Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 TEORIA GERAL DO PROCESSO De início é válido destacar que há diversas teorias que tratam sobre a natureza jurídica da ação, por isso, passemos a estudar cada uma delas e, após, ver a que o Brasil adotou no Código de Processo Civil de 2015. 1) TEORIAS A RESPEITO DA NATUREZA JURÍDICA DA AÇÃO: 1.1. Teoria imanentista (Civilista): Direito à ação é o próprio direito material em movimento. • Direito à ação não é autônomo; • Poder que o indivíduo possui contra seu adversário e não contra o Estado; (Interesse histórico, teoria superada); Não há uma ligação entre o direito de ação e as nomas processuais. 1.2. Teoria concreta da ação Direito à ação é um direito contra o Estado e contra o adversário. Está condicionado ao direito material, é autônomo, mas não é independente. Chiovenda: ação não era direito contra o Estado, mas um poder a ser exercido contra o réu e o Estado. Somente admitia a efetiva existência da ação se e quando se tratasse da hipótese em que a sentença fosse favorável ao autor, por isso, essa teoria peca. (Interesse histórico, teoria superada); 1.3. Teoria abstrata da ação: Direito à ação é autônomo e independente do direito material, é o direito abstrato de obter um pronunciamento do Estado. Abstrato, amplo, genérico e incondicionado; sem especificar os pedidos DIREITO DE AÇÃO Direito de ação sem condições 2 TEORIA GERAL DO PROCESSO Não se fala em condições da ação, nem em extinção por carência. Isso seria matéria de mérito que acarretaria uma sentença terminativa, fazendo coisa julgada; OBS.: Para a teoria abstrata não há condições da ação. Os abstrativistas rejeitavam as condições da ação. Para eles não haveria carência de ação. Dessa forma, as condições da ação são consideradas como matéria de mérito propriamente dita. Portanto, os defensores da teoria abstrata afirmam que já há ação mesmo quando o juiz indefere a petição inicial, visto que com o simples despacho do juiz a ação foi exercida. 1.4. Teoria eclética: É a teoria adotada pelo CPC. Autonomia e independência do direito à ação em relação ao direito material, porém, não é incondicional e nem genérico. É o direito de obter uma sentença de mérito. Depende de requisitos formais – são as condições da ação – caso não observadas são arguidas em fase preliminar que gera uma sentença terminativa. Não faz coisa julgada material. Sob essa ótica, a ação é condicionada a alguns requisitos que devem ser averiguados no caso concreto, quais sejam: o interesse do autor em obter o provimento requerido (interesse de agir); a pertinência da ação frente àquele que a propõe e contra quem se propõe (legitimidade das partes), e; a admissibilidade abstrata do provimento demandado pelo direito objetivo (possibilidade jurídica) (LIEBMAN, 1962, p.46). 1.5. Teoria da asserção (Della prospettazione): De acordo com essa teoria para que se tenha um provimento de mérito basta que o juiz reconheça a presença das condições da ação quando da análise da petição inicial ou mesmo após a manifestação do réu, mas ainda no início do processo. Teoria intermediária entre a teoria abstrata e eclética. • Caso haja uma procuração em nome do autor, é possível a representação. 3 TEORIA GERAL DO PROCESSO • Juiz deve analisar as condições da ação com os elementos fornecidos pelo autor, sem desenvolvimento cognitivo; • Ausentes as condições da ação: cognição sumária – extinção; cognição exauriente – matéria de mérito. Teoria adotada pelo STJ em alguns julgados. Crítica: Basta o autor mentir na inicial para adaptá-la nas exigências e ter um julgamento de mérito. 2) CONDIÇÕES DA AÇÃO: São os pressupostos processuais. OBS: CPC retirou o termo “condições da ação”; • Binômino pressupostos processuais/mérito; • Manutenção das condições da ação pelo CPC (com outro nome); Goza de grande prestígio entre nós a teoria da asserção, pelas quais, deveriam ser verificadas em abstrato, pelo que contém a petição inicial, presumindo-se momentaneamente, que aquilo o que dela consta é verdadeiro. O que fica provado depois, ao longo do processo e durante a instrução, é matéria de mérito. (Marcus Vinicius Rios Gonçalves). → Para Liebman, as condições da ação são: de 1973 • Possibilidade jurídica do pedido. • Interesse de agir • Legitimidade → Superior Tribunal de Justiça (02 condições da ação): o de 2015 • Interesse de agir • Legitimidade OBS: possibilidade jurídica do pedido continua existindo de fato, ausente, gera extinção por falta de interesse de agir (ausência de pressuposto processual) ou improcedência do pedido; 4 TEORIA GERAL DO PROCESSO 2.1. Possibilidade jurídica do pedido: O pedido será juridicamente impossível quando a pretensão desejada pelo autor for expressamente vedada pelo ordenamento jurídico, corno ocorre