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Curso Técnico em Tradução e Interpretação de Libras Tradução e Interpretação em Língua de Sinais: Modalidade Visual Rafaela Costa Curso Técnico em Tradução e Interpretação de Libras Tradução e Interpretação em Língua de Sinais: Modalidade Visual Rafaela Costa Escola Técnica Estadual Professor Antônio Carlos Gomes da Costa Educação a Distância Recife 1.ed. | Maio 2022 Catalogação e Normalização Hugo Cavalcanti (Crb-4 2129) Diagramação Jailson Miranda Coordenação Executiva George Bento Catunda Renata Marques de Otero Manoel Vanderley dos Santos Neto Coordenação Geral Maria de Araújo Medeiros Souza Maria de Lourdes Cordeiro Marques Secretaria Executiva de Educação Integral e Profissional Escola Técnica Estadual Professor Antônio Carlos Gomes da Costa Gerência de Educação a distância Professor Autor Rafaela Costa Revisão Rafaela Costa Coordenação de Curso Pollyana Kaline Silva de Santana Coordenação Design Educacional Deisiane Gomes Bazante Design Educacional Ana Cristina do Amaral e Silva Jaeger Helisangela Maria Andrade Ferreira Izabela Pereira Cavalcanti Jailson Miranda Roberto de Freitas Morais Sobrinho Descrição de imagens Sunnye Rose Carlos Gomes Sumário Introdução .................................................................................................................................... 5 1.Competência 01 | Entender A Modalidade De Língua Gestual-Visual .......................................... 6 1.1 Língua De Sinais É Língua Natural .............................................................................................................. 6 1.2 De Uma Modalidade A Outra .................................................................................................................... 8 1.3 Parâmetros Linguísticos Na Língua De Sinais .......................................................................................... 10 1.3.1 Configuração De Mão (CM) .................................................................................................................. 11 1.3.2 Locação (L) ............................................................................................................................................ 13 1.3.3 Movimento (M) .................................................................................................................................... 13 1.3.4 Orientação Da Mão (Or) ....................................................................................................................... 16 1.3.5 Expressões Não Manuais (ENM) .......................................................................................................... 18 1.4 Características Da Língua De Sinais ......................................................................................................... 20 1.5 Outras Características: Oral-Auditiva VS Gestual-Visual ......................................................................... 22 1.5.1 Oral-Auditiva ........................................................................................................................................ 22 1.5.2 Gestual-Visual ....................................................................................................................................... 23 1.6 Variação Linguística ................................................................................................................................. 24 2.Competência 02 | Compreender A Interpretação Intermodal. .................................................. 29 2.1 Tradução VS Interpretação: Existem Diferenças Entre Ambas? .............................................................. 29 2.2 Interpretação Simultânea Intermodal ..................................................................................................... 34 2.3 Efeitos De Modalidade De Língua Na Interpretação Simultânea Intermodal ......................................... 38 2.3.1 Performance Corporal-Visual ............................................................................................................... 39 2.3.2 Code-Blending - Sobreposição De Línguas ........................................................................................... 40 2.3.3 Direcionalidade Na Interpretação Inversa ........................................................................................... 42 2.4 Outros Tipos De Interpretação ................................................................................................................ 45 3.Competência 03 | Desenvolver Técnicas De Interpretação ....................................................... 47 3.1. Técnica Demanda Conhecimentos ......................................................................................................... 47 3.2. Técnica De Um Espaço De Sinalização Para Produções Audiovisuais ..................................................... 50 3.2.1 Proporções Para Janela De Libras ........................................................................................................ 51 3.3. Espaço De Sinalização ............................................................................................................................ 52 3.4. Classificador (CL) .................................................................................................................................... 53 3.5. Expressões Faciais E Corporais ............................................................................................................... 55 3.6. Vestuário E Aparência ............................................................................................................................ 58 3.6.1 Vestimenta (Roupa) .............................................................................................................................. 58 3.6.2. Maquiagem (Make) ............................................................................................................................ 59 3.6.3. Acessório ............................................................................................................................................. 61 Conclusão .................................................................................................................................... 63 Referências ................................................................................................................................. 64 Minicurrículo do Professor .......................................................................................................... 69 5 Introdução Olá, querid@ estudante! Seja bem-vind@ à disciplina “Tradução e Interpretação em Língua de Sinais: Modalidade Visual”, parte fundamental da matriz curricular do Curso Técnico em Tradução e Interpretação em Libras, no formato EaD (Educação a Distância). O presente e-book está dividido em três competências, a saber: 1) entender a modalidade de língua gestual-visual; 2) compreender a interpretação intermodal; e 3) desenvolver técnicas de interpretação. Considerando, então, a natureza de produção e recepção da língua de modalidade gestual-visual, e partindo do pressuposto de que a interpretação simultânea intermodal (Português para Libras) está mais evidente entre os profissionais no Brasil, a disciplina inicia buscando compreender esse processo, como também, os efeitos de modalidade e algumas estratégias. Desse modo, difundir conhecimentos sobre a modalidade gestual-visual é necessário para contribuir na formação e atuação do profissional Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais, que se estende por várias áreas, viabilizando condições de acessibilidadee de direito ao Surdo usuário da Libras. Logo, o meu pedido é que você embarque nesta nova jornada enriquecedora sobre a modalidade gestual-visual, com um olhar direcionado ao Surdo. Portanto, leia e releia – se for o caso – o material, assista às videoaulas das competências, escute os podcasts e faça as atividades semanais. Não se esqueça de consultar os sites através dos links disponíveis no e-book, como também, os vídeos recomendados nos destaques, porque complementa os seus estudos sobre a disciplina: “Tradução e Interpretação em Língua de Sinais: Modalidade Visual”. Portanto, resta concluir: mexa-se e mãos à obra! Bons Estudos! Abraço – Prof.ª Rafaela Costa 6 1.Competência 01 | Entender A Modalidade De Língua Gestual-Visual Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS de modalidade gestual-visual, apresenta-se como língua natural do sujeito Surdo, no Brasil. 1.1 Língua De Sinais É Língua Natural O linguista e filósofo Saussure (1969), no início da sua obra, pergunta-se qual é o objetivo da linguística. Bem, o autor em reposta a sua própria indagação diz: “o objetivo teórico da linguística é a língua”, ou seja, o estudo científico das línguas naturais humanas. Portanto, o fenômeno primário da língua é a comunicação e a expressão do pensamento entre seus usuários. Sendo assim, no campo da linguística, em meados dos anos 60, o linguista norte americano Stokoe (1960), em seus estudos científicos sobre American Sign Language (Língua Americana de Sinais - ASL), considera que a língua de sinais (LS) é natural e completa, visto que, apresenta estrutura gramatical própria em seu nível fonológico. Posteriormente à Stokoe, outros estudos linguísticos, em grande parte sobre a Língua Americana de Sinais, foram realizados por Battison (1978), Klima e Bellugi (1979), Liddell e Johnson (1989, 2010). Entretanto, no Brasil as pesquisas sobre a Língua Brasileira de Sinais são realizadas por Brito (1995), Quadros e Karnopp (2004), onde apresentam a estrutura gramatical em níveis fonéticos e fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos. Num primeiro momento, os linguistas têm como foco em seus estudos identificar o que há em comum entre as línguas orais e as línguas de sinais, com o objetivo de apresentar o status linguístico, como também, provar que as línguas de sinais são, de fato, línguas naturais (LILLO- MARTIN, 2002; QUADROS, 2002). Entretanto, o reconhecimento formal do status linguístico das línguas de sinais é recente. A UNESCO, somente em 1984, declarou: “A língua de sinais é um sistema linguístico APERTE O PLAY E ESCUTE O PODCAST! 