria política da dominação da sociedade, a sociocracia, e uma religião da sociedade, a sociolatria. O autor do catecismo positivista limita-se a transpor os elementos da idade teocrática onde, a teologia como dogma, correspondiam a teocracia como regime e a teolatria como culto. 2.6.5. Influência política de Comte No estado, o poder temporal, equivalente material da ordem espiritual positivista, seria exercido pelos industriais. Porque, para Comte, era natural que os ricos detivessem a autoridade econômica e social indispensável para o conjunto da coletividade, uma vez que constituíam o topo na hierarquia das capacidades. Segundo a perspectiva comtiana, a propriedade, que tinha raízes na constituição biológica do homem, era inevitável, e, além disso, socialmente indispensável. Pois, foi devido à sua virtude de concentração de capitais que a civilização material se desenvolveu. Ou seja, foi porque os homens foram e são capazes de gerar e acumular riquezas maiores do que as consumidas pela coletividade e de as legarem à geração posterior, que a civilização progrediu materialmente. Contudo, essa riqueza concentrada sob a forma de propriedade privada de alguns foi construída por todos em conjunto, tendo origem social e devendo, portanto, ser esta a sua destinação. A autoridade e a concentração de riqueza por parte dos industriais na ordem temporal tornavam-se ainda mais aceitáveis quando se compreende que, na sociedade moderna positivista, existia uma outra ordem de realidade mundana, que era a dos méritos morais. Esta contrabalançava o poder temporal, regulando-o e moderando-o, fazendo com que a existência dos indivíduos não fosse definida apenas pela posição econômica e social, mas, sobretudo, como queria Comte, pela sua posição na ordem espiritual. De acordo com Comte: O objetivo supremo de todos deve ser alcançar o primeiro lugar, não na ordem do poder, mas na ordem dos méritos. A questão social, levantada pelo embate entre as classes advinha do desordenado movimento progressivo da sociedade industrial, que precisava agora, uma vez estabelecido o positivismo e a sociologia caracteriza-se, então, pela preocupação em descobrir que leis governam a sociedade e não pela preocupação com a sua transformação física social orientadora da política positiva, ser superado pela incorporação do proletariado à ordem científico- industrial. Isso seria possível, segundo Comte, à medida que o conjunto social, orientado pelo poder espiritual positivista formasse um forte movimento de opinião pública no sentido de mostrar aos detentores do capital a sua origem e o seu objetivo social, não permitindo que a riqueza social fosse gestada em prejuízo da massa proletária, cabendo a esta última limitar suas pretensões às possibilidades econômicas de cada período. Assim considerando, a incorporação do proletariado à ordem social dependia de uma mudança profunda na concepção política e econômica que envolvia o cerne da sociedade industrial, ou seja, a propriedade, a gestão do capital e o trabalho. Essa modificação só poderia ser efetuada por uma doutrina que buscasse, primeiro, atingir as representações sociais sobre o mundo e sua organização para depois agir sobre suas instituições. A sociedade pensada pelo positivismo teria então uma outra visão sobre o mundo do trabalho. Pois, procurava torná-lo parte organicamente harmoniosa de uma ordem na qual o poder e a riqueza se concentravam nos detentores do capital, na classe contraditória à do trabalho. Portanto, na interpretação dele a ordem supõe o amor e a síntese não pode se realizar a não ser pela simpatia; a unidade teórica e a unidade prática são, pois, impossíveis sem unidade moral. Esse amor, necessário à ordem social, nasciana família, na qual o homem é iniciado na educação moral e aprendia o devotamento aos seus. Pois, era necessária a ligação entre a existência pessoal e a social, tendo em vista que o verdadeiro caráter da educação moral dependia da submissão do indivíduo à sociedade. Era com o amor deste que a Humanidade renovaria a conduta moral, e portanto, era através da moralidade, do sentimento, contido no