Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Lourdes Laryssa Melo da Costa Lôbo – Turma 09 UPE Garanhuns – Prática Médica V - Gastro 1 Afecção crônica secundária ao refluxo patoló- gico de parte do conteúdo gástrico para o esô- fago e/ou órgãos adjacentes (faringe, laringe, árvore traqueobrônquica), acarretando um es- pectro variável de sinais e sintomas esofágicos e/ou extraesofágicos, acompanhados ou não de lesões teciduais (ex.: esofagite). Diagnóstico – presença de sintomas típicos (pirose e regurgitação) ou sintomas atípicos e extraesofágicos (dor torácica não cardíaca, tosse, pigarro e disfonia), por resposta à te- rapia supressora de ácido com um curso de tratamento com IBP, achados à endoscopia de lesões mucosas relacionadas ao refluxo e pelo monitoramento prolongado do refluxo pela pHmetria esofágica ou impendância-pHmetria esofágica. Muitas vezes associada a alterações do sono. Sintomas tendem a ser mais frequentes e in- tensos na vigência de obesidade (IMC é fator de risco independente, apresentando correla- ção direta com sua gravidade), bem como du- rante a gestação (relaxamento do EEI promo- vido pela progesterona + pressão intra- abdominal exercido pelo útero gravídico). Na criança, predomina em lactentes, felizmente desaparecendo em 60% dos casos até a idade de 2 anos, e em quase todo o restante após a idade de 4 anos. Principal explicação: imaturi- dade do EEI ao nascimento aliada à permanên- cia em posição recumbente – ambos melho- rando com o passar do tempo. Lesões ocorrem quando a mucosa é exposta ao refluxo gástrico que contém agentes agres- sores como ácido, pepsina, sais biliares e en- zimas pancreáticas. Em condições normais: refluxos de curta dura- ção e rápida depuração (refluxo fisiológico). Principal fator que torna patológico: aberturas transitórias ou relaxamentos transitórios do esfíncter inferior do esôfago → ocorrem in- dependentemente da deglutição, principal- mente em indivíduos com pressão basal nor- mal. 3 anormalidades básicas (não mutuamente excludentes) que podem originar refluxo: o Relaxamentos transitórios do EEI não relacio- nados à deglutição; o Hipotonia verdadeira do EEI – principal me- canismo patogênico de DRGE em pacientes que apresentam esofagite erosiva grave; o Desestruturação anatômica da junção esofa- gogástrica (hérnia de hiato). Mecanismos de DEFESA contra o refluxo: (1) bicarbonato salivar, que neutraliza a acidez do material refluído; (2) peristalse esofagiana, que devolve esse material para o estômago. Logo, contribuem para a ocorrência e a gravidade da DRGE, a coexistência de disfunção das glându- las salivares (ex.: síndrome de Sjögren, medi- camentos com efeito anticolinérgico) e/ou dis- túrbios motores primários do esôfago. Lourdes Laryssa Melo da Costa Lôbo – Turma 09 UPE Garanhuns – Prática Médica V - Gastro 2 Refluxo → diminuição da resistência do epité- lio mucoso esofágico com dilatação do espaço intercelular e presença de erosões (pode não ocorrer – forma não erosiva). A gravidade da esofagite está relacionada à duração, ao tempo de exposição ácida e ao pH do conteúdo gástrico. Hérnias de hiato favorecem o refluxo – EEI pa- sa a não contar com a ajuda da musculatura diafragmática como reforço mecânico à sua função de barreira. Sintomas típicos ou esofagianos: o Pirose: Sensação de queimação retroesternal que se irradia do epigástrio à base do pescoço, podendo atingir a garganta. Costuma ocorrer nas primeiras 3h após as refeições (especialmente quando são muito volumosas e/ou ricas em gordura) e ao dei- tar. o Regurgitação: percepção do fluxo do conte- údo gástrico refluído para a boca ou hipofa- ringe. Disfagia: o 1/3 dos casos o Sugere complicações – estenose péptica ou adenocarcinoma, mas pode resultar apenas do edema inflamatório na parede do esôfago ou da coexistência de um distúrbio motor as- sociado. Outros sintomas associados: sialorreia, eructa- ção, sensação de opressão retroesternal. Condições que elevam a pressão intra- abdominal também podem exacerbar os sin- tomas, particularmente a obesidade. Ausência de sintomatologia típica não descarta a hipótese de DRGE → manifestações atípicas. A DTNC é particularmente importante: depois de afastada a etiologia cardíaca (que deve ser considerada primeiramente na abordagem di- agnóstica), a DRGE costuma ser a causa mais comum, e pode corresponder a 50% dos casos. Sintomas atípicos ou extraesofagianos: o Relacionados ao refluxo ácido para a boca (erosão do esmalte dentário), faringe (irrita- ção da garganta, sensação de globus), laringe (rouquidão, granuloma de corda vocal), cavi- dade nasal (sinusite crônica, otite média) e árvore traqueobrônquica (tosse crônica, broncoespasmo, pneumonite aspirativa). o O Esfíncter Esofágico Superior (EES) é encar- regado de proteger o trato respiratório do refluxo, logo, nesses casos, há também uma