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GABRIEL GALEAZZI 1 TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO INTRODUÇÃO O traumatismo cranioencefálico (TCE) é definido como uma lesão intracraniana causada por forças externas Mecanismos que podem ocasionar TCE Trauma fechado Trauma perfurante Trauma por explosão As principais causas de TCE são as quedas, seguidas dos acidentes automobilísticos CLASSIFICAÇÃO DE GRAVIDADE DO TCE A gravidade do TCE pode ser classificada de acordo com a pontuação na Escala de Coma Glasgow TCE LEVE E CONCUSSÃO Concussão = Disfunção cerebral aguda causada por um TCE, que não causa um rebaixamento significativo de consciência CONCUSSÃO É DIFERENTE DE CONTUSÃO (LESÃO CEREBRAL ESTRUTURAL CAUSADA PELO TCE – CONFIRMADA POR EXAME DE IMAGEM) Principais sintomas da concussão Confusão mental Amnésia lacunar Perda de memória que envolve o evento traumático e pode envolver momentos antes (retrógrada) e/ou após o evento (anterógrada) Outros sintomas Cefaleia Tontura Desequilíbrio Náusea/vômitos Alterações de atenção e linguagem Sinais de alarme de TCE leve Perda de consciência>30min ou ECG<15 após 2h Amnésia pós-traumática>30min Cefaleia grave ou com curso progressivo Sinais neurológicos focais Crise epiléptica 2 ou mais episódios de vômito Rigidez de nuca ou limitação dos movimentos do pescoço Idade>65 anos Sinai de fratura de base de crânio/fratura craniana com desnivelamento Mecanismo grave do trauma (alta energia) Macete! “CoNVIte para a IBaGeM” COGNITIVO; NEUROLÓGICO; VÔMITO; IRRITAÇÃO MENÍNGEA; IDADE; BASE DE CRÂNIO; GRAVE MECANISMO CANADIAN CT SCORE RULE Alto risco Glasgow<15 após 2h do trauma Suspeita de fratura aberta do crânio Sinais sugestivos de fratura de base de crânio 2 ou mais episódios de vômito Idade>65 anos Médio risco Amnésia retrógrada (antes do impacto) por mais do que 30min Mecanismo grave de trauma (atropelamento, acidente automobilístico com ejeção do veículo, queda de altura superior a 1 metro) TCE MODERADO E GRAVE O fator que leva à alteração de consciência e ao pior prognóstico é a presença de lesões intracranianas Lesão intracraniana primária: causada pelo próprio mecanismo do trauma (Não pode ser evitada) Lesão intracraniana secundária: consequência de complicações das lesões primárias (Pode ser evitada com tratamento médico adequado) LESÕES EXTRA-AXIAIS As lesões extra-axiais são aquelas sem relação direta com o parênquima encefálico e, geralmente, ocorrem por extravasamento de sangue nos espaços entre as meninges ou nos ventrículos cerebrais HEMATOMA EPIDURAL OU EXTRADURAL (HED) O local mais comum do trauma é a região temporoparietal, e o mecanismo é a ruptura da artéria meníngea média e o sangramento no espaço entre a dura-máter e a calota craniana O sangramento é arterial, com alto fluxo para dentro desse espaço virtual, causando rápida expansão do hematoma e síndrome de hipertensão intracraniana em poucas horas Geralmente, ocorre após evento traumático de alta energia e, frequentemente, está associado a uma fratura do crânio adjacente •13-15TCE Leve •9-12 TCE Moderado •<8TCE Grave Todos os pacientes com TCE leve com sinais de alarme, moderado ou grave devem ser submetidos à TC de crânio sem contraste e mantidos em observação GABRIEL GALEAZZI 2 Quadro clínico TCE com piora cognitiva ou de nível de consciência após intervalo lúcido indicam hematoma epidural Diagnóstico → TC de crânio Lesão extra-axial hiperatenuante, com formato de lente (biconvexa) Conduta → Acionar a equipe de neurocirurgia para evacuar o hematoma HEMATOMA SUBDURAL (HSD) É o tipo de lesão extra-axial mais comum (30% dos TCEs graves) O mecanismo é a formação de um hematoma pela ruptura de veias pontes, que drenam o sangue de estruturas corticais para os seios venosos O sangue que extravasa para o espaço subdural é venoso, com pressão baixa, evoluindo mais lentamente do que o HED