Prévia do material em texto
1 A ORIGEM DA GRÉCIA CLÁSSICA E A IMPORTÂNCIA DO SURGIMENTO DA PÓLIS GREGA A Grécia Antiga foi uma das maiores civilizações da Antiguidade, com grande influência nas sociedades ocidentais contemporâneas. O que chamamos na historiografia de Grécia Antiga, na realidade, era uma região composta por uma imensa diversidade de povos, espalhados por extensas áreas territoriais, tendo como origem a Península Balcânica. De acordo com Funari (2002) o solo da região e as condições físicas não eram favoráveis ao cultivo, incentivando os deslocamentos populacionais para outras terras. A expansão grega ocorreu por três regiões continentais: o Peloponeso ao sul, a Ática na Grécia central, e a região norte separada por uma cordilheira (FUNARI, 2002, p. 9). Segundo estudos, os primeiros povos gregos a ocuparem a região foram os jônios. Em 1580 a.C, os jônios foram expulsos dessa área por outros povos gregos, os aqueus e os eólios, se refugiando na Ática. Os aqueus eram advindos dos Bálcas e originaram a importante civilização micênica, com destaque para a cidade de Micenas. Entretanto, no século XI a.C., os micênicos foram vencidos pelos dórios (FUNARI, 2002, p. 11). Os dórios eram grupos guerreiros que expandiram seus domínios pelo Peloponeso e Creta, levando os aqueus a se refugiarem na Ásia Menor. Nessa região, formou-se a Grécia da Ásia, com a permanência de certos traços da civilização creto-micênica e intensas relações com os mesopotâmicos e egípcios. Os gregos da Ásia enriqueceram seus conhecimentos tecnológicos e formaram a civilização grega denominada clássica. A Grécia clássica foi constituída por elementos culturais de diversos povos e culturas (FUNARI, 2002, p. 15). Quando houve a desestruturação da civilização creto-micênica, inúmeras transformações sociais, econômicas e políticas ocorreram na Grécia. Foi neste contexto, no Período Homérico (séculos XII a VIII a.C) que ocorreu a formação dos genos, ou comunidades gentílicas. Essas comunidades tinham uma economia baseada no agropastoril. Quanto à organização política, o poder era exercido por um líder comunitário denominado pater, o qual exercia funções tanto judiciais e administrativas, quanto religiosas. Com o tempo, as comunidades gentílicas começaram a enfrentar inúmeras tensões sociais. As elites dos genos com mais afinidades culturais, passaram a se unir em comunidades maiores, originando as fratrias. Com a união das fratrias, se formaram os demos. A ampliação dessas organizações sociais e políticas, lideradas pelas elites aristocráticas, ocasionaram o surgimento das primeiras cidades-Estado da Grécia Antiga, chamadas pelos gregos de pólis. Como aponta Funari, “pólis é um pequeno estado soberano que compreende 2 uma cidade e o campo ao redor” (FUNARI, 2003, p. 30). Os estudos historiográficos supõem que as primeiras pólis gregas tenham surgido na Grécia Asiática pelos povos jônios e eólios. O desenvolvimento das trocas comerciais e do artesanato são os fatores centrais na formação das pólis. Segundo Fustel de Coulanges (1961), no geral, as pólis gregas eram pequenas e tinham como elementos típicos: a Acrópole, onde se encontravam a residência do Rei e o templo da divindade local; a Ágora, sendo o centro da vida dos habitantes, onde ocorriam as reuniões públicas e as transações comerciais; e porto, onde se fazia importação e exportação de mercadorias. A Ágora constituía um dos elementos de maior importância da pólis pelo seu papel enquanto um espaço de reuniões em que eram tomadas as decisões políticas, assim como pela função no comércio. Não houve uma organização política única nas pólis gregas, contudo, no geral, a estrutura social era fundamentada no poder exercido por uma oligarquia aristocrática, sendo constituída, basicamente, por homens livres nascidos na pólis (considerados cidadãos), mulheres, estrangeiros (metecos) e escravos. As principais pólis gregas foram Atenas e Esparta, muito diferentes entre si. Esparta se localizada na região da Lacônia, a sudeste da península do Peloponeso. Apresentava terras férteis, propícias ao cultivo e pastagens, porém, nada favorável à navegação, resultando no isolamento da região e pouco comércio. Esparta conseguiu expandir seus domínios devido ao poderio militar, com o poder político centrado principalmente nas mãos dos esparciatas, conhecidos como grandes guerreiros. (FUSTEL DE COULANGES, 1961, p. 196). Atenas, em contrapartida, se localizava na Ática, uma região com solo pouco fértil, levando os atenienses a desenvolverem outras atividades, como o comércio marítimo. Atenas se fortaleceu e expandiu seus domínios, formando colônias. Esse crescimento atraiu estrangeiros que se dedicavam ao comércio, denominados metecos, os quais, constituíam uma parcela significativa da população ateniense. Atenas vivenciou inúmeras transformações sociais e políticas, saindo de um regime aristocrático, nos séculos IX-XI a.C., para um regime democrático, em meados do século V a.C. (ISAAC; ALBA, 1968, p. 27). Como aponta Austin e Vidal-Naquet (1972), as atividades econômicas desenvolvidas nas sociedades gregas foram intensificadas pela estrutura das pólis, permitindo o intercâmbio entre os povos e a manutenção das relações entre as camadas sociais. A autonomia política, social e econômica das pólis permitiu que os povos gregos expandissem seus domínios, estabelecessem relações comerciais e culturais com diversos povos da Antiguidade e constituíssem um forte dinamismo e diversidade. 3 Referências: AUSTIN, Michel; VIDAL-NAQUET, Pierre. Économies et Sociétés en Grèce Ancienne. Librarie Armand Colin, Paris, 1972. FUSTEL DE COULANGES, Numa-Denys F. de. A Cidade Antiga. Do original: La Cité Antique - Étude sur Le Culte, Le Droit, Les Institutions de La Grèce et de Rome. Editora das Américas S.A. EDAMERIS, São Paulo, 1961. FUNARI, Pedro Paulo A. Antiguidade Clássica: A história e a cultura a partir dos documentos. 2ª edição, Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2003. _______________________. Grécia e Roma. 2 cd. São Paulo: Contexto, 2002. ISAAC, J. e ALBA, A. História universal - Oriente e Grécia. São Paulo, Mestre Jou, 1968.