7 legítimo e deveria merecer o mesmo status que os outros sistemas linguísticos” (WRIGLEY, 1996). E atualmente, não há dúvidas em relação ao status linguístico das línguas de sinais. Portanto, existem propriedades linguísticas que não estão restritas à modalidade de língua, quando são apresentadas características específicas das línguas de sinais, as quais se vinculam aos efeitos da modalidade, também, vistas como um conjunto completo de dispositivos linguísticos específicos (KLIMA; BELLUGI, 1979), os quais estão relacionados à fonética e fonologia, à morfologia, à sintaxe, à semântica, e à pragmática. Entretanto, outros estudos linguísticos ampliam suas pesquisas voltadas à diferença intrínseca às línguas de sinais, à sua especificidade em relação às línguas orais e à diferença entre as próprias línguas de sinais. Sendo assim, o estudo das línguas de sinais tem apresentado contribuições à linguística e suas áreas afins, quando apresenta outro modo de produção e percepção da língua, sejam, com seus efeitos e não efeitos (QUADROS, 2006). Todavia, em relação à questão dos efeitos de modalidade, Quadros e Karnopp, enumera uma lista de traços (aspectos) atribuídos à língua humana que transcendem a modalidade. Nesse sentido, identifica-se propriedades das línguas humanas nas línguas de sinais, tais como: a) flexibilidade e versatilidade; b) descontinuidade; c) arbitrariedade; d) dupla articulação (dualidade); e) criatividade e produtividade; e f) dependência estrutural. (QUADROS; KARNOPP, 2004). Ainda sobre os efeitos de modalidade, Rodrigues (2018) identifica e apresenta outras propriedades das línguas, a saber: a) caráter discreto; b) estruturação sintática; c) funcionamento do processamento linguístico; d) lateralização cerebral; e, e) processo de aquisição da linguagem, características que estão para além da modalidade. Segundo Rodrigues (2018), os efeitos de modalidade estão relacionados às características fonéticas de uma língua. Enquanto, nas línguas orais os fonemas correspondem às unidades sonoras, por outro lado, nas línguas de sinais correspondem às formas das mãos, como, por exemplo, movimento (M) e locação (L). Desta forma, as mãos e o corpo constituem-se em língua, ou seja, na língua de sinais, permitindo algumas características se destacarem, a saber: a) a simultaneidade na organização interna dos sinais e na estruturação dos enunciados; b) o emprego de verbos de movimento e locação; c) a intensa ocorrência de expressões faciais gramaticais e emocionais; d) o uso comum de classificadores (PADDEN, 2000); e) a iconicidade; f) a sintaxe espacial; g) a visibilidade necessária do 8 falante; e, h) a possibilidade de uso concomitante da modalidade oral-auditiva (QUADROS; KARNOPP, 2004). Características essas que se vinculam diretamente à modalidade gestual-visual da língua, dentre outras. (QUADROS; KARNOPP, 2004). 1.2 De Uma Modalidade A Outra A palavra “modalidade” origina-se no latim, “modalis” e, nesta perspectiva, é fundamental o entendimento sobre o que quer dizer o termo modalidade, quando o assunto é referente à língua na estrutura linguística. Sendo assim, a pesquisadora da University of Washington, Susan McBurney define: [...] a “modalidade” de uma língua como sendo os sistemas físicos ou biológicos de transmissão por meio dos quais a fonética de uma língua se manifesta. (MCBURNEY, 2004) Alicerçado nessa definição de modalidade, como propõe McBurney, não há dúvidas que a utilização de uma língua depende de sua expressão por sistemas de produção e de sua percepção por sistemas de recepção. Portanto, existem diferentes sistemas de desempenho (físicos ou biológicos) articulatório-perceptual entre línguas, tanto no Brasil, quanto no mundo. Neste sentido, a capacidade humana para linguagem manifesta-se por, pelo menos, duas modalidades de língua, onde indica uma diferença de interface articulatório-perceptual entre a oral-auditiva e a gestual-visual (MEIER, 2004; QUADROS 2006). Sendo assim, uma das principais diferenças das línguas de sinais, com relação às línguas orais, é a modalidade de produção e percepção (STOKOE, 1960; BRITO, 1995; QUADROS; KARNOPP, 2004). Portanto, as línguas orais, de modalidade oral-auditiva (vocal-auditiva), utilizam de um sistema de articulação vocal e um sistema auditivo de recepção. As línguas de sinais, por outro lado, são denominadas línguas de modalidade gestual-visual (manual-visual, espaço-visual), pois a informação linguística conta com o sistema gestual de produção e com o sistema visual para percepção. (STOKOE, 1960; BRITO 1995; QUADROS; KARNOPP, 2004). Então, observe no quadrinho abaixo, um exemplo linguístico que difere a modalidade oral-auditiva da modalidade gestual-visual: 9 Figura 01 – Língua oral e Língua de Sinais Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da Figura: Quadrinho com fundo colorido. No lado esquerdo um jovem negro indaga “E agora?!, na sequência pergunta “Qual o sinal de telefone”, abaixo tem as palavras oral-auditiva e linear. No lado direito, tem uma jovem fazendo o sinal de telefone, e as palavras gestual-visual, simultânea e telefone. Fim da Audiodescrição Todavia, Brito (1995) afirma que a diferençaentre as duas modalidades, também está na organização fonológica: A língua portuguesa tem como uma de suas principais características à linearidade (sequência horizontal no tempo) que, devido a sua modalidade oral-auditiva, seus falantes produzem fonemas (sons). Já na língua de sinais, devido a sua modalidade gestual-visual, ocorre a simultaneidade, porque a estrutura é organizada a partir de parâmetros linguísticos visuais. Van der Hulst (1993) ilustra essa diferença entre a organização das línguas orais, pautada na linearidade, e das línguas de sinais, pautada na simultaneidade, conforme o esquema abaixo: NOTA Horizontal: sucessão temporal; Vertical: simultaneidade temporal; µ = morfema; [ ] = um morfema ou conjunto de especificações. 10 Figura 02 – Linearidade e Simultaneidade Fonte: Van Der Hulst (1993) adaptado pela Autora Audiodescrição da Figura: Fundo roxo com a organização das línguas orais (linearidade) e das línguas de sinais (simultaneidade) na cor branca. Fim da Audiodescrição 1.3 Parâmetros Linguísticos Na Língua De Sinais O linguista norte americano, Stokoe (1960), se tornou pioneiro ao realizar uma primeira descrição fonológica da American Sign Language (Língua Americana de Sinais - ASL), e em seguida define três aspectos (parâmetros) linguísticos formacionais dos sinais, a saber: a) configuração das mãos (CM); b) locação (L); e c) movimento (M). Figura 03 – Sinal Telefone Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da Figura: Quadrinho colorido com uma jovem sinalizando “telefone”. No canto superior esquerdo tem um balão com o nome “telefone”, no canto superior direito tem um telefone na cor vermelha. Fim da Audiodescrição 11 Posteriormente aos estudos de Stokoe, outros dois parâmetros linguísticos foram adicionados, sendo: orientação da mão (Or) (BATTISON, 1974; FRIEDMAN, 1975) e expressões não manuais (ENM’S) – expressões faciais e corporais – (BAKER-SHENK; COKELY, 1980). Atualmente, as pesquisas no Brasil apresentam que a Língua Brasileira de Sinais, assim como qualquer outra língua de sinal, também pode ser descrita fonologicamente por esses cinco parâmetros (BRITO, 1995): configuração de mão (CM), locação (L), movimento (M), orientação da mão (OR) e expressões não manuais (ENM). 1.3.1 Configuração De Mão (CM) Para compreender a configuração de mão é importante, antes, relembrar a anatomia (palma, dorso, dedos) da mão humana. Seguindo como referência a mão direita, o primeiro dedo a ser representado é o polegar, seguido do indicador, médio, anelar e mínimo. Figura 04 – Palma da Mão e Dorso da Mão Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da figura: Fundo roxo, a esquerda tem as palavras polegar, indicador, médio, anelar e mínimo, palma, dorso na cor branca. Ao centro tem o desenho da palma da mão e do dorso da mão. Fim da Audiodescrição. Portanto, a configuração de mão é a forma na qual a(s) mão(s) se articula(m) e/ou se configura(m) compondo um sinal. A configuração pode formar desde o alfabeto manual à outras formas, para a construção do léxico nessas línguas de sinais. 