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Universidade de Brasília Instituto de Física Introdução à análise e produção de materiais didáticos para o ensino de ciências: uma abordagem comunicativa Prof. Paulo Lima Junior O desafio da comunicação Um dos principais desafios do ensino de ciências é a comunicação. De fato, nós, professores de ciências, somos conhecidos por não nos comunicarmos bem com nossos alunos. E você? Como avalia sua capacidade de comunicação? O mais interessante de responder à pergunta acima é perceber que, por trás de cada resposta, existe uma imagem presumida de “bom professor” (Lima Junior et al., 2021). Quando você avalia sua capacidade de comunicação, em quem você pensa? Nos colegas mais eloquentes e desinibidos que escrevem terrivelmente mal? Nos colegas mais divertidos que não têm nada a dizer? Você acredita que uma pessoa tímida pode se uma boa comunicadora? No que você pensa ao avaliar sua capacidade de comunicação? De todos os equívocos típicos, o mais preocupante talvez seja a confusão que se faz entre comunicar e fazer comunicados (Freire, 1974). Quem comunica de verdade escuta o que foi dito antes, dirige-se aos outros, acolhe e valoriza as respostas, pensa a partir delas. Os que fazem comunicados estão cronicamente preocupados com questões de autoridade, correção, eloquência e aprovação. Não que essas questões devam ser ignoradas, mas não devemos estar cronicamente preocupados com elas. Introdução à análise e produção de materiais didáticos 2 Para os professores que só fazem comunicados, basta que estejam corretos em suas declarações e que sejam admirados pelo que dizem. Eles transformam a comunicação em uma experiência narcísica que só pode se protagonizada por eles mesmos. Quanto a isso, é importante lembrar que comunicados nem sempre são enfadonhos. Na verdade, eles podem se muito divertidos! O que lhes falta é abertura ao diálogo. Divertidos ou não, a maioria dos fazedores de comunicado pode ser substituída, com vantagem, por uma boa vídeo-aula no YouTube. E você? Consegue perceber a diferença entre comunicar fazer comunicados? A comunicação verdadeira não é solipsista nem ensimesmada. Todo comunicador supõe uma audiência à qual deve seu desenvolvimento e amadurecimento. Com silêncio e aplauso, com críticas ácidas ou irônicas, com sua admiração seletiva, o auditório participa ativamente do espetáculo. Na arte, o teatro não é o lugar de exposição de um ator pronto. Ele é a forja que inflama o ator. Se há brilho, é porque ele consegue arder, fundir-se e assumir novas formas. Ao nos comunicarmos verdadeiramente, somos todos postos à prova e transformados pelo olhar crítico do público, que nunca deixa de nos avaliar. Em última análise, assim como o auditório faz o apresentador, a escola faz o professor. Só pode ser um bom comunicador quem conhece sua audiência, quem travou muitas batalhas com ela e por ela. Igualmente, não pode ser um bom professor de ciências quem não enfrentou seus desafios: o desafio de entender e de se fazer entender, o desafio de fazer com que a ciência mobilize cidadãos fora da comunidade científica, o desafio de permitir que os estudantes se identifiquem como pessoas de ciências, o desafio da participação social... A lista não tem fim. E você? Quais lutas travou na escola e pela escola? Quais desafios do ensino de ciências ocupam seu horizonte? Neste texto, vamos explorar o caráter comunicativo dos materiais didáticos produzidos para o ensino de ciências. Ele está direcionado a professores em formação inicial ou continuada que tomaram para si o desafio de desenvolver seus próprios materiais. Vamos falar muito sobre diálogo, autoria e criatividade. De fato, todos os materiais didáticos ganham muito se não forem concebidos enquanto comunicados, mas como ferramentas Prof. Paulo Lima Junior (UnB) 3 de comunicação. Aqui, darei especial atenção a materiais baseados em textos orais ou escritos, tais como: 1. livros didáticos ou paradidáticos; 2. hipertextos e hipermídias; 3. podcasts ou videoaulas. Nenhum professor ou professora se envergonha de estar em processo de formação. Só uma pessoa tola se considera acabada. O primeiro passo no processo de formação do professor-comunicador é a leitura, mas essa leitura precisa ser diferente da que vivemos quando alunos. Ela precisa ser mais atenta, crítica, analítica. Sendo assim, meu primeiro convite para quem deseja se tornar autor de seus materiais é o seguinte: Leia e analise muito atentamente os materiais produzidos por outras pessoas. Ao final deste texto, você encontrará um dispositivo analítico que poderá orientar sua leitura crítica de outros materiais didáticos antes que você parta para a produção de seus próprios materiais. O desafio dos textos didáticos e científicos A maneira como a maioria de nós aprendeu a consumir textos científicos geralmente subestima o fato de que todo texto é um elo na cadeia de comunicação (Bakhtin, 2016). Nas ciências da natureza, é bastante comum lidamos com textos especializados como se eles fossem o registro conciso de ideias consideradas, ao mesmo tempo, abstratas e objetivas. Em