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1 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO 1 SUMÁRIO 1. NOSSA HISTÓRIA ............................................................................................... 2 2. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 3 3. HISTÓRICO DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO .............. 4 1. A Importância da História .................................................................................. 9 4. DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO NO BRASIL ............................................................................................................... 13 1. A Relação das Indústrias e a Psicologia Organizacional ................................. 16 2. Psicologia Industrial: Análise do Trabalho ....................................................... 24 5. AS FORMAS DE TRABALHO AO LONGO DA HISTÓRIA ................................. 25 1. Idade Antiga .................................................................................................... 27 2. Idade Moderna ................................................................................................ 28 6. A ORGANIZAÇÃO SOCIAL DO TRABALHO ..................................................... 28 1. 32 2. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 32 2 1. NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 2. INTRODUÇÃO A psicologia organizacional e do trabalho envolve ações em instituições e empresas voltadas para o desenvolvimento de estratégias. Segundo Campos et al. (2011) ambicionam a melhoria do ambiente de trabalho e entender fenômenos relacionados à vida do trabalhador em seu contexto pessoal e profissional, procurando promover seu bem-estar nesse ambiente. Através da psicologia das organizações, torna-se possível realizar atração e seleção, análise de clima organizacional, resolver conflitos entre funcionários, organizar treinamentos para aprimoramento de habilidades e desenvolver dinâmicas de grupo. O trabalho é elemento transformador, não apenas da matéria, mas da vida psíquica, social, cultural, política e econômica (CAMPOS et al., 2011). Por esse motivo, o psicólogo organizacional exerce importância na busca por satisfação do trabalhador para com a empresa/instituição, além de que essas sejam privilegiadas pela espécie do trabalho desenvolvido. Ainda, demonstra-se relevante destacar que o ofício do profissional dentro das organizações é atuar como facilitador e conscientizador do papel dos trabalhadores dentro dos vários setores que a compõem, considerando a saúde e a subjetividade dos mesmos e o funcionamento da empresa. As atividades exercidas nessa atribuição, fundamentadas em técnicas e instrumentos da psicologia, trazem desenvolvimento para a empresa, para o trabalhador e para a sociedade. Conhecer aspectos dessa múltipla trajetória traz às claras elementos para a compressão dos modos pelos quais as relações foram estabelecidas, suas dimensões técnico-teóricas e a forma como o momento social e cultural influenciaram a prática. Visto desse modo, pode-se afirmar que a POT sofreu transformações significativas ao longo da história e, a partir de então, surgiram diversas definições e ampliação de estudos acerca dessa nova esfera psicológica, dando origem aos atuais conceitos e práticas desse campo da psicologia. 4 3. HISTÓRICO DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO, 2012), resumidamente as atribuições da Psicologia do Trabalho, refere-se a recrutamento, seleção, orientação, aconselhamento, e treinamento profissional. Segundo pesquisa realizada com psicólogos do Brasil a POT, é a segunda área com mais inserção de psicólogos com 30%, perdendo apenas para clínica, com 34%.) A Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT), aborda a relação entre o homem e o mundo do trabalho, sendo o campo de atuação voltado para entender o papel do trabalho na vida das pessoas. O tema central da POT é a preocupação com o trabalho em agrupamento de pessoas, em organizações, que está dividida em três áreas: o trabalho, a organização e o problema da gestão pessoal. Figura 1- Psicologia Organizacional Fonte: http://www.facped.com.br/psicologia-organizacional-nas-empresas/ O trabalho faz parte da vida do indivíduo, pois desde a educação as pessoas passam se preparando para o trabalho, assim como o trabalho é um meio de sobrevivência, realização, adoecimento e construção da identidade. Organização (estrutura), para que ocorra trabalho é necessário, que exista um lugar para que sejam desenvolvidas as atividades profissionais. O problema da gestão de pessoas é na relação do trabalho com o indivíduo, que surge a necessidade de criar e aprimorar técnicas, estratégias e práticas que sejam aplicadas no contexto das organizações. 5 Sampaio (1998, p.21) as três faces da Psicologia do Trabalho, corresponde a as três momentos da história desta psicologia no Brasil, sendo a primeira chamada de Psicologia Industrial, que resumidamente trata-se da seleção e colocação profissional. A segunda é a Psicologia Organizacional foi uma ampliação do objeto de estudo, assim como desenvolveu estudos de aprimoramento dos treinamentos e dos Recursos Humanos, sendo que está psicologia tinha caráter instrumental, o qual valorizava as teorias comportamentais. A terceira face é foi a reposição da Psicologia do Trabalho, como área que buscou levar a compreensão mais próxima do homem que trabalha. Figura 2 – A Evolução do Trabalho Fonte: https://www.dw.com/pt-br/a-evolucao-do-trabalho-ao-longo-da-historia A antiguidade Clássica e o Período Medieval tiveram um baixo desenvolvimento quanto aos modos de produção do trabalho, em comparação com a modernidade. Isso se deve ao fato de que durante os dados primeiros períodos citados, o trabalho não era bem visto. Na antiguidade, a desigualdade entre os homens, eram pautadas sobre o predestinação, só trabalhavam aqueles que não nasciam para pensar (artesão e escravos). Já no período medieval, o trabalho era visto como um castigo divino (pecado), e a desigualdade se davam por Leis Divinas. Com a ascensão do capitalismo e a modernização dos meios de produção, em meados do século XV, na Europa, ocorra uma luta por parte da burguesia que buscava 6 a liberdade comercial, direito lucro dentre outras características que melhorariam o processo de troca, os ideias burgueses deste