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Síndrome Metabólica Tutoria 04 - Módulo 03 - P2 Palavras desconhecidas: Pseudo Acantose Cervical A pseudoacantose nigricante (PAN) é uma das dermatoses mais frequentes em pacientes obesos. Apresenta-se como placas hipercrômicas, de superfície papilomatosa, vegetante ou liquenificada, de coloração castanho escura a preta, localizada nas axilas, virilha, região cervical e outras áreas intertriginosas. As endocrinopatias são a causa mais frequente dessa dermatose, sendo a obesidade o distúrbio mais comumente relacionado à pseudo acantose. A PAN também está associada à resistência à insulina e ao aumento da produção de andrógenos, sendo comum o seu surgimento em pacientes com acne e hirsutismo, bem como em pacientes com SOP. A etiologia envolve um estado de hiperinsulinemia, causado pela resistência a insulina, com estímulo ao fator de crescimento relacionado à insulina (IGF1, insulin-like growth factor), com consequente proliferação dos queratinócitos. A prevalência da PAN varia de 7 a 74%, de acordo com idade, raça, grau de obesidade e presença de outras endocrinopatias. Em 34 indivíduos obesos de ambos os sexos, em uma população predominantemente de negros (59%), foi descrita uma prevalência de 74% entre os pacientes avaliados. Em um estudo realizado no Brasil, foram examinadas 481 mulheres, consecutivamente admitidas em um ambulatório de obesidade (388 com pseudoacantose nigricante e 93 controles) e submetidas ao teste de tolerância à glicose oral: a doença foi mais frequente nas pacientes de raça negra e parda, sendo observada maior ocorrência de síndrome metabólica em comparação à população controle. Os autores concluíram que as mulheres obesas com pseudoacantose nigricante devem ser investigadas para distúrbios metabólicos, mesmo sendo jovens. CARACTERIZAR A SÍNDROME METABÓLICA Conceito: A síndrome metabólica (síndrome X, síndrome de resistência à insulina) consiste em um grupo de anormalidades metabólicas que conferem aumento de risco de doença cardiovascular (DCV) e diabetes melito (DM). Os critérios para a síndrome metabólica têm evoluído desde a definição original feita pela Organização Mundial de Saúde em 1998, refletindo as crescentes evidências e análise clínicas por uma variedade de conferências de consenso e organizações profissionais. As principais características da síndrome metabólica incluem obesidade central, hipertrigliceridemia, colesterol da lipoproteína de alta densidade (HDL) baixo, hiperglicemia e hipertensão. Epidemiologia: ➔ A prevalência da síndrome metabólica aumenta com a idade. ➔ Maior prevalência registrada em todo o mundo é nos norte-americanos, com aproximadamente 60% de mulheres entre 45 a 49 anos de idade e 45% de homens entre 45 a 49 anos segundo o National Cholesterol Education Program e o Adult Treatment Panel III (NCEP:ATPIII). ➔ Nos EUA, a síndrome metabólica é menos comum nos homens afro-americanos e mais prevalente nas mulheres mexicano-americanas. ➔ Com base em dados da National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) de 1999 a 2000, a prevalência ajustada para a idade da síndrome metabólica nos adultos nos EUA que não tinham diabetes é de 34% para homens e 30% para mulheres. Na França, uma coorte de 30 a 60 anos de idade mostra uma prevalência de menos de 10% para cada sexo, embora 17,5% sejam acometidos na faixa etária entre 60 a 64 anos. Uma maior industrialização em todo o mundo está associada a taxas crescentes de obesidade, que é um prenúncio do aumento drástico da prevalência da síndrome metabólica, especialmente à medida que a população envelhece. Além disto, o aumento da prevalência e gravidade da obesidade nas crianças está introduzindo características da síndrome metabólica em uma população mais jovem. FATORES DE RISCO ★ Os fatores de risco são classificados de acordo com condições que podem dar origem aos componentes da síndrome metabólica. Sobrepeso/obesidade: Embora a primeira descrição da síndrome metabólica tenha ocorrido no início do século XX, a epidemia em todo o mundo de sobrepeso/ obesidade tem sido a motivação para o reconhecimento mais recente da síndrome. A adiposidade central é uma característica essencial da síndrome , que reflete o fato de que a prevalência da síndrome é impulsionada pela forte relação entre a circunferência abdominal e o aumento de adiposidade. Entretanto, apesar da importância da obesidade, os pacientes que têm peso normal também podem ser insulino-resistentes e ter a síndrome . Estilo de vida sedentário: A inatividade física é um preditor de eventos de DCV e taxa de mortalidade relacionada. Muitos componentes da síndrome metabólica estão associados a um estilo de vida sedentário, incluindo aumento do tecido adiposo (predominantemente central), colesterol HDL reduzido e uma tendência de aumento dos triglicerídios, de pressão arterial elevada e de aumento da glicose naqueles que são geneticamente suscetíveis. Comparados com os indivíduos que assistiram televisão ou vídeos ou usaram o computador por mais de 1 h/dia, aqueles que realizaram estas mesmas atividades por mais de 4 h/dia apresentaram um risco duas vezes maior de síndrome metabólica. Envelhecimento: A síndrome metabólica acomete 44% da população dos EUA com mais de 50 anos de idade. Uma porcentagem maior de mulheres com mais de 50 anos de idade apresenta a síndrome, comparada com os homens. Observa-se que a prevalência da síndrome depende da idade na maioria das populações mundiais. Diabetes melito: O DM está incluído nas definições de síndrome metabólica pelo NCEP e a International Diabetes Foundation (IDF). Estima-se que a grande maioria (aproximadamente 75%) dos pacientes com diabetes tipo 2 ou com intolerância à glicose (IG) tem síndrome metabólica. A presença da síndrome metabólica nestas populações está relacionada com uma prevalência maior de IG comparada com os pacientes com diabetes tipo 2 ou IG sem a síndrome. Doença arterial coronariana: A prevalência aproximada da síndrome metabólica em pacientes com doença arterial coronariana (DAC) é de 50% , com uma prevalência de 37% em pacientes com doença da artéria coronária prematura (com 45 anos de idade ou menos), particularmente nas mulheres. Com reabilitação cardíaca apropriada e alterações no estilo de vida (p. ex., nutrição, atividade física, redução do peso e, em alguns casos agentes farmacológicos), a prevalência da síndrome pode ser reduzida. Lipodistrofia: Os distúrbios de lipodistrofia geralmente estão associados a síndrome metabólica. Tanto as formas genéticas (p. ex., lipodistrofia congênita de Berardinelli-Seip, lipodistrofia parcial familiar de Dunnigan) quanto as adquiridas (p. ex., lipodistrofia relacionada com o HIV em pacientes tratados com terapia antirretroviral) de lipodistrofia podem dar origem a resistência grave à insulina e muitos dos componentes da síndrome metabólica. ETIOLOGIAS Resistência à insulina: A hipótese mais aceita para descrever a fisiopatologia da síndrome metabólica é a resistência à insulina, que é causada por um defeito incompletamente compreendido da ação da insulina. O início da resistência à insulina é anunciado por hiperinsulinemia pós-prandial, seguida da hiperinsulinemia de jejum e, finalmente, hipergli- cemia. Um grande contribuinte preliminar para o desenvolvimento da resistência à insulina é uma abundância dos ácidos graxos circulantes. Os ácidos graxos livres (AGL) ligados à albumina plasmática, são derivados predominantemente dos estoques e de triglicerídios do tecido adiposo liberados pela lipase das enzimas lipolíticas. Os ácidos graxos também são produzidos a partir da lipólise das lipoproteínas ricas em triglicerídios em tecidos por meio da lipoproteína lipase (LPL). A insulina medeia tanto a antilipólise como a estimulação da LPL no tecido adiposo. É importantesalientar que a inibição da lipólise no tecido adiposo é a via mais sensível de ação da insulina. Assim, quando se desenvolve resistência à insulina, o aumento da lipólise produz mais ácidos graxos, que reduzem ainda mais o efeito antilipolítico da insulina. O excesso de ácidos graxos aumenta a disponibilidade do substrato e cria resistência à insulina, modificando a sinalização a jusante. Os ácidos graxos prejudicam a captação de glicose mediada pela insulina e acumulam-se como triglicerídios tanto no músculo esquelético quanto no cardíaco, en- quanto o aumento da produção de glicose e o acúmulo de triglicerídios são observados no fígado. A hipótese do estresse oxidativo fornece uma teoria unificadora para o envelhecimento e a predisposição à síndrome metabólica. Em estudos realizados em indivíduos resistentes à insulina com obesidade ou diabetes tipo 2, na gênese dos pacientes com diabetes tipo 2 e em idosos, identificou-se um defeito na fosforilação oxidativa mitocondrial que levou ao acúmulo de triglicerídios e moléculas lipídicas relacionadas no músculo. O acúmulo de lipídios no músculo está associado à resistência à insulina. Aumento da circunferência abdominal: A circunferência abdominal é um importante componente dos critérios diagnósticos mais recentes e mais frequentemente aplicados para a síndrome metabólica. Entretanto, medir a circunferência abdominal não distingue de maneira confiável aumentos do tecido adiposo subcutâneo, e a gordura visceral; esta distinção requer Tomografia computadorizada ou Ressonancia Magnética. Com aumentos no tecido adiposo visceral, os AGL derivados do tecido adiposo são direcionados para o fígado. Por outro lado, aumentos na gordura subcutânea abdominal liberam produtos da lipólise na circulação sistêmica e evitam efeitos mais diretos no metabolismo hepático. Aumentos relativos no tecido adiposo visceral versus sub- cutâneo, com o aumento da circunferência abdominal nos asiáticos e