ciência, nós costumamos avaliar as afirmações como verdadeiras ou falsas, comparando-as com uma verdade científica idealizada. Mas até que ponto a ciência existe fora de suas situações concretas de comunicação? Obviamente, leis e teoremas são sempre declarados e aperfeiçoados por pessoas concretas, situadas na história, na cultura, na sociedade. Entre muitas outras coisas, o desenvolvimento científico depende de não encararmos todas as declarações científicas como definitivas. As mais relevantes são debatidas, confrontadas, aperfeiçoadas pela comunidade. Sendo assim, por solitário que o cientista possa se sentir, o processo de produção do conhecimento científico tem sempre a forma de um grande diálogo que, marcado pela crítica mútua, mobiliza várias pessoas da comunidade científica. https://www.youtube.com/watch?v=RhiKsHjHvok Introdução à análise e produção de materiais didáticos 4 Da mesma maneira, se nós encararmos os livros didáticos como autoridade rígida, se assumimos que a única maneira de escrever sobre ciência é aquela por meio da qual apendemos, não nos restará muito a fazer senão repetir o que já está escrito. Em suma: O reconhecimento do caráter dialógico da ciência e de sua didática abre espaço para nossa participação. Pensar os textos didáticos e científicos como turnos de fala e não como registros estáticos de uma verdade objetiva exterior deve produzir um olhar bastante diferente sobre a natureza da ciência e do seu ensino. Nada tem que ser como é. Em princípio, tudo pode ser dito de outra maneira. A chave para toda a reflexão deste texto pode ser sintetizada na seguinte afirmação: Quem fala ou escreve sempre parte do que foi dito por outra pessoa, dirigindo-se a alguém. Essa ideia aparentemente elementar – de tratar todas as produções textuais como turnos de fala em um grande diálogo que começou antes de nascemos e se prolongará além da nossa morte – tem implicações muito especiais. Se todo texto didático é um elo na cadeia de comunicação, ele (Faraco, 2009): 1. Não pode deixar de responder ao que foi dito no passado e; 2. Não pode deixar de antecipar as respostas do futuro. Essa dupla orientação do texto (dialogando com o dito e antecipando o está por dizer) será chamada responsividade (Bakhtin, 2016). Ela tem implicações muito importantes que serão exploradas nas seções seguintes. Criatividade e descoberta científica Que escritor não quer ser criativo? Que cientista não aspira uma descoberta relevante? Não sei se vocês sentem da mesma maneira, mas eu tenho a impressão de que essas duas palavras tendem a mobilizar o que há de mais romântico em nós mesmos. Quando eu as ouço, lembro prontamente de algumas pessoas que conheci. Elas estufam o peito e, com ar triunfante, fitam o horizonte e, por um instante, parecem flutuar acima dochão. Em suas palavras, a criação e a descoberta são descritas como experiências individuais, íntimas, divinas, elevadas, excepcionais. Uma dádiva assim só poderia ser concedida a poucos. No entanto, mantendo os pés firmes sobre o chão, e tendo em vista a natureza dialógica da didática e da ciência, pergunto: O que significa criar e descobrir? Somente o Adão mítico teve a oportunidade de nomear um mundo sem nome (Bakhtin, 2015). Nós, seres reais, chegamos a um mundo saturado de discursos, opiniões, teorias, coisas ditas. A linguagem (da ciência) já existia quando viemos ao mundo e sobreviverá à nossa morte. Nossa primeira atitude diante de qualquer linguagem é, portanto, um movimento de domínio e apropriação (de Pereira & Lima Junior, 2014): eu passo a Prof. Paulo Lima Junior (UnB) 5 dominar ferramentas criadas por outras pessoas e, eventualmente, as assumo como se fossem minhas. O ponto de partida do escultor não é a criação de suas ferramentas. Ele aprende a dominar o martelo e o formão, inventados por outras pessoas em outro contexto. Já minha sobrinha-bebê, ela está aprendendo a falar algumas palavras bem simples: mamãe, água, comida... Elas funcionam como ferramentas de comunicação que auxiliarão a relação dela com os pais, que podem ser considerados seu primeiro auditório, sua primeira escola, seu primeiro espaço de formação. Algo muito parecido acontece nas aulas de ciências, quando apendemos conceitos e teoremas, colocando-os em prática em situações-problema. Por todos os lados, palavras são ferramentas. O simples fato de eu estar escrevendo em língua portuguesa, tentando respeitar a norma culta, já coloca em teste meu domínio de algumas ferramentas culturais. Em tudo o que eu falo e escrevo, devo muito às pessoas com quem eu apendi a falar e escrever. Esse aprender a falar e escrever, obviamente, não se limita ao código da língua, mas inclui todas as linguagens especializadas que conhecemos (Física, Matemática, Arte, Política). É como se, falando com vocês, todos os meus formadores falassem em mim. Portanto, Minha voz nunca é somente minha. Nada que eu digo ou escrevo é exclusivamente meu. Somente o Adão mítico teve a oportunidade de uma criação verbal livre (Bakhtin, 2015). Para nós, seres concretos, toda experiência criativa supõe o domínio de ferramentas culturais que já