eram, nesta época, liberdade, igualdade e fraternidade. Com a queda do feudalismo e ascensão da burguesia ao poder, houve umamudança do ponto de vista referente ao trabalho, o qual agora era uma atividade valorizada, a qual na verdade, só tinha propósito de uma determinada organização e disciplina para que o capitalismo fosse adiante – trabalhador se equivale à mercadoria. Conforme a burguesia se destacava, o “povo” perdia espaço, destacava-se então a divergência entre os princípios de luta dos burgueses e o feito por eles. Sem qualquer outra saída, a classe dominada teve de vender sua força de trabalho para garantir a sobrevivência. Houve neste momento uma sobreposição de ideias feita pela burguesia. Figura 3 – Avanço Industrial Fonte:https://jovemnerd.com.br/nerdcast/nerdcast-487-as-engrenagens-da-revolucao-industrial A psicologia começa a aparecer em meados do século XIX, “articulado ás necessidades e contradições do capitalismo, impulsionada pelo progresso cientifico e tecnológico”. Surge de forma literal quando já houve a consolidação da burguesia, porém as psicologias vigentes em época, não viam o homem como um sujeito histórico. A psicologia burguesa tinha por objetivo justificar as naturalidade da 7 produção de mercadorias numa sociedade capitalista e caracterizar em cada indivíduo conforme sua relação com a sociedade. A Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT), inicia-se como Psicologia Industrial, por causa da Revolução Industrial, com o surgimento das fábricas, as relações sociais se transformaram e as organizações tiveram como objetivo minimizar os conflitos seja através de acordo ou por ameaça. A psicologia apareceu como fonte de técnicas aplicadas à busca do bem-estar mental. Os instrumentos teóricos desse novo campo de estudo foram utilizados no recrutamento de soldados e na seleção de empregados para as fábricas. Em 1913, Hugo Münsterberb publicou Psychology and Industrial Efficiency, obra que focalizava, sobretudo, as técnicas de seleção de pessoal e de ajuste funcional. Frederick Taylor baseia-se na divisão do trabalho de modo prático e de fácil supervisão, com o lema da máxima produção e do mínimo custo por meio do estabelecimento do tempo padrão do trabalho. Neste período as jornadas de trabalho foram ficando exaustivas, com até 14 horas diárias e com o ritmo intenso exigido nas indústrias surgiram os primeiros estudos da POT, sobre fadiga, acidentes e fluxos de produção. Nos anos 20 e 30, as atividades dos psicólogos se estenderam ao treinamento dos profissionais e também às investigações de fatores ambientais que afetavam a produtividade, os quais vários desses estudos tinham viés behaviorista. Elton Mayo, foi um importante psicólogo deste período, destacava a importância do “sentimento”, entre gerente e empregado. Iniciou-se um período novo no universo do trabalho, em que a produtividade estava também associada à interioridade do indivíduo, à sua coleção de valores e, principalmente, a seu desejo de aceitação, de pertencer harmonicamente a um grupo, o qual concluiu Mayo. No final dos anos 50, Douglas McGregor, professor do MIT Sloan School of Management, apresentou a teoria X, que funda-se na certeza que o homem é sempre preguiçoso, desobediente, desprovidos de responsabilidades, e avesso a responsabilidade. Na teoria Y, indica que o trabalhador é empreendedor, criativo, disciplinado, auto orientado para atingir os objetivos da empresa e responsável. McGregor destacou, que uma efetiva pratica motivadora, depende de intervenções na subjetividade, para a auto realização, ou seja, é possível unir interesses corporativos e pessoais. Na Europa e nos EUA, a partir dos 50, foi atribuído ao psicólogo à função 8 de criar acordos de cooperação e reciprocidade, o qual de certa forma, já existia nas linhas de produção japonesas, regidas pelo sistema toyotista. Entre as décadas de 70 e 80 a atenção voltava-se para a satisfação dos indivíduos com suas atividades dentro das organizações. O objetivo era diminuir as tensões e os conflitos entre gestores e empregados. A partir dos anos 90, os avanços tecnológicos transformaram a velha sociedade do patrimônio físico, industrial e material para a era da globalização trouxe novos desafios para a psicologia organizacional dos dias atuais. Figura 4 – Organizacional em Empresas Fonte: https://www.psicologia-online.com/que-es-la-psicologia-organizacional Hoje, com o aprimoramento das máquinas e dos meios de produção, o homem tem desempenhado mais as tarefas de liderança, de busca de soluções, de criação. Por outro lado, o emprego ficou mais instável. Os desafios para o trabalhador e para as organizações são diários. O empregado tem de lidar com a realidade de que precisar estar em constante atualização em um mercado altamente competitivo. 9 Atualmente a Psicologia Organizacional, tem a participação da Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho (SBPOT), que nasceu em 2001, que tem por objetivo promover a produção e divulgação do conhecimento cientifico. Em 2003 a 2005, no segundo mandato foi realizado o 1º Congresso Brasileiro de Psicologia Organizacional e do Trabalho (CBPOT). A POT, conta com a FENAPSI, Federação Nacional dos Psicólogos, que aborda o estatuto e regimentos da Psicologia do Trabalho. 1. A Importância da História Ao longo desta disciplina, vamos nos remeter muitas vezes à história, pois ela nos ajuda a compreender como os fatos queocorridos interferem no que acontece na atualidade.Pensar sobre as origens da Psicologia no Brasil é um desafioimportante, pois envolve retomar um pouco da história do paísque, por sua vez, está envolvida na história mundial. Alguns fatosvocê já conhece, já estudou (ou vai estudar) na disciplina História daPsicologia ou, pelo menos, ouviu falar sobre eles, outros poderão Ser novidade para você. Figura Figura 5- História da psicologia Fonte: http://historiabruno.blogspot.com/2013/05/a-historia-da-psicologia.html Assim, não pretendemos esgotar o assuntoaqui, mas apenas resgatar e identificar alguns pontos importantesque nos ajudarão a entender as origens sobre as quais construímos,e continuamos construindo, a nossa profissão.Um rápido levantamento sobre o tema nos mostra que apsicologia começou a ser construída, enquanto objeto de estudono Brasil, desde o início de sua história. Foi se constituindo 10 comocampo de estudo e ciência, mas sabemos que somente muito depois, em 