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CONTABILIDADE APLICADA AO AGRONEGÓCIO Luís Carlos Gruenfeld , 2 SUMÁRIO 1 FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE RURAL ................................................... 3 2 ESQUEMA BÁSICO DOS REGISTROS CONTÁBEIS NA ATIVIDADE RURAL . 17 3 FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE RURAL (CPC 29) ................................... 27 4 CONTABILIDADE DE ATIVOS BIOLÓGICOS .............................................. 37 5 DEPRECIAÇÃO, AMORTIZAÇÃO E EXAUSTÃO ......................................... 48 6 CONTABILIDADE DO AGRONEGÓCIO – DIVULGAÇÕES E TRIBUTAÇÃO .. 64 , 3 1 FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE RURAL Apresentação Neste bloco, veremos os princípios básicos da atividade rural e espécies de atividades incluídas nesse contexto, os tipos de empresas rurais e discutiremos de forma preliminar algumas das questões contábeis envolvidas no processo. 1.1 Tipos de empresas Para que se considere que uma empresa explora a atividade rural, a principal característica a ser observada é a exploração do solo. A exploração do solo pode ocorrer por meio das seguintes atividades básicas: ✓ Cultivo da terra; ✓ Criação de animais; ✓ Transformação de produtos agrícolas. Essas atividades caracterizam a produção vegetal (atividade agrícola), produção animal (atividade zootécnica) e a industrialização de produtos de origem rural (atividade agroindustrial). As atividades agrícolas podem ser subdivididas para abranger as culturas agrícolas e forrageiras e a arboricultura (Marion, 2020): “Culturas hortícola e forrageira: ✓ cereais (feijão, soja, arroz, milho, trigo, aveia...); ✓ hortaliças (verduras, tomate, pimentão...); ✓ tubérculos (batata, mandioca, cenoura...); ✓ plantas oleaginosas (mamona, amendoim, menta...); , 4 ✓ especiarias (cravo, canela...); ✓ fibras (algodão, pinho); ✓ floricultura, forragens, plantas industriais... ✓ Arboricultura: ✓ florestamento (eucalipto, pinho...); ✓ pomares (manga, laranja, maçã...); ✓ vinhedos, olivais, seringais etc.” (Marion, 2020, p.1) Com relação à atividade zootécnica (Marion, 2020) apresenta os seguintes exemplos: ✓ “apicultura (criação de abelhas); ✓ avicultura (criação de aves); ✓ cunicultura (criação de coelhos); ✓ pecuária (criação de gado); ✓ piscicultura (criação de peixes); ✓ ranicultura (criação de rãs); ✓ sericicultura (criação do bicho-da-seda); ✓ outros pequenos animais. “ (Marion, 2020, p.1) A criação de gado abrange os animais utilizados para serviço na lavoura, consumo doméstico ou produzidos para fins industriais e comerciais. Essa criação engloba, entre outros, os bovinos, suínos, caprinos, equinos, ovinos e muares. A atividade agroindustrial abrange: ✓ “beneficiamento do produto agrícola (arroz, café, milho); ✓ transformação de produtos zootécnicos (mel, laticínios, casulos de seda); , 5 ✓ transformação de produtos agrícolas (cana-de-açúcar em álcool etanol, açúcar e aguardente; soja em óleo e farelo; uvas em vinho e vinagre; moagem de trigo e milho).” (Marion, 2020, p.1) Há uma discussão sobre o encerramento do exercício social na atividade rural. Vale lembrar que a teoria da contabilidade admite que o exercício social corresponda àquele que melhor represente o ciclo operacional da entidade, que, muitas vezes, não corresponde ao ano-calendário (01 de janeiro a 31 de dezembro de cada ano). No setor rural essa afirmação tende a ser ainda mais verdadeira tendo em vista o aspecto sazonal de várias atividades e as influências climáticas, biológicas etc. envolvidas nesse tipo de atividade. Em geral, na atividade agrícola, as receitas concentram-se no próprio período de colheita ou logo após seu término. A comercialização dessa colheita tende a ser célere e concentrada em poucos dias, após os quais pode-se considerar que houve o encerramento do período agrícola. Esse período entre plantar, colher e comercializar a safra seria, então, considerado como ano agrícola. Nos casos em que a safra é estocada para comercialização posterior, quando o produto permite e existe a perspectiva de obtenção de melhores preços, no futuro, a própria colheita marcaria o término do ano agrícola. Em termos ideais, portanto, o encerramento do exercício social seria feito logo após a colheita e comercialização, evitando-se a existência de culturas em formação quando da apuração do resultado, pois é sempre difícil fazer uma avaliação precisa de plantas em crescimento. A apuração correta do resultado é essencial, inclusive, como subsídio aos administradores, no que tange aos resultados obtidos, para que possam tomar decisões com relação à safra seguinte. Outro caso especial é o de empresas que diversificam suas culturas. Nesses casos, teremos colheitas em diferentes períodos do ano e a definição de ano agrícola poderia acontecer tomando por base a colheita mais relevante do ponto de vista econômico. , 6 Na atividade pecuária o período mais propício ao encerramento do exercício social é aquele que se dá logo após o nascimento dos bezerros (ou desmame), geralmente concentrados em determinada época do ano, em especial, quando há um planejamento para esse fim, como forma de contornar problemas como seca ou inverno. Nos casos em que não há esse planejamento, ainda assim é comum observar- se alguma concentração dos nascimentos de bezerros que sirva como parâmetro. Outra forma utilizada para essa definição é a fixação de exercícios sociais após o período que concentra a venda para os frigoríficos, quando há tal condição. Vale lembrar que, sempre há uma dificuldade adicional na definição do ano agrícola, pelo fato da legislação fiscal brasileira exigir que o exercício social coincida com o ano civil e com exigências substanciais de obrigações acessórias. Assim, será necessário fazer a compatibilização entre a escrituração contábil e a legislação tributária quando os períodos forem distintos. Para que possamos ter uma ideia do “mundo real”, vamos examinar as demonstrações contábeis publicadas por empresas ligadas ao agronegócio. Abaixo, pode-se observar parte da Nota Explicativa sobre contexto operacional da SLC Agrícola S.A.: , 7 Fonte: SLC Agrícola – Demonstrações Financeiras (2021, p. 82) 1.2 Empresa e empresário rural As atividades rurais podem ser desenvolvidas como pessoa física ou jurídica. A atuação como pessoa física tende a ser menos onerosa, porém mais comuns em propriedades rurais de pequeno porte. Crepaldi (2019, p. 6) salienta que nesse caso a legislação do Imposto sobre a Renda não exige a escrituração contábil completa (embora possa ser feita espontaneamente) e o produtor rural autônomo (pessoa física) não tem inscrição na Junta Comercial, embora seja necessária a escrituração do Livro-Caixa. Por outro lado, o empresário rural pode ser inscrito na Junta Comercial como pessoa jurídica e está sujeita aos seguintes tributos: ✓ Imposto de renda da pessoa jurídica; ✓ Contribuição social sobre o lucro líquido; , 8 ✓ Contribuição para o programa de integração social; ✓ Contribuição para o programa de formação do patrimônio do servidor público; ✓ Contribuição para financiamento da seguridade social; ✓ Imposto sobre a propriedade territorial rural; ✓ Imposto sobre operações à circulação de mercadorias e sobre as prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicações. A atividade rural pode ser desenvolvida como pessoa física ou jurídica, conforme já mencionado, admitindo diferentes formatos para sua atuação, conforme as características resumidas abaixo (Crepaldi, 2019, p. 6 – 12): 1.2.1 Empresa Rural A empresa rural tem as seguintes características: ✓ Pode ser pessoal física ou jurídica; ✓ Pode ser pública ou privada; ✓ Explora imóvel rural de forma econômicae racional, inclusive pastagens, matas e áreas ocupadas com benfeitorias; ✓ Obtém renda por meio de atividades como culturas agrícolas, criação de gado, culturas florestais. 1.2.2 Empresário Rural O empresário rural é aquele que: ✓ Exerce profissionalmente a atividade econômica de produtor rural, uma das formas de produção de bens e serviços; ✓ Utiliza os fatores de produção tradicionais: terra, capital e trabalho. O empresário rural pode atuar individualmente ou como sociedade. , 9 A Sociedade Empresária é definida no Código Civil e deve ser inscrita na Junta Comercial do Estado. Trata-se da reunião de dois ou mais empresários para exercer profissionalmente atividade econômica organizada para a produção de bens ou de serviços As sociedades simples são formadas por pessoas que exercem profissão intelectual, mediante reunião de ao menos duas pessoas, mas não exercem atividade própria de empresário. São exemplos: dois veterinários ou agrônomos que constituam um escritório para atuar em sua área de conhecimento, restringindo-se à prestação de serviços (não pode haver atividades que constituam o “elemento empresa”. Marion (2020) afirma que o Código Civil não considera empresário quem exerce profissão intelectual de natureza científica, literária ou artística e assevera que a sociedade na área rural não pode ser na forma de Sociedade Simples. Essas sociedades, simples ou empresária, podem ser do seguinte tipo: ✓ Sociedade Limitada; ✓ Sociedade em Nome Coletivo; ✓ Sociedade em Conta de Participação; ✓ Sociedade em Comandita Simples (e por Ações); ✓ Sociedade Anônima, exceto no caso de Sociedades Simples, que nunca podem ter o formato de sociedade anônima. Marion (2020) resume bem essas possibilidades para o empresário que tem a atividade rural como profissão: ✓ Autônomo, sem registro na Junta