estavam disponíveis e que, criadas por outras pessoas, vinculam-nos a elas. Nesse sentido, criatividade e descoberta consistem em rearranjar o que já está disponível no mundo da cultura de maneira a produzir um resultado relativamente inédito. A criatividade artística e a descoberta científica supõem conhecer, dominar e confrontar o trabalho de outras pessoas vieram antes de nós mesmos. Ninguém cria no vazio. Diálogo e relações de oposição A presença do outro em nós pode ser percebida de maneiras mais interessantes. De fato, nossa relação com a voz dos outros nem sempre é de apropriação, mas pode ser de Introdução à análise e produção de materiais didáticos 6 complementariedade ou oposição (de Pereira et al., 2016). Esse fenômeno aparece mais estilizado na arte e na política, mas também ocorre nos textos escolares de ciência. Quando lemos um texto jornalístico de direita ou de esquerda, mesmo que eles se apesentem como peças publicadas em jornais isolados, há um diálogo visível. Glenn Greenwald (do Intercept Brasil) não faz menção a Eliane Cantanhêde (da Globo News), mas aposto que eles discordariam se conversassem! Ao mesmo tempo em que estão se dirigindo aos seus ouvintes, fazem afirmações que serviriam perfeitamente como críticas ácidas um ao outro. Relações tensas e de oposição estão contempladas naquilo que chamamos de diálogo. Talvez o leitor esteja intrigado. Afinal, será que esses dois jornalistas se conhecem? Sem verificar se eles se conhecem, como podemos afirmar que estão “dialogando”? Bem, ainda que eles provavelmente se conheçam, não se trata disso. O campo jornalístico é repleto de Cantanhêdes (e uns poucos Greenwalds) de tal maneira que não é preciso conhecê-los pessoalmente para polemizar seus pontos de vista. Basta conhecer e reconhecer as posições do campo para dialogar com todos os que compartilham a mesma posição. Nos livros didáticos essas tomadas de posição também ocorrem e são muito importantes para criar uma variedade de pontos de vista, de maneiras diferentes de ensinar. Contudo, esses confrontos costumam passar despercebidos aos olhos do leitor (que geralmente lê o livro de ciências como quem lê um manual – não como quem deseja analisá-lo criticamente, tendo em vista sua melhoria). Um professor que escreve seus próprios materiais não pode se dar esse luxo. Você, com certeza, já ouviu dizer que “Pessoas trans também são seres humanos”. Essa afirmação é a negação de outra (i.e., “... não são seres humanos”) e, por isso, só tem sentido em diálogo com aquilo que nega. Quando eu ouço essa declaração, logo me lembro das situações concretas de violência que dão sentido a ela. Pessoas trans são assassinadas diariamente no Brasil, mas sua morte sequer chega aos noticiários. https://pt.wikipedia.org/wiki/Glenn_Greenwald https://pt.wikipedia.org/wiki/Glenn_Greenwald https://pt.wikipedia.org/wiki/Eliane_Cantanhêde Prof. Paulo Lima Junior (UnB) 7 Afirmações confrontacionais não são meras constatações. Dizer que “as mulheres cientistas são tão competentes quanto os homens” não é equivalente a dizer uma banalidade qualquer (tal como “o céu é azul”), pois marca uma tomada de posição diante de um debate. Como toda tomada de posição, ela receberá uma resposta (nem sempre amigável). Afirmações dessa natureza marcam um diálogo tenso, um conflito. Mais que meras constatações, declarações de conflito marcam uma tomada de posição. Se alguém disser que “Homens europeus também são seres humanos” poderíamos rapidamente questionar: “Por acaso, alguém sugeriu que eles não sejam?!”. Contudo, se muitas pessoas começam a repetir que “homens brancos e heterossexuais também devem ter seus direitos respeitados” vai se criando a ilusão de que esses direitos estão sendo ameaçados (afinal, em todo o espectro ideológico, o dito traz consigo o não-dito, toda afirmação traz consigo sua negação). De fato, a experiência mostra que os mesmos expedientes discursivos de enfrentamento das desigualdades são rapidamente apropriados e invertidos pelos dominadores, que os colocam em prática na criação de falsas polêmicas, simulacros de crítica. Por isso, a análise de um texto nunca deve tomar o texto pelo texto, mas precisa devolvê-lo às situações concretas de comunicação para que possamos perceber seus sentidos e intencionalidades. Algo muito semelhante acontece nos livros de ciência quando os autores marcam uma posição em um debate sem explicitar as controvérsias que fazem parte dele. Os leitores atentos saberão que o autor está tomando uma posição, geralmente discordando de outro autor (a quem vê como concorrente). Os leitores mais distraídos presumirão que o autor está fazendo uma mera constatação, uma declaração de fatos. Você já deve ter lido que a primeira lei de Newton não é um caso particular da segunda, pois a primeira lei definiria os chamados referenciais inerciais: Frequentemente encontramos a afirmação ‘A primeira lei de Newton é um caso particular da segunda lei, pois, para F = 0 temos a = 0 e, portanto, a velocidade será́ constante na ausência de forcas externas’. Essa afirmação é uma simplificação indevida da primeira lei, pois, na