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PSICOLOGIA E 
A PESSOA COM 
DEFICIÊNCIA
Daiane Duarte 
O conceito de deficiência
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 Reconhecer as interpretações do conceito de deficiência ao longo
da história.
 Analisar o conceito de deficiência a partir de abordagens atuais.
 Reconhecer que deficiência não é um sinônimo de incapacidade.
Introdução
Os debates em torno dos conceitos de deficiência envolvem uma mul-
tiplicidade de elementos, que vão desde a necessidade de considerar 
a sua natureza política até a superação do modelo biomédico. Desse 
modo, a descrição da deficiência envolve questões de direitos humanos 
e reflexões acerca da soberania do modelo biomédico, a qual precisa ser 
superada. De forma geral, a questão da deficiência pode ser observada 
como intrínseca à natureza humana, considerando que quase todas as 
pessoas terão uma deficiência de ordem temporária ou permanente em 
alguma etapa de seu desenvolvimento. 
Neste capítulo, você vai estudar o conceito de deficiência ao longo 
da história, de acordo com o pensamento e a cultura de cada época. A 
seguir, vai conhecer diferentes abordagens para o conceito de deficiên-
cia e, por fim, identificar a deficiência como lugar para a diferença e 
potencializadora da diversidade e superação das barreiras de todas as 
ordens — e não como sinônimo de incapacidade.
História do conceito de deficiência
As diferenças nos modos de ser e existir são consideradas, analisadas e pon-
deradas desde os tempos mais longínquos. Na Grécia Antiga, a defi ciência 
— principalmente a referida na ordem intelectual — chegou a ocupar o status 
de privilégio, por se caracterizar como certa liberdade presente nos indivíduos 
que a manifestavam, sob a forma de delírios (PELBART, 1989).
Sócrates e Platão ressaltaram aspectos da deficiência em seus discursos. 
Platão deixou registrada, em seus escritos como Banquete e Fedro, a defi-
ciência manifesta como Manikê, referindo-se ao delirante, para em seguida 
relacioná-la à arte divinatória Mantikê. Assim, as deficiências e os modos de 
estar no mundo se manifestavam por meio das diferenças — algo ao mesmo 
tempo especial e limitador (PELBART, 1989). 
O filósofo Hipócrates, considerado o “pai da medicina” (460–377 a.C.), 
conectou o que denominou “loucura” a implicações orgânicas. Nesse sentido, 
foi pioneiro ao propor uma interpretação conectada a doenças ou deficiências 
baseadas em origens e manifestações biológicas (PESSOTI, 1997). 
Nesse sentido, surgiram no século XVI maneiras de tratar os diferentes, 
os que não se encaixavam no cumprimento das regras, ao mesmo tempo em 
que eles foram removidos do convívio social. Além de pensões e hospedarias 
específicas para esse público, cujo intuito era retirá-los da circulação das ruas 
e ainda usá-los como objetos de estudo, havia a chamada Nau dos Loucos. 
Tratava-se de uma embarcação que se propunha a navegar pelas águas calmas 
de rios e canais da Europa como um depósito para “loucos” e “leprosos” 
(FOUCAULT, 1978, p. 12). 
Entretanto, foi somente no início do século XIX, depois de muita barbárie 
no tratamento de pessoas com algum tipo de deficiência, que Philippe Pinel 
conseguiu inserir uma evolução do conceito de loucura, ao caracterizá-la 
como doença mental e, em seguida, como deficiência mental. Considerado 
o fundador da psiquiatria, Pinel estabeleceu a necessidade de permitir que o 
modo de ser dos sujeitos pudesse se expressar, determinando o desencarce-
ramento dessas pessoas com deficiências intelectuais e indicando a criação 
de lugares específicos para tratamento com estímulos adequados. Foi assim 
que Pinel se tornou também um dos fundadores da clínica médica (FRAYZE-
-PEREIRA, 1993). 
Apesar de todo o esforço para a condução de um tratamento moral das 
pessoas com deficiência intelectual, houve, ao longo de todo o século XIX, 
um alastramento da criação de asilos, os quais acabaram sendo concebidos 
 O conceito de deficiência 2
como manicômios. Nesses locais, os tratamentos visavam à cura e, para isso, 
não mediam esforços para aplicar métodos que moldassem os comportamentos 
dos deficientes. Por meio de técnicas, aparelhos e medicações, buscavam a 
contenção dos sintomas, sem considerar as singularidades e peculiaridades 
de cada sujeito.
