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Farmacologia na obesidade


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08/09/2020 Bévena Rodrigues Lopes 
Bases da terapêutica 
Farmacologia na obesidade 
Obesidade 
Problema de saúde mundial, alcançando proporções epidêmicas em algumas regiões 
• “Globesidade” 
• Todas as faixas etárias 
• Qualquer classe econômica 
Ocorre quando os mecanismos homeostáticos que controlam o balanço calórico apresentam alterações ou são 
suplantados 
• Evolução – mecanismos para armazenar qualquer excesso de energia latente de produtos alimentares no 
tecido adiposo, como triglicerídeos ricos em energia, de tal modo que estes possam ser facilmente 
mobilizados quando o alimento estiver escasso 
No que hoje em dia não temos mais esses momentos de escassez de alimentos então esses alimentos vão ficando 
apenas como uma reserva sem ser utilizada em muitas das vezes 
A obesidade atualmente é vista como uma doença multifatorial, algumas industrias tentam relacionar o ganho 
ponderal apenas ao excesso alimentar porem sabemos que isso não é verdade porque a genética também tem 
grande peso nesse quesito, estudos mostram que uma determinada população que é submetida a mesma dieta um 
grupo ganha peso e o outro a obesidade não o que afirma que não esta apenas relacionada com a dieta 
A obesidade além da genética também está associada ao déficit de atividade física, alterações culturais e o acesso 
irrestrito ao alimento 
Definição 
• Doença em que a saúde (bom estado físico, psíquico e social) é 
afetada adversamente por excesso de gordura corporal 
• Distúrbio multifatorial do balanço calórico, no qual a aquisição 
de calorias, em longo prazo, excede o gasto de energia, ou seja, 
estamos ganhando mais do que gastando e assim a conta não 
fecha 
IMC = peso/altura² 
IMC ≥ 25: sobrepeso 
IMC ≥ 30: obesidade 
A obesidade tem se tornado um problema de saúde publica mundial porque ela traz consigo outras alterações 
relacionadas como por exemplo a síndrome metabólica que será uma paciente obesa (circunferência abdominal 
aumentada) associada a elevação dos níveis pressóricos (HAS), dislipidemia, principalmente hipertrigliceridemia e 
resistência periférica a glicose ou insulina (DM) 
Esses pacientes devem ser tradados em um contexto geral da síndrome metabólica pois a longo prazo se não for 
devidamente controlada causa o aumento do risco cardiovascular podendo provocar um IAM, angina, acidente 
isquêmico transitório, AVE entre outros 
A obesidade esta relacionada a outras doenças como a osteoartrite de uma forma geral pela questão da sobrecarga 
mas também relacionada as citocinas inflamatórias adipocitocinas produzidas no tecido adiposo, síndrome de 
Cushing que pode ser uma consequência pois o excesso de corticoide leva a ganho ponderal, neoplasias, síndrome 
da apneia obstrutiva do sono, esteatose hepática, problemas emocionais, gota, psoríase.. 
08/09/2020 Bévena Rodrigues Lopes 
Em geral, morrem mais pessoas no mundo por estarem acima do peso ou obesas (síndrome metabólica) do que por 
estarem abaixo do peso 
Controle alimentar – hormônios 
Existem diversos neurotransmissores e diversos hormônios relacionados ao 
controle da fome e da saciedade 
Temos dois hormônios, a grelina (intestino) e lepitina (tecido nervoso), eles 
vão atuar no núcleo arqueado no hipotálamo 
Logo depois que terminamos uma refeição existe uma redução da grelina e 
quando diminui a concentração de grelina ela deixa de agir no núcleo 
arqueado do hipotálamo em uma região responsável pela ação orexigena, 
essa área é responsável pelo aumento da fome e diminuição da saciedade 
Se por outro lado tenho um aumento da grelina isso leva a ativação dessa 
área orexigena do hipotálamo o que leva a pessoa a sentir fome e redução da saciedade 
No tecido adiposo temos um outro hormônio que é a leptina que vai atuar no mesmo núcleo arqueado só que em 
uma área anorexígena, com o aumento de lepitina tem ativação dessa área que causa redução da fome e aumento 
da saciedade 
Durante muito tempo se imaginou que o obeso tinha déficit de lepitina, poque se não houvesse leptina 
provavelmente não haveria a ativação desse centro anorexígeno, conseguintemente haveria exacerba ativação da 
área orexigena e a pessoa iria sentir constante fome e não vai sentir saciedade, mas ao longo do tempo se percebeu 
que os pacientes obesos tem muita lepitina porque tem muito tecido adiposo só que eles tem uma resistência a 
lepitina no centro anorexígeno (“igual” no diabético tipo ll), ou seja, não adianta ter altos níveis de lepitina no 
sangue se essa não conseguir fazer o seu efeito no SNC 
RESUMINDO 
• Grelina 
o ↑ = aumenta fome e diminui saciedade 
