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A REFORMA DO ESTADO BRASILEIRO PROF.A MA. CRISTIANE MULLER CALAZANS Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-Reitoria Acadêmica Maria Albertina Ferreira do Nascimento Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Fernando Sachetti Bomfim Marta Yumi Ando Simone Barbosa Produção Audiovisual: Adriano Vieira Marques Márcio Alexandre Júnior Lara Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Cristiane Alves © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................5 1. INTRODUÇÃO À FORMAÇÃO E CONCEITUAÇÃO DO ESTADO ..............................................................................6 1.1 CONCEITUAÇÃO DE ESTADO ..................................................................................................................................6 1.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE ESTADO EM MAX WEBER ........................................................................................ 7 1.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE ESTADO EM THOMAS HOBBES ................................................................................9 1.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE ESTADO EM JOHN LOCKE ........................................................................................ 10 1.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE ESTADO EM JEAN-JACQUES ROUSSEAU ............................................................... 11 1.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE ESTADO EM FRIEDRICH HEGEL ............................................................................. 13 1.7 CONSIDERAÇÕES SOBRE ESTADO EM MARX E ENGELS ................................................................................. 14 1.8 CONSIDERAÇÕES SOBRE ESTADO EM NICOS POULANTZAS .......................................................................... 16 2. ESTADO LIBERAL .................................................................................................................................................... 17 INTRODUÇÃO AOS FUNDAMENTOS DA FORMAÇÃO DO ESTADO PROF.A MA. CRISTIANE MULLER CALAZANS ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: A REFORMA DO ESTADO BRASILEIRO 4WWW.UNINGA.BR 3. ESTADO SOCIALISTA .............................................................................................................................................. 18 4. ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL .......................................................................................................................... 19 5. ESTADO NEOLIBERAL ............................................................................................................................................20 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................23 5WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Nesta unidade, discutiremos os principais conceitos sobre o Estado, enfocando a formação e transformações do Estado Capitalista ao longo da história e trazendo o modelo de Estado socialista e suas experiências denominadas socialistas. Neste sentido, trataremos de conceitos sobre Estado, a formação do Estado Capitalista e as fases de transformação pelas quais este passa como Estado Liberal, Estado de Bem Estar- Social, Estado Neoliberal e Estado Socialista. Essas temáticas são importantes, inicialmente, porque irão fornecer os elementos conceituais para o aluno refletir analiticamente sobre o Estado capitalista e como este vai determinando a organização social e a resposta estatal às questões sociais decorrentes desse modelo. O aproveitamento desta unidade será melhor se, antes de iniciar a leitura deste material, o aluno refletir sobre como o Estado tem se evidenciado como temática de discussão na profissão que está almejando, no caso Serviço social. Pense também sobre como o Estado, em diversas áreas, pode afetar sua vida profissional e como cidadão. 6WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. INTRODUÇÃO À FORMAÇÃO E CONCEITUAÇÃO DO ESTADO Ao pensarmos sobre o Estado, alguns autores clássicos do campo da teoria política nos fazem refletir sobre esse conceito. Não temos a pretensão de dar conta dessas teorias e conceitos, que não é objetivo desta disciplina, mas de apenas pontuar para que o aluno possa ter noção de olhares diferentes dos autores sobre essa temática para entendimento do processo de reforma pelo qual o Estado brasileiro passou, que é o foco desta disciplina. A formação do Estado ocorre bem antes de Maquiavel utilizar esse termo em sua obra O Príncipe de 1513, que assim começa: “Todos os estados, todos os domínios que imperaram e imperam sobre os homens, foram e são ou repúblicas ou principados” (MAQUIAVEL, 1513, 1977, p. 5 apud BOBBIO, 1987, p. 65). Uma reflexão mais ampliada de Estado considera que toda forma de organização, desde que tenha um chefe, coordenador ou alguém à frente, é uma forma de Estado. Por exemplo, na família, existe a pessoa responsável por ela e os seus membros, se vai ser mais coletivo ou mais autoritário a relação entre eles não vem ao caso no momento, mas é uma forma de organização de estado. A tese recorrente que percorre, com extraordinária continuidade, toda a história do pensamento político é a de que [...] o Estado, entendido como ordenamento político de uma comunidade, nasce da dissolução da comunidade primitiva fundada sobre os laços de parentesco e da formação de comunidades mais amplas derivadas da união de vários grupos familiares por razões de sobrevivência interna (o sustento) e externas (a defesa) (BOBBIO, 1987, p. 73). Neste pensamento, o Estado começa no momento em que há a dissolução da organização primitiva entre as famílias e comunidades, que se associavam para proteção das intempéries naturais e para manutenção de seus membros. Essa forma mais primitiva de organização vai se eximindo, dando lugar à formação do Estado. Para alguns historiadores contemporâneos, o Estado nasce dando início à era moderna. Segundo essa mais antiga e mais comum interpretação, o nascimento do Estado representa o ponto de passagem da idade primitiva, gradativamente diferenciada em selvagem e bárbara, à idade civil. Após esta introdução sobre a origem do termo Estado, vamos para algumas conceituações que teóricos trazem sobre essa organização. 1.1 Conceituação de Estado Caro aluno, para começarmos, precisamos ter claro a diferença da conceituação:quando nos referimos ao Estado com letra maiúscula, estamos tratando de uma organização. Uma organização que exerce o poder maior sobre um conjunto de indivíduos de um determinado território. Esse poder é exercido por meio da capacidade de influenciar determinantemente nas ações, decisões e no comportamento das pessoas. Este Estado sobre o qual estamos falando diz respeito a uma organização que tem o poder de “controlar” os habitantes de um determinado território, mas não pela força física apenas, como acontece nos modelos de dominação das organizações criminosas que existem nas comunidades e países. Esse controle vem pela legitimidade concedida a essa organização, reconhecida por seu povo para estabelecer regras de convívio social, administrar a justiça, os impostos pagos e punir os que a desobedecem. 7WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Neste item, apenas conceituamos Estado sem as interpretações ou os direcionamentos teóricos de autores que estudaram caminhos da relação entre Estado e sociedade e, mais tarde, o mercado. A seguir, passaremos rapidamente sobre alguns autores que pensaram sobre essa relação. 1.2 Considerações sobre Estado em Max Weber O autor Max Weber nasceu em 1864, em Erfurt, na Alemanha, filho de jurista e político do Partido Liberal Nacional. Formou-se em Direito, doutorou-se em economia e escreveu sobre sociologia. Suas obras destacadas são A ética protestante e o espírito do capitalismo e Economia e sociedade. Escrevia sobre o capitalismo e a religião chinesa, entre outros temas. Destacou-se com a publicação A teoria dos tipos ideais, renovou a metodologia nas ciências sociais. Ajudou a fundar o partido Democrata Alemão, que era reformista e democrata, criticando seu país pelo expansionismo no período da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Morre em 1920 em Munique, Alemanha, de pneumonia (FRAZÃO, 2019). Figura 1 - Retrato de Max Weber. Fonte: Pinterest (2020). Para Max Weber, o Estado é como uma comunidade ou uma associação, organização política que surgiu no último período medieval na Europa. O processo de formação do Estado moderno em Weber é um fenômeno de expropriação por parte do poder público dos meios de serviço como as armas, da mesma forma que a expropriação dos meios de produção dos artesãos, por parte dos possuidores de capitais. Desta observação deriva a concepção weberiana, hoje tornada communis opinio do Estado moderno, definido mediante dois elementos constitutivos: “[...] a presença de um aparato administrativo com a função de prover à prestação de serviços públicos e o monopólio legítimo da força” (BOBBIO, 1987, p. 69). Caracteriza o Estado principalmente pela presença de exércitos permanentes, pela territorialidade, pelo crescimento da burocracia, existência de um órgão administrativo que monopoliza o uso legítimo da força e pelo desenvolvimento das finanças públicas. A diferença para Weber entre o poder das máfias e outras organizações sobre um território e seu povo é a legitimidade de que o Estado é revestido para exercer o controle e até mesmo o uso da força física. A sociologia política weberiana é uma sociologia da dominação, que considera a força e a violência como momentos essenciais do processo político e da própria existência e funcionamento das instituições políticas (BIANCHI, 2014). 8WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O conceito de Estado em Weber estabelece três variantes importantes que aparecem nesta definição: em primeiro lugar, nela havia uma nova ênfase no caráter institucional da empresa estatal; em segundo, destacava que o monopólio legítimo da coação física era exercido pelo quadro administrativo que trabalha para o Estado; em terceiro, apresentava como finalidade do Estado a realização das ordens vigentes. A concepção weberiana do Estado é uma concepção subjetiva, até porque o autor desenvolve a sociologia compreensiva, que tem uma forma de entender quais são as motivações, as vontades, os desejos e os sentidos relativos às ações sociais. Neste sentido, o Estado, em vez de ser um ente objetivo completamente separado da vida, consiste em relações de vontade de uma variedade de homens. Formam o substrato desse Estado homens que mandam e homens que obedecem ou “[...] um grupo que se impõe sobre outros grupos sociais” dentro de um dado território (ISUANI, 1984, p. 35). Para Weber, o Estado não admite a concorrência e exerce, de forma monopolista, o poder político, que é o poder supremo nas sociedades contemporâneas. Caro estudante, as ideias que o autor Max Weber traz em seus escritos estavam totalmente fundamentadas no tipo de sociedade em que vivia na Alemanha e na estrutura familiar patriarcal. Podemos verificar, quando lemos em sua biografia, sobre o pai jurista e político Partido Liberal. As organizações políticas emergiram da transição entre os tipos de dominação patriarcal e patrimonial que estava presente nas relações familiares e patrimoniais. Isto é, a forma como as famílias se organizavam, em que o homem era o dono de tudo, inclusive da mulher e dos filhos e de seu patrimônio, migrou para a formação do Estado (ISUANI, 1984, p. 39). 9WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.3 Considerações sobre Estado em Thomas Hobbes Primeiramente, vamos apresentar quem era Hobbes. Nasce na Inglaterra em 1588, descobriu a geometria, que o ajudou a pensar as ideias de que a causa de tudo está na diversidade do movimento. Publicou, em 1651, sua principal obra: O leviatã. Figura 2 - Retrato de Thomas Hobbes. Fonte: Wright [16--]. Para Hobbes, o homem é o lobo do homem, isto é, no estado de natureza, o homem é livre e mau e possui um poder de violência ilimitado. O homem se impõe a outro homem somente pela força, não havendo divisão ou compartilhamento entre si. Para garantir a segurança do bem que conquistou, o homem utiliza a violência. Assim, considerava que o estado de natureza era como um estado de guerra de todos contra todos, gerando uma desordem no convívio e medo. Os sentimentos de liberdade e igualdade no estado de natureza conduzem à guerra constante e esta condição evidencia a necessidade de criação do Estado, a partir de um contrato social de todos os homens, transferindo o direito natural de usar a própria força para se defender e satisfazer seus desejos para um ser maior, o grande Leviatã, o Estado. Esse é um artifício humano capaz de sanar essas desordens. Os homens trocariam a independência natural pela segurança que o Estado poderia trazer, obrigando todos a se submeterem ao seu poder (COELHO, 2009). A visão de Hobbes sobre o Estado é a de que este é soberano. Sendo constituído, formalizado, adquire poderes ilimitados de ordenar a vida em sociedade como melhor lhe aprouver. Sem Estado não há civilização, não há cidadania, não há paz. É assim também que entende a criação das leis. O que se denomina juspositivismo nada mais é do que a compreensão de que a lei natural deve ser abolida, suprimida pela ordem convencional, artificial, inventada pelos homens, tendo em vista um bem comum, que é a preservação da vida (CABRAL, 2020). 10WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.4 Considerações sobre Estado em John Locke Locke também nasceu na Inglaterra, em 1632, e viveu até 1704, tendo sua obra voltada contra o autoritarismo. Suas ideias publicadas na obra intitulada Dois tratados do governo civil, no final do século XVII, o levou a ser considerado o pai do liberalismo. No primeiro tratado, ele faz uma crítica ao tipo de Estado caracterizado pelo poder absolutista do rei, pautado na escolha divina. No segundo tratado, escreve sobre a origem, extensão e objetivo do governo civil. Figura 3 - Retrato de John Locke. Fonte: Kneller (1697).A obra de John Locke teve grande influência na conformação do pensamento liberal ao longo do século XVIII. A doutrina dos direitos naturais está na base das Declarações dos Direitos dos Estados Unidos (1776) e na Revolução Francesa (1789). Acreditava que o trabalho com esforço, desde que não prejudicasse ninguém, daria o direito ao fruto do seu trabalho, à propriedade. Este pensamento de Locke vai ser um dos princípios básicos do capitalismo liberal. No estado natural do homem, ele possuiria direitos naturais que não dependiam de sua vontade (um estado de perfeita liberdade e igualdade). Locke afirma que a propriedade é uma instituição anterior à sociedade civil e, por isso, seria um direito natural ao indivíduo, que o Estado não poderia retirar. “O Homem era naturalmente livre e proprietário de sua pessoa e de seu trabalho” (WEFFORT, 2001, p. 85). Por ter suas ideias voltadas contra o autoritarismo, a única maneira de uma pessoa renunciar à liberdade natural e estar em sociedade civil se devia a inconvenientes violações da propriedade. Para tanto, era preciso fazer um contrato social unindo os homens em comunidade, passando do estado de natureza para o da sociedade civil. O contrato social institui o Estado como o maior, o dono do poder político com o objetivo de garantir a consolidação dos direitos individuais e assim viverem com segurança e paz uns com os outros, garantindo as propriedades que tiverem e desfrutando de proteção contra qualquer um que não faça parte dela (LOCKE, 1983). 11WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.5 Considerações sobre Estado em Jean-Jacques Rousseau O autor Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) nasceu em Genebra, na Suíça. Seu pensamento filosófico político influenciou o Iluminismo por toda a Europa, a Revolução Francesa e o desenvolvimento moderno da economia, da política e do pensamento educacional. Figura 4 - Retrato de Jean-Jacques Rousseau. Fonte: La Tour (1753). Como os outros autores mencionados, Locke e Hobbes, Rousseau também considera o estado de Natureza. Para ele, este é o período em que os seres humanos se organizaram pelas leis da natureza. Caçavam para comer, mudavam-se de lugar devido a intempéries que a natureza lhes impunha, como frio, falta de comida, entre outras, como se agrupavam para proteção e ajuda mútua. É um momento anterior a qualquer forma de organização social e do estado civil. Entendia que os seres humanos no estado de natureza tinham uma natureza mansa, benigna e de boa convivência, tinham liberdade e igualdade, longe dos vícios e de outros problemas que não pertenciam à natureza humana. É o que se denomina mito do bom selvagem: “O homem nasce bom, a sociedade o corrompe”, dizia Rousseau. Acreditava que o processo de civilização, de formação da sociedade, que começou quando algum homem cercou um pedaço de terra e disse que era seu, cultivou-o, privatizando-o, ficou sedentário e não compartilhou mais, foi responsável pelo afastamento do homem do seu estado de natureza, corrompendo-o. Para Rousseau, é o início da propriedade privada. O ser humano perde sua liberdade natural, até então protegida pela força física, para a civilização. A partir dessa perda, Rousseau acreditava que precisava de uma força superior para controlar as corrupções dos seres humanos. O Estado é essa força. Traz um amplo conceito de Estado. Pensa em um Estado que melhore a vida dos homens e diz que é preciso de um novo pacto social, no qual haja condições de igualdade. Cada indivíduo deve abrir mão de seus direitos em função do coletivo. Caracteriza-se uma liberdade por convenção, a liberdade política. A função do Estado em Locke, segundo Weffort (2001), é limitada à conservação dos direitos naturais do homem, que compreendem o direito à vida, à liberdade e aos bens. A proteção vem pelo amparo das leis e da força comum de um corpo político unitário. Este seria o sentido da formação de um Estado que constitui o Estado Liberal. https://pt.wikipedia.org/wiki/Europa 12WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Procura um Estado social legítimo, próximo da vontade geral e distante da corrupção. A soberania do poder, para ele, deve estar nas mãos do povo. O soberano é o povo, entendido como vontade geral, pessoa moral, coletiva, livre que, por meio de um contrato social, cria um corpo político de cidadãos, criando a si mesmo como povo e é a este que transferem os direitos naturais para que sejam transformados em direitos civis. Assim, [...] o governante não é o soberano, mas o representante da soberania popular. Os indivíduos aceitam perder a liberdade civil: aceitam perder a posse natural para ganhar a individualidade civil, isto é, a cidadania. Enquanto criam a soberania e nela se fazem representar, são considerados cidadãos (CHAUÍ et al., 2000, p. 220). Na sua visão, para que um governo consiga manter sua legitimidade é necessário que responda os anseios do povo (soberano). O governante não é o soberano, e sim o representante da soberania popular. Conseguindo manter a soberania o povo conseguia manter sua liberdade civil, seu direito a ser cidadão. O Estado tem o papel de manter o interesse geral, é ele o responsável por garantir as condições para que os indivíduos pleiteiam o direito à propriedade, a educação é tomada como instrumento para garantia da igualdade. Cabe ao Estado reduzir a desigualdade (NASCIMENTO, 2001, p. 221). Rousseau defende que é dever do Estado proporcionar a diminuição da desigualdade entre a população e considera a educação como instrumento para esse desafio. Apesar de suas ideias serem fundamento para o liberalismo, Rousseau defende a responsabilidade do Estado a atender a vontade do verdadeiro soberano, que é a vontade do povo. Para saber mais sobre os autores, estes três autores clássicos, Hobbes, Locke e Rousseau, cujas ideias fundamentaram o capitalismo e o liberalismo, indicamos este livro: WEFFORT, F. C. (org.). Os clássicos da política. 