Comercial. ✓ Empresário Individual, quando inscrito na Junta Comercial (é optativo conforme art. 971 do Código Civil). ✓ Sociedade Empresária, inscrita na Junta Comercial (na forma de sociedade limitada, ou sociedade anônima etc.) (Marion, 2020, p. 7) , 10 1.3 Aspectos econômicos da atividade agropecuária 1.3.1 Exploração agropecuária A exploração agropecuária se faz por meio de investimentos em capital fundiário ou capital de exercício. Marion (2020) explica que o capital fundiário corresponde aos recursos vinculados à terra e dela não retiráveis, tais como terra, edificações rurais, benfeitorias e melhoramentos na terra, cultura permanente e pastos. O capital de exercício ou capital de trabalho é aquele necessário para a operação, como o gado para reprodução, animais de trabalho, equipamentos, trator etc., além do capital de giro (curto prazo) necessário ao funcionamento do negócio. Genericamente, pode-se afirmar que o proprietário da terra entra no negócio com o capital fundiário, enquanto o empresário contribui com o capital de exercício, portanto, não é necessário. Nesse sentido, Marion (2020) resume as diferentes combinações entre capital fundiário e capital de trabalho: “1.4.3.1 Investidor agropecuário com a propriedade da terra Neste caso, somam-se os capitais fundiário e de exercício, isto é, o proprietário da terra também a utiliza, na condução do negócio agropecuário. O proprietário investe em capital de exercício e administra seus negócios. 1.4.3.2 Parceria Ocorre parceria quando o proprietário da terra contribui no negócio com o capital fundiário e associa-se a terceiros em forma de parceria, que contribuem com o capital de exercício. A parceria está estabelecida no Estatuto da Terra que determina que os parceiros compartilhem os riscos e benefícios da atividade rural. Assim, somente há divisão dos lucros se a atividade tiver sucesso. A definição do percentual de cada parceiro é negociada, mas limitada por lei entre 20% e 75%, a depender da forma de , 11 parceria. Esse tipo de associação assemelha-se a uma sociedade de capital e indústria, em que há duas espécies de sócios: ✓ Parceiro outorgante (proprietário): entra com a propriedade; ✓ Parceiro outorgado: entra com investimento, execução do trabalho e gerência do negócio. 1.4.3.3 Arrendamento Quando o proprietário da terra aluga seu capital fundiário (dificilmente aluga o capital de exercício) por determinado período a um empresário, tem-se o que se chama Sistema de Arrendamento. O arrendador recebe do arrendatário uma retribuição certa, que é o aluguel. O recebimento do arrendador independe da produção, mas pela disponibilização do capital fundiário (propriedade). 1.4.3.4 Comodato Empréstimo gratuito, em virtude do qual uma das partes cede por empréstimo para que se use pelo tempo e nas condições preestabelecidas. Nesse caso, o proprietário cede seu capital sem nada receber do comodatário. 1.4.3.5 Condomínio É a propriedade em comum, ou a copropriedade, em que os condôminos proprietários compartilham dos riscos e dos resultados, da mesma forma que a parceria, na proporção da parte que lhes cabe no condomínio, normalmente estabelecida na produção de cada safra.” (MARION, 2020, p. 8) 1.3.2 Modelo contábil para a atividade agrícola A atividade agropecuária possui diversas peculiaridades como já visto anteriormente. Faz sentido, portanto, que a contabilidade se dedique a buscar formas de atender a todas as especificidades desse ramo de atividade. Gelbcke et al. (2021) exemplificam bem essa questão com o exemplo de uma empresa que atua no negócio florestal, com plantação de eucalipto e colheita futura da madeira para comercialização. Na hipótese , 12 dos autores, se o corte da madeira ocorresse sete anos após o plantio inicial teríamos as seguintes questões: “(...) em que momento essa empresa obtém seu “ganho”? Deve-se reconhecer o lucro ou prejuízo à medida que as árvores crescem, no momento do corte ou apenas no momento em que ela emite a nota fiscal de venda? Qual o modelo contábil que melhor representa a realidade econômica dessa empresa?” (Gelbcke et al. 2021, p.285) Questões como essas apontaram que limitar a contabilidade à aplicação do método do custo histórico reduzia sua capacidade informativa, tendo em vista que, no exemplo dado, durante os sete anos que precederam a colheita nenhum ganho seria reconhecido. A atividade agropecuária necessitava de um novo modelo, com base no valor justo, que captura de modo mais apropriado as mutações patrimoniais das atividades agropecuárias. Com a evolução das discussões no International Accounting Standards Board – IASB, Comitê responsável pela emissão das normas internacionais de contabilidade e, posteriormente, a convergência do Brasil à essas normas (International Financial Reporting Standards – IFRS), foi emitido o Pronunciamento Contábil CPC – 29 – Ativo Biológico e Produto Agrícola que resultou na emissão da NBC TG 29 (R2) que estudaremos mais adiante nesta disciplina. Trata-se de uma medida muito importante no Brasil em face da força do nosso Agronegócio, que é um dos principais setores de nossa economia. Vejamos, a esse respeito, a divulgação da SLC Agrícola no que diz respeito às normas obedecidas por aquela entidade: , 13 Fonte: SLC Agrícola – Demonstrações Financeiras (2021, p. 83) 1.3.3 Importância da Contabilidade Rural Conforme já mencionado, são muitas as peculiaridades da contabilidade rural ou contabilidade aplicada ao agronegócio, como por exemplo para responder à questões como: diferença entre culturas temporárias e permanentes; classificaçãode custos, , 14 despesas diretas e indiretas; registro contábil do plantio até a colheita, contabilização do beneficiamento da colheita; pertinência do registro da cultura como estoque ou ativo imobilizado; forma de depreciação; tratamento dispensado para perdas com secas, geadas etc. Crepaldi (2019) considera que a contabilidade rural tem por finalidade: ✓ Orientar as operações agrícolas e pecuárias; ✓ Medir o desempenho econômico-financeiro da empresa e de cada atividade produtiva individualmente; ✓ Controlar as transações financeiras; ✓ Apoiar as tomadas de decisões no planejamento da produção, das vendas e dos investimentos; ✓ Auxiliar as projeções de fluxos de caixa e necessidades de crédito; ✓ Permitir a comparação da performance da empresa no tempo e desta com outras empresas; ✓ Conduzir as despesas pessoais do proprietário e de sua família; ✓ Justificar a liquidez e a capacidade de pagamento da empresa junto aos agentes financeiros e outros credores; ✓ Servir de base para seguros, arrendamentos e outros contratos; ✓ Gerar informações para a declaração do Imposto de Renda (CREPALDI, 2019, p. 85) As informações contábeis devem auxiliar o administrador rural em suas decisões e atribuições, dentre as quais podemos mencionar, com base em Santos, Marion e Segatti (2009, p.8): ✓ Planejar, controlar, decidir e avaliar resultados; ✓ Buscar a maximização dos lucros; ✓ Motivar e cuidar do bem-estar de seus empregados; , 15 ✓ Mantes clientes e comunidade satisfeitos; ✓ Decidir o que, quando e como produzir; ✓ Observar fatores externos e internos que possam impactar os negócios, como por exemplo fatores climáticos. Vale lembrar que fatores internos geralmente são controláveis e estão sujeitos a ações mais diretas, enquanto os fatores externos não são controláveis, somente é possível conhecê-los e ajustar-se a eles. As decisões a serem tomadas dependerão de vários fatores, inclusive o tamanho da empresa, renda obtida com as diferentes culturas e criação de animais, escolha e combinação de diversas atividades produtivas, principalmente na busca por maior aproveitamento dos fatores de produção, buscando custos fixos menores por unidade produzida com consequente aumento dos lucros. Conclusão Neste bloco tratamos dos diferentes tipos de empresas que exploram a atividade rural, das definições de empresa e empresário rural, dos diversos aspectos econômicos da atividade agropecuária, dos modelos contábeis para a atividade agrícola e da importância da contabilidade rural. , 16 REFERÊNCIAS ARRUDA, Leila Lúcia; SANTOS, Celso José. Contabilidade Rural. Curitiba: Intersaberes, 2017. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 29 - ATIVO BIOLÓGICO E PRODUTO AGRÍCOLA. Disponível em: < https://bit.ly/2TqVwrW >. Acesso em: 18 mai. 2021. CREPALDI, Silvio Aparecido. Contabilidade rural: uma abordagem decisorial – 9. ed. – São Paulo: Atlas, 2019. GELBCKE, Ernesto Rubens ... [et al.]. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades: de acordo com as normas internacionais e do CPC – 3. ed. – [2. Reimpr.]. – São Paulo: Atlas, 2021. MARION, José Carlos. Contabilidade rural: agrícola, pecuária e imposto de renda ‒ 15. ed. ‒ São Paulo: Atlas, 2020. RODRIGUES, Aldemir Ortiz [et al.] Contabilidade rural – 5ª. ed. Rio de Janeiro, RJ: Freitas Bastos, 2021. SANTOS, Gilberto José dos; MARION, José Carlos; SEGATTI, Sônia. Administração de custos na agropecuária – 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2009. http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/324_CPC_29_rev%2014.pdf%3e. , 17 2 ESQUEMA BÁSICO DOS REGISTROS CONTÁBEIS NA ATIVIDADE RURAL Apresentação Neste bloco, veremos os fluxos contábeis da contabilidade agrícola, nas hipóteses de culturas temporárias e de culturas permanentes, analisaremos os tratos culturais na cultura permanente e seus fluxos desde a colheita até a sua venda. 