Foi durante a transição do século XIX para o século XX que surgiu uma 
preocupação com a linearidade das manifestações das deficiências. A partir 
disso, os fisiatras e estudiosos da época se preocuparam em contabilizar e 
categorizar as deficiências intelectuais sob o ângulo de suas funcionalidades. 
Então, estabeleceu-se na América do Norte, em 1880, uma espécie de censo 
com o primeiro esboço de um manual diagnóstico, no qual as deficiências 
intelectuais foram organizadas em sete categorias: mania, melancolia, mono-
mania, paresia, demência, dipsomania e epilepsia (BLACK; GRANT, 2015). 
O primeiro esboço da formulação da declaração dos direitos humanos 
também ocorreu nos Estados Unidos. O documento alertava para a necessidade 
de fiscalizar e orientar as instituições que ofereciam tratamento às pessoas 
com deficiências intelectuais, buscando inibir internações arbitrárias e maus 
tratos que poderiam estar disfarçados sob a forma de tratamento. Esses mo-
vimentos em direção à garantia de direitos e tratamento digno promoveram 
avanços na psiquiatria enquanto ciência e conduziram inspirações para as 
ciências naturais. Além disso, auxiliaram no despertar de descobertas médicas 
e bacteriológicas, da anatomia patológica e da então recente neurologia, que 
se propunha a conectar os aspectos ligados à organicidade e à funcionalidade 
da estrutura cerebral aos comportamentos humanos (LAPLANTINE, 2010). 
Com a demanda por compreensão dos sujeitos com deficiências e das suas 
especificidades, tornou-se mais viável buscar tratamentos que se ancorassem 
no desenvolvimento das necessidades específicas de cada um. Despertou-se 
para a importância de conduzir tratamentos que escapassem de uma lógica 
que rotula e acaba por aniquilar o princípio individual, enxergando apenas as 
limitações e os sintomas, e seguindo as suas intervenções somente na direção 
de uma normatização e um silenciamento das diferenças (FERREIRA, 2000). 
No Brasil, até a construção da Constituição Federal de 1988, os termos 
“excepcional” e “deficiente” eram utilizados para definir as pessoas com 
deficiência. Entretanto, por se tratar de uma definição limitada e por vezes 
pejorativa, implicava necessidade de mudanças. Assim, a atenção às pessoas 
com deficiências aparece em momentos bem pontuais da Constituição, como 
consta nos seguintes artigos (BRASIL, 1988, documento on-line):
3 O conceito de deficiência 
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, indepen-
dentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
[...]
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a 
promoção de sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora 
de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à pró-
pria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
[…]
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, 
preferencialmente na rede regular de ensino;
[…]
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação 
artística, segundo a capacidade de cada um.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao 
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, 
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à 
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda 
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
[…]
II - criação de programas deprevenção e atendimento especializado para os 
portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração 
social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o 
trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, 
com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos.
§ 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios 
de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de 
garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência.
Somente em 1990, com a assinatura na Declaração de Caracas, documento 
que buscou propor uma reestruturação da assistência psiquiátrica, os direitos 
das pessoas com deficiência começaram a ser constituídos enquanto política 
pública (OPAS/OMS, 1990). Esse documento alertou para a necessidade de 
criação de políticas públicas no Brasil e levou à criação do Estatuto da Pessoa 
com Deficiência, que se estabeleceu a partir da Convenção sobre os Direitos 
das Pessoas com Deficiência da ONU e o seu Protocolo Facultativo, ratificados 
na forma do Artigo 5º da Constituição Federal.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência é destinado a estabelecer as diretrizes e 
normas gerais, bem como os critérios básicos para assegurar, promover e proteger 
o exercício pleno e em condições de igualdade de todos os direitos humanos e 
liberdades fundamentais pelas pessoas com deficiência. Além disso, esse Estatuto 
visa à inclusão social e cidadania plena e efetiva da pessoa com deficiência, seja 
por ordem física, sensorial (auditiva e visual) ou intelectual (BRASIL, 2015). 
