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XI EPCC Anais Eletrônico A APLICAÇÃO DO MÉTODO CANGURU EM PREMATUROS DE GESTAÇÕES DE ALTO RISCO Susany Franciely Pimenta¹, Francieli Ferreira de Andrade Batista², Márcia Aparecida dos Santos Silva Canario³, Natália Shinkai Binotto4, Talita Vidotte Costa5, Rosangela Aparecida Pimenta Ferrari 6 ¹ Enfermeira, Especialista, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-Pr. susanypimenta@hotmail.com ² Enfermeira, Mestranda, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-Pr. andrade.francieli@bol.com.br ³ Enfermeira, Doutoranda, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-Pr. marcia.s.s.canario@gmail.com 4 Enfermeira, Mestre, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-Pr. natalia_binotto@hotmail.com 5Enfermeira, Doutoranda, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-Pr.talita@uenp.edu.br 6Enfermeira, Docente, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-Pr. rosangelaferrari@uel.br RESUMO Este estudo tem por objetivo analisar a aplicação do Método Canguru em recém-nascidos prematuros de gestações de alto risco. Trata-se de um estudo transversal descritivo aninhado a uma coorte prospectiva. A análise desse estudo está restrita a maternidade de referência para parto de alto risco na 17° regional do Paraná, sendo a amostra final composta por 69 mulheres. A coleta de dados foi realizada, por meio de entrevista um dia após o parto. Estes foram analisados por meio do programa Statistical Package for Social Sciences, versão 20.0. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina, CAAE: 67574517.1.1001.5231. Foi aplicado o Método Canguru em apenas 32% da população participante. Quanto ao tempo da aplicação do Método Canguru 50% ocorreram de uma a duas horas após o parto. A prática do Método Canguru, apesar de ser amplamente discutido e fundamentando no meio científico, ainda encontra barreiras na sua execução trazendo prejuízos à saúde materna infantil. PALAVRAS-CHAVE: Gestação de Alto Risco; Mãe Canguru; Prematuridade. 1 INTRODUÇÃO O Método Canguru foi inspirado na Colômbia em 1979 como “Programa Madre Canguru”, tendo por objetivo reduzir o índice de mortalidade, infecção cruzada e custos da assistência neonatal. No Brasil, as discussões esta prática iniciou-se em 1990 devido a vários movimentos na área da saúde da mulher e da criança visando à redução da mortalidade materna e infantil (AIRES, 2015; BRASIL, 2017). Segundo a Organização Mundial de Saúde (ONU) 15 milhões de bebês nascem prematuro a cada ano, sendo que em 2015 a complicação do parto prematuro foi considerada a principal causa de morte de crianças menores de 5 anos. Quando sobrevivem, podem enfrentar uma vida de incapacidade, como dificuldades de aprendizagem, problemas visuais e auditivos (WHO, 2018). Em quase todos os países tem aumentado a prevalência da prematuridade, sendo um evento que aflige gestores de saúde em todo o país, pois contrasta com o aumento do desenvolvimento tecnológico na assistência médica e a diminuição da mortalidade infantil. A prematuridade expressa um problema de saúde pública complexo, pois se trata de uma questão multifatorial que se inter-relaciona e pode variar em diferentes populações (WHOa, 2018; OLIVEIRA et al., 2016). Devido a prematuridade, o recém-nascido apresenta características clínicas diversas que, na maioria das vezes, o faz necessitar de uma assistência em unidades de terapia intensiva neonatal (UTIN). A UTIN possui um dos setores mais complexos no ambiente hospitalar, uma vez que o estado de saúde o deste é crítico e necessita de uma equipe XI EPCC Anais Eletrônico multidisciplinar e recursos tecnológicos que são indispensáveis a garantir suas funções vitais (FONTES et al., 2011; TEIXEIRA et al., 2019). Entretanto esse setor pode resultar em estresse para o neonato e familiares, devido à necessidade de procedimentos invasivos, manipulações constantes, barulho e excesso de luminosidade. Assim muitas vezes os profissionais acabam não percebendo que sua atenção está voltada para o trabalho mecânico. Diante desse cenário, o Método Canguru traz um conceito de uma assistência mais humanizada (CARNIEL; MENDES; DE SÁ, 2018). Neste contexto, o Mãe Canguru é um método que auxilia no cuidado de bebês prematuros, particularmente aqueles com peso inferior a 2 kg. Inclui aleitamento materno exclusivo (ou quase exclusivo) e frequente, além de contato pele a pele e apoio à díade mãe-bebê e é capaz de reduzir a mortalidade segundo estudos realizados (BRASIL, 2015; CONDE‐AGUDELO; DÍAZ‐ROSSELLO, 2016). Foi instituído desde 2000 e se fortalece por meio de quatro fundamentos básicos, a saber: acolhimento ao bebê e à sua família; o