verdade, essa caracteriza, implicitamente, o que são referenciais inerciais e a segunda lei só́ se aplica a esses (Cabral, 1984, p. 4). Introdução à análise e produção de materiais didáticos 8 Eu sempre me surpreendi com esse tipo de argumento, recorrente em apostilas e livros empregados nas escolas. Quando eu o ouvi pela primeira vez, minha reação foi perguntar “Mas quem colocou isso em questão?!” O colega que me explicava anecessidade dessa afirmação deu a entender que os alunos poderiam me desafiar, questionando que, se for possível deduzir a primeira lei da segunda (e é possível) então as três leis de Newton estariam com um problema grave. Elas seriam, na verdade, duas! Eu não pude resistir em perguntar “Para quem o questionamento dos alunos representa um problema?!” Afinal, Não seria fabuloso se os alunos se percebessem capazes de apontar os limites de uma teoria científica? Desde o seu surgimento, a teoria Newtoniana foi duramente criticada; mas essa história não está contada nos livros (Lima Junior et al., 2015). A crítica que Newton recebeu foi tão profunda que a mecânica escolar guarda grandes diferenças conceituais da mecânica de Newton, incorporando as críticas feitas nos séculos seguintes como se Newton tivesse se antecipado a elas. Os nomes dos críticos de Newton geralmente são omitidos. Por exemplo, os tais “referenciais inerciais”, que justificariam a irredutibilidade da primeira lei à segunda, só foram propostos do século XIX, como solução para a derrocada da crença no espaço absoluto Newtoniano. Portanto, justificar a irredutibilidade da primeira lei de Newton à segunda com base na necessidade de definir referenciais inerciais é, no mínimo, anacrônico (Lima Junior et al., 2015). Além disso, se a recepção da teoria newtoniana sempre foi polêmica, Por que a ciência escolar precisa assumir a forma de uma declaração de axiomas e teoremas definitivos? É verdade que há muitas formas falaciosas e perniciosas de apontar limites à ciência (os movimentos terraplanista e antivacina são os principais exemplos). Também é verdade que a autoridade é um ingrediente importante da prosa científica, que tende a ser mais unívoca e linear que o romance (Bakhtin, 2015). No entanto, se desejamos proporcionar aos alunos uma experiência científica autêntica, investigativa e significativa, a obsessão com a autoridade presente nos materiais didáticos pode se tornar um obstáculo, pois: A autoridade mata o debate. Ela varre as controvérsias para baixo do tapete, colocando a ciência numa situação mais frágil do que deveria. Se um professor afirma que o aquecimento global é um consenso Prof. Paulo Lima Junior (UnB) 9 na comunidade científica (tentando abreviar a discussão), bastará ao estudante mostrar um único texto que, assinado por um cientista, diga o contrário. Um único caso bastará para refutar a tese do consenso e revelar a fragilidade do argumento do professor. A pretensão de consenso é o fundamento mais frágil da autoridade. Seria importante que nossos materiais didáticos fossem mais persuasivos, capazes de explorar as polêmicas e controvérsias da ciência ou que, no mínimo, você seja capaz de perceber o esforço hercúleo que muitos autores fazem para apresentar a ciência como aquilo que ela não é: um conjunto de certezas, um conhecimento definitivo e consensual. Em síntese, explícita ou implicitamente, materiais didáticos são marcados por lutas e disputas, por tomadas de posição. E você? Que lutas e disputas pretende travar como autor de seus próprios materiais? Antecipando as reações do leitor A redação científica teria muito a aprender com a linguística e a crítica literária, com os autores de romances e jornalistas. Há uma coisa que bons autores, na ciência e na arte, têm em comum: Dentro de certos limites, bons autores são capazes de antecipar (de maneira mais ou menos intuitiva) as reações do leitor. Considere um texto literário ou jornalístico que você tenha lido recentemente. Você consegue se lembrar das reações que teve? O que você pensou? Como se sentiu? Como você julgou o texto? Autores competentes são capazes de antecipar, de alguma maneira, várias dessas reações e, sem essa capacidade de antecipação, é difícil que alguém se comunique bem com sua audiência. As comunicações científicas são, em sua maioria, arbitradas por pares. Livros didáticos publicados em editora também são avaliados. Para que você tenha seu artigo publicado, para que você seja lido ou ouvido, precisa passar pelo crivo de outros especialistas. Esses outros são ditos “pares” porque não estão exatamente acima de você, mas são colegas que compartilham suas mesmas competências. Essas pessoas são, num sentido muito aproximado, seus “iguais”. Se você for completamente fracassado em antecipar as maneiras como seus pares reagirão ao seu texto, ele sequer será publicado. De fato, assim como em todas as formas de criação estética (Bakhtin, 2016), Introdução à análise e produção de materiais didáticos 10 As produções da arte, da ciência e do ensino de ciências envolvem a antecipação de um julgamento futuro. Quando tomamos um texto didático para ler, geralmente