1962, se tornou uma profissão regulamentada e oscursos de psicologia foram criados. Vamos relembrar! Segundo Antunes (2012) os estudos baseados na psicologia existem no Brasil desde a época da colonização, utilizados pelos jesuítas, tanto aqueles aplicados as ações na educação, quanto às questões referentes ao trabalho, naquele momento, ligadas as condições do trabalho e de vida dos escravos, indígenas e africanos. Avançando na história, já se referindo ao período pós independência do Brasil, no século XIX, Antunes (2012) destaca a influência europeia no pensamento psicológico, fundamentado, então, na educação e na medicina. Para se ter uma ideia dessa influência, vale tomar como exemplo que, no Brasil, o primeiro livro que teve no título o termo “Psicologia”, chamado Investigações em Psicologia, foi publicado em 1854, escrito por Eduardo Ferreira França, um brasileiro que obteve seu título em Medicina pela Universidade de Medicina de Paris. A partir do final do século XIX até a década de 30, dá-se um processo de constituição da Psicologia como um campo de saber específico e, segundo a autora: A atuação do Psicólogo no Brasil: Marcos históricosComo vimos, o processo de construção da profissão no Brasil foi longo e influenciado pela evolução dos estudos de psicologia desenvolvidos em outros países, advindos de outras disciplinas/ciências e pela história do país. Em uma tentativa de sistematização e resumo, nos baseamos em estudos de Soares (2010) e Pereirae Pereira Neto (2003) para desenvolver uma “linha do tempo”, mostrando alguns de seus pontos iniciais: Figura 6: Linha do Tempo 11 Fonte: Soares (2010) Segundo Soares (2010), alguns dos eventos de destaque na fase da pré- história da Psicologia, entre 1830-1900, foram: Criação das Faculdades de Medicina nas Universidades do Rio e da Bahia, em 1832. Esses cursos se transformaram em uma fonte de estudos com dos fenômenos psicológicos no Brasil, predominantemente em neuropsiquiatria, psicofisiologia e neurologia. Wind cria o Laboratório de Psicologia Experimental, na Universidade de Leipizig, em 1989. Entre 1840 e 1900, foram defendidas mais de 40 teses no Brasil abordando temas psicológicos. Na segunda fase, A História da Psicologia escrita por Médicos, de 1900-1920, alguns pontos de destaque: A psicologia experimental e os estudos práticos com testes são introduzidos no Brasil, trazendo métodos e técnicas de Psicologia que atendem à necessidade de objetividade e de confiabilidade científica dos estudos. Começam a surgir “laboratórios de Psicologia” em hospitais e clínicas psiquiátricas. Como exemplo: Maurício de Medeiros instala o Laboratório de Psicologia Experimental na Clínica Psiquiátrica do Hospício Nacional. Em 1922, foi criada a Liga Brasileira de Higiene Mental, que promove o interesse pela pesquisa pura e aplicada em Psicologia, por meio das Jornadas Brasileiras de Psicologia. Dez anos depois, a Liga propõe ao Ministério da Educação e Saúde a criação obrigatória de um Gabinete de Psicologia junto às Clínicas 12 Psiquiátricas. No período A história da Psicologia escrita por Educadores, entre 1920- 1960, alguns destaques foram: Os educadores da época, com sólida cultura científica e seu trabalho junto às chamadas Escolas Normais, desenvolveram diversas pesquisas na área de educação e experimentação psicológica. Em 1913, Ugo Pizzolli, catedrático da Universidade de Módena (Itália), criou o Laboratório de Pedagogia Experimental, onde com outros pesquisadores ministrou cursos de psicometria. Em 1924, é fundada a Associação Brasileira de Educação, composta por grandes nomes que influenciaram os rumos da educação no país daquela época com seus estudos e trabalhos, como Henry Pieron, que se dedicou ao ensino de psicologia experimental e psicometria. Em 1934, Lourenço Filho cria o Laboratório de Psicologia Educacional, mais tarde incorporado pela cátedra de Psicologia Educacional da USP (ano de sua criação). Finalizando esse percurso histórico, é importante resgatar o processo de criação legal da profissão, período que Soares (2010) classificou como A Psicologia na Legislação Nacional, que compreende a época de 1920-1960, destacando alguns episódios como: Em 1890, a Reforma Benjamin Constant introduziu noções de Psicologia na disciplina de Pedagogia nas Escolas Normais. Só em 1954 o ensino de Psicologia se tornou obrigatório nos cursos de Medicina. Em 1946, o Decreto-Lei nº 9.092, expedido pelo Ministro da Educação e Saúde, amplia o regime didático das Faculdades de Filosofia, inserindo a obrigatoriedade de que os alunos tenham um curso de Psicologia Aplicada à Educação. No mesmo ano, o Ministro de Educação e Saúde, divulga a Portaria nº 272, definindo as condições para obtenção do título de Especialista em Psicologia, que poderia ser obtido por estudantes de Filosofia, Biologia, Fisiologia e Estatística, desde que complementassem sua formação em Psicologia. • Em 1949, o Ministro da Guerra, expede a Portaria nº 171, com instruções para o funcionamento do Curso de Classificação de Pessoal, na qual incluiu-se o tema “Noções de Psicologia Normal e Patológica”. O diploma desse curso outorga o diploma de Psicólogo. • Em 27 de Agosto de 1962, o Presidente da República, João Belchior Goulart, promulga a Lei nº 4.119, estabelecendo as condições para concessão do diploma 13 legal específico de psicólogos, como especialistas em Psicologia, Psicologia Educacional, Psicologia Clínica e Psicologia Aplicada ao Trabalho. • Em 1964, a Lei nº 4.119 foi regulamentada pelo Presidente da República pelo Decreto nº 53.464. • Em 20 de Dezembro de 1971, o Presidente da República, Emílio Garrastazú Médici, promulga a Lei nº 5.766, que criou Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Psicologia. Essa lei foi regulamentada em 1977, pelo então Presidente da República, Ernesto Geisel. • O primeiro Código de Ética dos psicólogos foi criado com a Resolução nº 8, de 2 de fevereiro de 1974, do Conselho Federal de Psicologia. 4. DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO NO BRASIL 14 O desenvolvimento da psicologia organizacional e do trabalho no Brasil acompanhou as mudanças mundiais, destacando-se inicialmente em um nível mais genérico, a psicologia geral. Seu aparecimento está associado à crescente industrialização dos principais países do cenário ocidental, no fim do século XIX e início do século XX. A partir do processo de regulamentação da profissão de psicologia na década de 1960, foi possível incluir fatos, eventos e estudos, os quais mencionam a POT (BORGES, 2010). Apesar do ingresso da psicologia organizacional nos estudos de psicologia, essa passava uma visão de compromisso com setores ideologicamente conservadores, fazendo com que pesquisadores criassem certa distância de pesquisas voltadas para a área. Contudo, com o crescente e visível aparecimento de indústrias passou-se a questionar a ação da POT, e de que maneira essa poderia auxiliar nos processos funcionais das empresas (BORGES, 2010). Diante desse processo, foi nas universidades, principalmente em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Pernambuco, que aconteceram as primeiras experiências em psicologia organizacional, no que se refere à psicometria (WELL, 2005). A partir desse contexto iniciou-se a utilização dos testes, nomeados psicotécnicos, tendo sido destinados à área do trabalho, a fim de realizar seleção profissional. Com o avanço das tecnologias, a mudança de contexto cultural e social, as pesquisas apresentaram aumento significativo. O âmbito empresarial mostra a necessidade da presença de psicólogos para o desenvolvimento corporativo. Figura 7: Psicologia Organizacional Fonte: https://blog.softwareavaliacao.com.br/psicologia-organizacional Somando-se, vale registrar que aliados ao crescimento da psicologia organizacional e ao surgimento de pesquisadores, estão ações institucionais de 15 associações científicas como a SBPOT (Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho) e a ANPEPP (Associação Nacional de Pesquisa e Pós- graduação em Psicologia) (BORGES-ANDRADE; PAGOTTO, 2010). Em decorrência da necessidade de se construir caminhos inovadores e saudáveis para o exercício do trabalho e responder às exigências do mercado brasileiro, a POT atualmente, ocupa importante espaço como atividade profissional. É válido salientar que as demandas modificam-se junto com a sociedade e a cultura, desse modo, o psicólogo deve estar aberto à incorporação de novas intervenções e ampliação dos objetivos de seu trabalho. Segundo Spector (2005, p. 7) “psicologia é a ciência do comportamento humano (e não humano), da cognição, da emoção e da motivação”. Ela pode ser dividida em várias especializações, algumas delas se preocupam somente com o próprio conhecimento da psicologia como ciência, enquanto outras se voltam também para a aplicação daquela ciência. A psicologia organizacional está inserida nesta última categoria ocupando-se tanto da ciência psicológica como com a sua aplicação aos problemas das pessoas nas organizações. O campo da Psicologia Organizacional possui duas divisões principais: a industrial (de recursos humanos) e a organizacional.Apesar destes dois conteúdos se sobreporem e não poderem ser facilmente separados, tradicionalmente eles têm origens diferentes. A parte industrial, que deu início a este campo de atuação é a mais antiga e busca gerenciar a eficácia organizacional por meio do uso adequado dos recursos humanos. Ela se preocupa com a questão de eficiência no projeto de tarefas, seleção e treinamento de funcionários e avaliação de desempenho. Figura 8 – Relações Humanas nas empresas Fontehttps://www.ibccoaching.com.br/portal/conheca-teoria-de-relacoes-humanas A parte organizacional se desenvolveu a partir do movimento das relações humanas nas empresas. Seu foco no trabalhador como indivíduo é maior do que a 16 existente na parte industrial. Ela se preocupa em entender e compreender o comportamento individual e aumentar o bem-estar dos colaboradores no ambiente de trabalho. Os aspectos organizacionais abordam o comportamento e as atitudes dos funcionários, o estresse no trabalho e práticas de supervisão. 1. A Relação das Indústrias e a Psicologia Organizacional Como podemos observar a área industrial e organizacional não podem ser distinguidas com clareza, e juntas elas sugerem toda a amplitude da psicologia organizacional (SPECTOR, 2005). Aguiar (2002) coloca que “a psicologia organizacional no seu processo de desenvolvimento histórico enquanto ciência aplicada, tem se dedicado à adequação dos indivíduos membros da organização aos fins por ela definidos”. Isto caracteriza uma razão técnica identificada pela utilização dos indivíduos como meio para atingir objetivos determinados pela organização. Figura 9 – Psicologia Organizacional e do Trabalho no mundo Fonte:https://www.timetoast.com/timelines/surgimento-da-psicologia-organizacional-e-do-trabalho A psicologia organizacional utiliza técnicas e instrumentos que atuam desde a seleção a partir de critérios pré-determinados pela empresa como características de personalidade, valores e sentimentos. O verdadeiro papel da seleção é atender a 17 demanda da organização, admitindo pessoas que se moldem a ela e que se integrem à sua cultura e filosofia, sem questionamentos. O desenvolvimento da psicologia organizacional e o do trabalho no Brasil acompanharam as ocorrências mundiais relativas à área. Seu aparecimento está associado à crescente industrialização que ocorreu nos principais países do cenário Ocidental, no fim do século XIX e início do século XX (ZANELLI & BASTOS, 2004). Segundo Zanelli & Bastos (2004) a busca de critérios e procedimentos para atender as demandas de avaliação e seleção de pessoal para as indústrias em grande expansão e de militares para o exército fez com que os métodos e teorias tivessem seus primórdios na área. O desempenho e eficiência no trabalho constituíram, desde o começo, preocupações que orientam as atividades dos psicólogos nas organizações. Figura 10 – Psicólogos Fundadores Fonte: https://slideplayer.com.br/slide Dois psicólogos são considerados os principais fundadores da área: Hugo Munsterberg e Walter Dill Scott eram psicólogos experimentais e professores universitários que se envolveram na aplicação de técnicas da psicologia para resolver problemas em organizações.Munsterberg estava mais interessado na seleção de pessoal e no uso de novos testes psicológicos, mas por falta de apoio dos colegas da universidade ele acabou mudando para a nova área da psicologia industrial. Scott 18 também tinha os mesmos interesses de Munsterberg, assim como na Psicologia da publicidade. Cada um deles escreveu um livro sobre esses tópicos, incluindo The Theory of Advertissem, de Scott, e Munsterberg escreveu o primeiro compêndio sobre Psicologia