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CATARATA DIABÉTICA BILATERAL Revisão de literatura A doença catarata é basicamente a perda da transparência da lente cristalina do olho, resultando em uma opacidade, essa pode atingir tanto os humanos quanto os animais. A catarata é uma das causas mais frequentes de perda de visão dos cães, afetando os animais de raças puras, assim como os mestiços (SILVA, 2017). A lente dos olhos dos animais é avascular, e apresenta um arranjo altamente estruturado de células vivas junto a um complexo de processos bioquímicos. A catarata ocorre quando tem alteração da arquitetura lamelar, que resulta na opacidade e bloqueio da passagem de luz, sendo mais predispostas em algumas raças do que em outras, como em Poodle Toy, Schnauzer, Pequinês, Dachshund e Cocker Spaniel. As causas que levam ao aparecimento da catarata são de origem hereditária ou genética, podendo ser devido a idade do paciente. Também pode ocorrer devido a fármacos e toxicidades, causas dietéticas ou mesmo doenças sistêmicas concomitantes, como no caso da Diabetes Mellitus (DM). Como já dito, a diabetes pode levar a alteração da estrutura do globo ocular, além das alterações sistêmicas que o animal vai apresentar, leva a perda das células do endotélio da córnea e retinopatias, como microaneurismas, redução da sensibilidade da córnea e alterações dos parâmetros ceratoconjutivais (GELATT, 2014). A estrutura ocular pode ser vista na figura 6, a lente do cão é uma estrutura avascular, macia e transparente com um tecido estruturado que promove a refração de raios luminosos que entram no globo ocular até atingir a retina (SILVA, 2010). A lente consiste em uma estrutura cristalina com 65% de água e 35% de proteína (SILVA, 2013). O epitélio lenticular é cubóide e no seu equador diferencia-se nas fibras da lente, assim o conteúdo interno com córtex (fibras secundárias) e núcleo (fibras embrionárias primárias aprisionadas e compactadas no centro) (SILVA., 2013). Para que essa realize sua função deve-se manter sua transparência, posição e sua capacidade de acomodar-se, sendo seu principal componente o colágeno. A lente é composta por fibras e proteínas, a perda dessa ordem faz com que leve a perda da transparência. Figura 6. Estrutura Ocular Fonte: (SILVA, Aline Ceschim Ernandes da, 2017) A diabetes mellitus é uma endocrinopatia crônica que leva ao aumento de glicose no sangue e resulta em deficiência relativa ou absoluta em produzir insulina . A catarata é uma das complicações mais comuns e precoce em cães que apresentam DM (MILLER E BRINES, 2018), e normalmente ocorre de forma bilateral e rápida, devido às alterações metabólicas e acúmulo de sorbitol. Nesses animais vai se ter maior concentração de glicose no sangue, que resulta em maior difusão de glicose para dentro da lente, para a produção de energia, a glicose anaeróbica acaba sendo desviada para a via dos polióis (GELLAT, 2014). Sendo mais prevalente esse tipo de complicação em cães do que em gatos, devido esses terem a atividade da aldose redutase na lente em menor grau. Ocorre a entrada de oxigênio e glicose através do humor aquoso para sua chegada à lente. Em casos de grande quantidade de glicose, essa é quebrada pela enzima hexoquinase, assim limitando a taxa de glicólise. No entanto, quando os níveis da glicose estão muito altos, como no caso da diabetes, existe a inibição dessa enzima, levando a glicose ser convertida em sorbitol pela aldose redutase (AR). O acúmulo dessa na lente leva a formação da catarata diabética, devido às células e proteínas da lente serem afetadas. Assim, os primeiros sinais a serem observados para a suspeita de catarata em animais que possuem DM é a formação de vacúolos na região do esquadros da lente, logo após o aparecimento de estrias posteriores e anteriores no córtex e, eventual, rápida evolução para cataratas totais com grande número de fendas (MILLER E BRINES, 2018). Slatter (2013), classifica as cataratas segundo o grau de opacidade e maturação. Essas podem ser incipiente, imaturas, maduras e hipermadura. Na incipiente, a visão não é comprometida e tem opacidade focal precoce (MAGGS, 2013). Já na imatura, a opacidade é mais extensa, e tem boa parte do cristalino envolvida, a transparência está reduzida, mas não está totalmente perdida, assim o reflexo tapetal ainda é visível, a visão começa a ser afetada (MAGGS, 2013). Já a catarata madura é quando a lente está totalmente envolvida, opaca, e o