positivismo, que Comte pretendia regenerar a sociedade humana. O Estado era fruto da própria sociedade em desenvolvimento que engendrava a necessidade de uma função coordenadora totalizante que submetesse a si todas as demais atividades. Sua autoridade nascia dessa mesma necessidade, o que lhe permitia promover a direção universal do conjunto de atividades das partes, pelas quais as malhas do social se distribuíam. Sendo assim, a subordinação das partes à direção política totalizante do Estado era tão natural quanto à dependência entre as funções sociais. Ele se subordinava, assim como todo o corpo social, ao estado actual de desenvolvimento intelectual e moral, ou, por outras palavras, ao estado cultural da humanidade. Pois, como vimos, o que determinava a unidade social era o conjunto de ideias, de representações e crenças que formavam a cultura da sociedade, criada pelo homem vivendo em conjunto, mas determinado por leis. Era sobre essa cultura que a ordem social se formava e se desenvolvia com o progresso da natureza humana. E, portanto, “o estado de cultura é que determina o restante do corpo social, e não o contrário”. O que leva a concluir que cada estágio de desenvolvimento determinava um tipo diferente de Estado. Na ordem industrial-científica, na qual o positivismo estabeleceu os princípios fundamentais da unidade consensual, o Estado somente podia agir de acordo com os ensinamentos deste, através da física social, que agora atingia o objetivo prático de seus conhecimentos sobre as leis que regem a vida em sociedade, qual seja, orientar positivamente a prática política. Tratava-se, portanto, de um Estado intensamente intervencionista no sentido de manter a ordem e conduzir, por meio da orientação que recebia, a sociedade ao seu pleno desenvolvimento, realizando historicamente a natureza humana. A posição central que ocupava no corpo social advinha-lhe da necessidade originária de sua função reguladora dos movimentos de cada órgão, de modo que nenhum se sobrepusesse aos demais. Assim, cabia-lhe ordenar a sociedade em todo o seu aspecto material, o que punha em relevo a economia, de forma que esta se desenvolvesse com base em um equilíbrio harmônico de forças sociais. O Estado intervinha como sábio ordenador, determinando sua ação pela necessidade do conjunto social, colocando-se, portanto, em uma posição supraclassista, uma vez que o interesse que defendia é os do organismo como um todo e não os de partes determinadas. Ao impulsionar o progresso industrial da sociedade, agia sobre o conjunto, provendo o interesse de todos no desenvolvimento da riqueza. 2.7. Voltaire O escritor e filósofo francês François Marie Arouet (1694-1778) pseudônimo Voltaire, foi mais um defensor das liberdades civis do que um reformador político. Viveu isolado por três anos na Inglaterra, onde foi influenciado pelas ideias de John Locke e de Newton. Não reclamava a liberdade política, não defendia os direitos do homem e do cidadão e nem se quer defendia a igualdade. É reconhecida a frase de Voltaire: todos somos igualmente homens, mas não somos todos membros iguais da sociedade Considera que a hierarquia das classes socias é benfazeja; é necessária a educação das classes populares, pois não é os trabalhadores que se deve instruir, mas sim é o bom burguês, é o habitante das cidades. Ao regressar à França, publicou as cartas filosóficas (1734), Voltaire faz um rasgado elogio da constituição inglesa, mas parece confiar cada vez mais num regime forte: conta com a autoridade para fundar a liberdade. Quando ele fala da liberdade, pensa geralmente na liberdade dos civis, mais do que liberdade política, deseja uma magistratura submetida ao governo. Por ter convivido com a liberdade inglesa, não acreditava que um governo e um Estado liberal, tolerantes fossem utópicos. Não era um democrata, e acreditava que as pessoas comuns estavam curvadas ao fanatismo e à superstição. Para ele, a sociedade deveria ser reformada mediante o progresso da razão e o incentivo à ciência e tecnologia. Assim, Voltaire transformou-se num perseguidor ácido dos dogmas, sobretudo os da Igreja Católica, que