indiano-asiáticos, podem explicar a maior prevalência da síndrome nestas populações, se comparadas com os homens afro-americanos nos quais predomina a gordura subcutânea. Também é possível que a gordura visceral seja um marcador para o excesso de AGL pós-prandial na obesidade, mas não sua origem. Dislipidemia: Em geral, o fluxo de AGL (ácidos graxos livres) para o fígado está associado a aumento da produção de lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) ricas em triglicerídios que contêm apoB. O efeito da insulina neste processo é complexo, mas a hipertrigliceridemia é um excelente marcador do distúrbio de resistência à insulina. Outro distúrbio maior da lipoproteína na síndrome metabólica é uma redução do HDL-colesterol. Esta redução é uma consequência das modificações na composição e no metabolismo do HDL. Em presença de hipertrigliceridemia, a redução no conteúdo de HDL-colesterol é uma consequência da redução do conteúdo de colesteril éster do núcleo da lipoproteína em combinação com al- terações mediadas pela proteína de transferência do colesteril éster nos triglicerídios tornando essa partícula menor e mais densa. Esta alteração na composição da lipoproteína também resulta em um aumento da depuração de HDL da circulação. As relações entre es- tas alterações no HDL e a resistência à insulina são provavelmente indiretas, ocorrendo pelas alterações no metabolismo da lipopro- teína rica em triglicerídios. Além do HDL, as lipoproteínas de baixa densidade (LDL) são modificados na sua composição. Com os triglicerídios séricos de jejum acima de 2,0 mM (aproximadamente 180 mg/dL), há qua- se sempre uma predominância de LDL densa e pequena. As LDL densas e pequenas são considerados mais aterogênicas, podendo ser tóxicas para o endotélio, e sendo capazes de transitar através da membrana basal endotelial bem como aderir nos glicosaminoglicanos. Também apresentam maior suscetibilidade à oxidação e são seletivamente ligadas a receptores scavenger nos macrófagos deri- vados de monócitos. Indivíduos com o aumento das partículas de LDL pequenas e densas, bem como hipertrigliceridemia também apresentam o aumento das subfrações de VLDL1 e VLDL2. Esta partícula de VLDL relativamente rica em colesterol também pode contribuir para o risco aterogênico em pacientes com síndrome metabólica. Intolerância à glicose: Os defeitos na ação da insulina levam à deficiência na supressão da produção de glicose pelo fígado e rins, além de redução da captação de glicose e do metabolismo nos tecidos sensíveis à insulina, isto é, tecidos muscular e adiposo. A relação entre intolerância de glicose de jejum (AGJ) ou intolerância à glicose (IG) e resistência à insulina é bem sustentada em estudos com seres humanos, primatas não hu- manos e roedores. Para compensar os defeitos da ação da insulina, a secreção de insulina e/ou depuração têm de ser modificadas para sustentar a euglicemia. Finalmente, este mecanismo compensatório sofre uma queda, em geral devido a defeitos na secreção de insulina, resultando na evolução da intolerância de glicose em jejum e/ou intolerância à glicose para o diabetes melito. Hipertensão: A relação entre resistência à insulina e hipertensão está bem estabelecida. Paradoxalmente, sob condições fisiológicas normais, a insulina é um vasodilatador com efeitos secundários na reabsorção de sódio nos rins. Entretanto, em caso de resistência à insulina, o efeito vasodilatador da insulina é perdido, porém o efeito renal na reabsorção de sódio fica preservado. A reabsorção de sódio se mostra aumentada nos indivíduos brancos com síndrome metabólica, mas não nos africanos ou asiáticos. A insulina também aumenta a atividade do sistema nervoso simpático, um efeito que também pode ser preservado no caso de resistência à insulina. Finalmente, a resistência à insulina é caracterizada por deficiência específica da via na sinalização de fosfatidilinositol 3-quinase. No endotélio, isso pode causar um desequilíbrio entre a produção de óxido nítrico e a secreção de endotelina 1, levando à redução do fluxo sanguíneo. Embora estes mecanismos sejam provocativos, quando a ação da insulina é avaliada pelos níveis de insulina de jejum ou pelo Homeostasis Model Assessment (HOMA), a resistência à insulina contribui apenas modestamente para o aumento da prevalência de hipertensão na síndrome metabólica. Citocinas proinflamatórias: Os aumentos nas citocinas proinflamatórias, como a interleucina (IL) 1, IL-6, IL-18, resistina, fator de necrose tumoral (TNF) e proteína C-reativa, refletem superprodução pela massa de tecido adiposo expandida. Os macrófagos derivados de tecido adiposo podem ser a fonte primária das citocinas proinflamatórias localmente e na circulação sistêmica. No entanto, ainda não se esclareceu quanto da resistência à insulina é causado pelos efeitos parácrinos versus endócrinos destas citocinas. Adiponectina: É uma citocina anti-inflamatória produzida exclusivamente por adipócitos. Aumenta a sensibilidade à insulina e inibe muitas etapas no processo inflamatório . No fígado, inibe a expressão das enzimas gliconeogênicas e a taxa de produção de glicose. No músculo, a adiponectina aumenta o transporte de glicose e aumenta a oxidação do áci- do graxo, parcialmente devido à ativação da adenosina monofosfato (AMP) quinase. É reduzida na síndrome metabólica. A contribuição relativa da deficiência de adiponectina versus superabundância das citocinas proinflamatórias continua sem esclarecimentos. FISIOPATOLOGIA DA SÍNDROME METABÓLICA Os ácidos graxos livres (AGL) são liberados em abundância da massa de tecido adiposo expandida. No fígado, determinam um aumento da produção de glicose e triglicerídios e secreção das lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL). As anormalidades lipídicas/lipoproteicas associadas consistem em reduções do HDL-colesterol e um aumento da LDL-colesterol. Os AGL também reduzema sensibilidade à insulina no músculo, inibindo a captação de glicose mediada pela insulina. Os defeitos associados consistem em redução da glicose a partir do glicogênio e aumento do acúmulo de lipídios nos triglicerídios (TG). Aumentos na glicose circulante e, até certa extensão, dos AGL tornam maior a secreção pancreática de insulina, o que resulta em hiperinsulinemia, a qual pode resultar em aumento da reabsorção de sódio e da atividade do sistema nervoso simpático (SNS), bem como contribuir para a hipertensão , ocorrendo o mesmo com maiores níveis de AGL circulante. O estado proinflamatório sobrepõe-se e contribui para a resistência à insulina produzida pelo excesso de AGL. O aumento da secreção de interleucina 6 (IL-6) e fator de necrose tumoral (TNF-) produzido por adipócitos e macrófagos derivados dos monócitos resulta em mais resistência à insulina e lipólise dos estoques de tecido adiposo em AGL circulante. A IL-6 e outras citocinas também aumentam a produção hepática de glicose, produção de VLDL pelo fígado e resistência à insulina no músculo. As citocinas e AGL aumentam ainda a produção hepática de fibrinogênio e a dos adipócitos do inibidor 1 do ativador do plasminogênio (PAI-1), resultando em um estado protrombótico. Níveis mais altos de citocinas circulantes também estimulam a produção hepática de proteína C-reativa. A produção reduzida da citocina anti-inflamatória e citocina adiponectina sensível à insulina também está associada à síndrome metabólica . MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A síndrome metabólica não está associada a sintomas. Ao exame físico, a circunferência abdominal pode estar aumentada e a pressão arterial elevada. A presença de um ou de ambos os sinais deve alertar o médico sobre a necessidade de buscar anormalidades bioquímicas que possam estar associadas à síndrome metabólica. Porém, menos frequentemente a lipoatrofia ou acanthosis nigricans são encontradas ao exame. Como estes achados clínicos estão associados a resistência grave à insulina, outros componentes da síndrome metabólica devem ser esperados. DOENÇAS ASSOCIADAS Doença cardiovascular: O risco relativo para DCV de início recente em pacientes com a síndrome metabólica, na ausência de diabetes, fica em média entre 1,5 e 3 vezes. Entretanto, em um acompanhamento de 8 anos de homens e mulheres de meia-idade no Framingham Off-Spring Study (FOS), o risco atribuível à população, para os pacientes com a síndrome metabólica, de desenvolver DCV foi de 34% nos homens e apenas 16% nas mulheres. No mesmo estudo, tanto a síndrome metabólica quanto o diabetes foram preditores de AVE isquêmico com maior risco para os pacientes com a síndrome metabólica do que aqueles com diabetes isoladamente (19 versus 7%), particularmente nas mulheres (27 versus 5%). Os pacientes com a síndrome metabólica também apresentam maior risco de doença vascular periférica. Diabetes Tipo 2: De modo geral, o risco para diabetes tipo 2 em pacientes com síndrome metabólica é aumentado 3 a 5 vezes. No acom- panhamento de 8 anos, do estudo FOS, de homens e mulheres de meia-idade, o risco atribuível à população para o desenvolvimento de diabetes tipo 2 foi de 62% nos homens e 47% nas mulheres. TRATAMENTO Estilo de vida: A obesidade é o principal elemento da síndrome metabólica. Assim, a redução do peso é o objetivo primário. Com a redução do peso, a melhora na sensibilidade à insulina frequentemente é acompanhada de modificações favoráveis em muitos componentes da síndrome metabólica. Em geral, as recomendações para a perda de peso incluem uma combinação de restrição calórica, aumento da atividade física e modificação do comportamento. Para a redução do peso, a restrição calórica é o componente mais importante, enquanto os aumentos na atividade física são importantes para a manutenção da perda de peso. Algumas das evidências sugerem que a adição da prática