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1 Clara Rêgo – 6° Semestre Obesidade A obesidade é um problema de saúde pública crescente em todo o mundo, ocorrendo em cerca de 20% da população mundial. Define-se obesidade como um estado anormal no qual ocorre excesso de gordura corporal, em relação a massa magra. É uma doença caracterizada pelo acúmulo de tecido adiposo resultante do desequilíbrio entre consumo e gasto energético. Atualmente o número de indivíduos com sobrepeso e obesidade ultrapassa a estimativa de pessoas desnutridas em todo o mundo. Estima-se que no Brasil 40% da população apresenta sobrepeso e destes 10% tem obesidade. A prevalência da obesidade preocupa vários setores ligados a saúde devido à grande morbimortalidade das doenças relacionadas a obesidade. Dessa forma, várias doenças como diabetes, cardiopatias, artropatias degenerativas, doenças cerebrovasculares e tromboembólicas, neoplasias, esteatose hepática, colelitíase, apneia de sono, entre outras, possuem como fator de risco a obesidade grave. ➔ Temos que deixar de enxergar a obesidade como um desleixo ou uma opção de vida. Ela é uma doença crônica e uma das maiores pandemias que temos no mundo hoje, que infelizmente vem crescendo. Existem vários métodos de avaliação da obesidade, como o índice de massa corpórea (IMC), medidas de dobras cutâneas, ou medidas das circunferências corporais. Entretanto, o método considerado mais eficaz é o IMC. Nesse caso, é considerado obeso, o individuo com IMC superior a 30 kg/m2 o indivíduo é considerado obeso. ASPECTOS ETIOLÓGICOS: Apesar do grande número de estudos envolvendo a obesidade, sua fisiopatologia não está completamente elucidada. Essa doença, possui etiologia complexa e multifatorial, envolvendo fatores genéticos, ambientais e psicológicos. Sabe-se que existe uma forte predisposição genética, porém, maus hábitos alimentares, como o excesso de alimentos calóricos é um fator fundamental para o desenvolvimento da obesidade. ➔ AMBIENTAL : é o aspecto induzido pelo ambiente que estamos inseridos. O nosso “entorno” nos estimula o consumo de comidas maiores e isso influencia no aparecimento da obesidade. ➔ COMPORTAMENTAL: algumas características nossas, principalmente a base psicossomática, vem desde o vínculo mãe X filho na esfera oroalimentar da criança. o Alimento como substituto para afeto ou para evitar sofrimento. Isso a criança aprende e leva pra vida. o O alimento passa a ser algo para aplaca a ansiedade. o Preenche o vazio. ➔ INDUZIDA: a obesidade pode ser induzida por diversos fatores: o Falta de sono pode interferir de alguma forma na obesidade, provavelmente pelo desequilíbrio do ciclo circadiano o Mídia: o estímulo de maior consumo de comida. Ex: promoções que por 1/2 reais você aumenta o tamanho da comida. o Medicamentos: corticoide, ansiolíticos, ACO. o Microbiota intestinal: bacterioidetes e firmicutes → nos obesos tem uma prevalência das bactérias Firmicutes e nos magros Bacterioidetes. Sabe-se que existe uma relação, mas ainda são necessários muitos estudos para entender essa modulação. o Tumores hipotalâmicos: no hipotálamo há o núcleo arquiado, onde está a regulação de gasto energético. É possível que tumores estimulem a fome o tempo todo, fazendo o indivíduo engordar. o Hipotireoidismo; o SOP: resistência insulínica leva a obesidade. o Entre outros. ➔ GENÉTICA: 2 Clara Rêgo – 6° Semestre o Polimorfismo genético: preferência por certos tipos de alimentos, gostar de atividade física, hormonal relacionada. o Síndromes cromossômicas: sabe-se que a síndrome de down está relacionada com obesidade, mas não se entende por que ainda. Independente da causa, a obesidade é causada por desequilíbrio na balança energética: balanço positivo prolongado → calorias ingeridas maiores que as calorias gastas. A obesidade pode ter causa secundária, então é necessário o médico descobrir se uma das causas da tabela está presente no paciente, para que possa ser devidamente corrigida. FISIOLOGIA: O que é engordar? É