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Definição - A icterícia é definida como coloração amarelada da pele, escleróticas e membranas mucosas consequentes à deposição, nesses locais, de pigmento biliar (bilirrubina), o qual se encontra em níveis elevados no plasma (hiperbilirrubinemia). - É clinicamente identificada quando os níveis séricos de bilirrubina estão entre 2–3 mg/100 ml ou > 2,5 md/dl (variação na literatura). O que desencadeia a icterícia? • Falha na produção - A produção está ocorrendo em excesso/de modo exagerado → muitas hemácias estão sendo quebradas. Dessa forma, os produtos da degradação da hemoglobina estão superproduzidos → elevação da formação de bilirrubina. • Falha no metabolismo - Falha no metabolismo e conjugação da bilirrubina ao chegar ao fígado, ou seja, falha na captação e transformação da bilirrubina. • Falha na excreção - A falha está no momento de excretar a bile pelos ductos biliares. Icterícia: manifestação clínica de doenças hepáticas e não hepáticas. Ex.: esferocitose hereditária/fetal – causa mais comum de anemia hemolítica devido a um defeito na membrana das hemácias. As hemácias são esféricas → esferócitos. - Os reticulócitos identificam a falha e começam a quebrar demais → produção de muita bilirrubina, muitas vezes não é conjugada → impregna na cabeça da criança (SNC) – Kernicterus. Ex.: tumor na cabeça do pâncreas → obstrução dos canalículos biliares – colédoco, por exemplo → falha na excreção. Metabolismo da bilirrubina - A bilirrubina é um produto final da degradação do grupo heme → responsável pelo transporte de O2 → proveniente em grande parte das hemoglobinas. • 80%: hemoglobina – destruição dos eritrócitos. • 20%: heme não hemoglobínico – mioglobinas e hemoproteínas. Importante: as hemácias são quebradas a cada 120 dias. Ou seja, a cada 120 dias os reticulócitos do baço, do fígado e da medula óssea formam novas hemácias. Heme → bilirrubina: ocorre em duas etapas • Destruição das hemácias → grupamento heme + globina. • Importante: a bilirrubina não conjugada é apolar → lipossolúvel. Sendo assim, ela tem atração pelos tecidos ricos em depósito de gordura, como o SNC, escleróticas e pele → ICTERÍCIA. Semiologia da icterícia - A bilirrubina não conjugada precisa sair do fígado e cair na circulação. Para isso, como o sangue é hidrossolúvel, ela se associa à albumina, por meio de uma ligação reversível. - Por meio da circulação, a bilirrubina não conjugada alcança o fígado, onde é então captada, conjugada e excretada. - Nos hepatócitos, na membrana sinusoidal, a bilirrubina não conjugada ligada à albumina se desprende e é captada. • Quando as membranas sinusoidais não funcionam, pela ação de algum fármaco, por exemplo, há falhas na captação da bilirrubina não conjugada. - No interior dos hepatócitos a bilirrubina não conjugada se liga à ligandina, a fim de que permaneça no interior do hepatócito sem retornar para o plasma. - A conjugação da bilirrubina então ocorre pela ação da enzima, UDP-glicuronosil transferase (UDP-GT) → bilirrubina conjugada. • Problemas na enzima UDP-GT configuram problema na etapa de conjugação. • Síndrome de Gilbert – o paciente tem icterícia leve (cerca de 6mg/100mL). • Gilbert e Crigler-Najjar Tipo 1: ausência da UDP-GT. Não há formação bilirrubina conjugada. • Gilbert e Crigler-Najjar Tipo 2: deficiência da UDP-GT mais moderada, mas menor que 6mg/100mL também → manifestação clínica mais importante. - Após a produção da bilirrubina conjugada, ela é transferida para os condutos biliares. - A membrana canalicular é a membrana para a saída dos canalículos biliares. - A saída da bilirrubina conjuga é muito dependente de energia (transportador canalicular – MRP2). Dessa forma, nos pacientes em uso de certos medicamentos ou em sepse, há interferência na membrana canalicular → falha na excreção da bilirrubina conjugada → ICTERÍCIA. - Tumores nos condutos biliares também impedem a chegada da bilirrubina conjugada no intestino onde é hidrolisada por enzimas bacterianas (íleo e cólon),, formando urobilinogênio. • Urobilinogênio – responsável, em última instância, pela coloração escura/amarronzada das fezes. Parte é excretada nas fezes e parte é reaproveitada (reaproveitamento do grupo heme). Síndrome colestática - Ducto hepático direito + ducto hepático esquerdo → ducto hepático comum + ducto cístico (vesícula biliar) → ducto colédoco → duodeno (Ampola de Vater). - Quando a bilirrubina direta não é jogada para os condutos biliares iniciam-se as manifestações clínicas compatíveis com a síndrome colestática, ou seja, estase da bile. - Desse modo, não chega bile no duodeno por meio da papila de Vater → a bile não é absorvida no íleo terminal/ intestino grosso formando o urobilinogênio → acolia ou hipocolia fecal. - A bilirrubina direta acumulada no hepatócito começa a extravasar e se liga à albumina de forma reversível ou irreversível. - A bilirrubina direta que se liga à albumina de forma irreversível não é filtrada pelo rim, já que a albumina é uma proteína grande. No entanto, a bilirrubina direta que se liga à albumina de modo reversível, pode circular livre e ser excretada pelos rins → colúria (urina cor de Coca-Cola). Em suma: Bilirrubina INDIRETA elevada → problema na produção ou na captação e conjugação → icterícia. Bilirrubina DIRETA elevada → problema na excreção → icterícia, colúria e acolia/hipocolia. Classificação das icterícias - As causas e os mecanismos de hiperbilirrubenemia de acordo com a fração predominante: 1. Não conjugada – bilirrubina indireta. • Aumento da produção de bilirrubina. - Hemólise: esferocitose, anemia falciforme. - Eritropoiese ineficaz. - Urobilinogênio fecal e urinário podem estar elevados. • Diminuição da captação hepática/transporte de bilirrubina. - Drogas (Rifampicina, Probenecibe etc). - Jejum. - Sepse. • Distúrbio na conjugação. - Deficiências hereditárias: síndrome de Gilbert, Crigler – Najjar 1 e 2. - Deficiências adquiridas: drogas, sepse. Há icterícia sem colúria e acolia fecal. 