de exercícios à restrição calórica pode promover uma perda relativamente maior da gordura visceral. A tendência para readquirir o peso após a redução bem-sucedida do peso enfatiza a necessidade de mudanças comportamentais de longa duração. Dieta: Antes de prescrever uma dieta para a perda de peso, é im-portante enfatizar ser necessário um longo tempo para um paciente atingir uma expansão da massa corporal; assim, a correção não precisa ocorrer rapidamente. Com base em aproximadamente 3.500 kcal = 0,5 kg de gordura, uma restrição de aproximada- mente 500 kcal diárias equipara-se a uma redução de peso de 0,5 kg por semana. As dietas com restrição de carboidratos promovem uma perda de peso inicial rápida. Entretanto, após 1 ano a quantidade de redução de peso em geral não muda. Assim, a adesão a uma dieta é mais importante do que a escolha do tipo de dieta. Além disto, dietas ricas em gordura saturada devem ser evitadas sobretudo para os pacientes com risco de DCV. Portanto, a boa qualidade da dieta – isto é, rica em frutas, vegetais, grãos integrais, carnes magras de aves e peixe – deve ser estimulada para fornecer o benefício de saúde global máximo. Atividade física: Antes de recomendar atividade física aos pacientes com a síndrome metabólica, é importante assegurar que este aumento de atividade não cause risco. A lguns pacientes de alto risco devem submeter-se a avaliação cardiovascular completa antes de iniciar um programa de exercícios. Para um participante inativo, aumentos graduais na atividade física devem ser incentivados, visando aumentar a adesão e evitar lesões . Embora os aumentos na atividade física possam levar a modesta redução de peso, 60 a 90 minutos diários de atividade são necessários para atingir este objetivo. Mas, mesmo que um adulto com sobrepeso ou obeso seja incapaz de atingir tal nível de atividade, ainda assim obtêm um benefício de saúde significativo de pelo menos 30 minutos de atividade diária de intensidade moderada. É importante salientar que várias atividades rotineiras – como jardinagem, caminhada e limpeza da casa –, requerem gasto calórico moderado. Assim, a atividade física não precisa ser definida somente em termos de exercícios formais, como corrida, natação ou tênis. Obesidade: Em alguns pacientes com síndrome metabólica, as opções de tratamento precisam estender- -se além da intervenção no estilo de vida. Fármacos para a perda de peso encontram-se em duas classes: inibidores do apetite e ini- bidores da absorção. Os inibidores do apetite aprovados pela U.S. Food and Drug Administration incluem fentermina (apenas para uso a curto prazo, 3 meses) e sibutramina. O orlistat inibe a ab- sorção de gordura em aproximadamente 30%, sendo moderadamente eficaz se comparado com o placebo (aproximadamente 5% de perda de peso). Mostrou reduzir a incidência de diabetes tipo 2, um efeito especialmente evidente em pacientes com IG basal. A cirurgia bariátrica é uma opção para os pacientes com a síndrome metabólica que têm um índice de massa corporal (IMC) de mais de 40 kg/m2 ou mais de 35 kg/m2 tendo comorbidades. O bypass gástrico resulta em drástica redução do peso e melhora das manifestações da síndrome metabólica . Já foi realizado um estudo sobre benefício de sobrevida. LDL-COLESTEROL: O fundamento do NCEP-ATP III para desenvolver critérios para a síndrome metabólica foi o de ir além do LDL-colesterol, visando identificar e reduzir o risco de DCV. A hipótese do painel foi de que as metas para o LDL-colesterol já haviam sido atingidas, e crescentes evidências sustentam uma redução linear dos eventos de DCV com a progressiva redução do LDL-colesterol. Para os pacientes com a síndrome metabólica e diabetes, o LDL-colesterol deve ser reduzido para menos de 100 mg/dL e talvez até mais, em pacientes com história de DCV. Para os pacientes com a síndrome metabólica sem diabetes, o escore de risco de Framingham pode prever um risco de 10 anos para DCV queexcede 20%. Nestes indivíduos, o LDL-colesterol deve ser reduzido para menos de 100 mg/dL. Contudo, com um risco de 10 anos de menos de 20%, o LDL-colesterol desejado é menor que 130 mg/dL. Dietas com restrição de gorduras saturadas (menos de 7% de calorias), gorduras trans (o menos possível) e colesterol (menos de 200 mg/dia) devem ser aplicadas de maneira agressiva. Se o LDL-colesterol continuar acima da meta, será necessária uma intervenção farmacológica. As estatinas (inibidores da HMG- -CoA redutase), que produzem uma redução de 20 a 60% de LDL- -colesterol, geralmente são a primeira escolha para intervenção medicamentosa. É importante salientar que, para cada duplicação da dose da estatina, há apenas uma redução adicional de apro- ximadamente 6% do LDL-colesterol. Os efeitos colaterais são raros, consistindo em um aumento das transaminases hepáticas e/ou miopatia. O inibidor da absorção do colesterol ezetimiba é bem-tolerado, devendo ser uma segunda escolha. O ezetimiba reduz o LDL-colesterol em 15 a 20%. Os sequestrantes dos áci- dos biliares e colestipol são mais eficazes do que o ezetimeba, mas têm de ser usados com cautela em pacientes com a síndrome metabólica, porque podem aumentar os triglicerídios. Em geral, os sequestrantes da bile não devem ser administrados quando os triglicerídios em jejum forem de mais de 200 mg/dL. Os efeitos colaterais consistem em sintomas gastrintestinais (distúrbios do paladar, distensão abdominal, eructação, constipação, irritação anal). O ácido nicotínico tem modesta capacidade de redução do LDL (menos de 20%). Os fibratos são mais bem-empregados para reduzir o LDL-colesterol, quando tanto o LDL-colesterol como os triglicerídios estão elevados. O fenofibrato pode ser mais eficaz do que a genfibrozila neste grupo. TRIGLICERÍDIOS: O NCEP-ATP III concentrou-se mais no não LDL-colesterol que nos triglicerídios. Entretanto, recomenda-se um valor de triglicerídio em jejum de menos de 150 mg/dL. Em geral, a resposta dos triglicerídios de jejum relaciona-se com a quantidade de redução de peso atingida. Uma redução de peso de mais de 10% é necessária para baixar os triglicerídios de jejum. Um fibrato (genfibrozila ou fenofibratos) é o fármaco de es- colha para reduzir os triglicerídios de jejum, que atingem uma diminuição de 35 a 50%. A administração concomitante com fármacos metabolizados pelo sistema 3A4 do citocromo P450 (incluindo algumas estatinas) aumenta grandemente o risco de miopatia. Nestes casos, o fenofibrato pode ser preferível à genfibrozila. No Veterans Affairs HDL Intervention Trial (VA-HIT), a genfibrozila foi administrada em homens com DCV conhecida e níveis de HDL-colesterol de menos de 40 mg/dL. Um evento de doença arterial coronariana e benefício na taxa de mortalidade foram experimentados predominantemente em homens com hiperinsulinemia e/ou diabetes, sendo que muitos deles foram identificados, retrospectivamente, como tendo a síndrome metabóli- ca. É importante notar que ter reduzido triglicerídios no VA-HIT não apresentou benefício. Embora os níveis de LDL-colesterol não tenham mudado, uma redução no número de partículas LDL correlacionou-se com o benefício. Apesar de vários experimentos clínicos adicionais terem sido realizados, não houve evidências claras de que os fibratos reduzem o risco de DCV como conse- quência da redução dos triglicerídios. Outros fármacos que reduzem os triglicerídios são as esta- tinas, ácido nicotínico e altas doses de ácidos graxos ômega 3. Quando se escolhe uma estatina com este propósito, a dose tem de ser alta para as estatinas “menos potentes” (lovastatina, pra- vastatina, fluvastatina) ou intermediária para as estatinas “mais potentes” (sinvastatina, atorvastatina, rosuvastatina). O efeito do ácido nicotínico nos triglicerídios em jejum está relacionado com a dose, sendo menor que o dos fibratos (aproximadamente 20 a 40%). Nos pacientes com a síndrome metabólica e diabetes, o áci- do nicotínico pode aumentar a glicemia de jejum. As preparações de ácido graxo ômega 3 que incluem altas doses de ácido docosa- exaenoico e ácido eicosapentaenoico (aproximadamente 3,0 a 4,5 g/dia) reduzem os triglicerídios de jejum em aproximadamente 40%. Não ocorre nenhuma interação com os fibratos ou estati- nas, sendo o principal efeito colateral a eructação com sabor de peixe, o que pode ser parcialmente bloqueado pela ingestão do nutracêutico após congelamento. Experimentos clínicos do ácido nicotínico ou altas doses de ácidos graxos ômega 3 em pacientes com a síndrome metabólica não foram relatados. HDL-COLESTEROL: Além da redução do peso, há muito poucos compostos modificadores de lipídios que aumentam o HDL-colesterol. As estatinas, fibratos e sequestrantes dos ácidos biliares apresentam efeitos modestos (5 a 10%) e não há efeito no HDL-colesterol com a ezetimiba ou ácidos graxos ômega 3. O ácido nicotínico é o único fármaco atualmente disponível com proprie- dades de elevação do HDL-colesterol previsíveis. A resposta está relacionada com a dose e pode aumentar o HDL-colesterol em aproximadamente 30% acima da linha de base. Há poucas evi- dências atualmente de que a elevação do HDL tenha um benefício nos eventos de DCV independente da redução do LDL-colesterol, particularmente em pacientes com a síndrome metabólica. PRESSÃO ARTERIAL: A relação direta entre a pressão arterial e a taxa de mortalidade por todas as causas foi bem-estabelecida, incluindo os pacientes com hipertensão (> de 140/90) versus os com pré-hipertensão (> de 120/80, porém < de 140/90) versus os indi- víduos com pressão arterial normal (< de 120/80). Nos pacientes com a síndrome metabólica sem diabetes, a melhor escolha para o primeiro anti-hipertensivo geralmente deve ser um inibidor da enzima de conversão da angiotensina (ECA) ou um bloqueador do receptor da angiotensina II, pois estas duas