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DINÂMICA Ivan Rodrigo Kaufman Equações dinâmicas do movimento plano Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Utilizar as equações do movimento plano para casos gerais. Obter os termos das equações via diagramas de corpo livre e dia- grama cinético. Aplicar as equações para obter o momento de inércia de um corpo. Introdução As equações dinâmicas do movimento plano servem para descrever como acontecem os movimentos de translação e rotação de corpos rígidos, influenciados por forças externas aplicadas no corpo. O conhecimento acerca dessa dinâmica possibilita a construção e o melhor entendimento de como objetos rígidos no ramo das engenharias auxiliam a nossa vida, desde aplicações rotineiras até situações mais complexas, como, por exemplo, as engrenagens que compõem um motor. Neste capítulo, você vai aprender como forças externas aplicadas sobre objetos rígidos causam um movimento, seja ele de translação, rotação ou os dois juntos. Equações dinâmicas do movimento plano para casos gerais Quando tratamos da dinâmica de movimento plano de corpos rígido, estamos interessados em saber como as diferentes forças que atuam em diferentes partes do corpo rígido produzem um movimento. Esse conhecimento da dinâmica dos corpos rígidos tem grande aplicação nas engenharias quando o foco é o movimento combinado de um ou mais objetos rígidos. As aplicações são inúmeras, na qual podemos citar como exemplos a dinâmica interna do Cap_21_Dinamica.indd 1 23/02/2018 17:20:04 movimento das engrenagens de um motor, movimento de um satélite no espaço ou até mesmo a incrível precisão robótica quando trabalhamos no mundo micrométrico. Você também acaba interagindo com vários objetos rígidos no seu dia a dia, de modo a aplicar forças para deslocar os mais diversos objetos, ou até mesmo para realizar um movimento com o seu corpo. A grande diferença do movimento de corpos rígidos para o conhecimento que se obtém a partir da escola e das disciplinas de física básicas no início de uma graduação nas ciências exatas é que aqui não estamos tratando de partículas ou de objetos em que podemos observar a dinâmica envolvida considerando todas as forças atuando sobre um ponto. Quando tratamos do movimento dinâmico de corpos rígidos, a forma física, a sua densidade, e como e onde as forças externas são aplicadas são extremamente importantes para se entender completamente os detalhes do movimento. A Figura 1 representa um corpo rígido qualquer, submetido a quatro forças externas (F1, F2, F3 e F4). Essas forças externas podem ser induzidas por meio da interação gravitacional, elétrica, magnética ou por contato, por meio de uma força externa qualquer aplicada (por exemplo, você aplica uma força por meio de um “empurrão” no objeto). O objeto rígido está desenhado sobre um plano XY, com origem situada no ponto P. Esse corpo rígido tem uma massa total m, com um centro de massa localizado simetricamente no ponto G. Aqui, estamos interessados em analisar objetos rígidos que são conside- rados simétricos com respeito ao plano de referência adotado, facilitando o entendimento do movimento plano para esses casos. Figura 1. Diagrama de corpo livre de um objeto rígido submetido a forças externas em um referencial plano (xy). Fonte: Adaptado de Hibbeler (2016, p. 425). Equações dinâmicas do movimento plano2 Cap_21_Dinamica.indd 2 23/02/2018 17:20:04 No exemplo da Figura 1, as forças externas que atuam sobre o corpo podem transladá-lo, produzir um movimento de rotação em torno de um eixo fixo ou, ainda, resultar na combinação desses dois movimentos. Vamos considerar primeiramente o efeito de translação do objeto rígido. Uma vez que o objeto rígido é submetido a forças externas, transladando o objeto no plano, podemos decompor o somatório das forças atuando sobre ele em x e em y, de modo que: sendo que e são as decomposições da aceleração do centro de massa G em x e y. Ainda, a força resultante atuando sobre o corpo rígido pode ser