afirmava contradizer a ciência, no entanto, muitos dos cientistas de seu tempo eram padres jesuítas. Voltaire foi um teórico sistemático, mas um propagandista e polemista, que atacou com veemência alguns abusos praticados pelo Antigo Regime: o obscurantismo medieval, caracteriza-se, fundamentalmente, por dois fatos: acentuada religiosidade, com dogmas e cultos, e um sistema de governo baseado na monarquia sobrenatural, omnipotente, absolutista. No espiritual ou filosófico, a Igreja católica é á base dos princípios em que o Homem se desenvolve e, por conseguinte, a sociedade; O culto e o dogma são os pilares da existência; O Homem não tem o direito a pensar conforme seu livre arbítrio, não existe a razão; No terreno ou material, o Rei é um eleito de Deus, e por isso, a sociedade deve viver, trabalhar e actuar em função dele, aquele rege os destinos dos povos e dos homens. Tinha a visão de que não importava o tamanho de um monarca, deveria, antes de punir um servo, passar por todos os processos legais, e só então executar a pena, se assim consentido por lei. Voltaire defendeu a redução dos privilégios da nobreza e do clero; Defendia as liberdades civis (de expressão, religiosa e de associação); Criticou as instituições políticas da monarquia, combatendo o absolutismo; Criticou o poder da Igreja Católica e sua interferência no sistema político; Foi um defensor do livre comércio, contra o controle do estado na economia. Numa monarquia parlamentarista, o monarca exerce a chefia de Estado, cujos poderes são apenas protocolares e suas funções de moderador político são determinados pela Constituição, onde tem como função resolver impasses políticos, proteger a Constituição. Defendia a submissão ao domínio da lei, baseava-se em sua convicção de que o poder devia ser exercido de maneira liberal e racional, sem levar em contra as tradições. 2.8. Jean-Jacques Rousseau O primeiro grande defensor, nos tempos modernos, da república como forma de governo, ele faz um ataque violentíssimo a monarquia. Para ele só é legítimo o governo que provém da vontade geral, tal como é expressa pelo povo em eleições. Portanto, não é legítimo o governo monárquico, que não emana da soberania popular, mas da tradição, do costume da sucessão hereditária. Por outro lado, se a soberania não pertence ao rei, nem se encontra personificada nele ou encarnada por, mas é um direito um poder pertcente ao povo, então segue-se dai que a soberania pode ser exercida contra o rei. Enfim, a soberania é exercida pelo povo através da vontade geral. E esta não é alienável. Por consequência a vontade geral pode a todo o tempo mudar de governo. Os governantes são simples depositários, são comissários não são dono do povo: são seus funcionários, por isso o povo pode destitui-los sempre que quiserem. Quando a revolução francesa destitui o rei, o condena a morte e o executa, não está senãoa por em prática as ideias de Rousseau. Finalmente ele afirma-se partidário de um sistema de governo aqui hoje chamamos sistema convencional, um sistema de governo em que o povo elege uma assembleia com os poderes limitados pela doutrina da democracia directa, acima exposta e em que por sua vez essa assembleia elege uma comissão delegada para exercer o poder executivo – mas em que o governo não é titular de um poder próprio de um poder autónomo, do poder executivo, antes funciona como simples delegado do legislativo da assembleia. É este modelo que vai dar origem a experiência convenção na revolução francesa (1791) e em consequência disso, ao chamado sistema de governo do tipo convencional, em que todo o poder político se estrutura sob a forma de uma pirâmide de assembleis delegads: assembleia legislativa é delegada do povo, o governo é uma comissão delegada do legislativo, o chefe do estado é colegial, e assim sucessivamente. Esta ideia vem de Rousseau os órgão de poderes só tem competência de delegar, e por isso os seus poderes podem ser lhe retirados de um momento para outro, o povo delega no parlamento, parlamento delega no governo, o governo delega na suas comissões aos delegados, e tudo volta de novo à origem, em qualquer momento, porque não há poderes próprio, só há competências delegadas permanentemente revogáveis. A melhor constituição será, pois aquele em que o poder executivo estiver unido ao legislativo: quem faz as leis sabe melhor que ninguém como elas deve ser interpretados e executados. 