 O conceito de deficiência 4
A Organização Mundial de Saúde (OMS) (2004) possui duas classificações que se referem 
aos estados de saúde: a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas 
Relacionados à Saúde, que corresponde à décima revisão da Classificação Internacional de 
Doenças (CID-10), e a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde 
(CIF). A CIF (conhecida como CIF1) tem como objetivo geral proporcionar uma linguagem 
unificada e padronizada, assim como uma estrutura de trabalho para a descrição da 
saúde e de estados relacionados com a saúde. A classificação define os componentes 
da saúde e alguns componentes do bem-estar relacionados com a saúde, que envolvem 
aspectos psicossociais, como educação e trabalho. Nesse sentido, a CIF1 se organiza em 
torno de domínios descritos com base na perspectiva do corpo, do sujeito e da sociedade 
em duas listas básicas: funções e estruturas do corpo, e atividades e participação. Ela 
busca compreender como o sujeito se organiza em seu viver por meio da deficiência, 
ou seja, quais as facilidade e dificuldades em viver com uma deficiência. A CIF também 
relaciona os fatores ambientais que interagem com todos esses constructos. Assim, ela 
permite ao utilizador registrar perfis úteis da funcionalidade, incapacidade e saúde dos 
sujeitos em vários domínios. O documento completo está disponível no link a seguir.
https://goo.gl/8KKZeW
Nas discussões mais recentes sobre a caracterização do conceito de deficiên-
cia, é possível acompanhar uma transição para o reconhecimento e a expansão 
das possibilidades de existir de cada pessoa, para além de normas e padrões. 
Gaudenzi e Ortega (2016) propõem a visualização do conceito de deficiência 
em conformidade com a normatividade, escapando das lógicas enclausurantes 
da normalidade. Normatividade refere-se ao desenvolvimento de autonomia 
em conformidade com a subjetividade e as especificidades de cada sujeito. 
Abordagens atuais sobre deficiência
A partir dos anos 2000, o conceito de defi ciência passou a ser percebido de 
maneira ampliada, buscando compreender o sujeito de maneira integrada ao 
seu contexto. Dessa maneira, as políticas que promovem o apoio e o assis-
tencialismo buscam se caracterizar como instrumentos de emancipação da 
pessoa com defi ciência (FONSECA, 2008). Desse modo, faz-se prevalecer o 
equilíbrio para assegurar condições mínimas à efetiva inclusão social.
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi realizada 
na sede das Nações Unidas, em Nova York, no ano de 2006. Nela, é a palavra 
5 O conceito de deficiência 
respeito que conduz o reconhecimento pleno do direito das pessoas com 
deficiência de viver de forma autônoma e plena em sociedade — ou seja, nem 
desprezo, nem indiferença, nem simpatia, mas simplesmente respeito. Essa 
convenção da ONU não visava à criação de novos direitos, mas especificou os 
existentes, que preferencialmente deveriam se ater às condições individuais das 
pessoas com deficiência, para que elas pudessem ter as mesmas oportunidades 
que a maioria dos seres humanos (FERREIA; OLIVEIRA, 2007).
Assim, a Convenção Internacional Sobre os Direitos da Pessoa com De-
ficiência, assinada em Nova York, em 30 de março de 2007, também refere 
um conceito de deficiência muito mais adequado à contemporaneidade. Em 
seu primeiro artigo, descreve que pessoas com deficiência são aquelas que 
têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou 
sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir a 
sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com 
as demais pessoas (ARAUJO, 2011).
Nesse sentido, consta em documentos como o Estatuto da Pessoa com 
Deficiência, instituído a partir da Lei13.146, de 6 de julho de 2015 (BRASIL, 
2015), que os direitos das pessoas com deficiência devem ser assegurados 
em conformidade com as suas singularidades. Além disso, devem estar fun-
damentados nos princípios da universalidade e da solidariedade. Para isso, o 
Estado é responsável por propiciar condições mínimas para que as pessoas 
com deficiência possam de fato se inserir na sociedade, com participação 
plena e efetiva, em que seja possível viver com independência e dignidade 
(BRASIL, 2015). 
As políticas públicas da atualidade utilizam um conceito de deficiência, 
de forma geral, no qual o sujeito possa conquistar espaço para existir, sem 
precisar se limitar por barreiras arquitetônicas, estruturais, sociais, culturais 
ou econômicas que o coloquem em desvantagem em relação a quem não possui 
deficiência. Conforme o relatório mundial sobre a deficiência (ORGANIZA-
ÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012), as pessoas com deficiência representam 
15% da população mundial, o que significa cerca de um bilhão de sujeitos. 