Pode ocorrer em eventos traumáticos de baixa energia, como na queda do mesmo nível Quadro clínico variável Manifestação aguda (até 2 dias) Manifestações subagudas (3-14 dias) Manifestações crônicas (>14 dias) TCE EM PESSOAS ACIMA DE 65 ANOS, INDEPENDENTE DA GRAVIDADE, EXIGE TC DE CRÂNIO PARA AFASTAR HSD Diagnóstico → TC de crânio Lesão extra-axial hiperdensa, em formato de crescente (côncavo-convexa). A atenuação muda à medida que o hematoma cronifica e, no HSD crônico o hematoma é hipodenso Conduta → Craniotomia e drenagem cirúrgica precoce HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA (HSA) Está associada à rotura de vasos piais pequenos devido ao impacto direto do trauma, especialmente nas regiões perisilvianas e intrapedunculares Habitualmente, a HSA traumática ocorre em associação a outros tipos de lesão focal Diagnóstico → TC de crânio Lesão hiperdensa na região de sulcos corticais e/ou na região da cisterna perimesencefálica: os espaços dos sulcos e das cisternas afetadas ficam tingidos de branco ao invés de preto. É comum observar linhas de fraturas no crânio ou contusão cerebral adjacente As principais consequências são a hipertensão intracraniana e o vasoespasmo das artérias cerebrais, que pode levar à isquemia dos tecidos supridos pelos vasos afetados Conduta → Suporte e monitorização intensiva + Nimodipino (para minimizar o vasoespasmo) HEMORRAGIA INTRAVENTRICULAR Mecanismos Rotura de veias subependimárias presentes no interior dos ventrículos Extravasamento do sangue de uma hemorragia intraparenquimatosa que ocorre próxima aos ventrículos Diagnóstico → TC de crânio Ventrículos cerebrais, especialmente os laterais, preenchidos por material hiperatenuante. Pode haver aumento do volume dos ventrículos, indicando hidrocefalia não comunicante A principal complicação é a hidrocefalia não comunicante. O sangue coagula nos ventrículos, impedindo o fluxo liquórico, aumentando o volume dos ventrículos e da pressão intracraniana Conduta → Inserção de uma derivação ventricular externa GABRIEL GALEAZZI 3 LESÕES INTRA-AXIAIS As lesões intra-axiais ocorrem no interior do parênquima encefálico e não necessariamente se associam a eventos hemorrágicos CONTUSÃO E LACERAÇÃO ENCEFÁLICA Contusões cerebrais são lesões no tecido encefálico causadas pelo impacto do trauma, quando o encéfalo se choca contra porções internas do crânio Sintomas causados por contusão cerebral têm grande variabilidade, indo de uma síndrome concussional sem sinais de alarme até TCE grave, com sinais neurológicos focais e coma As localizações das lesões cerebrais mais frequentes são nas regiões frontal e temporal anteriores Diagnóstico → TC de crânio Lesão hipodensa (que denota morte tecidual e edema) nas áreas de golpe e contra golpe e focos hemorrágicos (imagens hiperdensas) de tamanho variável, indo de pequenos focos de sangramento até hemorragia intraparenquimatosa volumosa A laceração cerebral ocorre por perfuração direta do tecido encefálico LESÃO AXONAL DIFUSA (LAD) É um tipo particular de lesão traumática inercial, causada por movimentos de rápida aceleração, desaceleração e rotação da cabeça, causando cisalhamento de axônios de grandes tratos de substância branca Em casos leves, causa alterações cognitivas e comportamentais. Em casos graves o sistema ativador reticular ascendente (SARA), que é responsável pela manutenção da vigília, pode ser danificado, causando rebaixamento do nível de consciência O CASO TÍPICO DE LAD É TRAUMA COM REBAIXAMENTO DE NÍVEL DE CONSCIÊNCIA E TC DE CRÂNIO SEM ALTERAÇÕES IMPORTANTES Há a ausência de intervalo lúcido após o trauma. O paciente vítima da LAD não tem recuperação de consciência após o trauma e assim permanece nas horas e dias subsequentes Diagnóstico → RNM de Crânio Só é possível documentar a lesão das fibras de substância branca por meio da RNM TC de Crânio Ausência de lesões que justifiquem