classes de fárma- cos parecem reduzir a incidência de diabetes tipo 2 de início re- cente. Em todos os pacientes com hipertensão, deve-se defender uma dieta com restrição de sódio, rica em frutas e vegetais e la- ticínios com baixo teor de gordura. O monitoramento domésti- co da pressão arterial pode ajudar a manter um bom controle da pressão arterial. ALTERAÇÃO NA GLICEMIA EM JEJUM : Em pacientes com a síndro- me metabólica e diabetes tipo 2, o controle glicêmico agressivo pode modificar, de maneira favorável, os triglicerídios de jejum e/ou HDL-colesterol. Nos pacientes com AGJ sem diagnóstico de diabetes, uma intervenção no estilo de vida que inclua redução do peso, restrição dietética de gordura e aumento da atividade física mostra reduzir a incidência de diabetes tipo 2. A metfor- mina também mostra reduzir a incidência de diabetes, embora o efeito seja menor do que o observado com intervenção no estilo de vida. RESISTÊNCIA À INSULINA: Várias classes de fármacos [biguanidas, tiazolidinedionas (TZD)] aumentam a sensibilidade à insulina. Pelo fato de a resistência à insulina ser o mecanismo fisiopato- lógico primário para a síndrome metabólica, os fármacos repre- sentativos nestas classes reduzem sua prevalência. Tanto a metformina quanto as TZD aumentam a ação da insulina no fígado e suprimem a produção endógena de glicose. As TZD, mas não a metformina, também melhoram a captação de glicose mediada pela insulina no músculo e tecido adiposo. Os benefícios de ambos os fármacos também foram observados em pacientes com DHGNA e SOP, mostrando reduzir os marcadores da inflamação e LDL pequena densa. ENTENDER OS PARÂMETROS CLÍNICOS E LABORATORIAIS PARA DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME METABÓLICA O diagnóstico da síndrome metabólica é estabelecido a partir dos critérios listados, por meio da utilização de recursos à beira do leito e no laboratório. A anamnese deve incluir a avaliação dos sintomas para AOS em todos os pacientes e SOP nas mulheres na pré-menopausa. A história familiarirá ajudar a determinar o risco para DCV e DM. As medidas da pressão arterial e da circunferência abdominal fornecem informações necessárias ao diagnóstico. Exames laboratoriais O lipidograma e a glicemia de jejum são necessários para determinar se há a presença da síndrome metabólica. A mensuração dos biomarcadores adicionais associados à resistência à insulina pode ser individualizada. Estes exames podem incluir a apo B, proteína C-reativa de alta sensibilidade, fibrinogênio, ácido úrico, microalbu- minúria e exame da função hepática . Deve-se realizar um estudo do sono caso haja a presença de sintomas de AOS. Se houver suspeita de SOP baseada nas manifestações clínicas e anovulação, deverão ser medidos a testosterona, hormônio luteinizante e hormônio fo- liculoestimulante. NCEP:ATPIII 2001 e critérios da IDF para síndrome metabólica NCEP:ATPIII 2001 Três ou mais dos seguintes: ➔ Obesidade central: circunferência abdominal > 102 cm (H), > 88 cm (M) ➔ Hipertrigliceridemia: triglicerídios ≥ 150 mg/dL ou medicação específica ➔ HDL-colesterol baixo: < 40 mg/dL e < 50 mg/dL, respectivamente, ou medicamento específico ➔ Hipertensão: pressão arterial > 130 mm sistólica ou ≥ 85 mm diastólica ou medicação específica ➔ Glicemia de jejum ≥ 100 mg/dL ou medicação específica ou diabetes Tipo 2 previamente diagnosticado Criérios da IDF para a adiposidade central CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL Etnicidade: povos da Europa, África, Subsaariana, Oriente e Oriente Médio ➔ Homens: >94 cm ➔ Mulheres: >80 cm Etnicidade: Sul da Ásia, Chineses e povos das Américas do Sul e Central ➔ Homens >90cm ➔ Mulheres > 80cm Etnicidade: Japoneses ➔ Homens >85cm ➔ Mulheres >90cm Dois ou mais dos seguintes: ➔ Triglicerídios em jejum > 150 mg/dL ou medicação específica ➔ HDL-colesterol < 40 mg/dL e < 50 mg/dL para os homens e as mulheres, respectivamente, ou medicação específica ➔ Pressão arterial >130 mm sistólica ou > 85 mm diastólica, ou diagnóstico anterior ou medicação específica ➔ Glicemia de jejum ≥ 100 mg/dL ou diabetes tipo 2 anteriormente diagnosticado CONHECER OS FATORES DE RISCO E AS COMORBIDADES ASSOCIADOS À OBESIDADE Obesidade: Obesidade é um estado de excesso de massa adiposa. ́ comum associá-la a excesso de peso, mas isso nem sempre é correto: indivíduos magros, porém muito musculosos, podem apresentar excesso de peso segundo padrões numéricos, mas não têm aumento da massa adiposa. A distribuição do peso corporal na população é contínua, o que torna a escolha de uma distinção clinicamente significativa entre magro e obeso um tanto arbitrária. A obesidade é mais bem-definida pela avaliação de sua ligação com a morbidade e mortalidade. Avaliação diagnóstica: Embora não seja medida direta da adiposidade, o método mais usado para avaliar a obesidade é o índice de massa corporal (IMC), igual ao peso/estatura2 (em kg/m2). Outras abordagens para a quantificação da obesidade são a antropometria (espessura da prega cutânea), densitometria (pesagem sob a água), TC ou RM e a impedância elétrica. Segundo os dados das tabelas da Metropolitan Life, o IMC do ponto médio para todas as estaturas e compleições, entre homens e mulheres, vai de 19 a 26 kg/m2. As mulheres têm mais gordura corporal que os homens com determinado IMC. Com base em dados de morbidade substancial, um IMC de 30 é o limiar mais usado para a obesidade em ambos os sexos. Cálculo do IMC: IMC = Peso ÷ (Altura × Altura) Fatores de risco: A maioria das autoridades usa o termo sobrepeso (e não obesidade) para descrever os indivíduos com IMC entre 25 e 30 , que devem ser considerados clinicamente significativos e dignos de intervenção terapêutica, principalmente na presença de fatores de risco influenciados pela adiposidade, como hipertensão e intolerância à glicose. As vias reguladoras do equilíbrio energético estão começando a ser desvendadas, mas as causas da obesidade permanecem obscuras, re- fletindo em parte o fato de que a obesidade é um grupo heterogê- neo de doenças. De um lado, a fisiopatologia da obesidade parece simples: um excesso crônico de aporte de nutrientes com relação ao nível de dispêndio energético. No entanto, devido à complexidade dos sistemas neuroendócrinos e metabólicos que regulam a ingestão, o armazenamento e dispêndio de energia, é difícil quantificar todos os parâmetros relevantes (p. ex., consumo de alimentos e dispêndio de energia) ao longo do tempo em pacientes humanos. Papel dos genes versus o ambiente A obesidade costuma ocorrer em famílias, e a hereditariedade do peso corporal é semelhante à da estatura. Porém, a herança não costuma ser mendeliana, sendo difícil distinguir o papel dos ge- nes e fatores ambientais. Pessoas adotadas se assemelham mais a seus pais biológicos que aos adotivos quanto à obesidade, o que é um forte indicador da influência genética. De modo semelhante, gêmeos idênticos têm IMC bastante semelhantes, independente- mente de serem criados juntos ou separados, e seus IMC correla- cionam-se muito mais estreitamente que os de gêmeos dizigotos. Esses efeitos genéticos parecem estar associados à ingestão e ao dispêndio de energia. Mas, seja qual for o papel dos genes, é evidente que o ambien- te tem importância fundamental na obesidade. Uma evidência é o fato de que a fome previne a obesidade mesmo no indivíduo mais propenso a essa doença. Além disso, o recente aumento na preva- lência da obesidade nos EUA é rápido demais para ser explicado por alterações no conjunto dos genes. Contudo, os genes sem dúvida in- fluenciam a tendência à obesidade em resposta a dietas específicas e à disponibilidade de alimentos. Fatores culturais também são im- portantes, estando ligados tanto à disponibilidade e composição da dieta quanto a alterações do nível de atividade física. Em sociedades industrializadas, a obesidade é mais comum em mulheres pobres, enquanto nos países subdesenvolvidos as mulheres mais afluentes são mais obesas. Em crianças, a obesidade tem alguma correlação com o tempo que passam em frente à televisão. Embora o papel da composição da dieta na obesidade continue a gerar controvérsia, pa- rece que as dietas ricas em gorduras podem promover a obesidade, quando combinadas com dietas ricas em carboidratos simples, rapidamente absorvidos. Outros fatores ambientais podem contribuir para o aumento da prevalência da obesidade. Tanto correlações epidemiológicas como dados experimentais sugerem que a privação de sono acarreta o au- mento da obesidade. As alterações no microbioma intestinal com capacidade de modificar o equilíbrio energético estão recebendo suporte experimental de estudos em animais e um possível papel para as infecções virais obesogênicas continua a receber atenção esporádica. Síndromes genéticas específicas: Sabe-se há muitos anos que, em roedores, a obesidade é causada por uma série de mutações distintas distribuída por todo o genoma. A maioria de tais defeitos gênicos isolados causa hiperfagia e diminui- ção do dispêndio de energia, o que sugere uma ligação fisiológica entre esses dois parâmetros na homeostase energética. A identificação da mutação no gene ob em camundongos geneticamente obesos (ob/ ob) foi um grande avanço no referido campo. O camundongo ob/ob desenvolve obesidade grave, resistência à insulina e hiperfagia, além de um metabolismo deficiente (ele engorda mesmo quando recebe a mesma quantidade de calorias que os camundongos magros na mes- ma gaiola). O produto do gene ob é o peptídio leptina, o nome que deriva do grego leptos, o qual significa magro. A leptina é secretada pelas células adiposas e atua sobretudo no hipotálamo. O nível de sua produção serve como índice das reservas adiposas de energia. Níveis altos de leptina diminuem o consumo de alimento e au- mentam o gasto de