respeito às individualidades; a promoção do contato pele a pele o mais precoce possível; e o envolvimento da mãe nos cuidados com o bebê. Atualmente, o Método Canguru é uma política de saúde pública incorporada como uma das várias estratégias que visam à redução da mortalidade infantil, tais como: Pacto pela Redução da Mortalidade Infantil no Nordeste e na Amazônia Legal e, recentemente, a Rede Cegonha (BRASIL, 2015; CONDE‐AGUDELO; DÍAZ‐ROSSELLO, 2016). Na busca de minimizar os efeitos adversos do nascimento prematuro e melhorar o cuidado neonatal, o Método Canguru propõe a valorização do momento evolutivo do recém- nascido e de seus pais com a participação da família nos cuidados ao bebê ainda no hospital (BRASIL, 2015). Considerando a relevância da temática no cenário nacional, o presente estudo visa analisar a aplicação do Método Canguru em recém-nascidos prematuros de gestações de alto risco. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo é parte de uma pesquisa multicêntrica financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com o título “Rede Mãe Paranaense na Perspectiva da Usuária: o cuidado da mulher no pré-natal, parto, puerpério e da criança”, envolvendo a Universidade Estadual de Londrina e a Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Cascavel e Foz do Iguaçu. Trata-se de um estudo transversal descritivo aninhado a uma coorte prospectiva. A população do estudo foi constituída, por mulheres/usuárias atendidas na maternidade de referência para o parto na Rede Mãe Paranaense na 17° Regional de Saúde que atendem a gestação de Alto Risco (Maternidade com Unidade de Terapia Intensiva Neonatal/Pediátrica e Adulto - Hospital Terciário). A análise desse estudo está restrita a maternidade referência para parto de alto risco na 17° regional do Paraná, certificadas pela Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) que atende exclusivamente através do Sistema Único de Saúde (SUS). Foi realizado cálculo amostral com base em 7012 partos no ano de 2016 em Londrina representando 64,24% da 17° regional (HU= 23,3%; MMLB= 76,7%). A amostra final acrescido 20% para o HU foram de 69 mulheres. Procedeu-se à coleta de dados da primeira etapa, sendo realizada no período de 23 de julho a 20 de dezembro de 2017, por meio de entrevista um dia após o parto, com aplicação de um formulário estruturado para obtenção de dados sócio demográfico, características do pré-natal, parto e pós-parto imediato. Os dados foram copilados no programa Microsoft Office Excel® 2013 e, posteriormente, transportados para o programa Statistical Package for Social Science XI EPCC Anais Eletrônico SPSS®, versão 20.0. Os resultados foram apresentados em tabelas e gráficos, sendo a análise estatística apresentada pela exposição dos percentuais estimados para cada variável. A pesquisa multicêntrica desenvolveu-se de acordo com as normas da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, foi autorizada pela Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, bem como pelas Diretorias das Regionais de Saúde e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (CEP/UEL) da Universidade Estadual de Londrina), sob o parecer nº 2.053.304,de 09 de maio de 2017, CAAE: 67574517.1.1001.5231. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Dentre as sessenta e nove mães participantes do estudo, apresentaram de 14 anos até mais de 35 anos, com a faixa etária predominante entre 20 a 34 anos (46,4%), raça branca (62,3%) e a maioria das mulheres viviam com um companheiro fixo (91%) (Tabela 1). Constatou-se boa escolaridade em 49,3% da amostra, (8 a 11 anos de estudo) e 40% exerciam ocupação remunerada (Tabela 1). Tabela 1: Perfil sociodemográfico de mulheres atendidas em uma maternidade referência para parto de alto risco na 17º Regional de Saúde após da implantação da Rede Mãe Paranaense (RMP). Paraná, 2017. Perfil Sociodemográfico Maternidade Alto Risco n % Idade De 14 a 19 anos 12 17,4 De 20 a 34 anos 32 46,4 ≥35 anos 25 36,2 Raça/Cor Branca 43 62,3 Não branca 24 5,7 Não Informado 2 3 Situação Conjugal Com companheiro 63 91,0 Sem companheiro 6 9,0 Não informado _ _ Escolaridade 1-3anos 8 11,5 4-7anos 23 33,3 8-11anos 34 49,3 ≥11anos 4 5,9 Ocupação materna Remunerada 28 40,0 Não remunerada 41 60,0 Não informado _ _ Total 69 100 Fonte: Dados da pesquisa As taxas de cesáreas foram mais elevadas correspondendo a 64% dos tipos de partos, 73% nascimentos a termo, entre 37 a 42 semanas, considerando o número total dos partos. Em relação ao peso dos bebês, 77% nasceram entre 2500 a 4000 gramas. Em XI EPCC Anais Eletrônico relação ao índice de APGAR considerado adequado, entre os escores 7 ao 10, 61% no primeiro minuto e 98,5% no quinto