somos capazes de identificar algumas suposições que o autor faz com respeito a seus leitores. O que eles são capazes de entender? O que os motiva a estudar? O que eles esperam ler? Que críticas farão? O que lhes interessa? Ao escrever, é inevitável que o autor tente se antecipar, no texto, às apreciações do leitor. Como todos os textos são responsivos (i.e., não podem evitar o fato de que se dirigem a uma audiência que os avalia), resulta que o leitor suposto está sempre presente no texto, participando de sua composição (Faraco, 2009). Por exemplo, falar com a minha mãe e falar com vocês são experiências muito diferentes. Com ela, eu abordo temas e emprego estilos de linguagem que não fazem sentido ou não são adequados com vocês. Essas variações de linguagem em função do ouvinte (ou leitor) suposto mostram como o auditório participa, mesmo que silenciosamente, da produção verbal (oral ou escrita). Essa participação não se dá imediatamente, tomando a caneta da mão do escritor, mas é mediada pelas impressões que o auditório deixou no autor, nas antecipações de suas reações. Quando você toma um texto didático, pode sempre perguntar: A quem ele se dirige? Tendo em vista várias características do texto, podemos reconstruir a imagem (mais ou menos inconsciente) que o autor assumiu dos seus leitores ao escrever. Alguns autores dirigem-se a adolescentes como se fossem crianças de quatro anos; outros tratam estudantes da escola como se fossem cientistas já formados. Essa percepção só é possível porque: O leitor suposto está expresso no texto. De fato, um texto traz muito mais que uma mensagem, um conteúdo, um quedizer. Ele é um elo na cadeia de comunicação e carrega as marcas de todas as pessoas ali encadeadas (Faraco, 2009). Todos aqueles que, no passado, contribuíram para sua formação e informação; todos aqueles que, no futuro, e apreciarão sua produção textual (com ironia, desdém ou admiração). Todas essas pessoas estão presentes naquilo que escrevemos. Além disso, é muito comum que os textos didáticos sejam produzidos antecipando usos concretos bem definidos. Afinal, será que os alunos têm acesso a um laboratório equipado? Quantas horas-aula por semana são dedicadas a esse componente curricular? Prof. Paulo Lima Junior (UnB) 11 Quais são as condições de realização das atividades propostas? Como serão conduzidas as avaliações? Em alguns textos, pode acontecer que o autor se justifique ou que se mostre preocupado com críticas que não estão sendo feitas. Noutros casos, deixam sem respostas as perguntas que você gostaria que ele tivesse respondido. Os autores podem sugerir atividades que demandam uma infraestrutura indisponível, podem presumir que os alunos têm conhecimentos que não têm. O ajustamento entre o leitor suposto (no texto) e os leitores de carne-e-osso é um dos objetivos mais críticos do texto didático. Muitas vezes vamos ouvir, em abstrato, que “um bom material didático deve ser claro, interessante e desafiador”. Mas o que pensam os leitores? Todas essas qualidades abstratas só existem para leitores concretos em contextos específicos da comunicação humana. A depender do público ou da situação em que ele se encontra, a apreciaçãodo texto muda radicalmente. Um texto claro passa a ser considerado confuso; um texto interessante passa a ser desinteressante. As qualidades de um texto (tais como clareza, elegância, interesse) só podem se avaliadas com relação a leitores e contextos específicos. Diferente das conversas cotidianas (entre amigos e familiares), algumas comunicações são direcionadas a um público muito amplo e heterogêneo. Isso faz com que a maioria das produções literárias, jornalísticas, didáticas e científicas assumam uma forma mais complexa que a comunicação cotidiana (Bakhtin, 2016). Nessas formas mais complexas de comunicação, o autor não está antecipando as reações de um leitor individualmente bem definido. A exigência de que o autor deve conhecer o seu leitor só faz sentido figurativamente, pois O texto didático-científico não se dirige a um leitor singular, mas a vários leitores muito diferentes uns dos outros. Ao escrever um texto (ou gravar uma vídeo-aula, um podcast), o autor está antecipando a reação de um auditório muito heterogêneo e mais ou menos desconhecido. Considere, por exemplo, todos os estudantes de uma escola ou de uma rede de ensino: eles são muito diferentes uns dos outros! Eles não têm as mesmas capacidades e dificuldades, não vivem a mesma realidade, têm interesses próprios e não reagirão da mesma maneira ao texto. Alguns o entenderão, outros o julgarão difícil. Alguns se sentirão desafiados, outros humilhados ou entediados. Introdução à análise e produção de materiais didáticos 12 Como se não bastasse esse desafio de dar conta da heterogeneidade dos estudantes, as comunicações (orais e escritas) da educação em ciências nunca são dirigidas estritamente a eles. Lembro-me que, nas minhas primeiras aulas, eu me sentia um pouco inseguro (“Será que estou explicando da maneira correta? O que meus professores pensariam do que estou dizendo aqui”). Quando gravamos uma videoaula pública, esse medo