14. ed. São Paulo: Ática, 2001. Disponível em: http://www.aedmoodle. ufpa.br/pluginfile.php/164696/mod_resource/content/1/ Francisco%20Weffort%20-%20Os%20Classicos%20da%20 Politica%20Vol.%2001.pdf Fonte: Weffort (2001). http://www.aedmoodle.ufpa.br/pluginfile.php/164696/mod_resource/content/1/Francisco%20Weffort%20-%20Os%20Classicos%20da%20Politica%20Vol.%2001.pdf http://www.aedmoodle.ufpa.br/pluginfile.php/164696/mod_resource/content/1/Francisco%20Weffort%20-%20Os%20Classicos%20da%20Politica%20Vol.%2001.pdf http://www.aedmoodle.ufpa.br/pluginfile.php/164696/mod_resource/content/1/Francisco%20Weffort%20-%20Os%20Classicos%20da%20Politica%20Vol.%2001.pdf http://www.aedmoodle.ufpa.br/pluginfile.php/164696/mod_resource/content/1/Francisco%20Weffort%20-%20Os%20Classicos%20da%20Politica%20Vol.%2001.pdf 13WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.6 Considerações sobre Estado em Friedrich Hegel Hegel nasceu em 27 de agosto de 1770, em Estugarda, Berlim, Alemanha, e morreu em 1831, no Reino da Prússia. O pensamento de Hegel consiste em que o Estado abarca os interesses do todo. Este é composto de interesses individuais e universais. Acredita que os interesses individuais não devem ser postos de lado ou suprimidos por completo, mas alinhados aos interesses universais com o objetivo de manter ambas as propostas. Figura 5 - Retrato de Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Fonte: Schlesinger (1831). Hegel dá um outro sentido para a sociedade civil, que nas teorias do contrato social surge do Estado, por meio de um contrato. Este novo sentido surge das novas realidades que emergem com o crescimento do capitalismo, como o acirramento do individualismo, conforme salienta Hegel: [...] a criação da sociedade civil é a realização do mundo moderno. Esta sociedade civil não existiuno passado: No Estado da Antiguidade, o objetivo do sujeito simplesmente coincidia com a vontade do Estado. Nos tempos modernos, entretanto, nós reivindicamos julgamento privado, vontade e consciência privadas. Os antigos não tinham nenhuma dessas reivindicações, no sentido moderno; o fundamental para ele era a vontade do Estado (HEGEL apud ISUANI, 1984, p. 41). O estímulo ao individualismo vem com a ascensão do comércio e da indústria burguesa, em que, cada vez mais, cada um estava preocupado com os próprios interesses. Para que não se perdessem completamente os interesses comuns, ocorre uma separação entre público e privado, sendo uma característica da sociedade moderna. Outra realidade que Hegel traz com a ascensão do capitalismo é o aumento da desigualdade social, que, pela dinâmica do mercado, coloca as massas em uma vida de pobreza em todos os sentidos, para uma minoria poder acumular riquezas. Assim, Hegel vê, na sociedade civil, um reino de hostilidade e de competição dos homens entre si, tendo o maior interesse, o particular. O Estado, por outro lado, deve transcender esse individualismo, o que não exclui a sociedade civil, mas não pode ser só ela. O Estado, para Hegel, é o momento da universalidade, do comum, onde o particular e o universal se unem, em que os interesses particulares são postos em correspondência com os interesses universais (ISUANI, 1984, p. 42). 14WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O Estado não é governo nem sociedade, mas uma dimensão altamente abstrata de sociedade. Exige uma classe comprometida com os interesses públicos, a chamada classe universal, que se concretiza nos funcionários do Estado. Devem ter o universal como foco de sua atividade, além de aliviar as consequências da pobreza por meio das intervenções. Com esse entendimento, Hegel estabelece o precedente de que o “[...] governo tem a tarefa primordial de atuar contra a desigualdade e a destruição geral proveniente dela” (BOBBIO, 1987, p. 65). 1.7 Considerações sobre Estado em Marx e Engels A visão de Estado em Hegel está relacionada com uma sociedade civil que transcende os seus interesses individuais, extrapolando-os para os interesses universais. É considerada por Marx e Engels como uma ilusão idealista, um mito, pois se na base da sociedade civil concreta, do dia a dia, persistir a desigualdade social, não tem como unir interesses individuais com os universais. A concepção de Estado em Marx é como um aparato governamental, administrativo e coercitivo dentro de uma sociedade. Esse autor considera que o Estado se torna uma instituição de governo separada do resto da sociedade, criado para dominar a classe popular, pois no momento em que delegou a autoridade de dirigir a sociedade a um grupo de representantes, o Estado é uma instituição separada. As decisões tomadas irão depender do grupo que está no comando, geralmente a classe dominante, para cuidar dos interesses privados e individuais. Marx afirma que será superada essa situação pela emancipação humana: Somente quando o homem individual, real, retomar o cidadão abstrato e como um homem individual se torne um ser-espécie na sua vida empírica, no trabalho individual e nas relações pessoais, somente quando o homem reconhecer e organizar suas forces propes como forças sociais, de tal modo que a força social não seja separada dele na forma de força política, só então será concluída a emancipação humana (ISUANI, 1984, p. 43). É a noção de que a separação entre interesses da sociedade e da comunidade política não mais existirá, quando a igualdade e a cooperação reinarem na sociedade e esta conseguir ter o Estado como um órgão completamente subordinado a ela. Diz que, quando a sociedade se tornar livre e igualitária, não haverá necessidade de uma comunidade política abstrata (ISUANI, 1984, p. 44), como o Estado, pelo fato de ela mesma conseguir se autorregular. 15WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Engels defende que o Estado surge na sociedade de classes e pela necessidade de refrear o antagonismo entre estas, isto é, o Estado, ou o poder público, é uma organização da classe dominante para controlar a classe dominada. Controla por meio do uso da força armada, mas também por meio da burocracia, de prisões e de instituições de repressão. Defende ainda que essa organização não é para sempre, mas quando a sociedade organizar a produção fundamentada na associação livre e igualitária entre os produtores, não precisará mais do Estado. Figura 6 - Retrato de Karl Marx. Fonte: Mayal (1875). Figura 7 - Retrato de Friedrich Engels. Fonte: Hall (1877). 16WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.8 Considerações sobre Estado em Nicos Poulantzas Poulantzas define o Estado pela sua estrutura política, que tem como função manter a união da formação social, que pode se desdobrar em funções política, ideológica e técnico- econômica, que são desenvolvidas pelos aparatos do Estado. Para ele, o fator ideológico também mantém a coesão social fazendo parte do aparato do Estado, além do governo, do exército, da polícia, do poder judiciário, da administração civil, em conjunto com a igreja, o partido político e a família. Em um segundo momento, Poulantzas acredita que não são as funções que definem o Estado, mas as relações de luta entre as classes sociais. Em seu texto As classes sociais no capitalismo de hoje, ele traz o conceito de Estado capitalista como uma relação. Acredita que é uma dança ou um jogo das contradições entre as classes que estão no poder e as que não estão que vai dar a função de organização do Estado, e este contribui para a coesão social da sociedade. Neste sentido, o Estado vai servir para organizar a classe dominante e desorganizar a classe dominada, e também conforme a organização das classes subordinadas, para contestar as decisões do Estado, que podem ser contrárias à burguesia (SILVA; RODRIGUEZ, 2015). Existe a luta entre classes sociais, mas também na Igreja, nos meios de comunicação, nas associações e mesmo na família; se há luta de classes, estas são aparatos do Estado. Tanto na primeira conceituação como na segunda, Poulantzas deixou de lado a estrutura econômica (ISUANI, 1984, p. 85). Figura 8 - Retrato de Nicos Poulantzas, na década de 1970. Fonte: Wikipedia (2020). 17WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2. ESTADO LIBERAL Desde a formação do Estado, percebemos que este vem assumindo algumas responsabilidades sociais, no sentido de manter a ordem e o bem comum por meio de suas instituições próprias e da sociedade e com ideologias repressivas. Ao longo da história, o Estado, em sua forma de organização, tem possibilitado à classe trabalhadora mais ou menos participação e inclusão, conforme a organização desta. No Estado Liberal, tem-se Adam Smith como seu maior pensador, na metade do século XVIII, e David Ricardo já mais à frente no início do século XIX, trazendo suas ideias de livre mercado. Significa que o trabalho deve ser visto como uma mercadoria, sendo regulado pelo livre mercado, sem intermediação do Estado, em que cada indivíduo deveria agir em seu próprio interesse econômico e, na junção coletiva desses interesses, estaria o bem-estar coletivo. É a livre ação da “mão invisível” do mercado (BEHRING; BOSCHETTI, 2007). O Estado, “um mal necessário”, serve para fornecer as bases legais para o mercado agir livremente, mas não mais do que isso, pois atrapalha a organização do mercado. Relembrando a história que antecede as ideias de Adam Smith, a burguesia já havia se consolidado economicamente, mas não politicamente dominante e queria livrar-se do parasitismo da aristocracia, do clero e do Estado absoluto. As ideias desse autor vêm em respostaao antiestatismo e ao mercado como o regulador natural das relações sociais (BEHRING; BOSCHETTI, 2007, p. 59). As propostas do Estado liberal eram as de que todos os homens são livres para construir seus próprios destinos e suas propriedades. Considera que o crescimento e o bem-estar de cada um dependem exclusivamente da competência e do trabalho individual, por todos serem considerados iguais, sem levar em conta que ser dono de um meio de produção é muito diferente que ser dono apenas da força de trabalho, mesmo que, pela legislação, todos sejam iguais. O Estado liberal, para Smith, agrupava três funções: “[...] defesa dos inimigos externos; a proteção de todo o indivíduo de ofensas dirigidas por outros indivíduos; e provimento de obras públicas, que não possam ser executadas pela iniciativa privada” (BOBBIO, 1987). Neste modelo de Estado, é reduzida a intervenção em garantia de direitos sociais, pois a lógica que predominava de visão de homem era a do darwinismo, ou seja, da evolução social da espécie humana. Malthus, um dos autores defensores do darwinismo, em seus estudos sobre população, rejeitava veementemente leis de proteção, pois dizia que o Estado estaria interferindo no percurso da lei natural de seleção da espécie, da mesma forma que acontece na natureza com os animais. Se houvesse intervenção do Estado, poderia contribuir para desestimular o interesse pelo trabalho e provocar um aumento exacerbado do número de pobres, que poderia colocar em risco a sociedade de mercado. Em relação à pobreza ainda, o Estado liberal deveria garantir assistência mínima apenas a pessoas que não tivessem condições de competir no mercado, como crianças, idosos e deficientes. O restante da pobreza poderia ser amparado pela caridade privada (PASTOR; BREVILHERI, 2009). 18WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3. ESTADO SOCIALISTA O Estado Socialista surge de forma diferente de outros modelos de Estado. Enquanto o Estado Liberal organiza-se ao longo da história, reprogramando-se nos períodos de baixa para novamente erguer-se, causando mudanças sociais e econômicas nos países, o Estado Socialista surge na Rússia por meio da Revolução em 1917, inspirada na doutrina marxista-leninista em um momento em que o Estado Liberal estava em declínio no Ocidente. Nesse período, da I Guerra Mundial, a Rússia era comandada pelo czar, uma monarquia absolutista, que dava condições para que uma minoria explorasse uma grande maioria de camponeses depauperados. Tinha como oposição dois partidos: o partido bolchevista, que acreditava na implantação imediata do poder pela revolução proletária, e o partido mencheviques, que acreditava que o caminho para sair da monarquia era por meio de uma revolução de caráter liberal e burguês para que, em seguida, conseguissem implantar o socialismo. Ambos queriam uma Rússia mais desenvolvida industrialmente, livre do feudalismo czar. Com as constantes derrotas do exército czarista perante os alemães e uma política externa desastrosa do então czar, Nicolau II, o último czar da Rússia teve que entregar o trono (CINTRA, 2020). Neste primeiro momento, ficou à frente o parlamento, chamado de Duma, que tinha o poder de tomar as decisões políticas da nova república. O partido mencheviques, de caráter liberal e burguês, é que comandava, mas a incapacidade de amenizar os problemas herdados do tempo czarista tem ascensão com a oposição bolchevique em novembro de 1917. Lênin torna-se o homem de comando da Rússia. Seu governo não caminha sozinho, mas acompanhado por Trotsky e Stálin com tentativas de ultrapassar a crise econômica e social que assolava a nação. A Rússia sai da Primeira Guerra Mundial e realiza profundas reformas de caráter socioeconômico, mesmo com muitas oposições do mundo capitalista. Em 1922, outras repúblicas asiáticas e europeias se unem à Rússia, formando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A característica principal do Estado Socialista era a de que o Estado assumisse o papel maior na regulação da vida social e econômica. Assume o controle de todo o processo produtivo, de todas as atividades econômicas, desde a produção, distribuição e prestação de serviços. Não havia o direito à propriedade privada nem à liberdade econômica, característica primordial do liberalismo (COELHO, 2009). O princípio que orientava o estado socialista era o da igualdade social e não individual. Buscavam uma sociedade mais igualitária em que todos os cidadãos tivessem acesso a bens e serviços de forma mais uniforme. Outra característica do Estado socialista era a luta pela representação dos interesses da maioria da classe trabalhadora urbana e rural. Quem os representava era o Partido Comunista. Mas a forma como foram implementadas as ações desse partido, em que não poderia haver discordância de suas decisões, se não seria considerado traição e passível de ser punida, resultou em um Estado Socialista Totalitário. O totalitarismo tem como linha mestra o controle de todas as instâncias da vida social, não havendo diferenciação entre Estado e sociedade. A sociedade é serva do Estado e o governo controla tudo de forma autoritária. Segundo Coelho (2009, p. 85), o Estado totalitário tem [...] todos os recursos econômicos e sociais reunidos sob o controle do Estado e na direção do Partido Comunista, a União Soviética pôs em prática a primeira e provavelmente mais bem sucedida experiência de planejamento central do Estado: os planos qüinqüenais de investimentos e desenvolvimento industrial. https://www.coladaweb.com/historia/stalin-biografia-e-governo 19WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Com esta organização, a União Soviética levanta-se em duas décadas como uma potência industrial e capaz de se opor à maior, mais rica e armada força da época: a Alemanha nazista. 4. ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL Este modelo de Estado é colocado em prática em alguns países de forma diferenciada em cada região, dependendo do grau de mobilização da classe trabalhadora e dos interesses da classe dominante. Até o final do século XIX e início do século XX, tivemos o capitalismo de livre concorrência, conforme relatado no item anterior, formando os grandes monopólios de capital. Os resultados são os agravamentos da situação de miséria e exploração da classe trabalhadora. Neste período, o Estado é chamado para intervir mais na reprodução da força de trabalho, ainda que de forma policialesca e repressiva, mas motivado pela grande mobilização e organização da classe trabalhadora, pautada “[...] na luta pela emancipação humana, na socialização da riqueza e na instituição de uma sociabilidade não capitalista” (BEHRING; BOSCHETTI, 2007, p. 63-64); assim, a classe trabalhadora alcançou importantes conquistas. Entre elas, estão o direito ao voto, a organização de sindicatos e partidos e a livre expressão, com a luta e expansão de seus direitos sociais. Vários países do mundo entraram no pacto de Varsóvia, que organizava um grande bloco socialista, comandado pela União Soviética, contra o capitalismo/ liberalismo ocidental. Como o princípio que regia esses países era a igualdade social, os países que entraram, em poucos anos, tiveram avanços consideráveis. Em Cuba, por exemplo, o nível educacional e de saúde da população ultrapassa o de qualquer sociedade latino-americana. Outro exemplo: a União Soviética teve avanços tecnológicos notáveis que competiram com os EUA na corrida espacial, mandando o primeiro homem ao espaço. Já a China conseguiu alcançar as grandes potências mundiais na área nuclear. Mas, por outro lado, a escassez de produtos básicos de alimentação e higiene pessoal não foi superada e, em alguns anos, a população dos países socialistas perdeu o padrão de consumo, educação e saúde devido à migração para regimes totalitários comparados aos países capitalistas (COELHO, 2009). Ahistória do Estado socialista ainda está sendo contada em alguns países no mundo. Não sabemos se o que vemos nas mídias sociais confirma como esses países atuais que vivem o socialismo totalitário estão se organizando. Que a revolução aconteça e que os proletários assumam verdadeiramente o poder e a direção de seu Estado, para implantar os ideais verdadeiros do socialismo. 20WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Neste sentido, ocorre um tensionamento para mudança do papel do Estado no âmbito do capitalismo, neste fim de século XIX e início do século XX, para que ele assumisse e realizasse ações sociais de forma mais ampla, sistematizada e obrigatória. Uma dessas ações foram os seguros sociais que começam na Alemanha em 1883, marcando a proteção para os momentos de contingências (idade, doenças, desemprego). Outra ação é o olhar para a cidadania, e não mais só para a extrema pobreza. Com a queda da Bolsa de Nova York, instaura-se a crise mundial de 1929, que poderia ser somente econômica e nos Estados Unidos da América, o centro da economia capitalista da época. Espalha-se pelo mundo todo através do comércio internacional, estimulando uma desacreditação no modelo liberal para uma mudança de direção para o Estado social, baseado nas concepções economistas de John M. Keynes e sociais do político Willian Beveridge. O período de ouro do Estado de Bem-Estar Social ou Welfare States compreendeu os anos de 1945 a 1975, tendo como compromisso dos países capitalistas centrais ocidentais, menos os Estados Unidos, a proposta da garantia do pleno emprego, a cobertura universal de serviços sociais e o mínimo de proteção social a toda a população (PEREIRA, 2010). Surgiu o pacto keynesiano, assim chamado por liberais, conservadores e sociais democratas, por acreditarem ser uma estratégia em relação às crises estabelecidas até aquele momento histórico, como a II Guerra Mundial, às experiências totalitárias de direita (fascista) de Hitler e de comunismo na ex-União Soviética, de Stalin. Foi possível sua implantação por não terem conseguido gerar emprego e bem-estar para todos, sem que o Estado assumisse um lugar de ator principal, com ideias coletivistas. A partir de 1930, o Estado assume como instrumento para dar conta da crise no sistema capitalista e sanar problemas provenientes deste. Assim, a economia capitalista reergue-se por meio do Estado. O Estado de Bem-Estar Social não foi um Estado dos trabalhadores, mesmo que tenha beneficiado grandes parcelas deles, melhorando as suas condições de vida, mas não perdeu sua característica capitalista, de acumulação de riquezas. Ainda, pela luta contínua dos movimentos dos trabalhadores, ocorreu a implantação de políticas sociais que amorteceram a crise (PASTOR; BREVILHERI, 2009). 5. ESTADO NEOLIBERAL Este modelo de Estado ganha força novamente a partir da crise do petróleo, em 1973, em que o preço do produto se eleva, entrando em crise financeira e do comércio internacional, gerando inflação crônica e baixo crescimento econômico. Os países que fazem parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) deflagram a crise do modelo keynesiano, devido, principalmente, aos gastos excessivos do Estado com proteção social; aos elevados impostos cobrados da classe média e dos ricos pelo poder público; e aos altos salários dos trabalhadores. Segundo Potyara Pereira (2010, p. 4), Trata-se na verdade de uma crise cíclica ou regular do capitalismo caracterizada pelo excesso de produção sobre a demanda por bens de capital e de consumo. Tal descompasso propicia queda brusca da produção com consequências depressivas e recessivas tanto do ponto de vista econômico como social. Para vários analistas, a crise capitalista atual, agudizada em 2008, tem a ver com a baixa remuneração do capital produtivo, a partir dos anos 1970, e com a fuga de grande parte desse capital para a especulação financeira, fictícia ou parasitária, que hoje está encontrando seus limites. 21WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A crise não era pelos motivos que os neoliberais colocavam como argumentos, como o grande gasto governamental com políticas sociais públicas, que geravam déficit no orçamento, e a proteção social pública garantida prejudicava o desenvolvimento econômico por onerar os que possuem “condições econômicas” mais favoráveis para aumentar o consumo dos populares. O que queriam era a diminuição da intervenção estatal, reduzindo a pobreza e suprindo as lacunas dos serviços privados. Com todo esse desmonte, o movimento operário se rebela, com lutas, tendo como resposta a política de desemprego direcionando o investimento do setor produtivo para o setor financeiro. Isso significa menos investimento em empresas, fábricas para gerar trabalho e mais investimento em bancos, financiadoras, além da internacionalização da produção, terceirização ou subcontratação de pequenas empresas, a flexibilização com a criação de postos de trabalho em tempo parcial e mal remunerados (PASTOR; BREVILHERI, 2009, p. 143). Os grandes apoiadores desse ressurgimento das ideias clássicas do liberalismo foram a ex-primeira ministra inglesa, Margareth Thatcher, e o ex-presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan. Em conjunto com as instituições financeiras controladas por esses países centrais, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, com a economia baseada no mercado livre e global, dos anos 1970 em diante, ocorreu um crescimento do capitalismo, mas, ao mesmo tempo, um grande aumento nas desigualdades e injustiças sociais, principalmente pelo desmonte dos sistemas de proteção social. Apesar de todas as intenções de crescimento que os liberais propunham, muitos países não conseguiram revitalizar o capitalismo. Segundo Pereira (2010, p. 39), “[...] as formas de regulação neoliberais não produziram efeitos satisfatórios. Com exceção da redução da inflação, todas as suas metas apresentaram índices negativos, se comparadas com as políticas keynesianas dos anos de 1960”. Em grandes cidades brasileiras, como expressão da questão social, a população em situação de rua cresce, como podemos ver na reportagem do G1 São Paulo: “População de rua na cidade de SP aumenta 53% em 4 anos e chega a 24 mil pessoas. O Censo de 2019 apontou que 24.344 pessoas moravam nas ruas da cidade. Em 2015, data do último levantamento, eram 15.905 moradores em situação de rua”. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/01/30/populacao-de-rua-na- cidade-de-sp-chega-a-mais-de-24-mil-pessoas-maior-numero-desde-2009.ghtml. Qual a relação da situação da população em situação de rua com a forma de organização do Estado e seus princípios teóricos norteadores? Seriam todos “vagabundos”, preguiçosos, que não se encaixam nas normas vigentes, a ponto de dar direito a pessoas semelhantes de atear fogo em um dos moradores que dormia na rua? Como podemos perceber, as consequências das escolhas que são feitas para áreas nas quais o Estado investe são concretas. Desde que o Brasil acirrou as políticas neoliberais em sua forma de condução da economia e de toda a política, os números de desassistidos, excluídos do processo de produção dos bens de consumo e da vida social, estão aumentando. Reflita sobre este assunto. 22WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O aluno perceberá, ao longo do filme, como as ideias neoliberais estão presentes no nosso cotidiano, apresentadas como naturais, como se sempre tivessem sido assim. Traz uma reflexão e um repensar sobre o tipo de mundo onde estamos, enquanto classe trabalhadora, construindo para as futuras gerações. Para mais informações sobre o Estado de Bem-Estar Social ou Welfare States, acesse e leia o texto a seguir: SPING-ANDERSEN, C. As três economias políticas de WelfareState. Lua Nova, n. 24, p. 86-106, 1991. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ln/n24/a06n24.pdf . Uma revisão complementar sobre os preceitos do neoliberalismo encontra-se no filme A Dama de Ferro, para entendermos melhor como foi esse período do capitalismo com ideias liberais e que, na década de 1970, ressurgem com o neoliberalismo, com o início da recessão econômica causada pela crise do petróleo. Destaca-se sua representante maior, Margaret Thatcher, primeira-ministra do Reino Unido. Esse filme nos mostra os ideais que buscava e como foram acolhidas, principalmente na Inglaterra, berço dessa nova fase, as medidas nada populares que foram tomadas, contra a classe trabalhadora, com a justificativa de recuperação do país. O aluno perceberá, ao longo do filme, como as ideias neoliberais estão presentes no nosso cotidiano, apresentadas como naturais, como se sempre tivessem sido assim. Traz uma reflexão e um repensar sobre o tipo de mundo onde estamos, enquanto classe trabalhadora, construindo para as futuras gerações. Fonte: Mercado Livre (2020). 23WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro aluno, nesta unidade, apresentamos brevemente os pensamentos de alguns autores importantes para construir um conceito de Estado, principalmente para que o aluno possa ter clareza de que não são naturalizadas as formas de organização da sociedade, mas que existe todo um contexto histórico, econômico, planejamento e estratégias para organizar a sociedade voltada a determinados interesses. Nestes últimos tempos da história da humanidade, a organização social, política e econômica da vida em sociedade tem seguido a forma capitalista de produção. Por outro lado, a unidade não tem a intenção de gerar conformismo, mas de demonstrar que, ao longo da história, a classe trabalhadora organizada lutou para que fosse menos explorada e que conseguisse chegar a um patamar de decisões políticas na intenção de influenciar mais veementemente o percurso da história. Nós somos a classe trabalhadora dos dias atuais e depende de nossa organização, por meio dos espaços coletivos existentes e novos a serem pensados, para que possamos continuar construindo nossa história. 