Dessa maneira, configura-se na minoria mais presente no planeta, sendo esse 
fato promovedor de urgências para a criação, priorização e seguridade dos 
direitos, além do estabelecimento de políticas públicas específicas.
Outro ponto desse relatório pode ser relacionado às desigualdades encon-
tradas pelas pessoas com deficiência, como carências no acesso à saúde e à 
educação, além das constantes exposições a violências e à vulnerabilidade 
social e econômica, impactando negativamente no desenvolvimento desses 
sujeitos. As deficiências circulam pelos mais variados aspectos dos sujeitos, 
 O conceito de deficiência 6
no que se refere aos tipos e graus de deficiência. Em outras palavras, o sujeito 
pode apresentar desde alguma dificuldade ou uma grande dificuldade até 
incapacidade de locomoção, visual, auditiva ou deficiência intelectual. É 
possível ainda apresentar deficiências múltiplas, com duas ou mais deficiên-
cias associadas, como na paralisia cerebral, na qual é comum que a pessoa 
apresente deficiência intelectual, dificuldades para locomoção e audição e, em 
alguns casos, até mesmo na visão (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 
2012). Tais aspectos tornam as pessoas com deficiências um grupo social 
extremamente heterogêneo e com uma imensa diversidade de manifestações.
O Relatório Mundial sobre as Deficiências (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012), 
criado pela OMS, foca em medidas para melhorar a acessibilidade e igualdade de 
oportunidades, promover a participação e inclusão, e elevar o respeito pela autonomia 
e dignidadedas pessoas com deficiência. Em sua manifestação escrita, define termos 
como deficiência, discutindo a prevenção e as suas considerações éticas. Apresenta 
também a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) 
e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD), e discutindo 
deficiência e direitos humanos, bem como deficiência e desenvolvimento. Além disso, 
aborda outros aspectos relacionados à prevalência da deficiência e à situação das 
pessoas com deficiência em todo o mundo, apresentando o acesso aos principais 
serviços de saúde para pessoas com deficiência. Ainda, discute reabilitação, incluindo 
terapias e dispositivos assistivos, investiga serviços de suporte e assistência e explora os 
ambientes inclusivos, tanto em termos de acesso físico a edifícios, transporte e demais, 
como o acesso aos ambientes virtuais da tecnologia da informação e comunicação. 
Deficiência não é sinônimo de incapacidade
Ainda na primeira metade do século XX, surgiu o modelo biomédico sobre o 
conceito de defi ciência, interpretando-a como mera barreira ou incapacidade 
a ser superada pela pessoa que a portava. Em seguida, instalou-se a transição 
para o modelo social do conceito de defi ciência, relacionado à inclusão da 
pessoa com defi ciência e à superação das barreiras estruturais. Atualmente, o 
paradigma dos direitos humanos é inserido, no intuito de garantir a dignidade, 
a autonomia e o acesso a todos os direitos sociais da pessoa com defi ciência, 
bem como o combate à violação de seus direitos (SCHMIDT, 1997).
7 O conceito de deficiência 
Na atualidade, há uma preocupação para além das limitações impostas 
pela própria deficiência: construir constantemente espaço para a superação 
de barreiras ao pleno desenvolvimento do sujeito com deficiência. As políticas 
públicas direcionadas às pessoas com deficiência, assim como as problema-
tizações do contexto estimuladas pelas convenções sobre os seus direitos, 
buscam distanciar o conceito de deficiência do de incapacidade, a fim de não 
restringir o conceito de deficiência a aspectos médicos. Ao mesmo tempo, 
são incorporados aspectos sociais, ou seja, a pessoa com deficiência deve ser 
compreendida para além dos aspectos físicos, sensoriais, intelectuais e mentais, 
destacando a conjuntura social e cultural em que o sujeito com deficiência 
está inserido (FONSECA, 2008). Assim, o sujeito, visto além da deficiência 
e de suas barreiras de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, pode 
ser contemplado por meio de outros cenários para o desenvolvimento integral 
de suas potencialidades.