representada vetorialmente por: Essa última equação determina que, para um corpo rígido em movimento de translação, o somatório de todas as forças externas atuando sobre o corpo é igual a massa do corpo multiplicada pela aceleração do seu centro de massa G. É importante lembrar aqui que as forças internas de um corpo rígido existem e não são desprezíveis; porém, elas se cancelam aos pares, uma vez que as distâncias rela- tivas entre os pontos que compõem o objeto rígido não mudam com o movimento, proporcionando uma força resultante interna nula. Agora consideraremos a situação em que a resultante das forças atuando sobre o corpo rígido produz um movimento de rotação em torno do centro de massa G. Nesse caso, cada uma das forças que atua no corpo rígido produz um torque, também conhecido como momento de força M. O momento de força M é dado pela multiplicação da força aplicada perpendicular à distância ao eixo de rotação, localizado no centro de massa G. De modo vetorial, temos que: sendo que o índice i indica um ponto qualquer no objeto rígido. O somatório total dos momentos de força em torno do centro de massa G é igual ao produto 3Equações dinâmicas do movimento plano Cap_21_Dinamica.indd 3 23/02/2018 17:20:04 do momento de inércia do corpo com rotação em torno do eixo passando em G (IG) multiplicado pela aceleração angular (α) do corpo: Essa equação pode ser utilizada também para o caso em que existe somente o movimento de translação, de modo que o somatório dos momentos de forças em torno de G é igual a zero. Quando o eixo de rotação não está sobre o centro de massa do corpo e se localiza em P, no exemplo da Figura 1, os momentos de força devem ser calculados em relação ao eixo de rotação. Observando as distâncias relativas em x e y das posições do centro de massa e do eixo de rotação (Figura 2), temos que o momento de força total é dado pela seguinte equação: Como o sentido do movimento de rotação no exemplo da Figura 2 é anti- -horário, o momento de força da força resultante atuando em G é negativo para a componente da força atuando no eixo x (Fx) (pois se opõe ao movimento de rotação) e positivo para a força atuando em y (Fy) (favorece o movimento de rotação). Figura 2. Distâncias relativas entre o ponto de rotação P para o centro de massa, bem como a representação das forças decomposta em x e y. Fonte: Adaptado de Hibbeler (2016, p. 425). Equações dinâmicas do movimento plano4 Cap_21_Dinamica.indd 4 23/02/2018 17:20:05 Diagrama de corpo livre e diagrama cinético Quando tratamos de problemas da dinâmica do movimento plano de corpos rígidos, desenhar os vetores que representam as forças atuando no corpo ajuda a entender o problema. Para tanto, primeiramente devemos identifi car todas as forças que atuam no sistema e onde elas estão aplicadas. O desenho esquemático para esse tipo de situação se chama diagrama de corpo livre. Para você entender melhor como deve ser feita a representação no papel, vamos a um exemplo. Imagine que você está empurrando uma mesa, conforme mostrado na Figura 3A. Figura 3. a) Ilustração do problema de uma pessoa empurrando uma mesa. b) Diagrama de corpo livre do problema, identificando todas as forças e distâncias relativas. c) Diagrama cinético para cálculo dos momentos de força em torno do ponto B. Fonte: Hibbeler (2016, p. 437). Digamos que você aplique força suficiente para iniciar um movimento e, assim, vencer a força de atrito estático que se opõe ao início do movimento. Quais são as forças envolvidas nesse exemplo? A primeira que você facilmente identifica é a força com que a pessoa empurra a mesa, representada por F na Figura. Essa força F faz um ângulo de 30° com o eixo x. Ainda temos a força peso da mesa (mg) e mais duas forças de atrito cinético dos pés da mesa, A e B, opondo-se ao movimento da mesa. Por fim temos as forças normais de contato dos pés da mesa em A e B. Identificadas todas as forças, novamente desenhamos o sistema e representamos todos os vetores de forças envolvi- dos, como mostrado na