encher nossos adipócitos de gordura – triglicérides. O alimento no TGI e é digerido. Quando a gordura chega no estômago é quebrada em micelas de ácidos graxos, as quais vão ser absorvidas pelo fígado, onde as micelas de ácidos graxos vão ser ligadas com uma lipoproteína, para assim circular na corrente sanguínea. No sangue, as lipoproteínas levam os AG até os adipócitos, onde, pela lipase-lipoproteica, vão ser absorvidos. No citoplasma, os AG não podem ficar livres também, por isso precisa se ligar a uma outra proteína, a AP2, a qual vai carrear o AG até onde ficam armazenados os triglicérides. Para se tornar triglicérides, 3 moléculas de ácidos graxos são ligadas ao glicerol (esterificação), assim formando-os. Esta é a forma que guardamos gordura no corpo. Quem diz para esses TGL que precisam ser guardados ou jogados no sangue? Insulina e hormônios contra reguladores de insulina. Insulina estimula a guardar gordura (formação e armazenamento dos triglicérides) e inibir a lipólise. Já os hormônios contrarreguladores, como cortisol e adrenalina, estimulam a quebra dos triglicérides dos adipócitos (lipólise), para serem jogados no sangue e servirem como fonte de energia. Com isso, a origem da obesidade está no desequilíbrio entre a necessidade energética e a ingesta de alimentos. Esse equilíbrio é coordenado por uma série de mecanismos neurais e hormonais: ➔ SISTEMA NEURO-HORMONAL: O sistema neuro-humoral é dividido em três compartimentos que interagem entre si para a regulação do consumo e gasto energético: o sistema periférico ou aferentes, núcleo arqueado no hipotálamo ou sistema eferente. o O sistema periférico ou aferente manda sinais ao cérebro através da produção de moléculas como a leptina e a adiponectina (produzidas pelos adipócitos), a insulina (pâncreas), a grelina (estômago) e o peptídeo YY (íleo e cólon). Essas moléculas por meio de mecanismos diferentes controlam a ingesta alimentar. Por exemplo, a leptina reduz a ingesta de alimentos, já a grelina estimula o apetite, enquanto o peptídeo YY, é um sinal de saciedade. o O núcleo arqueado no hipotálamo processa esses sinais periféricos e gera novos sinais que são transmitidos pelos neurônios conhecidos como POMC (pró-opiomelanocortina), CART (transcritos regulados pela cocaína e anfetamina), NPY (neuropeptídeo Y) e AgRP (peptídeo relacionado com agouti). 3 Clara Rêgo – 6° Semestre o Enquanto isso, o sistema eferente, recebe os sinais neuronais vindos do núcleo arqueado e inicia o processo de ingesta de alimentos ou perda energética. Os neurônios POMC e CART levam ao aumento do gasto energético e da perda de peso, enquanto os neurônios NPY/AgRP promovem a ingestão de alimentos e ganho de peso. ➔ TECIDO ADIPOSO: O tecido adiposo é um órgão endócrino que produz ácidos graxos livres, hormônios e citocinas, como leptina, adiponectina, resistina, interleucina-6 (IL6), fator de necrose tumoral (TNF), fator ativador da inibição do plasminogênio, entre outros. Algumas dessas substâncias produzidas pelos adipócitos participam da regulação do peso corporal e da gênese de comorbidades. o Um fato interessante é que o número total de adipócitos é estabelecido durante adolescência e é maior em pessoas que eram obesas quando crianças, aumentando a preocupação com a obesidade infantil. Nos adultos, o número de adipócitos permanece constante, independentemente da massa corporal. ➔ LEPTINA: é um hormônio produzido pelo tecido adiposo que tem ação no hipotálamo. Tem capacidade de regular a ingesta de alimentos e aumentar o gasto de energia. A produção da leptina é regulada pela quantidade de reserva de gordura, então diante de um tecido adiposo abundante a secreção da leptina é estimulada, agindo no hipotálamo na redução do consumo de alimentos. Como? Pela estimulação dos neurônios POMC/CART e inibição dos neurônios NPY/AgRP (essas duas populaçõesse comunicam, quando um é ativado o outro é inativado). o POMC/CART: estimulado quando temos grande estoque energético → estimula a saciedade e gasto