2.9. Thomas More É difícil distinguir as ideias políticas de T. More das que professava acerca da família e da propriedade, embora entre estas se verifique uma curiosa ausência de harmonia. Dá a impressão de ter sido atraído por Platão durante algum tempo ao ponto de admitir a comunidade de mulheres. Em contrapartida, a sociedade utópica assenta na família e numa moral muito tradicional que, no fundo, nada tem de utópico. Um pouco a maneira de Bodin, mas num estilo diferente a república ideal da utopia alicerça-se inteiramente sobre a célula familiar e sobre uma concepção patriarcal. T. More toma como exemplo a sua própria família. Mas, se em sua casa tudo se passa em perfeito acordo, ele admite que em caso contrário cabe ao chefe de família um direito de correcção doméstica sobre a mulher e os filhos. Alarga esta autoridade de maneira a que tudo se regule e ordene no seio da família e que só se apele à justiça púbica quando a enormidade do crime exigia o recurso ao Estado. Não condena absolutamente o divórcio nem, ao que parece, o casamento dos padres. Em contrapartida, é muito severo quanto ao adultério, o único crime privado que deve ser punido com a morte. A partir destas premissas familiares, seria muito fácil compreender que T. More edificasse uma defesa da propriedade e procurasse tornar proprietários todos os seus utópicos. Na história das ideias, família e propriedade estão o mais das vezes ligadas. Aos olhos dos sociólogos, família e bem de família apresentam-se como elementos que devem necessariamente coincidir e sustentar-se entre si. A posição de T. More é completamente diferente. O povo da utopia é um povo de amigos; ora, segundo a fórmula platónica, entre amigos tudo deve ser comum. Aquilo que Platão considerava um ideal entre amigos deve sê-lo também entre os cristãos. A fraternidade cristã deve levar à comunidade cristã. Por esse motivo, T. More abandona a posição tradicional dos aristotélicos e dos escolásticos, para quem a propriedade individual era um elemento capital da liberdade, preferindo-lhe as teses de A República. Platão havia desdenhado fazer leis para os povos que recusam a comunidade de bens. Aquele grande génio, tinha previsto facilmente que o único meio para organizar a felicidade pública era a aplicação do princípio de igualdade. Ora, a igualdade é impossível num Estado onde a posse é solitária e absoluta, pois, cada um arroga-se ai de diversos títulos e direitos para chamar a si o mais que pode, e a riqueza nacional, por maior que seja, acaba por cair na posse de um pequeno número de indivíduos que só deixam aos outros indigência e miséria... o único meio de distribuir os bens com igualdade e justiça, e de constituir a felicidade do género humano, é a abolição da propriedade. De modo a satisfazer o seu ideal de amizade e fraternidade, T. More imagina então um sistema comunitário em que todos trabalham e cada um trabalha pouco. Só ficam isentas da obrigação do trabalho quinhentas pessoas que, após selecção se entregam a metafísica. Naturalmente, a partir d momento que existe comunidade de bens, a vida tem de ser severamente regulamentada, a fim de evitar abusos. Sobre a cidade da utopia, onde a regulamentação da vida atinge especial rigor, e onde reaparecem os escravos, na forma de condenados ou prisioneiros de guerra, exerce-se uma autoridade que pode ser classificada de democrática, apesar de ser amplamente electiva. As famílias, em grupo de trinta, elegem anualmente um chefe designado por filarco ou sifogrante. Dez sifograntes, tendo sob a sua alçada 300 famílias, designam anualmente um protofilarco ou traníboro. Os 200 traníboros constituem o senado. Trata-se pois, de um sistema escalonado: chefes de família, chefes de grupo e seus representantes, estes constituem o senado que, de uma lista de quatro cidadãos apresentada