12 A configuração adotada pela mão tem como resultado a posição dos dedos. Cada configuração pode ser feita pela mão dominante (mão direita para os destros, mão esquerda para os canhotos), ou pelas duas mãos, dependendo do sinal. Figura 05 – Configurações de Mãos Fonte: INES Audiodescrição da Figura: 79 configurações de mãos. Fim da Audiodescrição 13 1.3.2 Locação (L) É o local (cabeça, tronco, mão, espaço neutro) onde o sinal é realizado, podendo tocar alguma parte do corpo ou ser realizado em um “espaço neutro”, que é o espaço à frente do corpo da pessoa que sinaliza (sinalizador). Figura 06 – Espaço de Realização dos Sinais Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da Figura: Fundo roxo com um jovem rapaz ao centro, vestindo um casaco cinza. O mesmo sinaliza “limite”. Fim da Audiodescrição 1.3.3 Movimento (M) O movimento na língua de sinais resulta da relação entre três elementos: mãos-espaço- tempo. Sendo assim, o movimento é definido como um parâmetro complexo, o qual envolve uma vasta rede de formas e direções, desde os movimentos internos da mão, os movimentos do pulso e os movimentos direcionais no espaço (KLIMA E BELLUGI, 1979). Desse modo, o movimento na Libras apresenta diferentes categorias, variando em: tipo (contorno ou forma geométrica – retilíneo, helicoidal, semicircular, sinuoso, angular, pontual; interação – alternado, de aproximação, de separação, de inserção, cruzado; contato – de ligação, de agarrar, de deslizar, de toque, de esfregar, de riscar, de escovar ou de pincelar; torcedura do pulso – 14 rotação, com refreamento; dobramento do pulso – para cima, para baixo; e interno das mãos – abertura, fechamento, curvatura, dobramento.); direcionalidade (unidirecional (para cima, para baixo, para a direita, para a esquerda, para dentro, para fora, para o centro, para a lateral inferior esquerda, para a lateral inferior direita, para lateral superior direita, para lateral superior esquerda, para específico ponto referencial; bidirecional; multidirecional); maneira (qualidade, tensão, velocidade) e frequência (repetição) (QUADROS; KARNOPP, 2004). Tipo Do Movimento – Contorno Ou Forma Geométrica Exemplos: Figura 07 – Direção do Movimento da Mão Fonte: Arquivo pessoal da Autora Audiodescrição da Figura: Seis sequências de fotos de um jovem rapaz, com camisa na cor preta, apresentando a orientação da mão para frente, para o corpo, para baixo, para cima, para direita, para esquerda. Fim da Audiodescrição 15 Direcionalidade Do Movimento – Unidirecional, Bidirecional e Multidirecional Exemplos: Figura 08 – Direção do Movimento Fonte: Arquivo pessoal da Autora Audiodescrição da Figura: Sequências de três fotos de uma jovem com camisa na cor preta sinalizando educação, amigo e sapo. Fim da Audiodescrição Maneira (Velocidade) Exemplo: Figura 09 – Sinal Pedagogia Fonte: João Bezerra Audiodescrição da Figura: Foto de um jovem rapaz, com camisa na cor preta, sinalizando pedagogia. Fim da Audiodescrição 16 Frequência (Repetição) Exemplo: Figura 10 – Sinal Sonho Fonte: Arquivo pessoal da Autora Audiodescrição da Figura: Foto de um jovem rapaz, com camisa na cor preta, sinalizando sonho. Fim da Audiodescrição 1.3.4 Orientação Da Mão (Or) Para realizar o sinal como foi convencionado pela comunidade surda, é fundamental conhecer seus parâmetros constituintes. Segundo Brito (1995), Quadros e Karnopp (2004) afirmam que o parâmetro de orientação indica a posição da palma das mãos. Então, observe abaixo a sequência de imagens com alguns exemplos sobre orientação da mão (Or) (QUADROS E KARNOPP, 2004). CONHEÇA E OBSERVE O MOVIMENTO DE 10 SINAIS EM LIBRAS ACESSE O LINK: https://www.youtube.com/watch?v=9_MpN78xx0c - VÍDEO ACESSÍVEL EM LIBRAS - 17 Exemplos: Figura 11 – Direção do Movimento da Mão Fonte: Arquivo pessoal da Autora Audiodescrição da Figura: Sequência de seis fotos de um jovem rapaz, com camisa na cor preta, apresentando a orientação da mão para fora, para dentro, para baixo, para cima, ipsilateral e contralateral. Fim da Audiodescrição Portanto, são seis exemplos básicos de orientação da palma da mão, a saber: para fora, para dentro, para baixo, para cima, ipsilateral (para direita) e contralateral (para esquerda) (QUADROS E KARNOPP, 2004). FÓRUM ABERTO PARA VOCÊ POSTAR O LINK DA ATIVIDADE 1º ENCONTRO PRESENCIAL PARTICIPE! 18 Agora, observe a direção da palma da mão do sinal “sentir”: Exemplo: Figura 12 – Palma Para Dentro Fonte: Arquivo pessoal da Autora Audiodescrição da Figura: Foto de um jovem rapaz,com camisa na cor preta, fazendo o sinal “sentir”. Fim da Audiodescrição 1.3.5 Expressões Não Manuais (ENM) A comunicação humana pode ocorrer de diferentes maneiras, e uma delas é através das expressões não manuais (facial, corporal). Sendo assim, revela a intensidade do sentimento, uma sentença negativa sobre uma pergunta, ou até mesmo, na construção afirmativa durante a realização do sinal. Entretanto, estas expressões podem ser realizadas no rosto, com a cabeça ou com o tronco, ou ainda, com a conjugação dessas partes. OBSERVE A ORIENTAÇÃO DA MÃO DOS SINAIS SOBRE ANIMAIS ACESSE O LINK: https://www.youtube.com/watch?v=1M8LOjz4xOw - VÍDEO ACESSÍVEL EM LIBRAS - 19 As expressões faciais gramaticais podem ser divididas em dois níveis, a saber: a) nível morfológico e b) nível da sintaxe. Sendo assim, no nível morfológico, as expressões faciais estão relacionadas também, ao grau, como no exemplo dos adjetivos associados ao grau de intensidade: BONITINHO – BONITO – BONITÃO. E no o substantivo quando associado ao grau de tamanho: CARRINHO, CARRO, CARRÃO. Já no nível da sintaxe, as expressões faciais podem indicar sentenças: negativas (NÃO, NUNCA), interrogativas (COMO, QUEM, POR QUE, QUANDO), afirmativas (EU VOU AO SHOPPING), condicionais (SE CHORAR, EU NÃO DOU CHOCOLATE), relativas (QUE – O RAPAZ QUE CONSTRUIU A LAJE ESTÁ VINDO), construções com tópico (FRUTA – EU GOSTO DE MORANGO COM ABACAXI) e com foco (EU COMPREI UMA BONECA retificando NÃO, RAFAEL COMPROU UMA BONECA). As expressões afetivas são utilizadas para expressar emoções e/ou sentimentos como você pode observar nos exemplos abaixo: ALEGRE – TRISTE. Exemplos: Figura 13 – Expressões Faciais Fonte: Arquivo pessoal da Autora Audiodescrição da Figura: Fundo branco com um rapaz usando camisa na cor preta e sinalizando alegre e triste. Fim da Audiodescrição Sendo assim, saber se expressar na Língua Brasileira de Sinais, implica saber combinar esses parâmetros de tal maneira que formem sinais em uma estrutura gramatical, como qualquer outra língua (QUADROS; KARNOPP, 2004). 20 1.4 Características Da Língua De Sinais Somente em meados dos anos 80, surgem estudos sobre a American Sign Language (Língua Americana de Sinais - ASL), atingindo a área da morfologia (estrutura interna dos sinais e as regras que determinam a formação das palavras) e a área da sintaxe (combinação que determina a formação de estruturas maiores - frases). Além disso, há estudos sobre semântica (estudo do significado da palavra na sentença) e pragmática (estudo da linguagem em uso – contexto – e dos princípios de comunicação) (QUADROS; KARNOPP, 2004). Figura 14 – Estrutura Gramatical da Língua de Sinais Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da Figura: Um quadrinho colorido, no lado esquerdo na parte superior tem a frase “língua de sinais, na parte inferior tem configuração de mão “V”. No centro e na parte superior tem a frase “estrutura gramatical” e abaixo tem as palavras: fonética e fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e pragmática. Fim da Audiodescrição E embora a Língua Brasileira de Sinais, assim como as outras línguas de sinais, apresente uma estrutura dual – unidades com significado (morfemas) e unidades sem significado (fonemas) – OPS! HORA DE ASSISTIR A VIDEOAULA DA COMPETÊNCIA 01. 21 apesar de o conjunto de articuladores serem diferente das línguas orais, atesta abstração e a universalidade da estrutura fonológica nas línguas humanas (QUADROS; KARNOPP, 2004). Continuando nessa mesma direção, a língua de sinais incorpora mais informações (are more “packed”) que a língua oral (LO). Sendo assim, as línguas gestuais-visuais fazem “uso do espaço de sinalização e de movimentos com as mãos e com o corpo para veicular informações de maneira quadridimensional, enquanto que as línguas orais-auditivas fazem uso de um sistema linear de encandeamento de informações no fluxo da fala (LOURENÇO, 2015). Neste sentido, Brito (1995) afirma que a língua de sinais (LS), também, caracteriza-se pelas restrições estruturais impostas por sua modalidade: […] a modalidade de língua (gestual-visual ou oral-auditiva) pode impor restrições à estruturação da língua. […] Entre as diferenças existentes entre as línguas orais e as línguas de sinais, salientamos a ordem sequencial linear da fala e a simultaneidade dos parâmetros na constituição dos sinais, assim como a simultaneidade de sinais na formação de várias orações em língua de sinais. Obviamente, apesar de se passar em espaço multidimensional, as línguas gestuais-visuais, também, fazem uso da linearidade temporal. Por outro lado, as línguas orais nem sempre são exclusivamente unidimensionais. Por exemplo, no caso da sequência de palavras acompanhadas de entonação e no caso dos traços distintivos dos fonemas, há simultaneidade (BRITO, 1995, p. 29). Além disso, o texto em português tem relação temporal e espacial, visto que, é linear. Enquanto que, na língua de sinais, essa relação apresenta características quadridimensionais, “pois utilizam o espaço e o tempo ‘encarnado’ no corpo do profissional Tradutor Intérprete de Língua de Sinais (TILS), expressando por meio do espaço e dos movimentos, relações temporais e espaciais, quase como uma ‘encenação’, mas em forma de língua”. (NOVAK, 2005; QUADROS; SOUZA, 2008). Por fim, no ato tradutório e interpretativo da língua oral-auditiva para a língua gestual- visual da língua de sinais, em sua versão oral (isto é, que não está em sua versão escrita, mas em sinais), exige do Tradutor Intérprete de Língua de Sinais (TILS) a presença e visibilidade físicas, visto que, o texto não é separado de sua encenação. (NOVAK, 2005; QUADROS; SOUZA, 2008). 