Organizacional, com o título Psychology and Industrial Efficiency (SPECTOR, 2005). De acordo com Spector (2005, p. 14): A principal influência sobre o campo foi o trabalho de Frederick Winslow Taylor, um engenheiro que estudou longamente a produtividade de funcionários em sua carreira. Taylor desenvolveu o que ele chamava de administração científica como uma abordagem para manejar os operários de produção em fábricas. (Spector, 2005, p.14). Ainda segundo este autor, a administração científica inclui diversos princípios para orientar as práticas organizacionais.Em seus escritos Taylor sugeriu o seguinte: 1. Cada trabalho deve ser analise com atenção, para que o modo otimizado de executar as tarefas possa ser especificado; 2. Os colaboradores devem ser contratados de acordo com as características relacionadas ao desempenho do trabalho. Os gerentes devem estudar os funcionários para descobrir quais características pessoais são importantes; 3. Os funcionários devem ser treinados para executar suas tarefas; 4. Os funcionários devem ser recompensados por sua produtividade para incentivar melhor desempenho. Podemos observar que apesar de mudanças e ajustes ocorridos ao longo dos anos, estas ideias ainda são consideradas importantes nas organizações até hoje.Para Zanelli & Bastos (2004) as raízes que vinculam a Psicologia com o trabalho, são encontradas no final do século XIX, fora dos Estados Unidos da América. Em 1889, Patrizi fundou o Laboratório da Psicologia do Trabalho em Moderna, Itália. Kraeplin, na Alemanha e Mosso, na Itália, nos anos 90, investigaram aspectos psicofisiológicos ligados à fadiga e a carga de trabalho. Partindo das ideias de Taylor, Frank e Lilian Gilbreth passaram a investigar a forma pela qual as tarefas são realizadas pelas pessoas, desenvolvendo o que veio a ser chamado estudo do tempo e movimento. Estes estudos, cerne de uma perspectiva taylorista para potencializar a eficiência do desempenho no trabalho, estiveram na base do campo denominado Fatores Humanos, voltado para analisar e projetar ambientes de trabalho e tecnologias que levassem em consideração as características humanas. 19 Depois o avanço desta área ocorreu de modo tão rápido quantos as exigências dos acontecimentos do mundo impuseram, como nas grandes guerras na primeira metade do século XX, quando os testes psicológicos tiveram longo uso e desenvolvimento, para atender as seleções de recursos humanos (ZANELLI & BASTOS, 2004). Figura 11 – Guerra Mundial Fonte: https://www.psicologia-online.com/la-segunda-guerra-mundial-y-la-psicolgia-social Durante as décadas entre as duas guerras mundiais, a psicologia organizacional cresceu para a maioria das áreas nas quais é utilizada hoje. À medida que as organizações foram ficando maiores, elas começaram a contratar psicólogos organizacionais para atender a muitos de seus inúmeros problemas funcionais, principalmente aqueles que eram relevantes para a produtividade.Em 1921, a Penn State University concedeu o que muitos consideravam o primeiro título de PhD chamado naquele tempo de Psicologia Industrial, a Bruce V. Moore. Os psicólogos organizacionais começaram a montar empresas de consultoria que podiam oferecer serviços às empresas mediante remuneração. A mais conhecida destas consultorias foi a Psychological Corporation, fundada em 1921 por James 20 Mckeen Cattell, e que se mantêm ativa até hoje.Um dos mais importantes eventos desse período foram os estudos de Hawthorne, que duraram por mais de dez anos na Western Eletric Company, nos Estados Unidos (SPECTOR, 2005). Segundo Zanelli & Bastos (2004, p 468) “as investigações de Elton Mayo na Western Eletric Company, marcaram as décadas de 20 e 30 e revelaram a importância de considerar fatores sociais ligados às situações de trabalho”. As ciências do comportamento atingiram relevância no mundo dos negócios. Mayo divulgou The human problems of industrial civilization, em 1933, um livro que sintetizou as descobertas daqueles estudos e deu impulso à Era das Relações Humanas.O campo de aplicação até meados da década de 30 estava direcionadoa estudos e intervenções juntos aos incentivos financeiros, como treinamento, fadiga e monotonia, luminosidade e ventilação, testes de admissão, estudos de tempo e movimentos, turnos de trabalho, segurança e disciplina. Nas décadas seguintes, cresceu também para outros países industrializados, além dos EUA, as atividades dos psicólogos e de outros profissionais ligados à Ciência do Comportamento, dirigiram-se para os incentivos financeiros como liderança e supervisão, relações interpessoais, comportamentos e atitudes, moral, avaliação de executivos, relação homem-máquina, entrevistas e aconselhamentos (ZANELLI & BASTOS, 2004). A segunda guerra mundial provocou um efeito estimulador sobre o desenvolvimento da disciplina, com muitos psicólogos de todas as áreas e especialidades contribuindo para o esforço de guerra. Com o resultado da guerra, as portas da psicologia aplicada se abriram, e criou uma divisão para a Psicologia Comercial e Industrial em 1944 e hoje conhecida com SIOP (Sociedade de Psicologia Industrial e Organizacional). Com o final da guerra, as duas áreas da Psicologia Organizacional continuaram a crescer, e por demonstrar seu valor à sociedade, as empresas privadas passaram a ter interesse cada vez maior no campo, implantando muitos procedimentos como os testes psicológicos (SPECTOR, 2005). Segundo Spector (2005) outro acontecimento que ajudou a formar o campo da psicologia organizacional foi a aprovação de da Lei dos Direitos Civis de 1964 nos Estados Unidos, colocando em movimento as forças que causaram um grande impacto na forma das organizações contratarem e lidarem com seus colaboradores, sendo necessário a mudança de muitas práticas antes discriminatórias. 