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Traumatismo Cranioencefalico O traumatismo cranioencefálico (TCE) é importante causa de morte e de deficiência física e mental, superado apenas pelo acidente vascular cerebral (AVC) como patologia neurológica com maior impacto na qualidade de vida. Estatistica Primeira causa de óbito em < 40 anos 78% dos óbitos entre 15 e 24 anos 30.000 óbitos/ano em > 65 anos 150.000 óbitos/ano (terceira causa, precedida por causa cardíaca e câncer) 500.000 internações/ano 1/3 morre antes de chegar ao hospital 50.000 ficam com algum grau de sequela Predomínio em sexo masculino e jovem Acidente automobilístico, quedas, FAF (ferimento por arma de fogo), espancamento e esportes Uso de álcool está presente em ¾ dos TCEs Na Rede SARAH de Hospitais do Aparelho Locomotor foram atendidos, em 2001, 344 pacientes com TCE e 1419 pacientes com AVC. A idade média dos pacientes com TCE foi 28,9 anos e 75,6 por cento foram do sexo masculino. A idade média dos pacientes com AVC foi 60 anos na proporção homem/ mulher foi igual a 1:1. Classificacao Os TCEs podem ser classificados em três tipos, de acordo com a natureza do ferimento do crânio: 1. traumatismo craniano fechado, 2. fratura com afundamento do crânio, e 3. fratura exposta do crânio. A. O traumatismo craniano fechado caracteriza-se por ausência de ferimentos no crânio ou, quando muito, fratura linear. Quando não há lesão estrutural macroscópica do encéfalo, o traumatismo craniano fechado é chamado de concussão. Contusão, laceração, hemorragias, e edema podem acontecer nos traumatismos cranianos fechados com lesão do parênquima cerebral. B. Os traumatismos cranianos com fratura com afundamento caracterizam-se pela presença de fragmento ósseo fraturado afundado, comprimindo e lesando o tecido cerebral adjacente. O prognóstico depende do grau da lesão provocada no tecido encefálico. C. Nos traumatismos cranianos abertos, com fratura exposta do crânio, ocorre laceração dos tecidos pericranianos e comunicação direta do couro cabeludo com a massa encefálica através de fragmentos ósseos afundados ou estilhaçados. Este tipo de lesão é, em geral, grave e há grande possibilidade de complicações infecciosas intracranianas. Lesões Cutâneas e Fraturas Os TCEs podem acometer a pele da cabeça, o crânio, ou o cérebro em qualquer combinação. As lesões cutâneas têm pouca morbidade por si só, mas em geral estão associadas a lesões do crânio e do tecido cerebral, além de poderem ser causa freqüente de hemorragia e infecção. - As fraturas do crânio podem ser da convexidade do crânio ou da base. - As da convexidade podem ser lineares, deprimidas, ou compostas. Fraturas Lineares: - As fraturas lineares são comuns e não requerem tratamento específico. Entretanto, são sinais de alerta, podendo ser indicativas de que o TCE teve certa gravidade. Por isto, o paciente com esse tipo de fratura deve ser cuidadosamente observado por 12 a 24 horas na fase aguda. - Exames neurológicos devem ser feitos periodicamente neste período, e deterioração do nível de consciência ou alterações ao exame físico podem ser indicativos da presença de hematoma intracraniano. Fraturas deprimidas do cérebro: - Fraturas deprimidas do crânio são o resultado de lesões provocadas por objetos de baixa velocidade. A tábua interna do crânio sofre maior dano do que a tábua externa. Essas fraturas podem determinar laceração da membrana de revestimento externa do cérebro ou do tecido cerebral. O tratamento cirúrgico deve ser considerado, sobretudo se a depressão for maior que a espessura do osso do crânio. Tipos de Fratura 1. Fraturas compostas: - São caracterizadas pela laceração do osso. O tratamento é essencialmente o mesmo das fraturas simples, lineares: tratamento adequado das feridas cutâneas com fechamento da laceração. 2. Fraturas da base do crânio: - São as mais freqüentes e, como as fraturas lineares, são indicativas de que o TCE foi intenso. Elas podem levar a fístulas liqüóricas, sendo Fontes potenciais de meningite, abscesso, e outras infecções intracranianas. Também podem lesar os nervos cranianos, cujos forames estão aí localizados. - Otoliquorréia, rinoliquorréia, Equimose na região da mastóide (sinal de Battle); Sangue na membrana timpânica (hemotimpano); Equimose periorbitária (olhos de guaxinim) - Fratura de assoalho de órbita; Esfenóide; Porção da mastóide do osso temporal Lesao Encefalica As lesões encefálicas podem ser classificadas em primárias e secundárias. - Lesões primárias: são o resultado do impacto, e geralmente estão presentes já no momento do acidente. - Lesões secundárias: são aquelas de curso progressivo, ocorrendo como conseqüência de hematoma, edema, isquemia ou hipóxia, podendo levar a lesões neurológicas tardias. O tecido cerebral pode