fica ainda mais visível. Afinal, qualquer pessoa poderá ver, agora ou no futuro: alunos, colegas, concorrentes, formadores. Em meio a essa insegurança, eu percebi que: A comunicação do professor nunca se dirige somente aos alunos, mas leva em consideração o julgamento de outros personagens virtualmente presentes – sobretudo seus formadores e colegas de profissão. De fato, o primeiro leitor do material didático não é o aluno, mas outro professor. Para ser bem-sucedido e incorporado à escola, o material precisa convencer primeiramente os professores. No âmbito do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), livros didáticos precisam passar pelas comissões de avaliação das editoras e do Ministério da Educação, precisam mostrar que estão de acordo com os documentos curriculares vigentes. A audiência de uma produção didático-científica é, portanto, bastante variada em suas formas de apreciação. O “auditório” é composto por estudantes, professores, gestores educacionais, associações de pais. Ao enfrentar o auditório, o autor tem diante de si uma grande heterogeneidade de reações possíveis. Como é possível dar conta de um desafio dessa magnitude e escrever para tanta gente diferente? Como nasce um escritor? Para muitos autores (cientistas, artistas, jornalistas, produtores de materiais didáticos), a experiência de escrever é fundamentalmente expressiva. Eles não estão obcecados em antecipar as reações do auditório, mas expressam-se de maneira mais ou menos intuitiva. Eles não falam para agradar, mas como se tivessem o “dom” de escrever. Eles não parecem estar fazendo um grande esforço para serem compreendidos. É como se a clareza de comunicação tivesse nascido com eles. Você mesmo deve ter ouvido muitas Prof. Paulo Lima Junior (UnB) 13 vezes que, para escrever, é necessário encontrar sua “voz interior”, sua autenticidade. Esse conselho, por mais romântico que seja, não está completamente equivocado. Na maturidade, vários autores descrevem sua escrita como fluida, livre, prazerosa ou espontânea. Hoje em dia, para mim, a escrita não é um sofrimento, mas uma atividade agradável. Eu não escrevo obcecado com o que as pessoas vão pensar. Digo o que quero, como quero e (geralmente) tenho meus trabalhos aceitos. Como isso é possível? Uma coisa é segura: quanto mais você estiver tenso e obcecado em dar conta das reações de cada leitor, mais sofrida será sua experiência de escrita. Você será como aquele aluno que não consegue colocar uma linha no papel de tanto medo que sente da avaliação que receberá. Estar atento às reações do leitor e estar obcecado com elas são duas coisas bem diferentes. A escrita pode ser vivida como a externalização de uma interioridade. A sensação de escrever costuma ser a de pôr para fora algo que já está mais ou menos elaborado do lado de dentro (na sua mente, nos seus sentimentos, nas suas convicções). Quando eu escrevo, já tenho um projeto, uma ideia aproximada do que quero dizer. Eu não paro na frente do computador para criar. Quando começo a digitar, a criação, de alguma maneira, já aconteceu. Ela só precisa ser externalizada. Como somos todos seres socialmente configurados (nas nossas maneiras de ser e agir no mundo), a autenticidade do texto não está separada de um conjunto de experiências vividas pelo autor com outras pessoas no passado. Conforme já discutimos, nenhuma palavra minha é exclusivamente minha. Ela sempre se deve, em parte, aos acordos e conflitos que vivi com outras pessoas. A externalização da interioridade supõe, portanto, a internalização da exterioridade. É muito comum entre alguns jovens reclamar que a correção de seus formadores os oprime. Muitos vivem a ilusão de que, na ausência das avaliações corretivas do professor, seriam capazes de produções mais criativas e brilhantes. Reclamam que suas https://www.youtube.com/watch?v=KwskxexIteo Introdução à análise e produção de materiais didáticos 14 competências intelectuais e artísticas não são compreendidas. É como se a avaliação negativa que recebem os ofuscasse. Sempre tive a impressão de que essas pessoas, aparentemente muito sensíveis, são, na verdade, vaidosas. Consideram-se prontas. Quando criticadas, sentem-se injustiçadas. Dramatizam a crítica como se fosse resultado de uma violência gratuita do avaliador. Gostemos ou não, a sensação de que somos capazes de nos comunicar livremente só é possível ao final de um grande processo de correções. Em algum momento, fomos desafiados pelos nossos professores a escrever segundo as regras da gramática e da ciência. Nas nossas experiências em sala de aula, somos (ou seremos) interpelados pelos nossos alunos a nos comunicar de maneira que a ciência faça sentido para eles. Por algum tempo, nós preservaremos a lembrança de sermos corrigidos. Mas lembranças somem; ficam os efeitos da correção. É como se a voz dos nossos formadores estivesse finalmente incorporada à nossa. Eu mesmo já não me lembro de ser corrigido pelos meus professores. Em sínese: Se a escrita é vivida como a externalização de uma interioridade, o processo anterior que produz o escritor é, fundamentalmente, a internalização de