energia. Outro camundongomutante, o db/db, resistente à leptina, apresenta mutação no receptor desse hormônio e uma síndrome semelhante. O gene OB está presente em seres humanos onde também é expresso na gordura. Já foram descritas vá- rias famílias com obesidade mórbida de início precoce causada por mutações que inativam a leptina ou seu receptor, o que demonstra a importância biológica da via da leptina em seres humanos. A obesidade nesses indivíduos começa logo após o nascimento, é grave e acompanha-se de anormalidades neuroendócrinas, a mais importan- te das quais é o hipogonadismo hipogonadotrópico, que a reposição de leptina pode reverter no subgrupo deficiente em leptina. No mo- delo do camundongo, observam-se hipotireoidismo central e atraso do crescimento, alterações não tão visíveis em seres humanos com deficiência de leptina. Não se encontraram, até hoje, evidências de que mutações dos genes da leptina ou de seu receptor sejam impor- tantes nas formas comuns de obesidade. Mutações de vários outros genes podem causar obesidade gra- ve em seres humanos (Quadro 57.1); porém, tais síndromes são raras. As mutações do gene que codificam a proopiomelanocortina (POMC) causam obesidade grave porque não ocorre a síntese de -MSH, um neuropeptídio fundamental que inibe o apetite no hipotálamo. A ausência de POMC também causa insuficiência suprarrenal secundária devido à falta do hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) bem como palidez cutânea e cabelos avermelhados pela fal- ta de -MSH. As mutações da proenzima convertase 1 (PC-1) também causam obesidade, acreditando-se que isso se deva à inibição da síntese de -MSH a partir de seu peptídio precursor, a POMC. O -MSH se liga ao receptor da melanocortina do tipo 4 (MC4R), um receptor hipotalâmico importante que inibe a alimentação. As mutações heterozigotas de perda da função nesse receptor parecem responder por até 5% dos casos graves de obesidade. Esses cinco de- feitos genéticos definem uma via pela qual a leptina (ao estimular a POMC e aumentar o -MSH) restringe o consumo de alimentos e limita o peso. Os resultados de estudos de associação em todo o genoma para identificar loci genéticos responsáveis pela obe- sidade na população geral até o momento são decepcionantes. Mais de 10 loci replicados ligados á obesidade foram identificados, mas juntos são responsáveis por menos de 3% da variação interindividual no IMC. O mais replicado desses é um gene chamado FTO, que tem função desconhecida, mas assim como muitos dos outros candidatos recentemente descritos, é expressado no cérebro. Como se estima que a herdabilidade da obesidade seja de 40 a 70%, é provável que muito mais loci tenham de ser identificados. Além desses genes humanos de obesidade, estudos em roedo- res revelaram vários outros candidatos moleculares a mediadores hipotalâmicos da obesidade ou da magreza em seres humanos. O gene tub codifica um peptídio hipotalâmico de função desconhe- cida; mutações nesse gene causam obesidade de início tardio. O gene fat codifica a carboxipeptidase E, uma enzima processadora de peptídios, acreditando-se que mutações nesse gene também causam obesidade ao perturbar a produção de um ou mais neuropeptídios. A AgRP é expressa junto com o NPY em neurônios do núcleo ar- queado. A AgRP antagoniza o -MSH nos receptores de MC4, e sua expressão excessiva induz à obesidade. Já os camundongos com deficiência do peptídio MCH, cuja administração induz à alimen- tação, são magros. Várias síndromes humanas, complexas e de herança definida, estão associadas à obesidade (Quadro 57.2). Embora ainda genes específicos tenham definição limitada atualmente, sua identificação deve melhorar nossa compreensão das formas mais comuns de obe- sidade humana. Na síndrome de Prader-Willi, um distúrbio multi- gênico do neurodesenvolvimento, a obesidade coexiste com baixa estatura, deficiência mental, hipogonadismo hipogonadotrópico, hi- potonia, mãos e pés pequenos, boca em forma de peixe e hiperfagia. A maioria desses pacientes tem uma deleção a região cromossômica 15q11-13 e a expressão reduzida da proteína sinalizadora necdina pode ser uma causa importante de desenvolvimento neural hipotalâ- mico defeituoso. A síndrome de Bardet-Biedl (SBB) é um distúrbio geneticamente heterogêneo que se caracteriza por obesidade, defi- ciência mental, retinite pigmentosa, diabetes, malformações renais e cardíacas, polidactilia e hipogonadismo hipogonadotrópico. Foram identificados pelo menos 12 loci genéticos e a maioria das proteínas codificadas forma dois complexos multiproteína que estão envolvi- dos na função ciliar e transporte intracelular baseado em microtúbu- los. Evidências recentes sugerem que as mutações podem perturbar o tráfego do receptor de leptina nos principais neurônios hipotalâmi- cos, causando resistência à leptina. Patogenia da obesidade comum: A obesidade pode ser causada por aumento da ingestão de energia, diminuição do dispêndio ou uma combinação de ambos. Assim, identificar a etiologia da obesidade exige medições dos dois parâ- metros. Mas é difícil fazer medidas precisas e diretas da ingestão de energia em indivíduos em vida livre, e os obesos em particular cos- tumam subestimar sua ingestão. As medições do dispêndio crônico de energia são possíveis pelo uso de água duplamente marcada ou câmaras e salas metabólicas. Em pacientes com peso e composição corporal estáveis, a ingestão de energia é igual ao dispêndio. Assim, pode-se concluir que essas técnicas permitem avaliar a ingestão de energia em indivíduos em vida livre. Os níveis de dispêndio de ener- gia são diferentes em obesos em períodos de ganho ou de perda de peso, e nos estados pré ou pós-obesidade. Os estudos que não levam em conta esses fenômenos são difíceis de interpretar. O conceito de um ponto de equilíbrio do peso corporal tem sus- citado contínuo interesse. Em favor dessa ideia, existem mecanis- mos fisiológicos em torno de um sistema sensor no tecido adiposo que reflete as reservas de gordura, e um receptor, ou adipostato, presente nos centros hipotalâmicos. Quando as reservas de gordu- ra diminuem, o sinal do adipostato cai, e o hipotálamo responde estimulando a fome e diminuindo o dispêndio de energia. No en- tanto, quando as reservas de gordura são abundantes, o sinal au- menta, e o hipotálamo responde diminuindo a fome e aumentando o dispêndio de energia. A recente descoberta do gene ob e seu pro- duto, a leptina, bem como do gene db, cujo produto é o receptor da lectina, fornece uma base molecular a esse conceito fisiológico (ver anteriormente). Qual a situação da ingestão de alimentos nos obesos? (Os obesos comem mais que os magros?) Tal questão suscitou intenso debate, o que se deve em parte às difi- culdades metodológicas inerentes à determinação da ingestão ali- mentar. Muitos indivíduos obesos consideram que ingerem pou- ca comida, achado muitas vezes confirmado pelos resultados de questionários sobre a ingestão de alimentos. No entanto, hoje se sabe que a ingestão média de energia aumenta com a obesidade. De acordo com as leis da termodinâmica, os obesos devem comer mais que os magros em média para manter seu peso mais alto. No entanto, é possível que alguns dos indivíduos predispostos à obesi- dade sejam capazes de ficar obesos sem um aumento absoluto no consumo calórico. Qual a situação do dispêndio de energia na obesidade? O dispêndio total médio diário de energia é maior entre os obesos do que entre os magros quando medido no peso estável. No entanto, o dispêndio energético diminui à medida que se perde peso, o que se deve em parte à perda de massa corporal magra e diminuição da atividade nervosa simpática. Quando atingem um peso próximo do normal e permanecem assim por algum tempo, (alguns) indivíduos obesos gastam menos energia que (alguns) indivíduos magros. Tam- bém há uma tendência, entre os que se tornaram obesos na infância, de ter taxasmenores de dispêndio de energia do que os que perma- necem magros. A origem fisiológica das taxas variáveis de dispêndio de ener- gia (mantidos constantes o peso corporal e a ingestão de energia) é praticamente desconhecida. Mutação no receptor 3-adrenérgico humano pode estar associada a um risco maior de obesidade e de resistência à insulina em algumas populações. Um componente da termogênese recém-descrito, denominado termogênese da atividade fora do exercício (NEAT), foi relacionado com a obesidade. Trata-se da termogênese que acompanha outras atividades físicas que não o exercício voluntário, como tarefas co- tidianas, movimentos aleatórios, contração muscular espontânea e manutenção da postura. A NEAT responde por cerca de 66% do aumento do dispêndio diário de energia induzido pelo excesso de alimentação. A ampla variação no armazenamento de gordura, ob- servada em indivíduos alimentados sem excesso, pode ser prevista pela intensidade com que a NEAT é induzida. A origem molecular e a regulação desse fenômeno são desconhecidas. Leptina na obesidade comum A grande maioria dos obesos tem níveis elevados de leptina, mas não apresenta mutações nem na leptina nem em seu receptor. Por isso parecem ter uma forma funcional de resistência à leptina. Dados sugerem que alguns desses indivíduos produzem menos leptina por unidade de massa adiposa que outros, ou têm uma forma relativa de deficiência de leptina que predispõe à obesidade, mas isso ainda é contraditório e incompleto. O mecanismo de resistência à leptina, e a possibilidade de revertê-la com a elevação dos níveis desse hormô- nio ou com combinação de leptina e outros tratamentos em um sub- grupo de indivíduos obesos, ainda não foi elucidado. Alguns dados sugerem que a leptina pode ser incapaz de atravessar a barreira he- matencefálica à medida que os níveis sobem. Também há evidências, a partir