o ↓ = diminui fome e aumenta saciedade 
• Leptina 
o ↑ = redução da fome e aumento da saciedade 
o ↓ = aumenta fome e reduz saciedade 
GLP1 é uma incretina que estimula a secreção de insulina pelas células beta pancreática, diminui a secreção de 
glucagon porque é semelhante e retarda o esvaziamento gástrico portanto promove a saciedade 
Um dos fármacos que tem efeito subcutâneo e um dos efeitos adversos é a perda ponderal é o Liraglutida que é 
análoga e mimética do GLP1 logo atuam do mesmo modo que o GLP1, eles atuam no tratamento do DM tipo ll 
porém é necessário entender que são patologias interligadas então quando usamos uma dessas medicações 
também iremos conseguir melhorar o peso corporal 
Balanço calórico 
O ganho ponderal vem da reserva 
associada a um baixo gasto calórico 
O que gasta energia em relação ao 
metabolismo é a contração da 
musculatura, reações enzimáticas, 
sistema cardiovascular, associados a 
isso pode-se implementar como gasto 
08/09/2020 Bévena Rodrigues Lopes 
calórico, atividade física e a termogênese que é a produção de calor principalmente associada a reação do sistema 
nervoso autônomo 
O nosso balanço calórico vai depender do gasto calórico, quando mais gasto mais vai ficando negativo como positivo 
temos a dieta e a reserva, quando a alimentação que vem da dieta e o armazenamento superam o gasto calórico 
tenho balanço calórico positivo que tende a resultar em calorias e ganho ponderal. O contrário, quando tenho uma 
dieta balanceada e prático atividade física eu otimizo o gasto calórico e assim tenho perda ponderal 
Fisiopatologia 
• Suscetibilidade genética 
o Mutação no receptor de malanocortina MC4, geria um paciente genotipicamente predisposto a 
desenvolver obesidade, teremos, portanto, a expressão fenotípica da obesidade naquele paciente 
com suscetibilidade genética com fatores ambientais 
• Quantidade e qualidade alimentar 
• Sedentarismo 
• Resistencia a leptina 
o Defeito no transporte de leptina ou nos receptores de leptina no núcleo arqueado do hipotálamo ou 
na sinalização pós-receptor 
É uma doença multifatorial! 
Tratamento não farmacológico 
• Atividade física vai aumentar o meu gasto calórico 
• Dieta balanceada, nós como médicos conseguimos fazer uma dieta no inicio ate que o paciente passe pelo 
nutricionista 
Requer um tratamento multidisciplinar! 
Cirurgia Bariátrica 
Mais eficaz que os fármacos licenciados até o momento 
• Limitação da capacidade gástrica 
• Promoção de efeitos na resposta dos hormônios do intestino a alimentação, atuando, por exemplo, para 
produzir saciedade precoce 
Anorexígenos Proscritos 
NÃO são mais usados no Brasil! 
• Dinitrofenol (DNP) – aumenta o risco de mortalidade principalmente atrelado a hipertermia maligna 
• Anfetaminas 
• Dexfenfluramina 
• Fenfluramina 
Os efeitos adversos superam os benefícios 
Eles tiram o apetite e aumentam a sensação de saciedade porem hoje não são mais utilizados para o tratamento de 
obesidade no brasil 
08/09/2020 Bévena Rodrigues Lopes 
Supressores do apetite que atuam centralmente 
• Sibutramina 
o Na maioria dos países ela é proscrita, ou seja, não é mais utilizada porque os trabalhos mostram que 
os riscos superam os benefícios 
o Inibe a recaptação de serotonina (5-HT) e de norepinefrina nos pontos hipotalâmicosque regulam a 
ingestão alimentar, assim mais serotonina e noradrenalina vai ficar na fenda sináptica 
▪ Aumento da saciedade – redução da ingesta alimentar 
▪ Aumento do gasto energético – aumento da termogênese 
• Perda ponderal dose-dependente, ou seja, quanto maior a dose do fármaco maior a 
saciedade e menor a ingesta alimentar do paciente e também está relacionada a 
redução da circunferência abdominal e assim redução da gordura visceral que tem 
relação com diminuição do risco cardiovascular 
▪ Diminuição de VLDL (proteína de baixa densidade que transporta triglicerídeos do fígado 
para a periferia) e TGs, e aumento do HDL / efeitos benéficos no metabolismo da glicose 
▪ Muito mais eficaz quando combinada com modificação no estilo de vida 
o A sua ação é muito parecida com a ação de alguns fármacos antidepressivos como a Sertalina e 
Fluoxetina, ambos são inibidores da recaptação de serotonina, só que a Sibutramina inibe tanto a 
serotonina quanto noradrenalina, mas também temos fármacos IRSN são eles Venlafaxina, 
Desvenlafaxina e Duloxetina, portanto esses fármacos também podem levar a perda ponderam 
porem em menor quantidade 
o Sibutamina não tem efeito antidepressivo! 
o Receita: azul B2, tem validade de 30 dias e só posso prescrever tratamento para 30 dias 
• Rimonabanto 
o Antagonista do receptor CB1 
o Também já é proscrito na maior parte dos países 
 