22 1.5 Outras Características: Oral-Auditiva VS Gestual-Visual A língua gestual-visual apresenta outras características especificas que as diferem da língua oral-auditiva e, por sua vez, no processo tradutório e/ou interpretativo. Nas duas modalidades, mesmo apresentando diferentes canais de produção e recepção, ambas cumprem a função de permitir a comunicação e a interação entre seus pares. 1.5.1 Oral-Auditiva O mecanismo de produção (articulação) das línguas de modalidade oral-auditiva ocorre através de um conjunto de órgãos que compõem o aparelho fonador (sistemas respiratório, fonatório e articulatório), tais como, pulmões, músculos pulmonares, tubos brônquios, traqueia, diafragma, laringe, faringe, língua, palatos, fossas nasais, nariz, dentes e lábios. Figura 15 – Oral-auditiva Fonte: Elaborado por Rafaela Costa Audiodescrição da Figura: Um quadrinho colorido com as características do mecanismo de produção da oral-auditiva: interna, pequeno, antiga, invisível, fonador e linear. Fim da Audiodescrição VOCÊ SABIA? QUADRIDIMENSIONAL: execução de mais de um termo ao mesmo tempo, ou repasse de várias informações com um único sinal, usando outros elementos como expressão facial e corporal, uso do espaço ou uso de classificadores. 23 Assim, a articulação da língua oral-auditiva, por se realizar de maneira interna ao corpo, é quase invisível, tendo em vista que os órgãos são relativamente menores e alguns ocultos – que manipulam sinais acústicos, os quais necessitam de recepção auditiva. Portanto, durante a fonação, percebe-se visivelmente, a olho nu, apenas os lábios e parte dos dentes, como também, da língua. 1.5.2 Gestual-Visual Na língua de modalidade gestual-visual, diferentemente da língua de modalidade oral- auditiva, a produção da fala ocorre de maneira externa ao corpo do falante, tornando o mesmo fisicamente visível. Portanto, as línguas de sinais são aparentes, explicitas e destacam-se, porque exploram a simultaneidade na constituição dos sinais, como também, suas relações sintáticas são construídas pelo usodo espaço, enriquecendo os sinais (QUADROS; KARNOPP, 2004). Figura 16 – Gestual-visual Fonte: Elaborado por Rafaela Costa Audiodescrição da figura: Um quadrinho colorido com as características do mecanismo de produção da gestual-visual: externa, explicita, jovem, visível, corpo e simultânea. Fim da Audiodescrição O sinal gestual-visual realiza-se por meio do movimento do corpo no espaço, o qual inclui os articuladores de diferentes partes (cabeça, tronco e mão) dando forma a língua. Sendo assim, tem a combinação de diversos movimentos corporais, os quais envolvem: a) movimento de corpo e cabeça; b) movimento dos braços, com destaques para as mãos, pulsos e dedos; e c) expressões faciais, marcadas por ações de olhos, sobrancelhas e boca (QUADROS; KARNOPP, 2004) para construir um cenário de forma clara. 24 Essas e outras caraterísticas apresentadas sobre ambas às modalidades de línguas envolvidas no processo de tradução e/ou interpretação, podem, consequentemente, impactar diretamente o profissional tradutor e/ou intérprete de língua de sinais em seu exercício interpretativo simultâneo. Portanto, é possível observar que o TILS transita, não somente entre duas línguas, mas, também, entre duas modalidades (PADDEN, 2000). 1.6 Variação Linguística A linguística é dividida em várias áreas que compõem esta ciência, a saber: fonética e fonologia, morfologia, sintaxe, pragmática e semântica. Há ainda outras áreas que interligam com estudos linguísticos, como a sociolinguística, a psicolinguística, a linguística textual e a análise do discurso, quanto à língua de sinais (QUADROS; KARNOPP, 2004). Neste e-book, detém somente pontuar uma síntese sobre a sociolinguística, visto que é uma ramificação da linguística, a qual estuda as variações linguísticas, geográficas, sociais e estilísticas. Afinal, é comum uma língua natural humana, sujeita, portanto, à variação e à mudança linguística (BAGNO, 2002; PIETROFORTE, 2002; FLORY; SOUZA, 2009). A Língua Brasileira de Sinais – Libras não apresenta uma unidade homogênea e invariável, ou seja, é constituída de heterogeneidade social (CHAGAS, 2002), capaz de produzir variações linguísticas entre os Surdos de várias regiões do país (WILLIAM LABOV, 2008). Desse modo, a organização de estudos destas variações linguísticas (semânticas, fonológicas e sintáticas) na Libras está relacionada à condição essencialmente visual, a partir do lugar histórico e de modo de olhar do Surdo. REGIONALISMO E VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM LIBRAS ACESSE O LINK: https://www.youtube.com/watch?v=Dxlwvr5w3xE - VÍDEO LEGENDADO - 25 Exemplos: Figura 17 – Variação linguística Fonte: Arquivo pessoal da Autora Audiodescrição da Figura: Fundo cinza com uma jovem usando uma camisa na cor preta, mostrando a variação linguista do sinal setembro. Fim da Audiodescrição É importante ressaltar, que a variação linguística não está restrita de região para região. Ela pode ser identificada dentro do estado que você reside (entre cidades). VOCÊ SABIA? Linguistas contemporâneos já apresentam uma terceira modalidade denominada como gestual-tátil (tactile gestural modality), a qual está relacionada ao uso da língua de sinais pela pessoa surdocega (QUINTO-POZOS, 2004). Embora, a língua de sinais seja de modalidade gestual-visual, a língua de sinais tátil não depende de recepção visual, ao contrário, sua recepção ocorre por meio do tato. AGUARDO VOCÊ NO DESTAQUE ASSISTA AO VÍDEO SOBRE LIBRAS TÁTIL! - VÍDEO ACESSÍVEL EM LIBRAS – 26 Outros autores, como Calvet (2002) e Alkmim (2012) identificam variações linguísticas oriundas do contexto histórico, geográfico, sociocultural e comunicativo: Essa discussão é oportuna para esclarecer aos profissionais da área de língua de sinais sobre a intolerância que, muitas vezes, se fomenta em relação a variação linguística na Língua Brasileira de Sinais, principalmente, no contexto de interpretação da modalidade oral-auditiva para gestual-visual. Portanto, é possível identificar Tradutor Intérprete da Língua de Sinais, pautado na ideia de que a sua forma de falar (em Libras) é a mais correta e/ou única correta, resultando na corroboração do preconceito e na estimulação à intolerância sobre variação linguística. E, por fim, • Relacionado ao processo consecutivo, gradual de variação e mudança linguística, seja por influências internas ou, até mesmo, por contato com outras línguas de sinais e, ainda, o contato com Surdos que residem em diferentes regiões no Brasil. CONTEXTO HISTÓRICO • Relacionado às diferenças linguísticas distribuídas no espaço físico, observáveis entre usuários da Libras de origens geográficas distintas. CONTEXTO GEOGRÁFICO • Relacionado à identidade e organização sociocultural em que se encontra o usuário Surdo: grau de instrução, idade, gênero ou padrão econômico. CONTEXTO SOCIOCULTURAL • Relacionado à situação comunicativa de informalidade ou formalidade, entre os interlocutores, e ao conteúdo da mensagem. CONTEXTO COMUNICATIVO 27 acaba por impor um julgamento daquilo que seriam sinais “certos", "errados", "melhores" e "piores". Esse processo é idêntico ao que ocorre nas línguas orais, identificado como preconceito linguístico. Figura 18 – Preconceito Linguístico Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da Figura: Quadrinho colorido, canto superior esquerdo uma bomba, canto inferior esquerdo o texto “jogue fora seu preconceito linguístico”, canto inferior direito uma lata de lixo. Fim da Audiodescrição Claro que o assunto não pode encerrar por aqui! Então, cabe a cada um trabalhar de maneira concreta e organizada em direção ao combate a essa forma de preconceito e exclusão social e profissional. Convido você para um momento de autorreflexão sobre o preconceito linguístico. Então, assiste ao vídeo abaixo: PRECONCEITO LINGUÍSTICO Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=ufU464TTgyw - VÍDEO ACESSÍVEL EM LIBRAS – 28 VOCÊ SABIA?! MITOS SOBRE AS LÍNGUAS DE SINAIS Em obra conjunta, Quadros e Karnopp (2004), informam alguns dos mais famosos mitos sobre as línguas de sinais. Mito 1. A língua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulação concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos; Mito 2. Haveria uma única e universal língua de sinais usada por todas as pessoas surdas; Mito 3. Haveria uma falha na organização gramatical da língua de sinais, que seria derivada das línguas orais, sendo um pidgin sem estrutura própria, subordinado e inferior às línguas orais; Mito 4. A língua de sinais seria um sistema de comunicação superficial, com conteúdo restrito, sendo expressiva e linguisticamente inferior ao sistema de comunicação oral; Mito 5. As línguas de sinais derivariam da comunicação gestual espontânea dos ouvintes; 29 2.Competência 02 | Compreender A Interpretação Intermodal. A tradução e a interpretação precisam ser vistas como uma temática transversal, norteadora e indispensável à formação dos tradutores e intérpretes que atuam entre e para línguas de sinais (LS). Nesta competência, será utilizado o termo intermodal (bimodal) em oposição ao termo intramodal (unimodal). 2.1 Tradução VS Interpretação: Existem Diferenças Entre Ambas? Em 2002 foi homologada a primeira legislação destinada à Comunidade Surda, a Lei nº 10.436 (BRASIL, 2002), a qual reconhece como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras. Portanto, no contexto brasileiro, esta legislação representa uma conquista favorável para o reconhecimento e visibilidade do profissional tradutor intérprete de/entre/para língua de sinais. Além desta lei, outros documentos, constituídos em âmbito nacional, respaldam a atuação do profissional tradutor intérprete de/entre/paralíngua de sinais, são eles: APERTE O PLAY NO PODCAST SOBRE A COMPETÊNCIA 02. 