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XI EPCC Anais Eletrônico 29 e 30 de outubro de 2019 ADERÊNCIA CROMOSSÔMICA EM HÍBRIDOS SEXUAIS DE Urochloa Celina de Medeiros Ragalzi1, Joyce Lisboa da Silva2, Gabriel Luiz de Melo Sales3, Cacilda Borges do Valle4, Andréa Beatriz Diverio Mendes5, Maria de Fátima Pires da Silva Machado5 1Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Genética e Melhoramento, Universidade Estadual de Maringá – UEM. Bolsista Capes. celina_ragalzi@hotmail.com 2Mestranda do Programa de Pós Graduação em Genética e Melhoramento, Universidade Estadual de Maringá – UEM. Bolsista Capes. joycelisboa43@gmail.com 3Acadêmico do curso de Agronomia, Universidade Estadual de Maringá – UEM. gabrielmsales9@gmail.com 4Pesquisadora da Embrapa Gado de Corte – Campo Grande – MS. cacilda.valle@embrapa.br 5Professoras Doutoras do Departamento de Biotecnologia, Genética e Biologia Celular, Universidade Estadual de Maringá – UEM. abdmendes@uem.br/mfpsmachado@uem.br RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento meiótico e a viabilidade polínica de oito híbridos sexuais de Urochloa, pertencentes ao programa de melhoramento da Embrapa Gado de Corte – MS. Os microsporócitos foram preparados utilizando a técnica de esmagamento e corados com carmim propiônico a 1% e observados sob microscopia de luz. O comportamento cromossômico foi analisado da fase de metáfase I até a tétrade de micrósporos. Durante a análise citológica dos híbridos observou-se a presença de aderência cromossômica em três híbridos dentre os oito analisados. Essa alteração foi observada na meiose I e II dos híbridos R33 e 460-9 e na primeira fase da divisão meiótica do híbrido B1. A frequência da aderência foi variável entre os híbridos e entre as fases da meiose dentro de cada híbrido. A presença desta anormalidade culminou na formação de produtos finais anômalos, com micrósporos de diferentes tamanhos e com quantidade desbalanceada de material genético. Quando irregularidades ocorrem durante a meiose e culminam na formação de micrósporos desbalanceados e inviáveis o que acarreta em baixa produção de sementes. 1 INTRODUÇÃO Cultivares do gênero Urochloa são plantadas em 90% da área de pastagens tropicais cultivadas do Brasil, esta área atinge cerca de 100 milhões de hectares (JANK et al., 2014). As espécies importantes apresentam limitações que podem ser corrigidas pelo melhoramento genético envolvendo cruzamentos intra e interespecíficos. As gramíneas do gênero Urochloa são poliploides e se reproduzem por apomixia. Devido a poliploidia, observa-se durante a meiose associações cromossômicas múltiplas e um comportamento irregular dos cromossomos durante a meiose. Estas anormalidades podem resultar em gametas com números de cromossomos desbalanceados (VALLE et al., 2008). O caráter poliploide deste gênero, torna necessário que avaliações citogenéticas identifiquem as anormalidades meióticas que podem interferir na viabilidade do pólen e, consequentemente, na produção de sementes. Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento meiótico e a viabilidade polínica de oito híbridos sexuais de Urochloa, pertencentes ao programa de melhoramento da Embrapa Gado de Corte – MS. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Neste trabalho, foram avaliados oito híbridos sexuais de Urochloa, provenientes do programa de melhoramento da Embrapa Gado de Corte, situada em Campo Grande - MS. Estes híbridos foram escolhidos a partir de diferentes populações de estudos, de tal modo possuem genealogia diferentes (tabela 1). XI EPCC Anais Eletrônico 29 e 30 de outubro de 2019 Tabela 1. Lista dos híbridos sexuais de Urochloa selecionados para realização das avaliações citogenéticas neste trabalho. Híbrido Geração Genitor feminino Genitor masculino B13 1ª D24/2 Basilisk B1 1ª D24/2 Basilisk R33 1ª D24/27 Basilisk 460-9 3ª BS07 Desconhecido* 1121-9 3ª BS14/03 Desconhecido* 98-9 3ª Bs03/06 Desconhecido* 676-10 2ª BS09 Mulato II 1386-10 2ª 336-T1 B140 * Híbrido resultante de bloco de recombinação: população de meios-irmãos. Para as análises meióticas, os meiócitos foram preparados pela técnica de esmagamento e corados com carmim propiônico 0,5% ou 1%. Para a avaliação do comportamento meiótico, foram analisadas células a partir da fase da metáfase I até a tétrade de micrósporos. As células foram contabilizadas por fase e separadas as células normais e anormais. As células anormais foram separadas de acordo com a anormalidade. Após a contagem das células foi feita a porcentagem de células normais e anormais. As imagens contendo os meiócitos com as anormalidades mais representativas foram capturadas através do microscópio óptico Olympus CX 31, câmera SC 30 pelo programa AnalySIS getIT. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Durante a análise citológica, foram observadas anormalidades segregacionais e, além destas, a presença de aderência cromossômica. Essa alteração foi observada na meiose I e II dos híbridos R33 e 460-9 e na primeira fase da divisão meiótica do híbrido B1 (Tabela 2). A aderência cromossômica, caracterizada pela intensa aglomeração cromatínica, geralmente, têm início na fase de paquíteno e persiste durante toda a divisão celular. Essa alteração leva a formação de núcleos/micronúcleos picnóticos e posterior degeneração da cromatina. Como consequência dessas anomalias, os gametas resultantes são geralmente estéreis (MENDES-BONATO et al., 2007; FELISMINO et al., 2011). No híbrido B1, não foi possível diferenciar as fases da meiose I, mas 19,77% destas células apresentaram uma intensa aglomeração da cromatina, característica de aderência (Tabela 2). Por outro lado, no híbrido R33, a aderência se iniciou em metáfase I (Figura 1b) em baixa frequência (3,76%) e assim prosseguiu pelas duas próximas fases da meiose I (Tabela 2). Na prófase II (Figura 1d), metáfase II (Figura 1 e, f), e anáfase II (Figura 1g) houve um aumento na frequência desta anormalidade com o aparecimento de grandes núcleos/micronúcleos picnóticos na fase de metáfase II (Figura 1e-f). Esses grandes núcleos/micronúcleos picnóticos persistiram até telófase II. Não foi observada a formação de pontes cromossômicas características de aderência entre os cromossomos durante as anáfases I e II nos híbridos analisados. Entretanto, foi observado em anáfase I (Figura 1c), que alguns cromossomos ficavam unidos por finas pontes ainda na placa equatorial. Uma das consequências finais da aderência cromossômica é tida como a formação de produtos meióticos anômalos (MENDES-BONATO et al., 2007). Neste híbrido, estes produtos finais anômalos não foram observados. Entretanto, os micrósporos das tétrades apresentaram uma grande quantidade de micronúcleos de diferentes tamanhos (Figura 1h), sugerindo que os cromossomos envolvidos na aderência tenham sido rompidos por forças mecânicas formando os diversos micronúcleos. No híbrido 460-9, a aderência começou a se manifestar em prófase I (Figura 1a) e apresentou uma frequência mais elevada que o híbrido R33 (Tabela 2). Além de se XI EPCC Anais Eletrônico 29 e 30 de outubro de 2019 manifestar mais cedo no ciclo celular, este híbrido apresentou a formação de núcleo/micronúcleo picnóticos (Figura 1c) nas fases iniciais da meiose I. Uma outra diferença foi a ocorrência de uma citocinese adicional formando um micrócito e eliminando o núcleo/micronúcleo picnótico. Esta citocinese adicional foi observada na fase de metáfase II (Figura 1f). Neste híbrido foi observado uma pequena frequência de produtos finais anômalos (tabela 2) (Figura 1i). Tabela 2. Porcentagem de células com aderências cromossômicas nas fases I e II da meiose nos três híbridos de Urochloa. Fases da meiose Híbrido Prof I Met I Ana I Tel I Prof II Met II Ana II Tel II B1 19,77 - - - - R33 - 3,76 17,59 5,26 49,83 68,43 26,14 3,88 460-9 66,66 33,81 - 9,8 50,82 44,98 7,14 - Figura 1. Aderência cromossômica encontrada nos híbridos B1, R33 e 460-9. a) diacinesecom aderência; b) metáfase I com cromossomos aglomerados na placa metafásica; c) anáfase I tardia com fragmentos cromossômicos e núcleo/micronúcleo picnóticos (seta); d) prófase II com micronúcleo picnótico (seta); e-f) Metáfase II com núcleos picnóticos e citocinese anormal formando micrócito (seta); g) anáfase II com fragmentos cromossômicos; h) tétrade com micronúcleos nos quatro micrósporos (setas) e micronúcleo picnóticos em um micrósporo (cabeça de seta); i) produto final anômalo, com micrósporos com quantidade de material genético desbalanceado. A aderência cromossômica pode ser causada por fatores genéticos e ambientais. Para os híbridos B1, R33 e 460-9 pode-se descartar a hipótese que fatores ambientais possam ter causado a ocorrência da anormalidade, pois os híbridos estavam sob a mesma condição de cultivo dos outros cinco híbridos que não apresentaram aderência cromossômica. Poucas hipóteses têm sido formuladas para explicar as causas genéticas desta anormalidade. Gaulden (1987) hipotetizou que a aderência pode resultar de deficiências em proteínas não-histônicas e proteínas periféricas. Essas deficiências XI EPCC Anais Eletrônico 29 e 30 de outubro de 2019 poderiam ser causadas por uma mutação no gene codificador da proteína (aderência hereditária) ou por produção de proteínas anormais (aderência induzida Portanto, destaca-se a necessidade de estudos mais profundados que ajudem na elucidação das causas da aderência cromossômica. Quando irregularidades ocorrem durante a meiose e culminam na formação de micrósporos desbalanceados, os grãos de pólen formados, por sua vez, são inviáveis. A inviabilidade polínica acarreta em baixa produção de sementes, limitando o sucesso da hibridação. REFERÊNCIAS FELISMINO, M.F.; PAGLIARINI, M.S.; VALLE, C.B.; RESENDE, R.M.S. Meiotic stability in two valuable interspecific hybrids of Brachiaria (Poaceae). Plant Breeding, 131:402-408, 2011. FUZINATTO, V.A.; PAGLIARINI, M.S.; VALLE, C.B. Evaluation of microsporogenesis in an interspecific Brachiaria hybrid (Poaceae) collected in distinct years. Genetics and Molecular Research, 7:424-432, 2008. GAULDEN, M.E. Hypothesis: some mutagens directly alter specific chromosomal proteins (DNA topoisomerase II and peripheral proteins) to produce chromosome stickiness, which causes chromosome aberrations. Mutagenesis 2(5):357–365, 1987. GOLUBOVSKAYA, I. N. Meiosis in maize: mei genes and conception of genetic control of meiosis. Advances in Genetics, v. 26, 419-426, 1989. JANK, L. et al. The value of improved pastures to Brazilian beef production. Crop and Pasture Science, Victoria, v. 65, p. 1132-1137, 2014. MENDES-BONATO, A.B.; PAGLIARINI, M.S.; VALLE, C.B.; PENTEADO, M.I.O. A severe case of chromosome stickiness in pollen mother cells of Brachiaria brizantha (Hochst) Stapf (Gramineae). Cytologia, 66:287-291. 2001. MENDES-BONATO, A.B.; PAGLIARINI, M.S.; VALLE, C.B. Meiotic arrest compromises pollen fertility in an interspecific hybrid between Brachiaria ruziziensis x Brachiaria decumbens (Poaceae: Paniceae). Brazilian Archives of Biology and Technology, 50:831-837, 2007. VALLE, C. B. et al. Melhoramento genético de Brachiaria. In: RESENDE, R. M. S.; VALLE, C. B.; JANK, L. (Org.). Melhoramento de forrageiras tropicais. Campo Grande: Embrapa Gado de Corte, 2008. p. 13–53.
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