2. Conjugada – bilirrubina direta. • Defeito na excreção (intra-hepático). - Síndrome Dubin-Johnson. - Síndrome de Rotor. • Desordens adquiridas. - Doença hepatocelular. - Drogas: anticoncepcional/metiltestosterona. • Obstrução biliar (extra-hepático) - Cálculos – colelitíase. - Estenoses. - Tumores – papila, cabeça de pâncreas, colangiocarcinoma ou duodeno. Há icterícia e colúria, podendo haver acolia/hipocolia fecal. Abordagem do paciente ictérico - Boa história clínica + exame físico. • Anamnese: idade, profissão (trabalha com agentes químicos que podem estar agredindo/lesando o fígado e, assim, comprometendo a captação e conjugação da bilirrubina?), início das manifestações clínicas, sinais além da icterícia, como colúria ou acolia fecal etc. • Recém-nascido: hiperprodução? Relação com a amamentação. • Paciente idoso: Perda de peso? (pode haver processo neoplásico associado). - Avaliação laboratorial. • Bilirrubinas totais e frações (direta e indireta) e enzimas hepáticas. - Exames de imagem. • Ultrassonografia (USG). • Tomografia Computadorizada (TC). • Colangiorressonância magnética (CRNM). • Ultrassom endoscópico (USE). • Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE). Anamnese - Instalação da icterícia: • Abrupta: colelitíase ou colédocolitíase. • Insidiosa: processo neoplásico, problemasna conjugação ou no metabolismo. - Primeiro episódio x recorrência: • Tumor de papila duodenal – recorrências. - Sintomas associados: • Perda ponderal - processo neoplásico. • Colúria e/ou acolia fecal. - Consumo de álcool: interfere na captação e metabolização hepática. - Uso de medicamentos. Exame físico - Avaliar o paciente sob boa exposição à luz natural. - PELE, ESCLERA e FRÊNULO LINGUAL ≠ hipercarotenemia (palma das mãos). - Classificação/grau da icterícia: 1+ a 4+. Na imagem abaixo, paciente caquético (parece síndrome consumptiva) – há perda de proteínas, de massa muscular → fala a favor de processo neoplásico → acometimento das vias biliares. • Inspeção - Icterícia. - Alimentos x bilirrubina. Ex.: ingestão de muita cenoura. - Massas, abaulamentos, assimetrias, implantação de pelos, ginecomastia (comum em hapatopatas), aranhas vasculares (hipertensão portal), eritema palmar, equimoses. • Percussão - Determinar a hepatimetria - na linha hemiclavicular direita e esquerda. Limite superior - som claro pulmonar → submaciço → maciço. Limite inferior – fossa ilíaca direita: som timpânico submaciço → maciço. • Palpação - Importante para determinar a quantos centímetros do rebordo costal se encontra o fígado. - Borda hepática: regular ou irregular. - Refluxo hepatojugular: hipertensão por estase jugular. - Vesícula biliar: Sinal de Courvoisier / Courvoisier- Terrier → vesícula biliar altamente palpável, mas indolor. Muito correlacionado com neoplasia, principalmente da porção distal das vias biliares, como tumor de cabeça de pâncreas. - Sinal de Murphy, no ponto cístico (borda lateral do músculo reto abdominal junto ao rebordo costal) → cessar brusco da inspiração profunda durante a palpação → indica processo inflamatório. Icterícia obstrutiva - Quadro clínico • Icterícia, colúria, acolia, prurido significativo; • Dor abdominal – cálculos biliares (colelitíase); • Febre, calafrios – colangite; - Indica estase da bile e proliferação bacterina nessa bile. • Icterícia flutuante – tumores da papila; • Anorexia, emagrecimento – neoplasias. - Exame físico • Icterícia; • Sinal de Courvoisier. Icterícia não obstrutiva - Quadro clínico • Icterícia, prurido; • Fase prodrômica – febre, náuseas, vômitos...; • Dor ausente. Exames laboratoriais - Agressão hepatocelular → hepatite • AST = TGO • ALT =TGP - Agressão colestática → estase das vias biliares • Fosfatase alcalina = FA • Gama-glutamiltransferase = GGT - Função hepática • Bilirrubinas • Albumina • Tempo/atividade protrombina Exames de imagem - USG • Exame mais utilizado na prática clínica; • Diagnóstico, guia terapêutico; • Não invasivo; • Avalia parênquima hepático (cirrose, esteatose) e vias biliares, vasos e cavidade abdominal – ascite (função hepática reduzida → menor produção de albumina). • Desvantagem: é operador dependente. Se o ultrassonografista não for tão capacitado, a avalição pode ser comprometida. Na imagem acima, cálculo na vesícula biliar (colelitíase) → sombra acústica. - Tomografia computadorizada • Avalia o parênquima hepático. • Não avalia adequadamente as vias biliares. - Colangiorresonância • Melhor avaliação das vias biliares. - Colangiografia • Intraoperatória; • CPRE – somente terapêutica, não é usada para fins diagnósticos.
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