olho já não apresenta mais visão, com o fundo de olho já não pode mais ser examinado oftalmoscopicamente (MAGGS, 2013). E, por fim, a hipermadura ou catarata morganiana já é o processo final, onde se tornam liquefeitas devido à proteólise. Com isso entra em um estado de reabsorção, o animal pode recuperar a visão, mas também pode resultar numa inflamação secundária. A manifestação clínica da doença é a apresentação da opacidade da lente, e o animal começa a ter dificuldades de enxergar, assim batendo em móveis, com baixa percepção local. Pode ocorrer de o animal não desviar de objetos e apresentar uma baixa capacidade de brincar. Bem como pode haver mudanças de comportamento, podendo assim se perceber a falha na visão ou mesmo perda da visão completa. Para o diagnóstico se leva em conta a anamnese, no qual, vai ser analisado o histórico do animal. No caso de um animal que já apresenta diabetes, uma doença crônica, pode-se predispor ao animal apresentar catarata. E muitos desses animais que apresentarem catarata podem progredir para cegueira (SILVA, 2010). Além disso, vai ser realizado exames clínicos e análise dos achados oftálmicos específicos. Para o diagnóstico, se houver clínica condizente com catarata, os achados microscópicos indicarem lesão real (DUBIELZIG et al., 2010), sempre se deve incluir os exames clínicos oftalmológicos, como a avaliação da resposta pupilar a ameaça, exame de câmara anterior utilizando uma fonte de luz, a fundoscopia, o teste lacrimal de Schirmer. Este último mede a quantidade de lágrima produzida, o uso de midriáticos, mensuração da pressão intra-ocular (PIO) e a oftalmoscopia, que pode ser usado o oftalmoscópio ou finnoff com lupa, exame que analisa as estruturas do fundo de olho. Importante sempre realizar o diagnóstico diferencial para esclerose, doença que leva os animais a apresentar pupila com aparência turva cinza-azulada, sendo uma alteração normal em animais senis. O diferencial pode ser feito através do exame oftalmológico de fundo de olho, por meio do oftalmoscópio ou o finnoff com lupa. No caso da esclerose, é possível visualizar as estruturas oculares, a cabeça do nervo óptico e a vascularização. Já na catarata não vai ser possível a visualização devido a opacidade da lente. E o desenvolvimento da catarata diabética ocorre em cerca de 75-80% dos cães em aproximadamente 12-16 meses (GELLAT, 2014). Atualmente o tratamento de eleição para catarata continua sendo a cirurgia, a taxa de sucesso dessa é semelhante em cães tanto não diabéticos como naqueles diabéticos. Como tratamento clínico é um tratamento paliativo, esse não deve ser oferecido como terapia de longo prazo como uma alternativa à cirurgia (SLATTER, 2013). Os fármacos tópicos, sistêmicos ou intraoculares para reduzir ou prevenir a catarata ainda apresentam resultados ineficazes (SILVA, 2017). Importante que o tutor faça o acompanhamento também com o endócrino, para o tratamento e controle da diabetes que pode retardar ou mesmo adiar a evolução dessa. O tratamento cirúrgico geralmente é bem sucedido e tem bons resultados a longo prazo para a visão do paciente e felicidade dos tutores (SLATTER, 2013; MILLER; BRINE, 2018), mas deve-se levar em consideração o paciente , pois nem todo paciente pode ser candidato a cirurgia seguindo os pré requisitos necessários. Sendo imprescindível cuidados tanto pré operatórios como pós operatórios, principalmente de animais que já apresentam um distúrbio metabólico. Importante a análise do déficit visual do animal, e outro fator a seranalisado é a retina do paciente, através do exame de fundo de olho. Se o fundo de olho não puder ser examinado com maiores detalhes, devido a catarata, a função retiniana deve ser avaliada através da eletrorretinografia (ERG) para garantir que a retina já não é mais funcional (ADKINS, et al 2003; SLATTER, 2013; MILLER; BRINES, 2018).Também é muito importante que seja feito exames de ultrassom ocular, esse é realizado antes da cirurgia para descartar qualquer degeneração, seja vítrea ou descolamento de retina (SQUARZONI et al., 2007; SLATTER, 2013). E, por fim, avaliação do animal em estado geral, por meio de exames como hemograma e exames bioquímicos, para que o animal tenha condições adequadas para realizar a anestesia. A perfeita avaliação do paciente e cuidado vai garantir que este esteja num estado geral de saúde bom e que esteja em condições de passar por uma anestesia (SLATTER, 2013). O paciente sendo liberado