ser lesado diretamente no local do impacto (lesão por ‘golpe’), ou em pontos diametralmente opostos ao impacto (lesão por ‘contra- golpe’). Tipos de Lesao Cerebral 1. Concussão é o traumatismo craniano fechado sem lesão estrutural macroscópica do encéfalo. Há alteração temporária da função cerebral, mais evidente logo após o traumatismo, tendendo a melhorar em 24 horas. Pode ser acompanhada por bradicardia, hipotensão e sudorese. A concussão caracteriza-se pela perda de consciência, freqüente, mas não invariável, amnésia (esquecimento) do evento, letargia temporária, irritabilidade, e disfunção de memória. Não tem curso fatal. A perda de consciência deve ser breve, sendo definida arbitrariamente, com duração inferior a 6 horas. 2. Lesão axonal difusa ocorre quando a perda de consciência é superior a 6 horas. Caracteriza-se por estiramento dos neurônios em decorrência dos movimentos súbitos de aceleração e desaceleração. Pode ser dividida de acordo com a duração do coma e o prognóstico depende da sua duração. Os comas mais prolongados podem estar associados a sinais focais ou edema, e têm prognóstico mais desfavorável. As lesões são microscópicas, e, em geral, afetam o corpo caloso e o tronco cerebral ou são difusas. 3. Tumefação cerebral pode ser devida a edema cerebral (aumento do teor de água extravascular) ou por aumento da volemia do cérebro pela vasodilatação anormal. A tumefação pode ser difusa ou focal. 4. Contusão cerebral caracteriza-se por lesão estrutural do tecido encefálico e pode ser demonstrada pela tomografia computadorizada como pequenas áreas de hemorragia. Não há lesão da pia/aracnóide (membranas mais internas de revestimento do cérebro). Edema cerebral é comum. As contusões, em geral, produzem alterações neurológicas que persistem por mais de 24h. As manifestações clínicas são déficits neurológicos focais, como: paralisias, transtornos da linguagem, alterações da memória e do Afeto e, mais raramente, alterações visuais. Os déficits Neurológicos podem persistir como sequelas. 5. do tecido cerebral, em geral, ocorrem quando há fraturas, apesar de que movimentos bruscos de aceleração e desaceleração também podem levar a perda de substância encefálica. Laceração das meninges e dos vasos intracranianos acompanham esse tipo de lesão e, geralmente, levam a hemorragia intracraniana. Déficits neurológicos sempre estão presentes, e deixam seqüelas, apesar de ocorrer certa melhora com o tempo. - Hematoma epidural (localizado entre a calota craniana e a membrana mais externa de revestimento do cérebro); ocorre entre 1 a 3% dos TCEs. - Hematoma subdural agudo (localizado entre as membranas que revestem o cérebro. - Hematoma subdural crônico tem apresentação tardia, pelo menos 20 dias depois do trauma. Tratamento Avaliação e atendimentoiniciais: - Preparação Pré e Intra-hospitalar - Exame Primário - Reanimação - Exame Secundário Exame primário: - A Vias Aéreas com Proteção da Coluna Cervical Vias Aéreas e Proteção Cervical Identificar Obstrução de Vias Aéreas Comunicação verbal Manobras: Levantamento do queixo e anteriorização da mandíbula Estabelecimento de via aérea definitiva (se indicado) Evitar movimentação excessiva Dispositivo de imobilização cervical - B Respiração e Ventilação Expor tórax Inspeção; ausculta; percussão; palpação Procurar Pneumotórax hipertensivo Instabilidade torácica c/ contusão pulmonar Hemotórax maciço Pneumotórax aberto Hipóxia Parada respiratória transitória Apnéia prolongada - C Circulação com Controle da hemorragia Trauma: hipotensão = hipovolemia Avaliação: Nível de consciência Cor da pele Pulso Hipotensão Mais que dobra a mortalidade Investigar causas: Hemorragia Contusão/tamponamento cardíaco Pneumotórax hipertensivo Insuficiência medular LPD/USG - D Incapacidade, Estado Neurológico Após reanimação Antes da sedação ou curarização Etapas: AVDN / GCS (Escala de Coma de Glasgow) Pupilas (tamanho e reação) - E Exposição e Controle do Ambiente Despir totalmente o paciente Após avaliação iniciar, proteger contra hipotermia: Cobertores aquecidos Dispositivos de aquecimento externo Fluidos de infusão IV aquecidos Temperatura ambiente adequada Reanimacao - Estabilização cardiopulmonar rápida! - Objetivo: prevenir a lesão secundária em um cérebro já lesado e oferecer ambiente ótimo para recuperação neuronal. - Avaliar indicação de: Intubação endotraqueal (IET) Obstrução mecânica Problemas ventilatórios Inconsciência (TCE grave) - Oxigenoterapia suplementar - Ventilação artificial - Reposição volêmica: Usar solução salina isotônica ou Ringer lactato Não usar: - Soluções hipotônicas - Soluções com glicose Evitar/tratar hiponatremia - Medidas auxiliares: - Monitoração: Eletrocardiográfica Freqüência respiratória Gasometria arterial Oximetria de pulso Pressão