de estudos com animais, de que inibidores da sinalização da leptina, como SOCS3 e PTP1b, estejam implicados no mecanismo de resistência. Consequências patológicas da obesidade: A obesidade tem efeitos adversos impor- tantes sobre a saúde. Está associada a um aumento na mortalidade, elevação de 50 a 100% no risco de morte por todas as causas em comparação com os indivíduos de peso normal, principalmente por causas cardiovasculares. Em conjunto, a obesidade e o sobrepeso são a segunda causa de morte passível de prevenção nos EUA, sen- do responsáveis por 300.000 óbitos anuais. As taxas de mortalidade aumentam com a progressão da obesidade, principalmente quando ela está associada a um aumento da gordura intra-abdominal (ver anteriormente). A expectativa de vida de um indivíduo com obesi- dade moderada pode diminuir 2 a 5 anos, e um homem com 20 a 30 anos de idade e IMC > 45 pode perder 13 anos de vida. Parece também que o efeito da obesidade sobre determinados sistemas or- gânicos é influenciado por genes de suscetibilidade, os quais variam na população. Comorbidades associadas: A morbidade total por doenças metabólicas, câncer e doenças cardiovasculares começa a aumentar (porém lentamente) quando os IMC são iguais ou superiores a 25, sugerindo que o ponto de corte da obesidade deve ser rebaixado. A distribuição do tecido adiposo em diferentes espaços anatômi- cos tem implicações importantes para a morbidade. Especificamen- te, a gordura intra-abdominal e a subcutânea abdominal são mais importantes que a gordura subcutânea presente nas nádegas e nos membros inferiores . O modo mais fácil de fazer essa distinção clini- camente é determinando a razão cintura/quadris. Um número > 0,9 em mulheres ou > 1 em homens é considerado anormal. Muitas das complicações importantes da obesidade, como a resistência à insulina, diabetes, hipertensão, hiperlipidemia e, em mulheres, o hiperandrogenismo, estão mais fortemente associadas à gordura intra-abdominal e/ou da parte superior do corpo que à adiposidade total. Fisiopatologia: O mecanismo subjacente dessa associação é desconhecido, mas pode estar ligado ao fato de que os adipócitos intra-abdominais têm maior atividade lipolítica do que os dos outros depósitos. A liberação dos ácidos graxos livres para a circulação portal tem efeitos metabólicos adversos, sobretudo no fígado. Uma área de investigação ativa visa confirmar se os adipócitos e as citocinas secretados pelos adipócitos viscerais desempenham um papel a mais nas complicações sistêmicas da obesidade. Regulação do equilíbrio energético: Há evidências substanciais de que o peso corporal é regulado por fa- tores endócrinos e neurais que terminam por influenciar os braços efetores da absorção e do dispêndio de energia. Esse complexo siste- ma regulador é necessário porque mesmo pequenos desequilíbrios entre a entrada e o dispêndio de energia terminam por ter efeitos importantes sobre o peso corporal. Por exemplo, um desequilíbrio de 0,3% durante 30 anos levaria a um ganho de 9 kg de peso. Essa regu- lação precisa do equilíbrio energético não é facilmente monitorada pela contagem calórica com relação à atividade física. Na verdade, a regulação ou desregulação do peso corporal dependem de uma in- teração complexa de sinais neurais e hormonais. Alterações no peso normal induzidas por alimentação forçada ou privação de alimentos induzem a mudanças fisiológicas que se opõem a essas perturbações. Quando há perda de peso, o apetite aumenta e o dispêndio de energia diminui. Com excesso de alimentação, o apetite diminui e o dispên- dio de energia aumenta. No entanto, o último mecanismo compensa- tório falha com frequência, o que permite o surgimento da obesidade quando há alimentos abundantes e pouca atividade física. Um regu- lador importante dessas respostas adaptativas é o hormônio leptina, produzido pelos adipócitos. Tal substância age através de circuitos cerebrais (sobretudo no hipotálamo) para influenciar o apetite, o dis- pêndio de energia e a função neuroendócrina. O apetite é influenciado por muitos fatores integrados no cérebro, sobretudo no hipotálamo. Os sinais que entram no centro hipotalâmico incluem aferentes neurais, hormônios e meta- bólitos. Os impulsos vagais são especialmente importantes, pois tra- zem informações das vísceras, como a distensão dos intestinos. Os sinalizadores hormonais incluem a leptina, a insulina, o cortisol e os peptídios intestinais. Entre os últimos, estão a grelina, elaborada no estômago e que estimula a alimentação, o peptídio YY (PYY) e a colecistocinina, elaborados no intestino delgado e que sinalizam ao cérebro por ação direta nos centros de controle hipotalâmicos e/ ou por intermédio do nervo vago. Os metabólitos, como a glicose, podem influenciar o apetite, visto que a hipoglicemia induz à fome; entretanto, a glicose normalmente não é um regulador importante do apetite. Esses diversos sinais hormonais, metabólicos e neurais atuam influenciando a expressão e liberação de vários peptídios hipotalâ- micos (p. ex., neuropeptídio Y [NPY], peptídio relacionado com a proteína aguti [AgRP], hormônio estimulante dos melanócitos (-MSH) e hormônio concentrador da melanina [MCH]), substân- cias integradas às vias sinalizadoras serotoninérgicas, catecolaminér- gicas, endocanabinoides e opioides (ver adiante). Fatores psicológi- cos e culturais também parecem ter um papel na expressão final do apetite. Com a exceção de raras síndromes genéticas que envolvem a leptina, seu receptor e o sistema da melanocortina, os defeitos especí ficos nessa rede complexa de controle do apetite que influenciam os casos comuns da obesidade não foram bem-definidos. O dispêndio de energia envolve os seguintes componentes: (1) taxa metabólica basal ou em repouso; (2) custo energético da me- tabolização e do armazenamento do alimento; (3) efeito térmico do exercício; e (4) termogênese adaptativa, que varia em função da in- gestão calórica de longo prazo (maior quandoaumenta a ingestão). A taxa metabólica basal responde por cerca de 70% do dispêndio diário de energia, enquanto a atividade física responde por 5 a 10%. Assim, grande parte do consumo diário de energia é fixa. Modelos genéticos em camundongos indicam que mutações em certos genes (p. ex., deleção isolada do receptor de insulina no tecido adiposo) protegem contra a obesidade, aparentemente mediante o aumento do consumo de energia. A termogênese adaptativa ocorre no tecido adiposo marrom (TAM), que tem um papel importante no metabolismo de energia em muitos mamíferos. Diferente do tecido adiposo branco, usado para armazenar energia na forma de lipídios, o TAM armazena energia na forma de calor. Uma proteína de desa- coplamento mitocondrial (UCP-1) no TAM dissipa o gradiente de íons hidrogênio formado na cadeia respiratória oxidativa e libera a energia na forma de calor. A atividade metabólica do TAM au- menta com a ação central da leptina. Tal interação ocorre através do sistema nervoso simpático, que inerva intensamente esse tecido. Em roedores, a ausência de TAM causa obesidade e diabetes; a esti- mulação do TAM com um agonista adrenérgico específico (agonista 3) protege contra o diabetes e a obesidade. Embora o TAM exista em seres humanos (sobretudo em recém-nascidos), e embora não se conheça seu papel fisiológico, a identificação de TAM funcional em adultos que usam tomografia por emissão de pósitrons (PET) aumentou o interesse pelas implicações do tecido para patogenia e terapia de obesidade. O ADIPÓCITO E O TECIDO ADIPOSO: O tecido adiposo é formado pelas células adiposas, que armazenam lipídios, e por um compartimento estromático e vascular, onde ficam células como os pré-adipócitos e macrófagos. A massa adipo- sa aumenta com o crescimento das células adiposas à medida que mais lipídios se depositam, bem como pelo aumento do número de adipócitos. O tecido adiposo obeso também se caracteriza por maior número de macrófagos infiltrados. O processo que origina as células adiposas a partir do pré-adipócito mesenquimatoso envol- ve uma série coordenada de etapas de diferenciação, mediadas por uma cascata de fatores de transcrição específicos. Um dos fatores fundamentais é o receptor ativado do proliferador dos peroxissomos (PPAR), um receptor nuclear que se liga aos fármacos sensibilizan- tes à insulina da classe das tiazolidinedionas, usadas no tratamento do diabetes tipo 2. Embora geralmente seja tido como depósito para armazena- mento de gordura, o adipócito também é uma célula endócrina que libera diferentes moléculas de forma regulada (Fig. 57.3), algumas das quais são o hormônio leptina, que regula o equilíbrio energético, citocinas, como o fator de necrose tumoral (TNF), e a interleucina (IL)-6, fatores complementares, como o fator D (também chamado adipsina), agentes pró-trombóticos, como o inibidor da ativação do plasminogênio I, e um componente do sistema de regulação da pressão sanguínea, o angiotensinogênio. A adiponectina, uma proteína abundante derivada do tecido adiposo cujos níveis ficam redu- zidos na obesidade, aumenta a sensibilidade à insulina e a oxidação lipídica, além de exercer efeitos protetores da vasculatura, enquanto a resistina e RBP4, cujos níveis se mostram aumentados na obesidade, podem induzir resistência à insulina. Esses fatores, e outros ainda não identificados, participam da fisiologia da homeostase dos lipídios, da sensibilidade à insulina, do controle da pressão arterial, da coagulação e da saúde vascular, bem como provavelmente contribuem para as patologias relacionadas com a obesidade. COMPREENDER O MECANISMO DA FOME E SACIEDADE REGULAÇÃO DA INGESTÃO ALIMENTAR E DO ARMAZENAMENTO DE ENERGIA ➔ Os déficits dos estoques energéticos, por exemplo, ativam com rapidez múltiplos mecanismos que provocam fome e levam a