para cirurgia deve ser informado ao tutor de todos os cuidados que deverão ser realizados antes e após a cirurgia, além de serem mantidos os níveis de glicemia adequados o paciente que passar pela cirurgia deverá ter manejo intensivo, aplicações tópicas frequentes de medicamento no pré-operatório e no pós-operatório (SLATTER, 2013). Além do fato da cirurgia não ser um processo que garante 100% de êxito, por isso é necessário informar as possíveis complicações, que são a inflamação, infecção, possível aumento da PIO e o descolamento da retina. A correta seleção do paciente garante o sucesso da cirurgia (SILVA, 2017). Em relação aos cuidados pré operatórios, são passados normalmente midriáticos, assim para a produção de dilatação pupilar, podendo ser usado também como coadjuvante nesse processo a Fenilefrina tópica a 10%, o uso de atropina a 1%. Também de realizar terapia anti-inflamatória, para se evitar que ocorra a uveíte, sendo empregado esteróides e AINES, sendo os AINES os melhores em pacientes diabéticos (LAUS, 2009). Dentre os técnicas empregadas para a remoção da catarata se tem a facoemulsificação, extração extracapsular, e extração intracapsular, sendo a técnica de facoemulsificação o método de eleição para o manejo cirúrgico da afecção (SILVA, 2017). Geralmente, quando diagnoticada precocemente e a doença estando estabilizada, o sucesso da cirurgia de facoemulsificacao promove resultados semelhantes aos casos de catarata senil, sendo boa parte dos casos bem sucedidos (CRIVELLENTI et al., 2015). A técnica cirúrgica considerada método de eleição tem taxa de sucesso de 80% (SILVA, 2017). A técnica de aspiração se realiza na cápsula anterior da lente e da córnea realizando a irrigação e aspiração do conteúdo dentro da cápsula, sendo realizada na sua maioria em animais mais jovens. Na técnica de extração extracapsular é feita uma incisão próxima a córnea, fazendo a aspiração do córtex e do núcleo, e a retirada da lente é feita com uma espátula, não deixando qualquer partícula. Essa era a mais utilizada até ser trocada pela facoemulsificação. Na técnica intracapsular, se faz a remoção da lente inteira sem a abertura da cápsula anterior, no entanto só é realizada em casos de lentes luxadas. E por fim a técnica mais usual atualmente a facoemulsificação (Figura 7), em que se faz uma pequena incisão no limbo e ruptura da cápsula anterior do cristalino. A sonda ultrassônica de alta frequência é usada para quebrar a lente e os detritos são removidos por irrigação e aspiração. Esse método resulta numa cicatrização mais rápida devido a incisão ser menor, resultando em menos complicações pós-operatórias (MAGGS, 2013), podendo também ser colocada a lente intraocular após a quebra e a aspiração da lente que se apresentava com catarata. A colocação da lente intraocular (LIO) está sendo uma prática cada vez mais comum, tendo sido relatado uma visão de melhor qualidade, especialmente a visão de perto (SILVA, 2017). Figura 7. Cirurgia de catarata por Facoemulsificação Fonte: Cirurgia de catarata por facoemulsificação. Site: Centro Capixaba de olhos, 2022. Tanto o tratamento e cuidado pré cirúrgico como o pós cirúrgico são de extrema importância. Muitos cirurgiões podem hospitalizar seus pacientes por 1 a 2 dias para avaliação, assim podendo monitorar a pressão intraocular dos animais, e com o tempo a frequência dos tratamentos e reavaliações diminui (MAGGS, 2013). Dentre as complicações pós-cirúrgicas se tem a uveíte, inflamação da íris e dos corpos ciliares, glaucoma secundário e o descolamento da retina, outros menos comuns são a hemorragia intra-ocular, infecção e deiscência de pontos (LAUS, 2009). Conforme Adkins (2003) é importante que o animal use colar elizabetano para prevenir traumas aos olhos após o procedimento. Além disso, para evitar que o animal tenha uveíte anterior muitos cirurgiões começar a tratar seus paciência antes da operação, depois passa a ser intensificado na cirurgia, e muitos animais vão receber anti-inflamatórios intravenosos, intramuscular ou subconjuntival para tratamento pós operatório (MAGGS, 2013). Também se deve fazer uso de antibióticos tópicos ou sistêmicos, importante estar sempre monitorando a pressão intra-ocular (PIO). Conforme o quadro vai melhorando a frequência de tratamento e de retornos diminui. No entanto, é importante que retornos ocasionais ocorram para monitorar se o animal apresentou uveíte.
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