numa ação em que um Estado brasileiro pede seu desligamento da Federação (direito de secessão). A causa de pedir será juridicamente impossível quando a ordem jurídica negar aos fatos narrados pelo autor a geração de direitos, corno ocorre numa ação em que se cobra urna dívida de jogo. Em relação ao pedido do autor, são possíveis três análises: a) o pedido está expressamente previsto como apto a receber a proteção jurisdicional; b) não há nenhuma previsão legal a respeito do pedido. Ex.: condenação por suicídio c) existe uma expressa vedação na lei ao pedido formulado. Pedindo a quitação da dívida de jogo 2.2. Interesse de agir (interesse processual) Utilidade da prestação jurisdicional que se pretende obter. Assim, o autor deverá provar que essa tutela melhorará sua situação fática, o suficiente para justificar a demanda. Aquele que não é autor da demanda, não teria interesse de agir, pois não haveria mudança na sua vida. O interesse de agir deve ser analisado sob dois diferentes aspectos: a necessidade de obtenção da tutela jurisdicional reclamada e a adequação entre o pedido e a proteção jurisdicional que se pretende obter. 2.3. Legitimidade: É a situação prevista em lei que permite a um determinado sujeito propor a demanda judicial e a um determinado sujeito formar o polo passivo dessa demanda. Art. 18, CPC: somente o titular do alegado direito pode pleitear em nome próprio seu próprio interesse; 5 TEORIA GERAL DO PROCESSO Exceções: previstas em lei (legitimidade extraordinária): → Substituição processual: Sendo o direito difuso de titularidade da coletividade (sujeitos indeterminados e indetermináveis) e o direito coletivo de uma comunidade - classe, grupo ou categoria de pessoas (sujeitos indeterminados, mas determináveis), outras pessoas/órgãos (Sindicatos, Ministério Público, Associações, Partidos Políticos, Defensoria) podem pleitear em seu nome; também tutela, curatela, representação de menor, etc. → Sucessão processual: uma das partes é retirada da relação processual. Exemplo: morte. Art. 109, CPC. Obs.: Alguns casos há extinção da ação, quando se tratar de direito personalíssimo, por exemplo, processo em que se pleiteia alguma obrigação de fazer para aplicação de medicamentos. Direito à aposentadoria, após a morte, é extinto o processo ou continuaria para os herdeiros? Discussão. O STJ firmou uma tese que ingressada a ação, mesmo que faleça, se completado os requisitos, o espólio terá direito ao crédito desde a data do requerimento até a sentença. 3) ELEMENTOS DA AÇÃO: Função de identificar a ação. 3.1. Partes: teorias: Chiovenda: parte é o sujeito que pede ou contra quem se pede uma tutela jurisdicional; (tese restritiva) somente autor e réu, a vítima não seria parte. Liebman: parte é todo sujeito que participa da relação jurídica processual em contraditório defendendo interesse próprio ou alheio; (tese ampliativa) Corrente majoritária: parte é o sujeito que participa da lide, sendo os demais sujeitos participantes considerados terceiros;adotou-se a teoria de Chiovenda. Importante: substituição ≠ sucessão 6 TEORIA GERAL DO PROCESSO STF: amicus curiae não é parte, mas colaborador informal da Corte; CPC: intervenção de terceiro; OBS.: Parte no processo x parte material (sujeito que participa da relação de direito material que constitui o objeto do processo). Ex: doação para o filho sem os trâmites legais, assim, a parte no processo é o pai e o filho lesado, mas a parte material é aquele que faz parte do fato. Segundo a melhor doutrina, existem quatro formas de adquirir a qualidade de parte: ✓ pelo ingresso da demanda (autor/opoente); ✓ pela citação (réu, denunciado à lide e chamado ao processo); ✓ de maneira voluntária (assistente e recurso de terceiro prejudicado); ✓ sucessão processual (alteração subjetiva da demanda, como na extromissão de parte). 3.2. Pedido: • Ótica processual: providência jurisdicional pretendida; Pedido imediato Ex: pedido de indenização. • Ótica material: representado pelo resultado prático que o autor pretende obter; Pedido mediato; No pedido de indenização para reparação do carro, o pedido é a reparação do meu direito à proteção patrimonial. Quem faz o pedido? Só o autor? Tradicionalmente, o réu não faz pedido, mas impede o pedido do autor; Daniel Amorim Assumpção Neves: réu faz pedido na contestação; e também pedir no caso da reconvenção, quando passa a ser autor. 