uma exterioridade esquecida. Essa internalização costuma ser apagada das nossas memórias1. Quanto maior for esse apagamento, mais temos a impressão de que bons escritores foram agraciados por um dom divino. Na verdade, a formação do escritor começa bem cedo e envolve ler, reler, escrever, ser corrigido e reescrever várias vezes. O “dom da escrita” é uma falácia perniciosa que nos faz acreditar que escrever é para poucos. Assim como a história de formação do professor começa em suas experiências de estudante, a história de formação do escritor começa em suas experiências de leitura. E você? Como são suas experiências de leitura? Quando você lê um texto, o que é capaz de extrair dele? 1 Vide o problema do comportamento fossilizado (VIgotski, 1998) segundo o qual algumas funções psicológicas vão se tornando operacionais, automáticas.Quando isso ocorre, não se consegue mais recuperar mais a gênese dessas funções. Por exemplo, quando olhamos para um adulto falando, andando e pensando, isso nos dá uma ideia muito limitada do processo que produziu suas capacidades de falar, andar e pensar. Com a escrita ocorre o mesmo. Olhar a atividade do escritor experiente não nos ajuda a entender como ele chegou lá. Prof. Paulo Lima Junior (UnB) 15 Imagino que nossa relação com textos didático-científicos vai mudando com o passar do tempo. Eu mesmo, quando era mais jovem, lia os textos escolares para entender o conteúdo. Em geral, nós temos à nossa disposição livros didáticos muito parecidos em sua estrutura com pequenas variações de estilo – o que nos leva a acreditar que há somente uma sequência por meio da qual é possível ensinar e aprender ciência. Aprendemos a acreditar que a mecânica deve começar sempre pela cinemática, que a eletrodinâmica deve começar pelo campo elétrico da carga puntiforme... Essas crenças são todas falsas, mas muito justificáveis entre os leitores que não são escritores, ou entre alunos que não são professores. Para escrever materiais didáticos, passei a consultar livros e textos produzidos sob propostas curriculares diferentes. Isso abriu muito a minha mente para perceber o universo de textos possíveis que envolve cada produção didático-científica. Sem conhecer o universo dos materiais didáticos possíveis é muito difícil escolher quais caminhos seguir. Posso usar uma abordagem formalista, conceitual, contextualizada, sociocientífica, histórica, filosófica, experimental, lúdica... As opões são diversas, mas é preciso conhecê- las um pouco. Para mim, foi necessário voltar aos livros didáticos não com o olhar do aluno (que desejava aprender o conteúdo), mas como um professor-autor, que precisa levar várias outras coisas em consideração. Como escritor dos meus próprios textos, eu preciso ler o que outras pessoas estão escrevendo para saber que opções eu tenho, quais caminhos são mais frutíferos e originais, quais foram repisados e não merecem a minha atenção. Nesse processo, a filosofia da linguagem do círculo de Bakhtin cumpriu um papel fundamental na minha formação de leitor-analista-escritor. Seus conceitos permitiram dar nome e chamar atenção a aspectos da produção textual que precisam se observados por qualquer autor em potencial. Do sistema da língua para a ciência Redescoberta na década de 1960, na Europa, e nos anos 1980, no Brasil, a filosofia da linguagem do círculo de Bakhtin inspirou muitas pesquisas sobre os usos da linguagem em contextos e grupos específicos. Ela se opõe tanto à tendência estruturalista de pensar a língua como um sistema sem sujeitos (objetivismo abstrato) quanto à tendência https://www.youtube.com/watch?v=6_IwkSdoGHo Introdução à análise e produção de materiais didáticos 16 romântica de pensar a ação individual independente dos contextos concretos da atividade humana (subjetivismo idealista) (Voloshinov, 2017). É bastante curioso que os campos da linguística e das ciências da natureza tenham enfrentado desafios filosóficos semelhantes. Para muitos linguistas da primeira metade do século XX, a ideia de um sistema da língua (abstrato, objetivo e despersonalizado) tinha grande apelo (Faraco, 2009). Da mesma maneira, muitos de nós rezam na igreja da ciência objetiva, como se ela não dependesse de pessoas concretas para existir. Em realidade, sem a nossa ação no mundo (nós, cientistas e professores de ciências), a ciência sequer existiria. Afinal, se nós, cientistas, professores e estudantes de ciências morrermos e queimarmos nossos livros, a ciência não morrerá conosco? É ilusória a crença de que tanto a língua quanto a ciência existam fora de nós, de nossa atividade concreta no mundo. Há uma classe de ilusões muito populares que vêm montadas no cavalo do objetivismo científico. São elas: a separação entre ideologia e técnica (como se existisse técnica sem ideologia), a crença de que a ciência descreve o mundo sem colocar nele o seu acento, a ilusão da neutralidade científica. Todos nós já ouvimos os noticiários nomearem uma “ala técnica” do governo (composta por militares e economistas), em oposição a uma “ala ideológica”. Muitos jornalistas repetem isso como um mantra. No fundo dessas