a alteração do nível de consciência (dissociação clínico- radiológica) Podem-se observar pequenos focos hiperdensos esparsos na substância branca profunda e no corpo caloso •Mecanismo: Ruptura de axônios por movimentos rotacionais •Quadro clínico: RNC - sem intervalo lúcido • Tratamento: Suporte Lesão Axonal Difusa •Mecanismo: Golpe e contra golpe •Quadro clínico: variável - concussão, RNC, sinais neurológicos focais, sequelas cognitivo comportamentais • Tratamento: Suporte, sintomático. Drenagem se sangue em fossa posterior Contusão Cerebral/HIP •Mecanismo: Ruptura de veias pontes •Quadro clínico: Agudo - coma, HIC, sin. focais; Crônico: alt. cognitiva, convulsão • Tratamento: Agudo - craniotomia e drenagem; Crônico: análise caso a caso Hematoma Subdural •Mecanismo: Ruptura das A. Meníngeas médias •Quadro clínico: Intervalo lúcido • Tratamento: Craniotomia e drenagem Hematoma Epidural •Mecanismo: Ruptura de vasos piais. Extravasamento da HIP •Quadro clínico: RNC; AVC por vasoespasmo • Tratamento: Suporte, nimodipino HSA •Mecanismo: Ruptura de vasos coroídeos. Extravasamento da HIP •Quadro clínico: HIC por hidrocefalia • Tratamento: Derivação ventricular Hemorragia Intraventricular GABRIEL GALEAZZI 4 FRATURAS CRANIANAS FRATURAS LINEARES Na maioria das vezes, não tem implicações significativas no quadro clínico Ocorrem em casos de TCE de menor energia Na maioria das vezes, o tratamento é expectante FRATURAS COM AFUNDAMENTO Ocorrem em traumas de maior energia Podem ser fechadas, quando a pele que reveste a fratura está íntegra, ou expostas, quando há ruptura da pele e do escalpo e contato da fratura com o meio externo Estão associadas a uma alta taxa de complicações, como crises epilépticas, infecções e lesões extra-axiais O tratamento inclui profilaxia de tétano, antibióticos profiláticos e anticonvulsivantes, no caso de crises epilépticas. O reposicionamento da calota craniana pode ser indicado em situações selecionadas FRATURAS DE BASE DE CRÂNIO São uma emergência médica Sinais de fratura de base de crânio Sinal do guaxinim Sinal de Battle (equimose retroauricular) Otorreia e Rinoliquorreia CONDUTAS NO TCE MODERADO E GRAVE AVALIAÇÃO INICIAL NA SALA DE EMERGÊNCIA CUIDADOS INTENSIVOS Hiperventilação PCO2: 30-35mmHg Reduzir o volume de sangue arterial Sedação e analgesia Cabeceira elevada a 30° Aumento da drenagem de sangue venoso Evacuação de liquor pela DVE Aumento da drenagem de liquor Solução salina hipertônica ou manitol Reduzir o volume do parênquima cerebral TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO EM CRIANÇAS INDICAÇÃO DE TC DE CRÂNIO NO TCE LEVE EM CRIANÇAS SÍNDROME DO BEBÊ SACUDIDO É causada por trauma inercial, quando se sacode o bebê Quadro típico é de um bebê com queda do estado geral que é levado para assistência médica com história contada pelos responsáveis não compatível com a gravidade do quadro clínico e negativa de que tenha ocorrido qualquer coisa com o bebê Tríade da Síndrome do Bebê Sacudido Encefalopatia (geralmente sem sinais externos de traumatismo) Presença de HSD (ou HSA traumática) Hemorragia retiniana CASO IDENTIFIQUE UM BEBÊ COM OS SINAIS DA TRÍADE DA SD. DO BEBÊ SACUDIDO, A ASSISTÊNCIA SOCIAL DA INSTITUIÇÃO E/OU O CONSELHO TUTELAR DEVEM SER ACIONADOS XABCDE ECG <8 Grave IOT TC de Crânio 9-12 Moderado TC de Crânio 13-15 Leve Critérios de gravidade TC de Crânio Pediatric Head CT Rule - PECARN Menos de 2 anos 2 anos ou mais TC Recomendada ECG<15 Alteração do nível de consciência Sinais de fratura do crânio palpável ECG<15 Alteração do nível de consciência Sinais de fratura de base do crânio Observação vs TC Perda de consciência>5s Hematoma occipital, parietal ou temporal Comportamento não habitual Mecanismo grave de trauma Histórico de perda de consciência Histórico de vômitos Mecanismo grave de trauma Cefaleia intensa
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