21 Os psicólogos foram chamados a elaborar procedimentos que pudessem eliminar a discriminação no ambiente de trabalho. Em 1991, houve a criação da lei que beneficia as pessoas inválidas e deficientes e outra vez os psicólogos foram chamados para encontrar meios de eliminar mais este problema envolvendo a discriminação. Até agora estudamos a Evolução Histórica da Psicologia Organizacional nos Estados Unidos que é onde foi iniciada. Agora falaremos um pouco sobre este processo no Brasil e nos demais países do mundo. Segundo Zanelli & Bastos (2004, p. 473):Até quase o final do século XIX, a economia brasileira era essencialmente escravocrata. Com o aumento do fluxo migratório e a chegada dos imigrantes europeus, deu-se início ao cultivo do café foram incrementadas as manufaturas e pequenos negócios, sobretudo nas regiões sul e sudeste. (Zanelli & Bastos, 2004, p. 473).Uma figura importante neste período foi o Visconde de Mauá, cuja diversidade nos setores de atuação e sucesso nos negócios fez atrair o capital estrangeiro. Mais estrangeiros buscaram o país nas primeiras décadas do século XX. Figura 12 - Visconde de Mauá – Irineu Evangelista de Sousa Fonte:https://unifei.edu.br/personalidades-do-muro/extensao/visconde-de-maua-irineu-evangelista-de- sousa/ Irineu Evangelista de Sousa, Visconde de Mauá (Arroio Grande, 28 de dezembro de 1813 – Petrópolis, 21 de outubro de 1889) foi um comerciante, armador, industrial e banqueiro brasileiro. Ao longo de sua vida foi merecedor, por contribuição à industrialização do Brasil no período do Império (1822-1889), dos títulos nobiliárquicos primeiro de barão (1854) e depois de Visconde de Mauá (1874). Foi pioneiro em várias áreas da economia do Brasil. Dentre as suas maiores realizações, encontra-se a implantação da primeira fundição de ferro e estaleiro no país, a construção da primeira ferrovia brasileira, a estrada de ferro Mauá, no atual estado do Rio de Janeiro, o início da exploração 22 do rio Amazonas e afluentes, bem como o Guaíba e afluentes, no Rio Grande do Sul, com barcos a vapor, a instalação da iluminação pública a gás na cidade do Rio de Janeiro, a criação do terceiro Banco do Brasil (o primeiro, de 1808, concretizou em 1829 a possibilidade existente em seu estatuto de se dissolver ao final de 20 anos), e a instalação do cabo submarino telegráfico entre a América do Sul e a Europa. Primeiro como barão, título recebido após construir a primeira estrada de ferro da América do Sul, e vinte anos depois, Visconde de Mauá, Irineu Evangelista de Sousa é o principal representante dos primórdios do capitalismo na América do Sul, ao incorporar e adotar, no Brasil, ainda no período do Império brasileiro (1822-1889), em suas empresas, os recursos e maquinários aplicados na Europa e nos Estados Unidos no período da Revolução Industrial do século XIX. É considerado, pelos registros históricos, como o primeiro grande industrial brasileiro. Foi um dos grandes opositores da escravatura e do tráfico de escravos, entendendo que somente a partir de um comércio livre e trabalhadores libertos e com rendimentos poderia o Brasil alcançar situação de prosperidade. Nascido em uma família de proprietários de pequena estância de criação de gado no Rio Grande do Sul, na fronteira com a República do Uruguai, Irineu Evangelista de Sousa ascendeu socialmente pelos seus próprios méritos, estudos e iniciativa, sendo considerado um dos empreendedores mais importantes do Brasil, no século XIX, estando à frente de grandes iniciativas e obras estruturadoras relacionadas ao progresso econômico no Segundo Reinado. De início incompreendido e contestado por uma sociedade rural e escravocrata, hoje é considerado o símbolo dos empreendedores capitalistas brasileiros do século XIX. Foi precursor, no Brasil, do liberalismo econômico, defensor da abolição da escravatura, da valorização da mão de obra e do investimento em tecnologia. No auge da sua carreira (1860), controlava dezessete empresas localizadas em seis países (Brasil, Uruguai, Argentina, Inglaterra, França e Estados Unidos). No balanço consolidado das suas empresas em 1867, o valor total dos ativos foi estimado em 115 mil contos de réis (155 milhões de libras esterlinas), enquanto o orçamento do Império, no mesmo ano, contabilizava 97 mil contos de réis (97 milhões de libras esterlinas). Sua biografia ficou conhecida, principalmente, pela exposição de motivos que apresentou aos credores e ao público ao ter a falência do seu banco, a Casa Mauá & Cia., decretada em 1878. 23 Antunes (1998, apud ZANELLI & BASTOS, 2004 p. 473) coloca que psicologia aplicada ao trabalho surge nesta época, ligada às tentativas de racionalização e à procura de um caráter científico e inovador no controle dos processos de produção, exigindo assim maior eficiência econômica sob o argumento de melhoria das condições de trabalho dos operários. Nesta mesma época Léon Walther trouxe a psicotécnica para o país que foi colhido como um instrumento para colocar em práticas as teorias de Taylor. Posteriormente Henri Piéron iniciou os estudos dos testes psicológicos, também em curso sobre Psicotécnica, ministrado na Escola Normal de São Paulo. As primeiras aplicações de testes foram em 1924, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, sob direção do Roberto Mange. A partir daí houve a expansão da aplicação de testes psicológicos na seleção de pessoas. Em 1930 foi criado o Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT) para atender as expectativas dos empresários, treinando profissionais para a aplicação do Psicotécnico, que passou a ter considerável penetração nas empresas. O IDORT teve grande participação e importância para a aplicação da Psicologia do Trabalho no Brasil (ZANELLI & BASTOS, 2004). Podemos observar que a inserção da psicologia no mundo do trabalho acompanhou as mudanças industriais e veio se tornando uma necessidade dentro das grandes empresas, um trabalho que tinha um foco inicial somente na seleção de funcionários foi se expandindo e ganhando seu espaço o que a tornou essencial para as organizações do mundo moderno. SegundoZanelli & Bastos (2004) em um estudo importante realizado na década de 80 o Conselho Federal de Psicologia traçou uma descrição da atuação do psicólogo no Brasil, pontuando dificuldades que envolviam a atuação profissional e sinais de que as transformações ocorridas estavam começando a traçar novos afazeres ou novas práticas nos diversos campos da psicologia. A este núcleo também se agregam outras funções clássicas da gestão de pessoas: treinamento e avaliação de desempenho. É perceptível também o aparecimento de algumas atividades que podem ser consideradas modernas e não vinculadas tão estritamente ao modelo tradicional do psicólogo organizacional, entre elas: planejamento e execução de projetos, os diagnósticos situacionais e as funções de assessoria e consultoria. Tais atividades mostram um tipo de inserção profissional diferente por ampliarem o nível de intervenção frente aos problemas organizacionais, 