2424WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................................................25 1. RELAÇÕES ENTRE ESTADO E MERCADO .............................................................................................................26 2. PRODUÇÃO TAYLORISTA ........................................................................................................................................28 3. PRODUÇÃO FORDISTA ............................................................................................................................................30 4. PRODUÇÃO TOYOTISTA .........................................................................................................................................32 5. NEOLIBERALISMO E O MUNDO DO TRABALHO CONTEMPORÂNEO ...............................................................36 5.1 QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL .....................................................................................................................36 5.1.1 INDÚSTRIA 4.0 .....................................................................................................................................................39 5.1.2 NOVO TRABALHADOR OU ESCRAVO? ..............................................................................................................40 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................44 ESTADO, MERCADO E O MUNDO DO TRABALHO: CONCEITOS E DESDOBRAMENTOS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA PROF.A MA. CRISTIANE MULLER CALAZANS ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: A REFORMA DO ESTADO BRASILEIRO 25WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Esta unidade sobre a organização do Estado, do mercado e do mundo do trabalho possibilitará ao aluno compreender como esses elementos relacionados intrinsecamente um ao outro influenciam a história da humanidade até a contemporaneidade. Esta unidade tem como objetivo possibilitar ao aluno a compreensão dos processos de mudanças que vão ocorrendo no mercado e, consequentemente, no mundo do trabalho em relação ao modelo de Estado adotado. O aluno poderá também aprofundar um pouco mais sobre como o mercado vai influenciando na organização do mundo do trabalho. Conforme o capital deseja que seja orientado o mercado, o mundo do trabalho vai sendo organizado para responder. O Estado, por sua vez, organiza as legislações para dar respaldo às ações propostas mais pelo mercado ou mais pelos trabalhadores, dependendo de qual está com mais força e organização. Assim, estaremos passando pelos modelos de organização da produção que avançam conforme avança a revolução industrial. Produção Taylorista, Fordista, Toyotista, Keynesiana, no Estado neoliberal e a resposta do Estado para a questão social, produzida em consequência da organização do modo de produção, no caso, capitalista. Esta unidade é importante no processo de aprendizagem sobre a Reforma do Estado Brasileiro por possibilitar a compreensão dos modelos de produção que foram sendo organizados e como os trabalhadores se organizaram para enfrentar a forma de exploração da mão de obra ao longo da história da humanidade. Este percurso teórico e histórico nos permite chegar à realidade brasileira, entendendo a origem das propostas de mudanças e que irão influenciar a reforma do Estado brasileiro. Caro aluno, aproveite bem esta unidade, que lhe dará respaldo para entender um pouco mais a realidade brasileira. Leia os textos na íntegra que estão nas referências e as sugestões de leitura, que o ajudarão a formar uma consciência crítica de todo o processo de produção que vivemos e que estamos vivenciando no Brasil. 26WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. RELAÇÕES ENTRE ESTADO E MERCADO A história nos mostra um movimento cíclico em permanente transformação, entre Estado, mercado e trabalho, trazendo momentos acelerados de mudanças e outros mais lentos, conforme seus atores organizam-se neste palco dinâmico. O pano de fundo desse palco é o modo de produção capitalista que vivemos e os atores são o Estado, o mercado e a sociedade. Estes vão atuando conforme o pano de fundo dita as regras da apresentação. O ator que sofre pelas transformações é a sociedade. Assim, nesta representação teatral, temos um movimento que demonstra a regulação das relações sociais desses atores. Figura 1 - Movimento das sociedades capitalistas. Fonte: A autora. Ș Estado: vermelho Ș Mercado: verde Ș A sociedade são as linhas Percebemos, neste gráfico, que o Estado e o Mercado estão alinhados na maioria das vezes; o que sofre as alterações ou as rotações é a sociedade. Quando os mecanismos de mercado não são suficientes para estimular o investimento do capital e seu desenvolvimento econômico, com equilíbrio e bem-estar social, a sociedade desequilibra e faz rotações mais intensas e desalinhadas, conforme a linha verde. O Estado interfere e sana os desequilíbrios para que o mercado se estabilize e retome seus investimentos e ocorra a expansão da economia, bem como o bem-estar da sociedade. É o Estado de Bem-Estar Social. Talvez não na sua completude, mas com intervenções maiores do Estado na vida da sociedade e do mercado. 27WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Por outro lado, quando o Estado se“desequilibra” e não consegue manter as bases e os fundamentos do crescimento econômico, os investimentos econômicos privados, a sociedade se desequilibra, conforme as linhas vermelhas no gráfico. O Estado é considerado como um empecilho para o crescimento econômico do mercado e produção de riquezas, condições primordiais para o crescimento da sociedade capitalista. Suas ações são reduzidas ao mínimo essencial, permitindo a atuação dos mecanismos de mercado. É o Estado mínimo. Nesta tentativa de representação da relação entre Estado, Mercado e Sociedade (que afeta o mundo do trabalho), a tentativa de mostrar que esses atores sempre estão em movimento assume rotações distintas ao longo da história da humanidade, sempre rodando, renovando de forma diferente. Esta relação ao longo da história da humanidade da era capitalista tem demonstrado que o mercado tem defendido, criado e reinventado mecanismos que contribuem para o aumento da produção para gerar mais riquezas. Um desses instrumentos tem sido a tecnologia, que foi e é o instrumento que causa grandes mudanças na forma de produção e nas relações de trabalho. Demonstra, também, que o mercado, agindo livremente, concentra as riquezas produzidas nas mãos de poucos. Quando essa lógica fica exacerbada, criam-se os grandes monopólios, ao ponto de a sociedade/trabalhadores se organizarem e não aceitarem tamanha concentração de renda e riqueza produzida pelo trabalho. Assim, o Estado intervém no mercado para equilibrar tamanhas desigualdades, podendo acabar com o próprio mercado, pelo fim da concorrência e consumo. Podemos dizer, então, que o mercado precisa do Estado para evitar a própria autodestruição. Como o mercado visa apenas ao acúmulo de riquezas e de forma concentrada, as desigualdades sociais agudizam, precisando então da intervenção do Estado para criar mecanismos para amenizar e voltar a um certo equilíbrio para que a produção e a economia voltem a crescer. O mecanismo de contraponto que o mercado precisa para fazer funcionar a sociedade capitalista em sua essência é o Estado. A seguir, estaremos detalhando ao longo da história capitalista como as mudanças na produção em busca de maiores riquezas influenciou na vida da sociedade/trabalhador e do próprio Estado. Construímos o texto a partir das revoluções das produções industriais, com os modelos adotados conforme o período histórico. Embarcamos neste rever da história. 28WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2. PRODUÇÃO TAYLORISTA O Taylorismo, também conhecido como Administração Científica, é um modo de organização do processo produtivo criado por Frederick Winslow Taylor no final do século XIX, em meio aos acontecimentos da Revolução Industrial. Esta última teve início na Inglaterra, no século XVII, sendo uma forma de mudança radical na produção das mercadorias, de que até então tinha conhecimento. Transformou a relação de exploração dos recursos da natureza, as relações de trabalho e o modo de produção, consolidando a formação do capitalismo. A Revolução Industrial vem amparada por um Estado pouco interventivo, na visão liberal de Adam Smith, que acreditava na “mão invisível do mercado”, ou seja, o mercado regula as relações sem a intervenção do Estado. Ao Estado cabia a manutenção da ordem dos trabalhadores, que poderiam se organizar contra esta nova forma de produção. Nas indústrias, com o objetivo de maximizar a produção, Taylor estuda as fábricas nos Estados Unidos, observando que a maneira como eram organizados o trabalho e o trabalhador não produzia muito lucro. Propõe melhorar a produção de cada trabalhador, por meio da segmentação do processo produtivo, dando origem a uma forma de administração científica nas empresas, com uma nova organização do trabalho, focada na especialização dos trabalhadores e na função da gerência, criando então a chamada gerência científica. O objetivo primordial era aumentar a produção e diminuir o tempo gasto na produção. A principal ideia do taylorismo era a racionalização do trabalho. O que significa isso? Ao perceber que os trabalhadores perdiam muito tempo durante a produção por não dominarem a sua função, Taylor observou que era necessário aprimorar as atividades exercidas por cada trabalhador, no intuito de agilizar a produção, diminuindo o tempo e o esforço físico desnecessário. Para isso, era