2.1 Fundamentos da Contabilidade Agrícola A sequência necessária para produção e colheita no agronegócio se reflete no esquema básico de registro contábil, conforme o fluxo das atividades se desenvolve. Na contabilidade agrícola esses fluxos dependem do tipo de cultura existente. As culturas podem ser temporárias –anuais– ou permanentes. Marion define as culturas temporárias como aquelas “sujeitas ao replantio após uma única colheita. Normalmente, o período de vida é curto (menor que 12 meses). Após a colheita, são arrancadas do solo para que seja realizado novo plantio, ou então é realizado o plantio direto na palha.” (MARION, 2020, p. 17) Os exemplos desse tipo de colheita incluem soja, milho, arroz, feijão, batata e legumes. As culturas permanentes são definidas por Marion como “aquelas que permanecem vinculadas ao solo e proporcionam mais de uma colheita ou produção.” (MARION, 2020, p. 19) Em geral, os exemplos de culturas permanentes incluem a cana-de-açúcar, citricultura, cafeicultura, oliveiras e plantações de árvores e frutas. Nota-se, portanto, que diferente das culturas temporárias que costumam ser anuais, as culturas permanentes duram mais de um ano, consequentemente propiciando mais de uma colheita. , 18 Essa divisão entre culturas temporárias e permanentes não é explicitada na norma internacional que prefere sempre a denominação de ativos biológicos, como veremos mais adiante, porém ajuda muito na compreensão do funcionamento e da dinâmica da atividade agrícola e dos correspondentes registros contábeis. 2.2 Culturas temporárias e culturas permanentes 2.2.1 Culturas temporárias As culturas temporárias são registradas como Ativos Biológicos – produtos agrícolas em formação, no Ativo Circulante. A ideia é que, na medida em que os custos de formação da cultura ocorram, os valores sejam acumulados em subconta própria (arroz, trigo, alho, cebola etc.). Esses custos de formação compreendem, entre outros: ✓ sementes, mudas, fertilizantes e inseticidas; ✓ mão de obra e encargos sociais; ✓ energia elétrica e combustível; ✓ seguro e serviços profissionais; ✓ depreciação do ativo imobilizado. No caso de uma cultura única, os custos são diretamente alocados a ela, mas geralmente existem várias culturas em formação, de forma concomitante, exigindo o rateio dos custos indiretos. De acordo com as novas normas sobre ativos biológicos, na data do balanço, esse custo da cultura em formação deve ser avaliado pelo valor justo. Dessa forma, compara-se o valor justo ao valor acumulado pelo custo histórico e a diferença é , 19 lançada em subconta própria, tendo como contrapartida ganho ou perda no resultado operacional. Os custos da cultura incluem os gastos direta ou indiretamente identificáveis com a cultura, mas não podem ser confundidos com despesas do período, tais como despesas de vendas, administrativas e financeiras. Essa cultura em formação resultará em uma futura colheita e, nesse momento, os valores acumulados – incluindo a subconta de ajuste ao valor justo – devem ser transferidos para a conta Produtos Agrícolas. Na conta Produtos Agrícolas, por sua vez, são agregados todos os custos de manutenção e armazenagem, tais como beneficiamentos, acondicionamentos, silagem e congelamento. Quando o estoque é vendido, esse custo é baixado para o resultado para contrapor-se ao valor da venda, permitindo a apuração do lucro (ou prejuízo) nessas transações. A figura abaixo demonstra o fluxo na fase da cultura temporária: , 20 Figura 2.2.1 – O fluxo na fase da cultura temporária Fonte: Marion (2020, p. 19) 2.2.2 Culturas permanentes Conforme antes mencionado, as culturas permanentes proporcionam mais de uma colheita. Isso marca a primeira diferença, no aspecto contábil,com relação às culturas temporárias, pois diferentemente daquelas, sua classificação deverá ser no Ativo não Circulante – Imobilizado. O tipo de custos envolvidos e a segregação entre eles e as despesas não diferem substancialmente do que se vê em relação às culturas temporárias. Após a formação da cultura e antes da primeira produção ou florada, os “custos permanentes em formação” devem ser transferidos para “cultura permanente formada” – esse processo pode demorar alguns anos –. Esse imobilizado, agora formado, começa a ser , 21 depreciado, na medida em que as colheitas são realizadas e a depreciação faz parte do custo dos estoques de produtos agrícolas. A figura abaixo retrata esse fluxo: Figura 2.2.2 – Planta portadora Fonte: Marion (2020, p. 21) 2.2.3 Cultura Permanente da colheita até a venda Durante a formação de uma determinada cultura (planta portadora) os custos são acumulados como “cultura em formação” ou denominação similar, incluindo a depreciação dos bens do ativo imobilizado necessários para a formação da cultura. Os , 22 custos indiretos devem ser rateados proporcionalmente pelas diferentes culturas e apropriados à “cultura permanente em formação” ou “planta portadora”. A distribuição via rateio dos custos indiretos nunca é fácil, pois exige a tomada de decisão sobre os critérios mais apropriados nas circunstâncias, por exemplo considerando-se o número de horas trabalhadas por um ou mais tratores naquela determinada cultura, entre outros critérios. Evidentemente, não haverá depreciação (ou exaustão) enquanto a cultura estiver em formação, devendo esta ser iniciada por ocasião da primeira colheita ou produção. Perdas extraordinárias são comuns na atividade agrícola, sujeita a intempéries climáticas e outras condições, tais como incêndios, geadas, inundação, granizo, tempestades e secas. Nesses casos os ativos devem ser baixados para resultado, diretamente como despesa operacional (e não como custo). Essa medida não se aplica aos casos de frustração ou retardamento da safra. A regra básica é que perdas normais, previsíveis e inerentes ao processo de plantação, sejam consideradas custo dos produtos agrícolas, enquanto os eventos extraordinários sejam tratados como despesas operacionais (perda extraordinária). Se a cultura está formada e são efetuados novos gastos que beneficiarão períodos futuros, estes devem ser adicionados ao valor da cultura formada. Esses gastos serão depreciados de acordo com a vida útil da cultura formada ou período esperado de obtenção de benefícios futuros. Empréstimos para capital de giro –ou financiamentos para custeio, como habitualmente tratados no setor agrícola – geram despesas financeiras que devem ser apropriadas mensalmente ao resultado pelo regime de competência. Durante o período de formação, os encargos financeiros de financiamentos devem ser reconhecidos como custo da planta portadora até que esta atinja a maturidade, sendo uma escolha contábil no caso de ativos biológicos de longa maturação. , 23 A seguir o fluxo contábil para a cultura permanente, da colheita até a venda: Figura 2.2.3 – Cultura permanente – colheita até venda. , 24 Fonte: Marion (2020, p. 22) 2.3 Tratos culturais na cultura permanente Tratos culturais são gastos incorridos após a maturidade da planta portadora. Esses gastos devem ser tratados como custos dos ativos biológicos, que são os produtos (ou frutos) agrícolas em formação, fisicamente ligados à planta portadora. Os ativos biológicos com essa característica devem ser classificados no Ativo Circulante até o momento da colheita. Os tratos culturais são realizados anualmente após a colheita, por serem necessários à formação da próxima safra. O ciclo desses ativos biológicos pode ser assim demonstrado: , 25 Figura 2.3 – Ativos Biológicos Fonte: Marion (2020, p. 22) Na data do balanço os ativos biológicos devem ser mensurados ao valor justo. No momento da colheita deve ser apurada a diferença ente o custo e o valor justo, para lançamento em subconta específica de ajuste ao valor justo, tendo como contrapartida ganho ou perda no resultado operacional. O custo dos ativos biológicos abrange os valores relativos a tratos culturais de poda, capina, herbicidas, custo com irrigação, combate a pragas e insetos, seguro da safra, serviços de terceiros e outros, que são necessários da floração até a maturação do produto. Caso sejam gastos recursos para melhorar a produtividade da cultura permanente ao longo dos anos é preciso tomar o cuidado de não considerar esses gastos como custo da safra atual, registrando-os no ativo imobilizado – e, por consequência, serão diluídos à diferentes safras por meio de depreciação ou exaustão –. Conclusão Neste bloco estudamos os fluxos contábeis da contabilidade agrícola, nas hipóteses de culturas temporárias e de culturas permanentes, analisamos os tratos culturais na cultura permanente, e fluxo da cultura permanente desde a colheita até a venda. , 26 REFERÊNCIAS ARRUDA, Leila Lúcia; SANTOS, Celso José. Contabilidade Rural. Curitiba: Intersaberes, 2017. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 29 - ATIVO BIOLÓGICO E PRODUTO AGRÍCOLA. Disponível em: <https://bit.ly/2TqVwrW> Acesso em: 18 mai. 2021. CREPALDI, Silvio Aparecido. Contabilidade rural: uma abordagem decisorial – 9. ed. – São Paulo: Atlas, 2019. GELBCKE, Ernesto Rubens ... [et al.]. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades: de acordo com as normas internacionais e do CPC – 3. ed. – [2. Reimpr.]. – São Paulo: Atlas, 2021. MARION, José Carlos. Contabilidade rural: agrícola, pecuária e imposto de renda ‒ 15. ed. ‒ São Paulo: Atlas, 2020. RODRIGUES, Aldemir Ortiz [et al.] Contabilidade rural – 5ª. ed. Rio de Janeiro, RJ: Freitas Bastos, 2021. SANTOS, Gilberto José dos; MARION, José Carlos; SEGATTI, Sônia. Administração de custos na agropecuária – 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2009. , 27 3 FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE RURAL (CPC 29) Apresentação Neste bloco, analisaremos em detalhes o Pronunciamento Contábil CPC 29 (R2) – Ativo Biológico e Produto Agrícola. 