energético. o NPY/AgRP: estimulado quando o estoque energético está baixo → estimula fome e diminui gasto energético. o Além disso, o nível circulante de leptina é pulsátil, com picos durante a noite. ➔ HORMÔNIOS INTESTINAIS: Os hormônios intestinais também atuam na fisiopatologia da obesidade. Os principais hormônios envolvidos nesse mecanismo são a grelina e o peptídeo YY (PYY). o Grelina é produzida no estômago, geralmente antes das refeições e promove o aumento na ingestão de alimentos pelo estímulo dos neurônios NPY/ AgRP no hipotálamo. Em pessoas obesas os níveis desse hormônio após a refeição permanecem em níveis mais altos, durante mais tempo. o PYY é uma molécula secretada no íleo e cólon, em resposta à ingestão de alimentos. Sua ação ocorre por meio do estímulo aos neurônios POMC/CART no hipotálamo, diminuindo a ingesta de alimentos. HOMEOSTASE ENERGÉTICA: A homeostase energética é o equilíbrio energético do nosso corpo. Nós temos sistemas que promovem a ingestão e o anabolismo, que funcionam ao mesmo tempo de outros sistemas que promovem saciedade e o catabolismo. Se gangorra é desequilibrada com o tempo, começamos a engordar. Nossa energia é armazenada no tecido adiposo em forma de triglicerídios. Mas como o hipotálamo sabe quando temos energia acumulada? Existem sensores periféricos que se comunicam com o hipotálamo, através de sinais hormonais, neurais e de nutriente. ➔ Importante ressaltar que esse desequilíbrio demanda muito tempo, por isso é uma doença crônica. Sinais de adiposidade (relembrando endócrino): • Leptina: é produzido pelo tecido adiposo. É o principal sinal de adiposidade que temos. As suas concentrações são altas quanto mais tecido adiposo eu tiver. Então por isso em um gordinho temos alta concentração desse hormônio, e em uma pessoa magrinha, há baixa leptina. ▪ Ela é produzida preferencialmente pelo estomago. • Insulina: produzidos pelas células beta no pâncreas. Uma pessoa com bastante tecido adiposo vai ter insulina alta. ▪ Se eu tenho leptina e insulina juntas, o sinal de adiposidade vai ser mais forte. Esses dois sinais vão se comunicar com os neurônios POMC/CART, os quais vão estimular o núcleo paraventricular, que vão estimular a saciedade e o gasto energético. 4 Clara Rêgo – 6° Semestre DIAGNÓSTICO: A combinação de massa corporal e distribuição de gordura é, provavelmente, a melhor opção para preencher a necessidade de avaliação clínica. Sendo assim, podemos diagnosticar a obesidade por meio de parâmetros qualitativos, como IMC, medida de cintura abdominal ou até por avaliação indireta da composição corporal. COMPLICAÇÕES DA OBESIDADE: O sobrepeso e a obesidade são conhecidos fatores de risco para inúmeras condições, incluindo diabetes tipo 2, doença cardiovascular e câncer. Diversos estudos indicam que o diabetes mellitus e a hipertensão ocorrem 2,9 vezes mais em indivíduos obesos do que naqueles com peso adequado. Além disso, alguns autores consideram que um indivíduo obeso tem 1,5 vezes mais risco de apresentar níveis sanguíneos elevados de triglicerídeos e colesterol. A obesidade central também está envolvida em um grupo de alterações conhecidas como síndrome metabólica. ➔ Dislipidemia. ➔ Doença arterial coronariana. ➔ Doença do Refluxo gastresofágico. ➔ Esteatose hepática não alcoólica. ➔ Osteoartrites e osteoartroses de MMII. ➔ Apneia obstrutiva do sono. ➔ Colelitíase. ➔ Câncer. TRATAMENTO: A base para o tratamento da obesidade requer um manejo multidisciplinar. O ponto principal para a redução de peso é fornecer um aumento do gasto energético e uma redução do aporte calórico. Sendo que esse equilíbrio deve ser feito de forma individualizada e sob supervisão médica contínua para evitar complicações nutricionais. Portanto, o tratamento clínico se baseia 5 Clara Rêgo – 6° Semestre na mudança dos hábitos de vida, incluindo reeducação alimentar e realização de exercícios. Além disso, em alguns casos, está indicado a terapia farmacológica adjuvante às mudanças dos hábitos de vida. ➔ DIETA: O ministério