24 levando o psicólogo a lidar com problemas mais complexos e globais das organizações. A pesquisa mostra ainda, o aumento de psicólogos em atividades administrativas, de planejamento, consultoria, supervisão e assessoria.A crítica de diversos autores e profissionais da área sobre o modelo clássico de atuação do psicólogo organizacional ajudou a consolidar linhas de atuação inovadoras. Linhas estas que nascem das transformações no mundo do trabalho decorrentes do aumento do mercado interno e da competitividade entre as empresas que passam a exigir novas competências e formas de trabalho. Com relação à prática da psicologia organizacional, podemos dizer que ela muda de acordo com o país e região. Nos Estados Unidos a psicologia organizacional dedica sua atenção para a parte industrial e menos para parte organizacional.No Canadá e na Europa, a prática concentra-se um pouco mais na direção organizacional. Em partes isso ocorre devido ao forte movimento dos sindicatos nesses lugares, que depositam mais atenção nos direitos dos funcionários. 2. Psicologia Industrial: Análise do Trabalho Nessa linha, é importante ressaltar que a psicologia estava buscando se consolidar como ciência e, portanto, os pesquisadores buscavam determinar métodos científicos próprios da psicologia e promover as primeiras formas de aplicação desse conhecimento.Como acabamos de discutir, essa aplicação específica no campo da Psicologia Industrial se deu na seleção e avaliação de profissionais. Pois bem, para fazer isso os psicólogos tiveram que desenvolver uma forma de compreender o trabalho a ser desempenhado pelos futuros operários das fábricas e militares. Utilizaram as teorias e estudos existentes, como o Estudo de Tempo e Movimento, que possibilitou a racionalização dos métodos de trabalho e a fixação do tempo necessário para a realização de cada tarefa. Esse estudo foi desenvolvido a partir da observação de operários na execução de tarefas comuns ao cargo. Tempo e posterior análise sobre a melhor forma de desenvolver uma determinada tarefa, visando economia de tempo e rapidez na sua conclusão, ou seja, produtividade (Dourado, 2010). Assim, surgiu a metodologia de Análise do Trabalho, ainda utilizada 25 Atualmente. Considerando a evolução de estudos e aplicação no campo, pode ser definida como: “o método de identificação e avaliação dos fatores que podem determinar ou influenciar o volume potencial de resposta do ser humano às solicitações que lhe são feitas no desempenho das tarefas, as quais se realizam em Condições que mudam sem cessar” (NAGUEL; DENCK, 2007, p. 21). Ainda segundo os autores, a análise do trabalho inclui a consideração de: características do trabalho, características do trabalhador econdições de execução do trabalho. Seus objetivos incluem, não só fornecer informações para seleção de pessoal, mas também para a gestão de treinamento, remuneração, avaliação de desempenho, periculosidade e insalubridade, dentre outros aspectos (NAGUEL; DENCK, 2007). 5. AS FORMAS DE TRABALHO AO LONGO DA HISTÓRIA Essa delimitação inicial é fundamental para que possamos compreender como essa história transformou a forma de se trabalhar e sua organização desde a pré- história até os dias de hoje. Para compreendermos esse longo e rico trajeto desenvolvido, vamos tentar sintetizá-lo em alguns períodos e informações essenciais, mostrando em cada um deles a forma de trabalho predominante. Quando dizemos que a história do trabalho está ligada à história da humanidade, não é exagero, pois desde a Pré-Históriao homem já trabalhava. Nesse período, o trabalho era aplicado na busca da sobrevivência da espécie humana, sendo inicialmente baseado na caça, pesca e colheita de frutos silvestres. Nesse período, o homem já vivia em grupos, residia em cavernas e era nômade, ou seja, mudava de lugar em função da disponibilidade de recursos para sua sobrevivência. Já nesse período, o ser humano teve que desenvolver ferramentas (pedra lascada, ossos) e técnicas específicas para essas atividades. 26 Mais tarde, com o domínio do fogo, o homem começou a desenvolver técnicas de plantio e domesticação de animais. Com isso, passou a fixar-se em terras produtivas, o que possibilitou o início da formação de agrupamentos e a divisão sexual do trabalho, quando as mulheres teriam ficado com responsabilidade pela criação dos filhos e pelo plantio, e os homens pela caça. A partir do desenvolvimento de ferramentas utilizando metais (princípios da metalurgia), foi possível aumentar a produção e o estoque de alimentos, podendo-se realizar trocas de excedentes com outros grupos, como se fosse o início de uma atividade comercial, mas ainda só havia o trabalho. Figura 13 - O Trabalho na pré-história 27 Fonte:https://pt.slideshare.net/pre-historia/prhistria-10177199 1. Idade Antiga Já na Idade Antiga, começaram a se formar agrupamentos maiores, que mais tarde deram origem às cidades (polis), sendo que as grandes civilizações da época situavam-se na Europa, Ásia e norte da África (por exemplo, as civilizações romana, grega e egípcia). Conforme as lutas pelo domínio de terras aumentavam, o comércio se expandia e os “mais fortes” foram acumulando poder e recursos. Assim, foi se criando uma divisão do trabalho, em que os senhores de terras eram donos da “força de trabalho” dos demais, que eram escravos. Havia, também, parte da população que era “livre”, tal como os artesãos, que tinham como ocupação aprodução de armas e artefatos ligados à necessidade dos senhores e guerreiros. O fim dessa era foi marcado pela queda dos impérios. Já havia, então, o que chamamos de trabalho (escravo) e ocupação (dos artesãos, que, comparada aos dias de hoje, seria o trabalho autônomo ou empreendedorismo). Na transição para a Idade Média, o trabalho escravo foi sendo substituído pelo trabalho dos camponeses, e a relação estabelecida era de “servidão”. Essa relação era diferente da escravidão, pois o servo era livre para sair dos domínios do senhor das terras e ir para onde quisesse, desde que não tivesse dívidas junto ao “senhor”. Também não havia remuneração, a troca era de trabalho (agricultura, criação de animais) pelo direito de permanecer nas terras (feudo). Os senhores feudais, por sua vez, pagavam impostos ao reinado a que pertenciam. Nesse período havia “trabalho” e “ocupação”, mas não “emprego”. 