3.1 Objetivo e Alcance O CPC 29 buscou estabelecer o tratamento contábil mais adequado com relação aos ativos biológicos e produtos agrícolas. O CPC 29 é aplicável a: ✓ (a) ativos biológicos, exceto plantas portadoras; ✓ (b) produção agrícola no ponto de colheita; ✓ (c) alguns tipos de subvenções governamentais. O CPC 29 é aplicável à produção agrícola. Produção agrícola é aquela obtida no momento e no ponto de colheita dos produtos advindos dos ativos biológicos da entidade. Após esse momento deve-se utilizar outro pronunciamento mais adequado. Embora muitas discussões conceituais existam a respeito do assunto, o CPC 29 não considera em seu escopo o processamento de produtos agrícolas após a colheita, como no exemplo do processamento de uvas para a transformação delas em vinho por uma vinícola, mesmo que ela tenha cultivado e colhido a uva. Há quem discuta essa determinação, argumentando ser essa uma “extensão lógica e natural da atividade agrícola”, mas o CPC 29 refuta de forma específica essa possibilidade. Resumidamente, o CPC aplica-se às seguintes situações quando relativas à atividade agrícola: , 28 Fonte: KPMG (2018, p. 2) A divisão entre Ativos Biológicos, Produto Agrícola e Produtos resultantes do processamento após a colheita é explicitamente demonstrado no Pronunciamento: Fonte: CPC 29, p.3 O CPC 29 não se aplica a: ✓ (a) terras relacionadas com atividades agrícolas, que devem seguir o CPC 27 – Ativo Imobilizado; e o CPC 28 – Propriedade para Investimento; , 29 ✓ (b) plantas portadoras relacionadas com a atividadeagrícola, que seguem o CPC 27. Por outro lado, o pronunciamento é aplicável ao produto dessas plantas portadoras; ✓ (c) subvenção e assistência governamentais relacionadas às plantas portadoras que estão no escopo do CPC 07; ✓ (d) ativos intangíveis relacionados com atividades agrícolas, que devem seguir o CPC 04 – Ativo Intangível; ✓ (e) ativos de direito de uso decorrentes de arrendamento de terrenos relacionados à atividade agrícola, que devem seguir o CPC 06 – Arrendamento. 3.2 Definições, Reconhecimento e Mensuração 3.2.1 Definições As seguintes definições fornecidas são relevantes para compreensão do assunto, conforme o CPC 29: “Atividade agrícola é o gerenciamento da transformação biológica e da colheita de ativos biológicos para venda ou para conversão em produtos agrícolas ou em ativos biológicos adicionais, pela entidade. Planta portadora é uma planta viva que: (a) é utilizada na produção ou no fornecimento de produtos agrícolas; (b) é cultivada para produzir frutos por mais de um período; e (c) tem uma probabilidade remota de ser vendida como produto agrícola, exceto para eventual venda como sucata. Produção agrícola é o produto colhido de ativo biológico da entidade. Ativo biológico é um animal e/ou uma planta, vivos. , 30 Transformação biológica compreende o processo de crescimento, degeneração, produção e procriação que causam mudanças qualitativa e quantitativa no ativo biológico. Despesa de venda são despesas incrementais diretamente atribuíveis à venda de ativo, exceto despesas financeiras e tributos sobre o lucro. Grupo de ativos biológicos é um conjunto de animais ou plantas vivos semelhantes. Colheita é a extração do produto de ativo biológico ou a cessação da vida desse ativo biológico.” (CPC 29, Item 5, p.3) Com as alterações ocorridas no CPC 27 (Ativo Imobilizado) e CPC 29 (Ativo Biológico e Produto Agrícola), as plantas portadoras deixaram de ser mensuradas a valor justo, pois são vistas como um ativo imobilizado, sujeitando-se ao CPC 27 e, por conseguinte, as plantas portadoras podem ser mensuradas ao valor de custo. No entanto, como já ressaltado, o produto agrícola que nasce de uma planta portadora é visto como um ativo biológico consumível e continua a ser mensurado ao valor justo menos custos para venda. De forma resumida essas situações podem ser visualizadas da seguinte maneira: , 31 Fonte: KPMG (2018, p. 3) 3.2.2 Reconhecimento e mensuração Para compreensão adequada sobre o reconhecimento e mensuração de ativos biológicos, antes é necessário conhecer a definição do CPC para parte das expressões e terminologias adotadas, conforme explicitado no Item 8 do CPC 29 (grifos nossos): Valor contábil é o montante pelo qual um ativo é reconhecido no balanço. Valor justo é o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data de mensuração. (CPC 29, Item 8, p.4) O item 10 do CPC 29, por sua vez, é muito importante por indicar que uma entidade somente deve reconhecer um ativo biológico ou produto agrícola quando: “(a) controla o ativo como resultado de eventos passados; (b) for provável que benefícios , 32 econômicos futuros associados com o ativo fluirão para a entidade; e (c) o valor justo ou o custo do ativo puder ser mensurado confiavelmente.” (CPC 29, Item 10, p.5) Controlar um ativo é o aspecto chave da definição. O exemplo do CPC é o da propriedade legal do gado e sua marcação no momento da aquisição, nascimento ou época de desmame. Com algumas exceções, o ativo biológico deve ser “mensurado ao valor justo menos a despesa de venda no momento do reconhecimento inicial e no final de cada período de competência.” (CPC 29, Item 12, p.5) “O produto agrícola colhido de ativos biológicos da entidade deve ser mensurado ao valor justo, menos a despesa de venda, no momento da colheita” (CPC 29, Item 13, p.5), representando o custo que será utilizado na aplicação do CPC 16 – Estoques ou outro Pronunciamento aplicável. A comparação do valor justo menos a despesa de venda de ativo biológico existente no momento inicial e final de cada período resulta em ganho ou perda. Esse ganho ou perda deve ser reconhecido no resultado do exercício (receita ou despesa). É possível que a perda ocorra já no momento do reconhecimento inicial do ativo biológico devido à dedução das despesas de venda. Por outro lado, um ganho no reconhecimento inicial do ativo poderia decorrer de nascimento de bezerro. Em qualquer caso permanece a contrapartida no resultado do período. O CPC 29 também destaca a possiblidade de ocorrência de ganho ou perda no reconhecimento inicial como resultado da colheita. 3.2.3 Mensuração confiável do valor justo De forma geral, trabalha-se com a premissa de que o valor justo dos ativos biológicos poderá ser mensurado confiavelmente. Todavia, isso nem sempre acontece, em alguns casos o ativo biológico deveria ser cotado pelo mercado, mas essa informação não está disponível e não há alternativas confiáveis. Se esse for o caso, o ativo biológico deverá ser mensurado ao custo, deduzido da depreciação acumulada e eventuais perdas por impairment (desvalorização ou “irrecuperabilidade”) do ativo. , 33 Se posteriormente o valor justo se tornar mensurável de forma confiável, a entidade passará a mensurá-lo pelo valor justo menos as despesas de venda. Em qualquer hipótese, o produto agrícola no momento da colheita deve sempre ser mensurado ao valor justo menos despesas de venda, pois o CPC 29 presume que este sempre possa ser mensurado de forma confiável. Abaixo exemplo da KPMG (2018) a respeito da mensuração do ativo biológico: Exemplo: Cultivo de grãos Figura 3.2.3 – Exemplo de estágios de cultivo de grãos Fonte: KPMG (2018, p. 20) A KPMG (2018) também pesquisou o caso em que o preço de mercado não está disponível e não há alternativas confiáveis para mensurá-lo, lembrando que nesse caso, há previsão para que o ativo biológico seja avaliado ao custo. Outra possibilidade prevista no pronunciamento diz respeito a algumas circunstâncias em que o valor justo se aproxima do custo. Para esses dois casos a pesquisa da KPMG verificou junto a balanços publicados o uso de ativos avaliados ao custo, mas destaca a necessidade de justificativa e adequada documentação e divulgação a respeito. O quadro abaixo aponta algumas dessas justificativas: , 34 Fonte: KPMG (2018, p. 25) 3.3 Subvenção governamental No caso de subvenção governamental, o CPC 29 prevê que se essa foi conferida em caráter incondicional, e se relaciona a um ativo biológico mensurado ao valor justo menos a despesa de venda, o reconhecimento deve ser feito no resultado do período, no momento em que efetivamente se tornar recebível. Em alguns casos, porém, essa subvenção governamental está condicionada ao cumprimento de algum requisito ou exigência. Nesses casos o valor da subvenção só poderá ser reconhecido no resultado, quando essa condição for atendida. , 35 No Brasil, não tem sido tão comum esse tipo de subvenção, mas há a possibilidade de imposição de termos e condições bastante específicas, como a exigência de cultivo em determinada área por um período de cinco anos. Nessas condições, em geral, não é possível o reconhecimento no resultado até o esgotamento do prazo. Se o contrato tiver alguma previsão de retenção de valores proporcionalmente ao tempo decorrido, então o registro contábil também poderia ser proporcional, com reconhecimentoparcial no resultado em cada período transcorrido. Conforme mencionado anteriormente, há casos específicos em que a mensuração do ativo biológico pode ser feita pelo valor de custo, reduzido da depreciação e perdas irrecuperáveis acumuladas. Quando esse for o caso, as subvenções governamentais relacionadas aos ativos biológicos devem seguir o Pronunciamento Técnico CPC 07 – Subvenção e Assistência Governamentais. Resumidamente, o CPC 29 tem diferenças em relação ao CPC 07 em dois casos específicos: ✓ No caso de ativo biológico mensurado ao valor justo menos despesas de venda; ✓ Quando uma subvenção governamental exigir que a entidade execute atividade agrícola específica. , 36 Conclusão Neste bloco analisamos detalhes do Pronunciamento Contábil CPC 29 (R2) – Ativo Biológico e Produto Agrícola. REFERÊNCIAS ARRUDA, Leila Lúcia; SANTOS, Celso José. Contabilidade Rural. Curitiba: Intersaberes, 2017. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 29 - ATIVO BIOLÓGICO E PRODUTO AGRÍCOLA. Disponível em: <https://bit.ly/2TqVwrW> Acesso em: 18 mai. 2021. CREPALDI, Silvio Aparecido. Contabilidade rural: uma abordagem decisorial – 9. ed. – São Paulo: Atlas, 2019. GELBCKE, Ernesto Rubens ... [et al.]. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades: de acordo com as normas internacionais e do CPC – 3. ed. – [2. Reimpr.]. – São Paulo: Atlas, 2021. KPMG. Ativo Biológico e Produto Agrícola / CPC 29. Elaborado em 2018. Disponível em: <https://bit.ly/36SCr51> Acesso em: 19 mai. 2021. MARION, José Carlos. Contabilidade rural: agrícola, pecuária e imposto de renda ‒ 15. ed. ‒ São Paulo: Atlas, 2020. RODRIGUES, Aldemir Ortiz [et al.] Contabilidade rural – 5ª. ed. Rio de Janeiro, RJ: Freitas Bastos, 2021. SANTOS, Gilberto José dos; MARION, José Carlos; SEGATTI, Sônia. Administração de custos na agropecuária – 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2009. , 37 4 CONTABILIDADE DE ATIVOS BIOLÓGICOS Apresentação Neste bloco, apresentaremos aspectos relevantes da contabilidade de ativos biológicos, destacando: ✓ Avaliação dos ativos biológicos; ✓ Valor justo na cultura temporária; ✓ Valor justo de ativos biológicos quando há mercado ativo e quando não há; ✓ Culturas permanentes e os Ativos de longo prazo de duração. 4.1 Avaliação dos Ativos Biológicos Os ativos biológicos, antes avaliados ao custo, passaram a ser avaliados ao valor justo, que muitas vezes coincidem com o valor de mercado. Dessa forma é possível acompanhar os eventos naturais de nascimento, crescimento e morte de forma mais apropriada. O ganho econômico produzido pelas alterações nos Ativos Biológicos, deve ser reconhecido no resultado do exercício, como receita, mesmo antes da venda dos produtos. Lembrando que a contabilidade deve sempre respeitar o regime de competência, como ilustra a figura a seguir: , 38 Figura 4.1 – Balanço patrimonial e demonstração de resultado Fonte: Marion (2020, p. 37) A mensuração do valor justo pode utilizar diferentes métodos. Os princípios do valor justo e as abordagens de avaliação podem ser assim resumidas: Fonte: KPMG (2018, p. 8) O CPC 46 detalha essas diferentes opções e os procedimentos relativos à avaliação do valor justo. As abordagens para mensuração ao Valor Justo podem ser visualizadas da seguinte forma: , 39 Figura 4.1.2 – Abordagens para mensuração do Valor Justo Fonte: KPMG (2018, p. 11) 4.2 Valor justo na cultura temporária O registro contábil do valor justo na cultura temporária pode seguir o esquema abaixo (adaptado de Marion, 2020): 1. Lançamento do valor de custo do ativo biológico D – Ativo biológico: Custa da cultura X 1.000 C – Caixa ou Bancos / Fornecedores 1.000 2. Lançamento do valor justo da cultura Dados: Valor Justo = Valor de Mercado , 40 Valor Justo estimado em $1.500 Despesas de venda estimadas em $75 ✓ Para reconhecimento do valor justo D – Ativo biológico: valor justo 500 C – Ajuste ao valor justo 500 ✓ Para deduzir do valor justo as despesas de venda D – Ajuste ao valor justo 75 C – Ativo biológico: valor justo 75 3. Lançamento do Custo da colheita no valor de $100 ✓ Para registrar os custos incorridos D – Ativo biológico: custo da cultura X 100 C – Caixa ou Bancos / Fornecedores 100 ✓ Para ajustar o valor justo D – Ajuste ao valor justo 100 C – Ativo biológico: valor justo 100 , 41 4. Lançamento para mensuração do produto agrícola colhido ao valor de venda justo menos despesas de venda, no momento da colheita. D – Estoque do produto agrícola X 1.100 D – Estoque do produto agrícola X 325 C – Ativo biológico: custo da cultura X 1.100 C – Ativo biológico: valor justo 325 5. Lançamento da venda por $1.500 ✓ Lançamento da venda D – Caixa / Bancos 1.500 C – Vendas 1.500 ✓ Lançamento da despesa de vendas D – Despesa com vendas 75 C – Caixa / bancas 75 ✓ Reconhecimento do CPV (custo do produto vendido) e baixa do estoque D – CPV 1.425 C – Estoques 1.425 Dessa forma a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) seria apresentada dessa forma: , 42 Figura 4.2 – Demonstração do Resultado do Exercício Fonte: Marion (2020, p. 40) Caso, o valor justo, no momento da colheita, fosse outro, esse ajuste deveria ser também considerado. O exemplo apresentado não considera alteração do valor justo. 4.2.1 Valor justo dos ativos biológicos de uma cultura temporária quando há mercado ativo O CPC 29 exige que os ativos biológicos sejam mensurados ao valor justo, deduzidos dos custos estimados de venda, quando há crescimento biológico significativo. Isso porque, antes de haver um crescimento significativo do ativo biológico, seu valor é muito próximo ao valor de mercado. No exemplo de uma entidade que produz e comercializa soja, enquanto não há crescimento significativo da lavoura, os gastos são acumulados durante a constituição dos ativos biológicos. Contabilmente, temos: D – Ativos biológicos (soja) C – Caixa ou Bancos Após o período que foi determinado como aquele em que não há crescimento significativo e até o momento da colheita, os ativos biológicos devem ser mensurados ao valor justo. , 43 Havendo mercado ativo para a cultura, como é o caso da soja depois de colhida e beneficiada, a entidade deverá mensurar o valor justo da soja até a colheita utilizando para isso os preços no mercado futuro, ocasião em que a colheita será realizada. A estimativa para determinação do valor justo também deve levar em conta fatores como as condições de venda, custo do arrendamento ou de capital, taxa desconto e volume de produtividade. Veja o exemplo: Fonte: Marion (2020, p. 43) O registro contábil do valor justo apurado seria lançado da seguinte forma: D – Ativos biológicos (ajuste ao valor justo); C – Variação no valor justo dos ativos biológicos (margem bruta). Na colheita dos ativos biológicos, em 31 de janeiro, considerando que houve alteração do valor justo com relação ao anterior de 31 de dezembro: D – Estoques; C – Variação no valor justo dos ativos biológicos; C – Ativos biológicos; C – Custos incorridos. O valor justo menos a despesa de venda até o momento da colheita pode ser calculado com determinadas premissas, como abaixo: , 44 Fonte: Marion (2020, p. 44) Teríamos, então, a DRE em 31 de dezembro e 31 de janeiro, como segue: Fonte: Marion (2020, p. 44) Em 31 de dezembro a margem já foi reconhecida na receita líquida. Assim, em 31 de janeiro, essa margem já é parte do custo. Dessa forma a soja recolhida em 31 de janeiro será registrada (pelo valor da receita líquida de $61) como segue: D –CPV C – Estoques , 45 4.3 Culturas permanentes – Ativos de longo prazo de duração Os ativos biológicos que não serão colhidos totalmente são considerados de longo prazo de duração, pois produzirão durante vários anos, como nos pomares de frutas, palma, coco e cana-de-açúcar. O CPC 29 trata como “planta portadora” aquela planta viva, que é utilizada na produção sendo cultivada para produzir frutos por mais de um período, gerando sucessivas safras. As plantas portadoras dificilmente são vendidas, pois não é esta sua finalidade. Isso faz com que, em geral, o valor de venda desse tipo de planta seja muito inferior ao valor obtido por meio da geração de fluxos de caixa durante a vida útil e econômica da planta portadora, em suas diversas colheitas. Há, também, culturas permanentes e outros ativos de longo prazo de maturação aproveitados em uma única colheita. Trata-se de ativos biológicos com longo prazo de maturação, independentemente de terem ou não colheitas intermediárias, como no exemplo de florestas replantadas. Os ativos biológicos dessa natureza devem ser mensurados ao valor justo e, nesse caso, sua classificação deverá ser no ativo não circulante, pois sua colheita se dará em período superior a 12 meses da data do balanço. 4.3.1 Ativos biológicos em formação quando não há mercado ativo Os ativos biológicos em formação têm característica de longo prazo. Em algumas circunstâncias, não existem preços para o produto durante o período de formação. Se esse for o caso, é requerida a mensuração de acordo com Fluxo de Caixa Descontado, dado que não existe mercado para esses ativos, apenas para seus frutos no momento da colheita. A avaliação de acordo com o fluxo de caixa descontado tem por base o cálculo do valor presente dos fluxos de caixa livres que o ativo gerará no futuro, trazidos a valor , 46 presente. Para tanto, será necessário utilizar uma taxa de desconto adequada para esse propósito. A taxa deve levar em conta o grau de risco inerente aos fluxos de caixa estimados. A complexidade do processo reside, principalmente, nessas duas questões: estimar os fluxos de caixa futuros e determinar a taxa de desconto a ser utilizada. Uma taxa muito utilizada é o CMPC (Custo Médio Ponderado de Capital) que trabalha com uma média ponderada entre o capital próprio e o capital de terceiros. Conclusão Neste bloco, foram apresentados aspectos relevantes da contabilidade de ativos biológicos, destacando: ✓ Avaliação dos ativos biológicos; ✓ Valor justo na cultura temporária; ✓ Valor justo de ativos biológicos quando há mercado ativo e quando não há; ✓ Culturas permanentes e os Ativos de longo prazo de duração. REFERÊNCIAS ARRUDA, Leila Lúcia; SANTOS, Celso José. Contabilidade Rural. Curitiba: Intersaberes, 2017. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 29 - ATIVO BIOLÓGICO E PRODUTO AGRÍCOLA. Disponível em: <https://bit.ly/2TqVwrW> Acesso em: 18 mai. 2021. CREPALDI, Silvio Aparecido. Contabilidade rural: uma abordagem decisorial – 9. ed. – São Paulo: Atlas, 2019. , 47 GELBCKE, Ernesto Rubens ... [et al.]. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades: de acordo com as normas internacionais e do CPC – 3. ed. – [2. Reimpr.]. – São Paulo: Atlas, 2021. KPMG. Ativo Biológico e Produto Agrícola / CPC 29. Elaborado em 2018. Disponível em: <https://bit.ly/36SCr51> Acesso em: 19 mai. 2021. MARION, José Carlos. Contabilidade rural: agrícola, pecuária e imposto de renda ‒ 15. ed. ‒ São Paulo: Atlas, 2020. RODRIGUES, Aldemir Ortiz [et al.] Contabilidade rural – 5ª. ed. Rio de Janeiro, RJ: Freitas Bastos, 2021. SANTOS, Gilberto José dos; MARION, José Carlos; SEGATTI, Sônia. Administração de custos na agropecuária – 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2009. , 48 5 DEPRECIAÇÃO, AMORTIZAÇÃO E EXAUSTÃO Apresentação Neste bloco, apresentaremos os cálculos de depreciação, amortização e exaustão na agropecuária. 5.1 Conceitos preliminares O registro contábil dos ativos biológicos, resumidamente, pode ser descrito da seguinte forma: ✓ Atividade pecuária O gado de corte a ser comercializado deve ser registrado como Estoque, no Ativo Circulante. O rebanho reprodutor e os animais de trabalho devem ser registrados no Ativo Imobilizado, no Ativo não Circulante. ✓ Atividade Agrícola No imobilizado, serão registradas as culturas permanentes (que produzem frutos por diversos anos), como por exemplo café, laranja e cana-de-açúcar. Essas culturas produzem frutos por diversos anos. 5.1.1 Depreciação, exaustão e amortização A depreciação reconhece o desgaste dos bens do ativo imobilizado. Seu registro é importante do ponto de vista econômico e de correta apuração do resultado, embora sem impacto financeiro, uma vez que não há qualquer desembolso financeiro no processo. , 49 Desprezando algumas discussões conceituais, pode-se afirmar que calculamos depreciação, exaustão e amortização da seguinte forma: Depreciação – aplicada sobre bens próprios da empresa; Exaustão – aplicada sobre recursos que são exauridos, tais como florestas e plantas que são ceifadas do solo (em vez de somente serem colhidos os frutos); Amortização – aplicada a direitos de exploração e outros. Vejamos os exemplos abaixo: O cafeeiro produz grãos de café e a árvore permanece intacta, por isso falamos em depreciação. O canavial tem sua parte externa cortada, portanto está sujeito à exaustão. A área rural, portanto, possui algumas especificidades com relação aos conceitos de depreciação, exaustão e amortização. No que tange à depreciação de uma cultura permanente (quando apenas os frutos são extraídos), é importante destacar que está restrita a empreendimentos próprios da empresa e que há depreciação nos anos de produção de frutos. Essa orientação está no Parecer Normativo CST nº 18, de 9/4/79, citado por Crepaldi (2019), aplicável às culturas permanentes, florestas, árvores e vegetais de menor porte. O autor exemplifica com os casos do café (20 anos), laranja (15 anos), uva (20 anos) e eucalipto (7 anos). Crepaldi (2019) também faz referência específica aos casos de floresta própria ou vegetação em geral. Nesses casos trata-se de exaustão e não depreciação, pois os recursos são exauridos. O custo de aquisição ou formação (exceto o solo), sujeita-se à exaustão à medida que os recursos se esgotam, sendo os principais exemplos o reflorestamento, cana-de-açúcar e pastagens. O autor cita, novamente, o PN CST nº 18, de 1979. Segundo o qual, o custo de formação de plantações de espécies vegetais que não se extinguem com o primeiro corte, mas que permitem cortes adicionais, deve ser objeto de quotas de exaustão. , 50 Já os direitos sobre empreendimentos de propriedade de terceiros podem dar origem à amortização, pela apropriação dos custos desses direitos de acordo com o período contratado para sua exploração. 5.2 Depreciação A depreciação é aplicável a todos os ativos biológicos que produzam frutos. Rodrigues et al (2021) apresentam os seguintes exemplos: “Na cultura do chá, o que se colhe é a folha e não a árvore que dá o produto da colheita. Na cultura bananal, após a retirada da banana o seu tronco é cortado e volta a dar novo fruto. Nas culturas mais tradicionais em que somente é extraído o fruto e não se procede a nenhum corte de troncos ou caule, não temos problema em identificar como depreciação, por exemplo: laranjeira, limoeiro, mexeriqueira, abacateiro etc.” (Rodrigues et al, 2021, p. 85) A legislação tributária possui tabela própria para depreciação do ponto de vista fiscal, mas contabilmente a depreciação depende da vida útil ou anos de produção de uma árvore. A determinaçãoda taxa de depreciação é tarefa a ser efetuada por especialistas em agronomia capacitados para tal. Essa determinação também pode partir dos próprios agricultores considerando que eles possuem conhecimento acerca da vida útil e tempo de produção de determinada árvore, considerando sua qualidade e as diversas variáveis envolvidas, como solo, clima, manutenção exigida, entre outros aspectos. A depreciação só incide sobre a cultura formada, desde a primeira colheita. Cultura em formação não sofre depreciação. , 51 Assim, vale considerar o exemplo de Marion (2020) sobre uma videira tipo Niágara rosada na região de Valinhos-SP: se uma videira vai produzir uva durante 15 anos, então temos: 100/15 = 6,67% ao ano como taxa de depreciação. Um cálculo alternativo é sobre a produção estimada de uma cultura permanente. Exemplo: uma videira produzirá 1.000.000 de caixas, sendo 70.000 no primeiro ano. A depreciação será de 7% no primeiro ano e nos demais vai variar de acordo com a produção. Abaixo, caso prático apresentado por Rodrigues et al (2021): “Admita-se exploração de laranjas em que ao longo dos seus estimados 15 anos produziram-se dois milhões de caixa e no seu primeiro ano de colheita extraíram-se 150 mil caixas têm a seguinte taxa de depreciação: 2.000.000/150.000 = 13,33% Taxa de depreciação anual de 13,33% superior à taxa admitida por pesquisa de 6,67% por ano. Registro contábil da depreciação D – Custo/Despesa Operacional (Conta de Resultado); C – Depreciação Acumulada (Conta Redutora do Ativo Imobilizado).” (Rodrigues et al, 2021, p. 85) Nota-se que no caso descrito há uma diferença entre a depreciação contábil (13,33%) e aquela admitida pela legislação fiscal (6,67% ao ano), que teria que ser controlada e ajustada para fins de apuração do imposto de renda e da contribuição social. 5.2.1 Depreciação de máquinas e implementos agrícolas O custo de uma lavoura ou safra deve incluir o custo dos equipamentos agrícolas utilizados. , 52 Tratores, colhedeiras e outros aparelhos agrícolas muitas vezes ainda são depreciados com base na taxa fiscal, o que produz distorções nos resultados das empresas. O ideal é calcular a produção por cultura, medindo melhor o resultado de cada cultura e, também, por hora, a partir da estimativa de um número de horas trabalhadas por equipamento. Sabemos que o cálculo da depreciação tem por base o custo deduzido do valor residual, ou seja, valor pelo qual se pretende obter na venda do item após o período de uso. Empresas agrícolas que utilizam seus equipamentos até o final de sua vida útil não tem essa preocupação, pois o valor residual será muito baixo. Há empresas que tem uma política de determinar um certo período de uso, digamos, quatro anos, para depois vender o bem. Nesse caso será importante estimar o valor residual e considerar no cálculo. Outra possibilidade é calcular o número de horas de trabalho nas quais o equipamento será utilizado, por exemplo, 4.000 horas. Abaixo exemplo do cálculo para um trator, considerando o número de horas de trabalho: Fonte: Marion (2020, p. 77) A seguir exemplo do cálculo para um trator, considerando o custo por hora de uso do trator: , 53 Fonte: Marion (2020, p. 65) Vale ressaltar que a taxa de depreciação (fiscal) para máquinas e aparelhos agrícolas é de 10%, enquanto para tratores a taxa é de 25%, ao menos para a maior parte dos itens dentro de cada uma dessas categorias. Todavia, a vida útil desses bens pode ser diferente, motivo pelo qual a depreciação com base nas horas utilizadas oferece informação contábil de maior qualidade. Em linha com o exposto acima, Rodrigues et al (2021) também contribuem com um exemplo para cálculo de horas: “Fórmula para cálculo de horas: Valor do trator ou das máquinas e implementos agrícolas / Número de horas estimado de trabalho = Depreciação por hora. Admita-se que o trator utilizado na fazenda tenha sido adquirido por R$100.000,00 e o número de horas de trabalho do trator seja de 6.000 horas ao longo de sua vida útil. , 54 R$100.000,00 = R$ 16,67 por hora 6.000horas” (Rodrigues et al, 2021, p. 90) Dessa forma, é possível conhecer o custo por hectare (ou alqueire), desde que se conheça também qual o número de horas necessário de uso do trator por hectare. Para tanto multiplica-se o número de horas pelo custo de uma hora. Esse cálculo deve considerar, também, horas improdutivas do trator, principalmente no trajeto entre a oficina e o campo, em especial quando a sede fica afastada do local de cultivo. Em geral estima-se esse tempo em torno de 