pessoa a buscar comida. ➔ Em atletas e operários, o gasto energético para o alto nível de atividade muscular pode ser da ordem de 6.000 a 7.000 Calorias por dia, comparado a somente 2.000 Calorias por dia, no caso dos indivíduos sedentários. ➔ Grande gasto energético associado ao trabalho físico normalmente estimula, de igual modo, grandes aumentos da ingestão calórica. CENTROS NEURAIS REGULAM A INGESTÃO DE ALIMENTOS A sensação de fome está associada ao desejo por comida, assim como diversos outros efeitos fisiológicos, tais como contrações rítmicas do estômago e inquietude, que fazem com que o indivíduo procure por adequado suprimento alimentar. O apetite da pessoa é desejo por alimento, frequentemente de tipo particular, sendo útil em ajudar a escolher a qualidade a ser ingerida. Se a busca por alimento for bem-sucedida, sobrevém sentimento de saciedade. Cada um desses sentimentos é influenciado por fatores ambientais e culturais, bem como por controles fisiológicos que influenciam centros específicos do cérebro, especialmente o hipotálamo. O Hipotálamo Contém os Centros da Fome e da Saciedade: Núcleos laterais do hipotálamo: funcionam como o centro da fome, e a estimulação dessa área faz com que o animal coma de modo voraz (hiperfagia). Inversamente, a destruição do hipotálamo lateral provoca a ausência do desejo por comida e inanição progressiva, condição caracterizada por acentuada perda de peso, fraqueza muscular e metabolismo reduzido. O centro hipotalâmico lateral da fome funciona pela excitação dos impulsos motores para a busca por comida. Núcleos ventromediais do hipotálamo: funcionam como um importante centro da saciedade. Acredita-se que esse centro promova sensação de satisfação nutricional que inibe o centro da fome. A estimulação elétrica dessa região pode provocar saciedade completa e, mesmo na presença de comida muito apetitosa, o animal se recusa a comer (afagia). Inversamente, a destruição dos núcleos ventromediais faz com que o animal coma de modo voraz e contínuo, até que se chegue à extrema obesidade, eventualmente, pesando até quatro vezes o normal. Núcleos paraventricular, dorsomedial e arqueado do hipotálamo: também desempenham papel importante na regulação da ingestão de alimentos. Por exemplo, lesões dos núcleos paraventriculares provocam excesso de ingestão, enquanto as lesões dos núcleos dorsomediais geralmente deprimem o comportamento alimentar. Os núcleos arqueados são os locais do hipotálamo onde múltiplos hormônios, liberados pelo trato gastrointestinal e pelo tecido adiposo, convergem para regular a ingestão de alimentos, bem como o gasto energético. Existe intensa e mútua comunicação química entre neurônios do hipotálamo e, em conjunto, esses centros coordenam os processos que controlam o comportamento alimentar e a percepção da saciedade. Esses núcleos hipotalâmicos também influenciam a secreção de diversos hormônios importantes para a regulação do equilíbrio energético e metabólico, incluindo os hormônios das glândulas tireóide e adrenal, bem como os das células das ilhotas pancreáticas. O hipotálamo recebe (1) sinais neurais do trato gastrointestinal que fornecem informação sensorial sobre o enchimento gástrico; (2) sinais químicos dos nutrientes no sangue (glicose, aminoácidos, ácidos graxos), que significam saciedade; (3) sinais dos hormônios gastrointestinais; (4) sinais dos hormônios liberados pelo tecido adiposo; e (5) sinais do córtex cerebral (visão, olfato e paladar), que influenciam o comportamento alimentar. Os centros hipotalâmicos da fome e da saciedade contém elevada densidade de receptores para neurotransmissores e hormônios que influenciam o comportamento alimentar. Algumas das muitas substâncias que se demonstrou alterar o apetite e o comportamento alimentar, em estudos experimentais, são, em geral, categorizadas em: (1) substâncias orexígenas, que estimulam a alimentação; ou (2) substâncias anorexígenas, que inibem a alimentação.´´Mecanismos de feedback para controle da ingestão alimentar. O estiramento dos receptores gástricos ativa as vias sensoriais aferentes do nervo vago, inibindo a ingestão alimentar. O peptídeo YY (PYY), a colecistocinina (CCK) e a insulina são hormônios gastrointestinais liberados pela ingestão de comida, suprimindo alimentação adicional. A grelina é liberada pelo estômago, especialmente durante o jejum, estimulando o apetite. A leptina é um hormônio produzido em quantidades crescentes pelos adipócitos à medida que estes aumentam de tamanho. Inibe a ingestão alimentar.`` Neurônios e Neurotransmissores no Hipotálamo que Estimulam ou Inibem a Alimentação Existem dois tipos distintos de neurônios nos núcleos arqueados do hipotálamo especialmente importantes, tanto como controladores do apetite como do gasto energético: (1) neurônios pró-opiomelanocortina (POMC) que secretam o hormônio a-melanócito estimulante (a-MSH), juntamente com o transcrito relacionado à cocaína e à anfetamina (CART); (2) neurônios que produzem as substâncias orexígenas neuropeptídeo Y (NPY) e a proteína relacionada ao agouti (AGRP). A ativação dos neurônios POMC reduz a ingestão de alimentos e aumenta o gasto energético, enquanto a ativação dos neurônios NPY-AGRP tem efeitos opostos, ao elevar a ingestão e reduzir o gasto energético. Há uma troca de informações significativa entre esses neurônios e, como discutido adiante, os neurônios POMC/CART e AGRP/NPY parecem ser os principais alvos para as ações de diversos hormônios que regulam o apetite, incluindo a leptina, a insulina, a colecistocinina (CCK) e a grelina. Na verdade, os neurônios dos núcleos arqueados parecem ser o local de convergência de muitos dos sinais nervosos e periféricos que regulam os estoques energéticos. Os neurônios POMC liberam a-MSH, que então atua sobre os receptores da melanocortina, encontrados de modo especial nos neurônios dos núcleos paraventriculares. Conquanto existam pelo menos cinco subtipos de receptores de melanocortina (MCR). O MCR-3 e o MCR-4 são em particular importantes na regulação da ingestão alimentar e do equilíbrio energético. A ativação desses receptores reduz o consumo de alimentos, enquanto aumentam o gasto energético. Inversamente, a inibição do MCR-3 e do MCR-4 eleva bastante o gasto energético. O efeito da ativação do MCR de aumentar o gasto energético parece ser mediado, ao menos em parte, pela ativação de vias neuronais que se projetam dos núcleos paraventriculares para o núcleo do trato solitário (NTS), estimulando a atividade do sistema nervoso simpático. No entanto, os neurônios POMC e MCR-4 são encontrados também nos neurônios do tronco cerebral, incluindo o NTS, onde eles também têm sido sugeridos como reguladores da ingestão de alimentos e do gasto energético. O sistema da melanocortina hipotalâmica desempenha potente papel na regulação dos estoques energéticos do corpo, e defeitos da sinalização desta via estão associados à obesidade extrema. De fato, mutações do MCR-4 representam a causa conhecida mais comum de obesidade humana monogênica (gene único) e alguns estudos sugerem que as mutações MCR-4 possam responder por algo em torno de 5% a 6% da obesidade grave de início precoce em crianças. Em contraste, a ativação excessiva do sistema da melanocortina reduz o apetite. Alguns estudos sugerem que essa ativação possa desempenhar papel na gênese da anorexia associada às infecções graves aos tumores cancerosos ou à uremia. O AGRP liberado pelos neurônios orexígenos do hipotálamo é antagonista natural do MCR-3 e do MCR-4 e, provavelmente, aumenta a ingestão de alimentos pela inibição dos efeitos do a-MSH na estimulação dos receptores da melanocortina. Embora o papel do AGRP no controle fisiológico normal da ingestão alimentar não esteja claro, a formação excessiva de AGRP em ratos e em seres humanos, ocasionada por mutações genéticas, está associada à ingestão aumentada de alimentos e à obesidade. O NPY também é liberado pelos neurônios orexígenos dos núcleos arqueados. Quando os estoques energéticos do corpo estão baixos, os neurônios orexígenos são ativados para liberar NPY que estimula o apetite. Ao mesmo tempo, a atividade dos neurônios POMC é reduzida, diminuindo, assim, a atividade da via da melanocortina e estimulando adicionalmente o apetite. Controle do equilíbrio energético pelos dois tipos de neurônios do núcleo arqueado: (1) neurônios pró-opiomelanocortina (POMC), que liberam o hormônio estimulante de a-melanócito (a-MSH) e o transcrito relacionado à cocaína e à anfeta (CART), reduzindo a ingestão alimentar e aumentando o gasto energético e (2) neurônios que produzem a proteína relacionada ao agouti (AGRP) e o neuropeptídeo Y (NPY), aumentando a ingestão alimentar e reduzindo o gasto energético. O a-MSH liberado pelos neurônios POMC estimula os receptores da melanocortina (MCR-3 e MCR-4) nos núcleos paraventriculares (NPV), que então ativam as vias neuronais que se projetam para o núcleo do trato solitário (NTS), aumentando a atividade simpática e o gasto energético. O AGRP atua como um antagonista do MCR-4. Insulina, leptina e colecistocinina (CCK) são hormônios que inibem os neurônios AGRP-NPY e estimulam os neurônios POMC-CART adjacentes, reduzindo, assim, a ingestão alimentar. A grelina, um hormônio secretado pelo estômago, ativa os neurônios AGRP-NPY, estimulando a ingestão de alimentos. LepR, receptor leptínico; Y1R, receptor do neuropeptídeo Y1. Centros Neurais Que Influenciam o Processo Mecânico de Alimentação Outro aspecto da alimentação é o ato mecânico do processo alimentar. Se o cérebro é seccionado abaixo do hipotálamo, mas acima do mesencéfalo, o animal ainda pode executar os aspectos mecânicos básicos do processo alimentar. Ele pode salivar, lamber os lábios, mastigar os alimentos e deglutir. Portanto, os reais mecanismos da