Figura 3b. Esta representação é o diagrama de corpo livre. A partir dessa representação, podemos somar todas as forças atuando no eixo x e todas as forças atuando em y. Para tanto, precisamos adotar um referencial, como mostrado na Figura. A partir do eixo x, todas as forças para a direita devem ser consideradas positivas, todas para a esquerda são forças 5Equações dinâmicas do movimento plano Cap_21_Dinamica.indd 5 23/02/2018 17:20:05 negativas. Já para o eixo y, todas as forças apontando para cima são positivas e para baixo negativas. Logo: O somatório das forças em y é nulo, uma vez que o movimento acontece somente no eixo x (translação em x). As forças de atrito cinético em A e B são iguais ao coeficiente de atrito cinético multiplicado pela força normal naquele ponto. Ou seja, em A: FcinA = μcin . NA, em B: FcinB = μcin. NB. Logo, observamos 3 incógnitas a serem calculadas no exemplo: NA, NB e , uma vez que por não existir movimento no eixo y. Precisamos de mais uma equação, que é referente ao momento de força em torno de um eixo predefinido. Para facilitar, podemos escolher um eixo de rotação em torno de G, sendo que: Vamos analisar o momento de força produzido por cada uma das forças. Fx é a componente de F no eixo x e produz um momento de força em G de MG_Fx = − Fcos30°.(0,5 m). A distância de 0,5 m é devido ao fato do vetor Fx poder ser transladado em x até o local onde produz o seu maior momento de força, que é exatamente na linha reta que passa em G e é paralela ao eixo y. O momento de força de Fy é dado por MG_Fy = + Fsen30°. (1 m), onde 1 m corresponde a distância no eixo x do vetor Fy até G. Para a força normal NA e NB, temos MG_NA = − NA.(1m) e MG_NB = + NB.(1 m). Para as forças de atrito cinético em A e B: MG_FcinA = − μcin.NA.(1 m) e MG_FcinB = − μcin.NB.(1 m). Ainda temos o momento de força produzido pelo peso; porém, a distância de ação do vetor mg em relação ao centro de massa G é zero, então o momento de força MG_mg = 0. Observe que os sinais adotados são positivos quando a força produz um momento de força no sentido anti-horário e negativos quando a força produz um momento de força no sentido horário. Por fim, temos a terceira equação necessária, dada por: Assim podemos isolar NA de NB e resolver a equação referente ao somatório das forças em y e encontrar a aceleração linear da mesa . Equações dinâmicas do movimento plano6 Cap_21_Dinamica.indd 6 23/02/2018 17:20:06 O diagrama cinético, representado na Figura 3C, é utilizado quando que- remos um sistema de referências que considere o momento de força em torno de um eixo que não seja o centro de massa do sistema. Nesse caso, aplicando as equações de momento de força em torno desse ponto, podemos eliminar algumas variáveis mais facilmente quando comparadas ao diagrama de corpo livre. A Figura 3C considera um ponto em B. Quando acontece essa mudança no ponto de aplicação das equações, temos que: Para o exemplo da Figura 3C, Fresultante = e o módulo do vetor r é a distância em y do vetor r até o ponto B (no exemplo da Figura 3C, módulo de r é igual à altura de G em relação ao chão, eixo onde o ponto B se encontra). Aplicando as equações de momento de força em torno de B: Os momentos de forças produzidos pelas forças de atrito cinético e por NB são nulos porque essas forças atuam sobre o eixo de rotação adotado em B; logo, a distância de B em relação a cada um desses vetores é 0. Aplicação geral das equações de movimento para um corpo rígido simétrico: , para translação em torno do centro de massa G. , para translação em torno de um ponto P (r distância do ponto P ao centro de massa G). , para rotação em torno de G. Para facilitar a resolução de problemas envolvendo a dinâmica de corpos rígidos, é muito importante primeiro desenhar o diagrama de corpo livre, identificando todas as forças envolvidas. O desenho do diagrama cinético facilita a resolução de problemas quando adotado um momento de força em torno de um outro eixo que não coincida com o centro de massa do corpo. Em todos os casos, devemos cuidar os sinais adotados pelo sistema de referência. No caso do momento de força em torno de um ponto, os momentos produzidos por cada uma das forças é positivo se contribui para o sentido positivo adotado e negativo se o contrário. 