15%, conforme demonstra Marion (2020, p. 65): Assim como no caso dos tratores, pode haver horas improdutivas de mão-de-obra em face de condições climáticas adversas e outras razões. Se essas horas forem relevantes não devem somar-se ao custo da lavoura, sendo controladas separadamente em conta específica de “tempo improdutivo”, como “custos indiretos”, de forma que possam ser rateadas entre as demais culturas. Caso haja algo muito excepcional, deve-se verificar a possibilidade de lançar os valores diretamente como perda do período, de forma que as culturas em andamento não sejam afetadas. Em resumo, as culturas permanentes que depois de formadas produzirem frutos, deverão ser depreciadas conforme sua vida útil – ou volume de produção, por exemplo, se isso for praticável–. São os casos de laranjeiras, videiras, castanheiras, pessegueiros, abacateiros, macieiras, pereiras, jaqueiras, cafeeiros, por exemplo. Abaixo exemplo adaptado de Crepaldi (2019, p. 160): Cultura: Laranja Vida útil: 15 anos Taxa de depreciação: 100% / 15 = 6,67% a.a. Depreciação calculada: $4.857,60 , 55 Lançamento contábil: D – Colheita em Formação – Laranja $4.857,60 C – Depreciação acumulada – Laranjal $4.857,60 Abaixo, exemplo real da nota explicativa da SLC Agrícola (Item 3-e), com divulgações sobre o imobilizado e a depreciação: , 56 Fonte: SLC Agrícola – Demonstrações Financeiras (p. 85-86) , 57 5.2.2 Um animal pode ser depreciado? Talvez você esteja se perguntando se chegaremos aos animais e se estes podem ser depreciados. A resposta é sim! Esses animais, com o tempo, perdem sua capacidade de trabalho, como nos casos de gados reprodutores (touros e vacas), animais de trabalho e outros. Não há depreciação no período de crescimento do gado reprodutor. O início da depreciação se dará a partir do estado adulto, quando há condições de reprodução. Há uma dificuldade muito grande para se detectar o ciclo de vida útil do gado de reprodução, por isso, é comum a utilização do método da linha reta a partir dos seguintes prazos de vida útil (caso os veterinários não possam estimar de forma mais acurada a vida útil do gado reprodutor): Fonte: Marion (2020, p. 66) O ideal seria considerar, também, no cálculo da depreciação, o valor residual desse ativo, que pode ser calculado de acordo com o peso do animal, multiplicado pelo preço por arroba na venda a um frigorífico (o que acontece nesses casos após o animal ser castrado e engordado para abate). O touro pode não servir para monta, mas ainda pode produzir sêmen para inseminação artificial, nesse caso a vida útil deve considerar esse fato. Exemplo (adaptado de Marion, 2020): Touro – avaliado em $55.000 Vida útil – estimada em 8 anos para monta e dois para coleta de sêmen. Portanto, 10 anos = 10% de taxa de depreciação. Peso – 800 kg, mantido até o final de sua vida útil , 58 Valor de venda - $2.000 Valor a ser depreciado - $53.000 ($55.000 - $2.000) A depreciação do primeiro ano seria: Fonte: Marion, 2020 (p. 67)Em resumo, animais reprodutores e animais de trabalho estão sujeitos à depreciação após o período de crescimento, pois perdem sua capacidade de trabalho no decorrer do tempo. Abaixo exemplo adaptado de Crepaldi (2019, p. 161): Animal: cavalo de sela utilizado na administração da fazenda Vida útil estimada: 8 anos Taxa de depreciação: 12,5% a.a. Depreciação calculada: 569,25 Lançamento contábil: D – Despesa Administrativa Depreciação 569,25 C – Depreciação Acumulada Equinos 569,26 5.3 Exaustão e Amortização , 59 No caso de florestas, a exaustão deve ser calculada apurando-se o percentual de árvores extraídas em relação ao total de árvores da floresta no início do ano-base. Esse percentual deverá ser aplicado sobre o valor da floresta registrado no ativo, que será, portanto, o custo dos recursos florestais extraídos. Pode ser necessário fazer cálculos mais detalhados em circunstâncias de florestas que voltam a produzir troncos e ramos que permitem novas extrações, sempre confrontando o volume extraído em cada período com a produção total esperada, considerando os diversos cortes. Exemplo (adaptado de Marion, 2020) Reflorestamento de 10.000 eucaliptos Custo da cultura formada - $ 100.000 São previstos 4 cortes (exaustão = 100/4 = 25% por corte) Primeira colheita = 4.800 árvores Fonte: Marion (2020, p. 68) Portanto, a exaustão é: 48% de extraídas x 25% de exaustão x $100.000 = $12.000 (custo total dos eucaliptos extraídos). No caso da plantação de cana-de-açúcar, conforme já vimos anteriormente, os custos de formação são acumulados na conta “cultura permanente em formação – cana-de- açúcar” dentro do Ativo não Circulante – Imobilizado. O canavial pode gerar cinco, seis ou mais cortes. Considerando que sejam cinco cortes, teríamos: Quota de exaustão anual: 100% / 5 = 20% a.a. , 60 Esse é o percentual a ser aplicado sobre o custo de formação da cana-de-açúcar para se obter o custo da cultura formada, ao qual serão adicionados os outros custos da colheita e custos de manutenção da cultura. Se o exercício social terminar antes do ano agrícola, a colheita não estará terminada no encerramento do exercício social. Nesse caso é necessário calcular o percentual relativo à quantidade efetivamente extraída em relação à cultura total. Isso pode ser feito por meio da medição da área, conforme o exemplo adaptado de Marion (2020, p. 69): Hectares extraídos: 1.200 Total de hectares: 2.800 Percentual para fins de cálculo: 1.200 / 2.800 = 42,86%, a ser aplicado sobre os 20% da quota de exaustão anual. Esse percentual também poderia ser medido em função das toneladas extraídas com relação ao total esperado ou outro critério que a administração julgue apropriado. Outra alternativa apresentada por Marion (2020, p. 69) baseia-se em laudo da PLANALSUCAR para quotas de exaustão decrescentes (percentuais/ano): 1º corte – 35,4% 2º corte – 25,1% 3º corte – 21,4% 4º corte – 18,1% Outra questão relevante na atividade rural diz respeito às pastagens, que podem ser naturais (pasto nativo) ou artificiais (pastos cultivados). A pastagem é considerada uma cultura permanente a ser registrada no Ativo não Circulante – Imobilizado e sujeita a exaustão à medida que perde sua potencialidade –embora algumas empresas discordem e entendam que não cabe fazer a exaustão de pastagens–. A vida útil das , 61 pastagens para fins de exaustão deve ser calculada com base em estudos agrícolas feitos por agrônomos. Um exemplo do tratamento dado aos ativos biológicos e, em particular, da exaustão de ativos, pode ser encontrado na Nota Explicativa 3 (letra h) da ArcelorMittal Brasil, demonstrações financeiras do exercício findo em 31 de dezembro de 2020: Fonte: ArcelorMittal Brasil – Demonstrações Financeiras do exercício findo em 31 de dezembro de 2020 (p. 32) A amortização, por sua vez, está vinculada aos casos de aquisição de direitos sobre empreendimentos de propriedades de terceiros (extração de madeira de floresta pertencente a terceiros, exploração de pomar alheio e similares). Nesses casos, é necessário que o contrato estipule prazo determinado, preço único e prefixado, que servirão como base para a amortização. Se o prazo de exploração for indeterminado, o tratamento seria como exaustão e não como amortização. Exemplo (Marion, 2020): Empresa: exportadora de suco de laranja Direito adquirido: colheita de um pomar durante 3 anos Registro do custo de aquisição: o custo de aquisição do direito será registrado pela empresa adquirente no Ativo Imobilizado Amortização: a amortização será de 1/3 por colheita, dessa forma o custo será distribuído pelos 3 anos em que há o direito de exploração. , 62 Conclusão Neste bloco, foram apresentados os principais conceitos e cálculos relacionados à depreciação, exaustão e amortização. REFERÊNCIAS ARCELORMITTAL BRASIL S.A. Demonstrações Financeiras Individuais e Consolidadas Referentes ao Exercício Findo em 31 de dezembro de 2020 e Relatório do Auditor Independente. Disponível em: <https://bit.ly/36W54hI> Acesso em: 12 jul. 2021. ARRUDA, Leila Lúcia; SANTOS, Celso José. Contabilidade Rural. Curitiba: Intersaberes, 2017. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 29 - ATIVO BIOLÓGICO E PRODUTO AGRÍCOLA. Disponível em: <https://bit.ly/2TqVwrW> Acesso em: 18 mai. 2021. CREPALDI, Silvio Aparecido. Contabilidade rural: uma abordagem decisorial – 9. ed. – São Paulo: Atlas, 2019. GELBCKE, Ernesto Rubens ... [et al.]. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades: de acordo com as normas internacionais e do CPC – 3. ed. – [2. Reimpr.]. – São Paulo: Atlas, 2021. KPMG. Ativo Biológico e Produto Agrícola / CPC 29. Elaborado em 2018. Disponível em: <https://bit.ly/36SCr51> Acesso em: 19 mai. 2021. MARION, José Carlos. Contabilidade rural: agrícola, pecuária e imposto de renda ‒ 15. ed. ‒ São Paulo: Atlas, 2020. RODRIGUES, Aldemir Ortiz [et al.] Contabilidade rural – 5ª. ed. Rio de Janeiro, RJ: Freitas Bastos, 2021. https://bit.ly/2TqVwrW , 63 SANTOS, Gilberto José dos; MARION, José Carlos; SEGATTI, Sônia. Administração de custos na agropecuária – 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2009. , 64 6 CONTABILIDADE DO AGRONEGÓCIO – DIVULGAÇÕES E TRIBUTAÇÃO Apresentação Neste bloco, veremos alguns modelos e publicações de demonstrações contábeis, inclusive divulgações em notas explicativas. Trataremos, também, de temas relacionados com a tributação na atividade rural. 