pelo povo, escolhe um Adamo ou príncipe dos utopianos. Para evitar que os filarcos se constituam em oligarquias, podem ser renovados todos anos, embora, T. More pense que no geral se comportam bem o suficiente para serem reeleitos. Este conjunto que forma um regime piramidal, é de estrutura democrática, embora atenuada pela existência de um poder espiritual. Há sacerdotes eleitos que presidem às coisas divinas, mas tratam também de coisas humanas, zelam pelos bons costumes e podem excluir um utopiano da comunidade religiosa, o que constitui a maior desgraça. Os sacerdotes, tal como os traníboros e o adamo, são escolhidos entre os letrados, que não constituem uma casta ou classe propriamente dita, uma vez que o seu recrutamento é aberto e há sempre a possibilidade de devolver à precedência aquele que anda a marcar passo na metafísica. Finalmente, uma aristocracia por selecção, serve de estufa às funções religiosas e públicas. De democracia o regime torna-se aristocrático, devido à exigência de recrutamento no quadro dos letrados. A eleição é livre, sem manobras e sem candidatura. Enfim, as leis são simples, fáceis de compreender e de aplicar. De resto, diz T. More, na utopia todo são doctores em direito, pois as leis são em muito pequeno número e a sua interpretação mais tosca e mais natural é aceite como a mais razoável e justa. Sumário Comte idealizou para o devir uma sociocracia gerências por um Estado-maior de sábios e tecnocratas, aliados aos industriais, que tratariam à política o espaço das paixões humanas com as frias leis das ciências naturais. A sociologia ocuparia no futuro o lugar mais importante na hierarquia do conhecimento. Comte faz, também, uma distinção entre o indivíduo e o colectivo. Caracteriza o homem como ser inteligente e dotado de sociabilidade (o que o diferencia dos animais) e reivindica para o colectivo, para o grupo social, uma superioridade perante o indivíduo. TEMA III: O NACIONALISMO TOTALITÁRIO: MUSSOLINI Introdução Mediante os problemas económico, as guerras e a ameaça comunista, a classe burguesa e proletária exauste destesmales vai apoiar o fascismo, que procurou reorganizar a economia e restabelecer o nacionalismo italiano. Mussolini chegando ao poder tornou -se ditador e na sua direcção a Itália atingiu certo desenvolvimento. Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de: Objectivos Caracterizar o estado nacional fascista; Descrever o totalitarismo no estado fascista; Analisar o corporativismo durante o fascismo. 3.1. Estado nacional Os problemas económicos, os partidos de esquerda, comunistas e socialistas, bem como os anarquistas, ganhavam cada vez mais adeptos entre os italianos, o que preocupava a elite capitalista; o tratado de Versalhes, a crise socioeconómica; todos estes acontecimentos fizeram com que surgisse o movimento fascista. A Marcha sobre Roma foi uma vasta manifestação fascista, com característica de golpe de estado, ocorrida em 28 de Outubro de 1922 na capital da Itália, com o afluxo na cidade de dezenas de milhares de militantes fascistas que reivindicavam o poder político no reino. Este evento representou a ascensão ao poder do Partido Nacional Fascista (PNF) e o fim da democracia liberal, pela nomeação de Benito Mussolini como chefe de governo pelo Rei Vítor Emanuel III. Em 1928 proibiram-se todos os partidos, excepto o PNF, funda-se as milícias das camisas negras criando um clima de Terror. O fascismo se apropriou do símbolo de poder dos magistrados da Roma Antiga, o feixe de varas, que representava a união do povo em torno da justiça do Estado. O objectivo era evidente: retomar a história do povo italiano, sugerindo que a Itália poderia voltar a ser o Império Romano da Antiguidade. Esse movimento, fundado em Milão, em Março de 1919, não tinha ainda o perfil políticoideológico que iria assumir anos depois. Nas palavras do próprio Mussolini: "Não temos uma doutrina pronta; nossa doutrina é a acção. Em Junho de 1919 foi publicado o programa oficial do movimento, e algumas de suas reivindicações eram: jornada de trabalho de 8 horas; sufrágio universal extensivo às mulheres; representação