minuto (Tabela 2). Tabela 2. Características de recém-nascidos atendidos em uma maternidade referência para parto de alto risco na 17º Regional de Saúde após da implantação da RMP. Paraná, 2017. Características do RN Maternidade Alto Risco n % Tipos de Parto Parto Normal 24 35,0 Cesárea 44 64,0 Parto instrumental 1 1,4 Idade Gestacional De 32 a <37 semanas 19 28,0 De 37 a 42 semanas 50 73,0 Peso (gramas) <2500 11 16,0 De 2500 a 4000 53 77,0 >4000 5 7,2 Apgar 1min Sofrimento grave a moderado (3-6) 24 39,0 Adequado (7-10) 38 61,0 Apgar 5min Sofrimento grave a moderado (3-6) 1 1,4 Adequado (7-10) 68 98,5 Total 69 100 Fonte: Dados da pesquisa Foi aplicado o Método Canguru em apenas 32% da população participante (Gráfico 1). Gráfico 1: Aplicação do Método Canguru Fonte: Dados da pesquisa XI EPCC Anais Eletrônico Quanto o tempo da aplicação do Método Canguru 50% ocorreram de uma a duas horas após o parto (Gráfico 2). Gráfico 1: Tempo da aplicação do Método Canguru após o parto Fonte: Dados da pesquisa Sabe-se que a aplicação do Método Canguru, no cenário nacional, pode configurar uma influência positiva na introdução e manutenção do aleitamento materno e do estabelecimento do vínculo afetivo entre a mãe e seu bebê, e deve ser estimulado e aplicado em unidades neonatais, sobretudo pela gravidade clínica do recém-nascido prematuro (ALVES et al.,2019). Entretanto, o presente estudo revelou a baixa adesão no Método Canguru chegando a 32% na 17° Regional de Saúde mesmo após a implantação. Em consonância a esse resultado, um estudo recente em hospitais privados no Rio Grande do Sul também evidenciou uma carência na adesão ao método, sendo fundamental estratégias para uma prática diária, partindo principalmente do envolvimento e sensibilização da equipe de enfermagem (MANTELLI et al., 2017). Além disso, outro estudo na Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) identificou diversas dificuldades para sua aplicabilidade, como a falta de recursos, estrutura física e educação contínua, bem como o comprometimento da equipe profissional e instituição. Ressaltando a importância da elaboração de protocolos, adesão e a mudança de cultura pela equipe multiprofissional e gestores que vise garantir uma assistência ao neonato e familiares mais humanizado (SILVA et al., 2018). Considerando que 28% dos recém-nascidos foram prematuros, a ação dos profissionais é imprescindível para aplicação do Método Canguru, sobretudo pois é superior ao cuidado neonatal tradicional pela sua efetividade na amamentação, pela redução de complicações/reinternações no primeiro ano de vida, pela redução do impacto que tem o nascimento sobre as crianças e suas famílias, pela redução da mortalidade neonatal nos países em desenvolvimento e pelo favorecimento do desenvolvimento do recém-nascido pré-termo (BRASIL, 2015). Em estudo com dez mães de recém-nascidos no Distrito Federal, que descreve a aplicação do Método Canguru associada à prática da amamentação, indicou a prevalência do aleitamento materno após a alta hospital, além de contribuir para aquisição do vínculo afetivo e realização dos cuidados maternos com o filho (SPEHAR; SEIDL, 2013). Além disso, o Método Canguru promove a humanização da assistência ao recém- nascido e família, a prática do aleitamento materno, assim como a redução dos custos para os serviços de saúde e pode ser implementada na assistência hospitalar e ambulatorial. (SANTOS; AZEVEDO FILHO, 2016). XI EPCC Anais Eletrônico Ainda, há necessidade de um tempo de adaptação e de aprendizagem para a mãe do recém-nascido prematuro e da qualificação de intervenções realizados pelos profissionais da saúde (SPEHAR; SEIDL, 2013). A adoção de práticas humanizadas como Método Canguru fortalece o engajamento de políticas públicas que visam à redução da mortalidade materna e infantil, ações como contato pele a pele e aleitamento materno aumento a formação de vínculo afetivo e produz melhorias nas condições clinicas do recém-nascido (TEIXEIRA et al., 2019). 4 CONCLUSÃO A prática do Método Canguru, apesar de ser amplamente discutido e fundamentando no meio científico, ainda encontra barreiras na sua execução trazendo prejuízos à saúde materna infantil. É necessário que além de estratégias para melhora da aplicação do canguru também ocorra o envolvimento do profissional saúde com a execução do método, tornando a prática uma rotina essencial do serviço, visando os benefícios de uma técnica segurança, baseada em evidências e humanizada. REFERÊNCIAS AIRES L.C.P.; et al. Seguimento do bebê na atenção básica: interface com a terceira etapa do método canguru. Rev Gaúcha Enferm. 2015;36(esp):224-32. 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