30 ANO DOCUMENTO DESCRIÇÃO DO DOCUMENTO 2000 LEI Nº 10.098/2000 Decretada pelo Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, em 19 de dezembro de 2000. Esta Lei estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. 2001 RESOLUÇÃO MEC/CNE: 02/2001 Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica - Apresentada pelo Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, Francisco Aparecido Cordão, em 11 de setembro de 2001. 2005 DECRETO Nº 5.626/2005 Decretada pelo Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, em 22 de dezembro de 2005, regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o Artigo 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. 2010 LEI Nº 12.319/2010 Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 1º de setembro de 2010. 2010 PORTARIA NORMATIVA MEC 20/2010 Programa Nacional para a Certificação de Proficiência no Uso e Ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras e para a Certificação de Proficiência em Tradução e Interpretação da Libras/Língua Portuguesa - PROLIBRAS, publicada no uso das suas atribuições pelo Ministro de Estado da Educação, Fernando Haddad, em 8 de outubro de 2010. Quadro 01 – Documentos que Respaldam a Atuação do Tradutor Intérprete de Libras no Brasil Fonte: Elaborado por Rafaela Costa 31 Nesta perspectiva, tanto nos Estudos da Tradução (VENUTI, 2000) e, por sua vez, nos Estudos da Interpretação (POCHHACKER; SHLESINGER, 2002), é possível observar várias explicações, distinções e definições que contrapõem os processos tradutórios aos interpretativos. Portanto, é indispensável apresentar a distinção entre os processos tradutórios e interpretativos em relação à modalidade de língua de sinais (FERREIRA, 2019). Porque, embora apresentem características semelhantes, há também diferenças por suas especificidades, tanto no operacional (vinculadas à particularidade de cada processo e às características do texto fonte – TF e do texto alvo – TA), quanto no cognitivo (relacionadas às competências: capacidades, conhecimentos e/ou habilidades exigidas em cada processo, conforme suas demandas e características distintivas). Para isso, é necessário identificar aspectos básicos para compreender essas distinções, entre as atividades de tradução e interpretação, a saber: a) o tipo do texto; b) o modo de produção ou realização da atividade; c) as fases inerentes ao processo; e d) o caráter do produto final. CONHEÇA O TEXTO COMPLETO DE CADA DOCUMENTO ATRAVÉS DOS LINKS ABAIXO: Lei nº 10.098/2000 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm Resolução MEC/CNE: 02/2001 http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0201.pdf Decreto nº 5.626/2005 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2005/decreto/d5626.htm Lei nº 12.319/2010 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12319.htm Portaria Normativa MEC 20/2010 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&a lias=9962-portaria-20-2010-secadi&Itemid=30192 32 Figura 19 – Aspectos Básicos Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da Figura: Um infográfico colorido, apresentando os aspectos básicos que compreendem essas distinções entre as atividades de tradução e interpretação. Fim da Audiodescrição Portanto, a partir dos aspectos em destaque acima, ressalto a importância de tratar, nesta competência, sobre o conceito de tradução, diferenciando-o, assim, do conceito de interpretação. Segundo Leite, “historicamente, as duas modalidades têm sido tratadas como atividades correspondentes”, mas no campo dos Estudos da Tradução e da Interpretação é possível e, em alguns momentos necessário, diferenciá-las. (LEITE, 2004, p. 44). A tradução é um processo em que o tradutor trabalha com o texto fonte, devidamente registrado, em um determinado suporte, seja físico ou virtual, com a possibilidade de atuar no texto registrado sem precisar de contato direto com os destinatários, ou com o autor de sua tradução. Diante disso, o resultado da atividade é, necessariamente, registrado, passando por revisões e aperfeiçoamentos, com o objetivo de intensificar a sua durabilidade textual, assegurando que seja, posteriormente, recebido pelo público final (RODRIGUES, 2018; FERREIRA, 2019). 33 Por outro lado, a interpretação compreende um processo de “tradução oral”, por meio do qual o intérprete deve trabalhar com o discurso em seu fluxo de produção e, em consequência, atuar, pela maioria das vezes, em contato imediato e direto com o autor do texto fonte e com o destinatário de sua interpretação. Dessa forma, o resultado de sua atuação profissional demonstra- se, efetivamente, no “aqui e agora” e, sendo assim, os destinatários vão acessando a interpretação ao mesmo tempo em que ela desaparece, visto que o registro não é um requisito fundamental para sua realização (RODRIGUES, 2018; FERREIRA, 2019). Pagura (2003), baseando-se em vários autores dos Estudos da Tradução e da Interpretação das Línguas de Sinais (ETILS), como Fine e Harris (1981), Seleskovitch (1975; 1978), Padilla e Martin (1992), Lederer (1990), e Seleskovitch e Lederer (1995), põe em destaque outros elementos que diferem entre os dois processos. Sendo assim, observe o quadro abaixo: TRADUTOR – TRADUÇÃO INTÉRPRETE – INTERPRETAÇÃO A fonte da mensagem como o resultado do processo se dá de forma escrita. A fonte da mensagem como o resultado do processo se dá oralmente. Na tradução, o tradutor pode interromper o processo para realizar consultas a dicionários, as enciclopédias, a sites e a outros profissionais. Na interpretação, o intérprete, precisa ter conhecimento e vocabulário especifico antes do processo tradutório. Não há tempo para fazer consultas, no máximo, ao seu colega de apoio. Espera-se que um texto com cerca de 50 linhas seja traduzido em 2 horas por tradutores de tempo integral. Um texto transcrito com cerca de 50 linhas é interpretado numa estimativa de 8 minutos. O texto traduzido passará por correções e diversas revisões até o produto final. O resultado do trabalho do intérprete é o produto final, não há tempo hábil para correções e revisões. O texto do tradutor permanece, após impressão e publicação, por tempo indeterminado. O texto do intérprete desaparece quando acaba o evento. O tradutor trabalha, na maioria das vezes, sozinho. O intérprete trabalha, no mínimo, em dupla. O tradutor não obtém do público, de maneira imediata, o feedback do seu trabalho. A plateia é termômetro do intérprete, pois a reação desta mostrará o resultado do trabalho imediato da interpretação. O Texto Fonte (TF) está à disposição do tradutor. Pode consultá-lo em seu próprio ritmo, a seu próprio tempo, utilizando os recursos que considerar necessário. O tempo de análise e retenção do conteúdo é menor. O texto de partida está à disposição por um tempo determinado, uma única vez. Quadro 02 – Diferentes Elementos Entre os Dois Processos. Fonte: Adaptado de Pagura (2003) 34 Resumindo, numa primeira aproximação com esses conceitos, compreende-se que mesmo existindo semelhanças entre ambos os processos, há também diferenças entre tradução e interpretação. 2.2 Interpretação Simultânea Intermodal As modalidades das línguas são aplicadas à tradução e à interpretação. Desse modo, é necessário compreender as particularidades linguísticas e a diferença de modalidades entre as línguas envolvidas.Sendo assim, existem dois processos, o intermodal e o intramodal (QUADROS, 2004). Portanto, unindo esses processos aos conceitos de tradução e interpretação, Rodrigues (2018) propõe: a) tradução e interpretação intermodal; b) tradução e interpretação intramodal; Para compreender os dois processos intralinguísticos, abaixo há um quadrinho identificando os processos de forma dinâmica, como também, apresenta informações acerca do assunto abordado nesta competência, uma vez que a intermodalidade é um dos aspectos fundamentais desse estudo: OPS! HORA DE ASSISTIR A VIDEOAULA DA COMPETÊNCIA 02. FÓRUM ABERTO PARA VOCÊ POSTAR O LINK DA ATIVIDADE 2º ENCONTRO PRESENCIAL PARTICIPE! 35 Figura 20 – Processo Intermodal e Intramodal Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da figura: Quadrinho colorido apresentando a diferença entre o processo intermodal e o processo intramodal. Fim da Audiodescrição AGUARDO VOCÊ NO DESTAQUE Vamos conversar sobre o intérprete Surdo. - VÍDEOS ACESSÍVEIS EM LIBRAS E LEGENDADO – 36 Abaixo, segue um infográfico inter(modais), que envolve os processos das línguas orais- auditivas e línguas gestuais-visuais: Figura 21 – Intermodalidade e Intramodalidade Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da Figura: Um infográfico de diagrama circular plano, apresentando o processo de intermodalidade entre a língua oral-auditiva e língua gestual-visual, como também a intramodalidade. Fim da Audiodescrição Ciente dessas diferenças, reitero que está competência não se concentra nas especificidades do processo de tradução e interpretação intramodal, ou seja, que ocorrem entre línguas de mesma modalidade (entre duas línguas orais-auditivas ou entre duas línguas gestuais- visuais). Portanto, a explanação se dará sobre o processo de interpretação simultânea intermodal, a qual tem como produto - Língua Fonte (LF) realizada em Português e a Língua Alvo 37 (LA) em Língua Brasileira de Sinais (SEGALA, 2010), ainda que em alguns momentos também seja mencionada a tradução. Figura 22 - Intermodal Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da Figura: Um infográfico de diagrama circular plano, apresentando o processo de sinalização intermodal. Fim da Audiodescrição Segundo linguistas clássicos: Os processos intermodais caracterizam-se por envolver línguas de diferentes modalidades: uma vocal-auditiva e outra gestual-visual. O fato de uma das línguas ser gestual-visual impacta significativamente o processo, já que as línguas de sinais, articuladas externamente ao corpo, exploram mais a simultaneidade na constituição dos sinais e sentenças; não são dependentes de preposições, conjunções e artigos; possuem relações sintáticas constituídas espacialmente; (KLIMA; BELLUGI, 1979; BRITO, 1995; MEIER, 2004; QUADROS; KARNOPP, 2004). Contudo, é importante frisar que, entre os linguistas, o processo interpretativo intermodal é mais comum e, consequentemente, mais pesquisado que o processo tradutório intermodal. Considerando que a tradução envolve a manipulação de textos escritos e devidamente registrados, por meio de um processo que se realiza sem o contato direto com o público. Enquanto que, na interpretação, abrange trabalho com textos orais, em seu fluxo de produção, por meio de um processo imediato que se realiza em contato com o público (RODRIGUES, 2018). 