• Lorcaserina 
o Agonista do receptor serotoninergico 5-HT2C, portanto, é mimético a serotonina 
o Potencializa o emagrecimento através da dieta, pois diminui a fome e aumenta a saciedade 
o Recuperação do peso após a interrupção do fármaco porque retirei o fármaco não terei mais a ação 
agonista no receptor de serotonina e o paciente volta a se alimentar normalmente que levara ao 
ganho ponderal 
Inibidores da lipase 
• Orlistate 
• O único fármaco atualmente licenciado no Reino Unido para o tratamento da obesidade 
• Inibidor irreversível das lipases gástricas e pancreática 
o Impede a degradação de gordura da dieta de ácidos graxos e glicerol 
▪ Reduz a absorção e causa a eliminação fecal de gordura da dieta, por conta disso 
provoca diarreia e cólicas abdominais 
• Não induz a alteração no gasto de energia 
• Eficaz em pacientes portadores de DM tipo 2, reduz os níveis de leptina e da pressão arterial, retarda o 
esvaziamento gástrico e a secreção gástrica 
• Uso concomitante com dieta e exercício físico, a mudança do estilo de vida é fundamental 
 
08/09/2020 Bévena Rodrigues Lopes 
• Farmacocinética 
o Totalmente eliminado nas fezes (97%) 
o É uma medicação pouco absorvida e com isso tenho poucos efeitos adversos 
 
• Efeitos adversos 
o TGI: cólicas abdominais, flatos com secreção de gordura e incontinência fecal 
 
• Pode ser necessário terapia suplementar com vitaminas lipossolúveis, pois como não terei lipídeo sendo 
absorvido também não vai absorver as vitaminas lipossolúveis que são A, D, E e K 
• Reduz a absorção das pílulas contraceptivas e da ciclosporina que é um imunossupressor então tenho 
que tomar cuidado porque muitas vezes os pacientes que tomam imunossupressores necessitam desse 
medicamento com sua ação total 
OBS: As resinas ligantes faladas na aula de dislipidemia interferem na absorção da Varfarina e Digoxina 
Novos enfoques farmacológicos 
Peptídeos semelhantes ao glucagon 
• Exenatida – mimético do GLP-1 
• Liraglutida – análogo do GLP-1 
Como eles simulam a ação do GLP-1 eles aumentam a secreção pancreática de insulina, diminuem a secreção 
pancreática de glucagon e retardam o esvaziamento gástrico 
Também tem ação anorexígena, ou seja, diminuem a fome e aumentam a saciedade 
Se estou trabalhando com um paciente obeso que tenha DM talvez esses fármacos sejam uma boa escolha para eles