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Crimes contra o patrimônio: Disciplina: Direito Penal 111 Usurpação (art. 161, caput) Suprimir ou deslocar tapume, marco ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia. - Pena de detenção de 1 a 6 meses, e multa. → Objeto jurídico Tutela-se de forma direta a posse, e indireta, a propriedade dos bens imóveis. → Elementos do tipo A ação nuclear típica está consubstanciada em dois verbos: suprimir, ou seja, fazer desaparecer/eliminar; ou deslocar, ou seja, transferir para outro local. → Objeto material Constituem objetos materiais do crime em tela: i. Tapume: são as sebes vivas, as cercas de arame ou de madeira, as valas ou banquetes, ou quaisquer outros meios de separação dos terrenos; ii. Marco: é toda coisa corpórea (pedras, piquetes, postes, árvores, tocos de madeira, padrões, etc.) que, artificialmente colocada ou naturalmente existente em pontos da linha divisória de imóveis; iii. Qualquer outro sinal indicativo de linha divisória: compreende todo sinal que sirva para assinalar os limites entre dois imóveis (exemplo, fossos, valetas, cursos d’água, etc.). → Sujeitos a) Sujeito ativo: aquele que suprime ou desloca o tapume, marco ou qualquer outro sinal indicativo da linha divisória; b) Sujeito passivo: É o proprietário ou possuidor do bem imóvel cujos limites foram alterados. → Elemento subjetivo É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de alterar os sinais divisórios da propriedade imóvel. Exige-se também a intenção de se apropriar, no todo ou em parte, de coisa alheia móvel, sendo necessário que o agente tenha a intenção de apossar-se da propriedade imóvel para seu uso e fruição. → Momento consumativo Consuma-se com a supressão ou deslocamento de tapume, marco ou qualquer outro sinal divisório. → Ação penal A ação penal é, via de regra, privada se a propriedade é particular e não há o emprego de violência; por outro lado, se a propriedade não é particular ou há emprego de violência, a ação penal será pública. Dano (art. 163) Crimes contra o patrimônio: Disciplina: Direito Penal 111 Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. - Assim, o artigo em tela, cuida propriamente do dano físico, ou seja, daquele que recai diretamente sobre a coisa, causando modificações de ordem material (exemplo, a destruição de um orelhão). → Objeto jurídico Tutela a propriedade e a posse de coisas móveis e imóveis. → Objeto material É a coisa alheia móvel ou imóvel, em cujo conceito se inclui também aquela perdida pelo dono. → Elemento do tipo As ações nucleares do tipo consubstanciam-se nos verbos: i. Destruir: demolir, desmanchar, exterminar, desfazer a própria coisa, de modo que esta perca a sua essência, ocorrendo quando houver perda da identidade da coisa (exemplo, cortar uma árvore etc.); ii. Inutilizar: tornar inútil, inservível, de modo que a coisa não perca sua individualidade, mas torne-se, total ou parcialmente, inadequada à sua finalidade (exemplo, quebrar um revólver); iii. Deteriorar: reduzir o valor da coisa (exemplo, tirar os ponteiros de um relógio). Vários são os meios de execução do crime: imediatos, exemplo, jogar o objeto no chão, amassá-lo com as mãos; mediatos, por exemplo, utilizar-se de um cão ou uma criança para danificar o objeto. → Sujeitos a) Sujeito ativo: aquele que destrói, inutiliza ou deteriora coisa alheia; b) Sujeito passivo: o proprietário ou o possuidor do objeto danificado. → Elemento subjetivo É o dolo, consubstanciado na vontade de praticar uma das condutas previstas no tipo penal. → Momento consumativo Trata-se de crime material. Consuma-se com o dano efetivo ao objeto material, total ou parcialmente. → Formas ✓ Simples: está prevista no caput (pena de detenção, de 1 a 6 meses, ou multa). ✓ Qualificada: pena de detenção, de 6 meses a 3 anos, e multa, além da pena correspondente à violência). Dano praticado com violência ou grave ameaça à pessoa (inciso I): tal delito somente se aperfeiçoa quando a violência à pessoa ou a grave ameaça são empregadas com o intuito de viabilizar a concretização dos danos, ou seja, antes ou durante a execução do crime; Uso de substância inflamável ou explosiva (inciso II): são substâncias inflamáveis o álcool, o petróleo, etc.; são substâncias explosivas a dinamite, a pólvora, etc. Assim, o uso dessas substâncias qualifica o dano, se o fato não constitui crime mais grave por colocar em risco a incolumidade pública; Crimes contra o patrimônio: Disciplina: Direito Penal 111 Danos contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos (inciso III): a expressão patrimônio deve ser considerada de forma ampla, englobando até mesmo os bens de uso comum do povo e os de uso especial. Exemplo: bancos de praça. Dano causado por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima (inciso IV): egoístico é o motivo quando se prende ao desejo ou expectativa de um ulterior proveito pessoal indireto, seja econômico, seja moral”. Exemplo: matar o cavalo competidor para ganhar a corrida mais facilmente. - Prejuízo considerável para a vítima: o sujeito ativo deve praticar o fato com intenção de causar prejuízo considerável à vítima. Ademais, a ação penal, nesse inciso, é privada. → Ação penal ✓ Ação penal privada: de acordo com o art. 167 do Código Penal é cabível no crime de dano simples (caput) e qualificado (somente na hipótese do inciso IV). ✓ Ação penal pública incondicionada: é cabível nas demais hipóteses do art. 167 do CP. → Outras condutas típicas danosas ✓ Art. 62: destruir, inutilizar ou deteriorar, bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial; arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial (pena de reclusão, de 1 a 3 anos, e multa); ✓ Art. 63: alterar o aspecto ou a estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida (pena de reclusão, de 1 a 3 anos, e multa); ✓ Art. 65: pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano (pena de detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa). - § 1º: se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico (pena é de 6 meses a 1 ano de detenção e multa); ✓ Art. 32: praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos (pena de detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa). - § 1º: incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. Crimes contra o patrimônio: Disciplina: Direito Penal 111 - § 2º: a pena é aumentada de 1/6 a 1/3, se ocorre morte do animal. Apropriação indébita (art. 168) Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção. → Objeto jurídico Tutela-se aqui o direito à propriedade. → Objeto material Somente a coisa móvel pode ser objeto material do crime em tela. → Elementos do tipo Consubstancia-se no verbo apropriar-se, que significa fazer sua a coisa de outrem; mudar o título da posse ou detenção desvigiada, com portando-se como se dono fosse. O agente tem legitimamente a posse ou a detenção da coisa, a qual é transferida pelo proprietário, de forma livre e consciente, mas, em momento posterior, inverte esse título, passando a agir como se dono fosse. -Exemplo: o agente aluga uma joia para utilizá-la em uma festa e depois resolve dela apoderar-se, comete o crime de apropriação indébita. O agente obtém a posse ou detenção do bem mediante lícita transferência deste pelo proprietário. Assim, não há o emprego de fraude, violência, grave ameaça, visto que, o proprietário transfere a posse ou detenção de forma livre e consciente. - Na apropriação indébita, a apropriação é posterior à aquisição da posse ou detenção do bem, pois inicialmente o agente está imbuído de boa-fé, não tendo a intenção de se apropriar dele, porém, num segundo instante, surge a vontade de tê-lo para si. A apropriação da coisa alheia pode-se dar de diversas maneiras: consumindo a coisa (“a” entrega a “a” prato de alimento para levar a “c”, e “b” ingere-o no caminho); alterando a coisa (o ourives que funde um tipo de ouro de menor valia do que aquele que lhe foi entregue para confecção de uma joia); retendo a coisa (o agente não devolve o objeto ou não lhe dá o destino conveniente, para o qual o recebeu); ocultando o objeto (o agente afirma que não recebeu a coisa). → Elemento normativo Exige o tipo penal que a coisa móvel seja alheia. → Sujeitos a) Sujeito ativo: qualquer pessoa que tenha a posse ou detenha licitamente a coisa móvel alheia, por exemplo, locatário; b) Sujeito passivo: é a pessoa física ou jurídica, titular do direito patrimonial diretamente atingido pela ação criminosa, ou seja, aquele que experimenta o prejuízo, que pode ser diverso daquele que entregou ou confiou a coisa ao agente. → Elemento subjetivo É apenas o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de apropriar- se da coisa alheia móvel, o que pressupõe a intenção de apoderar-se da res, Crimes contra o patrimônio: Disciplina: Direito Penal 111 o propósito de assenhorear-se dela definitivamente, ou seja, de não restituir, agindo como se dono fosse, ou de desviá-la do fim para que foi entregue. → Momento consumativo Trata-se de crime material. Consuma-se no momento em que o agente transforma a posse ou detenção sobre o objeto em domínio, ou seja, quando passa a agir como se fosse dono da coisa. → Formas a) Simples: está prevista no caput (pena de reclusão, de 1 a 4 anos, e multa); b) Privilegiada: será privilegiado quando o criminoso for primário e a coisa for de pequeno valor. Assim, o juiz deverá substituir a pena de reclusão por detenção, reduzir a pena de 1/3 a 2/3 ou aplicar somente multa. → Causas de aumento de pena A pena é aumentada de 1/3, quando: i. Depósito necessário (inciso I): é considerado depósito necessário aquele que se faz no desempenho de obrigação legal (depósito legal); o que se efetua por ocasião de alguma calamidade, como o incêndio, a inundação, o naufrágio, ou o saque (depósito miserável); ii. Apropriação indébita qualificada pela qualidade pessoal do autor (inciso II): são elas, o tutor, pessoa que rege o menor e seus bens; o curador, aquele que dirige a pessoa e bens de maiores incapazes; administrador judicial, pessoa incumbida da administração da falência; inventariante, quem administra o espólio até a partilha; testamenteiro, aquele que cumpre as disposições de última vontade do de cujus; e depositário judicial, a pessoa nomeada pelo juiz com a incumbência de guardar objetos até decisão judicial; iii. Coisa recebida em razão de ofício, emprego ou profissão (inciso III): necessário que o sujeito tenha recebido a posse ou detenção do objeto material em razão do emprego, ou seja, deve existir um nexo de causalidade entre a relação de trabalho e o recebimento. Observação: ofício, é a atividade, com fim de lucro, habitual e consistente em arte mecânica ou manual, exemplo, sapateiro; emprego, é a ocupação em serviço particular em que haja relação de subordinação e dependência, exemplo, empregada doméstica. Assim, exige-se a justificável confiança da vítima; e profissão: é a atividade habitual remunerada, de caráter intelectual, exemplo, advogado (o advogado que, depois de receber o valor da prestação alimentícia devida à sua cliente, se recusa a entregá-la, obrigando-a a uma ação de prestação de contas, para só depois de vencido nesta efetuar o pagamento, pratica o delito em comento). → Ação penal A competência no crime de apropriação indébita é do lugar onde o agente converte em proveito próprio a coisa que deveria restituir. - Na apropriação indébita praticada por representante comercial, é competente para processar e julgar o delito o Juízo do lugar da empresa onde seria efetuada a prestação de contas. Crimes contra o patrimônio: Disciplina: Direito Penal 111 Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada.
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