38 Todavia, os processos tradutórios e interpretativos que envolvem línguas de sinais diferenciam-se dos processos que envolvem apenas línguas orais. Sendo assim, essa diferenciação pode ser analisada a partir da perspectiva dos efeitos de modalidade da língua sobre a tradução e interpretação (RODRIGUES, 2018). 2.3 Efeitos De Modalidade De Língua Na Interpretação Simultânea Intermodal Agora, você conhecerá como os efeitos de modalidades das duas línguas impactam na interpretação simultânea intermodal nesse par linguístico – da língua oral (L1) para a língua de sinais (L2) – (o processo de sinalização). No processo de interpretação intermodal é possível identificar vários efeitos de modalidade, uma vez que tem como língua alvo as línguas de sinais. Sendo assim, hoje apresento três deles, a saber: a) performance corporal-visual; b) sobreposição de línguas; c) direcionalidade inversa (RODRIGUES, 2018). Figura 23 – Efeitos de Modalidade Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da Figura: Imagem com fundo vermelho, um quebra-cabeça com três peças (roxo, azul e amarelo), apresentando três efeitos de modalidade. Fim da Audiodescrição 39 2.3.1 Performance Corporal-Visual Na interpretação simultânea intermodal no par linguístico - da língua oral (LO) para a língua de sinais (LS), ocorre a performance corporal percebida visualmente. Sendo assim, a performance dá-se no espaço de sinalização por meio de movimentos com as mãos e com o corpo, os quais produzem língua de maneira quadridimensional (LOURENÇO, 2015). O TILS, quando atua interpretando de uma língua oral-auditiva para outra, sendo a gestual-visual, recebe o discurso em uma modalidade e o oferece em outra, exigindo do intérprete capacidade de escuta para entender o que está sendo dito, como também, habilidades visuais e de performance para a produção na língua de sinais, atitudes e valores que, em parte, são diferentes dos requisitos para interpretação intramodal (duas línguas vocais-auditivas). Portanto, o profissional atua, não somente, com as diferenças entre as duas línguas, mas com as singularidades de cada modalidade. O corpo apresenta-se como língua visível diante do público, contribuindo para a simultaneidade, iconicidade e, inclusive, no uso estruturado do espaço. A performance corporal- visual exige do TILS conhecimentos, habilidades e a capacidade de explorar os dispositivos linguísticos específicos das línguas de sinais na construção de uma interpretação. Segundo Rodrigues (2018): [...] a expertise em tradução e/ou interpretação intermodal está balizada pelas habilidades de se lidar com a modalidade gestual-visual e com seus efeitos sobre a língua (RODRIGUES, 2018). Assim, a exploração sistematizada do espaço favorece a localização de referentes, a marcação da concordância, a simultaneidade na organização interna dos sinais, o uso comum de classificadores, o emprego de verbos de movimento e locação, a intensa ocorrência de expressões faciais gramaticais e emocionais e, dentre outros. Em adição, a Interpretação Intermodal revela a capacidade corporal cinestésica atrelada à capacidade linguística e à comunicativa. 40 2.3.2 Code-Blending - Sobreposição De Línguas O code-blending, sobreposição de línguas durante o processo de interpretação simultânea intermodal, destaca o uso concomitante de duas línguas: oral-auditiva e a gestual-visual. Já na interpretação intramodal ocorre diferente, porque a alternância de códigos/línguas (code- switching), defendido por Grosjean (1982), seria a única possibilidade durante o processo interpretativo em uma mesma modalidade de língua (SOUSA; QUADROS, 2012). Na sobreposição de línguas, o profissional tradutor intérprete intermodal precisa ser habilidoso, por sua vez, com a possibilidade de fusão de elementos linguísticos por meio da pronúncia de palavras durante a sinalização, fato que pode ser considerado como um efeito de modalidade de língua ou técnica, durante o processo interpretativo intermodal para a língua de sinais (RODRIGUES, 2018). VOCE SABIA?! Outro aspecto atrelado à performance corporal-visual do TILS durante a interpretação simultânea intermodal, por estar visível diante do público, é a aparência profissional. Embora a apresentação visual adequada ao serviço prestado seja uma exigência a todos os profissionais, no contexto do intérprete daLíngua Brasileira de Sinais, são impostos cuidados quanto ao vestuário, acessórios, unhas, maquiagens e, até mesmo, penteados, visto que, o corpo constitui-se em língua para o Surdo. 41 Agora, um breve recorte sobre o uso de mouthings (articulação labial de palavras) como estratégia na interpretação simultânea intermodal da língua oral para a língua de sinais. Segundo Quadros (2012) e Medeiros (2016), fazer uso de articulação oral de palavras junto aos sinais é vista como uma estratégia de tradução e interpretação intermodal, com o intuito de desambiguar os sinais, especificando o significado pretendido e/ou de ampliar as informações disponíveis ao público Surdo. Entretanto, vale ressaltar que o uso indiscriminado de mouthings pode comprometer a interpretação e, assim, prejudicar a contextualização e a compreensão do público Surdo. Nesta perspectiva, é possível identificar que, em algumas situações durante a interpretação simultânea intermodal para a língua de sinais, o TILS emprega, junto à pronúncia, alguns “sistemas sinalizados” resultantes da mescla de língua de sinais com língua oral. Essas formas sinalizadas submetem as línguas de sinais à estrutura das orais criando sentenças, muitas vezes, agramaticais e incompreensíveis, a partir da língua de sinais. (GUTT, 1991; ALVES, 2001) Observa-se na literatura contemporânea, assim, como na prática da interpretação simultânea intermodal, uma diferença básica entre mouthings e mouth gestures. Sendo assim, os mouthings são movimentos da boca, presentes nas línguas de sinais, derivados da pronúncia das línguas orais. Por outro lado, os mouth gestures são movimentos de boca próprios dos sinais (morfema boca), que não possuem correspondência direta com a pronúncia das línguas orais (BOYES BRAEM; SUTTON-SPENCE, 2001). PORTUGUÊS SINALIZADO NÃO É LÍNGUA! SAIBA MAIS ACESSANDO O LINK ABAIXO: https://www.youtube.com/watch?v=bbT6fPmqeao - VÍDEO LEGENDADO - 42 Figura 24 – Mouthings VS Mouth Gestures Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da Figura: Quadrinho cinza, vermelho e azul. No canto esquerdo uma jovem vestindo um macacão azul e uma blusa preta. No carto direito o texto Mouthings VS Mouth Gestures. Fim da Audiodescrição 2.3.3 Direcionalidade Na Interpretação Inversa Segundo Baker e Saldanha (2009), direcionalidade é referente à atuação do intérprete de uma língua estrangeira para sua língua materna, ou vice-versa. Sendo assim, nesta competência será abordado a interpretação inversa, (LO → LS), isto é, de sua primeira língua (Português, L1) para a sua segunda (Libras, L2). A direcionalidade pode ser dividida em três, a saber: a) direcionamento em tradução; b) direcionamento em interpretação; c) direcionamento em tradução e interpretação de língua de sinais. Nesta competência será abordado o que está citado na letra “c”. Portanto, independente das modalidades de línguas ou do par linguístico, comumente, exige do profissional TILS um significativo esforço cognitivo capaz de explorar as características especificas da direcionalidade inversa e/ou da direta, entre Português e Libras (NICODEMUS; EMMOREY, 2013; LOURENÇO, 2015). Sendo assim, na interpretação simultânea intermodal é mais comum uma atuação na direcionalidade inversa (LO → LS), isto é, de sua primeira língua (L1) para a sua segunda (L2). 