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11 UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Curso de Engenharia Civil HIDROLOGIA Capítulo 7 – Evaporação e evapotranspiração Importância da evaporação e evapotranspiração • Volume anual médio evaporado na albufeira de Pequenos Libombos – área 30 km2, evaporação anual 1,7 m, volume anual evaporado 51 hm3; volume captado para o abastecimento a Maputo – 55 hm3 (2009), 90 hm3 (2012). • Volume evaporado na albufeira de Cahora Bassa excede o total do consumo em Moçambique. • Irrigação – repõe o volume evapotranspirado e mantém o teor de humidade do solo num nível alto. 2 Redução da evaporação e evapotranspiração • Reservatórios cobertos – só para pequenos reservatórios. • Reservatórios subterrâneos – limitado por condições naturais; barragens subterrâneas. • Produtos químicos na superfície da água – eficiência reduzida. • Cortinas de árvores como quebra-ventos – efeito local. 3 Evaporação • Evaporação da água – mudança lenta do estado líquido para o estado gasoso. • Num dado intervalo de tempo (dia, mês, ano) • Exprime-se em mm. • Distingue-se evaporação da água, E, da evaporação do solo em conjunto com a intercepção e a transpiração das plantas que o revestem (evapotranspiração, ET). 4 = tt dtEE Factores que afectam a evaporação e a evapo- transpiração 5 Evapotranspiração • Evapotranspiração potencial, ETP – é a que ocorreria se, nas mesmas condições meteorológicas e de energia radiante, nunca houvesse deficiência de água no solo para a vegetação que o reveste. • Evapotranspiração real, ETR – é a que ocorre nas condições reais de humidade no solo. • Evapotranspiração cultural de referência, ET0 – é a de uma superfície extensa de relva verde, com uma altura uniforme de 8 a 15 cm, cobrindo completamente o solo e sem restrições de água. 6 Evapotranspiração • Evapotranspiração cultural, ETc – é a de uma determinada cultura, em função do seu estado de desenvolvimento e sem restrições de água. • Em média anual, cerca de 57 por cento da água que precipita sobre os continentes e cerca de 112 por cento da água que precipita sobre os oceanos é evaporada ou evapotranspirada e reintegrada na circulação atmosférica. 7 Tensão do vapor • Pressão (tensão) do vapor de água: – e não saturado – ew saturado; aumenta com a temperatura; igual à pressão atmosférica a 100 ºC • ew – e : défice de saturação • Tensão do vapor cresce com a temperatura. 8 Tensão do vapor saturado 9 T (C) ew (mbar) T (C) ew (mbar) T (C) ew (mbar) 0 6.1 14 16.1 28 37.8 1 6.6 15 17.0 29 40.1 2 7.1 16 18.2 30 42.4 3 7.6 17 19.4 31 44.9 4 8.1 18 20.6 32 47.6 5 8.7 19 22.0 33 50.3 6 9.3 20 23.4 34 53.2 7 10.0 21 24.9 35 56.2 8 10.7 22 26.4 36 59.4 9 11.5 23 28.1 37 62.8 10 12.3 24 29.8 38 66.3 11 13.1 25 31.7 39 69.9 12 14.0 26 33.6 40 73.8 13 15.0 27 35.7 Lei de Dalton • Evaporação da superfície da água é proporcional ao défice de saturação. • E0 – evaporação da superfície da água (mm/d) • vx2 – velocidade do vento à altura de 2 m (m/s) • (esw(T0) – e2) – défice de saturação (hPa) • e2 – tensão do vapor à altura de 2 m • T0 – temperatura da superfície da água 10 ( ) ( ) 20sw2x0 eTevfE −= Humidade relativa • Permite determinar e. • Humidade relativa U = e / e w • Com base na lei de Dalton e considerando que o calor retirado por evaporação é igual ao calor transmitido pelo ar por trocas turbulentas e convecção. • Fórmula do psicrómetro: U = [e w (Th) – γ (Ts-Th)] / ew(Ts) • γ = 0,665 (P/1013,25) hPa/K, P – pressão atmosférica (hPa ou