alimentação são controlados por centros no tronco encefálico. A função de outros centros na alimentação, por conseguinte, é a de controlar a quantidade da ingestão alimentar e colocar esses centros de mecanismos alimentares em ação. Os centros neurais superiores ao hipotálamo também desempenham papéis importantes no controle da alimentação, em particular, no controle do apetite. Esses centros incluem a amígdala e o córtex pré-frontal, intimamente acoplados ao hipotálamo. Deve-se lembrar, que porções da amígdala constituem parte importante do sistema nervoso olfatório. Lesões destrutivas na amígdala demonstraram que algumas de suas áreas aumentam a ingestão de alimentos, ao passo que outras a inibem. Além disso, a estimulação de algumas áreas da amígdala evoca o ato mecânico da alimentação. Importante efeito da destruição da amígdala em ambos os lados do cérebro é a “cegueira psíquica” na escolha dos alimentos. Em outras palavras, o animal (e presumivelmente, os seres humanos também) perde, ou ao menos parcialmente, o controle do apetite que determina o tipo e a qualidade da comida que ele ingere. FATORES QUE REGULAM A QUANTIDADE DE INGESTÃO DE ALIMENTOS A regulação da quantidade ingerida de alimento pode ser dividida em regulação a curto prazo, que diz respeito, em grande parte à prevenção da superalimentação a cada refeição, e a regulação a longo prazo, que se refere também em grande parte, à manutenção de quantidades normais dos estoques energéticos no corpo. Regulação a Curto Prazo da Ingestão de Alimentos Quando a pessoa é levada pela fome a comer voraz e rapidamente, o que é que desliga a ingestão de alimentos quando ela já comeu o bastante? Não houve tempo suficiente para que ocorressem alterações nos estoques corporais de energia, e são necessárias várias horas para que fatores nutricionais suficientes sejam absorvidos pelo sangue para que então provoquem a necessária inibição do apetite. Não obstante,é importante que a pessoa não coma em excesso e que ingira quantidade de alimento que se aproxime das necessidades nutricionais. Vários tipos de sinais rápidos de feedback são importantes para esses propósitos, tal como descrito nas seções seguintes O Enchimento Gastrointestinal Inibe a Alimentação: Quando o trato gastrointestinal é distendido, em especial o estômago e o duodeno, sinais inibitórios de estiramento são transmitidos, principalmente por via vagal, para suprimir o centro da fome, reduzindo assim o desejo de comida Fatores Hormonais Gastrointestinais Suprimem a Alimentação: A CCK, que é liberada principalmente em resposta à entrada de gordura e de proteínas no duodeno, entra no sangue e atua como hormônio para influenciar série de funções gastrointestinais, tais como contração da vesícula biliar, esvaziamento gástrico, motilidade intestinal e secreção de ácido gástrico. Porém, a CCK também ativa receptores em nervos sensoriais locais no duodeno, enviando mensagens para o cérebro via nervo vago, contribuindo para a saciedade e cessação da refeição. O efeito da CCK tem curta duração e a administração crônica apenas de CCK não apresenta efeito relevante na perda de peso. Assim, a CCK funciona principalmente para impedir o comer demasiado durante as refeições, mas não desempenha papel significativo na frequência das refeições ou no total de energia consumida. O peptídeo YY (PYY) é secretado em todo o trato gastrointestinal, mas em sua maior parte pelo íleo e pelo cólon. A ingestão de alimentos estimula a liberação de PYY, com as concentrações máximas sanguíneas sendo atingidas em 1 a 2 horas após a ingestão da refeição. Esses picos sanguíneos de PYY são influenciados pela quantidade e pela composição do alimento, com os níveis mais elevados de PYY sendo observados após refeições com alto conteúdo de gorduras. Embora injeções de PYY em ratos tenham demonstrado diminuir a ingestão de alimentos por 12 horas ou mais, a importância desse hormônio gastrointestinal na regulação do apetite humano ainda não está clara. Por motivos que não estão completamente compreendidos, a presença de alimento nos intestinos os estimula a secretar o peptídeo semelhante ao glucagon (GLP) que, por sua vez, acentua a produção e a secreção pelo pâncreas de insulina dependente da concentração da glicose. Tanto GLP como a insulina tendem a suprimir o apetite. Consequentemente, a ingestão de refeição estimula a liberação de diversos hormônios gastrointestinais que podem induzir a saciedade e reduzir a ingestão adicional de alimento A Grelina — Hormônio Gastrointestinal — Aumenta a Alimentação: A grelina é hormônio liberado principalmente pelas células oxínticas do estômago, mas também em grau muito menor pelo intestino. Os níveis sanguíneos de grelina se elevam durante o jejum, têm seu pico imediatamente antes da alimentação e então, caem com rapidez após a refeição, sugerindo possível papel na estimulação da ingestão alimentar. De igual modo, a administração de grelina aumenta a ingestão de alimento em estudos com animais, sustentando adicionalmente a possibilidade de que possa ser hormônio orexígeno. Contudo, seu papel fisiológico em seres humanos ainda é incerto. Receptores Orais Medem a Ingestão dos Alimentos: Quando um animal com fístula esofágica é alimentado com grande quantidade de comida, embora essa comida seja imediatamente perdida de novo para o exterior, o grau de fome é reduzido depois que quantidade razoável de alimento tenha passado pela boca. Esse efeito ocorre a despeito do trato gastrointestinal não ficar nem um pouco cheio. Por isso, postula-se que diversos “fatores orais”, relacionados à alimentação, tais como mastigação, salivação, deglutição e paladar, “medem” a comida à medida que ela passa pela boca e, depois que certa quantidade tiver passado, o centro hipotalâmico da fome fica inibido. Porém, a inibição provocada por esse mecanismo de medição é consideravelmente menos intensa e de duração mais curta do que é a inibição provocada pelo enchimento gastrointestinal, durando normalmente apenas 20 a 40 minutos. Regulação Intermediária e a Longo Prazo da Ingestão de Alimentos: Animal que tenha sido privado de alimento por longo período e que então tenha sido colocado em presença de alimento em quantidade ilimitada ingere quantidade muito maior do que o animal que tivesse sido mantido em dieta regular. Inversamente, o animal que tenha sido forçado a comer por muitas semanas come muito menos, quando lhe é permitido comer de acordo com seu próprio desejo. Portanto, o mecanismo de controle da alimentação corporal é dependente do estado nutricional do organismo. Efeito das Concentrações Sanguíneas de Glicose, Aminoácidos e Lipídios sobre a Fome e a Alimentação: Há muito tempo se sabe que redução da concentração sanguínea de glicose provoca fome, o que levou então à denominada teoria glicostática da regulação da fome e da alimentação. Estudos semelhantes demonstraram o mesmo efeito para as concentrações sanguíneas de aminoácidos e dos produtos de degradação dos lipídios, tais como os cetoácidos e alguns ácidos graxos, gerando as teorias regulatórias aminostástica e lipostática. Isto é, quando a disponibilidade de quaisquer dos três principais tipos de alimentos fica reduzida, o desejo por comida é aumentado, devolvendo eventualmente as concentrações dos metabólitos sanguíneos ao normal. As seguintes observações dos estudos neurofisiológicos da função de áreas específicas do cérebro também corroboram as teorias glicostática, aminostástica e lipostática: (1) aumento do nível da glicose sanguínea aumenta a frequência de disparo dos neurônios glicorreceptores no centro da saciedade, nos núcleos ventromedial e paraventricular do hipotálamo; e (2) o mesmo aumento do nível sanguíneo de glicose, simultaneamente, diminui os disparos dos neurônios glicossensitivos no centro da fome do hipotálamo lateral. Além disso, alguns aminoácidos e substâncias lipídicas afetam a frequência de disparo desses mesmos neurônios ou de outros intimamente associados. A Regulação da Temperatura e a Ingestão de Alimentos: Quando o animal é exposto ao frio, ele tende a aumentar sua ingestão; quando exposto ao calor, tende a diminuir sua ingestão de calorias. Esse fenômeno é provocado pela interação no interior do hipotálamo entre o sistema de regulação da temperatura e o sistema de regulação da ingestão alimentar. Isso é importante, porque a ingestão alimentar aumentada em animal com frio (1) aumenta seu metabolismo; e (2) fornece gordura para isolamento, ambos tendendo a corrigir o estado de frio. Sinais de Feedback do Tecido Adiposo Regulam a Ingestão de Alimentos: A maior parte da energia armazenada no corpo consiste em gordura, podendo sua quantidade variar consideravelmente em diferentes indivíduos. O que regula essa reserva de energia e por que existe tanta variabilidade entre os indivíduos? Estudos em humanos e em animais experimentais indicam que o hipotálamo pode avaliar o estoque de energia por meio das ações da leptina, hormônio peptídico liberado pelos adipócitos. Quando a quantidade de tecido adiposo aumenta (sinalizando excesso de armazenamento energético), os adipócitos produzem quantidades aumentadas de leptina, que é liberada para o sangue. A leptina então circula para o cérebro, onde atravessa a barreira hematoencefálica por difusão facilitada, ocupando os receptores da leptina em múltiplos locais no hipotálamo, especialmente os neurônios POMC e AGRP/NPY dos núcleos arqueados e os neurônios dos núcleos paraventriculares. A estimulação dos receptores leptínicos nesses núcleos hipotalâmicos inicia múltiplas ações que reduzem o armazenamento das gorduras, incluindo (1) redução da produção hipotalâmica de estimuladores do apetite, como NPY e AGRP; (2) ativação dos neurônios POMC,
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