43 Figura 25 – Direcionalidade Inversa no Brasil Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da Figura: círculo com fundo vermelho, ao centro o mapa-múndi na cor branca. E uma caixa de diálogo com o texto “direcionalidade inversa”. Fim da Audiodescrição Sabe-se que, fatores linguísticos e extralinguísticos relacionam-se a uma assimetria de direcionamento do processo interpretativo intermodal. Questões históricas, acadêmicas e sociais fizeram com que a interpretação da língua oral para a língua de sinais fosse mais demandada e, portanto, se tornasse mais comum. Devido a isso, muitos intérpretes intermodais escolhem interpretar de sua L1 (primeira língua, língua oral) para sua L2 (segunda língua, língua de sinais) (NICODEMUS; EMMOREY, 2013; PADDEN, 2000; RODRIGUES, 2013). Essa preferência não acontece somente no Brasil, mas em vários outros países. Lourenço (2012), aprofunda a discussão que corrobora sobre a preferência do tradutor intérprete intermodal em atuar na direção inversa (do Português para a Libras, A→B). Diferentemente dos intérpretes intramodais de línguas orais, que, geralmente, preferem atuar na direção direta (da Libras para o Português, B→A). Essa preferência pode ser percebida a partir de diferentes fatores linguísticos e não linguísticos, conforme pode ser observado na lista abaixo: • Nos cursos, durante seu processo de formação, é dado mais ênfase à interpretação da língua oral para a de sinais (A→B), ou seja, direcionalidade inversa; 44 • O TILS sente-se mais seguro em atuar na interpretação na direção inversa (A→B), mesmo sabendo trabalhar no direcionalidade direta; • Ao realizar uma interpretação inversa (A→B), o TILS, geralmente, tem como audiência um número pequeno de pessoas surdas. Já na interpretação direta (B→A), há uma audiência muito maior e o intérprete passa a falar para o grupo linguístico majoritário. • A maior demanda social pela interpretação para a língua de sinais; • A experiência profissional do TILS que, em sua maioria, atua mais na direção inversa (A→B), do que na direção direta (B→A), devido à demanda. • A possibilidade de usar a datilologia (alfabeto manual) como ferramenta compensatória, de modo a ajudar em caso de desconhecimento de um sinal, ou ainda um Sistema Sinalizado da Língua Oral; • Grande variação linguística existente entre a comunidade surda sinalizadora; • Automonitoramento, ou seja, o TILS, na direção inversa (A→B), tem menos possibilidade de detectar os erros na produção em língua de sinais, já que como sinalizador, o intérprete não se vê; • O TILS pode fazer uso do recurso que facilita a produção em língua de sinais, como a oralização (mouthing - articulação labial de palavras) e o decalque, ou seja, optar pela transliteração. • O uso dos classificadores ligados ao gênero textual e à modalidade da língua gestual- visual. O TILS constrói e organiza esses classificadores no espaço de sinalização, baseado em repertório linguístico, em conhecimento do gênero textual interpretado e suas habilidades corporais e de exploração do espaço de sinalização. Por fim, vale ressaltar que, não somente a modalidade de língua tem efeitos sobre a interpretação simultânea intermodal. Sendo assim, aspectos sociais e históricos envolvendo as línguas de sinais e as comunidades surdas, minoria linguística e cultural, também marcam esses processos interlinguísticos e interculturais. 45 2.4 Outros Tipos De Interpretação Além da simultânea, mais frequentemente utilizada nas conferências do tipo apreciativo-informativas, quanto nas conferências do tipo colaborativo-deliberativas, em detrimento a outras possibilidades de interpretação, as quais têm como produto - Língua Fonte (LF) realizada em Português e a Língua Alvo (LA) em Língua Brasileira de Sinais. Portanto, nesta competência serão, brevemente, apresentadas três, a saber: a) consecutiva; b) intermitente e c) sussurrada (JAKOBSON, 1973; PAGURA, 2003; NOGUEIRA, 2016). Figura 26 – Outros tipos de interpretação Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da Figura: Imagem com fundo vermelho, ao centro de cima para baixo tem o texto “outros tipos de interpretação, consecutiva, intermitente e sussurrada”. Fim da Audiodescrição CONSECUTIVA - o intérprete ouve, enquanto o orador (locutor) se expressa na língua fonte, se necessário, toma notas, e, em sequência a conclusão da fala do orador, faz a interpretação para a língua alvo. (três etapas:percepção/acesso ao texto em língua fonte; processamento, memória para armazenamento e conservação das informações; e a produção na língua alvo). INTERMITENTE - é a menos usada, também chamada de interpretação sentence- bysentence, tem a característica de alternância de blocos extremamente breves entre a expressão do orador na língua fonte e a expressão do intérprete na língua alvo de tradução, não há tomada de notas. 46 SUSSURRADA - também conhecida como interpretação “cochichada” ou “chuchotage”. Nessa forma, o intérprete senta próximo ao público, sendo um Surdo ou um grupo de Surdos, realizando de forma simultânea ou consecutiva a interpretação da língua fonte para a língua alvo. VOCÊ SABIA? SINAL: é o signo linguístico na língua de sinais, o qual contém uma unidade de informação convencionada por meio gestual pela comunidade surda e que serve para comunicar algo a alguém. Assim, o sinal se difere do gesto espontâneo pelo seu caráter de código compartilhado e estruturado em uma língua. VOCÊ SABIA?! A sigla TILSP significa: Tradutor Intérprete de Língua de Sinais - Língua Portuguesa. 47 3.Competência 03 | Desenvolver Técnicas De Interpretação Atualmente, o cenário brasileiro, no processo de interpretação simultânea intermodal, a qual tem como produto - Língua Fonte (LF) realizada em Português e a Língua Alvo (LA) em Língua Brasileira de Sinais, destaca a atuação do profissional TILS e um conjunto integrador de técnicas, conhecimentos, habilidades, capacidades, destrezas, atitudes e valores, tendo em vista, a grande complexidade envolvendo a interpretação entre duas modalidades de línguas distintas. 3.1. Técnica Demanda Conhecimentos Figura 27 – TILS Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da figura: Quadrinho colorido, ao centro o nome atenção, logo abaixo a frase só fluência em Libras não habilita ninguém como tradutor intérprete em Libras, no canto direito superior uma bomba. Fim da Audiodescrição Na verdade, ter a habilidade bilíngue (Português – Libras) é uma competência comunicativa nas línguas que domina, embora seja um dos principais componentes para uma APERTE O PLAY DO PODCAST E ESCUTE SOBRE A COMPETÊNCIA 03. 48 aplicação (interpretação) adequada. Sendo assim, o tradutor intérprete da língua de sinais precisa vivenciar práticas tradutórias e interpretativas efetivas, possibilitando ao mesmo o aperfeiçoamento de suas escolhas. Portanto, o processo interpretativo chama atenção para a sua complexidade, heterogeneidade e singularidade, requerendo do profissional TILS investimento na formação, conhecimentos linguístico, textual, cognitivo, técnico, afetivo, psicomotor, sociointerativo, enciclopédico, cultural, de tecnologia, de legislação, de documentação, como também, saberes sobre contexto social e marcas históricas (JAKOBSON, 1973; QUADROS, 2003; RODRIGUES, 2018; FERREIRA, 2019). As tarefas específicas de tradução e interpretação em língua de sinais demandam solução de problemas e tomadas de decisão por meio de um desempenho profissional contextualizado, intencional, situado e satisfatório diante do público Surdo. Nesta mesma direção, Russo e Pereira (2008) dizem: [...] precisa ter seu espaço próprio, que suas funções não sejam mescladas e confundidas com as dos professores, monitores, auxiliares ou qualquer outra função. Nossa tarefa é de sermos mediadores linguísticos e culturais em diversas instâncias, atuando como intérpretes de conferências em palestras, seminários, congressos e congêneres; intérpretes acompanhantes em entrevistas, trâmites burocráticos, consultas médicas e jurídicas, tradutores quando os Surdos sinalizam e temos que colocar na língua escrita e também como intérpretes educacionais nas instituições de ensino. (RUSSO; PEREIRA, 2008, p. 12). Portanto, o tradutor intérprete da língua de sinais tem sido responsável por um duplo movimento frente à comunidade. Afinal, enquanto por um lado, possibilita a socialização de informações e conhecimentos, por outro, compartilha os saberes produzidos por essas comunidades, da margem ao centro dos debates atuais, quando pensamos sobre acessibilidade e inclusão. Russo e Pereira (2008) acrescentam propostas como parte do exercício de interpretação, são elas: 49 • POSICIONAMENTO - o local, a posição e a postura que o TILS assume no ato interpretativo; • DESLOCAMENTO - localização espacial - o TILS topicaliza os sujeitos do discurso em ação, no ato interpretativo; • MEMÓRIA DE CURTO PRAZO - capacidade de armazenar informações a curto prazo durante a mensagem do destinatário no ato interpretativo; • EXPRESSÃO FACIAL E CORPORAL - capacidade de incorporar a ação do sujeito do discurso no ato interpretativo; • RACIOCÍNIO RÁPIDO E AGILIDADE MENTAL – a capacidade de resgatar pistas metalinguísticas durante o processo de escolhas lexemáticas durante a interpretação simultânea; • IMPROVISAÇÃO - capacidade de domínio e autocontrole linguístico em situações que o TILS não possui conhecimentos prévios de contexto, discurso e posicionamento (cenário) em uma situação de interpretação simultânea; • TRABALHO EM EQUIPE - capacidade de trabalhar em parceria com um ou mais colegas de atuação, ou seja, trabalhar com interpretação de apoio e de revezamento; • ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO - capacidade de manter-se alinhado ao discurso e o contexto de atuação; • PERCEPÇÃO VISUAL E AUDITIVA - capacidade de transmitir e incorporar “todas” as informações que se apresenta em um “ato de fala”, sendo estas no sentido positivo ou negativo; • MOTRICIDADE FINA E PERCEPÇÃO CINESTÉSICA - capacidade de competência linguística, no que tange os aspectos da construção do lexema manual e gramatical da LS; • CONHECIMENTO LINGUÍSTICO - capacidade de tradução e interpretação da língua fonte para a língua alvo e vice-versa. 