6.1 Contabilidade da pecuária – plano de contas A pecuária de corte passa pelas fases de cria (produção de bezerros), recria (produção e venda do novilho magro para engorda) e engorda (produção e venda do novilho gordo). O gado que será comercializado deve ser classificado como estoque, no ativo circulante. O gado destinado à procriação ou trabalho na fazenda que, portanto, não é destinado à venda, deve ser registrado no ativo imobilizado (ativos biológicos), no ativo não circulante. Geralmente trata-se o touro como “reprodutor” e a vaca como “matriz”. A classificação entre ativo circulante e não circulante pode privilegiar o ciclo operacional, portanto superando o período de um ano, pois o “estoque em formação” pode ter duração superior a três anos. Dessa forma o curto prazo, na pecuária, seria igual ao ciclo operacional, desprezando-se o período tradicional de 12 meses. Abaixo possível plano de contas da atividade pecuária (Marion, 2020, p. 100-101): ✓ Balanço patrimonial , 65 , 66 , 67 Fonte: Marion, 2020, p. 100-101 ✓ Demonstração de resultado do exercício Fonte: Marion, 2020, p. 102 , 68 As variações patrimoniais reconhecem os ganhos advindosdo crescimento natural do gado e o nascimento de bezerros. Por outro lado, há também as perdas, como na morte de um animal. 6.2 Contabilidade da pecuária - mensuração O rebanho pode ser inventariado pelo método de custo ou a valor de mercado. A utilização do método de custo não é recomendável, restringindo-se às situações em que não é possível obter com segurança o valor justo (geralmente coincidente com o valor de mercado). No método de custos os gastos se acumulam na conta de estoque e este será baixado no momento da venda: Fonte: Marion, 2020, p. 107 No caso do valor de mercado (valor justo) o preço do plantel geralmente é superior ao valor de custo, pois o ganho econômico decorrente do crescimento do gado é registrado anualmente. A conta de estoques (ativo biológico) passa a ser reconhecido pelo valor de mercado e a contrapartida desse ajuste ocorre no resultado do exercício. , 69 Fonte: Marion, 2020, p. 108 Vale ressaltar que o termo Receita Econômica refere-se ao fato de que nenhuma venda ocorreu de fato, portanto não houve impacto financeiro, apenas econômico. Nos anos seguintes o processo se repete com uma nova atualização do valor de mercado, que também deverá ser reconhecida: Fonte: Marion, 2020, p. 108 Quando houver a efetiva venda do plantel será feito o seguinte lançamento: D – Caixa ou bancos (ou duplicatas a receber) C – Estoque (ativos biológicos) , 70 6.2.1 Exemplo ilustrativo do CPC 29 Embora não faça parte efetiva do pronunciamento, o CPC 29 (p. 12-16) apresenta um modelo ilustrativo da contabilidade de ativos biológicos, considerando uma fazenda de gado leiteiro. , 71 , 72 , 73 Fonte: CPC 29, p. 12 – 16 6.2.2 Exemplo prático – SLC Agronegócio A SLC Agronegócio apresenta ativos biológicos em suas demonstrações contábeis, bem como nas notas explicativas. Apresentamos parte dessas demonstrações contábeis e , 74 trechos mais relevantes de divulgações, que podem demonstrar os diferentes conceitos apresentados até este momento na disciplina. Ainda assim, fica a recomendação de análise do relatório apresentado pela SLC Agrícola na íntegra, pois se constitui em um conjunto bastante completo de informações sobre o agronegócio e interessantes aspectos sociais, ambientais e econômico-financeiros. ✓ Balanço patrimonial Fonte: SLC Agrícola, p. 77 , 75 Fonte: SLC Agrícola, p. 77 Fonte: SLC Agrícola, p. 77 , 76 Fonte: SLC Agrícola, p. 77 , 77 ✓ Demonstração de resultado do exercício Fonte: SLC Agrícola, p. 77 , 78 ✓ Demonstração do resultado abrangente Fonte: SLC Agrícola, p. 77 ✓ Notas explicativas Fonte: SLC Agrícola, p. 83 , 79 Fonte: SLC Agrícola, p. 84 , 80 Fonte: SLC Agrícola, p. 85 , 81 Fonte: SLC Agrícola, p. 85 Fonte: SLC Agrícola, p. 95 , 82 Fonte: SLC Agrícola, p. 96 , 83 , 84 Fonte: SLC Agrícola, p. 97 , 85 Fonte: SLC Agrícola, p. 107 , 86 Fonte: SLC Agrícola, p. 107 Fonte: SLC Agrícola, p. 139 6.3 Aspectos tributários Em face da complexidade da legislação tributária, o resultado contábil em um período pode ser diferente do resultado tributário. Há também possibilidades de escolha da forma de tributação, inclusive na condição de pessoa física. A atuação no agronegócio pode ocorrer na condição de pessoa física como produtor rural ou pessoa jurídica: , 87 Figura 6.3 – Atores do agronegócio Fonte: Rezende (2017, p. 262) De forma genérica a tributação na área rural pode ser visualizada da seguinte forma: , 88 Figura 6.3.1 – Regimes tributários para quem explora atividade rural Fonte: Rezende (2017, p. 272) Para fins de Imposto de Renda a atividade rural diz respeito à exploração de atividades agrícolas, pecuárias, extração e exploração vegetal e animal, cultivo de florestas para corte, entre outros previstos na legislação. Atividades de beneficiamento, industrialização de pescado in natura, industrialização de produtos e, em geral, as atividades que alterem a composição e característica do produto, não são consideradas atividades rurais. O planejamento é essencial para que se possa cumprir fielmente a legislação e, ao mesmo tempo, escolher formas menos onerosas de pagamento dos impostos. Isso implica em conhecer e avaliar: ✓ Os períodos de safra e colheita; ✓ O momento em que o dinheiro estará efetivamente em caixa; , 89 ✓ As formas de tributação. A tributação pelo lucro real é semelhante às demais empresas, todavia, a atividade rural é beneficiada por diversos incentivos fiscais. Por esse motivo é necessário segregar essas atividades (receitas, custos e despesas) das demais. Os incentivos fiscais para a atividade rural quando no lucro real, compreendem: ✓ Depreciação integral, no próprio ano de aquisição, dos bens do ativo imobilizado; ✓ Compensação de prejuízos fiscais e bases de cálculo negativas da CSLL sem a limitação de 30% aplicável às demais atividades. As diferenças entre a depreciação na contabilidade e a depreciação incentivada são controladas nos livros fiscais: Parte B do e-Lalur e Parte B do e-Lacs. A aquisição de um trator por $100.000, com depreciação de 20% a.a. teria os seguintes registros e controles: Fonte: Marion (2020, p. 193) , 90 Há também o diferimento da receita de avaliação do estoque, ou seja, as contrapartidas dos aumentos do estoque (nascimentos, ajuste pelo valor de mercado), serão tributados somente na venda dos respectivos estoques. Para tanto, a receita é excluída do lucro líquido e controlada na Parte B do e-lalur. No exercício em que ocorrer a venda ela será adicionada. Caso a empresa opte pelo lucro presumido, valem as mesmas regras aplicáveis às outras pessoas jurídicas. 0 Em circunstâncias mais radicais, assim como é com outras pessoas jurídicas, a incompatibilidade dos livros e registros com a legislação pode levar ao arbitramento do lucro. Na condição de microempresas (ME) ou empresas de pequeno porte (EPP), não havendo qualquer restrição legal, é possível a tributação pelo Simples Nacional. No caso de pessoas físicas, deve ser feito o cálculo do resultado na exploração rural mediante escrituração do livro-caixa, exceto se não alcançados os limites de receitas definidos em lei. Deve ser registrado, também, o livro-caixa digital do produtor rural (LCDPR) por quem obter receita bruta superior a R$3,6 milhões (IN RFB 1.848/2018). O lucro ou prejuízo da atividade rural, nesse caso, é apurado pelo regime de caixa, receitas recebidas menos despesas pagas. Investimentos, com exceção de terra nua, podem ser considerados como despesas para fins de escrituração do livro-caixa. O produtor rural tem como opção uma tributação simplificada. Nesse caso, deve aplicar o percentual de 20% sobre a Receita Bruta no ano-calendário, mas isso implica em perder a possibilidade de compensação de prejuízos anteriores. Geralmente essa opção não é vantajosa para o contribuinte. Na existência de arrendatários, condôminos e parceiros, estes devem pagar o imposto separadamente, de forma proporcional aos rendimentos obtidos. , 91 Conclusão Neste bloco, vimos alguns modelos e publicações de demonstrações contábeis, inclusive divulgações em notas explicativas. Estudamos, também, temas relacionados com a tributação na atividade rural. REFERÊNCIAS ARRUDA, Leila Lúcia; SANTOS, Celso José. Contabilidade Rural. Curitiba: Intersaberes, 2017. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC).PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 29 - ATIVO BIOLÓGICO E PRODUTO AGRÍCOLA. Disponível em: <https://bit.ly/2TqVwrW> Acesso em 18 mai. 2021. CREPALDI, Silvio Aparecido. Contabilidade rural: uma abordagem decisorial – 9. ed. – São Paulo: Atlas, 2019. GELBCKE, Ernesto Rubens ... [et al.]. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades: de acordo com as normas internacionais e do CPC – 3. ed. – [2. Reimpr.]. – São Paulo: Atlas, 2021. KPMG. Ativo Biológico e Produto Agrícola / CPC 29. Elaborado em 2018. Disponível em: <https://bit.ly/36SCr51> Acesso em 19 mai. 2021. MARION, José Carlos. Contabilidade rural: agrícola, pecuária e imposto de renda ‒ 15. ed. ‒ São Paulo: Atlas, 2020. REZENDE, Amaury José. Aspectos tributários de ativos biológicos e produtos agrícolas in: NAKAO, Sílvio Hiroshi (org.). Contabilidade financeira no agronegócio – São Paulo: Atlas, 2017. RODRIGUES, Aldemir Ortiz [et al.] Contabilidade rural – 5ª. ed. Rio de Janeiro, RJ: Freitas Bastos, 2021. https://bit.ly/2TqVwrW , 92 SANTOS, Gilberto José dos; MARION, José Carlos; SEGATTI, Sônia. Administração de custos na agropecuária – 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2009. SLC Agrícola. Relatório de Administração 2020. Disponível em: <https://bit.ly/2UGyGgu>. Acesso em: 19 mai. 2021