arterial Temperatura Débito urinário - Sondas urinárias e gástricas Exame secundário História clínica completa Exame físico completo Reavaliação dos sinais vitais Exame neurológico completo Radiografias (coluna cervical / tórax / pelve) LPD / USG abdominal Exames específicos História Nome, idade, sexo, raça, ocupação Mecanismo de trauma Hora de ocorrência do trauma Perda de consciência imediatamente após o trauma Nível subseqüente de consciência Amnésia: retrógrada, anterógrada Cefaléia: leve, moderada, grave Convulsões A Alergia M Medicamentos de uso habitual P Passado médico / Prenhez L Líquidos/alimentos ingeridos recente A Ambiente e eventos relacionados ao Trauma Exame físico - Examinar e palpar totalmente o crânio, incluindo a face Ferimentos e fraturas Nariz e ouvidos (perdas de LCR) - Inspecionar ferimentos do couro cabeludo Tecido cerebral Fraturas com afundamento Corpos estranhos Perdas de LCR - coluna cervical Palpar pesquisando a presença de hipersensibilidade/dor e, se necessário, aplicar colar cervical Realizar radiografias laterais da coluna cervical Exame neurológico completo Reavaliar nível de consciência e pupilas Motricidade Sensibilidade Pares cranianos Reavaliações freqüentes (detecção de deterioração do estado neurológico) Indicações de internação: TCE LEVE • TC não disponível • Alteração à TC • TCE penetrante • Fratura de crânio • Perda/piora do nível de consciência • Rinorréia/otorréia TCE MODERADO E GRAVE • Cefaléia moderada-grave • Amnésia • Intoxicação por álcool/drogas • Traumatismos associados • Falta de acompanhante confiável • Impossibilidade de retornar rapidamente ao hospital Monitorização • PIC • Oximetria do bulbo da jugular • PVC contínua • PAM invasiva contínua • Capnometria contínua Prognostico A previsão do grau de recuperação dos pacientes é bastante variável. Talvez, o principal fator prognóstico seja a gravidade do trauma. A gravidade tem sido aferida de diversas formas, como a duração da amnésia pós-traumática, o período de tempo transcorrido até que o paciente comece a responder a comandos verbais e o comprometimento do nível de consciência nas horas que sucedem ao acidente. O parâmetro mais usado é a aferição da gravidade e duração do comprometimento da consciência após o TCE, que é feita através da Escala de Coma de Glasgow. O TCE grave geralmente cursa com mortalidade na fase inicial de mais de 50% e dentre os sobreviventes, 30% tem uma recuperação regular ou boa após 6 meses. O TCE moderado tem mortalidade de menos de 10% e muitos pacientes ficam apenas com seqüelas leves. O TCE leve raramente resulta em morte e o paciente geralmente é capaz de retomar uma vida normal. Os mecanismos através dos quais o cérebro passa a recuperar funções podem ser, entre outros, os seguintes: áreas não lesadas podem exercer funções de áreas lesadas, conexões perdidas podem se restabelecer e pode haver reorganização dos neurotransmissores. Muito se tem pesquisado sobre este tema e espera-se que haja cada vez mais recursos a oferecer às pessoas que sofreram traumatismo craniencefálico. Orientacoes aos Familiares Quando da liberação do paciente orientar a família sobre sinais, sintomas e complicações inesperados que podem ocorrer horas, dias, semanas ou até meses após o traumatismo. As primeiras 24 horas são as mais críticas. É aconselhável que esse paciente permaneça em companhia de alguém confiável, pelo menos durante esse período. O paciente deve retornar imediatamente ao hospital especializado que tenha EQUIPE MÉDICA DE EMERGÊNCIA, se aparecer algum dos sintomas ou sinais a seguir relacionados: 1. Cefaléia 2. Sonolência excessiva ou insônia 3. Irritabilidade, ansiedade ou labilidade emocional 4. Desmaio, fraqueza, diminuição da força nas pernas, na metade do corpo, ou formigamento e adormecimento no corpo 5. Distúrbio da memória, dificuldade para se concentrar 6. Distúrbio de personalidade 7. Confusão mental, dificuldade para falar ou entender 8. Náuseas, vômitos, tonturas ou convulsão 9. Diminuição da audição ou intolerância ao som 10. Movimento estranho dos olhos, visão dupla, diminuição da acuidade visual ou intolerância à luz 11. Falta de ar, alteração da respiração, febre (T > 37,8 ºC) 12. Perda de líquido ou sangue pelo ouvido e nariz 13. Tamanhos das pupilas diferentes 14. Quadro depressivo Qualquer modificação observada durante esse período, é aconselhável retornar ao hospital de origem. O paciente pode continuar usando outras medicações de rotina, porém, NÃO deve usar sedativos (medicações para dormir, xarope para tosse, ou outras medicações que possam produzir sono), pelo menos durante 48 horas. Durante o sono, o paciente deve ser acordado freqüentemente, para que se possa avaliar as orientações acima.
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