3.2.1. Certeza e determinação do pedido: pressupostos do pedido (art. 322 e 324, § 2º do CPC); STJ: interpretação lógico-sistemática do pedido. Possibilidade de admitir pedido não formulado expressamente “nos pedidos”, mas que tenha sido mencionado na fundamentação; 7 TEORIA GERAL DO PROCESSO → Certeza: autor deve indicar de forma precisa qual a tutela jurisdicional pretendida; → Determinação: Liquidez do pedido. Quantidade e qualidade; Exceção: pedido genérico é aceito em algumas hipóteses (art. 324, § 2º do CPC): a) Universalidade de bens: caso o autor não consiga individualizar na petição inicial os bens demandados. Ex.: herança; b) Demanda de indenização quando impossível a fixação do valor do dano: autor não consegue determinar de modo definitivo as consequências do ato ou fato ilícito. Ocorre quando o ato ainda não exauriu seus efeitos danosos no momento da propositura da demanda; c) Valor a depender de ato a ser praticado pelo réu: réu responsável pela indicação do valor; Ex: ação de prestação de contas; ➔ Pedido implícito: concessão de tutela que não foi expressamente pedida pelo autor; STJ: pedido implícito decorre logicamente do pedido expresso; São hipóteses de pedido implícito: a) despesas e custas processuais (art. 322, § 1°, do CPC); b) honorários advocatícios (art. 322, § 1°, do CPC); c) correção monetária (art. 404 do CC e art. 322, § 1 ° do CPC); d) prestações vincendas e inadimplidas na constância do processo em caso de contratos de trato sucessivo (art. 323 do CPC)88; (e) os juros legais/moratórios (arts. 404 e 406 do CC e art. 322, § 1 ° do CPC) - não sendo considerados pedidos implícitos os juros convencionais ou compensatórios. (hipóteses em que houve acordo, com incidência de juros diferentes) ➔ Cumulação de pedidos: admitidos mesmo quando os pedidos que se pretende cumular não são conexos; 8 TEORIA GERAL DO PROCESSO Requisitos: não podem ser incompatíveis entre si; mesmo juízo competente para todos os pedidos; identidade procedimental (mesmo procedimento, por exemplo, rito comum) → Espécies de cumulação: ▪ Cumulação própria (sentido estrito): quando for possível a procedência simultânea de todos os pedidos; (1) Simples: pedidos absolutamente independentes entre si; (exemplo, o divórcio e os alimentos são independentes). (2) Sucessiva: análise do pedido posterior depender do anterior; relação de prejudicialidade entre os pedidos; (nulidade do contrato e o consequente direito material e moral). ▪ Cumulação imprópria (sentido amplo): quando formulado mais de um pedido, somente um deles puder ser concedido. (1) Cumulação subsidiária, também chamada de eventual, quando o segundo pedido somente será analisado se o primeiro não for concedido; Autor estabelece uma ordem de preferência; (ex.: ação de nulidade, caso não, pede a revisão). (Há um pedido principal e outro subsidiário). (2) Cumulação alternativa, com a reunião de pedidos com a intenção do autor de que somente um deles seja acolhido, à escolha do juiz. Não há ordem de preferência. (há pedidos, ou um ou outro). OBS: “Pedido alternativo”: possibilidade de cumprir a obrigação de diversos modos. Pedido continua sendo só um. Ex: perda total do bem. Pedido: cumprimento do contrato; Formas: pagamento do valor ou entrega de novo carro. 3.3. Causa de pedir: É o que vai fundamentar o pedido. Teorias acerca da causa de pedir: 3.3.1.1. Teoria da individuação: causa de pedir é composta tão somente pela relação jurídica afirmada pelo autor. (interesse histórico); teoria superada. 3.3.1.2. Teoria da substanciação: causa de pedir, independentemente da natureza da ação, é formada apenas pelos fatos jurídicos narrados 9 TEORIA GERAL DO PROCESSO pelo autor. Adotada pelo direito brasileiro, porém, com o acréscimo dos fundamentação jurídica; não é somente o alegado pela parte, mas é preciso que haja a fundamentação jurídica. 3.3.1.3. Teoria mista (doutrina minoritária): Brasil teria adotado a soma das duas teses tradicionais, pois exige causa de pedir remota e próxima; STJ: Causa de pedir remota: fundamentos jurídicos do pedido; Causa de pedir próxima: são os fatos constitutivos. OBS: Juiz não estaria vinculado a decidir com base nos fundamentos jurídicos apontados pelo autor (STJ); 3.3.2. Fatos compõem a causa de pedir; ➢ Causa de pedir ativa: fatos constitutivos; ➢ Causa de pedir passiva: fatos do réu contrários ao direito. Nem todos os fatos fazem parte da causa de pedir, somente os fatos jurídicos, não os fatos simples. Os fatos jurídicos são aqueles que são aptos por si sós a gerar consequências jurídicas, enquanto os fatos simples não têm tal aptidão. Na realidade, os fatos simples são em regra irrelevantes para o direito, somente passando a ter relevância jurídica quando se relacionam com fatos jurídicos. FUNDAMENTO JURIDICO FUNDAMENTO LEGAL liame jurídico entre os fatos e o pedido, ou seja, é a explicação à luz do ordenamento jurídico do porquê o autor merece o que está pedindo diante dos fatos que narrou indicação do artigo de lei no qual se fundamenta a decisão; esse fundamento legal é dispensável e não vincula o autor ou o juiz, não fazendo parte da causa de pedir
Compartilhar