proporcional no Parlamento; abolição do Senado do Reino; formação de uma milícia que actuasse paralelamente ao Estado; e maior actuação da Itália no cenário internacional. Desse programa inicial, somente as duas últimas propostas seriam levadas a cabo durante o período em que os fascistas controlaram a Itália, pois o Fascismo de Combate era, na realidade, um grupo de pessoas que tinham formações políticas e opiniões diferentes sobre o futuro da Itália, mas que se uniram no calor da hora, em função da grande crise do pós-guerra. O fascismo perpétua-se com uma Nação submissa, sem espíritos críticos, sem vontades individuais, mas com “uma alma colectiva”. Os ideais fascistas, eram inculcados, primeiramente, nos jovens, pois considera-se que as crianças, antes de pertencerem às famílias, pertenciam ao Estado. Na Itália, a partir dos 4 anos, as crianças ingressavam nos “Filhos da Loba” e usavam já uniforme; dos 8 aos 14 faziam parte dos “balillas”, aos 14 eram vanguardistas e aos 18 entravam nas Juventudes Fascistas. As raparigas eram inseridas em organizações e específicas, como a das “Jovens Italianas” A educação fascista era, obviamente, complementada pela escola, através de professores profundamente subservientes ao regime, ao qual prestavam juramento, e de manuais escolares impregnados dos princípios totalitários fascistas. Uma vez adultos, continuava a regimentação de Italianos, dos quais se procurava obter a total adesão. As bases de apoio social do fascismo foram, com efeito, heterogéneas e nelas podemos encontrar: As classes médias dos pequenos comerciantes e industriais, arruinados pela Concentração capitalista, e dos funcionários e detentores de rendimentos fixos, proletarizados pela inflação; Os quadros dirigentes da economia, grandes agrários e grandes industriais (do Ruhr e da Lombardia) aos quais o fascismo se alia desde que chega ao poder, do exército, da Igreja e da cultura, que aceitam o regime em troca da sua estabilização conservadora e da garantia dos seus privilégios de classe; As próprias classes laboriosas, cujo bem -estar e dignidade se procurava promoverem, através da absorção do desemprego e da integração em associações de tempos livres. Grandes programas de obras públicas e de militarização foram então, responsáveis pela diminuição do desemprego na Itália. 3.2. Estado totalitário O estado totalitário fascista vai se apresentar estruturada d seguinte maneira: A filiação no partido único (Nacional Fascista). Todos os funcionários, oficiais e professores eram recrutados no Partido, pelo que se fala da classe média como de uma nova elite fascista; A inscrição obrigatória dos trabalhadores na Frente do Trabalho NacionalSocialista e nos sindicatos fascistas e corporações mistas, após a extinção dos sindicatos livres; O Partido Fascista (único) cria a sua própria formação paramilitar: a Milícia Voluntária para a Segurança Nacional, Outro órgão de repressão contra os antifascistas, era a Polícia política apelidada de Organização de Vigilância e Repressão do Antifascismo (O.V.R.A.). A censura foi ampliada: a educação, as artes, os desportos, as rádios, o cinema e, até mesmo, o lazer da população seguiam as orientações fascistas. Foi criado o Tribunal Especial de Defesa do Estado, responsável pelo julgamento de "crimes" políticos; Centralização do estado: A economia passou a ser firmemente controlada pelo Estado, com o apoio dos capitalistas italianos. O povo é o corpo do Estado, e o Estado é o espírito do povo. Na doutrina fascista, o povo é o Estado e o Estado é o povo: Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fosse do Estado O culto do Chefe; encenação e propaganda - Mussolini, dizia que a força do Estado fascista exigia aos italianos: “Acreditar, obedecer, combater”. Consagrador de dogmas, avesso à crítica e à contestação, o totalitarismo fascista repudiava o legado racionalista da cu ltura ocidental. Pelo contrário, exaltava ofanatismo e o sentimento excessivo. Não só para com o Estado e a Nação, que idolatrava, mas também para com o Chefe (duce), símbolo do Estado omnipotente, encarnação da Nação e guia dos seus destinos, é o homem excepcional, o super-homem, a quem se deve prestar uma obediência cega e seguir sem hesitações, tornando-se o duce com poder absoluto eis o lema do nacional-socialismo: “Um Povo, um Império, um Chefe”, Expansionismo e militarismo: Uma das primeiras atitudes expansionistas do Estado italiano foi incentivar a fundação de Fascismos em países ondeimigrantes italianos tinham se instalado, propagando o ideal do partido pelo mundo. Além disso, o serviço secreto italiano auxiliava grupos simpáticos ao fascismo em várias partes da Europa. 