mbar) – constante psicrométrica ou de Bowen 11 Psicrómetro A – termómetro seco B – termómetro húmido C – pano de humedecimento D – depósito de água E - suporte 12 Abrigo meteorológico 13 Métodos de cálculo da evaporação • Método do balanço hídrico • Método aerodinâmico • Método do balanço energético • Método de Penman (método combinado aerodinâmico – energético) 14 Método do balanço hídrico • E0 – evaporação do lago (m/s) • A0 – área superficial do lago (m 2) • Qi – caudal (m 3/s) afluente (positivo) ou efluente • I – intensidade da precipitação sobre o lago (m/s) • V0 – volume de água no lago (m 3) 15 dt dV A 1 IQ A 1 E 0 0i i 0 0 −+= Método aerodinâmico • Fórmula de Thornthwaite-Holzmann • Fórmula de Penman • Fórmula de Harbeck, albufeiras com áreas < 120 km2, área A0 em m 2 • Fórmula de Kohler 16 ( ) ( ) 20sw2x0 eTev14,013,0E −+= ( ) 20sw2x 05,0 00 eTevA291,0E −= − ( ) 20sw2x0 eTev07,0E −= ( ) ( ) 20sw2x0 eTev22,042,0E −+= Método aerodinâmico • Fórmulas não são adimensionais, atenção às unidades das variáveis. • E0 – mm/d • vx2 – m/s • e – hPa • A0 – m 2 • A fórmula de Thornthwaite-Holzmann é a que dá os valores mais baixos por ter sido deduzida considerando estabilidade atmosférica. 17 Método do balanço energético • Com base no princípio da conservação da energia 18 U Hs Q lwv E0 H Rn 0vwn ElHQR dt dU −−+= Método do balanço energético U – energia interna da água do lago (J/m2) Rn – balanço total de energia radiante (W/m 2) Qθ – energia térmica transportada por advecção pela água dos escoamentos superficial e subterrâneo, pela precipitação sobre o lago, e perdida com a água evaporada (W/m2), H – fluxo de calor sensível (W/m2), lwv – calor latente de evaporação (2,45 10 6 J/kg) E0 – evaporação do lago (kg/m 2/s ou mm/s) 19 Método do balanço energético • A0, V0 – área superficial (m 2) e volume de água do lago (m3) • ρw – massa volúmica da água (1000 kg/m 3) • cw – capacidade térmica ou calor específico da água (4187 J/kg/K ou 1000 cal/kg/K) • Tw – temperatura da água (K) do elemento dV 20 dVTc A 1 U wwv w 0 0 = Método do balanço energético • Qi – caudal (m 3/s), positivo (afluente) ou negativo • I – intensidade da precipitação sobre o lago (m/s) • E0 – evaporação do lago (m/s) • Twi, Tp, T0 – temperaturas da água do escoamento, da precipitação e à superfície do lago (K) 21 00wwpwwiwiw i w 0 ETcITcQTc A 1 Q −+= Método do balanço energético • Razão de Bowen, B – quociente entre os fluxos médios de calor sensível (associado à temperatura das massas de ar difundidas verticalmente) e de calor latente (associado ao vapor de água que elas contêm). • γ – constante de Bowen ou psicrométrica = 0,665 hPa/K • T – temperatura (K), e – tensão do vapor (hPa), do ar sobre a superfície da água (1) e no ar a 2 m (2). 22 12 12 wv ee TT γ El H B − − == Método do balanço energético • Resolvendo a equação do balanço energético em ordem à evaporação do lago, E0 • Em períodos de tempo curtos, dU/dt é desprezável. Introduzindo a razão de Bowen, B 23 ) dt dU HQ(R l 1 E θn wv 0 −−+= H)(R l 1 E n wv 0 −+= Q B l Q R E wv n + + = 1 ' 0 wv n n l R R = Método de Penman • Método combinado aerodinâmico-energético • Rn = Rs + Rl Rs = 0,95 I0 (a + b n/H0) 24 an0 ERE + + + = ( ) ( ) 22sw2xa eTev14,013,0E −+= ( ) ( ) 12sw2 2 KhPaTe 6,29T 3044 − − = wv n n l R R = ( ) +−−= 0 2 4 21 H n 0,900,10e0,080,56TσR Medição da evaporação • Evaporímetros – mais utilizado: tina da classe A (US Weather Bureau) 25 Medição da evaporação • Evaporação medida na tina difere da evaporação de um lago ou de uma