da saúde orienta que independe da dieta a ser seguida, devemos reduzir o consumo excessivo de açúcar, gordura saturada e sal. Aliado a isso, é imprescindível alimentação regular de frutas, verduras e legumes já que são fontes de vitaminas, sais minerais e fibras. o Dieta hipocalórica (visando provocar balanço negativo calórico); o Necessária orientação de educação alimentar. ➔ ATIVIDADE FÍSICA: A realização de exercícios físicos regulares além de reduzir o peso, promove benefícios que vão além do controle da obesidade. Ela se constitui num componente importante da prevenção e tratamento da doença coronariana, da hipertensão arterial, das doenças musculoesqueléticas, das doenças respiratórias e da depressão. o Mínimo de 150 minutos/ semana; o Aeróbico + musculação. o Para vida TODA! ➔ TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: Nem todos os pacientes obesos têm indicação de usar terapia farmacológica adjuvante. O uso de medicamentos pode ser feito em pacientes com IMC maior que 25 kg/m² ou adiposidade central ou androide, desde que tenha outras doenças associadas à obesidade. O uso de medicamentos também pode ser feitos em pacientes sem outras comorbidades, mas com IMC maior que 30 kg/m², na falência do tratamento não-farmacológico isoladamente. O objetivo do tratamento com medicamentos é a perda de 10% do peso corporal, o que determina melhora das complicações da obesidade, como diabetes e hipertensão arterial. o SIBUTRAMINA: inibe recaptação de serotonina e noradrenalina no SNC = aumento dessas substancias no SNC causando saciedade. Ajuda na perda de peso se usando por no mínimo dois anos. Cuidado, pois eleva PA e FC + outros eventos cardiovasculares. ▪ Se paciente não tem resposta nos primeiros 2 meses, suspender, pois não terá eficácia. ▪ Efeitos adversos: cefaleia, boca seca, constipação, insonica, rinite e faringite. ▪ CUIDADO COM PACIENTES QUE TEM IRC, disfunção hepática, doenças psiquiátricas... ▪ Não usar sibutramina em pacientes com doença cardiovascular (incluindo diabéticos com pelo menos um fator de risco). o ORLISTATE: análogo da lipstatina (inibidor da lipase pancreática, enzimas que catalisam a quebra dos triglicérides em ácidos graxos livres. Assim ela faz com que os triglicerídeos ingeridos não sejam digeridos e não absorvidos.). ▪ Melhora perfil lipídico, redução de peso, melhora glicemia em jejum e incidência de diabetes. ▪ Efeitos adversos: diarreia, esteatorreia, flatos com descarga, desconforto abdominal e até urgência fecal. ▪ Possível má absorção de vitaminas lipossolúveis (A,D,E e K). Por isso necessária monitoração dessas vitaminas e reposição conforme necessidade. ▪ Pode ser associado a sibutramina (trazendo diminuição da esteatose hepática, por exemplo). o LIRAGLUTIDA: análogo de GLP-1 (incretina endógena). ▪ Em doses altas, exerce efeito adicional de bloquear liberação de neuropeptídeo Y (aumenta o apetite), favorecendo perda de peso. ▪ Indicada somente se IMC > 27 e com presença de comorbidades. ▪ Subcutânea, 1x/dia, 3mg → dose superior a usada no tratamento de DM2. ▪ Vantagens: melhor resposta da perda de peso que olistate, diminui risco de diabetes futura, ajuda reverter a apneia obstrutiva do sono. ▪ Efeitos colaterais: decorrem da lentificação do esvaziamento gástrico = náuseas, vômitos. ➔ TRATAMENTO CIRÚRGICO (BARIÁTRICA): Outra modalidade de tratamento para a obesidade é a cirurgia. Muitos pacientes apresentam reganho de peso ou falha da terapia medicamentosa, sendo então indicado o tratamento cirúrgico. Dessa forma, a cirurgia está indicada para aqueles pacientes que tenham IMC ≥ 40 kg/m² e que tentaram tratamento clínico por mais de 2 anos consecutivossem sucesso. Além disso, também pode-se indicar o tratamento cirúrgico para pacientes que tenham IMC > 35 kg/m2, mas que apresentem pelo menos uma das principais comorbidades: diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, apneia do sono ou artrose. 6 Clara Rêgo – 6° Semestre
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