3.3. Estado corporativo O fascismo italiano desenvolveu, em especial, a teoria do regime corporativo, ou corporativismo. Corporativismo era uma doutrina que vinha de século anteriores, mas que no final do século XIX tinha sido recuperada pela doutrina social da igreja. Mussolini vai lançar mão dessa doutrina, depurada de alguns dos elementos acentuados pelo pensamento católico, e faz dela a doutrina oficial doEstado italiano. Tratado de Latrão (1929) As relações políticas entre a Igreja Romana e o Estado Italiano não foram fáceis desde o processo de unificação da Itália no século 19, principalmente por que o papado não aceitava perder o poder político sobre os antigos Estados Pontifícios. Na perspectiva de resolver tal dilema e, ao mesmo tempo, ganhar o apoio dos católicos, Mussolini assinou com o papa Pio 11 três acordos, que ficaram conhecidos como Tratado de Latrão: A Santa Sé teria sua soberania política dentro do Estado do Vaticano, ao mesmo tempo que reconheceria o Estado Italiano; A Itália indemnizaria o Vaticano pelos danos causados durante as guerras de unificação; A religião católica seria a religião oficial do Estado Italiano, sendo ensinada obrigatoriamente em todas as escolas. De acordo com estas doutrinas, todas as forças económicas e sociais devem ser organizadas oficialmente em associações. Assim o faz, agrupando-os em 22 corporações, cada uma dirigida por um conselho formado por patrões e trabalhadores. Em 1929, Mussolini discreta a abolição da câmara dos reptados e põe nos seu lugar a Câmara dos Fascistas e das corporações: era a abolida o sufrágio individual, muito criticado por ser o sufrágio típico da democracia parlamentar, e que agora ficava substituído pelo sufrágio corporativo ou institucional. Mas, ao contrário da tradição medieval e da doutrina da igreja, o corporativismo do estado fascista não é um corporativismo de associação, é um corporativismo de Estado. Não representa a auto – direcção da economia, mas sim o controlo total da economia pelo poder político. Sumário Fascismo como uma ideologia política social tinha como objectivo, livrar a Itália dos problemas que se vivia naquela comunidade, nisto, os grupos sócias apoiaram o partido fascista, este chegado ao poder tornou-se totalitário, eliminando todos os partidos, sob a direcção de único partido criou um estado nacional fascista. Criou bases de apoio para garantir a execução do programa do partido. Um dos aspectos particulares fora o corporativismo, que eliminou os sindicatos TEMA IV: O NACIONALISMO TOTALITÁRIO O Nacionalismo Totalitário: Hitler Introdução Foi no contexto das crises económica, tratado de Versalhes, medo ao comunismo que o nazismo teve campo na Alemanha, na direcção de Adolfo Hitler. Este chegado ao poder introduziu o partido único, a política totalitária, racista e expansionista. Na direção dos nazis os problemas económico foram remediados, permitindo a afirmação da Alemanha como uma potência económica e militar no século XX. Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de: Objectivos Caracterizar o estado nacional nazista; Descrever o totalitarismo no estado nazista; Analisar a política racial durante o nazismo. 