albufeira. • Remoção da camada de ar saturado sobre a superfícielíquida é mais fácil na tina do que numa albufeira (efeito de oásis). • Tina recebe radiação também pela superfície lateral, aquecimento adicional da água. • Efeito de bordo – há um aumento da turbulência do ar sobre a superfície líquida devido à sobre-elevação causada pela tina. 26 Medição da evaporação • Os três efeitos contribuem para haver uma maior evaporação na tina do que na albufeira. • Coeficiente de tina, C = E / Et, sendo E – evaporação no lago e Et – evaporação na tina. • C varia entre 0,6 (meses frios) a 0,8 (meses quentes), valor médio = 0,7. 27 Evapotranspiração potencial • O cálculo da evapotranspiração potencial é mais complexo do que o da evaporação, há que entrar com as características do solo, da vegetação e seu estado de maturação. • Usam-se processos menos rigorosos: • Ajustamento do método de Penman • Fórmulas empíricas (Turc, Thornthwaite) 28 Fórmula de Turc • Fórmula de Turc (períodos de 10 ou mais dias) • ETP – evapotranspiração potencial (mm/d) • T – temperatura média no período (C) • I’g – radiação global média diária incidente na superfície (MJ/m2/d) • Fórmula não considera características de solo e vegetação, apenas factores climáticos. 29 + + = 50 042,0 I 15T T 013,0ETP ' g Fórmula de Thornthwaite • Fórmula de Thornthwaite ETPm – evapotranspiração potencial no mês m (mm) Nm – factor de ajustamento, função do número de dias do mês e da insolação astronómica média diária no mês 30 0T,0 0T, I T10 N16ETP m m a m mm = = 360 DH N mm0m = Fórmula de Thornthwaite – temperatura média mensal no mês m (C) I – índice térmico anual a – expoente, função do índice térmico anual 31 mT = = 12 1i miI 5,1 m m 5 T i = 49239,0I10792,1I1071,7I1075,6a 22537 ++−= −−− A fórmula de Thornthwaite apenas considera a insolação astronómica e temperaturas, não entra com características do solo e vegetação. Fórmula de Penman-Monteith • Fórmula de Penman-Monteith (adoptada pela FAO) ET0 – mm/d R’n – evaporação equivalente ao balanço da energia radiante, mm/d G’ – evaporação equivalente ao fluxo de energia para o solo, mm/d, desprezável para intervalos de tempo pequenos (10 dias ou menos) 32 ( )2x 22sw2x 2 n 0 v34,01 e)T(ev T 90 )GR( ET ++ −+− = Fórmula de Penman-Monteith rH = n/H0; a, b – coefs fórmula de Angstrom • Fórmula de Penman-Monteith: solo humedecido, completamente coberto por relva com h = 0,12 m, resistência superficial rs = 70 s/m, albedo As = 0,23, resistência aerodinâmica ra = 208/vx2 s/m • Fórmula determina a Evapotranspiração Cultural de Referência, ET0. 33 ( ) ( )( ) HH vw n reTIrba l R 9,01,0044,034,077,0 1 2 4 20 ' +−−+= Evapotranspiração cultural de referência 34 Evapotranspiração cultural ETc • ETc depende da cultura, seu estado de desenvolvimento, período de desenvolvimento vegetativo, para além das condições climáticas. • ETc = K ET0 • K – factor cultural, varia com as fases de desenvolvimento da cultura (inicial, de desenvolvimento, intermédio, de maturação). 35 Evapotranspiração cultural ETc 36 Cultura ETc (mm) Cultura ETc (mm) Abacate Alfafa ou luzerna Algodão Arroz Árvores caducas Banana Batata Batata-doce Beterraba Cacau Café Cana-de-açúcar Cebola Cereal Feijão 650-1000 600-1500 550-950 500-950 700-1050 700-1700 350-625 400-675 450-850 800-1200 800-1200 1000-1500 350-600 300-450 250-500 Hortícolas Laranja Linho Milho Nogueira Oleaginosas Sisal Soja Sorgo Tabaco Tâmara Tomate Toranja Vinha 250-500 600-950 450-900 400-750 700-1000 300-600 550-800 450-825 300-650 300-500 900-1300 300-600 650-1000 450-900 Medição da evapotranspiração • Aparelho – Evapotranspirómetro ou lisímetro. • Medição por balanço hídrico – obriga a medir a precipitação, a rega, a água armazenada no solo (por pesagem do solo) e a água percolada. • O lisímetro pode medir a evapotranspiração potencial (mantendo o teor de humidade do solo num nível elevado) ou a evapotranspiração real (não se rega). 