distinções está a crença ilusória de que, onde a técnica entra, a ideologia sai; que uma parte do governo é obtusa enquanto outra deve ser respeitada. Afinal, a técnica e a ciência existem sem pessoas, mas a política não... Tudo isso não é obviamente falso? Não foi justamente nas alas consideradas técnicas que surgiam as maiores imoralidades e escândalos de corrupção desse governo?2 Em que medida a neutralidade da ciência não funciona como um disfarce conveniente nesses momentos de crise? Um dispositivo analítico Ainda que a filosofia da linguagem de Bakhtin seja riquíssima, não pretendo mergulhar nela aqui ainda que várias ideias-chave tenham sido antecipadas intuitivamente. Vou 2 Vide os desvios nas compras de vacina no Ministério da Saúde, onde muitos militares estão implicados, as aplicações em moeda estrangeira do Ministro da Economia e os escândalos do ex-juiz Sérgio Moro na vaza-jato. Todos os maiores descalabros de nosso tempo foram protagonizados por personagens considerados, em algum momento, técnicos e imparciais. https://www.youtube.com/watch?v=KShoiF1XI3A Prof. Paulo Lima Junior (UnB) 17 direto ao que considero ser o elemento mais instrumental para a análise de textos didáticos. Observe o seguinte fragmento: Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem. [...] O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. [...] Todos esses três elementos – o conteúdo temático, o estilo, a construção composicional – estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo da comunicação. (Bakhtin, 2016) Ai, temos alguns elementos mínimos que podem ajudar em todas as nossas análises. Segundo Bakhtin, o uso da linguagem dá-se por meio de enunciados concretos e únicos. Esses enunciados podem ser analisados observando: • Conteúdo temático. É aquilo que o texto diz. • Estilos de linguagem. Recursos lexicológicos e gramaticais empregados. • Construção composicional. Forma de organização do todo do texto. Todos esses três elementos estão conectados entre si e ligados à esfera da atividade humana, ao contexto da comunicação. Por tudo o que foi dito até aqui, só conseguimos entender o que uma obra comunica se nós a devolvermos para seu contexto de produção, observando as especificidades da esfera da atividade humana em que essa obra foi produzida, por quem foi escrita e para quem. E se nós tentarmos ler os materiais didáticos segundo essa perspectiva? Para simplificar o nosso trabalho, vou propor que sejam respondidas as seguintes perguntas: 1. Qual é o conteúdo do texto? 2. Quais são os estilos de linguagem empregados? 3. Como a construção composicional pode ser descrita? 4. O que sabemos sobre a situação concreta de comunicação? 5. Como todas as perguntas anteriores se relacionam mutuamente? Em nossas análises, vamos tentar responder a todas essas perguntas. Evidentemente, essas perguntas não serão respondidas de maneira mecânica, mas levando em consideração tudo o que foi discutido até aqui. Referências Bakhtin, M. (2015). Teoria do romance. Editora 34. Bakhtin, M. (2016). Os gêneros do discurso. Editora 34. Cabral, F. (1984). A primeira lei de Newton é um caso particular da segunda lei. Caderno Catarinense de Ensino de Física, 1(1), 4–7. de Pereira, A. P., & Lima Junior, P. (2014). Implicações da perspectiva de Wertsch para a interpretação da teoria de Vygotsky no ensino de Física. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, 31(3), 518–535.https://doi.org/http://dx.doi.org/10.5007/2175- 7941.2014v31n3p518 de Pereira, A. P., Lima Junior, P., & Rodrigues, R. F. (2016). Explaining as Mediated Action: An Analysis of Pre-service Teachers??? Account of Forces of Inertia in Non-inertial Introdução à análise e produção de materiais didáticos 18 Frames of Reference. Science and Education, 25(3–4), 343–362. https://doi.org/10.1007/s11191-016-9806-x Faraco, C. A. (2009). Linguagem & Diálogo – as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. Parábola Editorial. Freire, P. (1974). Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra. Lima Junior, P., Anderhag, P., & Wickman, P.-O. (2021). How does a science teacher distinguish himself as a good professional? An inquiry into the aesthetics of taste for teaching. International Journal of Science Education, 1–18. https://doi.org/10.1080/09500693.2021.1958392 Lima Junior, P., da Silveira, F. L., Ostermann, F., & Pinheiro, N. C. (2015). A Física como uma construção cultural arbitrária : Um exemplo da controvérsia sobre o status ontológico das forças inerciais. Revista Brasileira de Pesquisa Em Educação Em Ciências, 15(1), 195–217. VIgotski, L. S. (1998). A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Martins Fontes. Voloshinov, V. (2017). Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Editora 34. Universidade de Brasília Instituto de Física O desafio da comunicação O desafio dos textos didáticos e científicos Criatividade e descoberta científica Diálogo e relações de oposição Antecipando as reações do leitor Como nasce um escritor? Do sistema da língua para a ciência Um dispositivo analítico Referências
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