necessário que os funcionários recebessem instruções quanto à função exercida para que pudessem aperfeiçoar sua capacidade produtiva e permitir o máximo aproveitamento de suas habilidades. Assim, os trabalhadores passaram a ser selecionados segundo as suas aptidões e a receber treinamentos pautados em métodos científicos com atividades planejadas, otimizando o trabalho e o tempo. Cada funcionário exerceria uma função específica, ficando então alheio ao todo e ao resultado final. O trabalhador aumenta a produção, por dominar cada vez mais sua função. https://brasilescola.uol.com.br/historiag/revolucao-industrial.htm 29WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 2 - Produção Taylorista. Fonte: Curado (2019). Propôs que tivesse a figura do gerente ou gestor, que ficaria responsável para treinar, fiscalizar os trabalhadores e a produção, pensar e propor mudanças no trabalho, instaurando a separação entre o planejar e o executar. O primeiro se refere à função de gerente e o segundo, ao trabalhador operário. As ideias de Taylor trouxeram grande produtividade e organização dos processos de trabalho na indústria, inicialmente manufaturadas, mas trouxeram também à tona o processo de exploração e mecanização do trabalho. A indústria manufatureira substitui a artesanal, com máquinas ainda movidas pelo trabalhador, mas já organizando o processo de trabalho assalariado, com horas determinadas de trabalho. No século XVIII, com a primeira Revolução Industrial, a divisão do trabalho fica mais intensa, com os motores a vapor, acelerando a produção com a especialização de cada etapa do processo. “O taylorismo reduzia, na medida em que separava gerência científica e execução, o trabalhador a um executor brutalizado, uma vez que esse trabalhador ou trabalhadora executava operações rigidamente programadas, definidas e controladas” (ANTUNES, 1999, p. 56). As atividades eram repetitivas e sem possibilidade de opinar sobre o processo produtivo, trazendo ao trabalhador o sentimento de apêndice da máquina, de peça substituível. A produção na indústria aumenta consideravelmente, havendo uma superprodução de mercadorias, pelo modelo de produção adotado, taylorista, mas não há melhorias nos salários dos trabalhadores, fazendo com que o mercado consumidor nos Estados Unidos, principalmente, fosse de baixa capacidade. Acrescido a isso, há a recuperação do mercado da Europa pós-Primeira Guerra Mundial, que não precisa mais da importação dos Estados Unidos. Essas situações em conjunto resultam na quebra da Bolsa de Nova York. Assim, ocorre uma mobilização e organização por parte dos trabalhadores contra esta forma de organização do trabalho e do Estado. Como o mercado não conseguiu regular as relações econômicas, o presidente dos Estados Unidos, na época Franklin Delano Roosevelt, toma medidas drásticas de mudança de intervenção do Estado na economia, que ficaria conhecida como keynesianismo, com propostas de intervenção estatal fortemente voltadas para a recuperação do poder de consumo do trabalhador de 1937 em diante (PROENEM, 2020). 30WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Podemos perceber que, conforme os capitalistas decidem a forma de intervenção do Estado e de organização do trabalho para gerar mais lucros, isso vai gerir toda a sociedade. O ponto-chave para o fim da crise veio com a criação do New Deal (Novo acordo), nome dado à série de programas implementadosnos Estados Unidos entre 1933 e 1937, que deram início à atuação do Estado na economia. Tais mudanças modificaram profundamente o funcionamento dos mercados e também a forma de produzir. Sendo assim, as mudanças no modelo de produção e na doutrina econômica foram fundamentais para a recuperação da economia capitalista, que entraria em mais um período de grande prosperidade. Logo, conhecer o modelo fordista e a doutrina keynesiana é fundamental para a compreensão do desenvolvimento da história da indústria. 3. PRODUÇÃO FORDISTA O Fordismo é um princípio organizador do trabalho desenvolvido por Henry Ford em 1914, sendo um desdobramento do Taylorismo. No Fordismo, manteve-se o mecanismo de produção e a organização da gerência utilizada do sistema anterior, porém foi adicionada a esteira rolante, estabelecendo um ritmo de trabalho mais intenso. O Fordismo vem em conjunto com a 2ª Revolução Industrial, que se expande da Inglaterra para outros países como França, Rússia, Japão, Estados Unidos e Alemanha. Continua o processo de industrialização, modernizando as indústrias e suas máquinas, saindo do carvão, ferro e energia a vapor para aço, eletricidade e petróleo como forma de mover as indústrias. Com as novas tecnologias, inserem-se também mudanças na forma de organização do trabalho. Essa filosofia de fabricação tinha como primeira característica a produção em massa. Baseava-se na produção industrial em massa e visava a alcançar maior produtividade por meio da padronização da fabricação, reduzindo o custo da produção e do preço de venda dos veículos. Este objetivo era alcançado pela divisão do trabalho em tarefas menores, em que cada funcionário é responsável por uma etapa, aumentando o número de trabalhadores e havendo, consequentemente, o achatamento dos salários e a perda de poder de consumo. Uma segunda característica fordista é o parcelamento das atividades. Significa que o trabalhador não necessita mais ser um artesão especialista em mecânica, que planeja todo o processo de trabalho. Agora era necessário apenas a resistência física e psíquica num processo de produção, limitado de movimentos, sempre os mesmos, repetidos ao infinito durante sua jornada de trabalho (GOUNET, 1999). O processo de produção fordista é completado por uma terceira característica: a linha de montagem. Esta permite aos operários, colocados um ao lado do outro e em frente a uma esteira rolante, realizar o trabalho que lhes cabe, ligando as tarefas individuais sucessivas, chamado de linha de produção. Mas era necessário adequar ainda mais a produção aos objetivos traçados. E foi no intuito de reduzir o trabalho do operário a gestos simples e repetitivos e evitar constantes adaptações das peças produzidas aos veículos, que Ford decidiu padronizá-las. Ocorre, então, o que se chama de integração vertical, ou seja, o controle da produção total de todo o processo produtivo, das matérias-primas, autopeças para a montagem e distribuição dos automóveis. Essas transformações permitem que a fábrica fordista seja automatizada (GOUNET, 1999). Ainda em relação ao operário fordista, não participava da organização do processo de trabalho, sendo relegado a uma atividade repetitiva e desprovida de sentido. As lutas por melhorias das condições de trabalho e pelo controle social da produção, ocorridas nos anos 1960, teriam papel determinante no rompimento da separação entre elaboração e execução, uma vez que reivindicavam, entre outras pautas básicas, também uma maior participação do operariado na organização do trabalho. https://www.proenem.com.br/enem/historia 31WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 3 - Produção Fordista. Fonte: Salão do Carro (2020). Nesse período, o Estado tem um papel fundamental para o crescimento do consumo e da garantia do pleno emprego, por isso investiu em setores públicos que possibilitaram essas condições como: saúde, educação, habitação àqueles que não eram beneficiados com o sistema fordista. Com essa intenção, governos nacionais tão diferentes ideologicamente combinavam o estado de bem-estar social, a administração econômica keynesiana e o controle de relações de salário, para garantir o crescimento econômico e o aumento do padrão de vida da população. Nem de longe seria uma forma de socialismo ou comunismo, mas sim de fazer políticas públicas de bem-estar social que garantissem aos cidadãos condições suficientes para manter a economia aquecida. Como nem todos eram atingidos pelos benefícios do fordismo, ocorreu um descontentamento e insatisfação por parte dos excluídos, mesmo no apogeu do sistema, produzindo sérias tensões e fortes movimentos sociais, além de haver um certo descontentamento cultural devido ao consumo padronizado. Todo esse descontentamento une-se e forma um movimento político-cultural durante o apogeu do sistema. Mesmo assim, esse modelo de produção permaneceu dominante até 1973, conseguindo manter o padrão de expansão da economia por décadas seguidas. No entanto, os anos 1960 e 1970 marcaram o início de uma crise estrutural que se caracterizou, principalmente, pela queda na taxa de lucro causada pela crise do petróleo, da qual já tratamos na unidade anterior, com o aumento do preço da força de trabalho, resultante das lutas entre capital e trabalho dos anos 1960 e entrada dos japoneses no mercado automobilístico. Iniciava-se um desemprego estrutural causando uma retração do consumo que o modelo taylorista/fordista se mostrou incapaz de solucionar. Entra em crise o Estado de Bem-Estar Social e tem-se a retomada intensa das privatizações, dadas pela crise fiscal do Estado capitalista (ANTUNES, 1999). A partir da crise do modelo taylorista/fordista, o capital busca novas formas que possam ter a retomada de seus lucros. Visualiza-se, no modelo Toyotista, uma possibilidade de engajamento do trabalhador, apropriando-se de seu capital intelectual para melhorias na produção, na qualidade dos produtos e em maquinários mais inteligentes e operados por menos trabalhadores. Vejamos a seguir esse modelo de produção industrial chamado Toyotismo. 32WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4. PRODUÇÃO TOYOTISTA Com a crise estrutural de 1929 (queda da Bolsa de Nova York) e, mais tarde, de 1970, com a crise do petróleo, o sistema de capital deu sinais de esgotamento, assim como o próprio sistema taylorista e fordista de produção. O período em que o fordismo/taylorismo vigorou como modelo dominante possibilitou um grande acúmulo de capitais pelas empresas automobilísticas. Mas o binômio taylorista-fordista já não era mais capaz de manter a dinâmica do processo de acumulação em escala mundial, mantendo os altos índices de crescimento. Ao contrário, já era possível presenciar níveis decrescentes das taxas de lucro, no início dos anos setenta. Acrescido a isso, em vista do descontentamento dos operários com a forma do processo de trabalho, o que ocasionou a organização de movimentos sociais de reivindicação de melhorias das condições de trabalho, as indústrias precisavam reinventar uma forma de produção que pudesse render lucros. Vem como resposta o Toyotismo. O toyotismo é uma forma de organização do trabalho desenvolvido pelo japonês Taiichi Ohno, em 1948 e 1975, nas fábricas montadoras de automóveis da japonesa Toyota. Foi desenvolvido para recuperar as indústrias japonesas no pós-II Guerra Mundial. Nesse período, o Japão estava destruído pela guerra e não tinha condições de importar matérias-primas para a produção. Precisava de um método de aumentar a produção a um custo baixo. Esse modelo está relacionado intrinsecamente com a Terceira Revolução Industrial, que tem como características a flexibilização da produção e a microeletrônica, com a entrada dos computadores na produção. A Terceira Revolução Industrial tem impulso depois da II Guerra Mundial, por voltados anos 1950, com os Estados Unidos, Alemanha e Japão, inicialmente e depois para o resto do mundo. No pós-guerra, os Estados Unidos, por meio do Plano Marshall, um plano de ajuda financeira, colabora para recuperar a Alemanha e o Japão, devastados pela guerra. Esses países investem fortemente na educação, tecnologia e no campo científico. A Revolução vem por meio da inserção das tecnologias, de computadores, da microeletrônica nos processos de produção de forma geral, produzindo mais em menos tempo e com mais qualidade. Destaca-se na área de robótica, genética, informática, telecomunicações e eletrônica. Esta revolução proporcionou mudanças radicais na forma das relações sociais, principalmente com o advento da globalização, que atingiu a forma de produção, comercialização de produtos, mas também o modo como os seres humanos se relacionam. Em relação à forma de relação com a produção, olhamos para o trabalho. Neste modelo taylorista, considera-se a equipe um fator importante, com grupos que se organizam e controlam o próprio trabalho, de forma a obter um aperfeiçoamento contínuo. Surgiu, assim, uma organização de trabalho horizontal, com o objetivo de conseguir produtos de ótima qualidade. 33WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 4 - Produção na indústria com o modelo Toyotismo. Fonte: Assembly (2018). Como verificamos na figura acima, o Toyotismo preconiza a valorização do trabalhador, a flexibilidade, que seja polivalente, multifuncional, participativo e realizado no trabalho. Suas premissas têm base na produção flexível e não mais em massa, variando de acordo com a procura; maior rapidez no processo produtivo (just in time); o mesmo trabalhador realiza múltiplas funções; não tem necessidade de estocagem; produtos não necessariamente padronizados. Assim, nasce o programa de qualidade total das mercadorias com a implantação dos certificados de qualidade: ISO 9000, 9001, 9002 e outros. Para tanto, precisa da participação da qualidade de seus trabalhadores, de sua subjetividade, para que as mercadorias sejam produzidas com a qualidade que o público exige. O capital depende da dinâmica do mercado de produtos, que é dada pela contínua substituição das mercadorias velhas pelas novas. Portanto, quanto menor vida útil tiver um produto, maior será a dinâmica do mercado de consumo e, consequentemente, maior será o lucro obtido pelas empresas. A utilização decrescente do valor de uso é fundamental para o processo de valorização do capital. Conforme salienta Antunes (1999, p. 50), “[...] na empresa da era da reestruturação produtiva, torna-se evidente que quanto mais ‘qualidade total’ os produtos devem ter, menor deve ser seu tempo de duração”. A “qualidade total” torna-se, então, inteiramente compatível com a chamada lógica da produção destrutiva, na qual os traços marcantes são o desperdício, a destrutividade e a rápida obsolescência dos produtos. 34WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O Toyotismo vem com o discurso de participação horizontal dos trabalhadores, fazendo uma apropriação da capacidade intelectual destes, para melhorar a qualidade das mercadorias e dos processos de produção, mas sem grandes melhorias no salário deles. Apesar de o operário da fábrica toyotista contar com maior ‘participação’ nos projetos que nascem das discussões dos círculos de controle de qualidade, com maior ‘envolvimento’ dos trabalhadores, a subjetividade que então se manifesta encontra-se estranhada com relação ao que se produz e para quem se produz (ANTUNES; ALVES, 2004, p. 346). O discurso de qualidade total é espalhado rapidamente para avaliar as mercadorias, mas também os trabalhadores, uma vez que era um período em que estavam reivindicando melhores condições de trabalho na década de 1960 e 1970. Assim, com o envolvimento de todos os trabalhadores, inclusive os “chão de fábrica”, em que suas ideias eram consideradas e avaliadas pela indústria de forma a colocá-las em prática, o trabalhador tem a sensação de estar participando e contribuindo com o processo produtivo e de crescimento da indústria em que trabalha. Para além da apropriação da capacidade intelectual dos trabalhadores para mudanças no processo produtivo, o capital também utilizou para melhorar as máquinas, de forma que, cada vez mais, precisava do envolvimento da sua capacidade subjetiva interagindo com a máquina. O resultado é um trabalhador que precisa qualificar-se cada vez mais para poder responder ao trabalho ou para conseguir um trabalho. Parte importante do “tempo livre” dos trabalhadores está voltada para preparar-se ou qualificar-se e inserir-se na “empregabilidade”. Palavra-fetiche que o capital usa para transferir aos trabalhadores as necessidades de sua qualificação, que anteriormente eram em grande parte realizadas pelo próprio capital. A sigla ISO quer dizer Organização Internacional de Normatização. Criada em 1946 em Londres, no Reino Unido e atualmente com sua sede em Genebra, na Suíça, reúne grêmios das indústrias dos países membros com o objetivo de organizar meios de facilitar internacionalmente a coordenação e unificação de padrões industriais, produzir normas padronizadas para que todos os países possam seguir e terem o mínimo de qualidade em seus produtos, serviços. A ISO possui uma lista grande de normas e padrões. Uma das mais conhecidas é ISO 2108, Sistema internacional de identificação de livros (ISBN); a ISO 9000 Sistema de gestão da qualidade em ambientes de produção; a ISO 14000 - ISO 14064 Normas de gestão do ambiente em ambientes de produção. E, no Brasil, temos a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que organiza todas as normas. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_Internacional_de_ Normaliza%C3%A7%C3%A3o. https://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_Internacional_de_Normaliza%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_Internacional_de_Normaliza%C3%A7%C3%A3o 35WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A transição dos modelos de produção nos mostra que pode modificar a forma de organização, mas sua essência permanece a mesma, de exploração do trabalho e do trabalhador, agora com a apropriação da subjetividade deste, conforme Antunes e Alves (2004, p. 346) afirmam: Apesar de o toyotismo pertencer à mesma lógica de racionalização do trabalho do taylorismo/fordismo, o que implica considerá-lo uma continuidade com respeito a ambos, ele tenderia, em contrapartida, a surgir como um controle do elemento subjetivo da produção capitalista que estaria posto no interior de uma nova subsunção real do trabalho ao capital – o que seria uma descontinuidade com relação ao taylorismo/fordismo. O Estado, neste período, se organiza de forma neoliberalista, contradizendo que o Estado de Bem-Estar-Social prejudica a conquista do emprego, por acostumar mal o trabalhador em receber benefícios e não se esforçar para qualificar-se e ir em busca de sua empregabilidade. Figura 5 - Toyotismo Trabalhador Flexível. Fonte: Estudo administração (2020). 36WWW.UNINGA.BR A RE FO RM A DO E ST AD O BR AS IL EI RO | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 5. NEOLIBERALISMO E O MUNDO DO TRABALHO CONTEMPORÂNEO O neoliberalismo nasce após a II Guerra Mundial, durante a formação do Estado de Bem-Estar Social na Europa. Surge nos países da Europa e da América do Norte, como uma reação dos países capitalistas ao Estado intervencionista e de bem-estar social. Eram contra qualquer limitação do mercado por parte do Estado, considerando como uma ameaça à liberdade econômica e política. Os neoliberais argumentavam que considerar os trabalhadores todos iguais “[...] destruía a liberdade dos cidadãos e a vitalidade da concorrência, da qual dependia a prosperidade
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