50 3.2. Técnica De Um Espaço De Sinalização Para Produções Audiovisuais A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) aprova e publica a NBR 15.290/2005, que segue o princípio do desenho universal e trata da “acessibilidade em comunicação na televisão brasileira”, determinando as referências para a utilização dos recursos tecnológicos com esta finalidade. Portanto, apresenta orientações para a captação, edição e exibição da Janela de Libras (JL). Estúdio de gravação (local): • Espaço suficiente para que o intérprete não fique colado ao fundo, evitando desta forma o aparecimento de sombras; • Iluminação suficiente e adequada para que a câmera de vídeo possa captar, com qualidade, o intérprete e o fundo; • Câmera de vídeo apoiada ou fixada sobre tripé fixo; • Marcação no solo para delimitar o espaço de movimentação do intérprete. Assim, estes itens apresentados sobre a janela de LIBRAS, não tratam apenas do ato de interpretar, mas de seguir as orientações com objetivo de promover acessibilidade e ter um produto final com qualidade. Quanto à janela com o profissional TILS: • Os contrastes devem ser nítidos, quer em cores, quer em preto e branco; • Deve haver contraste entre o pano de fundo e os elementos do intérprete; • O foco deve abranger toda a movimentação e gesticulação do intérprete; • A iluminação adequada deve evitar o aparecimento de sombras nos olhos e/ou seu ofuscamento. Sobre o recorte (wipe) da imagem do intérprete: • A altura da janela deve ser, no mínimo, metade da altura da tela do televisor; 51 • A largura da janela deve ocupar, no mínimo, a quarta parte da largura da tela do televisor; • Sempre que possível, o recorte deve estar localizado de modo a não ser encoberto pela tarja preta da legenda oculta; • Quando houver necessidade de deslocamento do recorte na tela do televisor, deve haver continuidade na imagem da janela. Quanto aos requisitospara a interpretação e visualização da LIBRAS: • A vestimenta, a pele e o cabelo do intérprete devem ser contrastantes entre si e entre o fundo, como também, deve ser evitado fundo e vestimenta em tons próximos ao tom da pele do intérprete; • Na transmissão de telejornais e outros programas, com o intérprete em cena, devem ser tomadas medidas para a boa visualização da LIBRAS; • No recorte não devem ser incluídas ou sobrepostas quaisquer outras imagens. 3.2.1 Proporções Para Janela De Libras Figura 28 – Janela de Libras Fonte: Naves (2016) Audiodescrição da Figura: Fundo branco, vídeo principal no canto superior esquerdo na cor vermelha e a Janela de Libras no canto inferior direito na cor verde. Fim da Audiodescrição 52 O modelo tem o objetivo de garantir a visibilidade do tradutor e/ou intérprete em Língua de Sinais, assim, não compromete a visualização da produção áudio visual. Portanto, a divisão das telas entre o vídeo e a interpretação é feita utilizando o processo de picture-in-picture (PIP), que consiste, numa mesma área de exibição. O modelo de Naves (2016), trabalha com uma proporção de 70% da tela para o vídeo principal e cerca de 25% da tela para a interpretação em língua de sinais, criando uma faixa escura como fundo. O vídeo principal é mantido no canto superior esquerdo e a Janela de Libras (JL) no canto inferior direito, o que possibilita uma leitura mais natural de toda a tela, visto que, segue o padrão de leitura ocidental da esquerda para a direita e de cima para baixo. 3.3. Espaço De Sinalização A Língua Brasileira de Sinais, assim como qualquer outra língua de sinais, organiza-se espacialmente. Desta forma, Brito (1995) afirma que o espaço de sinalização apresenta zonas demarcadas através de linhas imaginárias em forma geométrica, ou seja, uma área tridimensional (x, y, z). VOCÊ SABIA? O APRENDER E O INTERPRETAR EM LÍNGUA DE SINAIS ESTÃO, INDISSOLUVELMENTE, UNIDOS! NUNCA ESQUEÇA! CONHEÇA O TEXTO COMPLETO SOBRE ABNT – NBR 15290 Acesse: http://www.crea-sc.org.br/portal/arquivosSGC/NBR%2015290.pdf 53 Nessa delimitação, o corpo da pessoa que sinaliza (sinalizador) é tido como referência. Sendo assim, permite produzir, confortavelmente, como também, proporciona uma recepção adequada, conforme desenho abaixo: ESPAÇO DE SINALIZAÇÃO – PRODUÇÃO E RECEPÇÃO Figura 29 - Secretaria Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da Figura: Fundo branco e um jovem com camisa cinza, sinalizando limite. E o espaço de sinalização apresenta zonas demarcadas através de linhas x, y, z. Fim da Audiodescrição Já no espaço neutro (espaço à frente do corpo), o sinal é realizado sem precisar tocar alguma parte do corpo da pessoa que sinaliza. 3.4. Classificador (CL) A língua de modalidade gestual-visual usa em sua gramática um importante recurso linguístico – classificadores (CL) – através do parâmetro fonológico “configurações de mão”, junto ao verbo, ao sujeito da oração ou ao objeto. Assim, os classificadores permitem a descrição rica, em detalhes, de objetos, pessoas e animais, bem como, intensidade, quantidade, movimento, grau e trajetória. Funcionam como 54 marcadores de concordância na língua, também, quando associados à expressão não-manuais, atribuem significados (BRITO, 1997; FELIPE; MONTEIRO, 2008). Segundo Silveira (2007), tecnicamente, “não se trata apenas de falta de um sinal, mas de usar estratégias de Língua de Sinais, através dos classificadores” (SILVEIRA, 2007, p. 157). Assim, a tipologia classificatória em LIBRAS pode expressar-se, também, como: • CLASSIFICADOR DESCRITIVO (CL-D) - referente ao tamanho e forma; utiliza para descrever a aparência de um objeto, isto é, a forma, o tamanho, a textura ou o desenho de um objeto. Usualmente produzido com ambas as mãos, para formas simétricas ou assimétricas. • CLASSIFICADOR ESPECÍFICO (CL-ESP) - utilizado para descrever visualmente a forma, o tamanho, o paladar, o cheiro, os sentimentos, o olhar, os sons e a textura de uma parte do corpo, de pessoas ou animais. • CLASSIFICADOR CORPO E PARTE DO CORPO (CL-CP) - retrata uma parte específica do corpo em uma posição determinado ou fazendo uma ação. A configuração da mão retrata a forma de uma parte do corpo. • CLASSIFICADOR LOCATIVO (CL-L) - retrata um objeto como lugar determinado em relação a outro objeto. Configuração da mão pode retratar uma parte ou o objeto todo, iconicamente. • CLASSIFICADOR SEMÂNTICO (CL-S) - função similar ao CL-L por retratar um objeto em um lugar específico (às vezes indicando movimento). A configuração da mão retrata o objeto todo e, de forma abstrata (muito pouco ou não se relaciona à aparência do objeto). • CLASSIFICADOR INSTRUMENTAL (CL-I) - esse classificador mostra como se usa alguma coisa e /ou descreve a ação gerada por ele. • CLASSIFICADOR DE PLURAL (CL-P) - indica o movimento ou a posição de um número de objetos, pessoas ou animais. Pode ser um número determinado ou não determinado. • CLASSIFICADOR DE ELEMENTO (CL-E) - esses classificadores retratam movimentos de “elementos” ou coisas que não são sólidas, isto é, ar, fumaça, água/líquido, chuva, fogo, luz. 55 • CLASSIFICADOR DE NOME E NÚMERO (CL-N) - esses classificadores utilizam as configurações das mãos do alfabeto manual ou os números, mas são parte de uma descrição. No Brasil, ainda são poucos os estudos sobre classificadores na Língua Brasileira de Sinas, destacando-se assim as pesquisas de Brito (1995), Felipe (2002), Quadros e Karnopp (2004), Bernardino, Hoffmeister e Allen (2004) e Bernardino (2006). 3.5. Expressões Faciais E Corporais O filósofo francês Merleau-Ponty (1999), afirma que “o corpo é um espaço expressivo”, como também, “conjunto de significações projetadas no exterior” possibilitando dar-lhe um lugar de fala, seja através dos movimentos e sob o olhar do outro. Segundo ele, O corpo é a unidade máxima de representação do ser humano e por isso adquire importância para toda vida e cultura. (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 15) Para Skliar e Quadros (2000), “a cultura é visual”, visto que para o Surdo, as produções linguísticas, artísticas, científicas e as relações sociais, são essencialmente visuais. Sendo assim, a “fala do corpo” (expressões não-manuais) é essencial para que, efetivamente, o processo de tradução e/ou interpretação ocorra, possibilitando a construção e compreensão de “sentidos” dos sinais enunciados ao Surdo. Portanto, tecnicamente, o TILS precisa usar as expressões não manuais (ENM), uma vez que estão presentes na Língua Brasileira de Sinais, desempenhando funções afetivas e linguísticas. Sendo assim, prestam-se a dois papeis nas estruturas gramaticas: 1) marcação de construções sintáticas; e 2) diferenciação de itens lexicais (QUADROS; KARNNORP, 2004): VOCÊ ESTÁ CHEGANDO AOS ÚLTIMOS MOMENTOS DA COMPETÊNCIA 03. ASSISTA A VIDEOAULA! 56 • SINTÁTICA - sentenças interrogativas (sim, não); interrogativas QU-; orações relativas; topicalizações (tópicos); concordância; negação e foco. • LEXICAIS - referência especifica, referência pronominal, partícula negativa, advérbio, grau e aspecto. Interpretar da Língua Fonte (Língua oral-auditiva) à Língua Alvo (Língua gestual-visual) exige do TILS o domínio das modalidades de línguas envolvidas, dos processos de tradução e/ou interpretação, das estratégias e da capacidade técnica para realizar escolhas dentro dos níveis linguísticos, como o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico, através das expressões faciais e corporais. Agora, observe algumas das expressões faciais: Figura 30 – Expressões faciais Fonte: Elaborada por Rafaela Costa Audiodescrição da figura: Fundo branco, ao centro a sequência de nove fotos de um homem usando camisa cinza e fazendo expressões
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