Nesse sentido, as políticas públicas garantem à pessoa com deficiência 
o recebimento de benefício assistencial (quando o indivíduo se encaixa em 
critérios socioeconômicos), tendo garantia de benefícios como isenção de 
impostos como o IPI; preenchimento do percentual de funcionários com 
deficiência em empresas com mais de cem empregados; vagas destinadas às 
pessoas com deficiência em concursos públicos; participação nas paraolim-
píadas e atendimento prioritário (FONSECA, 2008).
Ademais, as políticas públicas promovem a garantia de espaço para que as 
pessoas com deficiência possam demonstrar as suas potencialidades e os seus 
talentos, especialmente nas áreas em que possuem maior desenvolvimento. A 
partir disso, o deficiente poderá encontrar uma maneira de ser visto enquanto 
sujeito integral, para além da deficiência.
Ao longo da história, o conceito de deficiência e a visão sobre a pessoa 
com deficiência enfrentaram muitos percalços. Nem sempre foi possível 
priorizar o desenvolvimento do sujeito integral, com respeito e construção 
da autonomia. No entanto, toda essa bagagem conduziu à consideração de 
aspectos fundamentais e indispensáveis, como a compreensão do sujeito em 
sua integralidade e singularidade.
 O conceito de deficiência 8
Stephen William Hawking, físico teórico e cosmólogo britânico, tornou-se um dos 
mais consagrados cientistas do nosso século. Aos 21 anos, descobriu ser portador de 
esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença degenerativa incurável que provoca a paralisa 
dos músculos, sem atingir as funções cerebrais. Após uma traqueostomia, utilizava 
um sintetizador de voz para se comunicar. Além disso, foi perdendo o movimento 
dos braços e pernas, assim como do resto da musculatura voluntária, incluindo a força 
para manter a cabeça erguida, de modo que a sua mobilidade era praticamente nula. 
Hawking foi inspiração para o mundo inteiro ao jamais se limitar por sua deficiência. 
Em 2005, passou a usar os músculos da bochecha para controlar um sintetizador e, 
após isso, utilizou a sua capacidade cognitiva para seguir em frente e superar cada 
avanço da doença, chegando a se comunicar por um aparelho que fazia a leitura do 
movimento dos seus olhos. Mesmo em meio a todo esse cenário, Hawking publicou 
diversas teses e livros, deu aulas e seminários, e viajou por diversos lugares. Ele se 
casou duas vezes e teve três filho e três netos antes de falecer, em março de 2018.
Nesse sentido, constituiu-se na contemporaneidade um novo conceito de 
deficiência, o qual expõe a evolução da cultura e da sociedade para o respeito 
às diferenças e à diversidade nos modos de ser e existir. Oportunizou-se 
assim que as pessoas com deficiência tenham livre acesso aos seus direitos, 
participando da vida social em igualdade e equidade. Tais aspectos atuam para 
a destruição das barreiras e buscam atuar em favor de uma inclusão íntegra 
e plenamente satisfatória para todos.
1. Aquilo que normalmente 
compreendemos por deficiência 
pode variar em razão da existência 
de diferentes culturas, crenças, 
orientações e abordagens 
científicas. Sobre o conceito de 
deficiência, é correto afirmar que:
a) a definição do conceito não 
sofre interferências de ordem 
política ou econômica.
b) a grosso modo, o conceito 
de deficiência independe 
dos tipos de paradigmas e da 
organização da sociedade.
c) ao longo da história, apesar 
dos erros e acertos, as pessoas 
com deficiência foram 
majoritariamente bem cuidadas.
d) no Brasil, já se encarou a pessoa 
com deficiência como pessoa 
altamente incapaz, e ainda hoje 
tal ideia é passível de ocorrer.
e) quando se trabalha com a 
ideia de inclusão, deve-se 
9 O conceito de deficiência 
compreender a deficiência 
como algo inexistente 
na vida da pessoa.
2. Joana decidiu matricular sua filha 
com síndrome de down em um 
estúdio de pilates. Joana, então, 
orienta a instrutora de pilates que 
sua filha é bastante determinada e 
que seu desempenho nos exercícios 
deverá ser cobrado como a qualquer 
outro aluno. A instrutora acolhe sua 
nova aluna, garantindo à menina 
que suas recomendações serão 
levadas a sério. Assim, a instrutora 
deve ter consciência de que: 
a) a criança deverá ser tratada 
sem que a instrutora considere 
os limites de sua deficiência.
b) apenas para agradar à mãe é que 
se deve prometer e exigir algum 
desempenho da nova aluna.
c) cada aluno deve ser cobrado de 
acordo com suas capacidades 
e limites e, portanto, a menina 
poderá ser estimulada 
dentro destes parâmetros.
d) quando convivemos com 
pessoas com deficiência é 
necessário fingir que não 
conhecemos sua condição, 
dando-lhes assim um 
tratamento igualitário.
e) será preciso criar um horário para 
atender à menina isoladamente. 