28 2. Idade Moderna Na Idade Moderna, com o comércio cada vez mais crescente e lucrativo, e com o crescimento da população nas cidades, teve início uma nova configuração econômica e social. Os donos do capital, predominantemente mercadores (hoje seriam como empresários e comerciantes), começaram a formar uma nova classe social: a burguesia (comparável a atual classe média/alta). Com isso, foram constituindo empresas,baseadas no comércio e nas primeiras indústrias. Nesse período, na Inglaterra, houve a Reforma Protestante, promovida por Martinho Lutero, que pregava uma “nova ética do trabalho”, segundo a qual trabalhar de forma árdua, diligente e abnegada equivalia a cultivar a virtude, ligando o trabalho a religião. Assim, unindo demanda e procura, as empresas começaram a captar mão de obra para o trabalho e inicia-se a constituição da ideia de “profissão” e “emprego”. Os trabalhadores, que começaram a vender a sua força de trabalho, constituíram também uma nova classe social: o proletariado. Foi ainda nesse período que ocorreu a Revolução Industrial, também na Inglaterra, transformando de forma significativa a Forma de trabalhar e as relações de trabalho, a partir da criação de máquinas à vapor, que produziam mais e em menos tempo. Ao mesmo tempo, as indústrias começaram a substituir a força braçal mão de obra humana sem qualificação) e absorver mais mão de obra qualificada (agora para operar as “novas máquinas”). 6. A ORGANIZAÇÃO SOCIAL DO TRABALHO Toda a história que vimos até agora, além de ilustrar o caminho que a “noção de trabalho” percorreu ao longo do tempo, mostra também que ele: • Esteve ligado à evolução da espécie humana desde seus primórdios, sendo essencial para sua sobrevivência. • Exigiu a aplicação das capacidades físicas e intelectuais do homem para a criação de novas ferramentas e tecnologias para desenvolvê-lo com cada vez mais eficiência e produtividade. • Teve sua evolução marcada por mudanças ocorridas no contexto social, econômico e político de cada época, ou seja, como parte desse contexto. 29 • Foi condicionado, desde o início, ao atendimento das demandas pessoais ou coletivas de cada período. • Sofreu influência e influenciou as relações de poder, de capital e das tensões que essas relações provocam. Pois bem, vamos pensar nessas relações tomando como base a história e a contexto brasileiro, mas forma resumida, afinal essa história você conhece. Figura 14: Extração do pau-brasil Fonte: https://www.historiadetudo.com/pau-brasil O Brasil entra nessa história a partir de seu descobrimento, ou seja, na Idade Moderna, no momento em que os países, recém constituídos depois de muitas guerras, buscavam expandir seu poder através do comércio. No primeiro período (entre 1550-1530), chamado Pré-Colonial, o objetivo era basicamente extração do pau-brasil e, para tanto, os portugueses contaram com o trabalho exercido pelos arrendatários de terra (degradados de Portugal), apoiados pelo trabalho de indígenas. Esse trabalho era baseado no escambo, ou seja, troca da força de trabalho por objetos e utensílios que eram do interesse dos nativos. Já a fase Colonial representa a intenção de povoar e ocupar o território conquistado, defendendo-o de outros países interessados nas outras riquezas descobertas (ouro, pedras preciosas, etc.). Nesse momento, as relações de trabalho com os indígenas mudaram. Estes foram tornados escravos para trabalhar nos engenhos de açúcar, que demandavam um grande volume de mão de obra. O trabalho escravo dos indígenas foi 30 gradualmente sendo substituído pela escravidão de negros africanos (de 1538 até 1888). Havia também os colonos, que eram relativamente livres e exerciam funções como pequenos comerciantes e artesãos ou trabalhavam nas terras como capatazes (portanto, empregados). Muitas vezes, abandonavam o trabalho nas terras em busca de aventuras e maiores ganhos (como parte das expedições e mineração). Figura 14 – Proclamação Da Republica Fonte:https://www.históriabrasil.com.br/enem/historia/proclamacao-da-republica Depois desse período, muitos acontecimentos históricos importantes ocorreram no Brasil. Apenas para citar alguns deles, destacamos: a vinda da Família Real (em 1808), que transformou o Brasil em sede do governo de Portugal; a Independência do Brasil (21/04/1822), que libertou o país do domínio político, administrativo, econômico e social de Portugal; a Abolição de Escravatura (Lei Áurea”), em 13/05/1888, que pôs fim a escravidão no país; e a Proclamação da República, em 15/11/1899, que mudou o regime de governo de Monarquia para República que, novamente, provocou profundas transformações em todos os níveis da vida brasileira. Mesmo com tanta ebulição, quando se trata das formas de trabalho no Brasil o quadro das relações de trabalho sofreu alterações significativas. Porém, mantivemos, concomitantemente, uma mistura de trabalho escravo com o aumento da diversidade de ocupações, como o trabalho autônomo (artesãos, trabalho de intelectuais e 31 políticos) e o fortalecimento do empresariado (comércio, agricultura e primeiras indústrias), gerando algumas formas de emprego mais próximas das que conhecemos hoje. A revolução industrial, que ocorreu na Inglaterra, no final do século XVIII, alcançou o Brasil apenas por volta de 1930. Essa nova forma de trabalho, agora “emprego assalariado”, gerou desemprego dos trabalhadores brasileiros sem qualificação, que foram substituídos por imigrantes europeus, com mais qualificação, que foram substituídos por imigrantes europeus, com mais qualificação, na época. 32 1. 2. REFERÊNCIAS MACALVES1. Evolução Industrial no Brasil. 29 abr. 2010. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=0rp7CiqXlmk>. Acesso em: 15 fev. 2018. SENA e SILVA, M. de F. e BRAZ DE AQUINO, C. A. (orgs). Psicologia social: desdobramentos e aplicações. São Paulo: Escrituras Editora, 2004 – Coleção Ensaios Transversais, cap. 4, p. 93-113. SAMPAIO, J.R. Psicologia do Trabalho em três faces. In. GOULART, Íris; Sampaio, Jader R. (Orgs.). Psicologia do Trabalho e gestão de recursos humanos: estudos contemporâneos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998, p. 19-40. ZANELLI, José Carlos et al. Organizações de trabalho: compreensão e intervenção baseadas em evidências. Porto Alegre: Artmed, 2010. WELL, Pierre. Evolução da psicologia industrial e organizacional no Brasil. Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada, Rio de Janeiro, v. 24, n. 3, p. 7-13, set. 2005.