37 Medição da evapotranspiração 38 Medição da evapotranspiração • Aparelho – tina. • Factor de correcção da evaporação medida em tina função de: – colocação da tina no terreno (cultivado ou inculto, de maior ou menor extensão); – humidade relativa média (baixa, média, elevada); – velocidade média diária do vento (fraco, moderado, forte, muito forte). 39 40 0.450.40.3510000.650.60.551000 0.50.450.41000.650.60.5100 0.550.50.45100.60.550.4510 0.650.60.510.50.450.41 Muito forte (>700) 0.550.450.410000.750.70.651000 0.60.50.451000.70.650.6100 0.650.550.5100.650.60.5510 0.70.650.610.60.50.451 Forte (425-700) 0.60.550.4510000.80.80.71000 0.650.60.51000.80.750.65100 0.70.650.55100.750.70.610 0.80.750.6510.650.60.51 Moderado (175-425) 0.70.60.510000.850.850.751000 0.750.650.551000.850.80.7100 0.80.70.6100.850.750.6510 0.850.80.710.750.650.551 Fraco (<175) Extensão do terreno (m) a barlavento da tina Extensão da cultura (m) a barlavento (lado do vento) da tina Velocidade media do vento (km/dia) Elevada >70 Média 40-70 Baixa <40 Elevada >70 Média 40-70 Baixa <40 Humidade média relativa (%) Caso B: Tina num terreno inculto e seco *) Caso A: Tina num terreno com uma cultura verde de pequeno porte Tina evaporimétrica classe “A” 0.450.40.3510000.650.60.551000 0.50.450.41000.650.60.5100 0.550.50.45100.60.550.4510 0.650.60.510.50.450.41 Muito forte (>700) 0.550.450.410000.750.70.651000 0.60.50.451000.70.650.6100 0.650.550.5100.650.60.5510 0.70.650.610.60.50.451 Forte (425-700) 0.60.550.4510000.80.80.71000 0.650.60.51000.80.750.65100 0.70.650.55100.750.70.610 0.80.750.6510.650.60.51 Moderado (175-425) 0.70.60.510000.850.850.751000 0.750.650.551000.850.80.7100 0.80.70.6100.850.750.6510 0.850.80.710.750.650.551 Fraco (<175) Extensão do terreno (m) a barlavento da tina Extensão da cultura (m) a barlavento (lado do vento) da tina Velocidade media do vento (km/dia) Elevada >70 Média 40-70 Baixa <40 Elevada >70 Média 40-70 Baixa <40 Humidade média relativa (%) Caso B: Tina num terreno inculto e seco *) Caso A: Tina num terreno com uma cultura verde de pequeno porte Tina evaporimétrica classe “A” Evapotranspiração real em bacias • Quanto menos húmido o solo, maior é a resistência em ceder água, razão porque ETR é sempre inferior à ETP. • Distribuição espacial da evapotranspiração real é altamente irregular, torna difícil passar da medição pontual para uma bacia hidrográfica ou região. • Evapotranspiração real em bacias ou regiões – estimada a partir do balanço hídrico, usando, p. ex., o modelo de Thornthwaite-Mather – balanço hídrico sequencial da camada superficial do solo aplicado em períodos de tempo curtos (1 semana a 1 mês). 41 Evapotranspiração potencial em Moçambique 42 Evapotranspiração real em Moçambique 43 Evapotranspiração potencial vs. evapotranspiração real em Moçambique • Evapotranspiração real é muito inferior à evapotranspiração potencial porque é limitada pela disponibilidade de água no solo. • Nas regiões onde a precipitação é muito inferior à ETP, ETR aproxima-se da precipitação. • Nas regiões onde a precipitação é elevada, ETR aproxima-se da ETP. 44