3.4. Estado nacional Factores como o início da Grande Depressão (1929), desemprego maciço, as humilhações do Tratado de Versalhes (1919), o descontentamento social com o regime democrático ineficaz, o apoio do povo alemão aos partidos socialistas e o temor de uma revolução socialista, levou a alta burguesia alemã, empresários e o clero a apoiaram a extrema-direita do aspecto político, optando por extremistas de partidos como o Partido Nazista. As eleições de Julho de 1932, os nazistas tornaram-se o maior partido no Reichstag, com 230 lugares. Porém o Partido Nazista não conseguiu uma maioria parlamentar até a nomeação de Hitler como chanceler. Assim em 30 de Janeiro de 1933 Adolf Hitler foi nomeado chanceler da Alemanha por Hindenburg o gabinete ministerial em seguida dissolvido por Hitler. Porém, para triunfar, o nazismo precisava combater seu principal concorrente ideológico, o socialismo revolucionário ou comunismo, com o qual teria de disputar a adesão popular. Igualmente totalitário, o comunismo também se arvorava a construir uma sociedade perfeita, não só na Alemanha, mas no mundo. Durante o mesmo ano de 1933, o Partido Nazista eliminara toda a oposição. Inúmeros ministérios deixaram de se reunir no regime nazista — embora continuassem existindo na teoria — como o Conselho Secreto do Gabinete e o Conselho de Defesa do Reich, cujas funções passaram a ser executadas por Hitler. A Alemanha, por fim, transformou-se em um estado nacionalista, onde não- arianos e oponentes do nazismo eram excluídos da administração, e o sistema judiciário tornou-se subserviente ao nazismo. Campos de concentração foram criados para receber prisioneiros políticos, judeus, ciganos e eslavos. A Bandeira da República de Weimar foi substituída pela bandeira da suástica do partido nazista no dia 15 de Setembro de 1935. Em 22 de Setembro de 1933 foi criada a Câmara de Cultura do Reich, com a intenção de “nazificar” a cultura: A fim de levar a cabo uma política de cultura alemã, é preciso unir os artistas de todas as esferas numa organização coesa sob a direcção do Reich. O Reich deve não somente determinar as linhas do progresso mental e espiritual, mas também orientar e organizar as profissões. As subcâmaras foram criadas para orientar e controlar toda a cultura: imprensa, belas-artes, literatura, música, cinema e rádio. Todos os profissionais dessas áreas foram obrigados a associarse às câmaras, que podiam expulsar ou recusar pessoas por “falta de confiança política. Toda a juventude alemã do Reich está organizada nos quadros da Juventude Hitlerista. A juventude alemã, além de ser educada na família e nas escolas, será forjada física, intelectual e moralmente no espírito do nacional-socialismo por intermédio da Juventude Hitlerista. Aos 14 anos o rapaz entrava na Juventude Hitlerista propriamente dita, ficando nela até os 18 anos, quando era transferido para a Cooperação pelo Trabalho e o exército. Na Juventude Hitlerista os rapazes recebiam treinamento em doutrinas nazistas, artes militares. O principal papel das mulheres era gerarem filhos sadios, propagando a "raça ariana". Aos 18 anos as moças prestavam um ano de serviço nas fazendas, equivalente à Cooperação do Trabalho dos rapazes. Na Alemanha nazista foram extintos os sindicatos, contratos colectivos e o direito de greve. Os sindicatos foram substituídos pela Frente Alemã do Trabalho, chefiada, que admitia assalariados e empregados e também patrões e membros de profissões liberais, tornando-se a maior organização partidária. Grandes programas de obras públicas e de militarização foram então, responsáveis pela diminuição do desemprego na Alemanha. 3.5. Estado totalitário O estado totalitário organizar-se da seguinte maneira: A filiação no partido único (na Alemanha, respectivamente). Cargos de responsabilidade foram confiados aos membros do Partido, cujos efectivos passam de 3 milhões, em 1934, para 9 milhões em 1939. O culto do chefe: Hitler era venerado como um Deus, para isso concentrou todo o poder (executivo, legislativo e judicial) tornando- se o chefe absoluto da Alemanha, era chefe do exército. Expansionismo e militarismo: Consagrando todos os seus esforços à conservação dos seus melhores elementos, o nacional-socialismo teria forçosamente que proceder à incorporação de todos os alemães numa só Pátria, numa só Nação, num só Povo. O Programa do Partido Nazi (1920) exigia a reunião de todos os alemães numa Grande Alemanha, o que equivalia
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