3. Em seu livro Introdução à Educação 
Especial, Deborah Smith nos 
conta de uma ilha inglesa onde a 
população com surdez era bem 
maior que a média usual em outros 
conglomerados. Nesta ilha, todos os 
habitantes aprendiam a linguagem 
de sinais desde muito cedo. Por ser 
o modo majoritário com o qual os 
habitantes se comunicavam, quem 
chegasse à ilha, também tratava 
logo de aprender à linguagem 
local. Os mesmos moradores 
eram conhecedores do inglês, 
tanto que podiam ler e escrever 
neste idioma. Aparentemente a 
surdez nunca afetou a rotina da 
ilha (SMITH, 2015). Diante desta 
realidade apresentada pela autora, 
podemos afirmarque: 
a) a surdez não dificulta a 
vida em sociedade.
b) a surdez não se configura 
como uma incapacidade.
c) as pessoas surdas devem viver 
em comunidades próprias.
d) os moradores da ilha pensavam 
ser absolutamente iguais.
e) os moradores da ilha 
viveriam da mesma forma 
em outra sociedade.
4. O Decreto nº. 6.949, de 25 de agosto 
de 2009, promulga no Brasil a 
Convenção Internacional sobre os 
Direitos das Pessoas com Deficiência 
e seu Protocolo Facultativo, 
assinados em Nova York, em 30 de 
março de 2007. O governo brasileiro 
pode agir para que as diversas 
barreiras, que podem obstruir 
a participação plena e efetiva 
das pessoas com deficiência na 
sociedade, sejam minimizadas. Esta é 
uma tarefa a ser compartilhada com 
toda a sociedade, mas os governos 
têm um papel diferenciado. 
Assinale a alternativa em que as 
ações apresentadas cabem tão 
somente ao poder público. 
a) Abster-se de participar em 
qualquer ato ou prática 
incompatível com a 
defesa da dignidade e da 
 O conceito de deficiência 10
inclusão da pessoa com 
deficiência na sociedade.
b) Denunciar a desconformidade 
da arquitetura dos espaços 
públicos, tendo em vista às 
exigências de acessibilidade de 
todos os cidadãos aos serviços e 
espaços destinados à sociedade.
c) Garantir que as pessoas com 
deficiência gozem de capacidade 
legal em igualdade de condições 
com as demais pessoas em 
todos os aspectos da vida.
d) Respeitar a dignidade inerente 
à autonomia individual, 
inclusive a liberdade de fazer 
as próprias escolhas, e a 
independência das pessoas.
e) Sugerir medidas necessárias, 
inclusive legislativas, para 
modificar ou revogar leis que 
constituírem discriminação 
contra pessoas com deficiência.
5. Ao longo da história, várias 
sociedades apresentaram 
uma definição, nem sempre 
acertada, acerca da deficiência. 
Para a construção de conceito 
de deficiência que ilumine 
corretamente os programas 
educacionais, apontando 
defesas e soluções eficazes, 
rumo a uma prática inclusiva, 
deve-se considerar que: 
a) a ideia de deficiência 
é uma criação das 
sociedades medievais.
b) a situação de crianças 
com deficiência já está 
suficientemente humanizada.
c) pessoas deficientes enfrentam 
problemas diferenciados, 
de acordo com a sociedade 
em que se encontram.
d) somente a ciência poderá 
definir, de uma vez por todas, 
o conceito de deficiência.
e) somente quando os deficientes 
forem totalmente autônomos 
é que a sociedade os aceitará.
ARAUJO, L. A. D. A proteção constitucional das pessoas com deficiência. Brasília: CORDE, 
2011. 
BLACK, W., D., GRANT, E., J. Guia para o DSM-5: complemento essencial para o manual 
diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2015.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: 
Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm>. Acesso em: 24 jul. 2018.
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 O conceito de deficiência 12
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