7Equações dinâmicas do movimento plano Cap_21_Dinamica.indd 7 23/02/2018 17:20:06 Como obter o momento de inércia de um corpo rígido O momento de inércia de um corpo rígido é um parâmetro importante quando esse corpo tem um movimento de rotação em torno de um eixo predefi nido. A inércia de um corpo quer dizer que ele se opõe ao movimento, oferecendo certa “resistência” à rotação. A Figura 4A mostra um objeto rígido qualquer, com massa homogeneamente distribuída e com um eixo de rotação no ponto O. O ponto G indica o centro de massa do objeto. São aplicadas quatro forças externas sobre o objeto. Para facilitar o entendimento de como essas forças atuam produzindo momentos de força, é útil representarmos o objeto rígido com um diagrama de corpo livre, como mostrado na Figura 4B. Notamos que, além das quatro forças externas aplicadas nesse exemplo, ainda temos a representação do vetor peso W (mg) e de uma força FO, que é a força normal do ponto de contato do eixo de rotação com o corpo rígido. Também é conveniente fazer a representação dos momentos de força com o diagrama cinético, como mostrado na Figura 4C, que é equivalente ao diagrama de corpo livre (por isso do sinal de igualdade entre os dois diagramas). Figura 4. a) Ilustração de um corpo rígido girando em torno do eixo O. b) Diagrama de corpo livre do objeto, identificando todas as forças externas aplicadas no corpo. c) Diagrama cinético para cálculo dos momentos de força em torno do ponto O. Fonte: Adaptado de Hibbeler (2016, p. 442). Para o cálculo do somatório das forças e dos momentos de força, quando o movimento é de translação curvilínea ou de rotação em torno de um eixo fixo, é conveniente utilizarmos os vetores de aceleração tangencial Equações dinâmicas do movimento plano8 Cap_21_Dinamica.indd 8 23/02/2018 17:20:06 e normal ao centro de massa, conforme ilustrado no diagrama cinético. Desse modo, decompomos o vetor aceleração do centro de massa nos vetores aceleração tangencial e aceleração normal (aceleração cen- trípeta) . O vetor aceleração é a derivada do vetor velocidade linear , de modo que: Desse modo, podemos escrever o somatório das forças adotando um refe- rencial normal e tangencial ao centro de massa G. onde é a distância do eixo de rotação para com o centro de massa do objeto. Para encontrar o momento de inércia de um corpo que tem um movimento de rotação, devemos tomar cuidado em qual ponto estamos analisando o movimento. Se considerarmos os cálculos de momentos de força em torno do centro de massa G do objeto rígido, o somatório de todos os momentos produzidos pelas forças externas nada mais é do que o momento de inércia multiplicado pela aceleração angular (conhecida como segunda lei de Newton para rotação): Se preferirmos utilizar um eixo de rotação que não coincida com o centro de massa do objeto e, assim, eliminar algumas variáveis do cálculo, o momento de força total deve levar em conta o momento de inércia naquele ponto. Ou seja, no exemplo acima, se considerado o ponto O (e assim eliminamos a incógnita referente à força normal FO): Para o cálculo do momento de inércia para um ponto que não seja do centro de massa, devemos levar em conta o teorema dos eixos paralelos: 9Equações dinâmicas do movimento plano Cap_21_Dinamica.indd 9 23/02/2018 17:20:07 HIBBELER, R. C. Statics and dynamics. 14. ed. New Jersey: Pearson, 2016. Leituras recomendadas BEER, P. F. et al. Vector mechanics for engineers: statics and dynamics. 9. ed. New York: McGraw-Hill, 2010. WALKER, J.; HALLIDAY, D.; RESNICK, R. Fundamentals of physics. 10. ed. New Jersey: John Wiley & Sons, Inc., 2014. Referência 11Equações dinâmicas do movimento plano Cap_21_Dinamica.indd 11 23/02/2018 17:20:10
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