incompetência desse esfíncter. o Anemia ferropriva por perda crônica de sangue aparece nos pacientes que desenvol- vem esofagite erosiva grave, com formação de úlceras profundas. Raramente estes indiví- duos evoluem com perfuração do esôfago. Sinais ou sintomas de alerta: anemia, hemor- ragia digestiva, emagrecimento, disfagia e odi- nofagia, além de sintomas de grande intensi- dade, principalmente os que têm início recente em pacientes idosos e/ou com história familiar de câncer. Reforçam a hipótese de câncer, o caráter ra- pidamente progressivo da disfagia (primeiro para sólidos e depois para sólidos + líquidos, em questão de semanas ou meses) e, princi- palmente, a coexistência de outros sinais de alarme, como perda ponderal, sangue oculto nas fezes e anemia. Uma disfagia somente pa- ra sólidos, de curso insidioso (anos) e não as- sociada à perda ponderal (apetite preservado), sugere estenose péptica. Lourdes Laryssa Melo da Costa Lôbo – Turma 09 UPE Garanhuns – Prática Médica V - Gastro 3 Esofagite de refluxo: alterações inflamatórias na mucosa esofagiana visíveis pela endoscopia. Nem sempre as alterações possuem corres- pondência direta com as manifestações: maio- ria dos pacientes sintomáticos tem EDA nor- mal, enquanto outros, a despeito de uma eso- fagite grave, podem não referir queixas. A esofagite de importância clínica é a erosiva (definidas como soluções de continuidade limi- tadas à mucosa, com pelo menos 3mm de ex- tensão). A classificação de Los Angeles é a mais utili- zada na atualidade para estadiar a gravidade da esofagite de refluxo. Doença do refluxo não erosiva (DRGE-NE) Definida pela presença de sintomas desagra- dáveis associados ao refluxo, com ausência de erosões ao exame endoscópico. Doença do refluxo erosiva (DRGE-E) Apresentação clássica, com sintomatologia clínica e presença de erosões ao exame endos- cópico. As biópsias costumam revelar hiperplasia da camada basal do epitélio estratificado, associ- ada à papilomatose (proeminência das papilas da lâmina própria, que podem se aproximar da superfície epitelial). A alteração histopatológica mais precoce é o aumento do espaço interce- lular no epitélio estratificado, mostrando que o ácido refluído "penetra" por entre as cama- das de células escamosas. Esofagite erosiva relacionada à DRGE é um importante fator de risco para o adenocarci- noma de esôfago. Helicobacter Pylori A infecção por H. pylori não tem relação com a DRGE e sua erradicação não agrava seus sin- tomas. Esôfago de Barrett É a substituição do epitélio escamoso estratifi- cado do esôfago por epitélio colunar dotado de maior resistência ao pH ácido, normalmente encontrado na mucosa do intestino delgado (metaplasia intestinal). Condição adquirida resultante do refluxo gas- troesofágico crônico, pela cicatrização das ero- sões através da metaplasia. Quando o 1/3 distal do esôfago apresentar essa alteração, teremos a condição conhecida como ESÔFAGO DE BARRETT (EB). Epitélio metaplásico do EB é mais propenso a evoluir com displasia progressiva das células, o que pode culminar em transformação neoplá- sica maligna (adenocarcinoma). Diagnóstico – primariamente suspeitado pela EDA, mas deve ser confirmado pelo histopato- lógico de fragmentos de biópsia (metaplasia intestinal incompleta com presença de células caliciformes). Os pacientes apresentam refluxo ácido intenso O dano maior ocorre mais pelo tempo prolon- gado de exposição ao pH ácido < 4 Condição pré-maligna (acredita-se ser o mai- or fator de risco para o desenvolvimento de adenocarcinoma do esôfago distal). Lourdes Laryssa Melo da Costa Lôbo – Turma 09 UPE Garanhuns – Prática Médica V - Gastro 4 Esofagite → metaplasia intestinal → displasia → neoplasia O risco de malignização (displasia a adenocar- cinoma) parece estar relacionado com a exten- são do epitélio metaplásico e é maior nos pa- cientes com o esôfago de Barrett longo > 3cm. A biópsia é imprescindível para confirmar o diagnóstico de esôfago de Barrett (metaplasia intestinal), bem como para a pesquisa de dis- plasia/neoplasia nesse tecido. Os pacientes apresentam diferentes defeitos fisiopatológicos que não são efetivamente cor- rigidos com o tratamento, mas são atenuados pelo bloqueio do ácido que provém do estô- mago. Após o tratamento da fase aguda, podem ocorrer recidivas com a suspensão do trata- mento, particularmente nos casos mais graves. DRGE-E recidiva em 80-90% dos pacientes dentro de 6 meses do término do tratamento. O tratamento de manutenção deve ser consi- derado, sobretudo, nos casos de esofagite ero- siva. ZARTEKA, S.; EISIG, J. N. Tratado de gastroenterologia: da graduação à pós-graduação. 2ª ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016. KATZ, P. O. et al. ACG Clinical Guideline for the Diagnosis and Management of Gastroesophageal Reflux Disease. Am J Gastroenterol 2022; 117:27–56.
Compartilhar